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Pátria minha

Posted by Cottidianos on 00:58
Segunda-feira, 30 de julho
No tabuleiro da baiana tem

Vatapá, oi
Caruru
Mungunzá
Tem umbu
Pra ioiô
Se eu pedir você me dá
O seu coração
Seu amor de Iaiá
(No Tabuleiro Da Baiana – Ary Barroso)



 Afasto as cortinas da janela e olho para o horizonte que se descortina sobre as cidades e os montes de minha pátria.  O vento brando que acaricia minha face é a própria expressão da liberdade.
Em um passado distante essa terra já foi coberta por escravos, africanos e afro-brasileiros que derramavam seu suor, seu sangue e suas lágrimas para enriquecer a coroa portuguesa e os coronéis, que aqui reinavam, imperativa e impiedosamente, de norte a sul, e de leste a oeste, na nova terra recém-descoberta.
Hoje, diz-se do Brasil que é uma terra de homens livres. Reflito um instante... Homens livres pelo direito de ir e vir? Mas será que desfrutamos desse direito básico e fundamental a todo mortal?
Se os jovens da periferia vão aos shoppings e eles são mais de um, então é rolezinho, é bandidagem entrando na área dos bacanas. Nas favelas, o governo não chega. Chegam as milícias e o tráfico de drogas, que ali são a lei e a ordem numa completa inversão de papeis que ultrajam os princípios democráticos.
Se for homem do asfalto ele também tem que andar pelas ruas da própria cidade, receoso. Tem que colocar uma parafernália de equipamentos de segurança nos condomínios fechados onde vivem. Também eles não podem circular livremente por esta ou aquela área da cidade.
Então, ò senhora liberdade onde estás?
As vozes do passado sopram em meus ouvidos e dizem que o homem recebe a paga pelo seu trabalho em dinheiro, e não mais em chicotadas como nos tempos antigos. Mas estes, até mesmo estes, que trabalham de sol a sol podem dar vidas dignas aos seus filhos e netos? Ora, pois como podem se dar a este luxo se o parco salário que recebem dá apenas, e muito mal, para suprir-lhe do básico e do necessário para sobreviver?
Sobra-nos a liberdade de pensar. Ah, mas como são poucos os que pensam por si próprios. A grande maioria ainda se comporta como massa de manobra nas mãos dos mesmos coronéis de antigamente, perpetuados na figura dos seus filhos, bisnetos e tataranetos, que hoje usam terno e gravata, tendo muitos deles enveredado pelo mundo da política. Homens esses que continuam ainda, de outros modos, a praticar o chamado “voto de cabresto”.
Uma rápida consulta online as páginas da enciclopédia eletrônica Wikipédia vai nos dizer que voto de cabresto é “um sistema de controle de poder político através da compra de votos com a utilização da máquina pública ou o abuso de poder. É um mecanismo muito recorrente no interior do Brasil como característica do coronelismo.”
Porém, quem pensa que o voto de cabresto praticado no passado nas fazendas espalhadas pelo Brasil afora morreu, está enganado. Ele apenas adquiriu novas roupagens, novos modos de existir. E quem disse que hoje ele se limita apenas ao interior do Brasil? É bom ficar de olhos abertos, pois se, no passado, os coronéis compravam votos, hoje eles comprar consciências. E a consciência de cidadania que se vende, não vale nada. É uma consciência ordinária.
Certa vez, aquele homem sábio, que viveu há dois mil anos atrás e que muitos ensinamentos nos deixou, aquele homem que se tornou conhecido como Jesus Cristo, ele disse aos seus discípulos: “Ninguém põe um remendo de pano novo numa veste velha, porque arrancaria uma parte da veste e o rasgão ficaria pior. Não se coloca tampouco vinho novo em odres velhos; do contrário, os odres se rompem, o vinho se derrama e os odres se perdem. Coloca-se, porém, o vinho novo em odres novos, e assim tanto um como outro se conservam”.
Ora, pois o que temos feito na política brasileira desde sempre não é, justamente, colocar remendo de pano novo em roupa velha e vinho novo em odres velhos? Fazendo isso, o resultado sempre ruim, será sempre negativo. Nunca obteremos os resultados que esperamos em relação ao futuro do Brasil e o que se espera dele como prática se continuarmos agindo assim.
Caminhamos, a passos largos, para mais uma eleição e o que vemos a se apresentar para nós como candidatos? Não lhe parece um cheiro de coisa velha, peças de museu? Algumas delas, além de museus, nos remetem a lembranças de porões, de torturas, e de sofrimentos da época da ditadura.
Onde está minha pátria, a renovação de teus quadros políticos que venham soprar sobre nós os ventos da esperança, da bonança, da paz e da prosperidade? Em qual canto do país estarão escondidas estas novas consciências? Ainda estarão por nascer?
Enquanto essa renovação não vier, seremos como carros na estrada ao qual trocamos apenas as rodas e o capô, enquanto que o motor permanece sempre velho e roto, fazendo com que a viagem seja sempre cheia de altos e baixos, e nunca uma viagem tranqüila e confortável.
Diz a letra do Hino Pátrio: “Ó pátria amada, Idolatrada, Salve! Salve!”
Mas pátria, o que? Quem és?
Recuso-me a te definir apenas com o conceito frio dos dicionários que dizem que és o “país em que se nasceu, e o qual se pertence como cidadão”. Não, minha pátria, és muito mais que isso. Eu e tu somos um. Se tu és a raiz, sou tua árvore. Se tu és arvore, sou teus frutos. Se tu és rosa, sou teu perfume.
Não és perfeita, como gostaria que fosses, sem problemas, sem o mar de corrupção que te tomou. Mas, mesmo com todos os defeitos, és o chão no qual meus pés pisaram pela primeira vez, foi o ar de tua terra que encheu e revigorou meus pulmões me trazendo o sopro da vida, quando eu, tenro ser, saí do ventre de minha mãe.
Fico a imaginar como é estar longe de ti, e ficar a te olhar, como um viajante espacial olha de lá alto a Terra aqui embaixo. Quanta vontade de ganhar asas velozes e de ir até onde estás, te sentir, te abraçar, te chamar apenas e carinhosamente de minha pátria.
Ah, quão bem expressou essa saudade de ti o poeta, Gonçalves Dias, quando escreveu os versos de Canção do Exílio, poesia na qual diz:
Canção do Exílio
Gonçalves Dias

Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.
...
Se o céu está cinzento, oh, brasileiros, e brasileiras, não desanimeis! Um dia o vosso país cumprirá o seu destino de ser uma terra onde corre e leite mel. Leite e mel já existem correndo em vosso solo em abundancia, basta apenas que esses recursos sejam bem explorados, aproveitados, e, importante detalhe, bem distribuído por entre a população carente de recursos e de sonhos.
Para terminar esta reflexão, ou para continuares refletindo naquela terra que te pariu, e de quem és filho amado, deixo-te esta reflexão em forma de poesia, escrita pelo grande poeta, Vinicius de Moraes. Com vocês, Pátria Minha, Vinicius de Moraes.

***
Vinicius de Moraes

Pátria Minha
Vinicius de Moraes


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos...
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação e o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu...

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda...
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha... A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamen
Que um dia traduzi num exame escrito:
"Liberta que serás também"
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão...
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
"Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes."

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Soldados do ex-presidente

Posted by Cottidianos on 00:57

Segunda-feira, 23 de julho

Dias Toffoli e Lula

O sistema que suga os recursos do país é como um monstro que se alimenta das energias de sua presa. Ele é mutante, como um vírus. Quando uma vacina ou remédio que pode destruí-lo é encontrado, ele sempre dá um jeito de se realimentar, de se reinventar. Tem sido há mais de quinhentos anos. O monstro nasceu durante o Brasil colônia, se metamoforseou durante o Império, e se reinventou na República.
Nos recônditos escondido de algumas consciências esclarecidas que habitam os três poderes da República há uma trama velada para que ele seja mantido. Segundo essas consciências, a corrupção não deve ser extirpada e os culpados não devem ser punidos.
Se os braços da lei chegar até eles e colocar algemas em seus pulsos é hora de agir de deixar que os criminosos fiquem livres. Segundo essas consciências esclarecidas a corrupção é necessária para continuar enriquecendo uns poucos e empobrecendo a maioria.
Isso tem se tornado muito claro nas decisões polemicas dadas, especialmente pela segunda turma do Supremo Tribunal Federal, composta pelos ministros: Ricardo Lewandowisk, Celso de Melo, Gilmar Mendes, Dias Toffoli, e Edson Fachin. Gilmar Mendes chegou, inclusive, em certos debates em plenário do STF, a debochar dos colegas que pediam uma punição mais incisiva em determinados casos.
O pior é que tudo acontece dentro de uma coisa chamada interpretação da lei. Engraçado é que essa questão acabou transformando o órgão máximo judicial no país em uma casa de mãe Joana, na qual cada um interpreta a lei de acordo com suas convicções e interesses pessoais, deixando de lado os interesses da nação. É certo que um Tribunal não deve agir baseado no que diz a opinião pública. Os ministros que o compõem não devem estar entregues ao bailado perigoso das paixões. Mas também não devem caminhar em contrário ao estabelecimento dos princípios morais e éticos da nação.
Para o ministro Dias Toffoli deve ter sido um martírio grande ver o ex-ministro José Dirceu condenado e  preso por envolvimento tanto no mensalão quanto na Lava Jato.
O fato é que o ministro tem uma relação muito forte com o Partido dos Trabalhadores e com o próprio José Dirceu. Em outubro de 2009, durante o governo do ex- presidente Lula, Toffoli, foi nomeado de ministro do STF.
Dias Toffoli havia sido consultor jurídico da CUT, assessor parlamentar na assembléia legislativa de São Paulo, além de ter sido advogado de Lula nas campanhas de 1998, 2002, e 2006. Quando foi nomeado ministro da Corte máxima do país, ele exercia o cargo de advogado geral da União.
Foi da segunda turma do STF, a decisão de soltar José Dirceu, em 26 de junho deste ano, em iniciativa, adivinhem de quem? Acertou se você falou que foi manobra do relator do caso, Dias Toffoli. Durante a sessão que julgou o caso, Toffoli entendeu que havia problemas em relação à dosimetria na pena de Dirceu. Diante disso o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no STF, pediu vistas do processo.
