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Presidente pai coruja

Posted by Cottidianos on 00:58
Terça-feira, 23 de julho

Eduardo Bolsonaro e Jair Bolsonaro

Ah, as paixões! Deusas e bruxas ao mesmo tempo. Podem elevar a alma do homem aos céus quando bem vividas, bem ponderadas, e temperadas com um pouco de racionalidade. Quando, ao contrário, carecem do tempero da razão, quando são vividas de uma forma egoísta e mesquinha, podem levar o homem a ruína.  
O problema é justamente chegar a essa equação, a esse equilibro entre razão e emoção. A tendência do ser humano, e o seu erro também, é se jogar nos extremos: ou à razão exagerada, ou à paixão sem limites.
Quando essa batalha íntima, experimentada por qualquer ser humano, acontece dentro do universo particular de cada um, é fácil de resolver. Bem, digamos, não é tão fácil assim. Mas é mais fácil atravessar esse mar sem que muitas pessoas fiquem sabendo destas contendas. É mais fácil dominar a situação.
Mas, e quando a dualidade razão e emoção escapa do campo do ambiente privado, quando ela sai de dentro das quatro paredes da consciência de cada um e aparece na cena pública? Pior ainda, quando ela acontece nos salões do governo e nas cadeiras presidenciais?
O governo do nosso presidente, Jair Bolsonaro chega aos 200 dias. E, Deus do céu! Quantas polêmicas! Quanto tempo gasto em tolices, disputas, e manifestações do governo sem sentido. Se a ex-presidente colecionava alguns troféus na categoria “non sense”, o atual presidente não está ficando atrás nessa questão, não. São tantas as esquisitices que nem dá pra eleger uma, nem também dá para citar todas.
É uma coisa de apenas cuidar da questão ideológica como se o diabo estivesse presente em cada esquina, ou em cada pessoa que não compartilha das mesmas correntes ideológicas do presidente e de seus filhos. Como se aqueles que não pensam da mesma forma, aqueles que tem uma religião diferente, ou que fizeram uma opção sexual diferente, ou que tenham ideias políticas diferentes devessem ser lançados nas fogueiras medievais, sem direito à defesa.
Um governo, no entender desse blog, deve ser feito para todos os que estão abrigados sob o manto de uma nação, de um país. Afinal, se há pensamentos divergentes, o dinheiro que paga os impostos ao governo é o mesmo para ricos e para pobres. Se o voto foi o elemento que deu legitimidade a um governante, e se a maioria selou essa legitimidade, parte dos outros eleitores que votaram em candidatos outros também carecem enquanto participes do mesmo governo eleito de merecer também respeito e atenção por parte desse mesmo governo.
Essa semana, Jair Bolsonaro esteve com sua metralhadora de palavras mais afiada que nunca. Foi tiro verbal para tudo quanto é lado. Sobrou até para os “paraíba”, quando se referiu aos governos do nordeste, e, por extensão a todo o povo nordestino. Ressaltando-se que “paraíba” é um termo pejorativo e preconceituoso para se referir ao povo nordestino. Imaginem, se essa palavra soa preconceituosa na boca de qualquer outro cidadão, imaginem na boca de um presidente da nação?
Mas, comecemos destacando a ideia maluca que tem rondado a cabeça do presidente há pouco mais de uma semanas pelo menos. Que é fato de ele querer indicar o filho, o zero 03, Eduardo Bolsonaro, para um dos cargos chaves do governo, e um dos mais importantes do serviço diplomático no exterior: a embaixada do Brasil nos Estados Unidos.
Já quando o presidente aventou essa possibilidade no dia 11 deste mês, a ideia foi recebida com muitas críticas e espanto por pessoas do meio jurídico, por políticos e por diplomatas. Isso de um presidente da República nomear um parente em primeiro grau para uma embaixada, e, principalmente para uma embaixada tão importante como a dos Estados Unidos, é algo totalmente sem precedentes na história política brasileira.
