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Aberrações de um presidente

Posted by Cottidianos on 00:23

 Terça-feira, 26 de outubro

Vamos celebrar a estupidez humana

A estupidez de todas as nações

O meu país e sua corja de assassinos covardes

Estupradores e ladrões

(Perfeição – Legião Urbana)


                                                     Bolsonaro durante live em 21 de outubro


Ela chegou devastadora no alvorecer da década de 80. Desconhecida, ganhou inicialmente o nome de doença de doença dos 5H, pois suas vítimas eram, predominantemente, hemofílicos, homossexuais, haitianos, heroínômanos (usuários de heroína injetável), e hookers (nome em inglês para as profissionais do sexo). Depois recebeu o nome de HIV (Síndrome da Imunodeficiência Adquirida).

Um vírus poderoso que pode levar ao desenvolvimento da aids, uma doença que ataca células do sistema imunológico chamadas de os linfócitos T-CD4+, destruindo-as e deixando o organismo vulnerável a qualquer outra doença. O vírus e a doença ceifaram a vida de muita gente de grande talento, como por exemplo, Cazuza, Renato Russo, e Fred Mercury, pois, por ser uma doença nova e com a qual os médicos ainda estavam aprendendo a lidar, e o tratamento ainda era muito incipiente.

Passados 40 anos, apesar de a ciência não ter ainda descoberto a cura para o HIV, o tratamento para os pacientes que contraem o vírus evoluiu bastante. Uma das teorias sobre o surgimento do HIV é a de que ele surgiu de um macaco nas selvas africanas, tendo sido depois transmitido por esses animais para a raça humana.

Ainda mais devastador que o HIV ele chegou ao mundo dos humanos no final de 2019, na província de Wuhan, na China, e igualmente deixou a comunidade científica desnorteada. Os leigos ainda mais. Batizado de coronavírus, o novo vírus, que causa a doença chamada de Covid-19, rapidamente se alastrou pelo mundo todo, ceifando milhões de vidas em todo o planeta.

Dessa vez, porém, os cientistas tiveram que correr contra o tempo para produzir, senão a cura, mas pelo menos uma vacina que fizesse os números de casos e mortes por Covid-19 despencarem. E conseguiram. De um morcego das cavernas de Wuhan veio o vírus que sacudiu o mundo feito um grande terremoto.

Que relação há entre o HIV e o coronavírus além de terem surgido em animais, tendo sido posteriormente transmitidos aos humanos, deixado a comunidade científica louca, e o mundo amedrontado? Nada mais além disso.

Porém, as mentes perversas sempre encontrarão um jeito de estabelecer algum tipo de relação entre os dois vírus mesmo que ela seja fantasiosa, e, nesse caso, além de fantasiosa, criminosa.

Foi o que fez o presidente Jair Bolsonaro, não se sabe o porquê. Se foi para jogar uma nuvem de fumaça sobre o relatório da CPI que o acusa de vários crimes na condução da pandemia, não se sabe se foi para encobrir o preço de botijão de gás, da energia elétrica, dos combustíveis, e dos alimentos que estão nas alturas, enfim, o fato é que na live o presidente, mais uma vez, abriu a boca para proferir aberrações: “Só vou dar notícia, não vou comentar. Já falei sobre isso no passado, apanhei muito…vamos lá: relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que os totalmente vacinados… quem são os totalmente vacinados? Aqueles que depois da segunda dose né… 15 dias depois, 15 dias após a segunda dose.. totalmente vacinados…estão desenvolvendo Síndrome da Imunodeficiência Adquirida muito mais rápido do que o previsto. Portanto, leiam a matéria, não vou ler aqui porque posso ter problema com a minha live”, disse ele.

A estapafúrdia declaração foi dada na live de quinta-feira, 21. Mais uma vez usando dados de estudos sem a menor credibilidade, publicados por um site inglês bem ao estilo bolsonarista, desses que são especialistas em publicar fake news e em elaborar teorias da conspiração. O site também já publicou outras notas, notícias fake sobre a vacina.  

É inimaginável que um presidente da República venha a público, dirigindo-se a seus seguidores, através das redes sociais para dizer que pessoas totalmente vacinadas estão desenvolvendo a aids. Reparem, caros leitores e leitoras, que ele, mais uma vez, joga o veneno no ar. Se pegar, pegou.

E do jeito que são os bolsonaristas, réplicas de zumbis ou de robôs, que acreditam em tudo o que o presidente fala, é de apostar que já tem muitos deles por aí, certos que quem toma vacina contra a Covid pode desenvolver a aids. Isso é de uma irresponsabilidade sem tamanho.

Por essas e outras, não tem como chamar o presidente de criminoso. Foi ele quem, no início da pandemia chamou o vírus letal de “gripezinha”. Foi ele quem incentivou o povo a desobedecer às regras de distanciamento social. Também foi ele que disse que grande parte da população brasileira não queria tomar vacina, e as comprou tardiamente depois de muita pressão. Foi esse mesmo irresponsável que criticou o uso de máscaras e todos os outros cuidados a serem tomados para barrar a transmissão do vírus.