O astuto ministro, tendo em vista que era a última semana de atividades do judiciário antes do recesso, sugeriu que fosse votado um habeas corpus de ofício ao ex-ministro.
Não estando presente o ministro Celso de Melo, e sendo Fachin voto vencido, Toffoli foi acompanhando em seu voto por Lewandowisk e Gilmar Mendes. Estava feito o oba-oba e Dirceu liberto. Vai esperar em liberdade uma reclamação apresentada pela defesa dele.
Mas, apenas libertar o ex-chefe não era suficiente. Era preciso livrá-lo de qualquer constrangimento. Então, no início deste mês, Toffoli mandou retirar as tornozeleiras eletrônicas do envolvido no escândalo do mensalão e também na Lava Jato. O argumento foi o de que o juiz, Sérgio Moro, havia extrapolado sua competência ao impor medidas cautelares a Dirceu. Detalhe: o ministro tomou essa decisão sem que houvesse, por parte da defesa do ex-ministro, nenhum pedido em relação a isso.
Falando em relação a esse assunto, o procurador da Republica, Deltan Dallagnol, que atua na Lava Jato, insinuou em sua rede social que o ministro do STF havia agido como advogado de defesa de Dirceu. “Naturalmente, cautelares voltavam a valer. Agora, Toffoli cancela cautelares de seu ex-chefe”, ironizou ele no Twitter. Além das relações de Toffoli com o PT, e com Lula, vale lembrar também que o ministro foi subchefe para Assuntos Jurídicos, quando Dirceu era ministro da Casa Civil.
A decisão de Toffoli também derrubou outras cautelares impostas por Moro a José Dirceu, como a entrega de passaporte e proibição de se comunicar com outros acusados e testemunhas envolvidas no processo.
Certamente, o que impediu o ministro Dias Toffoli de ser muito mais generoso com José Dirceu foi a grande pressão da imprensa e da sociedade que voltaram os olhos ainda mais para o STF, após o explosão das denuncias da Lava Jato, e anteriormente, por ocasião das condenações do mensalão.
 E porque essas coisas são fonte de preocupação?
Ora, em 12 de setembro Dias Toffoli assumirá o cargo de presidente do Supremo Tribunal Federal. Um mês antes da eleições gerais. Ele substituíra a ministra Cármem Lúcia na presidência do Supremo.
Talvez isso explique a obsessão dos petistas em manter Lula como candidato, mesmo ele estando condenando em segunda instância, e a Lei da Ficha impedir que candidatos em segunda instância possam disputar eleições. Os petistas estão procurando, desesperadamente, e de todas as formas, um cenário no qual Lula possa driblar todas essas complicações e concorrer ao pleito. O partido continua afirmando que lançará a candidatura do petista em agosto.
Vamos supor que os petistas consigam furar o bloqueio e lançar Lula como candidato, e supondo mais além, que ele seja eleito e tenha a candidatura impugnada pela Justiça Eleitoral. Nesse caso, o STF pode ser acionado para tomar uma decisão delicada: Lula, escolhido pela maioria dos brasileiros, deve ou não assumir o cargo.
Com um soldado do PT a comandar a Suprema Corte, a decisão de que Lula assuma presidência é quase certa.
Falando em soldados do PT, e do ex-presidente Lula, vocês, certamente, devem ter acompanhado a queda de braço envolvendo desembargadores do TRF-4 e o juiz Sérgio Moro. A novela aconteceu no dia 08 de julho. O desembargador de Plantão naquele dia, naquele órgão do Judiciário, Rogério Fravetto, disse haver fato novo relacionado ao ex-presidente Lula que era a pré-candidatura dele à presidência, e expediu ordem de soltura. O juiz Sérgio Moro, que estava de férias, entrou na briga e, em despacho, afirmou que o desembargador não tinha competência para soltar Lula. Entrou também na briga o relator do caso, João Pedro Gebran Neto, e Carlos Eduardo Thompson Flores, presidente do TRF-4. Ao final dessa queda de braço, o ex-presidente continuou preso.
E assim foi mais uma queda de braço e mais um desgaste para o judiciário... E mais um fato político criado pelo PT que acabou não dando em nada.
Na verdade, toda essa confusão é apenas o sistema corrupto querendo, novamente, se metamorfosear.
É bom ficar de olho em todos esses cenários políticos para não sermos pegos de surpresa.
O fato é que a corrida à cadeira presidencial já começou e já temos candidatos confirmados. Até agora, são eles: Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), Jair Bolsonaro (PSL), Paulo Rabello de Castro (PSC), Vera Lúcia (PSTU), e Jair Bolsonaro (PSL).