Ainda se fosse um homem qualificado para isso, mas sabe-se que o deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), não tem a experiência necessária para um cargo de tal investidura. As qualificações apresentadas pelo presidente e pelo filho para o cargo beiram o ridículo, e são mais propícias a um programa de humor do que aos atos presidenciais: são elas basicamente: saber fritar hambúrgueres e ser amigo da família de Donaldo Trump.
Dias atrás, em transmissão pelo Facebook, o presidente, sob os holofotes de todas as críticas, insistiu, ferrenhamente, na indicação do filho, como tem defendido em todas as ocasiões que lhe aparecem, com argumento no mínimo, sem sentido: “Lógico, que é filho meu, pretendo beneficiar filho meu, sim. Pretendo, se puder, dar filé mignon, eu dou, mas não tem nada a ver com filé mignon, nada a ver, é realmente, nós aprofundarmos um relacionamento com um país que é a maior potência econômica e militar do mundo”, disse ele.
E assim, não sabendo exatamente, os limites entre o governo e o familiar, aquele que apregoou durante a campanha a moralidade no serviço público, quer praticar, ele mesmo, aberta e escancaradamente, um ato de nepotismo. Tudo para satisfazer os desejos do filho.
Aliás, a intromissão dos filhos do presidente no governo outra coisa sem precedentes na história política do país — não é nenhuma novidade para os brasileiros. Eles, os filhos do presidente, já foram responsáveis pela queda até de ministros de Estado. Não importa se eles eram aliados ou não do presidente, se foram homens de confiança na campanha ou não, virou desafeto dos filhos do presidente, virou também desafeto dele, e, consequentemente, a cabeça está a prêmio.  
Isso lembra uma passagem bíblica. A decapitação do profeta João Batista. A filha de Herodes com sua esposa Herodias, dançou tão bem na presença do pai, que este prometeu dar-lhe qualquer coisa que a moça pedisse. A jovem, então, instruída pela mãe, pediu a cabeça de João Batista numa bandeja. Como palavra de rei não volta atrás, lá se foi a cabeça de um inocente cortada fora.
Mas há questões bastante perigosas envolvidas nesse caldeirão de intrigas e polêmicas, como é o caso, por exemplo, da questão ambiental. Bolsonaro não aceita os dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
Durante café da manhã com jornalistas estrangeiros o presidente questionou os dados do órgão sobre o aumento do desmatamento da Amazônia. O presidente nega qualquer aumento no desmatamento da área, quando todos os dados de um instituto sério como o Inpe, dizem o contrário.
Posteriormente, pela postura do presidente e pelas suas falas, percebe-se que a intenção é esconder os dados gritantes sobre o fato para que o Brasil não fique malvisto lá fora. Traduzindo em miúdos isso se chama jogar sujeira para baixo do tapete.
O diretor do Inpe, Ricardo Magno Osório, também não deixou barato e, em entrevista à imprensa, disse: “A primeira coisa que eu posso dizer é que o sr. Jair Bolsonaro precisa entender que um presidente da República não pode falar em público, principalmente em uma entrevista coletiva para a imprensa, como se estivesse em uma conversa de botequim. Ele fez comentários impróprios e sem nenhum embasamento e fez ataques inaceitáveis não somente a mim, mas a pessoas que trabalham pela ciência desse País”.
São muitos os aspectos a comentar, mas para complementar o presente texto, deixo aos leitos uma excelente matéria escrita pela respeitada e premiada jornalista de economia, Miriam Leitão. O artigo tem por título “Entre o grotesco e o perigoso”, e foi publicada no jornal o Globo, no último dia 21 de julho.
