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Uma doença chamada bolsonarismo

Posted by Cottidianos on 23:52

 Terça-feira, 25 de outubro

Reta final de campanha. Última semana. E nós sabíamos que ela começaria quente, mas não tínhamos ideia de que a última semana de campanha começaria de forma incendiária. Falo da tentativa de assassinato de quatro policiais pelo ex-deputado, presidente do PTB, e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Os caros leitores e leitores já devem estar inteirados desse fato pois ele tem dominado o noticiário desde a tarde de domingo.

Falemos deste assunto mais adiante.

Antes, gostaria de abordar a questão da matéria publicada no The New York Times criticando duramente as medidas tomadas pelo ministro Alexandre de Moraes para combater as fake news. A matéria do jornal foi publicada na edição de sexta-feira, 21 de outubro.

A reportagem intitulada One man can now decide what can be said online in Brazil (Um homem agora decide o que pode ser dito online no Brasil) coloca no centro da discussão o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral e o poder a ele conferido de retirar do ar nas redes sociais nas eleições deste ano as notícias falsas.

O NY Times pega pesado nas críticas, o veículo de comunicação diz que as medidas adotas pelo STE são “as ações mais agressivas tomadas por qualquer país para combater notícias falsas”.

A medida culmina em uma estratégia cada vez mais assertiva das autoridades eleitorais no Brasil para reprimir a desinformação que inundou a corrida presidencial do país nos últimos dias, incluindo alegações de que os candidatos são satanistas, canibais e pedófilos”, destaca o jornal.

O jornal americano continua suas críticas dizendo que o poder do TSE de retirar do ar, de forma unilateral, notícias que não sejam verdadeiras, abre caminho para a discussão de onde pode ir parar essa iniciativa. O raciocínio é o de que, ao ter poder unilateral para coibir a veiculação de notícias falsas o órgão pode estar entrando senda que leva ao autoritarismo e “que poderia ser usada para censurar legítimos pontos de vista e balançar a disputa presidencial”.

Depois o NY alterou o título da reportagem que passou a se chamar “To fight lies, Brazil gives one man power over online speech” (Para combater mentiras, Brasil dá a um homem poderes sobre discurso online).

Nessa eleição o TSE agiu não somente contra as redes sociais, mas também para coibir ações da rádio Jovem Pan. A rádio é claramente pró-governo, e não se pode dizer dela que pratica isenção. Durante a pandemia, a JP ajudou a disseminar as teorias do presidente sobre remédios sem compravação contra a Covid-19, e nas eleições deste ano privilegia em suas reportagens o candidato Jair Bolsonaro (PL).

Por esse motivo, e para não desequilibrar a disputa, o Tribunal Superior Eleitoral resolveu punir a emissora pelos comentários considerados distorcidos e ofensivos ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Todas as pessoas são inocentes até que juiz competente e isento análise eventuais acusações, pondere provas e decida por sua culpa. Assim, como não há se falar, na espécie, em dúvida quanto à anulação das condenações contra o representante, há fato sabidamente inverídico a ser combatido e contra o qual cabe direito de resposta”, disse o ministro Alexandre de Moraes em sua decisão.

As decisões de Alexandre de Moraes são criticadas inclusive no Brasil. Mas, particularmente, entendo que as decisões do ministro têm sido muito acertadas. Esse blog já foi crítico do inquérito das fake news e da forma como ele foi instalado, o que também foi alvo de fortes criticas por parte dos especialistas.

Porém, com a enxurrada de fake news tem se propagado no Brasil, espalhando mentiras e destruindo reputações, as decisões de Alexandre de Moraes podem até ser controversas, mas são absolutamente necessárias.

Quanto a reportagem publicada pelo The New York Times, com críticas ao ministro é um olhar de fora. Um estrangeiro não vai poder captar com tanta facilidade as tensões e medos pelos quais passam os brasileiros. Se é verdade que os dois lados embarcaram na canoa dos ataques e ofensas, também é verdade que os bolsonaristas são bem mais agressivos e violentos.

Tanto é que, ao andar nas ruas, ao olhar para o alto, para a janela dos edifícios, não se veem adereços ou vestimentas relativas ao candidato Lula. As pessoas que votarão nele também evitam, ao máximo, expor seu voto publicamente. Muitas personalidades, autoridades, especialistas tem declarado apoio a Lula, mas nas rodas particulares de conversas, nos ambientes de trabalho, ninguém ousar nem dizer que votará no Lula. Isso se chama medo. Quem vota no PT nessas eleições será voto silencioso.

Na quinta-feira, o TSE aprovou uma nova resolução que torna mais fácil o processo de remoção de conteúdo das plataformas digitais. Segundo essa mesma resolução, fica proibido a propaganda eleitoral às vésperas e no dia da eleição, e também nas 24 horas seguintes. O texto aprovado pelos ministros, após um conteúdo ser considerando como fake news, Alexandre de Moraes tem o poder de, não apenas retirar o conteúdo do ar, como também estender a decisão para páginas e conteúdos semelhantes. Provavelmente, tenha sido essa decisão que motivou o artigo com críticas a Alexandre de Moraes no NY Times.

Augusto Aras, procurador-geral da República, entrou com pedido no STF para suspender a medida. O plenário do STF se reuniu, em modo virtual, na tarde desta terça-feira, 25, e negou o pedido de Augusto Aras, que é aliado de Bolsonaro.

Voltemos ao caso do ex-deputado Roberto Jefferson. Os fatos narrados aqui, em relação a esse episódio, baseiam-se em reportagem da Folha de São Paulo.

No domingo à tarde, uma equipe da Polícia Federal foi até a residência dele que fica na cidade de Comendador Levy Gasparian, Rio de Janeiro, distante cerca de 140 km da capital.

Por volta do meio dia, a viatura policial chegou à casa dele. E o que era para ser uma prisão simples, tornou-se como uma daquelas cenas clássicas de enfretamento entre polícia e bandido e, por muito pouco, o país não viveu mais uma tragédia.

Há alguns meses Jefferson havia colocado um portão de ferro na frente da residência. Enquanto tocavam o interfone, um policial pulou o portão que estava trancado com cadeado. Os policiais portavam apenas pistolas Glock. Não levaram fuzil. Nem imaginavam com quem estavam lidando.

Jefferson então surgiu no alto de uma sacada de onde os policiais só conseguiam avistá-lo da cintura para cima. Ele já saiu avisando aos agentes policiais que não seria preso. Os policiais então informaram a ele que portavam um mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes.

Ao ouvir isso, Roberto Jefferson mostrou uma granada aos policiais, tirou o pino, e disse ironicamente: “Vocês estão juntinhos aí, vão se machucar”, disse ele e, em seguida, jogou o artefato em direção aos policiais. Ao perceber esse gesto, os policiais correram para trás da viatura para tentar se proteger da explosão. Mais duas granadas foram lançadas pelo bandido.


Já tomados pelo terror, os policiais ouviram então voar na direção deles uma saraivada de tiros de fuzil. Enquanto tentavam se proteger o delegado Maurício Villela, e a agente Karina Lino perceberam que tinham sido atingidos e estavam sangrando. A agente foi atingida por estilhaços na região da bacia, da testa, das pernas, e dos braços e Villela, por estilhaços na cabeça. Mesmo assim ele disparou em direção a Jefferson.

O escrivão Daniel Costa tentou atirar também, porém a arma falhou. A policial ferida emprestou a arma dela para o escrivão e ele também atira. A quantidade de sangue que escorria da cabeça de Villela era muito grande e atrapalhava a visão do olho direito.

Uma pessoa que se identificou como cunhado de Jefferson socorreu os feridos e os levou a uma unidade de saúde em Levy Gasparian, onde receberam os primeiros socorros. Em seguida, seguiram de ambulância para um hospital. Felizmente, os ferimentos não foram muito graves e eles já estão em casa, se recuperando.

A Constituição Brasileira diz que todos são iguais perante a lei. Porém, os ricos e brancos são mais iguais que os outros. Por exemplo, mantenhamos a cena, mudando apenas o ambiente do crime.

Se fosse numa favela, ou em alguma outra região pobre de alguma cidade, o que aconteceria com quem atirou granadas e disparou tiros de fuzil contra policiais? Se fosse um negro? Vocês acham que teria havido alguma negociação para a rendição? Claro, que não. Esquipes de reforço teriam sido solicitados e chegado em tempo recorde. E o sujeito fuzilado.

Mas, não foi o que ocorreu no caso em questão. Do momento em que os fatos ocorreram até que o bandido fosse efetivamente preso passaram-se mais de oito horas. Jefferson exigia a presença do ministro da Justiça, Anderson Torres, para que se entregasse. O presidente Jair Bolsonaro até chegou a enviar Torres para ir até o local, mas conforme o tempo ia passando, a repercussão negativa do caso ia crescendo e o presidente desistiu da ideia.

O presidente deve ter ponderado que colocar o Anderson Torres na cena do crime comprometeria ainda mais o presidente. Então o ministro nem chegou a ir lá. Ficou pelo meio do caminho mesmo. Participou das negociações, mas por telefone.

Durante todo o restante do domingo, autoridades se manifestaram repudiando e condenando o ato de Roberto Jefferson. No QG bolsonarista ficou uma certa confusão. Que lado se posicionar? Defender ou atacar Jefferson? Afinal, é um aliado do presidente. Mas se defender Jefferson vai ficar contra os policiais.

Vários bolsonaristas foram para a frente da casa do ex-deputado. Um deles deu soco que atingiu um jornalista, o jornalista caiu, bateu a cabeça no chão, ficou desacordado e foi levado para o hospital. Felizmente, com ele também não aconteceu o pior. Assim, são os bolsonaristas. Irracionais. Outros como Daniel Silveira já estavam até organizando caravana para ir até a casa do ex-deputado para defender o “patriota” Roberto Jefferson.  

Ressalto ainda as ofensas que o aliado do presidente ofendeu com palavras do mais baixo calão a ministra Carmem Lúcia por causa do voto dela favoreceu à punição à rádio Jovem Pan. As palavras que ele usou para ofender a ministra são tão ignomínias, tão abjetas que nem as reproduzirei aqui. O vídeo com as ofensas foi publicado na rede social da filha dele, Cristiane Brasil.

Porém, o mais impressionante de tudo isso, é que nada parece abalar a confiança dos bolsonaristas no presidente. É como me disse uma amiga essa semana: “O bolsonarismo é uma doença”. Concordo com ela. E acrescento: Uma doença grave.

Esse que vos escreve tem, ao mesmo tempo, medo e pena dos bolsonaristas. Medo porque são muito violentos, capazes de qualquer tipo de violência, seja ela física ou psicológica. Vocês têm visto, acompanhado pela imprensa os casos, os mais esdrúxulos possíveis, protagonizado pelas hordas bolsonaristas. Temos o caso de invasão de igrejas, mortes, socos e pontapés em que discorda e ousa criticar o presidente, patrões ameaçando demitir empregados se eles não votarem em Bolsonaro, e diversas atitude fora do padrão.

Conto-vos apenas uma destas violências que não chega a ser física — mas se precisar, eles pegam em armas e saem às ruas enlouquecidos para defender o “mito”, disso não tenham dúvida. Um médico obstetra do estado do Pará está sendo investigado pelo Conselho Federal de Medicina por constranger uma mulher a votar em Bolsonaro na hora do parto.

O bebê acabara de sair do útero da mãe. A enfermeira faz os primeiros cuidados na criança. Enquanto isso o médico filma a cena e diz: “Hello, eu sou o Gael [bebê], já nasci 22 e vou votar no Bolsonaro”.  

O hospital onde o médico fez o parto tem por padrão que o pai da criança se vista com uma roupa vermelha. O médico reclama dessa prática, e continua: “E o doido não veio dizer que ele vai votar no Lula, e eu digo: rapaz, tu quer que eu vá já embora e nem opere ela”. Ele aproxima a filmagem do rosto da paciente, e diz: “Essa aqui é a mamãe do Gael. Dia 30, ela vota? 22. Diga que eu vou mandar pro Bolsonaro esse vídeo, ele está agora numa live”. A mulher ri de forma constrangida. Esse fato aconteceu no dia 30 de outubro.

O próprio médico postou o vídeo nas redes sociais. Depois da repercussão ele apagou. E disse que o vídeo tinha sido manipulado, e estava sendo tirado do seu contexto. Mas se esquece que são imagens, e contra fatos não há argumentos.

Tenho uma amiga que está com início de depressão. Ela publicou no grupo da família e amigos no WhatsApp que, no primeiro turno da eleição, votaria em Simone Tebet. As críticas vieram pesada sobre ela. Quando ela falou que não gostava de Bolsonaro, então as coisas pioram e muito. Muitos se afastaram e outros a bloquearam. Atitudes como essa beiram a irracionalidade. E o pior é que isso acontece não só nessa família, mas em milhares de outras.

Disse-vos por que tenho medo do bolsonarismo. Digo-vos agora por que tenho pena. Eles há tempos esqueceram de raciocinar com a própria cabeça. Eles não pensam. São comandados pelas ordens que vem das redes bolsonaristas. Eles pensam aquilo que os alimentadores querem que eles pensem, e fazem aquilo que os produtores de fake news querem que eles façam.

Muitos são os exemplos, mas fiquemos apenas com dois mais recentes. Um é o caso do Roberto Jefferson aliado de primeira hora de Bolsonaro. Um porta-voz da extrema direita radical admirado pelos bolsonaristas. Até domingo, ele era ídolo para os bolsonaristas, exemplo de patriota, e agora virou bandido ligado ao presidente Lula. Isso mesmo, as redes bolsonaristas agora ligam Jefferson ao Lula. Vejam também como eles ficaram feito baratas tontas à espera de como agir no caso, se condenavam o ex-deputado ou se o exaltavam.

Outro caso é o de Sérgio Moro, que saiu do governo acusando o presidente de interferir na Polícia Federal, e de corrupção. Moro que, para eles, era herói, da noite para o dia, virou traidor. Aí vem o oportunismo de Sérgio Moro e leva ele para o lado de Bolsonaro novamente na tentativa de se eleger senador. Se elegeu. Declarou apoio a Bolsonaro no segundo turno. E não foi apoio tímido, não. Foi envolvimento mesmo. Moro acompanhou Jair Bolsonaro no debate da Band e gravou vídeo para o horário eleitoral gratuito de Jair Bolsonaro. E agora Moro que era traidor virou herói e amigo novamente. 


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Onde sobram ataques, faltam propostas

Posted by Cottidianos on 21:04

Terça-feira, 18 de outubro

Corria e viajava era sensacional

A vida em duas rodas

Era tudo que ele sempre quis

Vital passou a se sentir total

Com seu sonho de metal

Prezados leitores e leitoras

(Vital e sua Moto – Paralamas do Sucesso) 

Prezados leitores e leitoras,

Aqui estamos nós para mais um texto sobre política, em pleno andamento de uma campanha eleitoral acirradíssima.

Falemos, em primeiro lugar do debate que ocorreu no domingo, 16, e foi transmitido pela rede Bandeirantes, em parceria com a TV Cultura, Uol, jornal Folha de São Paulo, Google e o Youtube. O evento teve lugar no estúdio principal da Band, em São Paulo.

Para o debate deste segundo turno a Bandeirantes, junto com o pool de emissoras que o transmitiram testaram um novo formato, que agradou a todos: candidatos e público. Finalmente, Lula e Bolsonaro se enfrentaram em um duelo histórico em frente às câmaras de TV, pois nos debates do primeiro turno, não houve esse embate direto por causa do número de participantes, e pelo próprio formato dos debates. Depois de tantos ataques e golpes baixos de ambos os lados nas redes sociais, esperava-se que os estúdios da Band fossem pegar fogo quando os dois estivessem frente à frente.

Ataques e acusações ocorreram de ambos, é verdade, mas os candidatos se mantiveram dentro de um certo nível de civilidade, mesmo tendo ficado lado a lado, ou face a face, em diversos momentos.

Como sempre, as propostas para o futuro da nação, passaram pela exposição dos candidatos, de uma forma bem tímida, quase sem serem notadas. Os dois candidatos se ativeram mais a exaltar feitos de seus governos do que apresentar projetos futuros.

Houve vencedor? Digamos que houve empate. Um empate que favorece o Lula uma vez que ele precisa manter votos e Bolsonaro precisa conquista-los. Lula se saiu bem no primeiro bloco, no qual o tema predominante foi a pandemia, e sabemos bem como Bolsonaro conduziu pandemia. Também foram puxados para a conversa temas como educação e inclusão das classes menos favorecidas nos meios digitais.

No bloco em que os jornalistas fizeram perguntas, os candidatos fugiram das perguntas como peixe mussum — um peixe de água doce que precisa muita habilidade para pegar pois ele escorrega das mãos feito sabão. Os candidatos pegaram carona nas perguntas dos profissionais de impressa para se atacarem mutuamente.

Veio o terceiro bloco, e, com o tema corrupção, Bolsonaro dominou esse round. Lula não administrou bem o tempo, deixando cinco minutos de sobra para Bolsonaro falar o que ele quisesse. No bloco final, destinado as considerações finais, Lula e Bolsonaro falaram para os seus públicos. Bolsonaro falando de ideologia de gênero, armas, combate ao comunismo – Como se estivéssemos ainda na década de 60, e Lula falando de inclusão e programas sociais.

Um assunto que o público estava esperando que fosse abordado por Lula no debate foi um vídeo que surgiu, nos dias que antecederam o evento. Na sexta-feira, 14, o presidente, Jair Bolsonaro, deu uma entrevista para um podcast no qual falava do encontro com umas adolescentes venezuelanas. Diz que pintou um clima e que, ao entrar na casa, delas viu que tinham mais algumas meninas se arrumando. Na conversa ele insinua que elas estavam se preparando para fazer programas.

Eu estava em Brasília, na comunidade de São Sebastião, se eu não me engano, em um sábado de moto [...] Parei a moto em uma esquina, tirei o capacete, e olhei umas menininhas. Três, quatro, bonitas, de 14, 15 anos, arrumadinhas, num sábado, em uma comunidade, e vi que eram meio parecidas. Pintou um clima, voltei. 'Posso entrar na sua casa?' Entrei. Tinha umas 15, 20 meninas, sábado de manhã, se arrumando, todas venezuelanas. E eu pergunto: meninas bonitinhas de 14, 15 anos, se arrumando no sábado para quê? Ganhar a vida”, disse o presidente.

O vídeo viralizou nas redes, recebeu críticas de adversários por Bolsonaro dizer que pintou um clima entre ele e as meninas. A equipe do candidato Lula chegou a usar esse vídeo na propaganda eleitoral, mas o ministro Alexandre de Moraes pediu que a peça fosse retirada do horário eleitoral gratuito.

O vídeo incomodou tanto que Bolsonaro fez uma live na madrugada de domingo para explicar o que havia acontecido, contou a versão dele dele, mas não conseguiu explicar a expressão “pintou um clima”.

A dona da casa onde Bolsonaro encontrou as meninas, disse, posteriormente, que na casa é desenvolvido um programa social que busca resgatar a autoestima de refugiadas venezuelanas, através do cuidado com o corpo, maquiagem, e essas coisas que fazem parte do universo da vaidade feminina.

Nesta terça-feira, Bolsonaro gravou um vídeo ao lado da primeira dama Michelle Bolsonaro para tentar explicar que não associou as venezuelanas à prostituição. No vídeo, Bolsonaro se desculpa pelo episódio. Pensavema ter enterrado o assunto com a proibição de Alexandre de Moraes e com esse pedido de perdão, mas eis que surgem novos vídeos, com Bolsonaro falando das mesmas meninas, e sobre o mesmo assunto.

Nesses novos vídeos divulgados por Janja, mulher de Lula, Bolsonaro conta mesma história, dando ao fato a mesma conotação: a de que as meninas venezuelanas estariam se prostituindo. No dia 12 de setembro a um podcast ele declarava: “Eu desci da moto. 'Posso entrar?'. Entrei. Tinha umas 15 meninas dessa faixa etária, 14, 15, 16 anos. Todas muito bem arrumadas. Tinham tomado banho, estavam fazendo o cabelo. Venezuelanas. Estavam se arrumando para quê? Alguém tem ideia? Quer que eu fale? Não vou falar... Para fazer programa. Vocês acham que elas queriam fazer isso? Qual era a fonte de sobrevivência delas? Essa. ”

Em maio, em um evento da Associação Paulista de Supermercados, surge a mesma história: “Eu estive no meio do povo desde quando apareceu o covid. Sem máscara. A imprensa: ‘Oh, sem máscara’. É fácil ficar dentro do Alvorada com toda a mordomia, um milhão de latas de leite condensado lá dentro e vendo o povo se explodir lá fora. Se eu não fizesse isso, não saberia como o povo tá vivendo. Fui para dentro da periferia de Brasília de motocicleta. Entrei numa república de venezuelanas sábado à tarde, dá pra imaginar, pessoal. Sábado à tarde, eu vejo, paro a moto, olho para trás e tem umas meninas de 13, 14 anos, arrumadinhas. Me surpreendeu. Eu voltei. Falei para o ajudante de ordem: ‘Abre uma live’. Tinha umas vinte venezuelanas se arrumando lá dentro. Meninas bonitas de 14, 15 anos, se arrumando para quê? Se arrumando sábado à tarde para quê? É isso que nós queremos para nossas filhas e netas”, disse o presidente na ocasião.

Porém, esse desprezo pelos pobres e pelas minorias é parte da personalidade de Bolsonaro. Na quarta-feira, 12, Lula foi à favela do Complexo do Alemão, no Rio de Janeiro. Usou um boné que trazia as iniciais CPX, abreviatura do nome da favela. Imediatamente, as redes sociais bolsonaristas pipocaram com as inscrições do boné usado por Lula, dizendo que se tratava de “Cupincha”, e que era um termo usado pelo tráfico. Tudo mentira.

No domingo, durante o debate, Bolsonaro disse para Lula que ele estava na favela no meio de traficantes. “Seu Lula, amizade com bandido. Eu conheço o Rio de Janeiro. O senhor teve atualmente no Complexo do Salgueiro, não teve um policial ao seu lado, só traficante. Tanto é verdade a sua afinidade com traficantes e com bandidos, que nos presídios do Brasil, a cada cinco votos, o senhor teve quatro votos”, disse o presidente, desconsiderando que a visita de Lula à comunidade foi organizada por entidades e movimentos sociais, e que nas favelas do Rio há gente honesta e trabalhadora.

À fala de Bolsonaro Lula respondeu: “Os bandidos o senhor sabe onde estavam. Tinha um vizinho seu que tinha 100 armas dentro de casa. Esse não era do Complexo do Alemão. Esse quem sabe morava num apartamento na avenida Copacabana. É acha que bandido está só no lugar dos pobres? Os grandes bandidos estão no lugar dos ricos, os pobres são trabalhadores”.

Este blog gostaria de não ser tão repetitivo e falar de propostas para a fome, o desemprego, a educação, mas, como dito acima, os candidatos se esquecem deste ponto fundamental do programa de qualquer governo.


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Demônios na igreja e no santuário

Posted by Cottidianos on 23:50

 Sexta-feira, 14 de outubro

 


Dia 30 de outubro é dia do eleitor brasileiro voltar às urnas para dar um cheque mate. Para decidir que vai comandar o Brasil pelos próximos quatro anos. Queira Deus que tenham a sabedoria necessária para fazer essa escolha.

Além de presidente, os eleitores dos seguintes estados escolherão seus governadores:

Alagoas – Paulo Dantas (MDB) X Rodrigo Cunha (União Brasil)

Amazonas – Wilson Lima (União Brasil) X Eduardo Braga (MDB)

Bahia – Jerônimo Rodrigues (PT) X ACM Neto (União Brasil)

Espírito Santo – Renato Casagrande (PSB) X Carlos Manato (PL)

Mato Grosso do Sul – Renan Contar (PRTB) X Eduardo Riedel (PSDB)

Paraíba – João Azevedo (PSB) X Pedro Lima (PSDB)

Pernambuco – Marília Arraes (Solidariedade) X Raquel Lyra (PSDB)

Rio Grande do Sul – Onyx Lorenzoni (PL) X Eduardo Leite (PSDB)

Rondônia – Marcos Rocha (União Brasil) X Marcos Rogério (PL)

Santa Catarina – Jorginho Mello (PL) X Décio Lima (PT)

São Paulo – Tarcísio de Freitas (Republicanos) X Fernando Haddad (PT)

Sergipe – Rogério Carvalho (PT) X Fábio Mitidieri (PSD)

A campanha dos candidatos está em pleno vapor, e a coisa que menos os brasileiros tem visto ser debatidas são as propostas que os candidatos tem para melhorar o país. São ataques de todos os lados em uma campanha suja, de ambos os lados. O candidato Jair Bolsonaro enveredou pelo caminho enlameado dos ataques, terreno no qual caminha com maestria, e Lula o seguiu nessa senda.

Está bem tenebroso navegar pelas redes sociais, pois elas estão cheias de mentiras e acusações tanto de um lado como de outro. Se ligamos a TV no horário eleitoral gratuito, as coisas não mudam muito. Enquanto isso, as propostas, item fundamental no debate para a escolha de quem governará uma nação vão sendo deixadas em segundo plano.

Vale sempre ressaltar que os ataques e fakews bolsonaristas são bem mais intensos e violentos, pois, como já disse, esse campo eles dominam bem.

Um caso gravíssimo de fakenews, pelo menos o que mais me chocou, foi produzido pela ex-ministra da Mulher, Família, e Direitos Humanos, Damares Alves, senadora eleita pelo Distrito Federal.

                                                                                                Damares Alves

No último sábado, 8, Damares participava de um culto evangélico na Assembleia de Deus Ministério da Fama, na cidade de Goiânia, Goiás. A pastora começou a pregação, e as palavras que os lábios dela pronunciaram não eram palavras santas, nem orantes, mas, sim, mentiras, inverdades, histórias que basta ouvi-las para que saibamos que se tratam de inverdades. E o que é ainda pior, a ex-ministra se aproveitou de um momento de oração, no qual as pessoas estão, de certa forma, fragilizadas, no qual estão tentando se religarem com o divino.

Damares diz no culto que crianças estariam sendo violentadas. Segundo ela, os casos se originariam na ilha de Marajó, Pará. “Fomos para a Ilha de Marajó e lá nós descobrimos que as nossas crianças estavam sendo traficadas por lá. Nós temos imagens de crianças nossas, brasileiras, de quatro anos, três anos, que, quando cruzam as fronteiras, sequestradas, têm os seus dentinhos arrancados para elas não morderem na hora do sexo oral. Nós descobrimos que essas crianças comem comida pastosa, para o intestino ficar livre para a hora do sexo anal”.

Damares Alves foi ministra da Mulher, Família, e Direitos Humanos no período entre janeiro de 2019 a março de 2022, ainda em sua fala no culto ela afirma que durante o período em que era ministra ela recebeu vídeos que comprovam o que ela dizia. “Eu descobri que nos últimos sete anos no Brasil explodiu o número de estupros de recém-nascidos. Nós temos imagens lá no ministério de crianças de oito dias sendo estupradas. Nós descobrimos que um vídeo de estupro de crianças custa entre R$ 50 mil e R$ 100 mil”.

E, mais uma vez, usa a religião para falar de política: “a guerra contra Bolsonaro que a imprensa levantou, que o Supremo levantou, que o Congresso levantou, acreditem, não é uma guerra política, é uma guerra espiritual”.

Vejam a irresponsabilidade e a gravidade das declarações da senadora recém eleita. Pensem nas crianças que estavam naquela igreja ouvindo aquela fala criminosa, e em como isso afetou o psicológico delas.

Damares disse ainda em sua fala que havia encaminhado essas denúncias às autoridades competentes. Mas que autoridades competentes são essas, não se sabe. A Polícia Federal, o Ministério Público, disseram não ter recebido nenhuma denúncia nos termos postos pela ex-ministra. Entidades que desenvolvem trabalhos com crianças no Pará também disseram desconhecer os fatos citados pela ex-ministra.

Depois que ficou evidente que ela estava mentindo, a ministra disse que a denúncia sobre crianças se baseou em “conversas com o povo na rua”. “O que eu falo no meu vídeo são as conversas que eu tenho com o povo na rua. Eu não tenho acesso, os dados são sigilosos, mas nenhuma denúncia que chegou na ouvidoria deixou de ser encaminhada”, disse ela.

E essa mulher foi eleita senadora. Depois, os eleitores reclamam do Congresso, mas se esquecem de eles mesmo puseram esses irresponsáveis lá.

Outro fato que provocou revolta em quem leva a sério a questão da fé foi o que aconteceu no santuário de Aparecida no dia 12 de outubro, feriado nacional, dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil.

Vendo o público de seus comícios diminuir, Bolsonaro anda em busca de uma foto na qual esteja rodeado de muita gente. No dia 08 de outubro, ele esteve em Belém do Pará, participando de uma das maiores festas religiosas do Brasil: O Círio de Nazaré, festa que homenageia Nossa Senhora de Nazaré.

E no dia 12 de outubro, o presidente foi a Aparecida do Norte. Em Belém, as coisas decorreram dentro de uma certa normalidade. Mas em Aparecida.... Aí os bolsonaristas deram seu showzinho particular.

Sob forte esquema de segurança o presidente foi recebido com vaias e aplausos. Enquanto um grito gritava “mito”, o outro o chamava de “genocida” e “assassino”. Alguns bolsonaristas que assistiam a missa dentro da Basílica vaiaram o padre celebrante. Eles tentaram puxar o coro de “mito’, mas não tiveram adesão. Isso se deu na missa das 14hs. Pe. Eduardo Ribeiro, o celebrante pediu silêncio aos manifestantes e disse aos presentes que preparassem o preparassem o coração, pois tinham ido ali para rezar.  

Do lado de fora, no pátio da basílica, equipes da TV Vanguarda, afiliada da TV Globo, e jornalistas da TV Aparecida, emissora da igreja católica foram hostilizados por apoiadores do presidente.

Na missa a manhã, Dom Orlando Brandes havia dito que o Brasil precisava vencer muitos dragões: “Temos o dragão do ódio, que faz tanto mal. E o dragão da mentira, e a mentira não é de Deus, é do maligno. O dragão do desemprego, o dragão da fome. O dragão da incredulidade”.

Mais tarde, nas redes sociais, apoiadores do presidente disseram que vaiaram o padre por causa da fala na qual destacava o cenário de fome em nosso país. Para eles, falar de fome e tentar fazer alguma coisa pelas pessoas que sofrem é ser esquerdista.

Após esses lamentáveis episódios em Aparecida, o Pe. Zezinho, um dos expoentes da música católica, se afastou das redes sociais. O religioso anunciou que vai se afastar das redes até o dia 31 de outubro, dia seguinte à votação do segundo turno das eleições. “Continuam a dizer que sou mau padre, que sou comunista e que sou traidor de Cristo e da Pátria porque ensino doutrina social cristã. Espero que estes católicos irados que desqualificam qualquer bispo ou padre que ousa ensinar um fiel a pensar como católicos consigam o que querem. Querem um Brasil direitista ou esquerdista, porque está claro que não aceitam nenhuma pregação moderada que propõe diálogo político, social e ecumênico”.

Com certeza, não foi só o Pe. Zezinho que se afastou das redes sociais. O clima por lá anda muito pesado, tenso, contaminado pelas fake news, e dominado pelo ódio. E, enquanto isso, a gente espera que um raio de esperança consiga atravessar toda essa escuridão e nos trazer um pouco de paz.


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Nacionalismo Cristão: Uma ideologia perigosa

Posted by Cottidianos on 12:53

Domingo, 09 de outubro

Extremistas levam palavras fundamentalistas

Templos destruídos no tibet

Divisão da palestina

Guerra civil na síria

Conflitos que a gente nem imagina

Horrores que a gente nem imagina

(Extremistas Fundamentalistas – Supla)

 Começo a postagem de hoje, trazendo um caso de pessoas que fazem a diferença em nosso mundo. Gente que tem um ideal guardado no coração e o põe em prática consegue fazer maravilhas na cidade em que vivem, na comunidade da qual fazem parte, e com isso trazem um pouco mais de felicidade e bem-estar para aqueles que o rodeiam. São as luzes no caminho.

Essa semana, o portal Globo.com trouxe uma reportagem de um homem que, sozinho, conseguiu criar o primeiro parque linear de São Paulo, e um dos maiores do mundo. Esse homem se chama Hélio da Silva, tem 71 anos de idade, e é administrador de empresas.

A região que ele arborizou é a segunda menos arborizada da cidade de São Paulo.  Ele sempre passava pelas margens do córrego Tiquatira, Zona Leste de São Paulo. E o que via era um grande descampando, uma paisagem meio que sem vida. Áreas assim, costumam virar lixões que poluem ainda mais a paisagem.

Tudo surge na mente. Nenhum projeto sai do papel sem ter passado por ela. Poderíamos até fazer uma cronologia do nascimento de um projeto que é: Mente, papel, realidade. E na mente daquele sonhador-realizador, surgiu naquele descampando um grande parque. Então ele arregaçou as mangas e começou a dar vida ao sonho.

Primeiro ele começou plantando 200 árvores. Mas para ser um realizador tem que ser persistente. Nem sempre as coisas dão certo da primeira vez. São inúmeros os obstáculos que aparecem no caminho. No caso de Hélio e sua floresta, os inimigos, os contratempos, vieram dos vândalos que destruíram as mudas.

Poderia ter sido um desestímulo, porém, Hélio plantou o dobro delas. Dessa vez foram 500 mudas. Mas os inimigos da natureza, aqueles a quem a ignorância não permite enxergar mais longe, vieram e destruíram também essa nova plantação.

Hélio dobrou a aposta. Resolveu plantar 10 vezes aquelas 500 mudas. Plantou 5.000 mil mudas. Não se sabe se os vândalos se cansaram de tanta teimosia, ou perceberam que alguém estava tentando fazer algo sério naquele lugar. Enfim, venceu o bem, o sonho, e a teimosia de Hélio. Isso foi em 2003.

Hoje, 2022, já são 37 mil árvores plantadas, até agora, pelo menos, pois o semeador continua a semear cada vez, mais e mais árvores. O Parque do Tiquatira é hoje o quarto maior parque plano do mundo. E é uma joia para os moradores da região, e para a cidade como um todo, pois onde possa haver um pequeno pulmão verde respirando no meio de uma agitada cidade como São Paulo, é algo sempre bem-vindo.  

O Parque do Tiquatira é um exemplo de como uma só pessoa pode fazer a diferença, e transformar aquilo no qual a vida estava esmaecida numa vida com cores vibrantes.

Voltemos nossa atenção agora para a seara política. Nessa, tem muita gente querendo fazer a diferença, mas diferença apenas para si mesmo e para sua família.

Após os resultados das urnas, no domingo à noite, já na segunda-feira, os candidatos que foram ao segundo turno, começaram a sair em campo, a fazer acordos na tentativa de garantir a eleição no dia 30 de outubro. Exatamente daqui há 22 dias.

A primeira pesquisa eleitoral do Datafolha, feita após o resultado do primeiro turno das eleições foi realizada entre quarta-feira, 5, e sexta-feira, 7. Nela, Luís Inácio Lula da Silva (PT) aparece à frente com 53% dos votos, e Jair Bolsonaro (PL) com 47%. Os votos nulos e brancos somam 6%, e os que não sabem ainda em quem votar, ou simplesmente não responderam às perguntas dos entrevistadores, somam 2%. Foram entrevistadas 2.884 pessoas em 170 munícipios.

Lula e Bolsonaro começam a procurar apoios e eles começam a chegar. Bolsonaro conseguiu alguns apoios importantes e bem previsíveis como os dos governadores Romeu Zema (Novo), Claudio Castro (PL), e Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), reeleitos em primeiro turno, respectivamente dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, e Paraná.

 O atual governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, derrotado nas urnas no primeiro turno, também declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro, coisa que provocou certo alvoroço dentro do PSDB, tendo alguns secretários do governo dele pedido exoneração após esse anúncio. O problema é que Garcia tomou a decisão sem consultar a direção do partido.

Lula conseguiu apoio de Simone Tibet (MDB), candidata à presidência no primeiro turno, e de Ciro Gomes (PDT). Tebet terminou a disputa em terceiro lugar com 4,16% dos votos, e Ciro em quarto, com 3,04% dos votos. Apesar de os dois terem declarado apoio a Lula houve uma clara diferença entre eles dois. O apoio da candidata do MDB ao petista foi bem mais efusivo, Tebet, inclusive almoçou com Lula e Geraldo Alckmin. Eles se reuniram na casa de Marta Suplicy, na região dos Jardins, em São Paulo.

Ciro declarou seu apoio ao candidato petista em vídeo publicado nas redes sociais. Porém, diferente de Tebet, o apoio de Ciro foi bem mais tímido, bem mais contido. No vídeo ele nem chega a citar o nome de Lula, apenas se atém a dizer que seguirá as orientações do partido, o PDT.

A campanha segue cheia de ataques de ambos os lados. Um tema bastante explorado nessas eleições tem sido o tema da religião, parece até que os candidatos estão concorrendo a um cargo no Vaticano ou em alguma igreja pentecostal, e isso não é bom, nem para a política, nem para a religião, nem para o Brasil, nem para ninguém. É uma tal de conversa ideológica, de pauta ideológica, que, na verdade, não enche barriga de ninguém. Enquanto isso, problemas graves que o Brasil enfrenta como a fome o desemprego, vão ficando para trás, sem que ninguém dê a devida atenção a eles.

Que a reeleição de Bolsonaro é perigo enorme para a democracia brasileira, isso já é sabido. Essa semana, conversava eu com uma jovem advogada sobre política. Não a conheço, apenas nossos caminhos se cruzaram por alguns minutos, tempo, no qual, deu para travarmos uma conversa.

Ela meu pareceu um protótipo do bolsonarismo. Defende as mesmas ideias que defende qualquer bolsonarista, seja nas grandes cidades, ou nos rincões mais afastados do Brasil. É como se tivessem sido colocados numa forma, e saíssem com as mesmas ideias e os mesmos pensamentos. A certa altura da conversa, ela se mostrou simpática à volta da ditadura. Depois que ela saiu, fiquei pensando em como estava contaminada a mente daquela jovem formada em Direito. Imagina então a mente dos analfabetos bolsonaristas.

Além disso, há o perigo do fundamentalismo religioso. Por baixo disso, há uma escola de extremistas cristãos sendo formada, silenciosamente, mas que pode ser explosiva, se alimentada continuamente, e com a proteção do governo.

É o nacionalismo cristão, ressaltada em uma matéria de hoje, do jornal Folha de São Paulo: “O nacionalismo cristão é uma ideologia política de extrema direita que se vale, quase sempre, de uma gramática religiosa para justificar sua visão de mundo. Invisibilizada e fora do radar, a extrema direita não recebeu a devida atenção no Brasil, tampouco o nacionalismo cristão. Os resultados do primeiro turno das eleições, no entanto, nos mostraram que a democracia brasileira está muito mais em risco do que se poderia imaginar”.

A matéria destaca ainda que o nacionalismo cristão não é apenas coisa de evangélico, católicos, ou qualquer outro grupo cristão, mas que é um movimento global da extrema direita. As ideologias são como uma roupa que o individuo veste e sair por aí com ela. E a do nacionalismo cristão cai muito bem nos ideais da supremacia branca, no autoritarismo, no militarismo, e no antissemitismo.

Despindo o processo eleitoral daquele que é seu significado primeiro, e ignorando o sentido de democracia, a primeira-dama, Michelle Bolsonaro, em um culto do qual participou, em Goiânia, neste sábado, 08, que a disputa eleitoral deste ano de 2022 é uma “guerra espiritual”. Ela participava de um evento promovido pelo grupo Mulheres com Bolsonaro. “Não é uma guerra política, como foi bem colocado aqui, é uma guerra espiritual, onde a gente luta contra a luz das trevas, contra o mal que quer ser instalado no nosso país. E a gente vê como o inimigo é sujo, é astuto, agindo dentro da casa do Senhor”.

O marido dela, o presidente Jair Bolsonaro, já havia dito algo semelhante em 18 de agosto quando fazia campanha eleitoral na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. “Nós sabemos da luta do bem contra o mal. Nós, aqui, sempre pregamos e defendemos a liberdade absoluta. Se uma pessoa se sentir ofendida, que vá à Justiça, mas não podemos criar leis, como a de fake news”.

É como diz um ditado popular: “Não se pode chupar cana e assoviar ao mesmo tempo”. Quando uma pessoa veste a roupa do nacionalismo cristão, ela imediatamente tira a máscara de boa gente, e deixa a mostra a face do mal, do preconceito, e da intolerância, sob a qual se escondiam. Agradam ao diabo pensando estar agradando a Deus. Assim são os extremistas.

A matéria da Folha a qual citei acima termina dizendo: “Ao dizer que colocaria o Brasil acima de tudo e Deus acima de todos, Bolsonaro fez a síntese perfeita do nacionalismo cristão como ideologia de extrema direita, que, a exemplo dos Estados Unidos, vislumbrou tomar o país, literalmente.

Como vê o caro leitor, leitora, há bem mais coisas em jogo nestas eleições de 2022 do que apenas uma eleição, ou a luta pela democracia. 


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A ascensão do fascismo

Posted by Cottidianos on 23:18

 Segunda-feira, 03 de outubro

Acho que a essa altura, o caro leitor, a cara leitora já estar bem informado sobre as eleições brasileiras, ocorridas neste domingo, 02 de outubro. Em uma eleição acirrada não houve definição em primeiro turno, o gran finale ficou mesmo para o dia 30 de outubro.

O ex-presidente Lula terminou a disputa desse primeiro turno na liderança. Ele teve 48,43% dos votos válidos, o equivalente a 57.258.115 votos, enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro, teve 43,20%, o equivalente a 51.071.277 votos.

O Brasil teve, pela primeira vez, um fuso horário unificado para as eleições, que começaram no horário de Brasília em todo o território nacional. Esperava-se que a apuração ocorresse de forma mais célere por causa disso, porém, não foi o que ocorreu. Houve filas muito grandes em várias sessões eleitorais. Os portões abriram as oito horas da manhã, e foram fechados às 17hs, porém os eleitores que estavam dentro da sessão eleitoral precisavam votar. Era um direito deles. Isso fez com que em muitas delas a votação terminasse mais tarde.

Alguns fatos isolados e pitorescos aconteceram, como por exemplo, na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, um homem passou cola nas teclas nos números 1 e 3 de uma urna eletrônica para impedir que os eleitores de Lula não conseguissem votar.  O fato aconteceu por volta da 9h da manhã, uma hora após o início da votação. Fato semelhante também ocorreu em Mato Grosso do Sul, onde outro eleitor também passou cola nas teclas da urna.

Em Goiânia, Goiás, um eleitor entrou com pedaço de pau escondido num guarda chuva e quebrou a urna eletrônica a pauladas. Em todos os casos os delinquentes foram presos.

Mais de 200 urnas eletrônicas tiveram de ser substituídas por causa de problemas técnicos, porém, nada disso tirou o brilho, nem a eficiência delas, que foram tão duramente atacadas pelo presidente Jair Bolsonaro.

Uma nota destoante em toda essa festa foi os institutos de pesquisas. Eles erraram feio. A começar da chapa para a presidência da República. Ao final da apuração a diferença entre Lula e Bolsonaro foi de 5%, quando os institutos previam uma vantagem bem maior de Lula sobre Bolsonaro. Algumas pesquisas chegaram inclusive a apontar uma possível vitória de Lula no primeiro turno.

Em São Paulo, as pesquisas apontavam uma liderança do candidato Fernando Haddad (PT), e em segundo lugar, o candidato do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio Freitas (PL). Vai haver segundo turno entre os dois em São Paulo, como previam as pesquisas, porém, com Tarcísio tendo terminado o primeiro turno à frente de Haddad.

Ainda em São Paulo, na eleição para senador as pesquisas apontavam uma vitória do candidato Márcio França (PSB), e Marcos Pontes (PL). Terminada a apuração quem vai para o senado representando o estado de São Paulo é Marcos Pontes, eleito com ampla margem de votos.

No Rio de Janeiro, as pesquisas indicavam um segundo turno entre Cláudio Castro (PL), e Marcelo Freixo (PSB). Resultado final: Castro venceu as eleições em primeiro turno. Erros como esse se repetiram em vários estados.

Agora os institutos de pesquisas precisam vir a público e explicar porque tão graves distorções no resultado das eleições em relação às pesquisas de intenção de voto. Em 2018, eles também já haviam ocorrido. Estariam eles usando metodologias ultrapassadas?

Após o anúncio do resultado os candidatos se pronunciaram. Na Avenida Paulista, onde estavam reunidos os eleitores do candidato, Lula disse que o segundo turno é apenas uma prorrogação. Ele agradeceu à imprensa. Lembrou que há quatro anos ele era considerado um ser humano jogado fora da política. Falou das dificuldades que o país apresenta, e do seu desejo de recuperá-lo, “inclusive do ponto de vista das suas relações internacionais”, disse ele.

Bolsonaro em seu discurso pós 1º turno destacou a questão da economia: “Eu entendo que tem muito voto que foi pela condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas tem certas mudanças que podem vir para pior”.

Ciro Gomes disse estar preocupado com o que está acontecendo no Brasil: “Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão desafiadora, tão potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte como nação”. Ciro não marcou posicionamento quanto ao que vai fazer no segundo turno. Ele disse que ainda vai conversar com os amigos e com o partido antes de tomar uma decisão. É bem provável que declare apoio a Lula, ape

A candidata Simone Tebet também se pronunciou. Simone disse que não vai se manter neutra e que vai se posicionar. “Não esperem de mim omissão, tomem logo a decisão, porque a minha já está tomada. Eu tenho lado e vou me pronunciar no momento certo. Eu só espero que vocês entendam que esse não é qualquer momento no Brasil”, disse ela. Tebet também vai esperar que a decisão do partido, mas é quase certo que ela declare apoio ao ex-presidente Lula.

O fato é que Jair Bolsonaro deu uma demonstração de força ao eleger os candidatos que apoiou. O PL, partido do presidente conseguiu eleger 8 senadores das 27 vagas disponíveis. Ao todo, o PL terá uma bancada de 15 senadores. Será a maior bancada conservadora, que inclui ainda candidatos de outras siglas, mas que também apoiam e foram apoiados por Jair Bolsonaro, como por exemplo, a recém-eleita, Damaris Alves (Republicanos), ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

Não bastasse isso, o PL também elegeu a maior bancada da Câmara: 99 deputados. Se conseguir se reeleger, Bolsonaro está como diz o ditado popular, “com a faca e o queijo na mão”. Poderá aprovar no Congresso qualquer pauta que queira. Além disso, Bolsonaro ainda poderá indicar dois ministros ao STF.

A partir de hoje, já começam as movimentações no tabuleiro para a jogada do jogo do segundo turno. E há muito jogo para jogar. Mesmo que Simone Tebet e Ciro Gomes decidam apoiar Lula, os votos que eles tiveram serão também transferidos para o candidato? Não se sabe ao certo.

Destas eleições emerge um Brasil muito mais fascista do que em 2018. E isso significa um aumento do ódio, da intolerância, o descaso com a cultura, com a educação e com o meio ambiente. Nas políticas de segurança será privilegiado o armamento da população, e veremos mais aumento de violência. Como o fascismo brasileiro veremos o descaso e o desprezo pelas populações indígenas e pelas minorias. E se a reeleição do Bolsonaro vier como cereja do bolo, então a coisa se torna ainda mais ameaçadora.

O bolsonarismo elegeu Eduardo Pazuello que conduziu muito mal a pandemia da Covid-19, dando espaço, inclusive, para os tratamentos ineficazes contra a Covid. Elegeu também o ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, que propôs passar a boiada e ir quebrando os regramentos ambientais, enquanto a imprensa estava dando destaque para a pandemia de Covid-19.

O PT precisa repensar, urgentemente, sua estratégia para o segundo turno das eleições. Não se pode apenas viver das glórias do passado. Não há como continuar escondendo o jogo para a economia. É hora de botar as cartas na mesa... Antes que seja tarde demais.


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