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Uma pedra no meio do caminho

Posted by Cottidianos on 14:12

Domingo, 31 de maio

No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra

Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra

(No meio do caminho – Carlos Drummond de Andrade)

Charge do Amarildo, publicado na Gazeta (ES), em 12-02-2014


É impressionante, para não dizer alarmante, o modo como o Brasil vem enfrentando a crise provocada pelo coronavírus.

Neste sábado, 30, as manchetes dos jornais deram destaque ao fato de que o Brasil ultrapassou a França no número de mortes por Covid-19. Já são 28.834 vidas que foram tombadas pela doença em território brasileiro, enquanto a França registra, até o momento, 28.774 mortes. E não demorará para que assumamos a segunda posição e, quem sabe, ultrapassar os Estados Unidos, que é atualmente quem lidera o macabro ranking no número de mortes por Covid-19.
Nas primeiras posições dessa tenebrosa tabela estão; Estados Unidos (103.685), Reino Unido (38.458), Itália (33.340), e o Brasil, em quarto lugar, conforme foi relatado acima. Com o ritmo acelerado com que a doença avança pelo país, ultrapassar Reino Unido e Itália é apenas uma questão de dias para o Brasil.
Também neste sábado foram registrados mais 33.274 novos casos da doença em 24 horas, elevando o total de infectados para 498.440. No dia 22 de maio ocupamos a segunda posição na tabela que mostra os países com mais casos confirmados de coronavírus, ultrapassando Espanha, Reino Unido e Rússia. Atrás apenas dos Estados Unidos. Os casos de pessoas que se recuperaram da doença somam 200.892. Os casos que estão em acompanhamento são em número de 268.714.
A atual situação do Brasil é tão preocupante que levaram os Estados Unidos a, no dia 24 deste mês, proibir a entrada de estrangeiros vindos do Brasil em seu território.
Esse quadro caótico ao qual chegou o país se deveu, em grande parte as desastrosas políticas para o combate à doença implementadas pelo governo. Que aliás, pode ser chamada de política de não combate ao problema. O Ministério da Saúde bem que tentou através dos ministros Luiz Henrique Mandetta, e Nelson Teich, que eram médicos e tinham uma dimensão exata do que afirmava a ciência e seguiram uma política de adotar os padrões adotados pela Organização Mundial da Saúde, inclusive na recomendação quando ao isolamento social.
Na segunda-feira, 25, Wanderson Kleber de Oliveira, enfermeiro epidemiologista, que ocupava o cargo de Secretário Nacional de Vigilância em Saúde, deixou o cargo. Wanderson fazia parte do time montado por Mandetta para combater o Covid-19. Em sua saída ele escreveu uma carta aberta à população brasileira. Na carta ele pontua a atuação do Ministério da Saúde no combate à doença e o governo Bolsonaro.
Wanderson diz que o país estava, logo no início da pandemia, à frente de países da Europa, o que nos colocava em vantagem na questão da ampliação da capacidade laboratorial, de leitos hospitalares, e na aquisição de equipamentos de proteção individual para os profissionais da saúde, e de respiradores.
Mas, diz ele: “No entanto, como dizia o poeta e conterrâneo Carlos Drummond de Andrade, no meio do caminho tinha uma pedra, tinha uma pedra no meio do caminho”. Ao falar da atuação do ex-ministro Nelson Reich, o ex-secretário usa a mesma metáfora. Ele diz que Teich poderia ter feito uma gestão bem sucedida à frente da pasta, porém, “lamentavelmente não teve tempo de mostrar seu trabalho, pois novamente tinha uma pedra no meio do caminho”.
A referência à famosa poesia do grande poeta, Carlos Drummond de Andrade, também foi usada pelo ex-ministro Luiz Henrique Mandetta em meio às divergências com o presidente Jair Bolsonaro em relação a questão de cumprir ou não o isolamento social.
Em fins de março, Mandetta disse ao presidente, “Se o sr. for para metrô ou ônibus em São Paulo (como chegou a dizer em entrevista), vou ser obrigado a criticá-lo”. O presidente rebateu dizendo: “E eu vou ter que te demitir”. Por uma questão de logística, Bolsonaro não pode ir à São Paulo, o que não o impediu de provocar o ministro indo a padarias e mercadinhos de Brasília, provocando aglomerações. Na verdade, essa atitude era uma armadilha para provocar a queda do ministro.
Mandetta, porém, não caiu na armadilha, e do alto de seu silêncio diante da atitude do presidente, pediu calma e paciência a sua equipe, enviando a eles o famoso poema No meio do caminho, que é uma obra prima de Carlos Drummond de Andrade. Poema publicado pela primeira vez em 1928, no número 3 da revista Antropofagia, dirigida por Oswaldo de Andrade.
E essa pedra no meio do caminho, como todos sabem, tem nome e se chama Jair Bolsonaro. O presidente nega a crise, impõe que seja administrada cloroquina à população, remédio sem nenhuma comprovação cientifica no combate ao Covid-19, critica uma das principais medidas recomendadas pela OMS no combate à pandemia que é o isolamento social, demite ministros no meio da pandemia, nomeia pessoas sem habilidade técnica na área da saúde para o Ministério da Saúde, briga com governadores, ignora a crise, e se entrega largamente aos seus sonhos e planos egoístas de poder, e além de tudo isso, ainda encontra tempo, para inflamar, através das redes sociais, ou pessoalmente, uma militância de extrema direita radical que se torna mais cada vez mais irracional a ponto de atacar profissionais de imprensa, da saúde, da Justiça, e quem mais se coloque em posição contrária aos delírios do presidente.
Com isso, a boa imagem que o Brasil tinha junto à comunidade internacional vai se desfazendo como se desfazem os castelos de areia atingidos docemente pelas ondas do bravio mar. Este blog tem ouvidos de jornalistas, e até de amigos que estão no exterior que a imagem do Brasil fora do Brasil é péssima.
Esta semana, o comentarista da CBN Guga Chacra, que mora nos Estados Unidos, e de lá comenta fatos da sociedade norte-americana e do Brasil, disse, em uma das suas analises, que está nos Estados Unidos há bastante tempo, e que nunca viu a imagem do Brasil tomar uma forma tão negativa entre os norte-americanos.
Essas atitudes negacionistas do presidente acabam, de certa forma, consciente, ou inconscientemente, se refletindo na sua militância que promove manifestações contra o isolamento social, e também em parte da sociedade brasileira.
Alie-se a tudo isso, o fato de grande parte da população prefere acreditar nas fake news que circulam a todo vapor nas redes sociais em relação a doença, e a medidas adotas pelos governos estaduais e municipais nessa luta.
O governo parece também querer “tapar o sol com a peneira” quando fala dos números de mortes pelo Covid-19. Nos últimos dias, o Ministério da Saúde, passou a ignorar o número de mortos pela doença.
