0

Fogo amigo no PSL

Posted by Cottidianos on 00:58
Sábado, 19 de outubro
Deputado delegado Waldir, líder do PSL na Câmara

Eu vou implodir o presidente. Aí eu mostro a gravação dele, eu tenho a gravação. Não tem conversa, não tem conversa. Eu implodo o presidente. [trecho inaudível] Acabou, acabou. Acabou, cara. Eu sou o cara mais fiel a esse vagabundo. Eu votei nessa porra, eu andei no sol 246 cidades, no sol, gritando o nome desse vagabundo”.
A fala acima é do deputado delegado Waldir, e foi extraída de um áudio que circulou nesta quinta-feira (17), e foi gravado em uma reunião do PSL. O deputado é líder do governo na Câmara dos Deputados. O vagabundo a quem o deputado se refere é o presidente da República, Jair Bolsonaro.
O nível das expressões usadas pelo deputado é bem rasteiro, assim como é rasteira essa briga que, há mais de uma semana, tem dominado o cenário político nacional, expondo uma enorme divergência entre o presidente e o partido ao qual ele pertence, o PSL. Mais tarde, de cabeça mais fria, o deputado mudou de ideia. Não implodiu o presidente, talvez tenha guardado a carta na manga para usar no momento… ou não a usar em momento nenhum. Tudo depende de como as peças se movem pelo tabuleiro.
À revista Crusoé, fontes ligadas ao PSL, revelaram que as informações que o deputado delegado Waldir dispõe referem-se ao senador Flavio Bolsonaro e os esquemas que envolvem a prática de rachadinha na Assembleia Legislativa no Rio de Janeiro.
Na noite de quarta-feira (16), o clima em uma reunião entre deputados do PSL, já anunciava o clímax que se desenrolaria na quinta-feira. Na referida reunião, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara (CCJ), Felipe Francischini, também reclamava do presidente Jair Bolsonaro: “Ele que começou a fazer a putaria toda, falando que todo mundo é corrupto… Ele quer tomar a liderança do partido… A gente foi tratado que nem cachorro desde que ele ganhou a eleição. Nunca atendeu a gente em porra nenhuma. (…) Só liga na hora que precisa para foder com alguém”.