Diante de tal aberração dita pelo presidente a comunidade científica logo se levantou para desmentí-lo. Políticos de vários partidos também usaram suas redes sociais para criticá-lo. “É gravíssimo o presidente da República, por qualquer forma, tentar atrapalhar o processo de vacinação dos brasileiros. Bolsonaro faz isso há muito tempo. A última delas é um absurdo, um atentado, tentar atribuir à vacinação a possibilidade de adquirir alguma doença como a Aids. É preciso que o Judiciário e o próprio Congresso se posicione, porque um presidente da República não pode ser tratado como uma criança irresponsável”, disse o senador Alessandro Vieira, do Cidadania.

As redes socias dessa vez não cruzaram os braços e agiram fortemente contra a fala do presidente. No domingo, o Facebook tirou do ar a nociva live. No fim da tarde desta segunda, o Youtube decidiu suspender por uma semana o canal do presidente. O Instagram também derrubou o vídeo.  

A atitude das redes sociais ainda foi muito tímida, pois Bolsonaro deveria ser banido das redes sociais, assim como foi banido delas o ex-presidente americano, Donald Trump. Afinal de contas, Bolsonaro e seus asseclas, usam as redes sociais como quem usa o campo para plantar joio em vez de trigo, e o joio que eles plantam é a desinformação e ódio.

Definitivamente, o Brasil não merece um presidente como Jair Bolsonaro. Chamo para encerrar este artigo o ator Wagner Moura, que depois de vários adiamentos, finalmente, se prepara para o lançamento de Marighella, primeiro filme dirigido por ele, e que tem o cantor e ator, Seu Jorge, no papel principal, vivendo o guerrilheiro e escritor Marighella.

Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, publicada em 23  de outubro Moura fala do filme e do Brasil atual.  O jornalista, Leonardo Sanchez, pergunta como Wagner Moura analisa o governo Bolsonaro para além da cultura, ao que Moura responde: Eu costumo dizer que a vitória do Bolsonaro nas eleições foi trágica, mas pedagógica. Esse cortejo de mediocridade que vem atrás dele mostra que o Bolsonaro não é um alien, não veio de Marte. Ele é um personagem profundamente conectado ao esgoto da história brasileira, que nos mostra que o Brasil não é só um país de originalidade, de beleza, de potência, de diversidade, de biodiversidade.

O favor que o Bolsonaro nos fez foi revelar esse outro Brasil, que estava camuflado; foi nos mostrar que nós também somos um país autoritário, violento, racista, de uma elite escrota. O Brasil é um país que nem é mais uma piada internacional. Quando os estrangeiros vêm falar com a gente, eles falam com pena. Agora nós temos que enfrentar isso!”              


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CPI da Covid-19: Os últimos atos

Posted by Cottidianos on 16:04

Domingo, 17 de outubro


            Membros de projeto social distribuem comida no Rio de Janeiro                                      


O Brasil voltou ao mapa da fome. Isso é um fato triste. Tanto é que a procura por ossos de boi e carcaça de frango cresceram nos açougues, mercados e supermercados. Antes da pandemia, esses subitens alimentares eram doados, agora, alguns estabelecimentos tem colocado esses produtos à venda. O Procon tem recomendado a comerciantes desse setor que não vendam esses produtos, mas sim, que façam doação dos ossos de boi e carcaça de frango a pessoas de baixa renda.

Semana que passou, encontrei um amigo e ele estava ouvindo pelo celular uma rádio, que pelo teor da conversa, devia ser bolsonarista, não soube ao certo pois ele fechou a sintonia da rádio quando cheguei, e não deu tempo de ver qual rádio era. Também não perguntei. Provavelmente era Jovem Pan, — que de uns tempos para cá, passou a fazer uma espécie de jornalismo panfletagem para o governo, divulgando até fake news.

Dizia a comentarista da rádio que a culpa de toda essa crise econômica era dos governadores, pois eles haviam decretados lockdowns, insistido na política do fica em casa, e isentava o presidente Jair Bolsonaro de qualquer responsabilidade.

Iniciei a conversa com meu amigo sobre outros assuntos, mas o comentário daquela jornalista ficou me incomodando na minha cabeça. Mais tarde, ainda refletindo sobre o assunto, fiquei ponderando que, no intuito de defender o presidente, a jornalista tinha ignorado vários fatos muito evidentes, coisas do tipo como esconder um elefante debaixo de um tapete.

Primeiro, a jornalista ignorou o mais evidente de todos os fatos relacionados a pandemia: a morte de milhares de brasileiros pela doença: já passam de 600 mil as vítimas da Covid-19 no Brasil.

Em seguida, há diversos outros fatos que ela, simplesmente, jogou para debaixo do tapete, e que com certeza, estão na raiz da causa de todo esse cenário indesejado para nossa economia. Há o fato de que temos um presidente negacionista que, primeiro zombou do vírus, insistiu na tese criminosa da imunidade de rebanho, e quando surgiram as vacinas, recusou-se a compra-las de imediato, perdendo um tempo precioso que poderia ter salvo milhares de vidas.

Se o presidente Jair Bolsonaro tivesse colaborado com os governadores, prefeitos, cientistas, e com todos aqueles que estavam lutando contra o vírus, nós teríamos lidado melhor com a questão da pandemia, e, consequentemente, ela não teria nos atingido do jeito que atingiu, inclusive economicamente. Mas, ao invés disso, o presidente e seus loucos seguidores atuaram como aliados do vírus.

