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Estupidez Humana

Posted by Cottidianos on 01:45
Quarta-feira, 29 de julho

Venha!
Meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
(Perfeição – Legião Urbana)


Reserva Biológica de Araras
Reserva Biológica de Araras



Quando a gente pensa que já viu de tudo, sempre pode se surpreender mais um pouco com a estupidez humana...
A Reserva Biológica de Araras vestida com seu manto verde no qual vem habitar várias espécies da nossa fauna e flora, é um lugar belíssimo, situado em Petrópolis, região serrana do Rio. É rainha da natureza, e como toda rainha assenta-se nos tronos mais altos. No caso de Araras, ela está localizada em Serras muito altas com diversos afloramentos rochosos que enaltecem ainda mais a sua beleza.
Não apenas pela beleza a reserva é importante para a região. Ela também presta um serviço fundamental ao meio ambiente ao abrigar uma grande biodiversidade e servir de abrigo para animais e plantas nativas, e também por abrigar várias espécies raras e ameaçadas de extinção.
Porém, para nossa tristeza, parte dessa bela e importante joia natural arde em chamas desde segunda, 27. Uma área de cerca de 6 km já foi consumida pelo fogo. Para amenizar o sofrimento da floresta e das espécies que nela vivem, foi montada uma verdadeira operação de guerra.
Um grupo de 72 pessoas formado por bombeiros, e agentes do Instituto Estadual do Ambiente (INEA), Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, (IBAMA), Defesa Civil Municipal e Guarda Civil Municipal (GCM) se mobiliza para combater esse incêndio de grandes proporções. O grupo conta com o apoio de 19 viaturas e 1 helicóptero.  
Os grileiros e madeireiros ilegais tem ganhado destaque nos noticiários ao provocar queimadas em nossas florestas, especialmente, na Amazônia para satisfazer as suas necessidades mesquinhas à custa de destruir a mãe natureza. O governo, de certo modo, tem facilitado a vida dessa gente, bandidos, na verdade, que não está nem aí para o desenvolvimento de uma economia sustentável.
Mas dessa vez, eles não tem nada a ver com o incêndio que consome parte da Reserva Florestal das Araras. Dessa vez, a causa desse incêndio tem origem numa tentativa de golpe de seguro de automóvel.
Aconteceu o seguinte.
Ás 8hs da segunda-feira, 27, Hélio Barroso, um aposentado de 66 anos, procurou a 106a Delegacia de Polícia de Petrópolis e comunicou aos policiais que tinha sido vítima de roubo de carro, que os bandidos tinham incendiado o carro dele, e as chamas tinha se alastrado pela mata. Ao fazer a comunicação do crime o homem disse ter tido que andar vários quilômetros a pé. Ora, quem anda vários quilômetros a pé, ou fica cansado, ou sujo. O homem não estava nem uma coisa nem outra.
Os policiais desconfiaram da atitude do homem, mas fingiram acreditar na história que ele contava. Foram averiguar o fato e descobriram uma história absurda. Eles foram até o local onde o havia ocorrido o fato e concluíram que realmente o fogo na mata tinha começado devido ao veículo incendiado.
Enquanto uma equipe analisava câmeras de segurança do local, outra equipe percorria postos de gasolina também em busca de imagens. Os PMs percorreram vinte postos de combustíveis e ouviram diversas testemunhas. Em um desses postos os policiais encontraram imagens do aposentado comprando galões de gasolina e colocando dentro do carro. O líquido inflamável havia sido comprado no domingo, 26, no município de Três Rios. Os policiais agiram rápido e descobriram que o homem tinha colocado fogo no próprio carro na tentativa de reivindicar o recebimento do seguro do automóvel.
O homem fez a falsa comunicação de crime às 8h da manhã e à 1h da tarde já estava preso. E agora, não vai ter nem carro velho, nem novo, mas sim, passará um bom período na cadeia. Somadas as penas dos crimes cometidos pelo homem podem chegar a 15 anos de cadeia. Ele responderá pelos crimes de estelionato tentado e incêndio.
Com certeza, terá muito tempo para pensar na estupidez de seu ato insano e na tragédia que provocou.
Na música, Perfeição, Renato Russo, e sua Legião Urbana, cantam:
Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos covardes
Estupradores e ladrões
Discordando do genial poeta Renato, e sua formidável Perfeição, eu acho que a estupidez humana deve ser punida e não celebrada. Cadeias para os criminosos e corruptos. É isso que eles merecem.

