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O fim de uma caçada. O início de outra.

Posted by Cottidianos on 23:40

Quarta-feira, 29 de junho de 2021




 A caçada

 Distrito de Girassol, Cocalzinho, Goiás.

Tarde de segunda-feira, 28 de junho de 2021

O pequeno distrito de Girassol estava em festa. Cerca de 35 viaturas, desfilaram pelas ruas. As sirenes ligadas não anunciavam perigo, mas alívio. Os policiais acenavam para a população. A população, em reposta, aplaudia a força policial. Era também possível ver e ouvir fogos de artifícios explodindo no céu, soltados por alguns moradores eufóricos. A força policial e população podiam, finalmente, respirar aliviados, e afastar para longe de si as nuvens de tensão que pairava sobre a cabeça de todos havia vinte dias.

Toda essa alegria representava o fim de intensas buscas realizadas numa operação em conjunto entre as polícias Militar e Civil de Goiás e do Distrito Federal, Polícia Rodoviária Federal, e Polícia Federal. Uma operação muito cara aos cofres públicos, pois envolvia um conjunto de cerca de 300 policiais, helicópteros, viaturas, cães farejadores.

Tudo isso para prender não uma quadrilha, um grupo, mas um homem apenas: Lázaro Barbosa, 32 anos. Um serial killer que matou 4 pessoas da mesma família, em Ceilândia, além de praticar outros crimes de furtos e ameaças a moradores, e espalhar terror no Distrito Federal e arredores. 

Foi em 2009 que Lázaro começou sua carreira de crimes, de acordo com registros oficiais. Naquele ano, ele foi preso por roubo, porte ilegal de armas, estrupo e roubo. A carreira do criminoso terminou com sua prisão em uma caçada cinematográfica que durou vinte dias. Caçada que estamos a ver nos filmes produzidos por Hollywood, mas não na vida real. Segundo a polícia, no momento da prisão, o bandido reagiu. Os policiais então atiraram nele, Lázaro ainda chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital.

Ao final da operação, surgiram indícios de que Lázaro não agia sozinho, mas a mando de alguns fazendeiros da região, ou mesmo de pessoas da cidade. Porém, se Lázaro era um arquivo vivo, agora ficará mais difícil para a polícia esclarecer estas questões. Pode até chegar à verdade, porém será um caminho mais árduo.

 A CPI

 Sábado, 20 de março de 2021

12h54min

O deputado Luís Miranda troca mensagens com um assessor do presidente Jair Bolsonaro, através de um aplicativo de mensagens

Boa tarde

Avise ao PR que está rolando um esquema de corrupção pesado na aquisição de vacinas dentro do Min. Da Saúde.

Tenho as provas e as testemunhas.

Sacanagem da porra... a pressão toda sobre o presidente e esses FDPs roubando!

As 13h06 o assessor responde com uma figurinha de bandeira do Brasil.

Uma hora mais tarde o deputado envia outra mensagem

Não esquece de avisar o PR. Depois não quero ninguém dizendo que eu implodi a república. Já tem PF e o caralho no caso. Ele precisa saber e se antecipar.

Às 14h11min o assessor responde com outra figurinha de bandeira do Brasil.

Às 16:07 minutos o deputado Luís Miranda, então escreve a seguinte mensagem

Estou a caminho.

Sinalizando que estava a caminho do Palácio da Alvorada para encontrar pessoalmente o presidente.

De fato, Luís Miranda foi a residência oficial do presidente da República, e levou junto com ele, o irmão, Luis Ricardo Fernandes Miranda, que desde 2011 é servidor de carreira no ministério da Saúde. Desde que entrou no MS, Luís Ricardo é lotado no departamento de Logística. Está à frente do setor de importação do ministério desde 2016. O setor no qual ele trabalha é responsável pela importação de insumos estratégicos como vacinas, e medicamentos. Assinados os contratos, é o setor de importação quem prossegue com o processo para a aquisição dos insumos. É a parte final do processo. A ponta.

O que tanto preocupava o deputado Luís Miranda e o servidor de carreira, seu irmão, era justamente problemas e inconsistências com o contrato de importação do imunizante indiano, Covaxin. Contrato este que havia sido firmado entre a Precisa Medicamentos, empresa que fez a intermediação entre o ministério da Saúde e o laboratório Bharat Biontech.

Algo estava muito errado e eles achavam que o presidente precisava ser alertado a respeito disso.

O irmão de Luiz Miranda foi a esse encontro munido de documentos que comprovavam o que estava dizendo, além de relatar as pressões sofridas dentro do ministério da Saúde.

O servidor relatou ao presidente que o setor em que ele trabalhava já havia feito o primeiro embarque da vacina do consórcio Covax (Facility, da OMS), que durante essa importação havia ocorrido alguns contratempos, mas que, finalmente, eles haviam conseguido resolver os problemas relativos à importação, e que não haviam sofrido nenhuma pressão nesse caso. Em todos os outros processos de aquisição de insumos, em nenhum deles haviam sofrido pressão para acelerar as importações ou de qualquer outro tipo.

Mas no caso da Covaxin estava sendo diferente. A pressão era enorme em cima dos servidores que cuidavam da área de importação. Havia muitas reuniões. Questionamentos. Toda hora tinha alguém perguntando como estava a documentação. Além disso, a documentação técnica apresentada divergia em muito do que estava estipulado no contrato. Mesmo assim, faltando documentação técnica, era grande a pressão por parte dos superiores para que fosse solicitada a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A solicitação à Anvisa até foi feita, como exigia o superior, mas a agência negou o pedido.

As pressões vinham principalmente de Alex Lial Marinho, coordenador do CGLOG (Coordenação Logística de Insumos Estratégicos da Saúde), de Roberto Ferreira Dias, diretor do departamento de Logística, e do Coronel Pires, assessor da Secretaria Executiva.