Em meio a esse cenário de guerra provocado pelo coronavírus, o presidente ainda achava tempo para juntar-se aos seus apoiadores em protestos contra as medidas sanitárias, contra a democracia, e contra inimigos imaginários, mortos pelo tempo, que eles tiraram de velhos e empoeirados livros de história e os fazem reviver.

Todo esse falatório do presidente levou a uma instabilidade política que afastou do país os investidores. Além disso, tem a política econômica de Paulo Guedes. Quando ouvimos Paulo Guedes falar de alguma medida econômica, logo lembramos das conversas de malandro. Não tem aquela firmeza. Aquele dado concreto. É sempre na base do achismo. Eu acho que...

Guedes tem também essa coisa de montar um país de fantasia que é só dele. Em agosto desse ano, disse que a nossa economia estava crescendo em “v”, e olha só onde estamos. “No pior momento, quando todos diziam que a economia brasileira ia cair, que nós íamos entrar em depressão profunda, que nós não saberíamos lidar com a crise, eu sempre disse que íamos voltar 'em V'. Agora que o Brasil está crescendo 5% e que reformas estão andando, eu vou ficar pessimista?”, afirmou o ministro em entrevista à rádio Jovem Pan.

Na mesma entrevista, quando perguntado sobre as expetativas para 2022, afirmou: “Não vai ser agora que eu vou ficar pessimista. Agora está tudo melhorando, está tudo melhorando”. Ainda na cabeça de um ministro da Economia que vive no país das maravilhas é possível quase deixar zerar o déficit orçamentário: “Está previsto para o ano que vem, dentro dos parâmetros que nós temos, o déficit poderia praticamente desaparecer no ano que vem, este ano cai para 1,7% [do Produto Interno Bruno], ano que vem estaria em 0,2%, 0,3% [do PIB], se a economia conseguir manter o ritmo de crescimento”, disse ele.

                                                             Sessão da CPI da Covid no Senado 


Na CPI da Covid, os senadores desistiram de ouvir novamente o ministro Marcelo Queiroga. Queiroga já foi ouvido pela CPI por duas vezes. Os senadores avaliaram que Queiroga poderia usar a CPI como palco para afirmação de pautas negacionistas, como fez o empresário Luciano Hang. Os senadores cogitaram levar, em vez de Queiroga, o pneumologista Carlos Carvalho, que iria analisar um estudo contraindicando o uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19, mas que de última hora retirou o assunto da pauta de reuniões. Carlos Carvalho foi quem coordenou o estudo.

Entretanto, na manhã de sexta-feira, 15, em sessão remota, os senadores aprovaram a convocação de Nelson Mussolini, integrante do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Mussolini prestará depoimento nesta segunda-feira, 18, e os senadores esperam que ele esclareça se houve alguma interferência do governo federal na decisão da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias do Sistema Único de Saúde (Conitec) de adiar a análise de um estudo que poderia apontar a ineficácia dos medicamentos sem eficácia contra a Covid, pondo um ponto final na questão.

Na mesma sessão remota, os senadores aprovaram o convite para que falem à CPI pessoas que perderam entes queridos para a pandemia. Apesar desta última sessão de oitivas da CPI, está mantido para a quarta-feira, 19, a leitura do relatório pelo senador Renan Calheiros.

Para essa semana estão previstos o encerramento dos trabalhos da Comissão Parlamentar de Inquérito. Desde a abertura dos trabalhos da CPI, no dia 13 de abril, o ritmo de trabalho da comissão tem sido marcado um ritmo frenético de trabalho, muitos bate bocas entre governistas e oposição, depoimentos tensos, e revelações estarrecedoras, como os contratos fraudulentos para compra de vacinas por parte de integrantes do ministério da Saúde, e o caso da Prevent Sênior, operadora de plano de Saúde, que obrigava seus médicos a receitarem medicamentos ineficazes contra a Covid-19, e que é acusada de esconder as mortes por covid que ocorriam na operadora.

Até agora, a CPI já ouviu 59 pessoas na condição de testemunhas, convidadas e investigadas. Muitos dos depoentes, que defenderam o fechamento do STF nas redes sociais, tiveram que recorrer a ele para que lhes fosse garantido o direito de permanecer em silêncio durante os depoimentos nas perguntas que pudessem incriminá-los. De acordo com a lei ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo. Porém, mesmo os depoimentos enfadonhos do tipo “Senhor senador, com todo o respeito, me reservo ao direito de ficar em silêncio”, foram reveladores, uma vez que as palavras dizem muito, mas os silêncios podem dizer ainda mais.

A CPI também serviu de palco para muitos Pinóquios. Muitos depoentes mentiam descaradamente em depoimentos, para, na mesma hora, serem desmentidos por algum senador, ou depois, pelos veículos de imprensa.

Mas os senadores não estão nesse trabalho sozinhos. Junto com eles, estão assessores do Senado, policiais federais, auditores da Receita e do Tribunal de Contas da União. Eles analisam cuidadosamente uma série de documentos probatórios, dados fiscais, bancários e telefônicos, e-mails e mensagens trocadas em redes sociais, telegramas diplomáticos, e muitos outros documentos sigilosos.

O relatório a ser lido na próxima terça-feira, 19, pelo senador Renan Calheiros, possui mais de 1.000 páginas. E promete ser chumbo grosso contra o governo. Pra começar o presidente Jair Bolsonaro deve ser indiciado por 11 crimes; epidemia com resultado morte;  infração de medida sanitária preventiva;  charlatanismo;  incitação ao crime; falsificação de documento particular; emprego irregular de verbas públicas;  prevaricação; genocídio de indígenas; crime contra a humanidade; crime de responsabilidade por violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo; e homicídio comissivo por omissão no enfrentamento da pandemia.