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Carta ao Povo de Deus

Posted by Cottidianos on 00:47
 Segunda-feira, 27 de julho



Agosto já está bem próximo. Como diz o ditado popular: está batendo à porta. E assim, já ultrapassamos o meio do ano. Um ano que está sendo roubado por um vírus. Um vírus que, diga-se de passagem, é produto da natureza. Não foi criado, nem fabricado em laboratórios como querem alguns no intuito de esconder suas próprias incapacidades para combatê-lo.
É sempre esse o modo de agir das pessoas imaturas: Quando elas não tem capacidade de resolver os próprios problemas, ou os problemas de uma empresa a qual controlam, ou até mesmo, de uma nação que governam, colocam sempre a culpa nos outros. E assim agindo, fazem como Pôncio Pilatos: Lavam as mãos tentando se isentar de responsabilidades.
No Brasil, julho entregará a agosto uma marca bem próxima dos 100.000 mil mortes pelo coronavírus. Para muitas pessoas, por incrível que pareça, esse ainda é um número pequeno de mortes. Essas pessoas fazem cálculos estranhos, justificando que, diante do contingente populacional brasileiro, 100.000 mil é um número relativamente pequeno.
Esquecem-se essas pessoas que por trás desse número existem 100.000 mil histórias de vidas encerradas, 100.000 mil famílias que choram seus entes queridos, e dezenas de milhares de amigos que sentem a falta de alguém a quem eles queriam bem.
De acordo formado pelo consórcio de imprensa já são 2.419.901 o número de infectados no país, e 87.052 óbitos, segundo dados atualizados na noite deste domingo, 26.
E pensar que milhares dessas mortes poderiam ter sido evitadas se houvesse uma ação efetiva de combate à doença por parte do governo federal.
Desde o início da pandemia, a obsessão do governo foi em salvar a economia e não em salvar vidas. Isso não são invencionices deste blog, mas os fatos falam por si, e a realidade grita alto para quem quiser ouvir.
O descaso do governo em relação a uma crise sanitária de proporções descomunais é apenas parte de uma história que vai de encontro a todos os ensinamentos e valores cristãos, apesar de esses valores serem constantemente invocados pelo mandatário da nação.
Há descaso para com a vida também, quando, por exemplo se amplia e apoia uma política que desmata e arrasa a nossa fauna e nossa flora, quando se incentiva as queimadas e o desmatamento para que madeireiros e garimpeiros possam implantar seus métodos criminosos de enriquecimento à custa do empobrecimento dos recursos da nossa mãe Terra, e do desrespeito às populações indígenas em áreas que deveriam ser protegidas pelo estado.
Há descaso pela vida quando se relega a segundo plano a educação, coisa já vem sendo feita no Brasil por décadas e continua no governo atual. Até agora, o governo não nomeou um ministro da Educação que mereça esse nome. Dia 10 deste mês, Bolsonaro nomeou o pastor da igreja presbiteriana, Milton Ribeiro para a pasta no lugar de Abraham Weintraub. Ainda não deu tempo de avaliar o trabalho do novo ministro à frente da pasta.
Enfim, são tantas as formas de desrespeito à vida nesse governo... Porém, todas essas ações podem ser resumida em uma carta.
O jornal Folha de São Paulo, na edição deste domingo, 26, em matéria assinada pela jornalista Mônica Bergamo, trouxe ao conhecimento dos leitores daquele veículo de comunicação, uma carta assinada por 152 bispos brasileiros. Segundo dados da mesma reportagem, no país são 310 bispos na ativa e 169 eméritos.
A Carta ao Povo de Deus, assinada pelos eclesiásticos faz duras críticas ao governo do presidente Jair Bolsonaro, e deveria ter sido publicada dia 22 deste mês, porém o conselho permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, pediu para analisar o documento antes que ele fosse publicado.
Enfim, a carta faz um resumo perfeito do que temos vistos desde que o governo assumiu o poder. Atos que se baseiam em uma “economia que mata” e que privilegia o lucro acima da vida. E nisso também andamos na contramão em relação dos países desenvolvidos na questão de trabalhar com uma economia sustentável que agrida cada vez menos o meio ambiente.
Abaixo, este blog também reproduz a carta assinada pelos bispos e divulgada pela Folha de São Paulo.