A ira do deputado delegado Waldir, expressada no diálogo que abre esse texto, foi motivada por um áudio no qual o presidente Jair Bolsonaro, articula para tirar Waldir da liderança do PSL na Câmara para colocar no lugar dele, o filho, Eduardo Bolsonaro. Em conversa com deputados do partido, ele pede que assinem uma lista para destituir o deputado e apoiem Eduardo Bolsonaro para conduzir o partido na Câmara.
Estamos com 26, falta uma assinatura para a gente tirar o líder, e colocar o outro. A gente acerta. Entrando o outro agora, dezembro tem eleições para o futuro líder. A maneira como tá, que poder tem na mão atualmente o presidente, o líder aí? O poder de indicar pessoas, de arranjar cargos no partido, promessa para fundo eleitoral por ocasião das eleições, é isso que os caras têm. Mas você sabe que o humor desses caras de uma hora para a outra muda”. Numa boa, porque é uma medida legal... Eu nunca fui favorável à lista não, sou favorável a eleição direta, mas no momento você não tem outra alternativa, só tem a lista. Aqui tem 25 (assinaturas), já falei com o (deputado General) Peternelli, vou ligar para outras pessoas. Até quem sabe que passe aí de uns números... Se fechar agora, já tem o suficiente”, diz o presidente na conversa divulgada pela revista Época, na noite de quarta-feira (16).
O áudio foi editado propositadamente por quem passou as informações à revista para que fosse impossível saber quem era o interlocutor com quem Bolsonaro falava. Eduardo Bolsonaro chegou a divulgar, ainda na noite de quarta-feira, um vídeo no qual se anunciava como novo líder do PSL na Câmara.
Ao final do embate, saiu vencedor o delegado Waldir. No início da tarde da quinta-feira, a Secretaria-Geral da Mesa da Câmara dos Deputados confirmou o nome do deputado na liderança do PSL.
Nessa queda de braço entre governo e PSL, ainda na quinta-feira, Jair Bolsonaro destitui a deputada federal Joice Hasselmann (PSL-SP) da liderança do governo na Câmara, e a substituiu pelo senador Eduardo Gomes (MDB-TO). Bolsonaro ficou irritado com Joyce depois que ela assinou a lista em apoio a permanência do delegado Waldir na liderança do PSL na Câmara. Ela estava na liderança do governo na Câmara desde fevereiro.
Joyce nem foi comunicada do ato pelo presidente ou por seu gabinete. Ela diz que esperava um pouco mais de respeito e gratidão por parte do chefe do Executivo. “Claro que não falou comigo, é o estilo Bolsonaro de ser, fiquei sabendo pela imprensa. Todos os líderes de partidos da Câmara e Senado estão me ligando, prestando solidariedade, mas meu couro é duro, nada me magoa ou me chateia. Eu já esperava isso porque não concordei com o modus operandi que aquela lista para colocar o Eduardo como líder estava sendo construída”, disse ela em entrevista à Veja. “Eu esperava um pouco mais de respeito e gratidão. Não é uma questão de lado do presidente. As pessoas que fizeram esse motim [contra Waldir] romperam a palavra empenhada para colocar o Eduardo. Eu não sou criança, tenho palavra e mantenho minha palavra. Quem não tem palavra não é digno das calças que veste. Quem não tem realmente palavra firme não se cria muito na política”, continua ela.
À Folha de São Paulo, a deputada diz, em relação a saída da liderança do governo no Congresso que ganhou uma carta de alforria e que está feliz da vida. “Passei esse tempo todo servindo ao governo de forma leal. Inclusive deixando de cuidar do meu mandato para gerir crises e apagar incêndios. Abri mão da minha família”, diz. “Em alguns momentos, tive que engolir sapo para defender coisas com que eu não concordo”, diz ela na mesma matéria da Folha.
Toda essa crise inédita na política brasileira, em que um presidente entra em rota de coalizão com o próprio partido teve início na terça-feira (8). Bolsonaro saia do Palácio da Alvorada e parou para dar atenção a alguns eleitores que o aguardavam. Um dos apoiadores do presidente gravou um vídeo junto com o presidente no qual dizia: “Eu, Bolsonaro e Bivar, juntos por um novo Recife”.
Para surpresa do fã, o presidente respondeu: “Oh, cara, não divulga isso não. O cara (Bivar) está queimado pra caramba lá. Vai queimar o meu filme também. Esquece esse cara, esquece o partido”. A declaração do presidente só veio a público porque foi gravada por outro dos apoiadores que por lá estavam de plantão e divulgada no canal do Youtube, Cafezinho com Pimenta. A fala do presidente foi como um fosforo que acende e se coloca em palha seca. Se já havia algumas rusgas acontecendo nos bastidores, elas foram potencializadas.
Essa é uma crise inédita na política brasileira. Essa de um presidente entrar em rota de coalizão com o próprio partido é coisa que só existe na corte dos Bolsonaro. Antes havia divergências entre líderes, partidos, e seus integrantes, mas elas ficavam nos bastidores, aqui e acolá, se viam alguns vestígios do fogo, mas nada muito explicito como agora.
Na verdade, o que está em jogo é uma disputa pelo dinheiro do fundo eleitoral. R$ 737 milhões. É o valor que sigla deverá receber dos cofres púbicos até 2022. E esse montante pode crescer ainda mais caso o congresso aprove aumento no fundo eleitoral.
É muito dinheiro para um partido que até o ano passado era uma gotinha d’água em meio ao oceano das grandes siglas partidárias que sempre dominaram a política brasileira.