Não ficam de fora os filhos do presidente: o vereador Carlos Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, e o senador Flávio Bolsonaro. Eduardo e Carlos serão indiciados por incitação ao crime. Flávio por incitação ao crime[FJ1] , improbidade administrativa, e advocacia administrativa.

Três ministros do governo também serão indiciados: Onyx Lorenzoni (ministro do Trabalho) pelo crime de genocídio de indígenas; Wagner Rosário (ministro da Controladoria-Geral da União (CGU)), pelo crime de prevaricação, e Marcelo Queiroga (ministro da Saúde) por epidemia culposa com resultado morte.

O ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, é o que mais acusações tem depois do presidente Jair Bolsonaro; epidemia com resultado morte, incitação ao crime, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação, comunicação falsa de crime, genocídio de indígenas e crime contra a humanidade.

No total, o relator da CPI, Renan Calheiros pedirá o indiciamento de 63 pessoas. Dentre eles estão outro ex-ministro, funcionários e ex-funcionários do alto escalão do governo, deputados federais, médicos e empresários. A empresa Precisa Medicamentos, responsável pela venda da vacina Covaxin ao governo federal, também será citada.

O relatório de Renan Calheiro, segundo apurado pela TV Globo, demonstrará a existência de uma organização com sete núcleos bem articulados entre si, encarregados de disseminar entre a população conteúdos falsos sobre assuntos referentes a pandemia. Vimos isso na prática: uma chuva de fake news cair sobre a população brasileira, emanada do Palácio do Planalto.

A CPI também demonstrará que a estrutura do governo foi usada nesse processo. Como numa organização criminosa: a ordem de comando para o espalhamento de fake news vem de cima, nesse caso do presidente, Jair Bolsonaro, que a transmite aos filhos, que por sua vez as repassam para a base e para os apoiadores.

Como num livro, o caso da operadora de planos de Saúde, um escândalo que surgiu ao apagar das luzes da CPI, merecerá um capítulo à parte. A operadora ocultava mortes por Covid-19, e obrigava os médicos a receitarem medicamentos ineficazes contra a doença, como parte de um estudo feito em parceria com o governo federal. Esse estudo era feito sem o conhecimento e sem o consentimento dos pacientes. Os pacientes foram usados como cobaias pela operadora.

Nesse capítulo à parte será pedido o indiciamento de oito médicos da Prevent Sênior, e do diretor da empresa, Pedro Bennedito Batista Júnior. Eles serão acusados de pôr em perigo a vida de outrem, omissão de notificação da doença, crime contra a humanidade, e falsidade ideológica.

A votação do relatório se dará na quarta-feira, 20, e se aprovado pela maioria dos senadores, será encaminhando a Procuradoria-Geral da República. É a PGR que conduzirá as investigações das autoridades que tem foro privilegiado, como por exemplo, o presidente Jair Bolsonaro, ministros e deputados.

Além da PGR, cópia do relatório será encaminhado a Polícia Federal, Receita Federal, e Tribunal Penal Internacional, que apurarão as acusações de genocídio de indígenas e crimes contra a humanidade.

O Ministério Público Federal, e o Ministério Público dos estados investigarão os demais envolvidos e que não tem foro privilegiado.

Essa é uma semana que promete fortes emoções em Brasília. Aguardemos as cenas dos próximos capítulos.




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Prêmios, recompensas e castigos

Posted by Cottidianos on 21:27

Segunda-feira, 11 de outubro

 

"Da janela vê-se o Corcovado

O Redentor que lindo

Quero a vida sempre assim

com você perto de mim

Até o apagar da velha chama"

(Corcovado – Tom Jobim)



 Vamos começar o texto de hoje falando de coisas boas?

A começar da genialidade de Tom Jobim, apresentando acima uma das joias da coroa da música popular brasileira por ele escrita, Corcovado, morro carioca onde fica o Cristo Redentor.

E esse Cristo sempre de braços abertos sobre a Guanabara, enfim, chega aos 90 anos, nesta terça-feira, 12. Com seu olhar misericordioso ele olha para a Cidade Maravilhosa, e para todo o Brasil. De abraços abertos ele irradia sua luz para o mundo todo, e atrai pessoas de todo o planeta.

O monumento foi uma ideia na cabeça de muita gente que pelo Rio passou, mas que se tornou realidade apenas em 1931. Foram cinco de anos de construção iniciada em 1926. Desde a sua inauguração ele se tornou cartão postal do Rio de Janeiro e referência de arquitetura brasileira, tão rápido como fogo em pólvora. Em 2007, foi nomeado como uma das sete maravilhas do mundo.

O santuário se tornou ao longo dos anos muito mais que um símbolo de fé, e monumento religioso. Números de um estudo da FGV citados em reportagem do Jornal Nacional nos dão conta de que o Cristo Redentor gera uma renda de quase R$ 1,5 bilhão para a cidade do Rio de Janeiro. Além disso, é responsável por 21 mil empregos diretos e indiretos numa cadeia de atividades que envolvem guias turísticos, funcionários de hotéis, motoristas, dentre outros.