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Entre o grotesco e o perigoso

POR MÍRIAM LEITÃO
21/07/2019 04:00
Pense no que o presidente Jair Bolsonaro fez e falou de grotesco em 200 dias. Você só conseguirá se lembrar de tudo se recorrer a uma pesquisa. São tantas esquisitices diárias que a gente se esquece porque precisa cuidar da vida. O presidente investiu contra radar, cadeira de criança, taxa cobrada em Noronha. Defendeu o trabalho infantil, disse que, sim, beneficiará filho seu, postou notícia falsa, deu visibilidade a uma cena escatológica no carnaval e tratou com escárnio valores fundamentais. Qualquer lista que for feita aqui ficará incompleta. O problema é que junto com atos e palavras sem noção há perigo real contra pessoas e instituições.
Governar um país não é comandar um programa humorístico. As palavras bizarro e tosco têm sido usadas com frequência, mas talvez devamos pensar mais na palavra perigo. Enquanto renova o estoque da “última de Bolsonaro”, a Presidência contrata o desastre em inúmeras áreas.
Os ataques ao meio ambiente são diários, a educação perdeu um semestre, o Brasil se aproximou na ONU de países párias nos direitos da mulher, o governo naturalizou a intolerância, suspendeu a fabricação de remédios essenciais, escalou a liberação de agrotóxicos, estimulou o preconceito, encurralou a cultura e esteve nas ruas com quem pediu fechamento do Congresso e do Supremo.
Enquanto tudo isso acontecia, a economia continuou em crise, a queda da atividade se aprofundou, o desemprego permaneceu alto, a confiança caiu. Há relação entre uma coisa e outra. Até agora o que se tem é um governo sem rumo em todas as áreas, inclusive na economia. Alguns integrantes da equipe econômica se dedicam ao extremo a determinadas ações, mas o governo tem apresentado miragens como se fossem projetos em andamento. A lista de não eventos está cheia. De concreto, houve dois avanços em seis meses. A aprovação da reforma da Previdência em primeiro turno na Câmara e o anúncio do acordo Mercosul-União Europeia. Na Previdência, o parlamento avançou a despeito da balbúrdia do governo. No acordo comercial há ainda uma longa estrada até virar realidade. Não se pode contar ainda como conquista consolidada. A falta de fatos concretos na administração Bolsonaro mantém nos agentes econômicos a desconfiança em relação à retomada do crescimento. Os investidores da economia real precisam de sinais mais sólidos.
Há perigos agudos. O ministro Ricardo Salles visitou madeireiros, foi aplaudido por eles e os elogiou no mesmo local onde duas semanas antes madeireiros haviam queimado um caminhão tanque do Ibama. Foi em Espigão D'Oeste, Rondônia. O combustível abasteceria três helicópteros que seriam usados para fiscalizar a retirada ilegal de madeira na Terra Indígena Zoró. Não houve a operação. Criminosos queimaram patrimônio público, retiraram madeira de terra protegida, ameaçaram um órgão do governo, abortaram uma ação de fiscalização. A extração ilegal de madeira é a principal suspeita. O ministro do Meio Ambiente deveria ter sido mais cauteloso ao ir ao local se solidarizar com os madeireiros.
A lista dos perigos é tão extensa quanto a das tosquices. É importante ficar atento. O governo Bolsonaro tem um padrão. Ele vai encurralando e desmoralizando os órgãos públicos. O que há de comum entre defensoria pública, Ibama, ICMbio, Itamaraty, Inpe, IBGE, Inep, Fiocruz, tantos outros, é que o governo tem tentado impedir que eles façam o seu trabalho. De forma sutil ou ostensiva funcionários são neutralizados. Os contribuintes pagam os salários dos servidores para que eles exerçam funções específicas, e o governo tenta paralisar as atividades. É desperdício de um recurso público valioso e caro: o capital humano. Isso enfraquece o Estado nas funções que precisam ser fortalecidas.
Há áreas mais vulneráveis porque viraram os primeiros alvos, mas outros órgãos estão na mira. Para legitimar seus atos, o governo dirá que a reação de funcionários é corporativismo, quando é a saudável defesa da sua missão dentro do Estado. Depois de 200 dias não há mais como se enganar. O governo não é apenas incompetente. Ele está criando perigos reais para o país.