Para o PSL sobravam apenas algumas sobras do fundo eleitoral e de alguns míseros segundos na propaganda eleitoral gratuita. Aí veio o furacão Bolsonaro e o partido que era uma formiga virou um elefante. Bolsonaro precisa de um partido para disputar a eleição e foi acolhido pelo PSL.
O partido nadou de braçada na onda Bolsonaro e elegeu 52 deputados e 4 senadores. Isso o tirou da condição de nanico e o transformou num grande partido capaz de dar as cartas no Congresso… e arrecadar quantias milionárias dos cofres públicos.
Para um partido que na eleição anterior só havia conquistado uma cadeira na Câmara, foi um salto gigantesco. Com a proximidade das eleições municipais, e com o presidente Jair Bolsonaro que não perde uma oportunidade anunciar que será candidato a reeleição, o dinheiro do fundo partidário é uma mina de ouro.
Vale destacar que, por debaixo dessa lama que temos visto escorrer no PSL há ainda um esgoto passando por baixo da rua que é o escândalo das candidaturas laranjas do PSL no qual estão envolvidos alguns membros do partido. Luciano Bivar, e o ministro do Turismo do governo de Bolsonaro, Marcelo Álvaro Antônio (MG) estão entre eles. O ministro foi indiciado no início deste mês pela Polícia Federal pelos crimes de falsidade ideológica, apropriação indébita eleitoral, que é quando o candidato se apropria dos recursos destinados ao financiamento eleitoral para proveito próprio, e associação criminosa.
O problema, ou melhor, a pulga atrás da orelha, no comportamento do presidente Jair Bolsonaro e que, em relação, as questões e as pessoas, há, para ele, dois pesos e duas medidas.
Por exemplo, no caso em questão, ele não quis que o apoiador divulgasse o vídeo por que o Bivar estava “queimada pra caramba”. E o ministro do Turismo, que até indiciado foi, e ele insiste em mantê-lo no governo? E o filho do presidente que é investigado pelo esquema na Alerj, e ele fez de tudo para abafar as investigações que a PF faz sobre o caso?
Ainda com relação ao ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, lembremos que, por muito menos, o ministro da Secretaria-Geral da presidência, foi exonerado em fevereiro deste ano, logo que surgiu a denúncia das candidaturas laranjas no PSL, através de reportagem publicada pela Folha de São Paulo.
Pelo modus operandi, já vimos, por diversas vezes, que o presidente é cruel e sádico. Para ele, não existem amigos nem aliados, existem conveniências. Se interessa proximidade com este ou aquele o presidente beija e abraça, quando não convém, ele empurra o sujeito ladeira abaixo, à exceção dos próprios filhos: a estes a honra, a glória, os afagos, e as proteções.
E aí entramos noutra questão pitoresca: pode um presidente governar em família? Funciona esta nova forma de governo instaurada pela família Bolsonaro? Como pode ser eficaz um filho que usa as redes sociais do pai para fazer posts provocativos e causadores de confusão e intriga?
Essa proteção dos pais políticos aos filhos não é novidade na política brasileira. Privilégios sempre houve. Mas Bolsonaro conseguiu inovar. Ele levou os filhos para dentro do governo… E de coisas como essa não tem notícia desde que o Brasil é Brasil República. Desse modo de agir de Bolsonaro a vida política pode cobrar um preço e ele pode ser caro.
Pelo visto, o descaso do presidente não é com seus aliados mais próximos, mas também com os apoiadores. Em 27 de setembro, em mais uma dessas saídas do presidente do Palácio da Alvorada, mais um vídeo foi divulgado, dessa vez pela própria equipe do presidente. Nele, um grupo de apoiadores estava lá, como sempre, a gritar ‘mito’ ‘mito’. Um desses apoiadores se aproximou do presidente e disse que amava o presidente, que o turismo é o futuro do brasil, e pediu ajuda para colocar o turismo no topo.
Em determinado momento pediu para tirar uma foto ao lado do presidente. O homem aproveitou o momento para fazer o pedido de ajuda mais de perto: “Turismo, Bolsonaro, me ajuda, por favor”. Logo depois, ouve-se o presidente sussurrar no ouvido do segurança: “Só pelo bafo, não vai ter emprego”.
Diante dessa confusão, e desse vai e vem de divulgação de áudios que envolveu o presidente e o seu partido, o julgamento que trata da questão da prisão em segunda instância ficou quase em segundo plano.
O julgamento foi iniciado nesta quinta-feira (17), e será retomado na quarta-feira (23) e é de suma importância para o avanço no combate a corrupção caso a maioria dos ministros seja favorável à sua concretização. Caso decidam em contrário, será um grande retrocesso nesta luta.
Porém, com alguns ministros que por lá estão e que não estão nem aí para a luta contra a corrupção, é temeroso o resultado desse julgamento. Pois ser contra a prisão em segunda instância significa ser a favor dos intermináveis recursos, pois o réu só pode ir para a cadeia depois de esgotados todos os recursos. E isso será excelente para os corruptos e poderosos, pois a prisão para eles passa a ser uma possibilidade bem remota, por mais milhões que tenham roubado da nação.
Quanto a queda de braço entre o presidente e o seu partido, esta ninguém sabe ainda como isso vai terminar, uma vez que os ânimos ainda não serenaram.