Na terça-feira, 19, quando o país ultrapassou pela primeira vez a marca dos mil mortos, o Ministério da Saúde ignorou os números e publicou nas redes sociais uma tabela chamada de “Placar da Vida”. Naquele dia, a tabela registrava que havia 106, 7 mil brasileiros curados da doença e 146.863 em recuperação. Na imagem era usada a hashtag #NinguémFicaPraTrás. Não havia referências na postagem ao número de mortos pela doença, nem ao fato de que o Brasil havia ultrapassado naquele dia a marca de 1000 mortes em 24 horas.
E assim tem sido desde o dia 27 de abril quando o tal “Placar da Vida”, foi criado pela Secretária de Comunicação Social (Secom), a pedido do ministro da Secretária de Governo, Luiz Eduardo Ramos. A estratégia é divulgar apenas dados positivos em relação a doença. O tal placar tem sido divulgado nas redes sociais, diariamente, desde então.
Ainda em abril, Ramos havia criticado a cobertura que a imprensa faz da Covid-19. “No jornal da manhã é caixão, corpo; na hora do almoço, é caixão novamente. No jornal da noite é caixão, corpo e número de mortos. Eu pergunto a todos: como é que você acha que uma senhora de idade, uma pessoa humilde ou que sofre de outra enfermidade se sente com essa maciça divulgação desses fatos negativos. Não está ajudando”.
Essa é mais uma atitude negacionista do governo em relação ao Sars-Cov-2.
Marcos Boulos, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, falando a BBC News Brasil, criticou o “Placar da Vida”: “É um vírus que mata, normalmente, menos de 5% das pessoas que foram infectadas e tiveram sintomas. Então é óbvio que mais de 95% vão se recuperar. Enfatizar os números de recuperados não muda nada neste momento. É preciso ser realista. Não é correto tentar minimizar a gravidade da doença”.
Na verdade, criticar a cobertura que a imprensa faz, e esconder o número de mortos, é apenas uma tentativa de mascarar a própria incompetência em resolver os problemas ou, ao menos, de encontrar soluções para amenizá-lo.
É como o indivíduo alienado que prefere falar de borboletas na janela quando há um monstro terrível e ameaçador no jardim. O sujeito pode até estar no conforto de sua sala fazendo considerações sobre quão belas são as borboletas, que elas parecem ágeis dançarinas no tablado da flor, destacar a beleza de suas cores, usar linguagem poética para falar delas, e tudo o mais. Entretanto, isso não vai fazer com que o monstro vá embora do jardim. Até porque monstros detestem poesia, cultura e arte. Em vez disso eles preferem tragédia, sangue, e sofrimento. No primeiro momento em que o alienado falando de borboletas na janela puser os pés no jardim, o monstro o devora. Afinal, monstros não costumam ter piedade de ninguém.
Obviamente, caros leitores e leitoras, toda essa atitude negacionista vai numa direção do desprezo pela vida humana em detrimento do grande capital. É preciso reabrir as atividades econômicas. Obviamente é preciso. Porém, se tivesse havido, logo de início, por parte do governo federal um empenho e compromisso na condução da crise, o Brasil não estaria atravessando a situação caótica pela qual atravessa hoje.
As atitudes e atos estão sendo feitas de modo desconexo e sem sentido desde o início da crise. E continuam sem direção em meio a pandemia até agora. Este blog não quer fazer aqui previsões catastróficas, nem tem essa pretensão. Muito menos a de enveredar pelo caminhos do pessimismo. É apenas uma questão de olhar em volta de si e vê os sinais que estão aparecendo ao longo do caminho. Quem vê o céu carregado e sai de casa sem capa e guarda-chuva se arrisca a tomar um banho daqueles.
É pensando deste modo que este blog arrisca a dizer que as coisas no Brasil ainda se tornarão bem mais graves em relação ao coronavirus. Enquanto outros países que souberam administrar bem a crise e estão chegando a portos seguros, inclusive reabrindo a economia, nós ainda estaremos na forte tempestade em alto mar, vendo muitos marinheiros serem tragados pelo mar bravio.
Voltamos então ao discurso negacionista. É uma estratégia. Mas que estratégia? Quem explica isso é o filosofo Pablo Ortega, professor da USP, falando a BBC News Brasil: “É uma estratégia que faz parte de uma campanha de desinformações. Essa campanha dos bolsonaristas também costuma argumentar que os governadores estão aumentando números de mortos, que os hospitais estão vazios e que a cloroquina é eficaz (mesmo sem comprovação científica)”.
A estratégia óbvia é dizer que está havendo superdimensionamento com relação ao coronavírus para que haja uma reabertura econômica, que, se fosse de acordo com os desejos do presidente, nem seria gradual, mas total. Aliás, se fosse pela vontade dele, nem teria havido isolamento social nenhum.
E, de fato, vários estados estão promovendo reaberturas econômicas, mesmo com os números em relação a doença estarem totalmente fora de controle no país. Clubes de futebol também defendem a volta das atividades esportivas.
Ah, mas os países europeus estão promovendo a reabertura da economia e a volta as atividades esportivas, diria alguém. É, mas a Europa está vivendo um outro momento em relação ao coronvaírus. Eles estão saindo do olho do furacão, com todo cuidado é verdade. Nós ainda estamos no olho desse furacão.
Em tudo isso ainda há o temor de que as pessoas ao verem os comércios abertos tendam a pensar que as coisas estão normais, que o perigo passou. Não haverá pelo menos, não apenas no Brasil, mas no mundo inteiro, uma volta à normalidade, tal qual eram as coisas antes do coronavírus. Enquanto não se encontra um remédio eficaz contra o vírus, é preciso uma atitude de muita prudência, cuidado, e muita responsabilidade por parte de todos, para consigo mesmo e para com a coletividade.
É tudo uma questão complicada. Vamos ver como vai se desenrolar a questão do coronavírus no país nos próximos dias e meses.
Em meio a toda essa inquietação toda em relação a doença, os brasileiros ainda tem que ver essa questão ser deixada em segundo plano nas discussões por causas das crises criadas pelo governo, das investigações no inquérito das fakes news que avançam e podem chegar a aliados e apoiadores do presidente e de seus familiares, bem como com as ameaças à democracia feitas por Bolsonaro e seus filhos. Há também a investigação sobre a interferência do presidente na Polícia Federal. Há também as tentativas dele de pressionar as instituições e de tentar comprar com cargo no STF o procurador-geral da república Augusto Aras. Enfim, são tantas coisas desagradáveis... O que menos se ouve falar no governo é sobre como sair dessa arapuca armada pelo inimigo chamado coronavírus.
Como veem, caros leitores e leitoras, o mar não está para peixe no Brasil.