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Devaneios e realidades de um brasileiro

Posted by Cottidianos on 00:19
Terça-feira, 17 de julho




Tarde de domingo. 15 de julho de 2018
Das janelas do apartamento no 9º andar olho por sobre a cidade. Fogos explodem por todos os lados, de norte a sul, de leste a oeste. As buzinas dos carros soltam gritos estridentes de alegria, porém, não o suficiente para abafar o brado de vitória da multidão que desfila pelas ruas. Bandeiras brasileiras descem como cachoeira dos apartamentos em redor e bailam ao vento como treinadas bailarinas.
Os símbolos nacionais também desfilam nas ruas em camisas, bonés, shorts, bermudas. Fico pensando em quão bom seria se os símbolos pátrios fossem ostentados com orgulhos em tantas outras situações em que o patriotismo é exigido, mas não exercido pelos brasileiros.
Parece até que somos apenas o país do futebol. Isso é bom, mas queremos muito mais, queremos ser o país da educação, da saúde, da segurança, da arte, da cultura, e de todos os frutos bons que uma administração justa pode proporcionar.
Enfim, o país está em festa. Somos campões do mundo no futebol. Conquistamos mais um título.
Volto os olhos para dentro do apartamento e meus olhos fixam a tela mágica da televisão. Os franceses levantam a taça de melhores do mundo na Rússia. Fogos explodem nos céus franceses. Por lá também carros buzinam de alegria e pessoas soltam brados de vitória.
Isso é o suficiente para me tirar dos meus devaneios e me trazer de volta a realidade: na Rússia, o Brasil caiu ainda nas quartas de final.
Não estamos em 1994, quando o Brasil conquistou o tetracampeonato nos Estados Unidos da América, em 17 de julho, no estádio Rose Bowl, na cidade de Pasadena. Há quanto tempo mesmo isso aconteceu? Vinte quatro anos! Exatos vinte e quatro anos.