0

Irmã Dulce: Um milagre do amor

Posted by Cottidianos on 13:03
Domingo, 13 de outubro
Milagres acontecem
Quando a gente reza e reza sem desanimar
E a paz é dos milagres, o milagre mais bonito que se possa
desejar
Milhares de pessoas encontram a resposta no momento de oração
Milagres acontecem quando pomos de joelho o coração

(Milagres acontecem – Pe. Zezinho)


2001.
Cidade de Malhador. Estado Sergipe.
Claudia Santos estava feliz e eufórica. Estava grávida de seu segundo filho. Fez os preparativos para receber a nova criança que em breve chegaria. Enxoval pronto. Os exames pré-natais também. Tudo corria muito bem. A família esperava ansiosa o novo integrante.
Enfim, chegou o grande dia. A sergipana começou a sentir as dores que toda mulher sente e que antecedem o nascimento de uma criança. Foi levada então ao hospital. A equipe médica à postos recebeu a parturiente e, após os procedimentos médicos o bebê nasceu de parto normal.
Tudo correu bem até esse momento.
Logo após o parto, a mulher sofreu uma violenta hemorragia. O sangue jorrava incontrolavelmente. Ali, na mesa de cirurgia, o esforço da equipe médica não foi suficiente para fazer estancar o sangue.
Claudia foi então levada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Os médicos tentaram todos os procedimentos possíveis, mas nada do sangue estancar. Foi então transferida para a capital, Aracajú. Em apenas 18 horas ela chegou a passar por três cirurgias, mas de nada adiantou.
Então chegou o tenso momento em que a família ouviu dos médicos que nada mais havia a ser feito. Que eles se preparassem para o momento da despedida final. Todos ficaram muito tristes, como é de se esperar nesses casos.
Naquele momento de agonia, em Aracajú, Cláudia recebeu a visita do Pe. Almir, um religioso que também morava em sua cidade, Malhador. O padre fez uma oração, e depois entregou a ela uma imagem da Irmã Dulce. Um grupo de oração foi formado e também começou a pedir a Irmã Dulce pela saúde de Claudia.
Aquilo que os médicos haviam tentado fazer de todas as formas: fazer parar a sangria, ocorreu logo após o início das orações, sem nenhuma intervenção médica. Depois disso, foi uma melhora impressionante a cada dia.
O médico que a atendera por primeiro, foi chamado à casa da paciente, e recordando-se da gravidade do fato, achou que estava indo assinar o atestado de óbito dela. E qual não foi a sua surpresa ao ver a mulher totalmente recuperada do sangramento e segurando em seus braços o recém-nascido.
Esse foi o primeiro milagre atribuído a Irmã Dulce.