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Uma reunião bizarra

Posted by Cottidianos on 17:56
Domingo, 24 de maio



Na sexta-feira, o ministro Celso de Mello decidiu tornar público o conteúdo da reunião ministerial que ocorreu no dia 22 de maio, no Palácio do Planalto, em Brasília, como vocês já devem ter acompanhado pelos noticiários.
Mas, vocês juram que aquilo era uma reunião ministerial?
Vendo tudo aquilo achei que fosse uma conversa de botequim. Há botequins cujo ambiente é saudável, nos quais você sentem correr uma energia boa, agradável, e que até ajudam o espírito a relaxar. Nesses as ideias são elevadas ou, ao menos, caminham nessa direção. Há outros, nos quais o ambiente é pesado, as ideias são toscas e atrasadas, e, dentro deles, o indivíduo se sente mal, e não vê a hora de sair de lá.
A reunião de Bolsonaro e de seus ministros está mais para esse segundo nível de botequim. Algo bem rasteiro.
O que se no vídeo é um presidente sendo aquilo que ele mesmo é: um ignorante autoritário, desferindo impróprios e palavrões. Para a militância, nada demais. O objetivo para o qual o vídeo foi solicitado, realmente não há uma bala de prata, aquele trecho que pudesse derrubar o presidente imediatamente.
Porém, nele estão todas as evidências daquilo de que Sérgio Moro o acusou: de tentar interferir na Polícia Federal. Quando o presidente fala da questão da troca da segurança no Rio, ele olha na direção do ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública. O ministro Luiz Eduardo Ramos, ministro-chefe da Secretaria de Governo, em interrogatório que apura a interferência de Bolsonaro na PF, disse que, na referida reunião, quando falou da troca da segurança, o presidente olhou para o ministro Augusto Heleno, e não para Moro, no que foi desmentido pelas imagens no vídeo. “Eu não vou esperar f. a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence a estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira”, disse o presidente ao falar desse assunto.
O presidente também xingou os governadores por eles estarem cumprindo as determinações da Organização Mundial da Saúde, e do próprio Ministério da Saúde, que é o de manter o distanciamento social. Nesse ponto, o presidente desvirtua de forma drástica a finalidade do isolamento social, chama a isso de ditadura imposta pelos governadores, e diz que é preciso armar a população. “Por isso que eu quero, ministro da Justiça e ministro da Defesa, que o povo se arme! Que é a garantia que não vai um filho da puta aparecer pra impor uma ditadura aqui! Que é fácil impor uma ditadura! Facílimo! Um bosta de um prefeito faz uma bosta de um decreto, algema, e deixa todo mundo dentro de casa. Se estivesse armado, ia para a rua”, diz ele. É bom esclarecer também que o presidente não fala claramente na questão do isolamento social nessa fala, mas, sabemos que ele tem feito críticas constantes aos governadores e ao isolamento social. Então é só somar dois mais dois e chegar ao resultado correto desse pensamento. 
Além dos arroubos do presidente também tivemos outras rompantes de insensatez por parte do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Sales disse que era preciso aproveitar o momento de tranquilidade para mudar legislação na área ambiental: “Precisa ter o esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de covid, e ir passando a boiada, ir mudando todo o regramento e simplificando normas, de Iphan, de Ministério da Agricultura, Ministério do Meio Ambiente, ministério disso, ministério daquilo”.
Em relação a fala de Salles, o senador Randolf Rodrigues, assim se expressou pelo Twitter: “Chega a ser nojenta a crueldade de Salles. Esse criminoso perverso quer se utilizar das mortes da pandemia p/ continuar seu projeto de destruição do Meio Ambiente. Tem que sair do Ministério, mas agora mais do que nunca tem que sair PRESO!
O ministro da Educação Abraham Weintraub expressou sua ira para com os do Congresso e do SFT: “Eu, por mim, botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF”, disse ele.  
Na reunião ministerial o presidente Bolsonaro também disse que tinha um sistema particular de informação. “Sistemas de informações: o meu funciona. [...] O meu particular funciona. Os ofi... que tem oficialmente, desinforma. E voltando ao ... ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho”. Na sexta-feira, 22, em entrevista à Rádio Jovem Pan, o presidente disse a respeito desse assunto: “O que é meu serviço de informações particular? É o sargento do batalhão do Bope do Rio de Janeiro, é o capitão do grupo de artilharia lá de Fortaleza, é o policial civil que tá em Manaus, é meu amigo que tá na reserva e me traz informação da fronteira. Este é meu serviço de informação particular que funciona melhor do que este que eu tenho oficialmente, que não traz informação. Esta sempre foi a minha crítica. Este problema, temos aqui o aparelhamento de instituições e não é fácil mudar isso aí”.
E isso é uma coisa que deve ser melhor explicada, como por exemplo, de onde vem essas informações, quem financia esse sistema de informações. É dinheiro particular que financia, ou é dinheiro púbico?
Se fosse um documentário, ou um filme, o vídeo da tal reunião ministerial seria, simplesmente, deprimente. Pelo baixo teor da reunião em si, e também pelo fato de que, no momento em que o Brasil enfrenta um grave problema de saúde provocado pelo coronavirus, e que terá consequências graves também no campo econômico, pouco se falou na reunião de planos para combater o Covid-19, nem muito menos de recuperação econômica.
Em meio, a tudo isso, na sexta-feira, o ministro Celso de Melo, enviou a procuradoria-geral da União, uma notícia-crime apresentada por partidos de oposição e por políticos, referente a interferência de Jair Bolsonaro na PF. Os pedidos foram feitos pela deputada federal Gleisi Hoffman e pelo governador da Bahia, Rui Costa, ambos do PT, e pelas bancadas do PDT, PSB E PV.
Entre as medidas solicitadas pelo ministro a PGR estão o depoimento do presidente, a apreensão do celular dele e do filho, Carlos Bolsonaro, para que sejam periciados. Ainda na sexta-feira, logo após tomar conhecimento da notícia crime o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, general Augusto Heleno, emitiu uma nota na qual faz ameaças aos outros poderes da República. “O Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República alerta as autoridades constituídas que tal atitude é uma evidente tentativa de comprometer a harmonia entre os poderes e poderá ter consequências imprevisíveis para a estabilidade nacional”.
O ministro da Defesa, endossou a nota divulgada por Heleno. “A simples ilação de o presidente da República ter de entregar o seu celular é uma afronta à segurança nacional”, disse ele ao jornal O Estado de São Paulo.
Agora, imaginem se uma simples reunião ministerial do governo Bolsonaro já é uma coisa fétida, imaginem então o que deve conter o celular dele e do filho, Carlos Bolsonaro. Deve haver ali uma fossa completa.
O interessante parece ser que a coisa que menos preocupa o Palácio do Planalto é o coronavírus e os grandes estragos que ele está fazendo, não apenas na sociedade brasileira, mas em todo o mundo. Para o governo, esse é um assunto de somenos importância.

Aqui termina este artigo, mas deixo com vocês um artigo excelente, do jornalista Juan Arias, colunista do jornal El Pais Brasil, e publicado no referido jornal na segunda-feira, 18. O artigo fala da ditadura branda que já estamos vivendo atualmente no Brasil. 