* Ficarei duas semanas de férias. Alvaro Gribel com Marcelo Loureiro ocuparão este espaço escrevendo uma coluna de notas, com o brilho já conhecido pelos leitores.
Com Alvaro Gribel (de São Paulo)


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Reforma da Previdência: Varinha de condão que salvará o Brasil?

Posted by Cottidianos on 01:13
Quinta-feira, 11 de julho

Prezados leitores e leitoras, desculpem a ausência de postagens por esses dias. Problemas outros, mas de somenos importância, me impediram me pôr a caneta na tinta e depois pinçar o papel com letras, que, com seu bailado vão formando palavras. Isso era nos tempos antigos, eu sei. Hoje, a caneta tinteiro e o papel são o computador e as páginas em branco que abrimos com um clique, mas tudo, no fundo, no fundo, remete ao processo antigo, juntar letras, que formam palavras, que formam frases, que formam sentenças, e assim por diante.

Muita coisa acontecendo, de bom e de ruim no cenário político. As notícias continuam fervilhando, não exatamente da forma como o brasileiro gostaria, é verdade.
Fato importante ontem (10), a Câmara dos Deputados aprovou hoje a Reforma da Previdência. Estão apostando todas as fichas nesta importante reforma. Foram 379 votos a favor e 171 contra. Os cálculos são de que a reforma economize R$ 744 bilhões em dez anos.
Mas não adianta nada economizar essa dinheirama toda se não houver uma reforma moral na sociedade brasileira como um todo, a começar pelos Poderes constituídos: Executivo, Legislativo, e Judiciário.
Como temos visto, estão todos eles corrompidos em sua essência, e os homens que constituem esses poderes, salvo raríssimas exceções se deixam corromper, e depois também corrompem, não necessariamente nessa ordem.
Mas quando este blog fala de reforma moral, não está falando, necessariamente, de uma reforma ideológica, como tem defendido com afinco o presidente Bolsonaro, essa sim, perigosa, pois só há caminho possível no qual acabará tudo isso: mais preconceito e mais exclusão.
É certo que a devassidão deve ser combatida, mas há um perigo de se confundir tudo isso, e colocar no mesmo caldeirão, o direito de as pessoas serem diferentes, de ser quem elas são em sua essência, sem serem atacadas e apedrejadas por isso, como era comum no tempo da inquisição.
Do jeito que o governo fala, até dá para sentir o cheiro de carne humana queimando nas fogueiras da inquisição da conservadora sociedade brasileira moderna, com milhares de santos-do-pau-oco, se divertindo e se deliciando com tal espetáculo para lá de desumano em nome da fé. Fé em quem e quem e em qual ser superior? Qual Deus aprovaria tais atos? Será o que o Deus cultuado na Idade Média ficou satisfeito com tantos inocentes queimados na fogueira por pensarem diferente?
A reforma moral da qual este blog fala é aquela em que os direitos do outro são respeitados, a de que não é preciso que se dê uma rasteira no outro, nosso semelhante, para que possamos ir em frente. Isso é uma visão retrógrada, de uma sociedade também retrógrada. Na verdade, andamos mais e melhor, quando nos damos as mãos uns aos outros, e nos reconhecemos como pertencentes a uma mesma sociedade, que tem os mesmos sonhos e anseios de progresso e de bem-estar.
A reforma moral e ética de que necessitamos é aquela que apregoe que a corrupção é um abismo que o individuo cava aos próprios pés pensando que está construindo castelos de vidros ou de cristal. É essa Reforma, talvez a mais importante que precisamos. Mas essa bandeira, é levantada, timidamente, por um ou outro em nossas casas legislativas, e até no judiciário, como temos deduzido pelo comportamento e opiniões de membros do Judiciário.