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Carta ao Povo de Deus

"Somos bispos da Igreja Católica, de várias regiões do Brasil, em profunda comunhão com o Papa Francisco e seu magistério e em comunhão plena com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, que no exercício de sua missão evangelizadora, sempre se coloca na defesa dos pequeninos, da justiça e da paz. Escrevemos esta Carta ao Povo de Deus, interpelados pela gravidade do momento em que vivemos, sensíveis ao Evangelho e à Doutrina Social da Igreja, como um serviço a todos os que desejam ver superada esta fase de tantas incertezas e tanto sofrimento do povo.
Evangelizar é a missão própria da Igreja, herdada de Jesus. Ela tem consciência de que “evangelizar é tornar o Reino de Deus presente no mundo” (Alegria do Evangelho, 176). Temos clareza de que “a proposta do Evangelho não consiste só numa relação pessoal com Deus. A nossa reposta de amor não deveria ser entendida como uma mera soma de pequenos gestos pessoais a favor de alguns indivíduos necessitados [...], uma série de ações destinadas apenas a tranquilizar a própria consciência. A proposta é o Reino de Deus [...] (Lc 4,43 e Mt 6,33)” (Alegria do Evangelho, 180). Nasce daí a compreensão de que o Reino de Deus é dom, compromisso e meta.
É neste horizonte que nos posicionamos frente à realidade atual do Brasil. Não temos interesses político-partidários, econômicos, ideológicos ou de qualquer outra natureza. Nosso único interesse é o Reino de Deus, presente em nossa história, na medida em que avançamos na construção de uma sociedade estruturalmente justa, fraterna e solidária, como uma civilização do amor.
O Brasil atravessa um dos períodos mais difíceis de sua história, comparado a uma “tempestade perfeita” que, dolorosamente, precisa ser atravessada. A causa dessa tempestade é a combinação de uma crise de saúde sem precedentes, com um avassalador colapso da economia e com a tensão que se abate sobre os fundamentos da República, provocada em grande medida pelo Presidente da República e outros setores da sociedade, resultando numa profunda crise política e de governança.
Este cenário de perigosos impasses, que colocam nosso País à prova, exige de suas instituições, líderes e organizações civis muito mais diálogo do que discursos ideológicos fechados. Somos convocados a apresentar propostas e pactos objetivos, com vistas à superação dos grandes desafios, em favor da vida, principalmente dos segmentos mais vulneráveis e excluídos, nesta sociedade estruturalmente desigual, injusta e violenta. Essa realidade não comporta indiferença.
É dever de quem se coloca na defesa da vida posicionar-se, claramente, em relação a esse cenário. As escolhas políticas que nos trouxeram até aqui e a narrativa que propõe a complacência frente aos desmandos do Governo Federal, não justificam a inércia e a omissão no combate às mazelas que se abateram sobre o povo brasileiro. Mazelas que se abatem também sobre a Casa Comum, ameaçada constantemente pela ação inescrupulosa de madeireiros, garimpeiros, mineradores, latifundiários e outros defensores de um desenvolvimento que despreza os direitos humanos e os da mãe terra. “Não podemos pretender ser saudáveis num mundo que está doente. As feridas causadas à nossa mãe terra sangram também a nós” (Papa Francisco, Carta ao Presidente da Colômbia por ocasião do Dia Mundial do Meio Ambiente, 05/06/2020).