***

Corria o ano de 1992.
O maestro José Maurício Moreira, então com 23 anos, estava cheio de sonhos, esperanças e vontade de lutar pela realização dos seus sonhos. Porém, naquele ano, descobriu que tinha um glaucoma. Ficou apreensivo, porém os médicos lhe disseram que a doença tinha tratamento. Exames mais detalhados, entretanto, revelaram que já havia uma grande perda do nervo ótico.
Submeteu-se ao tratamento indicado pelos médicos por oito anos. Mesmo assim, em 2000, a visão foi se tornando cada vez mais turva e então veio a cegueira total. A vida seguiu sua normalidade dentro das limitações impostas pela cegueira. Já com a deficiência visual, conheceu Marize Mendonça e com ela se casou. Um dos seus maiores sonhos era poder ver o rosto da esposa.
Em 2014, Maurício foi acometido de uma conjuntivite forte que lhe trouxe dores intensas. Ele já tinha ouvido falar da primeira cura que irmã Dulce fizera em Claudia. Resolveu então pedir ajuda daquela que a tanta gente ajudara em sua passagem pela terra.
Uma noite, antes de dormir, as dores causadas pela conjuntivite tornaram-se insuportáveis. Já era madrugada e o sono não vinha. Então, com muita fé, tateando, ele pegou uma imagem de Irmã Dulce que ficava em uma cômoda, perto da cama, colocou sobre os olhos e pediu a ela que lhe curasse daquelas dores que estava sentindo. Porém, Irmã Dulce fez muito mais do que Maurício havia pedido.
Maurício herdara a devoção e a imagem de Irmã Dulce da mãe que já havia falecido.
Após fazer os pedidos ele adormeceu. Quando acordou, cerca de quatro horas depois, teve uma surpresa: conseguiu enxergar a própria mão.
Ao acordar, ele resolveu fazer uma compressa de gelo nos olhos. Como o gelo derretia, ele pegava um papel toalha para limpar o rosto. Foi numa desses movimentos que ele viu a mão se aproximar do rosto, como se tivesse saindo de uma nuvem de fumaça. A partir daí, foi questão de semanas para que a nuvem se dissipasse por completo.
A esposa tinha ido ao banco. Maurício resolveu então lhe fazer uma surpresa. Pegou o rosto dela entre as mãos e lhe disse que ela era muito linda. Marize ficou em estado de choque de tão surpresa ao ver que o esposo estava enxergando.
Quando voltou ao médico para lhe informar da nova situação, apesar de surpreso, este lhe disse que, fisicamente, de acordo com os exames, nada havia mudado. Clinicamente, ele continuava cego, uma vez que o nervo ótico continuava muito danificado. Clinicamente, Maurício ainda estava cego, mas o milagre estava ali presente e todos podiam ver.
Até hoje os médicos não conseguem uma explicação cientifica para o caso de Maurício, pois ele tem o nervo ótico danificado, e uma pessoas nessas condições não consegue enxergar. Porém, Maurício enxerga perfeitamente.
“O nervo ótico é como um cabo de eletricidade que leva as informações para o cérebro processar. O aumento da pressão ocular lesiona o nervo progressivamente até impedir a visão”, diz o oftalmologista, Rodrigo Oliveira, em entrevista ao G1.
E, assim, temos o segundo milagre atribuído a Irmã Dulce.

***
Diz trecho da letra da canção, Vida, interpretada por Fábio Júnior:

“Talvez, quem sabe por
Essa cidade passe um anjo
E, por encanto, abra suas
Asas sobre os homens
E dê vontade de se dar
Aos outros sem medida,
A qualidade de poder viver.
Vida... Vida... Vida... Vida...”