Depois veio o mundial do Japão, em 2002, e o Brasil colocou a quinta estrela na camisa. Fomos pentacampeões naquele ano. Ficamos com sede da sexta estrela, mas o hexacampeonato ainda não veio para nós da Rússia. Paciência, esperemos mais quatro anos. Em 2022, no Catar, quem sabe?
Temos cinco títulos no futebol, é verdade. Ninguém tira esse título da seleção brasileira. Entretanto, de lá para cá o Brasil parece ter entrado em declínio, também no futebol. O país continua fabricando craques, mas eles não ficam aqui. Seguindo uma tendência mundial os melhores jogadores são pescados pelos times europeus e viram totens sagrados que rendem milhões de dólares aos clubes e aos atletas.
O país poderia ser ainda muito mais pródigo no fabrico de craques se desenvolvesse estruturas que possibilitassem que crianças e jovens das classes menos privilegiadas como as que moram nas favelas e em outros bolsões de pobreza pelo país afora ousem sonhar com um futuro no esporte, coisa que, certamente, os afastaria da marginalidade e da sedução oferecida pelo tráfico de drogas.
Dentre os craques que participaram do mundo na Rússia, certamente, o que saiu de lá com a imagem mais arranhada foi Neymar. Quantos memes na Internet! Quantas piadas se fizeram em relação a mania do craque cair em cada encostada do adversário! Um jogador de fama internacional só pode ser alvo de piadas de nível internacional, e elas foram feitas em todos os cantos de mundo.
Isso aconteceu durante uma partida no famoso torneio de tênis de Wimbledon, na qual, durante uma partida de duplas, o tenista sueco Jonas Björkman, ao levar uma bolada nas costas, imita as simulações de Neymar. Uma rede de fast-food na África do Sul fez uma propaganda de seus produtos imitando as simulações de faltas do craque brasileiro. A atuação do atleta também foi alvo de críticas também por parte de técnicos, jogadores, ex-jogadores, e da mídia internacional. As críticas a Neymar já vem acontecendo faz tempo, tendo como auge a atuação dele nos gramados russos.
A mídia brasileira também criticou o jogador, porém com parcimônia, principalmente a Rede Globo, que foi detentora dos direitos de transmissão do mundial. Quanto a CBF, a entidade blinda o jogador.
Neymar é um grande craque? Sem dúvida que é. Tem um grande potencial? Sim, isso é indiscutível. Entretanto, precisa amadurecer, entender que precisa ser diferente, e caminhar no sentido de que, querendo levar vantagem em tudo, usando de artimanhas e malandragens, acaba-se perdendo muito mais. De tanto simular faltas, quando ele as sofre de verdade ninguém acredita, como acontece em um conto presente nas fábulas de Esopo e dos Irmãos Grim, chamada O Pastor e o Lobo, citada abaixo:
O Pastor e o Lobo
— Um pastor de ovelhas achava a vida muito monótona. Por isso, inventava de tudo para se distrair. A sua diversão favorita era fingir que estava em apuros.
— Um lobo! Socorro! Socorro! —Costumava gritar aos quatro ventos.
Quando as pessoas do povoado vinham em seu socorro, encontravam-no perfeitamente seguro, rindo a valer.
Um dia apareceu um lobo de verdade na frente do pastor. Desesperado, ele começou a gritar como sempre fazia:
— Um lobo! Socorro! Socorro!
Desta vez ninguém veio socorrê-lo, e o pastor teve de se esconder em cima de uma moita de espinhos, enquanto o lobo devorava todas as suas ovelhas.
Moral: Quando os mentirosos falam a verdade, ninguém acredita.