Ainda segundo a FGV, o monumento é o mais visitado pelos turistas estrangeiros. Cerca de 35% dos estrangeiros visitam o Cristo. Outros 44% visitam o santuário vindo de outras partes do Brasil. Apenas 8% dos cariocas visitam o monumento.

O Brasil e o mundo atravessam por tempos tão turbulentos que é sempre bom que lá no alto, não necessariamente do Corcovado, há sempre um Cristo, de braços abertos e olhar misericordioso olhando e protegendo a todos nós.

Outra notícia boa foi a concessão do prêmio Nobel da Paz para dois jornalistas. O fato foi bastante celebrado por jornalistas de todo o mundo que, em meio ao avanço das fake news, se preocupam em levar aos seus leitores, ouvintes, e telespectadores notícias de qualidade e fundamentadas na verdade dos fatos. Os profissionais do jornalismo comemoraram o prêmio como se eles próprios estivessem sendo premiados com o Nobel da Paz.

                                                                            Maria Ressa e Dmitry Muratov

O prêmio Nobel da Paz deste ano de 2021 foi para os jornalistas Maria Ressa e Dmitry Muratov. O Comitê norueguês do Nobel premiou os dois jornalistas, na sexta-feira, 8, por seus esforços na defesa da liberdade de expressão. “A Sra. Ressa e o Sr. Muratov estão recebendo o Prêmio da Paz por sua corajosa luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia. Ao mesmo tempo, são representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal em um mundo em que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais adversas”, informou o comitê. Profissionais de outras categorias também foram agraciados com o prêmio.

Ressa é uma jornalista filipina que usa os meios de comunicação para denunciar o abuso de poder, o uso da violência, e o crescente autoritarismo nas Filipinas. Em 2012, ela atuou como cofundadora da Rappler (rappler.com), uma empresa digital de jornalismo que se dedica ao jornalismo investigativo no país.

O russo Dmitri Muratov é um dos fundadores do jornal independente Novaya Gazeta ((novayagazeta.ru). Desde a sua fundação em 1993, foram seis os jornalistas assassinados que trabalhavam para o Novaya. Todas as mortes ocorreram depois que Vladmir Putin chegou ao poder. Apesar do assassinato dos colegas e das pressões sofridas pelo jornal, Muratov se recusou a abandonar a linha independente do jornal.

Um jornal que nasceu com vocação e a missão de revelar a corrupção, a violência policial, as prisões arbitrárias, fraudes eleitorais, e o uso das forças militares russas, dentro e fora do país, não podia mesmo se acovardar diante da ameaça dos poderosos. Até porque mais poderosa que os poderosos é a verdade.

Maria Ressa, nas Filipinas, e Dmitri Muratov cumprem seus papeis como jornalistas que se recusam a esconder a verdade em baixo dos tapetes da hipocrisia. Em um mundo no qual o radicalismo avança, e o mundo da notícia é invadido pelo pseudo jornalismo que espalha fake news e destrói reputações, a merecida premiação que eles receberam servem como incentivo não apenas para eles, mas para todos aqueles comprometidos na busca da verdade, da correta apuração dos fatos, e em levar a todos, um jornalismo de qualidade.

No Brasil, não chegamos ainda ao ponto de o governo estar envolvido em assassinato de jornalistas, mas as agressões aos profissionais de imprensa, em especial, as mulheres, vem sofrendo uma escalada desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder.

As agressões à jornalistas feitas por Bolsonaro têm sido tão frequentes que, em julho, a Repórter sem Fronteiras, uma das mais respeitadas organizações internacionais que defendem a liberdade de expressão, colocou o presidente Jair Bolsonaro, juntamente com outros chefes de Estado ou de governo, na lista de “predadores da liberdade de imprensa.

A organização diz que Bolsonaro difama e humilha jornalistas por causa das críticas que eles fazem ao governo, e que esses ataques se tornaram ainda mais frequentes durante a pandemia. Na lista dos “predadores de imprensa” estão outras figuras bastante conhecidas como por exemplo, Nicolas Maduro, presidente Venezuelano, Vladmir Putin, da Rússia, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria, e os ditadores Kim Jong-um, e Bashar Al-Assad, da Corea do Norte e da Síria, respectivamente.

                                                                                     CPI da Covid

No Congresso, a CPI da Covid entra na reta final. Os depoimentos eram para terminar na semana que passou, mas os membros da CPI resolveram convocar, pela terceira vez, o ministro Marcelo Queiroga. Segundo o presidente da CPI, o senador Omar Aziz, o calendário do colegiado na reta final é o seguinte: “Dia 18 deste mês, segunda-feira, vamos ouvir Marcelo Queiroga. Dia 19, Renan Calheiros vai ler o relatório. Com certeza haverá pedido de vista coletiva. E dia 20 vamos votar o relatório”, disse ele.

Na quinta-feira, 07, estava prevista uma reunião da Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec). Nesta reunião estaria em discussão um documento contraindicando o uso hidroxicloroquina, cloroquina e a azitromicina no tratamento precoce contra a Covid-19.

Como é sabido por todos, menos pelos negacionistas, esse medicamento não possui nenhuma eficácia comprovada contra a Covid-19.  Apenas o presidente Jair Bolsonaro, garoto propaganda do medicamento no Brasil, e seus aliados, veem o medicamento como milagroso no combate ao vírus.