Todos, pessoas e instituições, seremos julgados pelas ações ou omissões neste momento tão grave e desafiador. Assistimos, sistematicamente, a discursos anticientíficos, que tentam naturalizar ou normalizar o flagelo dos milhares de mortes pela COVID-19, tratando-o como fruto do acaso ou do castigo divino, o caos socioeconômico que se avizinha, com o desemprego e a carestia que são projetados para os próximos meses, e os conchavos políticos que visam à manutenção do poder a qualquer preço. Esse discurso não se baseia nos princípios éticos e morais, tampouco suporta ser confrontado com a Tradição e a Doutrina Social da Igreja, no seguimento Àquele que veio “para que todos tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
Analisando o cenário político, sem paixões, percebemos claramente a incapacidade e inabilidade do Governo Federal em enfrentar essas crises. As reformas trabalhista e previdenciária, tidas como para melhorarem a vida dos mais pobres, mostraram-se como armadilhas que precarizaram ainda mais a vida do povo. É verdade que o Brasil necessita de medidas e reformas sérias, mas não como as que foram feitas, cujos resultados pioraram a vida dos pobres, desprotegeram vulneráveis, liberaram o uso de agrotóxicos antes proibidos, afrouxaram o controle de desmatamentos e, por isso, não favoreceram o bem comum e a paz social. É insustentável uma economia que insiste no neoliberalismo, que privilegia o monopólio de pequenos grupos poderosos em detrimento da grande maioria da população.
O sistema do atual governo não coloca no centro a pessoa humana e o bem de todos, mas a defesa intransigente dos interesses de uma “economia que mata” (Alegria do Evangelho, 53), centrada no mercado e no lucro a qualquer preço. Convivemos, assim, com a incapacidade e a incompetência do Governo Federal, para coordenar suas ações, agravadas pelo fato de ele se colocar contra a ciência, contra estados e municípios, contra poderes da República; por se aproximar do totalitarismo e utilizar de expedientes condenáveis, como o apoio e o estímulo a atos contra a democracia, a flexibilização das leis de trânsito e do uso de armas de fogo pela população, e das leis do trânsito e o recurso à prática de suspeitas ações de comunicação, como as notícias falsas, que mobilizam uma massa de seguidores radicais.
O desprezo pela educação, cultura, saúde e pela diplomacia também nos estarrece. Esse desprezo é visível nas demonstrações de raiva pela educação pública; no apelo a ideias obscurantistas; na escolha da educação como inimiga; nos sucessivos e grosseiros erros na escolha dos ministros da educação e do meio ambiente e do secretário da cultura; no desconhecimento e depreciação de processos pedagógicos e de importantes pensadores do Brasil; na repugnância pela consciência crítica e pela liberdade de pensamento e de imprensa; na desqualificação das relações diplomáticas com vários países; na indiferença pelo fato de o Brasil ocupar um dos primeiros lugares em número de infectados e mortos pela pandemia sem, sequer, ter um ministro titular no Ministério da Saúde; na desnecessária tensão com os outros entes da República na coordenação do enfrentamento da pandemia; na falta de sensibilidade para com os familiares dos mortos pelo novo coronavírus e pelos profissionais da saúde, que estão adoecendo nos esforços para salvar vidas.
No plano econômico, o ministro da economia desdenha dos pequenos empresários, responsáveis pela maioria dos empregos no País, privilegiando apenas grandes grupos econômicos, concentradores de renda e os grupos financeiros que nada produzem. A recessão que nos assombra pode fazer o número de desempregados ultrapassar 20 milhões de brasileiros. Há uma brutal descontinuidade da destinação de recursos para as políticas públicas no campo da alimentação, educação, moradia e geração de renda.