Luís Ricardo revelou inclusive que o Coronel Pires havia ligado para ele às 23 horas do dia 19 de março, pressionando para que ele agilizasse as licenças de importação. O coronel disse que o representante da empresa havia ido falar com o secretário executivo, Élcio Franco, naquela sexta-feira, à noite, para que o mesmo agilizasse as licenças de importação para que as vacinas pudessem ser embarcadas ainda naquela semana.

Os dois relataram ao presidente que havia sido feito pedido de pagamento antecipado para importar três lotes de vacinas que estavam próximas do prazo de validade. O contrato para a aquisição da Covaxin não previa pagamento antecipado, mas houve pressão para que ele assinasse recibo para que isso fosse feito no caso desse lote de vacinas.

O preço cobrado era no valor de US$ 45 milhões, o equivalente a R$ 222,6 milhões. A área técnica achou que esse valor estava sendo cobrado indevidamente e o servidor se recusou a assinar o recibo.

Enfim, todas as cartas desse contrato pra lá de suspeito foram postas na mesa do presidente. Este ouviu tudo com atenção, a até demonstrou uma certa surpresa, e disse que iria falar com o chefe da Polícia Federal para que fosse feita uma investigação do caso. Porém não fez o que prometera. A PF não recebeu do presidente nenhum pedido de investigação para esse caso.

O deputado postou fotos do encontro com o presidente nas redes sociais, mas disse que tinha ido tratar de vacinas e combustíveis, escondendo de seus seguidores o real motivo da visita.

Os imãos Miranda em depoimento na CPI

Depois do encontro com Bolsonaro, Luís Miranda ainda continua esperando um posicionamento de Bolsonaro sobre o assunto.

 No dia 22 de março ele questiona o assessor:

Pelo amor de Deus. Isso é muito sério. Meu irmão quer saber do PR como agir.

Dessa vez, nem figurinha de bandeira do Brasil recebe.

Então volta a tentar mais uma vez no dia seguinte:

Bom dia, irmão. O PR está chateado comigo? Algo que eu fiz?

Só precisamos saber o que fazer em uma situação como essa.

Então o assessor do presidente responde:

Bom dia.

Negativo, deputado.

São muitas demandas. Vou relembrá-lo.

Luís Miranda responde:

Obrigado, irmão. Você sabe que a vontade é de ajudar! Estamos juntos!

A conversa continua no dia 24. Luís Miranda chama a atenção do assessor para o prazo da validade das vacinas.

Os caras estão mandando vacina que vencem em abril e maio kkkkkk que rolo.

Como parte da mensagem o deputado envia print de parte de um documento que detalha os prazos para uso dos imunizantes.

O texto acima foi baseado na entrevista que Luis Ricardo Fernandes Miranda deu ao jornal O Globo em 23 de junho, e no depoimento que os irmãos Miranda deram à CPI da Covid, na sexta-feira, 25.

O depoimento dos dois irmãos foi um dos mais fortes até agora na CPI e a obrigou a mudar de rumo. O início de uma nova fase. A CPI que, em relação ao governo federal, apurava as ações e omissões deste em meio à pandemia, agora também se depara com um casos de corrupção no ministério da Saúde, escândalo esse do qual o presidente teria sido informado e nada fez. E se nada fez, como sustentam os irmãos Miranda, comete o crime de prevaricação, que é quando o servidor público é conhecedor de alguma ilicitude e demora ou não faz nada para impedi-la.

Se o depoimento dos irmãos Miranda foi o mais forte até agora dessa CPI, também certamente foi o mais tumultuado, principalmente, por parte dos governistas que estavam particularmente nervosos naquela sessão. Interrompiam a toda hora os colegas que faziam perguntas, e aos depoentes.

Como pontos suspeitos do contrato o deputado citou, além do pagamento antecipado, a existência de uma terceira empresa que não constava no contrato, e a qual seriam repassados os valores. Essa empresa era uma offshore, ou seja, uma empresa aberta em local sem tributação. Havia também a questão do envio de doses dos imunizantes menor que o contratado, além dos custos de importação que também ficariam a cargo do ministério da Saúde.

Logo no início de seu depoimento, Luís Miranda, disse que, na conversa do dia 20 de março entre os três; o presidente, o deputado, e o irmão deste, que quando contaram ao presidente sobre essas irregularidades, Bolsonaro tinha citado o nome de um deputado como sendo o responsável por esse “rolo”, por essas irregularidades.

Durante todo o depoimento dos irmãos, que começou à tarde, os senadores ficaram tentando arrancar dele o nome dessa pessoa. Mas Luís Miranda sempre dizia que não se lembrava do nome citado pelo presidente pois que eram muitos deputados, 513, e ele não lembrava.

Já próximo do fim da sessão, perto das 22hs, finalmente, o deputado disse o nome desse deputado. Disse não, praticamente sussurrou. Dizem que a senadora Simone Tebet (MDB-MS ) fez o gol por ter conseguido o deputado dizer o nome citado por Bolsonaro no encontro do dia 20 de março. E foi mesmo. Mas ela recebeu o passe de presente do senador Alessandro Vieira (Cidadania/SE).

Alessandro Vieira, que havia feito as perguntas antes de Simone Tebet disse ao depoente Luís Miranda:

O Sr. assumiu o compromisso, e agora aqui, diante do Brasil, não tem a coragem e falar o nome. Eu falo: deputado federal Ricardo Barros. Será ouvido se a CPI assim o entender”.

Luís Miranda o interrompeu:

O Sr. Acha que eu já não tive coragem demais de estar aqui senador? O sr. Acha que eu e meu irmão aqui, nos expondo da forma que estamos nos expondo...

Seu irmão, sim. O seu irmão, que é um servidor público concursado, cumpriu a missão dele. O senhor faltou com a sua missão”.