E esse anjo realmente passou na cidade de Salvador na figura piedosa e enérgica de Irmã Dulce, canonizada neste domingo (13), no Vaticano, em cerimonia celebrada pelo Papa Francisco. A primeira santa genuinamente brasileira. E o mais interessante: uma santa do nosso tempo. Muitos dos que estão vivos hoje tiveram a oportunidade de com ela ter conversado, abraçado, e provado da bondade e da sabedoria do “anjo bom da Bahia”, como era conhecida.  
Cerca de 50 mil pessoas acompanharam a cerimônia na Praça São Pedro, em frente à Basílica de mesmo nome, no Vaticano, na presença de religiosos, autoridades, e fieis.
Além de Irmã Dulce foram canonizados o teólogo britânico John Henry Newman (1801-1890), a freira italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a freira indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a catequista suíça Marguerite Bays (1876 -1926). 
Nós costumamos ter dos religiosos e religiosas, principalmente, dos santos e santas, uma imagem de uma pessoa orante e piedosa, mas, por ser Irmã Dulce uma santa do nosso tempo fica mais fácil entender as coisas como elas realmente são.
Certamente, Irmã Dulce tinha essas características de oração e piedade, mas, acima de tudo era uma mulher de ação. Dessas que não cruzam os braços diante das dificuldades, por maiores que elas possam parecer. E, se as coisas eram impossíveis, a nova santa brasileira sabia que Deus torna o impossível possível.
Para construir o império em obras de assistência social que Irmã Dulce construiu na Bahia somente sendo uma mulher, em primeiro lugar, de muita fé, depois vem as características que o fruto da fé faz nascer: força, coragem, e determinação. Aliado a tudo isso, o fermento do amor: sem ele não se entrega a uma causa ou a um projeto como a baiana se entregou.
Filha de Augusto, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, e Dulce, dona de casa, a menina Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nasceu em Salvador, aos 26 de maio de 1914. Dona Dulce deixou este mundo material muito cedo quando Maria Rita tinha apenas 7 anos.
Aos 19 anos a jovem ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, quando se tornou a Irmã Dulce. Escolheu o nome, Dulce, em homenagem a mãe.
A vocação para ajudar os mais pobres e necessitados surgiu ainda na adolescência, bem antes de entrar para o convento, quando, aos 13 anos começou a acolher em casa pessoas doentes e moradores de rua. Também foi professora de uma escola mantida pela congregação.
Além do pão material, Irmã Dulce também se preocupou com o pão da cultura. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, que recebeu grandes nomes da MPB como Roberto Carlos e Raul Seixas. Entretanto, sua grande contribuição à humanidade foi mesmo na área social.
Assim como Jesus Cristo nasceu numa humilde manjedoura, o grande projeto social iniciado pela Irmã Dulce, teve seu embrião em um galinheiro. Em 1959, ela ocupou um galinheiro que funcionava ao lado do Convento Santo Antônio, em Salvador, e montou ali uma enfermaria para cuidar dos doentes.
E, foi naquele galinheiro, que nasceu as Obras Sociais Irmã Dulce, que hoje atende uma média de 3,5 milhões de pessoas por ano, tudo isso, gratuitamente.  
Talvez, de todos os milagres que Irmã Dulce fez e dos que venha a fazer, seja o milagre do amor, o de ter ajudado a dar um pouco de alento e esperança a quem estava à margem da sociedade, pedindo um pouco de pão ou de remédio, mas até mesmo esse pouco lhes era negado.
Muitos senadores e deputados estiveram no Vaticano acompanhando a cerimonia de canonização de Irmã Dulce. O presidente Jair Bolsonaro foi representado pelo vice Hamilton Mourão. O presidente alegou conflito de agenda para não ir à cerimônia.
Que sabe esses políticos tragam na bagagem a lição e a mensagem que Irmã Dulce pregou com sua vida dedicada aos pobres e aos mais necessitados.
Quem sabe todos nós aprendamos com essa mulher corajosa, inteligente, forte, determinada, e cheia de fé, a termos força para superamos as dificuldades, e a entender que o impossível não existe quando depositamos nossa confiança naquele que tudo pode.

Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós.