Ainda nessa esteira, é preciso também planos concretos gerar empregos para a imensa massa de desempregados, e ações que coloquem a economia nos eixos, pois se há milhões de desempregados, por certo há também muitas fábricas, lojas e outros estabelecimentos comerciais fechando as portas. Enquanto isso, o atual governo cuida de postagens em redes sociais, de ideologias e de outros assuntos semelhantes que não impulsionarão o país economicamente. É como se a cozinheira cuidasse da montagem dos pratos e esquecesse de fazer o bolo. De que adiantaria tal cuidado com os pratos se faltou o bolo?
Abaixo, este blog compartilha texto publicado no Portal Globo.com, falando a respeito da aprovação em primeiro da Reforma da Previdência na Câmara dos Deputados. O texto foi publicado neste dia 10/07 e é de autoria de Fernanda Calgaro, Gustavo Garcia, Fábio Amato, Luiz Felipe Barbiéri e Fernanda Vivas.

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Câmara aprova em primeiro turno por 379 votos a 131 o texto-base da reforma da Previdência
Para concluir primeira rodada de análise da PEC, deputados precisam votar os chamados destaques, para alterar pontos específicos da proposta de emenda constitucional.
Por Fernanda Calgaro, Gustavo Garcia, Fábio Amato, Luiz Felipe Barbiéri e Fernanda Vivas, G1 e TV Globo Brasília

A Câmara dos Deputados aprovou na noite desta quarta-feira (10) em primeiro turno, por 379 votos a 131, o texto-base da proposta de emenda à Constituição (PEC) de reforma da Previdência, que altera as regras de aposentadoria.
Para concluir a votação, os parlamentares ainda precisam analisar emendas e destaques apresentados pelos partidos para tentar alterar pontos específicos da proposta.
Considerada uma das principais apostas da equipe econômica para sanear as contas públicas, a proposta de reforma da Previdência estabelece, entre outros pontos:
imposição de idade mínima para os trabalhadores se aposentarem: 65 anos para homens e 62 anos para mulheres;
tempo mínimo de contribuição previdenciária passará a ser de 15 anos para as mulheres e 20 anos para os homens;
regras de transição para quem já está no mercado de trabalho.
Após a aprovação do texto-base, os deputados votaram um único destaque, rejeitado. Em seguida, o presidente Rodrigo Maia (DEM-RJ) encerrou a sessão, que será retomada na manhã desta quinta (11).
O destaque rejeitado pretendia mudar as regras previstas para professores na reforma. Apresentado pelo PL, propunha para professores da rede pública de ensino a aposentadoria com 55 anos de idade e 30 de contribuição para homens, e com 50 anos de idade e 25 anos de contribuição para mulheres.
A mudança foi rejeitada, mesmo com maioria de votos favoráveis ao destaque. O placar foi de 265 votos a favor e 184 contra. Mas, por se tratar de PEC, eram necessários pelo menos 308 votos para a aprovação.
O resultado da votação do texto-base desta quarta superou as expectativas dos próprios governistas. Até domingo (7), o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, estimava que a proposta receberia cerca de 330 votos.
Contribuíram para o resultado os votos de deputados de partidos de oposição, como PSB e PDT, que tinham fechado questão contra a reforma da Previdência. No PSB, dos 32 deputados da bancada, 11 votaram a favor da reforma. No PDT, oito dos 27 deputados votaram pela aprovação do texto.
Obstrução
Antes de conseguir aprovar o texto-base, os deputados favoráveis à reforma tiveram que analisar no plenário requerimentos regimentais de obstrução apresentados pelos partidos contrários às mudanças nas regras previdenciárias.
O objetivo dos oposicionistas com o uso do chamado "kit obstrução" era atrasar o máximo possível a votação. Porém, todos os requerimentos de obstrução foram rejeitados pela maioria dos deputados ao longo desta quarta-feira.