***


 O Brasil já vive uma ditadura branda?
A democracia também pode acabar sacrificada com a tática de minar suas instituições com o medo e com a violência

JUAN ARIAS
18 MAY 2020

A cada dia que passa, o Brasil acorda com a sensação de que, mais do que uma democracia, vive uma ditadura branda. Eu a chamo de branda porque o presidente Jair Bolsonaro foi eleito nas urnas e porque, teoricamente, as instituições continuam formalmente de pé. Mas não restam dúvidas de que o país tem cada dia mais a sensação de que tais instituições, como o Congresso e o Supremo, estão sitiadas pelas decisões autoritárias do presidente e pelas contínuas ameaças contra elas nas redes sociais.
A mudança aparente demonstrada no domingo pelo presidente durante a manifestação a seu favor na Esplanada dos Ministérios em Brasília, fazendo elogios à democracia e pedindo o respeito às instituições do Estado, cercado por 11 de seus ministros, foi somente uma estratégia no momento em que se vê assediado por vários processos que podem fazer com que perca o cargo. É a sua tática bem conhecida de dar um passo atrás e dois à frente em seus propósitos de escalada autoritária.
É possível dizer que por enquanto se trata somente de ameaças de Bolsonaro e suas hostes à democracia, ainda que algumas vezes já apareceram claramente as linhas de um regime ditatorial. Que existe o temor de que Bolsonaro prepare um golpe institucional apoiado pelos militares, revela o documento publicado no domingo por seis ex-ministros da Defesa no qual lembram as Forças Armadas de que elas devem fidelidade à Constituição e que “somente podem ser chamadas por algum dos Poderes constituídos para manter a ordem no caso de anarquia”. O medo está nas ruas.
Quando, por exemplo, em pleno Conselho de Estado no dia 22 de abril, do qual vários ministros generais do Exército participavam, o presidente ameaçou mandar os militares às ruas; quando o ministro da Educação, Abraham Weintraub, pode se permitir dizer impunemente, na mencionada reunião, que os 11 membros do Supremo Tribunal Federal são outros tantos “filhos da puta que deveriam ser presos”, e quando a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, pede abertamente que os governadores também sejam presos, sem que nenhum dos presentes intervenha para dizer que isso era uma barbaridade, a democracia está quebrada.
O presidente se empenha em sustentar uma política eugenista, para não dizer genocida, em relação à epidemia de coronavírus que está custando milhares de vidas. Não somente ataca o senso científico universal de combater a tragédia, como dá a entender que pouco importa que morram os idosos e os que já possuem alguma doença crônica. Parece que para ele só têm direito à vida as forças do trabalho. A economia, para ele, é mais importante do que a vida de milhares de inocentes.
Já antes de ser presidente, Bolsonaro havia afirmado, como lembrou em sua coluna de sábado em O Globo o membro da Academia Brasileira de Letras Merval Pereira: “Eu sou capitão do Exército. Minha especialidade é matar, não é curar ninguém”. Por isso sua paixão pelas armas. Quando as exibe e as acaricia são, de fato, as poucas vezes em que é visto rindo às gargalhadas. De prazer?
Quando é o presidente que provoca a autoridade de seu próprio ministro da Saúde, infringindo descaradamente as normas de prevenção impostas à população para deter a hemorragia da epidemia, e até incita a desobediência, a democracia está em perigo. Dessa maneira se explica que em menos de um mês e em plena escalada da epidemia precisaram deixar seu cargo dois ministros da Saúde, ambos médicos, diante da impossibilidade de aceitar o comando suicida do presidente.
Bolsonaro zomba da democracia quando uma corte de empresários e lobistas se apresenta sem aviso prévio no Supremo exigindo um encontro com o presidente do tribunal e é Bolsonaro quem faz as exigências no encontro.
E quando, em um regime democrático, o presidente insulta em público os jornalistas, ameaça punir os veículos de comunicação, jornais e redes de televisão retirando a licença e a publicidade oficial e incentivando que os empresários façam o mesmo? E quando insiste em afirmar “a Constituição sou eu” e quem manda no país é ele, como se o restante das instituições do Estado devesse estar às suas ordens?
O presidente, capitão reformado (ou expulso?) do Exército, tem uma característica psicológica que o assemelha aos garotos teimosos que quando levam bronca sabem dar um passo atrás para imediatamente dar dois à frente. Acabam sempre conseguindo o que querem. Dizem que também é uma característica de alguns loucos.
Hoje sabemos que é possível instaurar um regime ditatorial apesar da passagem pelas urnas. Temos exemplos aqui mesmo na América do Sul, como no caso da Venezuela, onde o presidente Nicolás Maduro foi eleito e acabou instaurando um regime de ditadura com a cumplicidade do Exército. Bolsonaro não precisa da cumplicidade dos militares já que os tem, às centenas, no Governo e nas outras esferas do Estado. Que segurança oferece o presidente capitão reformado de que em determinado momento não poderá convencer o Exército de que o Brasil sofre de excesso de democracia e que seria melhor cortar as liberdades?
Um presidente que antes de cumprir os dois anos de seu mandato se vê rechaçado pela maioria da mesma população de quem recebeu o voto e que se refugia cada vez mais em um grupo minoritário alimentado com suas saídas antidemocráticas, seu fanatismo de ver fantasmas de esquerda até debaixo da cama e sua tática de atiçar a política do ódio e a mania de perseguição não pode deixar de ser um perigo à democracia.
E para que não falte nada à sua tática autoritária e violenta começam a aparecer cada dia mais aguerridas suas milícias de triste memória nazifascista que exigem abertamente a morte da democracia. E já não se conformam com as palavras de ordem contra as liberdades democráticas e suas instituições e usam a força bruta para agredir seus opositores no melhor estilo fascista.
E se tudo isso é grave e começa a preocupar internacionalmente e pode ser um freio para que as empresas possam investir no país pelo temor de uma ruptura constitucional, não é menos grave que as instituições do Estado que deveriam e poderiam parar essa tentação totalitária do presidente, como o Congresso e o Supremo, pareçam perplexas, para não dizer amedrontadas, diante de suas bravatas e ameaças. Se o começo é alegando prudência diante das ameaças, o final é de joelhos humilhado diante do tirano em vez de ter a coragem de afirmar: “Daqui não se passa”. Este é o limite sagrado da democracia.
Dormem no Congresso, de fato, mais de 20 pedidos de impeachment contra o presidente sem que sejam encaminhados com a desculpa de que se trataria de um procedimento muito lento e desgastante. Enquanto isso, o Supremo se blinda em que não pode agir sem a autorização do Legislativo. Tudo isso tem um nome: é medo, se não for cumplicidade, já que todos sabem, porque já é clamor majoritário no país, que Bolsonaro já não representa a vontade da maioria.
Contra o bolsonarismo e sua parafernália de ódio à democracia também existe a evidência do engano feito na campanha eleitoral vencida pelo capitão brandindo três bandeiras de renovação nacional que acabaram imediatamente sacrificadas no altar da pior das políticas. Bolsonaro e os seus prometeram à época acabar com a corrupção que a Lava Jato havia começado a revelar e combatido com firmeza. Prometeram acabar com o conceito da “velha política” que humilhava a essência da democracia dobrando-a aos interesses de grupos e personagens do mundo político e até judicial. Contra ela propunham fortificar a luta contra as velhas práticas corruptas de governar, assim como prometiam à nação “menos Brasília e mais Brasil”, ou seja, uma economia com menos Estado e mais aberta à livre iniciativa e à abertura ao capital estrangeiro. Para isso colocou no Governo duas estrelas, o ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro no Ministério da Justiça e o liberal Paulo Guedes, da Escola de Chicago, na Economia.
O novo Governo não demorou para revelar sua mentira. Em poucos meses queimou suas três bandeiras e colocou em marcha uma perseguição aos valores democráticos, revelando-se como um dos Governos não só alterados como de traição a todas suas promessas. O Brasil foi enganado e hoje paga duramente por aquela mentira.
Nem sempre na História as ditaduras foram impostas com um golpe de Estado e uma aberta ruptura institucional. Há muitas formas de assassinar a democracia e uma delas é a da tática que o presidente do Brasil está usando de amedrontar as instituições, aguçando os instintos de violência de minorias ideológicas extremistas que lhe servem de pavio para provocar o incêndio. Puro itinerário fascista mussoliniano.
Assim como uma pessoa pode ser assassinada de muitas formas, seja com as armas ou com a fome, a democracia também pode acabar sacrificada com a tática de minar suas instituições com o medo e com a violência. O resultado é sempre o mesmo: mais pobreza, menos liberdade, mais luz verde aos violentos, mais isolamento internacional, mais desprezo pela vida e o assassinato de tudo o que cheirar a cultura, a ciência, a defesa dos direitos humanos.
Os ditadores e aprendizes a tais costumam ter também um mesmo denominador comum que é uma fome e sede especiais pela religião. Não por seus valores de liberdade e sim por seus métodos de adormecer e atemorizar as consciências. E Bolsonaro, para não ficar para trás, já começou colocando Deus “acima de todos”. Mas um Deus que hoje se revela cúmplice de suas loucuras totalitárias, não o Deus da liberdade e da paixão pelo humano e pelos excluídos, pelos mansos de coração e não pelos violentos.
É isso o que se quer para o Brasil? Então o que esperam as outras instituições, os líderes democráticos, os que lutaram por um país livre? Dormir sobre as conquistas quando a bocarra da fera começa a mostrar seus dentes pode ser fatal. Cada dia de espera e de trégua às ameaças contra a democracia pode significar assinar a sentença de uma viagem sem volta à tirania.