Fechando os olhos aos apelos de entidades nacionais e internacionais, o Governo Federal demonstra omissão, apatia e rechaço pelos mais pobres e vulneráveis da sociedade, quais sejam: as comunidades indígenas, quilombolas, ribeirinhas, as populações das periferias urbanas, dos cortiços e o povo que vive nas ruas, aos milhares, em todo o Brasil. Estes são os mais atingidos pela pandemia do novo coronavírus e, lamentavelmente, não vislumbram medida efetiva que os levem a ter esperança de superar as crises sanitária e econômica que lhes são impostas de forma cruel. O Presidente da República, há poucos dias, no Plano Emergencial para Enfrentamento à COVID-19, aprovado no legislativo federal, sob o argumento de não haver previsão orçamentária, dentre outros pontos, vetou o acesso a água potável, material de higiene, oferta de leitos hospitalares e de terapia intensiva, ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea, nos territórios indígenas, quilombolas e de comunidades tradicionais (Cf. Presidência da CNBB, Carta Aberta ao Congresso Nacional, 13/07/2020).
Até a religião é utilizada para manipular sentimentos e crenças, provocar divisões, difundir o ódio, criar tensões entre igrejas e seus líderes. Ressalte-se o quanto é perniciosa toda associação entre religião e poder no Estado laico, especialmente a associação entre grupos religiosos fundamentalistas e a manutenção do poder autoritário. Como não ficarmos indignados diante do uso do nome de Deus e de sua Santa Palavra, misturados a falas e posturas preconceituosas, que incitam ao ódio, ao invés de pregar o amor, para legitimar práticas que não condizem com o Reino de Deus e sua justiça?
O momento é de unidade no respeito à pluralidade! Por isso, propomos um amplo diálogo nacional que envolva humanistas, os comprometidos com a democracia, movimentos sociais, homens e mulheres de boa vontade, para que seja restabelecido o respeito à Constituição Federal e ao Estado Democrático de Direito, com ética na política, com transparência das informações e dos gastos públicos, com uma economia que vise ao bem comum, com justiça socioambiental, com “terra, teto e trabalho”, com alegria e proteção da família, com educação e saúde integrais e de qualidade para todos. Estamos comprometidos com o recente “Pacto pela vida e pelo Brasil”, da CNBB e entidades da sociedade civil brasileira, e em sintonia com o Papa Francisco, que convoca a humanidade para pensar um novo “Pacto Educativo Global” e a nova “Economia de Francisco e Clara”, bem como, unimo-nos aos movimentos eclesiais e populares que buscam novas e urgentes alternativas para o Brasil.
Neste tempo da pandemia que nos obriga ao distanciamento social e nos ensina um “novo normal”, estamos redescobrindo nossas casas e famílias como nossa Igreja doméstica, um espaço do encontro com Deus e com os irmãos e irmãs. É sobretudo nesse ambiente que deve brilhar a luz do Evangelho que nos faz compreender que este tempo não é para a indiferença, para egoísmos, para divisões nem para o esquecimento (cf. Papa Francisco, Mensagem Urbi et Orbi, 12/4/20).
Despertemo-nos, portanto, do sono que nos imobiliza e nos faz meros espectadores da realidade de milhares de mortes e da violência que nos assolam. Com o apóstolo São Paulo, alertamos que “a noite vai avançada e o dia se aproxima; rejeitemos as obras das trevas e vistamos a armadura da luz” (Rm 13,12).
O Senhor vos abençoe e vos guarde. Ele vos mostre a sua face e se compadeça de vós.
O Senhor volte para vós o seu olhar e vos dê a sua paz! (Nm 6,24-26).