Por um placar de 334 votos a 29, os defensores da reforma derrubaram um pedido do PSOL que solicitava a retirada de pauta da proposta. Com a rejeição, ficaram prejudicados outros requerimentos que pediam o adiamento da votação.
A oposição fez outra tentativa para atrasar os trabalhos ao pedir que o texto fosse analisado de forma fatiada, votando cada artigo separadamente.
Para contornar a situação, deputados favoráveis à PEC da Previdência usaram uma manobra regimental e apresentaram seis requerimentos que tratavam de procedimentos de votação.
Nessa situação, quando há mais de cinco pedidos no mesmo sentido, o regimento interno da Câmara determina que o presidente da Casa consulte o plenário sobre o procedimento em uma única votação. O plenário acabou rejeitando a votação parcelada por 299 votos a 43, e duas abstenções.
Em seguida, os parlamentares derrubaram em bloco a admissibilidade dos destaques simples, que são as sugestões apresentadas por deputados individualmente. Assim, eles partiram diretamente para a análise dos destaques de bancada.
Embates no plenário
Durante a sessão, parlamentares pró-reforma e oposicionistas travaram uma série de embates sobre as mudanças nas regras previdenciárias.
Parlamentares da oposição afirmaram que a economia prevista com a reforma é injusta e feita em cima dos que ganham menos.
Eles também criticaram a liberação de emendas parlamentares por parte do governo, dizendo que isso faz parte da negociação de votos a favor das mudanças nas regras previdenciárias.
“O governo teve seis meses para tentar convencer o Congresso, o povo brasileiro de que essa reforma combateria privilégios e seria boa para a economia, mas só conseguiu convencer parte dos parlamentares liberando R$ 40 milhões extras em emendas para acabar com a vida do povo trabalhador”, disse deputada Sâmia Bomfim (PSOL-SP).
Parlamentares pró-reforma, por outro lado, repetiram que o texto combate privilégios e que é necessário para cobrir o rombo da Previdência. Eles também refutaram as falas de que a liberação de emendas foi feita em troca de votos.
“Estão aqui parlamentares pensando no Brasil e nas próximas gerações, em detrimento de uma minoria que será derrotada, que só pensa no populismo, em se dar bem, em manter privilégios para corporações e nas eleições do ano que vem”, disse o líder do Cidadania, Daniel Coelho (PE).
“Por que esta reforma vai passar hoje? A esquerda diz que é porque o governo comprou a todos nós. [...]. O governo Bolsonaro acelerou o pagamento de emendas de parlamentares ao orçamento da União nos últimos meses. Em maio, foram quase R$ 600 milhões. O partido que mais se beneficiou não foi o PSL. Foi o PT. A bancada do PT foi a que mais recebeu recursos. Sabe quanto? 69 milhões. Será que Bolsonaro está querendo comprar o PT? Não. Porque Bolsonaro não compra ninguém, e muito menos compraria quem quebrou esta nação, quem quebrou o Brasil”, disse o líder do PSC, Otoni de Paula (RJ).
Cartazes e bandeiras
Além dos embates verbais, os parlamentares protagonizaram um confronto visual no plenário, com cartazes, camisas e bandeiras.
Deputados do PDT, por exemplo, subiram à tribuna com cartazes com os dizeres: “Eu não voto contra professoras (es)”. Integrantes do PCdoB usaram camisas com a inscrição: “Não à reforma”; e cartazes com a frase “Reforma injusta”. Parlamentares do PT, do PSOL e do PSB utilizaram recursos visuais semelhantes.
Deputados governistas empunharam bandeirinhas do Brasil e cartazes que diziam que as “únicas reformas que o PT apoiou” foram as do tríplex do Guarujá (SP) e do sítio de Atibaia, em uma referência a processos e acusações que pesam contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Lágrimas de Maia
Em um momento da sessão, antes da votação do texto-base, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), chorou.