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Pesadelo

Posted by Cottidianos on 17:56
Domingo, 24 de maio


Certa noite, olhei para além da janelas em direção à Praça dos Três Poderes. O Congresso Nacional, formado pela Câmara e pelo Senado, juntamente com o Supremo Tribunal Federal, haviam sido fechados. Estavam agora ajoelhados diante do Executivo, em atitude de humilhante subserviência. Não mais serviam à nação brasileira. Serviam agora aos desmandos e caprichos de um tirano capitão.
De vez quando, uma lágrima lhes escorria pelas faces aos lembrar dos tempos recentes em que reinava e brilhava o sol da liberdade sob os céus da nação.
Havia uma bíblia nas mãos do capitão, mas dela não escorria os perfumados lírios do amor e da misericordia, mas, sim, o cheiro do sangue e do ódio. Ao redor dele havia, em vez e discípulos, capitães e soldados, que se portavam como se fossem verdadeiros e bravos cães fieis.
Ainda voavam pelo ar pedaços da Constituição que haviam sido rasgadas a alguns instantes. De pé, na rampa do Planalto, o capitão gritava a pleno pulmões: Agora a Constituição sou eu. Pediu para que os servidores fizessem uma pequena, porém significativa, mudança na grande faixa que havia sido colocada atrás dele. Em vez de Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, pediu que escrevessem: “Brasil acima de tudo, Eu acima de todos”.
Nos porões de uma cela, estava a imprensa de mãos atadas e com uma mordaça na boca. Também lhe puseram uma venda nos olhos. Ela era guardada de um lado pela ignorância, e de outro pela hipocrisia. De agora em diante, a única informação que os brasileiros receberiam seria o do canal oficial do governo.
A corrupção continuaria a ocorrer nos submundos do poder, mortes continuariam a ocorrer durante pandemias, mas o brasileiros jamais ouviriam falar de uma coisa nem de outro, nem de qualquer outra notícia desagradável. O mundo poderia estar caindo, mas o eles apenas ouviriam falar de borboletas no jardim.
Na rampa do Planalto, ao lado do capitão, estavam Kim Jong Um, da Coreia do Norte, Nicolas Maduro, da Venezuela, Xi Jinping, da China, além de mais uns poucos ditadores que ainda impõem suas vontades em seus países. Afinal, para ser coerente era preciso colocar junto consigo no altar da autopromoção, pessoas que bebesse do mesmo cálice das ideias e comungassem da mesma hóstia dos ideais autoritários.
Enquanto era realizada essa macabra cerimonia, as estradas que levavam aos aeroportos estavam lotadas. Era difícil encontrar voos para fora do país. Eram grande o número de investidores que fugiam do país. Também já estavam de malas prontas os brasileiros endinheirados e que haviam sonhado com um país mais justo e cheio de progresso.
Ali, na Praça dos Três havia dois grupos de pessoas: o primeiro grupo deslumbrado olhava para o Brasil, agora transformado em ditadura, e achava tudo aquilo lindo, maravilhoso e patriótico. O segundo grupo chorava lágrimas amargas. Este último grupo olhava para a Venezuela, de onde milhares de pessoas fugiam da opressão e pensavam: logo o Brasil estará em situação semelhante, e chorava ainda mais.
Num sobressalto, acordei assustado, com o corpo molhado de suor. Olhei em volta: tudo continuava tal como antes. Tudo não havia passado de um pesadelo. Respirei aliviado. Foi então que olhei em direção à Praça dos Três Poderes... E notei que uma nuvem negra e ameaçadora se formava sobre ela.
Por longo tempo ainda fiquei a pensar no pesadelo que tivera, e nas nuvens ameaçadoras que pairavam no ar de Brasília. Se elas representavam prenuncio de algo desagradável, ainda dava tempo de afastá-las para bem longe. Mas era preciso agir rápido.


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A chave do enigma?