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Pandemia da desinformação

Posted by Cottidianos on 02:58

Sexta-feira, 24 de julho


Caros leitores e leitoras, começarei a postagem de hoje falando de experiências pessoais, relacionadas ao coronavírus.
Era anoitecer de sexta-feira, 17 deste mês. Resolvi pegar a bicicleta e dar uma volta pela cidade.
Em meus passeios de bike tenho evitado os lugares de maior movimento como os parques, por exemplo, que geram bastante aglomeração. Muitas pessoas usam máscaras, outras não nesses lugares. Tenho procurado as ruas mais tranquilas onde o movimento de carros e de pessoas é bem pouco. Tenho gostado da experiência. Cuido ao mesmo tempo do corpo e do espírito. Uma vez que o clima de tranquilidade também me provoca reflexões. Descobri que, mesmo numa cidade bastante agitada, como é a cidade em que moro, ainda é possível encontrar ruas e lugares onde se pode pedalar com tranquilidade. Antes da pandemia não pensava dessa forma e acabava procurando sempre as ruas e lugares mais movimentados.
Penso no momento atual como um cenário de tempos de guerra. E em toda guerra há os tais campos minados. Impossível saber onde as bombas estão escondidas. Então todo o cuidado é pouco ao se caminhar por um lugar assim. Qualquer passo em falso, e eis que uma delas explode e o indivíduo perde um braço, uma perna, quando não a vida. Então é preciso muito cuidado e paciência para se andar por campos minados.
A pandemia nos colocou a todos do planeta nesse cenário de guerra. As bombas escondidas sob o terreno é o coronavírus. Ele está por aí. Ninguém sabe onde ele está. Um passo em falso e eis que a bomba explode e o indivíduo pode tanto ter sintomas leves como perder a vida. Então melhor não arriscar.
Também é verdade que nenhum combatente circula pelos campos de guerra sem as devidas armas que o protejam de um ataque inimigo. Dizendo de um modo frio e realista como a própria guerra o é: nela está para se matar ou morrer. No caso em questão, os bravos combatentes somos nós e o inimigo é o vírus.
As armas mortais, aquelas que realmente matarão o inimigo ainda estão sendo pesquisadas, testadas. E elas são as vacinas. A corrida para que se tenha uma arma eficaz é frenética em diversas partes do mundo, e algumas já deram resultados bem positivos e animadores. Como é o caso da vacina de Oxford e uma vacina chinesa. Mas, por enquanto tudo não passa de testes. Testes que nos dão esperança é verdade. Mas que nem por isso devemos atravessar o campo minado de modo atabalhoado, como se já tivéssemos ganho o jogo.
Então, quais são as nossas armas: lavar as mãos com água e sabão, na impossibilidade de não se ter esse recurso à mão, como estando na rua, por exemplo, o uso de álcool gel é altamente recomendado, principalmente após tocar em produtos e superfícies. Outro remédio bastante eficaz segundo os cientistas é o distanciamento social. E, claro, todos os cuidados básicos com a higiene são sempre bem vindos.
Depois desse longo parênteses, volto ao meu passeio de bike. Já estava distante de casa cerca de cinco quilômetros, quando passei por cima de um caco de vidro. Senti o vidro estalar embaixo do pneu dianteiro. Torci para que ele não tivesse furado. Pedalei mais cerca de um quilometro, quando meu temor se confirmou: o pneu murchou completamente. E logo aquele dia em que sai para dar um volta rápida — porém me empolguei e acabei indo um pouco mais longe — não havia levado comigo, nem bomba para encher o pneu, nem muito menos uma câmara de ar para fazer a troca.
Tive que voltar empurrando a bicicleta. Porém, como em tudo na vida é preciso encontrar o lado positivo pensei: se não faço exercício pedalando, o faço caminhando. O resultado da ação é a mesma.
Pensei em um bicicletária que já havia visto aberta à noite, em um bairro um pouco mais distante, mas que no rumo de casa, e resolvi arriscar. Rumei para lá. Quando cheguei lá, o estabelecimento estava quase fechando. O dono já se preparava para ir embora.
Mesmo assim, gentilmente, me atendeu. Enquanto ele fazia os reparos devidos. Começamos a conversar, respeitando o distanciamento, obviamente. Primeiro entramos no campo da religião. Ele me falou de um padre que faz um programa em que transmite belas mensagens, e de músicas católicas que costumava ouvir na juventude. Ele não era velho, mas também já não era tão jovem.
Foi quando eu perguntei do coronavírus e da situação pela qual estamos passando atualmente. E vivi uma situação um tanto quanto constrangedora. O homem era um negacionista. Ele começou a falar que mesmo que surja uma vacina contra a doença ele não tomaria, pois, segundo ele, essas vacinas são venenos, que ao invés de nos afastar dos vírus, trazem eles para dentro de nosso corpo. Tentei argumentar. Vi que não adiantava. Então fiquei quieto. Ouvindo.