O deputado foi às lágrimas quando o líder do PSL, delegado Waldir (GO), pediu aos apoiadores da reforma uma salva de palmas a Maia por seu empenho e condução na análise da PEC.
Vários deputados presentes ao plenário atenderam ao pedido e prestaram a homenagem ao deputado do DEM.
Antes do anúncio do resultado, Rodrigo Maia deixou a mesa e foi à tribuna para discursar. Ele fez a defesa da reforma.
"Nosso sistema previdenciário coloca o Brasil numa realidade muito dura. Para cada um idoso abaixo da linha de pobreza, nós temos cinco crianças, e essas reformas vêm no intuito de reduzir as desigualdades e esse, eu tenho certeza, que é o objetivo de todos os deputados presentes que votaram a favor e os que votaram contra", declarou.
Ele também agradeceu aos líderes partidários. "Nós só chegamos aqui por isso, porque muitas vezes os nossos líderes são desrespeitados, às vezes na imprensa, criticados de forma equivocada, mas são esses líderes que estão fazendo as mudanças no Brasil, junto com deputados e junto com as deputadas", disse.
Emendas e destaques
Entre as emendas que serão apreciadas pelos deputados há uma que flexibiliza as regras de aposentadoria para uma série de carreiras policiais. A emenda, que obteve o apoio do PSL – partido do presidente Jair Bolsonaro – foi apresentada pela bancada do Podemos.
A proposta que será analisada pela Câmara – que atende a pedido do próprio presidente da República – cria uma nova regra para a aposentadoria de policiais federais, rodoviários federais, ferroviários federais, legislativos e policiais civis do Distrito Federal, além de agentes penitenciários e socioeducativos.
Há também na lista de destaques uma proposta apoiada pela bancada feminina da Câmara que pede alterações no cálculo do valor da aposentadoria das trabalhadoras do sexo feminino. O texto prevê que as mulheres possam se aposentar com 15 anos de contribuição recebendo 60% do valor do benefício integral.
Outro destaque que será apreciado pelo plenário, de autoria da bancada do PL, propõe critérios diferentes dos que o governo sugeriu para a concessão de aposentadoria para professores que atuem no ensino público da União, dos estados e dos municípios.
Tramitação
Por se tratar de uma proposta de emenda à Constituição (PEC), é necessário que o texto da reforma da Previdência seja aprovado, em dois turnos, na Câmara e no Senado com votação qualificada, ou seja, com os votos de, pelo menos, 60% dos parlamentares de cada uma das casas legislativas. A expectativa é de que a votação em segundo turno ocorra ainda nesta semana.
Na Câmara, para o texto ir adiante, era preciso que, no mínimo, 308 dos 513 deputados votassem a favor da PEC. Ao final da análise dos destaques, a Casa terá que analisar novamente o texto, para que, enfim, possa ser submetido à apreciação dos senadores.
O Senado começará a analisar a reforma previdenciária no retorno do recesso parlamentar de julho, que terá início no dia 18.
Manifestantes
Enquanto os deputados discutiam na tarde desta quarta a proposta de reforma da Previdência, um grupo de manifestantes protestava contra a PEC do lado de fora do prédio do Legislativo. Segundo a Polícia Militar do Distrito Federal, 300 pessoas participaram do protesto.
 Logo no início da manifestação, foi registrado um princípio de tumulto, que foi contido por policiais legislativos. Após o incidente, policiais militares e legislativos bloquearam o acesso ao Anexo II da Câmara, uma das principais portas de entrada do prédio da Casa.
Com as portas cerradas, PMs formaram uma barreira humana na entrada do prédio. A confusão aumentou quando policiais legislativos usaram spray de pimenta para conter o grupo que protestava contra a reforma previdenciária.
Mesmo com a barreira policial, os manifestantes continuaram o ato do lado de fora. Em nota, a Câmara dos Deputados informou que "devido a uma tentativa de invasão, a portaria do edifício do Anexo II da Câmara dos Deputados foi fechada".

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