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Domingo, 17 de maio
Paulo Marinho
O jornal Folha de São Paulo, na edição deste domingo, 17, em texto assinado pela jornalista, Mônica Bergamo, traz uma entrevista com o empresário, suplente de senador, e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Paulo Marinho. Marinho é ex-marido da atriz Maitê Proença, e foi um dos mais importantes apoiadores de Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018.
Era um dos principais nomes que giravam em torno da órbita do então candidato Jair Bolsonaro à presidência da República. A relação entre o empresário com os bolsonaros era tão forte que ele chegou a emprestar sua bela casa no bairro carioca do Jardim Botânico, área nobre do Rio de Janeiro, para reuniões e gravações de programas eleitorais.  Foi também ele o escolhido para figurar como primeiro suplente na campanha ao senado do filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Como todos sabem, Flávio foi eleito, levando consigo o primeiro suplente de sua chapa.
Paulo Marinho é pessoa influente na sociedade carioca. Tanto é que em 2017, ofereceu um jantar a João Dória e outros nomes fortes da sociedade carioca, como por exemplo, Roberto Medina, dono da marca Rok in Rio. Na época, Dória era prefeito de São Paulo.
Antes filiado ao Patriotas, Marinho se filiou ao PSL em 2018, partido que o então deputado federal, Jair Bolsonaro, escolheu para abrigar sua candidatura. Lembremos que o PSL era, na época, um partido nanico, tornando-se nas eleições daquele ano, uma legenda com fundo partidário milionário, tendo despertado, posteriormente, a cobiça do presidente, causa do rompimento do presidente com o partido.
Gustavo Bebiano foi um dos pilares da campanha de Bolsonaro. Bebiano, fiel escudeiro, chegou a ocupar o cargo de ministro da Secretária Geral da Presidência. Bolsonaro assumiu o governo em 1 de janeiro de 2019. Bolsonaro ocupou o cargo de ministro por um período breve, cerca de um mês e meio apenas.
Em fevereiro de 2019, Bolsonaro exonerou o aliado por ele estar envolvido no esquema de candidaturas laranjas no PSL. Embora, talvez essa não tenha sido o real motivo da saída de Bebiano do governo. Ele deve ter discordado do presidente em algum ponto, e quem discorda do presidente no menor ponto que seja, é demitido do governo como temos visto recentemente.
Naquela época já ficava evidente o norte pelo qual se basearia o governo de Bolsonaro, facilmente perceptíveis hoje: a influência dos filhos no governo, e o uso das redes sociais para fritar ministros, denegrir a imagem de opositores do governo, fatores que tem tido o incrível poder de elevar a temperatura do governo e fazê-lo entrar em rota de colisão com outros poderes da República, com opositores e, até mesmo, com aliados. E assim, vez ou outra e quase sempre, a temperatura se eleva dentro do governo e fora dele feito fogueira ardente.
Tanto é que outros ministros se envolveram em escândalos e estão no governo até hoje, contando inclusive com apoio irrestrito do presidente. O fato é que, segundo Paulo Marinho, na referida entrevista à Folha, revelou que a saída do governo marcou muito Bebiano. Diz que ele ficou com muito “desgosto”, e que o ex-ministro morreu de “tristeza”, e “melancolia”.
O escolhido inicialmente para ser pré-candidato à prefeito do Rio, pelo PSDB, seri foi Gustavo Bebiano, mas ele morreu em 14 de março deste ano, vítima de um enfarto, em seu sítio em Teresópolis, região Serrana do Rio. Ele chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu. Quem deu o anúncio da morte de Bebiano foi o próprio Marinho.
Na ocasião, ele falou: “A cidade do Rio perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão”. Na entrevista à Folha, ele repete esse laço fraternal que tinha com o ex-ministro de Bolsonaro: “Para mim, foi uma tragédia pessoal. Perdi um irmão. Para o partido, foi irreparável”.
Morreu Bebiano, aos 54 anos, e como ele morreram muitos segredos. Ou talvez não. Talvez eles estejam por aí, guardados em algum telefone celular, nas mãos de não se sabe quem.
Em 20 de dezembro de 2019, Gustavo Bebiano, em entrevista ao programa 3 em 1 da Rádio Jovem Pan, disse não ter medo do presidente e que tinha material que poderia comprometê-lo: “Se o presidente acha que eu tenho medo dele, ele está enganado. Eu sou tão ou mais homem que ele. Tenho um material [sobre Bolsonaro], sim, e fora do Brasil. Tenho muita coisa e não tenho medo. Uma vez o presidente disse que eu voltaria para minhas origens, mas minha origem é muito boa”. Na mesma entrevista ele afirmou que se sentia vulnerável e sob risco constante: “O presidente é uma pessoa que tem muitos laços com policias bons e ruins do Rio de Janeiro. Me sinto vulnerável e sob risco constante”.
Em relação à facada que levou durante a campanha, Bolsonaro afirmava que pessoas próximas dele tinha participação no atentado. Quanto a isso Bebiano diz coisas a respeito do comportamento do presidente para essa questão, mas que também ficaram bem mais evidente nesse momento de combate a pandemia, diz ele: “É uma acusação que não merece muito da minha atenção, é de um grau de loucura absoluta, uma coisa estapafúrdia. Fico entre o que o Delegado Waldir falou quando o chamou de ‘vagabundo’ ou é um atestado de loucura, assim, incomparável. A perplexidade fica em primeiro lugar. Me preocupa muito o Brasil estar entregue a uma pessoa tão desequilibrada. Tenho conversado com juristas amigos que compartilham da mesma opinião, vou processá-lo na esfera civil e criminal, além disso vamos mover um processo de interdição também. Ele não condições de governar o Brasil”.
Na entrevista, Marinho afirma que costumava dizer a ele: “O capitão vai se enfraquecer de tal maneira que só vai ter a saída do golpe para se manter no poder. E ele é louco para fazer o golpe’. Ele tinha certeza que isso ia acontecer”.
Ainda em relação a essa questão dos segredos guardados por Bebiano, Marinho diz que ele tinha um celular com o qual se comunicou durante toda a campanha com o presidente e que, nele, havia um conteúdo imenso de mensagens que foram trocadas entre Bebiano e Bolsonaro. Nessas mensagens certamente estariam muitas coisas relevantes para entender o que acontece hoje nos bastidores de Brasília. Por segurança, Bebiano deixou esse telefone com uma pessoa nos Estados Unidos.
Ainda com relação ao comportamento do presidente, Marinho diz ficava só observando. Ele diz que o então deputado federal, Jair Bolsonaro, era incapaz de um gesto de agradecimento. Ele não costumava agradecer às pessoas que lhe faziam um gesto de gentileza, por menor que fosse. Marinho então logo percebeu que não estava diante de um “mito”.
Se alguma empregada lhe servia um cafezinho, ou se um assistente lhe entregava algum papel, ele era incapaz de dizer a palavrinha mágica: “obrigado”. Mágica essa que revela um bocado da educação de uma pessoa. E Marinho ficava pensando: “Será que é uma pessoa apenas de maus hábitos, que não tem educação?” Fala também das piadas homofóbicas que o candidato contava entre uma atividade e outra e também do desprezo com que tratava as mulheres.
Mas a informação mais relevante que Marinho deu na entrevista à Folha é a que, talvez explique a insistência de Jair Bolsonaro em troca da superintendência da PF no Rio, e até do ministro da Justiça, Sergio Moro, caso ele não concordasse com isso. Como sabemos, as duas coisas acabaram acontecendo: o superintendente da PF no Rio foi trocado, e não apenas ele, mas também o comando geral da PF, e também o ministro da Justiça.