Foi a vez então da senadora, Simone Tebet. Ao final de suas perguntas aos dois irmãos, ela disse:

Nós já temos indícios. Nós já temos documentos. E nós temos como rastrear. Se vossa excelência tiver a coragem de dizer o nome, eu posso garantir, não se preocupe com o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, que nenhum deputado vai ter coragem de se insurgir contra Vossa Excelência, contra a opinião pública, contra a massa de brasileiros que saber a verdade, buscar a verdade dos fatos. Pode falar o nome do deputado, porque nós já sabemos...”

A sra. Sabe que seu eu fizer isso...”

Vossa Excelência não irá pro Conselho de Ética...

Eu vou ser perseguido. Já perdi a minha relatoria da reforma tributária que foi uma promessa do presidente Arthur Lira pra mim, já perdi todos os espaços, já perdi tudo o que eu tenho, já acabaram com a minha política, que mais vocês querem que eu faça?

Bom, deputado, vossa excelência só confirma que sabe e não quer dizer, eu respeito como parlamentar, eu entendo a posição de vossa excelência. Mas Vossa Excelência só confirma que sabe qual é o nome do deputado e nós vamos buscar...

A senadora já se preparava para encerrar seus questionamentos, quando o deputado Luís Miranda, quase num sussurro, disse:

A Sra. Também sabe que é o Ricardo Barros que o presidente falou”.

A senadora nem percebeu que o depoente havia dito o nome tão esperado, e continuou seu raciocínio.

... Vamos buscar a verdade a favor do país”.

Ao revelar o nome de Ricardo Barros, o deputado Luís Miranda caiu em prantos. Sabia da gravidade do que tinha dito e das pressões e ameaças que poderia sofrer.

Luís Miranda era um deputado da base governista. Fazia passeios de moto com Bolsonaro, e frequentava o Palácio da Alvorada. Como ele próprio afirmou em depoimento, acreditava que Bolsonaro fosse fazer alguma coisa para melhorar o país, como por exemplo, não tolerar casos de corrupção. Foi mais um dos tantos milhões de eleitores de Bolsonaro que foi vítima de um estelionato eleitoral.

Ricardo Barros é líder do governo na Câmara, e um dos homens mais influentes do governo Bolsonaro.

Apesar de todas essas irregularidades, o contrato para aquisição das vacinas Covaxin estava mantido. Apenas na data de hoje, 29 de junho, depois da repercussão deste escândalo, o ministério da Saúde decidiu suspender o contrato para a aquisição de 20 de milhões do imunizante indiano. A medida foi um pedido feito pela Controladoria Geral da União.

Eis que no dia de hoje, 29, surge outro indício de corrupção no ministério da Saúde. A Folha de São Paulo trouxe uma matéria que bota mais lenha nessa fogueira.

Em entrevista ao jornal o representante de uma vendedora de vacinas afirma que recebeu pedido de propina de US$ 1 por dose para fechar contrato com o ministério da Saúde.

A reportagem diz que o nome desse representante é Luiz Paulo Dominguetti Pereira, e que ele se apresenta como representante da empresa Davati Medical Supply. Quem cobrou a propina, segundo o representante, foi o diretor de Logística do ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias. O fato aconteceu em um restaurante de Brasília, em 25 de fevereiro.

O representante disse que ouviu de Roberto que, para trabalhar com o ministério da Saúde, tinha que compor com o grupo, ou seja, entra no esquema criminoso que operava dentro do MS, e que a vacina teria que ter um preço diferente do que ele estava ofertando. Que ele tinha que acrescentar um dólar a mais no valor de cada imunizante.

O representante disse também à Folha que, depois daquele encontro no restaurante, houve outra reunião dentro do ministério da Saúde, e que a mesma proposta foi feita a ele. Na ocasião além dele mesmo e de Roberto Dias, estava presente também o secretário-executivo na ocasião, Élcio Franco.

O representante não aceitou a proposta. Então Roberto Dias e Élcio Franco ficaram de entrar em contato com a Davati para fazer a comprar e nunca mais entraram em contato. A empresa tentou entrar em contato com o ministério da Saúde novamente, mas não teve sua proposta aceita. “Ninguém queira vacina”, disse o representante da Davati Medical Supply  à Folha.

Naquele dia 25, dia em que o representante da Davati encontrou Roberto Dias no restaurante, o Brasil atingia a triste marca de 250 mil mortes por Covid-19.

Segundo a Folha, Roberto Dias foi indicado pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), e sua nomeação ocorreu em 08 de janeiro de 2019, quando o ministro da Saúde era Luiz Henrique Mandetta (DEM). O deputado federal nega ter indicado Roberto Dias.

É isso, caros leitores e leitoras. A cada dia vemos cada vez mais cair as máscaras de um governo que se dizia honesto. E olhem que a CPI apenas atravessou a soleira dessa nova segunda fase de investigações. Imaginem então o que ainda pode sair disso.


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500 mil mortes pela Covid... E uma tristeza enorme

Posted by Cottidianos on 23:28

 Domingo, 20 de junho

 



E por falar em saudade 

Onde anda você?

Onde anda os seus olhos

Que a gente não vê

Onde anda esse corpo?

Que me deixou morto

De tanto prazer

E por falar em beleza

Onde anda a canção?

Que se ouvia na noite

Dos bares de então

Onde a gente ficava

Onde a gente se amava

Em total solidão

(Onde Anda Você – Vinícius de Moraes /Toquinho)





 500.000.

Infelizmente não apenas chegamos, como também ultrapassamos a triste marca de 500 mil mortes por Covid-19.

E assim caminhamos para a liderança no número de mortes pela doença no mundo que, atualmente é exercida pelos Estados Unidos. Naquele país já são 601 mil vítimas.