Ainda sobre esse assunto: craques do nível de Leonel Messi, Cristiano Ronaldo, e Mohamed Salah, voltaram para casa mais cedo, sofreram críticas, é verdade, mas não saíram da Rússia com a imagem arranhada, pois o público viu que eles se portaram, dentro daquilo a que se propuseram, com seriedade. O que se espera de nosso craque Neymar é um pouco mais de maturidade e profissionalismo.
Vale a pena destacar também que a mídia nacional precisa parar de paparicar o Neymar, talvez assim ele sinta que precisa evoluir no seu estilo e nas suas concepções do que seja ser um bom atleta. Já por duas vezes a mídia depositou a sua confiança e apostou todas as suas fichas no craque, e nas duas vezes o retorno foi pífio. Na Copa de 2014, no Brasil, a fatalidade da joelhada do colombiano Zúñiga, tirou o brasileiro da disputa. Dessa vez, na Rússia, Neymar voltava recuperado de uma fratura no quinto metatarso do pé direito e saiu do mundial com o apelido de jogador cai-cai.
A 21ª edição da Copa do Mundo, realizada na Rússia foi um sucesso. O mundo invadiu o país dos czares e o povo russo amou essa invasão de cores, de sons, de folia, e de muito futebol.
Foi um campeonato cheio de surpresas. A começar pela seleção anfitriã que chegou ao mundial desacreditada. Um dos comentaristas da Globo chegou a dizer em sua análise que o jogo de abertura da Copa de 2018 seria um dos piores de toda a competição, e o que se viu foi um jogo em que os russos partiram para o ataque e cravaram um placar de 5X1 em cima da Arábia Saudita. E a Rússia seguiu valente até as quartas de final quando caiu, bravamente, diante da Croácia que venceu a partida após um grande jogo que acabou nas cobranças de pênaltis.
Seleções de quem se esperava muito acabaram indo embora mais cedo como por exemplo, Alemanha, Argentina, Espanha e Brasil.
Ficou para o final, como não poderia deixar de ser o grande duelo entre Croácia e França na qual venceu o profissionalismo e a técnica da equipe da França. Da parte dos Croatas, também houve profissionalismo e competência, mas a sorte esteve do lado dos franceses. No futebol tem dessas coisas: uma pitada de sorte acaba decidindo o campeão.
Por tudo isso nos ficou a certeza de que o planeta futebol é o reino do imprevisível. Poderíamos até dizer que é um jogo de xadrez no qual as peças se reordenam a cada jogada independentemente da vontade dos jogadores.
Tiro os olhos um pouco das imagens da cerimônia de premiação e volto-os novamente para a cidade através da janela do apartamento e vejo um Brasil no qual os habitantes podem andar pelas ruas a qualquer hora do dia ou da noite em perfeita segurança. Uma cidade onde as pessoas não precisam colocar grades e câmeras de vigilâncias em suas residências com medo de assaltos.
No país que vejo também jorram grandes investimentos na área da educação e da saúde. Há também excelentes projetos de incentivo ao esporte, pois os governos entendem que educação, cultura e esporte são a gasolina que moverão as crianças e adolescentes rumo a um futuro digno no qual atletas e cientistas ganharão medalhas de ouro que enaltecerão a pátria Brasil.
Volto os olhos novamente para a televisão e as imagens me dizem que, dessa vez, não são apenas devaneios, mas uma realidade dura a ser encarada e possível de ser mudada. Fico com a sensação de que, se quisermos, podemos fazer diferente e transformar devaneios em realidade.