Depois ele começou a falar do presidente, disse que ele era o homem mais honesto do Brasil. Que tinha vindo para salvar o país. E então começou a desfiar o rosário bolsonarista. Então me calei de vez.
Tudo bem. Passou esse fato. Ele consertou o furo no pneu. E eu pude chegar em casa pedalando.
Já essa semana na qual estamos, estava conversando via WhatsApp com um amiga que é advogada. Também fiquei um pouco triste com o posicionamento dela. Ela também é negacionista. Porém, um negacionismo diretamente voltado ao trabalho da imprensa. Para ela, tudo isso é paranoia inventada pela grande mídia. A doença não é tão grave. A imprensa é que a surperdimensionou. Também aqui não há como argumentar. A opinião já está estabelecida.
Voltando ao início do mês, também conversava com um pessoal que tem uma certa condição financeira boa. E, segundo eles, a culpa de tudo isso que está acontecendo, de a economia não está indo como deveria, é dos governadores que decretaram medidas restritivas. Ah, e também da China. A China é responsável pelo surgimento do vírus.
Como se vê caros leitores, e leitoras. Muita gente aqui no Brasil, e também em outras partes do globo, estão infectadas. Infectadas com um vírus tão perigoso quanto o coronavírus. Elas pegaram o vírus da desinformação. E assim como o coronavírus, esse outro vírus também não escolhe vítimas, nem a escolaridade, nem classe social. Basta apenas que as pessoas estejam vulneráveis. Quanto mais vulnerável melhor é para o vírus da desinformação se apoderar das mentes desses seres.
A Organização Mundial também está preocupada com esse vírus desinformativo. Tanto é que encerrou na terça-feira, 21, a primeira conferência científica sobre a pandemia de informações.
Foram três semanas de debates e discussões online que reuniu 110 especialistas de 14 áreas diferentes. A essa enxurrada de informações, grande maioria delas falsas, a OMS deu o nome de “infodemia”.
Segundo um relatório feito pela Organização Pan Americana de Saúde (PAHO), e citado no site do UOL, mostra que o boom de informações referentes a pandemia no mês de abril foi o seguinte:
— 361 milhões de vídeos carregados no Youtube com a classificação COVID-19
— 19.200 artigos publicados no Google Acadêmico
— 550 milhões de tuítes com os termos coronavírus, coronavírus, covid19, covid_19 ou pandemia.
O problema é que grande parte dessas informações são fake news. E essas informações acabam prejudicando o combate à doença. Por exemplo, uma pessoa que acredita que lavar as mãos com água e sabão não é eficaz contra o vírus, acaba assumindo um risco maior de contaminar-se.  
São tantas as desinformações a respeito desse assunto... Provavelmente o leitor ou leitora já deve ter tido ouvido ou lido sobre algumas delas.
Por exemplo, já surgiu até uma teoria da conspiração que diz que as redes moveis que usam a tecnologia 5G ajudam a propagar o novocoronavírus. No Reino Unido, um grupo levou essa falsa informação tão à sério que incendiou cerca de 100 torres que usam este tipo de sinal. O ataque também se estendeu aos funcionários de operadoras que trabalham com essa tecnologia. Mas o que tem ver a tecnologia 5G com tudo isso, pergunta você. Segundo os loucos que acolheram essa teoria como verdadeira, a implantação de antenas de última geração violaria, de alguma forma, o sistema imunológico das pessoas, tornando-o mais frágil, e permitiriam a disseminação de vírus como o Covid-19.
Outro absurdo aconteceu no Irã. Naquele país, cerca de 700 pessoas morreram envenenadas ao tomar metanol — álcool extremamente tóxico. As vítimas acreditavam que o líquido seria capaz de curar o coronavírus. Além das pessoas que morreram outras 5 mil foram envenenadas e sobreviveram, mas podem ter sequelas como cegueira e sofrer danos cerebrais.
O próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já estimulou seus concidadãos a tomar desinfetante para tratar o novo coronavírus. Depois dessa declaração feita por Trump em abril, cresceram os casos de intoxicação por desinfetante em Nova York.
Na conferência realizada pela OMS os especialistas chegaram à conclusão de que a “infodemia”, precisa de uma resposta coordenada e multidisciplinar.
A OMS também faz um apelo: “não compartilhem informações antes de confirmá-las”.
Talvez seja esse o caso dos negacionistas que há aos montes circulando por aí. Eles fogem da imprensa tradicional, acabam consumindo informação sem nenhuma confiabilidade, e, com isso, são presas fáceis do vírus da desinformação que também pode provocar vários danos, inclusive matar. Portanto, caro leitor, cara leitora, fuja desse vírus, o vírus da desinformação. Não deixe que ele lhe contagie. 