Ocorre que os Estados Unidos estão muito bem na campanha de vacinação de seus concidadãos. Tão bem que até estão doando vacinas para outros países do globo que não dispõem de tanto dinheiro assim para a aquisição das vacinas para imunizar toda a sua população em período desejável.

No Brasil, ao contrário, além de não termos entrado na guerra contra o vírus com a arma certa, a vacina, temos até agora, apenas 11,45% da população vacinada com as duas doses exigidas dos imunizantes que circulam por aqui.

Tivemos também o azar de ter no comando de um dos piores momentos da história do país um homem sádico e egoísta que, ao invés de se unir à ciência para combater o vírus, desdenhou tanto da pandemia quanto da ciência.

De tudo ele já falou um pouco. Disse que o vírus era apenas uma “gripezinha”, que a imprensa estava superdimensionando a doença, que a sociedade estava fazendo uma “histeria” em relação ao assunto. Ele também disse: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.

O presidente também desdenhou daqueles que procuravam seguir os conselhos da OMS, dizendo que vivíamos em um país de “maricas” por causa das pessoas ficavam em casa durante o lockdown. Deu risada e fez festa, enquanto o país chorava seus mortos. Agora, no momento presente, enquanto vários políticos, entidades sociais, e outros diversos setores da sociedade divulgaram nota de pesar por essa quantidade imensa de brasileiros mortos, o presidente preferiu silenciar.

No dia em que o Brasil atingiu a triste marca, ao invés de uma nota de pesar e de solidariedade ao povo brasileiro, o presidente divulgou um vídeo em que elogia o trabalho dos policiais que trabalham na captura do maníaco Lázaro Barbosa, que há mais de 10 dias está sendo intensamente procurado.

O bandido movimenta em grande efetivo de força policial na sua captura. Quase 300 policiais estão envolvidos na busca dele. Eles também usam helicópteros e cães farejadores. Como Lázaro está numa área de fazendas e chácaras, em Cocalzinho, distante cerca de 131 km de Goiânia, Goiás, é fácil para ele se disfarçar entre as árvores, como um camaleão. Enfim, no dia em que o Brasil atinge a marca de meio milhão de mortos pela Covid, o presidente faz elogios aos policiais que atuam nessa operação, e silencia sobre os números da pandemia no Brasil.

Se fosse apenas esse sentimento glacial do presidente, ainda assim seria assustador. Mas os depoimentos da CPI têm mostrado — ainda que as testemunhas ligadas ao governo que já prestaram depoimento tenham mentido mais que Pinóquio — que houve uma intenção de deixar que as pessoas se contaminassem com o vírus.

O plano macabro consistia em pôr em prática no país a tal da imunidade de rebanho, também conhecida como imunidade coletiva. A prática consiste em em fazer com que a população adquira imunidade ao vírus, seja pela vacinação, ou por infecção natural, ou seja, deixar que a população se contamine propositalmente.

Entre as duas opções: a vacinação e a imunidade de rebanho, Bolsonaro resolveu seguir o caminho obscuro e perigoso da imunidade de rebanho. O resultado? Uma tragédia brasileira. O coronavírus, como se sabe, é um vírus totalmente desconhecido. E que consegue rapidamente se reinventar, originado várias mutações.

Dessa raiz equivocada brotaram outras decisões também equivocadas. Os caminhos apontados pela CPI mostram que foi criado, dentro do governo e com aprovação deste, um gabinete paralelo ao ministério da Saúde, que orientava o governo a defender o uso do  kit covid, conjunto de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid.

Era preciso tudo parecer natural, então o presidente estimulava as aglomerações, causando, ele próprio, essas aglomerações, e criticar as medidas de isolamento social, e o uso de máscaras. Era preciso deixar a população brasileira à mercê do vírus. É como se um líder guiasse seu povo para o precipício.

O governo conseguiu ser ainda mais cruel. Enquanto o mundo corria atrás de vacinas, o governo do presidente, Jair Bolsonaro, as esnobava. Foram dezenas de vezes que as farmacêuticas procuraram o governo para oferecer as vacinas. Praticamente imploraram para que o governo as adquirisse, e muitas vezes, até baixaram os preços. Mas nem assim o governo se convenceu da importância dos imunizantes.

Só foi adquiri-las quando o governo de São Paulo, João Dória, arregaçou as mangas e foi buscar, na China, a Coronovac. E quando as críticas pela falta de vacinas no Brasil ficaram mais fortes.

Fica fácil deduzir que o tal do gabinete das sombras era mais forte que o órgão máximo da saúde no país, o ministério da Saúde, quando percebemos que nenhum dos quatro ministros da Saúde durante a pandemia número absurdo de ocupantes do cargo, visto que estamos em meio a uma situação sanitária gravíssima no Brasil e no mundo — teve autonomia para realizar o trabalho.

Como sabemos o primeiro-ministro a ocupar o cargo, Luiz Henrique Mandetta, deixou o cargo por discordâncias com o governo. O seguinte, Nelson Teich, também fez a mesma coisa. Pazuello, como sabemos, dizendo de um modo bem popularesco, era um “pau mandado” de Bolsonaro. Fazia todas as vontades do chefe. Tanto é que a primeira coisa que fez foi algo que Mandetta e Teich haviam se recusado a fazer: mudar o protocolo de cloroquina e autorizar o medicamento para casos leves de Covid-19.