Vimos, durante a CPI da Covid, as tramoias na compra de vacina, os contratos fraudulentos com atravessadores para obtê-los. Aquilo não tinha de nada interesse em salvar vidas, poderia até ter, mas a questão principal era financeira, obter lucros indevidos, colocando em risco a saúde da população.

Pois bem, a insistência do presidente e de seus aliados em um medicamento que a ciência já comprovou que não tem eficácia contra a doença, apenas nos leva ao mesmo raciocínio: o de que não há nada de nobre nessas intenções, mas algum interesse financeiro por trás de tudo isso. Sim, porque há gente ganhando dinheiro com medicamentos ineficazes contra a Covid-19. Muito dinheiro. O assunto é tão importante para o presidente que ele chegou até mesmo a defender o uso do medicamento em seu discurso deste ano na Assembleia Geral da ONU.

Voltando a reunião do Conitec. Tudo pronto para ela acontecer, e eis que, de repente, Carlos Carvalho, médico da USP, escolhido para o cargo de coordenador do Conitec pelo ministro Marcelo Queiroga, retirou da pauta da reunião o item 12 que tratava da ineficácia dos medicamentos contra a Covid. Detalhe a ser observado: Carlos Carvalho é contra o uso da cloroquina e defensor do distanciamento social e do uso de máscaras.

Ao saber que reunião seria tratado esse assunto uma luz vermelha acendeu no Palácio do Planalto, pois as consequências políticas e jurídicas, caso fosse barrado o uso da cloroquina, poderia ser desastrosa para o governo. Os integrantes da CPI poderiam usar o documento, avalizado por um orgão técnico ligado ao ministério da Saúde, como mais uma prova dos desastrosos erros do governo durante a pandemia.

Esse foi o principal motivo da nova convocação de Queiroga. Houve uma clara interferência política no Conitec, e os senadores querem saber mais a respeito do assunto. Outro detalhe a ser observado é que em junho deste ano, quando esteve depondo à CPI, Marcelo Queiroga disse aos senadores que iria esperar uma posição do Conitec sobre o uso de medicamentos não comprovados contra a Covid-19 para então tomar uma decisão sobre o assunto. Os senadores também querem ouvir Queiroga sobre o Plano Nacional de Vacinação para o ano que vem, sobre que medidas estão sendo tomadas nesse âmbito.

Nós não podemos terminar esta CPI sem a Conitec dar uma posição clara sobre a ineficácia de cloroquina. Nós não podemos terminar esta Comissão Parlamentar de Inquérito com uma briga de interesses entre Mayra Pinheiro [secretária do Ministério da Saúde conhecida como "Capitã Cloroquina"] e Marcelo Queiroga no âmbito do Ministério da Saúde e sem nenhuma resposta sobre a vacinação de brasileiros no ano que vem, nenhuma resposta! Enquanto a ciência toda, o planeta se prepara para a vacinação, não tem nenhuma resposta. Nós não podemos terminar esta CPI sem uma resposta sobre a vacinação de adolescentes e crianças”, disse o senador Randolfe Rodrigues, em sessão plenária da CPI da Covid.

A lógica dos bolsonaristas, inclusive do próprio presidente Jair Bolsonaro, parece ser a lógica do absurdo. Para eles o objetivo principal em meio a uma pandemia, e por consequência em qualquer outra situação de saúde, é deixar a doença reinar soberana, e criticar os remédios que servem para curá-la.

Durante a pandemia, o Brasil já teve quatro ministros da Saúde, incluindo o atual Marcelo Queiroga. Os dois primeiros não aceitaram se submeter aos caprichos do presidente e de seus sombrios gabinetes do ódio e do gabinete paralelo. Foram eles Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Com Eduardo Pazuello, Bolsonaro teve um ministro da Saúde para chamar de seu. Em Queiroga Bolsonaro também tem um ministro que pode chamar de seu. Com a substituição de Pazuello por Marcelo Queiroga nada mudou no ministério da Saúde. Pazuelo e Queiroga são apenas fantoches manipulados por Bolsonaro. Não tem vontade própria, não tem poder de decisão. O poder de decisão está nas mãos do presidente que, por sua vez, tem por trás dele, médicos que defendem as mais absurdas teorias não aceitas e não comprovadas pela ciência.

Mas nem assim, os bolsonaristas estão satisfeitos com Marcelo Queiroga. A tal da ala ideológica do governo critica o ministro por ter liberado a vacina para adolescentes, por não impedir o passaporte da vacina, e por não agilizar plano para desobrigar o uso da máscara.

Por todos esses ruídos, por todas essas irresponsabilidades na condução da saúde de um povo foi que chegamos ao absurdo e lamentável número de 600 mil brasileiros e brasileiras mortos pela Covid-19.

Para nosso alívio, o número de mortes, média móvel de mortes, e casos de Covid continua em queda devido ao avanço da vacinação. Desde o início da pandemia o Brasil contabiliza até agora 601.266 óbitos e 21.581.094 casos de Covid-19. Nas últimas 24 horas o país registou 219 mortes pela doença. Em relação a vacinação estamos com 46,5% de vacinados com a primeira e segunda dose. 70% da população está vacinada com a primeira dose.