Para termos uma ideia, a pressa era tanta que o novo diretor-geral da PF, André Mendonça, precisou de apenas vinte minutos após assumir o cargo para anunciar a troca da superintendência da PF no Rio. Acho que nem precisa pegar calculadora para ver que dois e dois realmente são quatro. Carlos Henrique de Oliveira foi para chefia executiva da PF, de onde não pode ter acesso às investigações, e, para o lugar dele foi nomeado o delegado Tácio Muzzi.
Voltando à entrevista que Paulo Marinho concedeu à Folha neste domingo, 17, ele diz que, no final de 2018, a Polícia Federal avisou a Flávio Bolsonaro que haveria uma operação e que Fabrício Queiroz e a filha dele iriam ser alvos de investigação. O delegado que o alertou falava da operação Furna da Onça, deflagrada pela PF, na manhã de 11 de novembro de 2018. Esse aviso teria sido dado a Flávio entre o primeiro e segundo turno das eleições de 2018.
O objetivo da operação era combater um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos, e mão de obra terceirizada, em órgãos da administração estadual, inclusive na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O operação prendeu sete deputados da Alerj, expediu novos mandatos de prisão para outros três que já estavam detidos. Flávio Bolsonaro não era um dos alvos daquela investigação naquela operação mas as investigações chegaram a ele, e a seu ex-assessor. 
O fato tornado público pelo jornal O Estado de São Paulo e que chegou nos familiares do presidente foi o de que o um relatório produzido pelo Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras, indicava uma movimentação fora dos padrões na conta de Fabrício José Carlos de Queiroz, o famoso Fabrício de Queiroz, ex-policial militar e ex-assessor do então deputado estadual Flávio Bolsonaro. Em outubro, Fabrício de Queiroz, e a filha dele foram exonerados do gabinete de Flávio.
Queiroz havia movimentado uma quantia de R$ 1, 2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. Estava entre essa movimentação um cheque de R$ 24 mil depositados na conta de Michelle Bolsonaro, que viria a ser a futura primeira dama do país. Até hoje, a finalidade desse depósito é história mal explicada. Não houve uma explicação convincente para a transação.
Em 19 de dezembro de 2018, o Ministério Público do Rio apontou Flávio Bolsonaro como chefe de uma organização criminosa que atuou no gabinete dele durante o período em que ele foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro, entre 2003 e 2018. Baseado em investigação policial o MP apurou que cerca de R$ 2, 3 milhões tenham sido movimentadas no esquema conhecido como rachadinha, que é quando o os funcionários de um político tem que devolver para  ele metade dos salários que recebem. Flávio Bolsonaro já tentou por 4 vezes barrar essa investigação.
Paulo Marinho diz que em 12 de dezembro, poucos dias após o termino do segundo das eleições, o recém-eleito senador, Flávio Bolsonaro dizendo que o pai, agora presidente, havia sugerido que ele o procurasse. Naquela ocasião o operação Furna da Onça já havia sido deflagrada e o nome do ex-assessor dele havia vindo à tona, bem como as denúncias do esquema de rachadinha na Alerj. A mídia estava em cima de Flávio, e Fabricio de Queiroz havia simplesmente sumido.
Segundo Marinho, Flávio queria que ele indicasse um advogado criminalista para ele, Flávio. Então os dois combinaram de se encontrar na casa de Marinho no dia seguinte, pela manhã.
No horário combinado Flávio apareceu trazendo o advogado de confiança que trabalha em seu gabinete, Victor Alves. Na casa de Marinho estava, além dele próprio, Christiano Fragoso, advogado criminalista que Marinho pretendia indicar para Flávio. O filho do presidente começou a contar o caso envolvendo o esquema das rachadinhas e de Queiroz. “Ele estava absolutamente transtornado”, diz Marinho.
Flávio com aquela conversa de quem quer tirar o corpo fora, dizia que havia sido vítima de uma traição e que Queiroz havia abusado de sua confiança, que estava “decepcionado” e “preocupado”. Até porque esse episódio poderia prejudicar o governo do recém-eleito presidente. Chegou até a lacrimejar, segundo Marinho.
Ainda segundo Marinho, foi então que Flávio resolveu abrir o jogo. E contou a história.
Haviam se passado uma semana do termino do primeiro turno da eleição quando o coronel Miguel Braga, que é atual chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro no senado, recebeu um telefonema de um delegado da PF, dizendo que precisava falar com Flávio.
O coronel relutou. Disse que Flávio não costumava atender desconhecidos. O delegado deve ter insistido mais ainda. Então Braga resolveu levar o caso até ele. Flávio então teria ficado curioso e pedido para o coronel ir encontrar a tal pessoa.
O encontro foi marcado na porta de uma Superintendência, a da Praça Mauá, no Rio de Janeiro. Teriam ido a esse encontro três pessoas: o coronel Braga, o advogado Victor, e Val [Meliga], irmã de dois milicianos que depois foram presos na Operação Quarto Elemento, deflagrada pela PF em gosto de 2019.
Quando o grupo chegou ao local do encontro, o delegado veio até eles e conversaram ali mesmo, na calçada. Segundo Marinho, o delegado teria avisado então que iria ser deflagrada uma operação, a Operação Furna da Onça, e que ela tinha como alvo a Assembleia Legislativa do Rio. E foi ainda mais longe ao dizer que ela atingiria também que o assessor do deputado Fabrício Queiroz, e a também a filha dele, Natália, que trabalhava, na época, no gabinete do então deputado, Jair Bolsonaro, em Brasília.
O delegado disse que era eleitor de Bolsonaro, que simpatizava com a campanha dele, e então foi ainda mais longe do que já houvera ido. Disse que Flávio tomasse providências, que ele iria segurar a operação para que ela não atrapalhasse o andamento da campanha de Jair Bolsonaro.
Ainda segundo Marinho disse à Folha. Flávio então teria procurado o pai e falado da conversa que o grupo havia tido com o delegado. Bolsonaro então teria pedido que Flávio exonerasse Queiroz e a filha dele, imediatamente. De fato, no dia 15 de outubro, Queiroz foi exonerado do cargo que ocupava no gabinete de Flávio. Naquele mesmo dia, a filha de Queiroz também foi exonerada.
Tudo correu conforme o combinado. Bolsonaro venceu o segundo turno da eleição em 28 de outubro, e, em novembro, foi deflagrada a Operação Furna da Onça.
No dia 18 de dezembro ocorreu a diplomação de Flávio Bolsonaro, e de Paulo Marinho como senador e suplente, respectivamente. Após a cerimônia, segundo Marinho, eles foram à um restaurante. Foi quando o senador disse a Marinho que havia encontrado outro esquema jurídico, que seria comando por outro advogado. Dispensando assim, o advogado que Marinho havia lhe indicado.
Ao ter conhecimento da entrevista, Flávio Bolsonaro reagiu dizendo que ela se tratava de “invenção de alguém despreparado e sem votos” e que Marinho tinha virados às costas a quem havia lhe estendido a mão, e que havia trocado a família Bolsonaro pelos governadores João Dória (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-Rio de Janeiro).
Flávio diz que Marinho quer prejudica-lo, pois caso aconteça algo e ele seja impedido de seu mandato no senado, é que Marinho quem lucra com a situação, pois é o seu suplente na casa. “Ele sabe que jamais teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem acontecido os fatos, dois anos atrás?”, disse Flávio.
Acho que todo mundo tem ficado com uma pulga atrás da orelha com essa obsessão de Jair Bolsonaro em trocar o superintendente da PF no Rio. Intento ao qual conseguiu recentemente. Talvez essa entrevista que Paulo Marinho deu à Folha de São Paulo neste domingo venha a ser a chave que abre a porta desse enigma. E a resposta para muitas perguntas até agora sem respostas.