Pazuello saiu por pressão, principalmente, depois na crise de oxigênio em Manaus, Amazonas. Entrou, Marcelo Queiroga. Queiroga também não tem autonomia para desenvolver seu trabalho. Uma prova de que o gabinete paralelo ainda é muito forte, e que, num assunto tão sério que é a questão da saúde da população brasileira, e principalmente em meio a pandemia, o mais importante para o governo, não é a especialidade do profissional que ocupa um cargo no ministério da Saúde — digo ministério da Saúde, porque estamos falando aqui de saúde, mas isso parece ser uma regra geral em todos os ministérios e níveis de governo — é seu posicionamento político, e não o quão preparado ele seja. Precisa apenas concordar com o que o governo quer. Ao contrário, se o profissional for totalmente despreparado para assumir a função, mas se ele for afinado com as ideias tortas do Bolsonaro, então ele já se capacitou para o cargo.

E aí chegamos a um ponto interessante. A CPI foi formada para investigar os atos e responsabilidades do governo federal na pandemia. E está ficando claro que o governo não teve responsabilidade nenhuma na pandemia. Ao contrário, o governo agiu com enorme irresponsabilidade.

Então, depois que tiveram início os trabalhos da pandemia, parece que Bolsonaro resolveu cometer os crimes de forma explicita. Foram várias as vezes nos últimos dias que ele voltou a carga na defesa de cloroquina, contra o distanciamento social, o uso de máscaras, e até a favor da imunidade de rebanho. E fez isso em lives, discursos em palanques, igrejas evangélicas, entrevistas.

Incrivelmente, depois de todos os relatos da ciência, depois de todas as mortes e sofrimento que a doença provocou no país, na quinta-feira passada, 17, em um live, Bolsonaro produziu prova contra si mesmo. Ele disse: “Todos que já contraíram o vírus estão vacinados. Até de forma mais eficaz que a própria vacina, porque você pegou o vírus para valer. Então, quem pegou o vírus, não se discute, está imunizado”.

Aproveitou a ocasião também para zombar da Coronavac, vacina que foi a nossa tábua de salvação, sem ela o Brasil não teria começado a vacinar em meados de janeiro, e olhem que já começamos atrasados em relação a outros países que saíram na frente. Consequentemente, se não fosse o esforço do governo de São Paulo, em trazer o imunizante para o Brasil, o número de brasileiros mortos pela doença poderia ser bem maior.

Por tudo isso, mesmo estando em uma situação ainda grave em relação à pandemia, o povo voltou às ruas do Brasil neste sábado, 21. E, porque sentiram a responsabilidade na questão das medidas sanitárias, como uso de máscara, com que foi realizado o protesto contra o governo no dia 29 de maio, os protestos deste sábado tiveram maior adesão que o anterior.

O bom disso tudo, é que desta vez, não houve incidentes graves em nenhum lugar do país. Ao contrário do protesto anterior no qual a polícia de Pernambuco agiu com truculência contra manifestantes que protestavam pacificamente.

Se considerarmos que muita gente não vai às ruas por medo do coronavírus, então nos aproximaremos do tamanho do número de brasileiros insatisfeitos com o governo de Jair Bolsonaro.

Semana que passou, Nova York realizou uma queima de fogos de artifícios. Foi lindo ver, ainda que de longe, pelas ondas da TV ou da Internet, os fogos coloridos explodindo, brilhando e fazendo desenhos nos céus nova iorquinos. Explodindo de alegria também estava mesmo era o coração dos nova iorquinos. Não. Não era uma antecipação do Ano Novo. Era, sim, a comemoração de uma vida nova, de uma vitória. Era o anúncio do fim das restrições contra a Covid-19. A medida foi anunciada pelo governador Andrew Cuomo depois que o estado atingiu a marca de 70% de vacinados.

E assim, veremos, gradativamente, essas cenas ocorrerem em outros países mais adiantados na vacinação de seus concidadãos.

Enquanto no Brasil, isso ainda vai demorar a acontecer. Talvez, no final do ano, consigamos atingir um total de 70% de brasileiras e brasileiros vacinados.

A diferença entre os países que comemorarão a vitória sobre o vírus antes de nós, é que eles não navegaram no mar da mediocridade em busca de cloroquina, ivermectina, e semelhantes. Eles correram atrás de vacinas. Outra diferença é que eles não têm líderes sádicos, frios e insensíveis. Os Estados Unidos até tiveram, mas se livraram dele, e a luz voltou a brilhar por lá.


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Jair Bolsonaro: Um grande aliado do coronavírus

Posted by Cottidianos on 23:58

 Quarta-feira, 02 de junho

E aqui estamos, mais uma vez. Com saúde. Espero que os caros leitores e leitoras também. Saúde sempre foi um bem precioso e, em tempos de Covid-19, mais ainda.

Como começamos a semana política que passou?

Ela começou logo no domingo, 23, com o escandaloso passeio de moto do presidente Jair Bolsonaro pelas ruas do Rio. Em plena pandemia, lá estava o presidente e seus seguidores, a grande maioria sem máscaras, passeando de moto pelas ruas do Rio. Bolsonaro parece odiar as máscaras. Na verdade, o presidente odeia qualquer coisa e qualquer medida que proteja as pessoas contra a transmissão do vírus.

Como de praxe, estavam por lá os intervencionistas com suas faixas anticonstitucionais pedindo intervenção militar.

Cerca de 10 a 15 mil pessoas estavam presentes ao ato político. Durante o trajeto dos motociclistas também foi possível ouvir panelaços e gritos de “Fora Bolsonaro”, de não simpatizantes do presidente.

O passeio em si já deu o que falar, afinal num momento em que a variante indiana chega ao Brasil, e surgem novas cepas do vírus, uma aglomeração que dispensa o uso de máscaras é algo perigoso, ainda mais numa cidade como o Rio de Janeiro que, como outras capitais brasileiras ainda sofrem com a Covid-19.