Quantos brasileiros poderiam ter sido salvos da Covid-19 se tivéssemos tido uma condução técnica e responsável por parte do governo federal durante essa pandemia? Certamente, milhares dos que se foram ainda poderiam estar entre seus entes queridos. Todos eles estariam bem vivos, fazendo e realizando planos. Quantas crianças por esse Brasil afora estão órfãs de pai, de mãe, ou de pai e mãe, porque os próprios pais, ou alguém da família, um amigo, um conhecido, ou até mesmo um desconhecido, acreditou que tudo não passava de uma gripezinha no começo, ou depois, quando acreditaram que o vírus estava indo embora e que não havia mais perigo, e por isso se tornaram alvos fáceis de um vírus altamente perigoso e de uma doença ainda sem cura?

Essas e outra perguntas que insistem em se apresentar em nossas consciências e nos fazem refletir na gravidade e na atitude criminosa com que algumas autoridades da política e da medicina se portaram durante essa pandemia, e que depois de tudo que vivemos e pelas quais passamos ainda insistem no absurdo de lutar contra a ciência a e vida.


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O garimpo da fome

Posted by Cottidianos on 13:50

Domingo, 03 de outubro

Era quarta-feira, 29 de setembro, e o jornal Extra, do Rio de Janeiro, trazia a seguinte manchete:

Garimpo contra a fome: sem comida, moradores do Rio recorrem a restos de ossos e carne rejeitados por supermercados

Em seguida, os repórteres Rafael Nascimento de Souza e Gabriel Sabóia, começam o primeiro parágrafo descrevendo cenas degradantes vividas por muitos moradores da capital carioca:

Pouco após as 10h, o caminhão estaciona na Glória, Zona Sul do Rio. Minutos depois, a fila se forma. É que já havia gente esperando o veículo, que recolhe ossos e pelancas de supermercados da cidade. Sensibilizados, motorista e ajudante da empresa doam ali toda terça e quinta parte do que foi recolhido. Diante do desemprego — que ficou em 14,1% no segundo trimestre de 2021, atingindo 14,4 milhões de brasileiros — e da inflação galopante — que com a prévia deste mês chegou a 10,05% no acumulado em 12 meses, ultrapassando os dois dígitos pela primeira vez desde fevereiro de 2016 —, é a esperança daquelas pessoas de encontrarem um pedaço de carne para matar a fome”.

O texto segue com o depoimento de pessoas que vão ao local onde o caminhão estaciona para o “garimpo” de ossos e restos de carne rejeitada pelos supermercados. É o caso da desempregada, Vanessa Avelino de Souza, de 48 anos, que mora nas ruas do Rio. É um trabalho de paciência e muita resignação. Primeiro Vanessa separa osso por osso, pelanca por pelanca para colocar na sacola o melhor que pode. Depois separa osso e carne. Nada é desperdiçado. Os ossos são usados para colocar no arroz e no feijão. A carne é frita, e depois a gordura é separada para servir como óleo de cozinha, que, diga-se de passagem, também está muito caro.

Empurradas para a pobreza extrema, que a pandemia da Covid-19 tornou ainda mais evidente, outros homens e mulheres cumprem o mesmo ritual cumprido por Vanessa. Os restos de carne e ossos são tão importantes para saciar um pouco da fome que essas pessoas passam que, Denise da Silva, de 51 anos, chega a fazer um percurso de 33 quilômetros de trem. Ela mora em São João do Meriti e se desloca de lá até o bairro da Glória para pegar os restos de comida. Ao descer na estação da Central, ainda tem que andar mais 3 km a pé até o bairro da Glória, pois não tem dinheiro para pagar outra passagem. Pega as sobras e, depois, caminha mais 3 km até a Central para pegar outro trem para voltar para casa.

Não vejo um pedaço de carne há muito tempo, desde que a pandemia começou. Esse osso é a nossa mistura. Levamos para casa e fazemos para os meninos comerem. Sou muito grata por ter isso aqui”, diz Denise ao jornal Extra.

José Divino dos Santos é o motorista do caminhão. Ele tem 63 anos, e nasceu em Além do Paraíba, no interior de Minas Gerais. Ele conta que, de uns meses para cá, notou um aumento no número de pessoas que procuram por restos de ossos. Diz que tem dias que quando chega com o caminhão ao local de distribuição sente vontade chorar. E que um país tão rico como o nosso não deveria estar nessa situação. Ele conta que antes as pessoas pegavam essas sobras para dar para os cachorros e, atualmente, elas levam para consumo próprio e para o consumo de seus familiares. José Divino conta que, às vezes, os restos de alimentos estão um pouco estragados, eles falam isso para as pessoas, mas elas querem levar assim mesmo. A reportagem conta que o motorista não consegue conter as lágrimas ao fazer este relato.

Após a divulgação pelo jornal Extra, o assunto ganhou destaque em vários veículos da imprensa nacional, e provocou debates no meio político. Ainda na quarta-feira, durante a sessão da CPI, o senador Humberto Costa, do PT, de Pernambuco, falou sobre o assunto. Naquele dia, estava sendo ouvido pela CPI o empresário bolsonarista, Luciano Hang. “Não sei se o senhor viu, na foto de um jornal, um bocado de carcaça de osso e umas pessoas querendo levar aquilo ali, que antigamente compravam pra dar para os cachorros, e hoje as pessoas compram para fazer sopa e comer o resto da carne. É isto que este governo e esse projeto causaram ao nosso país: uma tragédia sanitária, econômica, social e política”. Disse o senador ao empresário.