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Pai, mata nossa fome de títulos

Posted by Cottidianos on 13:41
Domingo, 08 de julho


As grandes batalhas épicas, seja no cinema, na literatura, ou na literatura adaptada ao cinema, sempre nos maravilharam, sempre grudaram nossos olhos nos livros ou nas telas. Na grande maioria desses enredos estão explicitas ou implícitas a guerra entre o bem e o mal. Ficamos sempre na expectativa de que, ao final, o bem se sagre vencedor, derrotando o mal.
O engraçado é que ao fazermos isso, ao mergulhamos nessa cartasse que a ficção nos proporciona, nos esquecemos de que, dentro de cada um nós habita um guerreiro, uma guerreira, e que, todos nós, habitantes do planeta terra, vivemos todos os dias nossas pequenas batalhas, que, às vezes se tornam grandes batalhas, mas todas elas exigindo de nós a força e a coragem que vemos projetadas nos heróis da ficção.
Assim foi e assim sempre será pois a terra é um plano de expiação, de provas, de sacrifícios. E, como plano de expiação que é o nosso planeta, essas batalhas diárias devem servir para nos aperfeiçoam, nos esmerar — como se esmeram as joias — com a finalidade de que, ao atingirmos os planos superiores, tenhamos nos livrado, se não de todas, mas de muitas das correntes que atrasam o nosso caminhar, o nosso evoluir constante.
Em todas as batalhas fictícias ou não, épicas ou não, sempre nos deparamos com a figura dos guerreiros, estejam eles a serviço do bem ou do mal, não há conflito entre rivais sem a figura desses bravos. Ainda dentre esses é possível notar que sempre há os fortes, aqueles que encaram as dificuldades de frente, olho no olho. Esses sabem que, mesmo, às vezes, perdendo uma batalha, contudo não perderam a guerra, e, do intimo de seus corações, buscam forças para continuar lutando, sem fraquejar, nem desanimar.
Por outro lado, há aqueles que tem medo, que não arriscam, que se acovardam ante o menor sinal de maré revolta. Perdem uma batalha e desistem achando que aquela luta perdida era a guerra inteira.
Lembremos também que a atitude contagia. Em uma cena de uma antiga minissérie, exibida no Brasil pela Rede Globo de Televisão com o nome de V: A Batalha Final, a comandante dos terráqueos que travavam batalha com extraterrestres que invadiram a terra, confessava para alguém do seu staff que estava com medo de perder essa luta. O seu interlocutor, porém, lhe advertiu que ela, pela posição que ocupava, poderia até sentir medo, mas não deveria demonstrar esse medo, ao contrário, deveria sempre, diante de seus comandados, demonstrar coragem e altivez.  Ela seguiu o conselho e os terráqueos sagraram-se vencedores daquela contenda.
Isso demonstra que a atitude de um bom comandante, de uma boa comandante um bom capitão, ou boa capitã, seja em um exercito, seja nas profissões liberais, seja no recesso do lar, pode não determinar a vitória, mas é fundamental para que ela ocorra. Ninguém vence batalha com atitude derrotista, mas sim com o brio, a coragem, e a determinação própria dos vencedores.
Falando em guerras e batalhas, essas últimas continuam a todo vapor nos verdes gramados dos estádios russos, país no qual ocorre os jogos da Copa do Mundo 2018. E elas tem sido de tirar o folego.
No atual planeta futebol, recheado de astros e constelações, favoritismo é uma palavra que anda em escassez. Antigamente, em tempos remotos, essa palavra pode até ter tido força para confirmar e consagrar campeões, mas com a nova estrutura e o novo desenho do futebol mundial as coisas mudaram bastante.
Nessa Copa de resultados imprevisíveis, os favoritos, um a um, foram fazendo as suas malas e retornando para seus países ou clubes de origem.
As grandes estrelas do mundo do futebol; o egípcio Mohamed Salah, o argentino Leonel Messi, o português Cristiano Ronaldo, o brasileiro Neymar Junior não conseguiram o objetivo principal a que se propuseram nesse torneio. Isso sem falar da constelação alemã que, vitoriosa na última copa, dessa vez voltou para casa bem mais cedo.
Sem dúvida, esses craques tem o seu valor e o seu talento e nem que quiséssemos poderíamos lhes tirar o mérito e muito menos a fama e a admiração que provocam em milhões de seguidores. Apesar de terem sido derrotados nos campos na Rússia e de não terem feito fulgurar seu brilho nos estádios daquele país, eles seguem craques e soberanos. Apenas lembrando que cada rei tem o seu período para sustentar cetro e coroa e que a sucessão é inevitável. Pode demorar alguns anos, mas outros reis e novas estrelas surgirão em algum momento da história. Dizem que o francês Kylian Mbappé é candidato à coroa, mas isso só os próximos jogos e, principalmente, o tempo dirão.
Todo esses resultados na Copa da Rússia e que nos deixam de queixo caído apenas mostram que, no futebol, o que determina a vitória é o coletivo. Um jogador apenas por ter nome e fama não é capaz de levar sua seleção a levantar, em um campeonato tão importante como a Copa do Mundo, a taça de campeão, de melhor do mundo.