A participação do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello no ato veio colocar ainda mais pimenta nesse molho que já estava quente. Ao final do ato, o ex-ministro ainda subiu no carro de som, juntamente com o presidente e outros integrantes do governo, e até fez discurso. A “inimiga”, a “vilã”, a protetora máscara parecia ser proibida pelo presidente para os que estavam em cima do carro de som. Também Pazuello não a usava. Logo ele, que durante a semana anterior estivera depondo na CPI e afirmara que era a favor do uso do instrumento. Das duas uma: ou Pazuello estava brincando consigo mesmo, ou estava brincando com os brasileiros, e com os senadores da CPI que o entrevistaram.

Pelas regras de conduta do Exército brasileiro, que Bolsonaro insiste em chamar de “meu Exército”, um general da ativa não pode participar de atos políticos. E Pazuello é um general da ativa. Aí gera-se mais um impasse: os generais do alto comando do Exército, um colegiado formado por 15 generais quatro estrelas, querem fazer cumprir a regra e punir Pazuello.

Porém, o presidente, Jair Bolsonaro, não quer que o ex-ministro seja punido pela sua participação no ato político de domingo. A situação se apresenta como uma encruzilhada pelos militares: se não punirem Pazuello, podem estimular a participação de militares em atos políticos, o que descaracterizaria as armadas que devem apartidárias. E se punirem o ex-ministro podem gerar uma crise com o presidente, que pode inclusive contestar a punição, o que engrossaria ainda mais o caldo.

Na quinta-feira, 27, Pazuello apresentou a defesa dele junto aos generais do Exército, no processo disciplinar que apura sua participação no ato político realizado no Rio de Janeiro, e apresentou argumentos bem frágeis.

Disse ele que o ato não era político, que era apenas um passeio de moto, e que, pelo fato de o presidente estar sem partido, sua participação no passeio do moto que terminou em comício, não caracterizava o evento como ato político. Mais uma vez Pazuello subestima a inteligência dos militares e dos brasileiros que tem visto o presidente em campanha constante pela reeleição. O presidente está inaugurando até ponte de 20 metros. Foi nesse evento, dessa grande inauguração da ponte, em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, que Bolsonaro pediu ao comandante do Exército, Paulo Sérgio, que não punisse Pazuello.

Como uma forma de pressionar o alto comando do Exército a não punir Pazuello, Bolsonaro o nomeou para o cargo de Secretário de Estudos Estratégicos do Palácio do Planalto. A nomeação foi publicada no Diário Oficial da União, na terça-feira, 1o . E agora, aguardemos o que farão o alto comando do Exército em relação ao general Eduardo Pazuello.

E como terminou a semana?

A semana terminou como começou: com aglomerações e com atos políticos.

No sábado, 29, os partidos de esquerda e centrais sindicais organizaram protestos em várias cidades brasileiras contra o presidente Jair Bolsonaro, e pedindo vacinação em massa dos brasileiros. Em todos os estados da federação milhares de brasileiros foram às ruas em protesto contra a alta dos preços, à maneira como o presidente vem como conduzindo a pandemia desde o início, e pela aceleração da vacinação no país, e aumento no valor do auxílio emergencial. Pelo menos, nas manifestações de sábado a orientação era para que os manifestantes usassem as máscaras. Orientação que foi seguida pelos participantes.

Sem dúvida que é uma grande irresponsabilidade de ambos os lados: pró e contra Bolsonaro. O Brasil ainda está longe de se encontrar em uma situação estável em relação a Covid-19. Várias cidades brasileiras ainda estão UTI’s lotadas de pacientes com Covid. O Brasil contabiliza, até agora, 467.702 mortos pela Covid e 16.717.687 casos confirmados. A vacinação está em andamento, mais ainda estamos longe do ideal de pessoas vacinadas para que se tenha uma contenção do vírus pela vacina.

Essas manifestações contra Bolsonaro, são inaceitáveis, não quanto ao seu objeto, mas quanto ao momento em que são realizadas. Entretanto são compreensíveis. Foi o caso também da morte de George Floyd, nos Estados Unidos. O país atravessava maus momentos provocados pela Covid-19, mesmo assim, a situação de injustiça levou milhares de americanos às ruas.

Há tempos os manifestantes pró governo vem fazendo manifestações, provocando aglomerações, mesmo durante a pandemia, foram as várias manifestações promovidas por eles defendendo, muitas vezes, pautas não republicanas, como o fechamento do Congresso, do STF, e defendendo o uso da cloroquina, medicamento sem comprovação científica no combate à Covid-19. Essas manifestações foram estimuladas pelo presidente e, muitas delas tiveram a participação direta dele.

Todas as manifestações de sábado passado transcorreram dentro da normalidade. Exceto a do Recife. Lá os policiais agiram de forma truculenta e desumana contra os manifestantes. A manifestação decorria de forma pacífica e os manifestantes já chegavam ao local de dispersão. Foi então que se deu a barbárie. A PM partiu para cima dos manifestantes atirando bombas de gás lacrimogênio e atirando com balas de borracha.

Eles jogaram spray de pimenta no rosto da vereadora Liana Cirne, do PT, outras pessoas também foram agredidas, inclusive um advogado que tentava conversar com os policiais. Porém, os casos mais graves da agressão se deram com cidadãos que nem estavam participando da manifestação. Daniel Campelo da Silva, 51 anos, e Jonas Correia de França, 29, foram atingidos no rosto pelas balas de borracha disparadas pelos policiais. Os dois homens perderam a visão em um dos olhos.

Na terça-feira, 01, o governo do estado de Pernambuco anunciou a exoneração do comandante da PM, o coronel Vanildo Maranhão. O governador anunciou ainda o afastamento de mais dois oficiais, além de cinco que já haviam sido punidos no dia da operação.

O governador só não esclareceu o motivo de a PM ter agido com tanta truculência em um protesto que seguiria pacifico do início ao fim, não fosse a brutalidade dos policiais. Entretanto a resposta para esta pergunta está implícita na própria violência dos policiais contra os manifestantes, uma vez que não se ouviu falar de nenhum ato de violência contra manifestantes em Pernambuco quando a manifestações foram favoráveis ao presidente.