0

Bruxas, cadeirões e hipocrisia

Posted by Cottidianos on 14:12

Domingo, 06 de outubro


“As pilhas de lenhas e gravetos já estavam acesas e a multidão inquieta, aguardava o início do ritual que conhecia tão bem. Afinal, execuções eram espetáculos imperdíveis, que atraiam a atenção de pessoas vindas de vários cantos. Em meio ao ruído abafado dos comentários sobre os horrores que havia cometido, surgiu enfim a condenada. A turba, que já estava agitada, aproveitou para liberar a tensão reprimida: objetos, palavras de ódio, risos e piadas partiam de todas as direções contra a terrível criatura. Não houve muitas delongas. A sentença foi lida rapidamente, o carrasco, num gesto piedoso, estrangulou a condenada para que não enfrentasse as chamas viva e, em poucos minutos, seu corpo ardia, diante da aclamação selvagem da assistência... Nuas, montadas em vassouras, aterrorizando cidades, aldeias e castelos, no imaginário popular e religioso da época, as bruxas estavam por toda parte, semeando o pavor... De 1450 a 1750, poucas pessoas ousariam contradizer essa doutrina, repetida em tom de ameaça nos púlpitos dos pregadores católicos, assim como nos sermões protestantes depois da Reforma religiosa de Martinho Lutero no século XVI...”
O trecho citado foi extraído da reportagem, Inquisição, Idade Moderna e as bruxas: as mulheres em chamas, publicada na revista Superinteressante, em 31 de janeiro de 1993.
Essas cenas repugnantes e pavorosas ocorreram por toda a Europa por mais de 300 anos e, pasmem os leitores e leitoras desse blog, essas barbaridades eram cometidas em nome da moral, da fé e dos bons costumes.
Essa caça às bruxas começa a ocorrer de forma sútil, mas já bastante perceptiva no Brasil dos dias de hoje. Se antes, era a Igreja que promovia essa caça, hoje ela é executada pelo governo de Jair Bolsonaro. Bolsonaro manda, os seus funcionários, que na verdade são funcionários do Estado, obedecem.
Talvez nunca tenha se visto um aparelhamento ideológico do Estado tão bem montado e tão bem executado. Nem a criticada esquerda, acusada, justamente, de aparelhamento ideológico do Estado, foi tão bem-sucedida em suas intenções.
Na verdade, o que se tem agora é um aparelhamento ideológico do Estado sendo praticado pela direita e isso, em qualquer dos casos não é bom. Aparelhar o Estado em qualquer dos casos é um grande erro, um grande engano, e uma grande ignorância, pois a palavra Estado tem um significado amplo da totalidade e não apenas de uma pequena parte.
Na verdade o que um governo faz ao praticar tal ignorância é destituir o Estado do seu papel de amparar e respeitar a todos, pois passa a privilegiar apenas os que pensa como ele e os grupos que o apoiaram durante a campanha eleitoral, deixando de lado aqueles que pensam diferente e tem uma visão de mundo e que não se situam naquela atitude sectária. É o tal do “Venha a nós e o vosso reino, nada”.
Um artigo publicado pelo jornal Folha de São Paulo, neste domingo (06) intitulado, Caixa às bruxas, chama a atenção para essa questão. Na verdade, o artigo faz referência a reportagem publicada pelo próprio jornal no último dia 04 de outubro na qual mostra o sistema de censura que está sendo implantada na Caixa Econômica Federal em relação a projetos artísticos e culturais a serem apresentados em seus espaços físicos em todo o país.
Novas regras implementadas neste ano exigem que detalhes do posicionamento político dos artistas, o comportamento deles nas redes sociais e outros pontos polêmicos sobre as obras constem de relatórios internos avaliados pela estatal antes que seja dado o aval para que peças de teatro, ciclos de debates e exposições já aprovados em seus editais entrem em cartaz.”, diz trecho da reportagem.
As novas regras foram implantadas no início deste ano, e a preocupação de funcionários da estatal é o de que essas novas regras acabem provocando censura a certos projetos artísticos e culturais que não comunguem da mesma visão de mundo do governo. E também o de que haja perseguição aos autores dessas obras.
Esses relatórios eram feitos também em governos anteriores, mas os novos tópicos “pontos de polêmica para a imagem da Caixa e histórico dos artistas e produtores nas redes sociais” são como uma autorização para perseguição e censura. Em relação a esse tema, no documento ao qual a Folha teve acesso está a seguinte descrição: “possíveis riscos de atuação contra as regras dos espaços culturais, manifestações contra a Caixa e contra governo e quaisquer outros pontos que podem impactar”.