Eles podem até jogar bem em suas equipes de base, pois estão juntos e rodeados de atletas do mesmo nível e com os quais tem um trabalho e uma interação, entretanto, em suas seleções de origem não possuem o mesmo rendimento, pois nem todos tem o mesmo talento, e, com esse novo desenho do futebol moderno em que cada jogador desenvolve seu trabalho em clubes diferentes, com filosofias de trabalho e metodologias diferentes, o tempo que lhes resta para fazerem um trabalho bem coordenado junto com seus patrícios acabam sendo muito pouco.
Tudo isso que temos visto nesta Copa, pode ser muito bem resumido pelas palavras do jornalista e escritor, Nirlando Ribeiro. Ainda por ocasião da Copa de 2014, ele escreveu o artigo, Jogar mal e vencer: a síndrome do campeão. Nesse artigo — falando do jogo de estreia em que o Brasil, seleção anfitriã jogou contra a Croácia, e venceu pelo placar de 3x1 — ele escreve: “O futebol não combina com a justiça dos homens. Derrotas e vitórias resultam de fatores aleatórios como os lances de dados de um jogo de azar. Já que esporte coletivo, alguma lógica se impõe na soma dos talentos individuais e no esmero da preparação do conjunto. Tudo bem: a solidez de certas equipes, a tradição vencedora, a força intimidatória da torcida presumem a existência de favoritos e azarões. Mas a surpresa espreita, a cada passe, a cada chute, a cada cabeçada, a cada escanteio e, é o que se vê, a cada apito. Esta é a graça da coisa. No futebol, o erro determina mais do que o acerto”.
Talvez essa tenha sido a Copa no qual as surpresas estiveram mais serelepes, mais ativas, tão mais à espreita. Estamos a uma semana da grande final e elas ainda podem nos surpreender ainda mais. É como diz Galvão Bueno, narrador esportivo: Haja coração!
E assim chegamos ao Brasil.
Ah, Brasil!
Estás atualmente em teu Calvário, à semelhança do homem de Nazaré. Os escribas e fariseus da política e alguns do empresariado te chicoteiam, te cospem na face, te humilham. Colocam uma coroa de espinho na tua cabeça, e te pregam na cruz. Agonizas, como agonizava o nazareno. Porém, como ele, ressuscitarás glorioso, algum dia. Não precisa nem ser ao terceiro dia, à exemplo dele, mas basta que ressuscites.
Isso é tudo o que esperam os teus amados filhos e diletos discípulos.
Talvez por que nos campeonatos mais sérios, desses que tratam de vida humanas e da qualidade delas, como por exemplo, educação e segurança, amargamos os últimos lugares, e faz tempo que nesses torneios não levantamos a taça de melhor do mundo é isso que talvez explique a nossa fome de títulos em um campeonato de futebol.
E mais uma Copa do Mundo e o hexa não veio. As praças do Brasil, cheias de milhares de pessoas de todas as idades, raças, e cores, silenciaram ante o segundo gol que garantiu a classificação da Bélgica para as semifinais. É futebol. É jogo de resultado. Ganha quem faz mais gols, quem está mais preparado e quem sabe melhor fazer da sorte sua parceira na disputa. E os belgas foram melhores nessa partida... E seguem na briga pelo título.
À seleção brasileira, restou arrumar as malas... E voltar para casa. Os jogadores de nossa seleção desembarcaram no Aeroporto Internacional do Rio, juntamente com o técnico Tite, sete jogadores, e a comissão técnica. Apenas pouco mais de meia dúzia de torcedores os esperavam no aeroporto. Uma chegada melancólica, como melancólicos ficaram os fãs do futebol após a derrota para equipe belga. O hexa não veio para nós dos gramados russos. Virá para alguém, com certeza. Pois no futebol, como nas grandes ou pequenas batalhas, quando um perde o outro ganha.
De qualquer modo, o Tite merece os parabéns, pois sem ele no comando talvez a seleção brasileira nem tivesse ido ao mundial na Rússia de tão ruim que estava a coisa. Os jogadores também merecem os parabéns. Jogaram um pouquinho melhor do na Copa de 2014, jogando em casa, quando pareciam estar mais era jogando pelada em um campo qualquer.
Creio que eles agora eles tenham entendido que um campeonato no qual se decide o melhor do mundo, é preciso mais garra, mais empenho, mais dedicação. Que alguns jogadores amadureçam e parem de cair a cada encostada do jogador do time rival, ou seria melhor que caíssem de vez? Caíssem de vez na realidade de que são atletas excelentes e que podem muito mais do que o futebol que apresentam.
É isso. O que resta agora é aguardar a próxima Copa, daqui a quatro anos. Provavelmente, o vencedor deste campeonato seja alguém já vencedor nas áreas de economia, educação, saúde, segurança, arte, e cultura. O título no futebol será apenas a cereja do bolo. Quisera Deus que o título no esporte fosse também para nós apenas a cereja do bolo, porém, mesmo que ganhássemos esse campeonato e fossemos hexa campeões tudo continuaria igual por aqui, com o país descendo ladeira abaixo.
Mas, como os discípulos do mestre Jesus, não desanimemos. E que, com todas as dificuldades que se nos apresentam enquanto nação possamos dizer como o apóstolo Paulo, falando de suas dificuldades pessoais na pregação do evangelho: “Quando eu me sinto fraco aí é que sou forte”. E que possamos, ainda a exemplo do homem de Nazaré, olhar para aqueles que chicoteiam, esbofeteiam, e humilham nossa pátria, e dizer: “Pai, perdoa-lhes porque eles não sabem o que fazem”.

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