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O feudo Brasil e seu louco senhor feudal

Posted by Cottidianos on 00:14

Sábado, 16 de maio

Ontem, 15, o Nelson Teich surpreendeu ao presidente e ao Brasil ao anunciar sua saída do ministério da Saúde. O ministro já estava na frigideira pronto para ser frito pelo chef sádico. Mas como boa sardinha que é pulou fora da panela antes que o óleo começasse a esquentar. Lá se foi mais um ministro da Saúde que não quis manchar sua biografia, nem rasgar seu currículo para sustentar os delírios e os arroubos autoritários de um presidente que não tem a menor ideia da liturgia e da seriedade que é a missão de conduzir uma nação.
Se para o ex-ministro, Sérgio Moro a gota d’água foi a exoneração de Valeixo do comando geral da PF, para Teich a gota da d’água foi a imposição da mudança de protocolo no uso da cloroquina: um medicamento sem nenhuma comprovação cientifica no combate ao coronavírus.
O orientação para o uso da cloroquina, segundo o ministério da Saúde, é para que o medicamento seja usado apenas para pacientes graves. O presidente quer mudar essa orientação, e defende que o remédio seja usado desde que o paciente apresente os primeiros sinais da doença.
Ora usar dessa forma um medicamento que não tem embasamento em nenhum estudo cientifico é embarcar numa aventura, ato ao qual Nelson Teich não estava disposto.
Porém, a saída de Teich do comando do ministério da Saúde revela algo bem preocupante: o Brasil está sem nenhuma coordenação, sem nenhuma política, sem nenhum método no combate ao coronavírus. Estamos num barco à deriva, sem comandante, no momento em que a tripulação da embarcação mais precisa de um líder, no momento em que as ondas avançam de encontro ao barco tal qual um monstro furioso.
O Brasil até tem um capitão no leme do barco, mas ele é estúpido e ignorante demais para leva-lo a algum porto seguro. Em vez de exercer bem a função de capitão que é guiar o barco com segurança, ele fica a olhar-se nos espelhos de sua cabine e a admirar-se a si próprio e a dizer: como sou grande, como sou nobre, como sou poderoso. Assim agem os capitães narcisistas: embevecidos e envaidecidos pela própria imagem nem percebem que o barco se aproxima dos arrecifes e que estes podem furar o casco do navio e traga-lo para o fundo do mar.
O problema com Jair Bolsonaro é que ele não se espelha nos grandes líderes democráticos. Não se inspira naqueles que fizeram de suas nações grandes e potentes. Ao contrário, ele vai buscar suas inspirações nas fétidas sombras da ditadura e naqueles “heróis” que mataram, torturaram, humilharam milhares de vidas nos porões da ditadura.
Talvez a imagem que ele tenha de si seja a de um daqueles senhores feudais que viveram na Idade Média mandando e desmandando em seus feudos. Na cabeça dele o Brasil é o seu feudo. As frases que mais temos ouvido da boca do presidente são expressões autoritárias tais como: “Sou eu que mando”, “Eu tenho o poder da caneta” “Eu sou a Constituição”, “Quero alguém afinado comigo”, e por aí vai.
E assim, ele vai pisando, humilhando, e contrariando aqueles que o apoiaram, que lhe deram a mão em algum momento na caminhada para a presidência. Foi assim com Gustavo Bebiano, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, Sérgio Moro, e tantos outros. A presidência — quem sabe a vida — é para Jair Bolsonaro como um jogo no qual ele deve estar sempre perseguindo alguém. Se não tiver inimigos o jogo não tem graça. Ele então trata de arranjar logo um sobre o qual possa exercer o seu sadismo. Assim agem os déspotas.
Os tiranos não deixam seus auxiliares mais fiéis fazerem seu trabalho com tranquilidade e obedecendo critérios técnicos. Não. Um subordinado não pode ter ideias próprias e racionais, mesmo quando essas ideias representam a salvação de milhares de vidas. Tudo tem que ser do jeito que o soberano quer, mesmo que isso represente empurrar a nação precipício abaixo. Por isso, ele, Jair Bolsonaro, quer interferir na Polícia Federal. Lá para proteger os filhos. Na saúde, para desafiar os governadores e agradar o empresariado ávido de lucros a qualquer preço, mesmo que o preço sejam a vida de milhares de brasileiros. Não importa.
Recentemente o presidente, preocupado com a crise econômica que já se faz presente ao lado da crise da saúde, e que pode lhe tirar votos para 2022, acusou os governadores pela crise econômica, justamente, por eles estarem tomando medidas como o isolamento social, para evitar que o coronavirus tire a vida de muito mais brasileiros.
Em reposta a essa atitude, vários governadores criticaram a atitude do presidente. Um deles, deu uma resposta bem sensata e à altura do que o presidente merecia ouvir. “Se a crise econômica fosse causada pelos governadores, por que ela existe em outros países? Quem está causando a grave crise econômica é o coronavírus. Incrível que Bolsonaro finja ignorar isso. E a responsabilidade da gestão econômica é dele. Se não sabe o que fazer, renuncie”. Essas foram palavras de Flávio Dino (PCdoB-MA). E Flávio Dino tem absoluta razão. Perdido, o presidente não sabe o que fazer, nem com relação à saúde, e muito menos em relação à Economia.
Em meio a essas crises causadas pelo presidente, dentro da crise grave na saúde, o Brasil já tem quase 15 mil mortos pela Covid-19, e mais de 218 mil casos confirmados. E esses números crescem em uma escala vertiginosa. Não demoraremos mais muito tempo para atingir a casa dos 20.000 mortos e nos estabelecermos nas primeiras posições entre os países com maior número de mortos e contaminados pelo coronavírus. É triste, mas é uma realidade.
Segundo matéria publicada pelo jornal o Estado de São Paulo, o presidente pretende fazer neste sábado, 16, um novo pronunciamento em rede nacional de rádio e TV contra o isolamento social. O presidente defende uma abertura geral, adotando o método controverso do chamado isolamento vertical, no qual apenas os idosos e doentes. O argumento do presidente é o de que o fechamento do comércio trará o caos e a fome.
Se o Brasil tivesse feito, desde os primeiros casos detectados da doença, a lição de casa que é seguir a recomendação das autoridades que é a de ficar em casa, não estaríamos na situação desastrosa na qual estamos hoje. Estaríamos bem perto já de uma abertura gradual da economia. Então, a culpa pela economia está destroçada, certamente não é dos governadores, mas sim do Covid-19, que veio sobre o mundo como um tsunami arrasador, e também do presidente, que é um dos principais opositores do principal remédio contra o coronavírus: o isolamento social. Agora o presidente corre atrás da quimera da cloroquina. O mundo todo sabe que não há remédio comprovado contra o Covi-19, apenas ele não sabe.
Mas, a divulgação do remédio mágico também atende aos seus interesses egoístas ao dar a sensação aos seus apoiadores que a solução para o problema foi encontrada e referendada pelo Dr. Jair, que nem médico é.
“Oremos. Força, SUS. Ciência. Paciência. Fé!”, escreveu em sua conta no Twitter, o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, após a saída de Nelson Teich do ministério da Saúde.
É isso que nos resta fazer: orar para que o a Inteligência Suprema, o Supremo Criador, consiga fazer o milagre de colocar um pouco de sensatez na cabeça daquele que nenhuma tem.

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