O ato dos policiais, apesar de ter sido um ato isolado, acende um sinal de alerta para o comportamento dos policiais da base nas eleições do ano, e para outros protestos contra o presidente, que, mais cedo ou mais tarde, ocorrerão.

Para completar, a CPI tem desenhado um retrato de tudo o que aconteceu nos bastidores do governo em relação a pandemia da Covid-19, como por exemplo a assessoria paralela de saúde que havia dentro do governo fazendo com que este fechasse os olhos e os ouvidos às orientações da ciência, bem como a intencionalidade da não compra de vacinas.

Nesta terça-feira, 01, foi ouvida a médica Nise Yamaguchi, que é defensora de medicamentos ineficazes contra a Covid-19, como a cloroquina. O depoimento da médica foi marcado por muitas contradições e falta de evidência científica para o que afirmava. Nise Yamaguchi passou quase oito horas falando à CPI, defendendo o tratamento precoce, entretanto não apresentou nenhum dado científico relevante que comprovasse que ele é realmente eficaz contra a Covid.

Á revista Época, o presidente da CPI, o senador Omar Aziz, disse que o depoimento da médica foi um engodo: “A pessoa passou oito horas aí e não conseguiu apresentar uma publicação científica sobre cloroquina”, disse Aziz em entrevista coletiva após a sessão. “Geralmente, quem conhece a matéria e a estuda tem isso na cabeça. E, sabendo que ia fazer depoimento, a coisa mais natural seria uma pergunta simples: ‘Quais são os estudos publicados sobre cloroquina e onde deu certo?’ Ela teria que saber de cor e salteado uma resposta dessa. Nada disso aconteceu. Foi um baita engodo que se passou para a população”.

Em certo momento do depoimento, a médica insistia que o tratamento precoce era capaz de salvar vidas, e por isso a vacinação de toda a população não seria necessária. Nesse momento o presidente da CPI, Aziz perdeu a paciência com ela, e disse: “Não escutem o que ela está dizendo. Todos os brasileiros precisam de duas vacinas. […] Quem está nos vendo neste momento não acreditem nela, tem que vacinar. A vacina salva, tratamento precoce não salva”.

Alguns senadores chegaram a defender que ela fosse convocada na condição de testemunha e não de convidada, como era o caso. Como testemunha a depoente era obrigada a dizer a verdade, e poderia ser responsabilizada, caso desse declarações falsas.

Entretanto, mesmo negando, a médica confirmou que existia no governo uma equipe de orientação paralela ao ministério da Saúde.

Em seu depoimento, o diretor da Anvisa, Antônio Barra Torres, afirmou que houve, no Palácio do Planalto, uma reunião para mudar a bula da cloroquina, e que a dra. Nise Yamaguschi era uma entusiasta defensora da proposta. Ela confirmou que estava na reunião, mas negou ter sugerido ao governo que mudasse a bula do remédio.

Gabinete Paralelo. Esse foi um dos principais motivos que levaram a médica a sentar no banco da CPI. Ela negou ter feito parte desse gabinete, mas disse que prestava consultorias ao presidente eventualmente. Ela disse ter se encontrado com o presidente em abril do ano passado, para tratar da cloroquina como tratamento para a Covid-19, e que se comprometeria a conversar com Conselho Federal de Medicina para que validasse a prescrição do medicamento para tratar doentes de Covid-19.

Mais tarde, quando questionada pelo senador Randolf Rodrigues (Rede-AP), ela admitiu ter cogitado, junto com o empresário Carlos Wizard, formar um conselho científico voluntario, com médicos também voluntários, que atuassem de forma independente, sem vínculo com o ministério da Saúde. “A gente discutiu essa formação desse conselho científico independente sem ter vínculo com o Ministério da Saúde, sem vínculo oficial”.

O depoimento de Nise Yamaguchi teve outro ponto fundamental que foi a entrega à CPI de uma minuta de um decreto que havia sido discutido pelo governo, muito provavelmente, como esse gabinete paralelo, que permitia o uso de cloroquina em toda a rede pública de saúde, e também o uso de outras substâncias sem comprovação científica contra a Covid-19.

Sobre o documento, Nise, conversando com outro médico diz: “Oi Luciano este decreto não pode ser feito assim, porque não é assim que regulamenta a pesquisa clínica. Tem normas próprias. Exporia muito o Presidente”.

Nesta quarta-feira, 02, foi a vez da médica infectologista, Luana Araújo depor na CPI da Covid. Mais de um ano depois do início da pandemia, o governo criou a Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19. A criação do órgão foi publicada no Diário Oficial da União do dia 10 de março. Para comandar a recém-criada secretária foi convidada a médica Luana Araújo. Ela já havia se posicionado em ocasiões anteriores contra o tratamento precoce contra a Covid-19. É uma profissional da saúde que preza a ciência e não dá ouvidos a tratamentos sem eficácia comprovada contra a Covid.

Ela chegou a trabalhar durante dez dias no cargo. Terminado esse período foi informada pelo ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, de que não seria nomeada para o cargo. E foi esse, justamente, o motivo que a levou a CPI. Na ocasião da rejeição do nome dela para ocupar a secretaria, Marcelo Queiroga disse que ela era uma pessoa qualificada para a função e que tinha conhecimento técnico para ocupar qualquer cargo público, mas que, como vivemos em um regime presidencialista, era preciso, além das qualidades profissionais dela, uma “validação política”.

No depoimento desta quarta-feira, a médica disse aos senadores que Marcelo Queiroga chegou para ela e falou que seu nome não tinha sido aprovado, e que ele lhe disse isso muito pesaroso. “Não sei se foi uma instância superior. O que eu posso dizer é que não me parece ter sido dele, não teria lógica. Isso ficou claro para mim”.

O presidente da CPI, Omar Aziz, criticou a decisão do governo de recusar a nomeação de uma pessoa tão qualificada. “É inacreditável como a senhora, tendo mestrado e se formado numa das melhores universidades do mundo na área de saúde, seja vetada pelo governo”.

Quando perguntada sobre a tão propagada cloroquina pelos bolsonaristas, a médica foi enfática em afirmar que jamais houvera evidências científicas de que o tratamento seja eficaz contra a Covid-19, e que todas as evidências científicas mostraram justamente o contrário. “Tanto que esse uso é reprovado por todas as agências regulatórias ou sociedades científicas reconhecidamente independentes e produtivas do mundo inteiro”.

Sobre esse assunto a médica também disse: “Essa é uma discussão delirante, esdrúxula, anacrônica e contraproducente. (...) "Todos nós somos a favor de uma terapia precoce que exista. Mas se ela não existe, não pode ser tornada saúde pública. Tratamento precoce é estupidez.  É como se a gente estivesse escolhendo de que lado da borda da terra plana a gente vai pular”.

Enfim, mais uma profissional brilhante que foi dispensada pelo governo por não aceitar rasgar o seu diploma e correr atrás de quimeras. Uma médica que poderia ter dado uma grande contribuição para o ministério da Saúde e para o Brasil.

Mas a chave para entendermos com clareza o motivo da recusa do governo em nomear Luana Araújo está na fala do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, quando comentou a saída dela da secretaria. Ele disse que era preciso uma validação política. Ou seja, na escolha de quem deve cuidar da saúde dos brasileiros, o mais importante não é conhecimento que o profissional possa ter. Pelo contrário, e Pazuello é prova disso, o profissional pode não entender nada de saúde, mas se rezar a cartilha do governo, então serve no esquema.

Diante de tudo isso que ouvimos até agora na CPI fica claro aquilo que já sabíamos: o ministro da Saúde nunca foi Mandetta, nunca foi Teich, nunca foi Pazuello, nunca foi Queiroga. O ministro da Saúde tem apenas um nome: Jair Bolsonaro. Quem sentar na cadeira de ministro da Saúde será sempre um fantoche que, se estiver disposto a fazer às vontades do governo, bem, continua no cargo, se não concorda com as ideias retrógadas dele, então é melhor dar lugar para outro.

Bolsonaro costuma dizer que a eleição para presidente, em 2018, eleição que ele mesmo venceu, foi fraudada. Eu chego a acreditar mesmo que foi sim. Pois não é possível que uma pessoa desqualificada como ele tenha chegado à presidência da República. Bolsonaro é a própria fraude.

Em meio à crise grave de saúde provocada pelo coronavírus que ainda está em patamar bem alto, e com apenas cerca de 10% da população brasileira tendo sido vacinada, eis que, na segunda-feira, 31, os brasileiros são surpreendidos com o anúncio de que a Copa América de Futebol de 2021 terá como sede o Brasil.

Inicialmente edição do torneio deste ano foi pensada para ter como cenários os campos de futebol da Colômbia e da Argentina. Entretanto, na quinta-feira, 20 de maio, a Colômbia anunciou a desistência de sediar a competição por causa de protestos contra o governo que ainda ocorrem por lá.

Saindo de cena a Colômbia, o torneio passou a ter como única sede a Argentina. E aí houve outro problema: os casos de Covid-19 começaram a se agravar no país, e a Argentina também decidiu desistir de sediar o torneio.

A Conmebol ficou então com a batata assando na mão. Era preciso jogar essa batata no colo de alguém. E jogo no colo de quem? Do Brasil, senhoras e senhores. País intensamente castigado pela Covid-19, e que ainda ostenta números elevados de casos e de mortes, e vive sob a ameaça de novas variantes.

O presidente Jair Bolsonaro levou meses e meses até resolver comprar as vacinas, mas para dar a resposta a Conmebol dando o aval para o país sediar o evento foi num piscar de olhos. As datas de início e termino do torneio estão marcadas para 13 de junho e 10 de julho.

As cidades já confirmadas para receber o torneio são: Brasília, Cuiabá, Goiânia, e Rio de Janeiro. A princípio os jogos serão realizados com os portões fechados.

Brasil país do improvável e de um presidente pra lá de irresponsável. Com a situação da Covid-19 no Brasil ainda fora de controle, e com a família de variantes do coronavírus circulando por aí, inclusive a indiana, o Brasil receberá delegações de dez países, em cada uma delas haverá, pelo menos, 65 pessoas. Há apenas 12 dias do início da competição, a Conmebol vacinou, até agora, 5 seleções a árbitros.

Especialistas ouvidos pelo portal G1 são unânimes em afirmar que ainda não é hora de o Brasil sediar um evento como esse, pois nas viagens e deslocamentos dentro do país dessas delegações estão envolvidos os riscos de importarmos novas variantes, além da circulação normal do vírus.

Pedro Hallal, epidemiologista da Universidade Federal de Pelotas, disse ao G1: “Eu achei uma decisão muito temerária. Tem outros países aqui da América do Sul que estão com a vacinação muito mais avançada e com a pandemia muito mais controlada – o Chile, óbvio, que é o exemplo mais fácil de dar. Então, fica estranho de entender de onde que vem essa decisão”.

E, em sua rede social no Twitter, o epidemiologista escreveu, chamando a atenção ainda para a chegada da terceira onda da pandemia no país. “A Copa América no Brasil é um deboche e um desrespeito com as 460 mil famílias em luto no país. A decisão foi tomada exatamente no momento em que a terceira onda se inicia. Como fã de futebol, lamento que o esporte esteja cada vez mais se afastando do povo”.

E assim, de insensatez em insensatez, vamos caminhando.


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