Os relatórios são elaborados pela superintendência da estatal em Brasília, e pela Secretária de Comunicação do Governo Federal (Secom). Em geral, eles contêm sinopses do projeto cultural que está sendo apresentado, histórico dos proponentes, custos do projeto, e justificativas para a seleção.
É fácil supor que projetos que abordem a temática LGBT e que tenha posicionamento contrário à ditadura militar sejam reprovados.
Já de acordo com as novas regras foram suspensos ao menos três espetáculos teatrais Abrazo, Gritos, e Lembro Todo Dia de Você, uma mostra de cinema, e uma série de palestras que falariam sobre democracia, história, ciência, e ambiente.
Lembremos que a tesoura da censura do governo já entrou em ação em abril no Banco do Brasil. O governo vetou uma peça publicitária da estatal estimulando a abertura de contas para o público jovem. Caiu a propaganda e caiu também o diretor de Comunicação e Marketing do banco, Delano Valentim.
A peça publicitária que começou a circular em 1o de abril e chegou a ficar duas semanas no ar era estrelada por atores brancos e negros que representavam a diversidade racial e sexual no país.
O vídeo pode ser visto no Youtube:
Veja o leitor se consegue encontrar nele algum atentado contra a moral e os bons costumes, pois esse blogueiro tentou, mas não conseguiu ver essas características no filme. Há na peça apenas o que ela se propõe: um chamado à abertura de conta e não um julgamento moral.
Antes disso, o governo já havia vetado três peças publicitárias; uma cartilha voltada para a saúde das mulheres trans, uma campanha de prevenção de doenças sexualmente transmissíveis veiculada durante o carnaval, e até uma caderneta voltada ao público adolescente com informações sobre saúde e calendário de vacinas foi suspensa.
E esse clima de insanidade que vê um atentado contra a moral e os bons costumes vem tentando se instalar em outras partes do país. Como foi o caso polêmico da Bienal do Livro realizada no Rio de Janeiro em setembro deste ano.
No dia (2) alguns usuários foram ao Twitter criticar uma HQ que estava sendo vendida na Bienal que continha dois heróis se beijando. Alguns internautas chegaram a enviar essas críticas ao presidente Jair Bolsonaro. Na quarta-feira, o vereador carioca Alexandre Isquierdo (DEM) também reclamou da venda da publicação.
A novela continuou na quinta-feira (5). A Secretaria Municipal de Ordem Pública (Seop) expediu uma nota dizendo que o livro tinha que ser vendido lacrado e com advertência de classificação indicativa de conteúdo em publicações com cenas impróprias a crianças e adolescentes. No mesmo dia, guardas municipais foram a Bienal com intenção de recolher os livros.
Na manhã de sexta-feira (6), a proibição teve um efeito contrário ao que o prefeito esperava: em menos de uma hora todos os exemplares da HQ “Vingadores — A Cruzada das Crianças” disponíveis nos estandes da Bienal do Livro foram vendidos.
Na tarde da sexta-feira, a Bienal foi à justiça pedir que fossem garantidos aos expositores o direito de comercializar obras literárias sobre as mais diversas temáticas.  No fim da tarde daquele dia, o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro publicou decisão liminar impedindo a prefeitura do Rio de apreender livros na Bienal e cassar o alvará do evento.
Reviravolta no caso, e uma nova liminar do TJ do Rio, assinada pelo desembargador Cláudio de Melo, suspendia a liminar que o impedia o recolhimento de exemplares solicitados pelo prefeito Marcelo Crivella.
A Procuradoria Geral da República, através da então procuradora, Raquel Dodge, entrou no caso um pedido ao STF contra o recolhimento das obras. Finalmente, o ministro do Supremo, Dias Toffoli, derrubou a censura, encerrando a questão após uma longa queda de braço entre o prefeito do Rio, os expositores, e a Justiça.
O Brasil vive um momento preocupante no que diz respeito às liberdades individuais e ao meio ambiente. É preciso ficar atento, e não se contentar com censuras e mordaças, afinal, vivemos em um país democrático e queremos continuar assim, mesmo com nossa democracia andando mal das pernas, ainda assim é preferível ela aos regimes autoritários.
Há quem defenda a ditadura com unhas e dentes, usando para isso a moral e os bons costumes. Não há luz sob as cortinas de ferro, apenas sofrimento.
Enquanto isso a luta pelo combate à corrupção vai sendo empurrada para debaixo do tapete. Afinal, é preciso combater às imaginárias bruxas, a corrupção real e cruel, não.

Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates