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Comprar gato por lebre
Posted by Cottidianos
on
00:44
Quarta-feira,
13 de maio
Dois
registros para iniciar esta postagem: um nos enche de orgulho e outro de
tristeza.
Um
é que ontem, 12 de maio, foi o Dia Internacional da Enfermagem. Em um momento
tão difícil, em que eles tem mostrado seu valor, sua bravura, coragem,
dedicação, carinho, e esmero em salvar vidas, muitas vezes, arriscando a
própria vida, vai os aplausos deste blog a esses guerreiros e guerreiras da
saúde!
O
outro registro é bastante difícil de falar, mas é um fato, realidade, e não tem
esconder, fingir que não acontece, ou ignorar. Também neste dia 12, o Brasil
bateu um novo recorde de vítimas do Covid-19 em 24 horas. Foram 881 novos óbitos
confirmados. As estatísticas do Covid-19 no Brasil, segundo dados do Ministério
da Saúde, são os seguintes: 177.589 casos confirmados, 12.400 mortes, e 72.597
pacientes recuperados.
No
último fim de semana, quando o Brasil ultrapassou a marca dos 10.000 casos, o
Congresso decretou luto oficial de três dias. Se os números de casos confirmados
e mortes continuar nessa escalada, corremos o risco de, no próximo fim de
semana chegar perto da marca dos 20.000 mortes por Covid-19.
Em
meio a todo esse tsunami na saúde, o presidente, Jair Bolsonaro, continua a
viver no seu colorido mundo particular, ignorando toda a realidade assombrosa
que estamos vivendo. Ele continua debochando da situação, e criticando os
governadores que, para ele, são um obstáculo a impedir que as pessoas voltem às
ruas. Diz que a preocupação dele é com os desempregados. Mas, nas atuais circunstâncias,
e observando o comportamento e as declarações do presidente, há quem duvide que
ele realmente consiga se colocar no lugar daqueles que sofrem, ao lado dos
menos favorecidos.
Na
segunda-feira, 11, o presidente editou um novo decreto ampliando a lista de
serviços essenciais. Desta vez ele incluiu as barbearias, salões de beleza, e
academias entre os serviços essenciais. Lembrando que esses são locais com alto
risco de contaminação.
Esse
já o terceiro decreto editado pelo presidente tratando da questão. No primeiro
decreto foram incluídos como serviços essenciais os supermercados, farmácias,
serviços de saúde, produção e transmissão de energia, dentre outros.
Na
semana passada, em encontro com empresários, o presidente assinou um terceiro
texto, colocando a produção industrial e a construção civil como essenciais. Em
fins de março, Bolsonaro havia editado um decreto que colocava igrejas e casas
lotéricas entre os serviços essenciais.
E
assim, a lista de serviços essenciais do presidente não para de crescer. O que
também não para de crescer são o número de casos de Covid-19 e o número de
mortes. Do alto de sua insensibilidade, ele diz, em relação a essa questão do
número de mortos: “E daí?”
Na
segunda-feira, 11, foi a primeira vez que ouviu-se o presidente dizer que
lamentava cada morte por coronavírus. Lamentou, mas em seguida editou o novo
decreto, ou seja, lamentou, mas sem lamentar tanto assim.
Ultimamente,
tem sido muitas as críticas ao STF, principalmente por parte dos bolsonaristas.
Mas, em meados de abril, a Suprema Corte tomou uma decisão que, certamente, está
ajudando a salvar milhares de vidas.
Na
quarta-feira, 15 abril, o STF, através de sessão realizada por videoconferência,
decidiu que, além do governo federal, os governos estaduais e municipais tem poder
para determinar as medidas de isolamento social, e restrição de transportes e
trânsito em rodovias. Não fosse isso, estaríamos vivendo no Brasil uma tragédia
muito maior do que a que começamos viver.
Pois,
se dependesse do presidente, estaria todo mundo nas ruas em plena atividade. Desta
sessão do Supremo participaram 9 ministros e todos foram unanimes em afirmar
autonomia de estados e munícipios em relação à questão. A ação foi movida pelo
PDT contra uma medida provisória editada por Jair Bolsonaro, cujo objetivo era
concentrar no governo federal as decisões em relação a questão do coronavírus.
Sábia decisão do STF. O Brasil agradece.
É
baseado nessa decisão que os governadores tem feito ouvidos de mercador aos
decretos do presidente. Com relação ao decreto editado nessa segunda-feira,
alguns governadores e prefeitos já se pronunciaram e disseram que não vão
incluir barbearias, salões de beleza, e academias entre os serviços essenciais.
Em
relação a essa relutância das autoridades estaduais e municipais, Bolsonaro
disse: “Alguns governadores se
manifestaram publicamente que não cumprirão nosso Decreto n°10.344/2020, que
inclui no rol de atividades essenciais as academias, as barbearias e os salões
de beleza. Os governadores que não concordam com o Decreto podem ajuizar ações
na justiça ou, via congressista, entrar com Projeto de Decreto Legislativo. O
afrontar o estado democrático de direito é o pior caminho, aflora o indesejável
autoritarismo no Brasil. Nossa intenção é atender milhões de profissionais, a
maioria humildes, que desejam voltar ao trabalho e levar saúde e renda à
população”.
Basta
olhar para a cena política brasileira para ver que quem afronta o estado
democrático de direito, e envereda pelas sendas do autoritarismo não são os
governadores e prefeitos, mas sim, o próprio presidente.
Se
o novo decreto pegou de surpresa os governadores, imaginem então o ministro da
Saúde, Nelson Teich, que ficou sabendo da medida durante uma entrevista
coletiva.
Em
outro canto do palco da cena política, acontecem os depoimentos no processo
aberto pela Procuradoria Geral da União, para apurar se Bolsonaro tentou
interferir na Polícia Federal, conforme denunciou o ex-ministro da Justiça e da
Segurança Pública, Sérgio Moro. Segundo Moro, foram essas ações de Bolsonaro
que motivaram sua saída do governo.
Ontem,
12, Sérgio Moro, procuradores, um juiz do gabinete do ministro Celso de Mello,
responsável pelo inquérito, e o advogado da União se reuniram para assistir o
vídeo da reunião ministerial que mostra o presidente tentando interferir na PF.
Eles estiveram no Instituto de Criminalística da Polícia Federal para exibição
do vídeo da reunião ocorrida em 22 de abril. O vídeo é apontado pelo
ex-ministro como prova de suas acusações.
Segundo
fontes que assistiram o vídeo, Bolsonaro teria se exaltado e subido o tom
contra a PF ao defender a troca de investigadores no Rio de Janeiro. Segundo o
presidente, seus filhos e familiares estaria sendo perseguidos em investigações
policiais. Até palavrão o presidente falou, segundo essas fontes: “Querem f* com minha família”, teria dito
o presidente.
Bolsonaro
teria dito também aquilo que Sérgio Moro já havia dito: que se o
superintendente da PF no Rio não fosse trocado, ele trocaria o comando geral da
PF, e também o ministro da Justiça, Sérgio Moro. Essas fontes revelaram também a
imprensa que Bolsonaro teria dito que o motivo da troca seria para que as investigações
em curso da Polícia Federal não prejudicassem “a minha família e meus amigos”. Por isso também ele reclamava da
falta de informações sobre o andamento dessas investigações. Também por isso
queria na chefia da PF e na superintendência do Rio, pessoa com a qual tivesse
afinidade.
Na
tal reunião, Bolsonaro teria ficado bravo com o então ministro por causa de uma
portaria redigida por Moro que favorecia o endurecimento das regras de
isolamento social. A proposta de Moro era de que fosse fixada uma multa, por
meio de lei federal, para quem descumprisse a quarentena. A portaria também
estabelecia, em alguns casos, ordens de prisão se a pessoa se recusasse a
obedecer o isolamento social. A ideia era a de que isso funcionasse como
pressão para as pessoas ficarem em casa. Bolsonaro teria exigido de Moro que
explicasse diante dos outros ministros o fato de querer decretar prisão se as
pessoas não quisessem obedecer a quarentena. Esse fato, aliado a pressão para
trocar o comando da PF esquentou o clima da reunião.
Parece
que os brasileiros compraram mesmo gato por lebre ao eleger Jair Bolsonaro para
presidente. Viram nele um baluarte na luta contra a corrupção, e descobriram
que ele não era bem o que pensavam. Mas nem todos abriram os olhos para esse
fato, alguns continuam mais cegos do que antes. Quando será que os mais exaltados
bolsonaristas abrirão os olhos? Quando estiverem à beira do precipício? Aí já
será tarde demais.
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