Fazendo eco as palavras do motorista do caminhão que distribui as sobras, José Divino, que disse que disse “Um país tão rico não pode estar assim”, o ex-presidente, Luís Inácio Lula da Silva, na quinta-feira, 30, publicou um vídeo em suas redes sociais, em que destaca o fato de que o país tem cerca de 30 milhões de gado no Mato Grosso do Sul, e ainda assim, há pessoas com fome, pedindo ossos para comer.

A situação no Brasil já não vinha muito boa antes da pandemia, e o evento Covid-19 só fez piorar aquilo que já estava ruim. Além das mortes, essa tragédia provocada pelo coronavírus ainda trouxe ao país mais desemprego e, de quebra, uma inflação alta. A situação de pessoas pegando restos de carnes e ossos não é exclusiva do Rio de Janeiro. Ela também tem se repetido em outras partes do país.

Outro fato a ser destacado é que, com o aumento nos preços das carnes de boi, de frango, e de porco, tem aumentado nos açougues a venda de pés, pescoço, e carcaça de frango.

Tudo isso vem confirmar o que diz o Inquérito Nacional sobre Segurança Alimentar no contexto da pandemia de Covid-19 no Brasil, um estudo conduzido pela Rede Penssam (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania Alimentar e Nutricional divulgado em abril. Dados do estudo apontam que 19 milhões de brasileiros foram atingidos pela fome em 2020.

Com isso, milhões de brasileiros são atingidos pela insegurança alimentar. “A insegurança alimentar parte do princípio de que você não tem certeza de que vai conseguir se alimentar amanhã. A pessoa tem de escolher entre um e outro alimento, opta por um mais barato”, diz a nutricionista Beatriz Blackman, da Rede de Mulheres Negras para a Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, na reportagem da Folha, Caminhão de ossos' no Rio é disputado por população com fome, publicada em 29 de setembro.

Esse é o Brasil bem diferente do que vive o presidente Jair Bolsonaro, e os empresários Luciano Hang, e Otávio Fakhouri. Hang e Fakhouri, semana passada, foram ouvidos pela CPI. Lá apenas reafirmaram seu negacionismo e o papel de propagadores de fake news. Otávio Fakhouri usa a frase “Deus, Pátria, Família” para se definir. Eu fico aqui pensando em como uma pessoa que tem Deus na frase que o define e vive espalhando ódio e intolerância nas redes sociais. Deus é sinônimo de amor, e não de ódio.

Os três, presidente e empresários, juntamente, com uma legião de fanáticos que não enxergam um palmo à frente do nariz, inundaram o país de fake news durante a pandemia de Covid-19, nas quais divulgavam tratamentos ineficazes contra a Covid-19, colocavam em dúvida a eficácia das vacinas, condenavam o uso de máscaras, e, contra todas as evidências da ciência, ignoravam o isolamento social e empurravam as pessoas para uma suicida imunidade de rebanho.

Entre a vida da população brasileira e a economia, decidiram que a economia deveria ser prioridade, e o resultado dessa equação foi trágico: até agora 597,749 brasileiros e brasileiras mortos pela Covid-19, e uma economia em frangalhos. Se esse grupo de loucos criminosos tivesse priorizado a vida, milhares de brasileiros não teriam sido vítimas da Covid-19 e ainda estariam gozando a vida junto a seus amigos e familiares, e a economia estaria em melhor situação, uma vez que teríamos demorado menos tempo dentro da fase mais difícil da pandemia.

Não há como não jogar essas dificuldades e essa tragédia na conta do presidente Jair Bolsonaro. Ele agora diz que a culpa dessa carestia é dos governadores que são resistentes a mudanças no ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e que adotaram medidas de distanciamento social para deter o vírus.

Mas isso é conversa de quem quer tirar das próprias costas uma responsabilidade que lhe é devida. Essa carestia que vive o Brasil tem a ver, e muito, com as instabilidades políticas criadas pelo próprio presidente.

Isso faz com que o investidor olhe para o Brasil com desconfiança. Além disso, esses operadores observam a política fiscal equivocada do governo, sempre querendo elevar o teto de gastos, a qualquer custo, inclusive a custo de pedalada em relação aos precatórios, que nada mais é que um calote nos precatórios.

Em consequência disto temos alta do dólar, que tem subido de maneira absurda. Temos então que os preços dos insumos e produtos que o Brasil importa sofrem uma forte alta, encarecendo o preço dos produtos.

Temos também uma crise hídrica gravíssima que tem elevado o preço das tarifas de energia elétrica. Esse é outra crise que não está sendo gerida de forma adequada pelo governo. Além de tudo isso, ainda tivemos as ondas de frio que atingiram Sul e Sudeste do país que prejudicaram a produção no campo, trazendo como consequência um aumento no preço dos alimentos. Coloque-se ainda neste grosso e denso caldo o aumento no preço dos combustíveis.

Em meio a tudo isso, novas manifestações foram realizadas contra o presidente Jair Bolsonaro, neste sábado, 02, em diversas cidades brasileiras. Houve protestos em todas as 26 capitais e no Distrito Federal. Entre as bandeiras levantadas e discursos feitos durante os protestos estavam o impeachment do presidente, as medidas de combate a pandemia. A inflação alta, o preço dos combustíveis, e a fome também entraram na lista de protestos deste sábado. 


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