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Rede de intrigas

Posted by Cottidianos on 16:12
Quinta-feira, 09 de julho


Apenas a título de esclarecimento: Este blog pegou o título desta postagem emprestado do filme norte-americano, Rede de Intrigas, de 1976. O filme, no estilo comédia, narra a história de um locutor de TV que está para ser demitido por causa da baixa audiência do seu programa. Ele então resolve anunciar, no ar, que cometerá suicídio. Os índices de audiência então voltam a crescer. A partir daí ele passa a ser conhecido como louco, profeta. Entretanto, sua insanidade faz com que aqueles que foram responsáveis pela sua ascensão procurem um meio de detê-lo. Como veem, também não foi por acaso que o título foi tomado por empréstimo da produção americana.  
Na postagem anterior, esse blog falou do silencio do presidente. Da ausência de ataques a imaginários adversários políticos que remetem ainda aos tempos da guerra fria. Um presidente que vive evocando fantasmas do passado tentando, de alguma forma, fazê-los ressurgir para um tempos que não lhes cabe mais. Num mundo globalizado, classificar, julgar, e criticar as pessoas, rotulando-as, criticando-as, e desprezando-as pelas suas posições políticas é um tremendo retrocesso.
Porém, o ato de silenciar não significa, necessariamente, uma mudança de atitude. Também não significa que se está ouvindo àquela voz interior que clama para uma nova forma de pensar, um novo estilo de vida. Às vezes, calar significa apenas uma forma de sobrevivência, uma atitude conveniente, seja para uma pessoa, seja para um governo, seja para um presidente.
Isso, o presidente Jair Bolsonaro mostrou claramente ao anunciar que testou positivo para a Covid-19, na terça-feira, 07. Ele cometeu uma série de erros neste processo.
Primeiramente, os profissionais de imprensa não deveriam ter sido chamados o Palácio do Planalto para este anúncio feito pelo próprio presidente. Isso poderia ter sido feito pelo médico que o acompanhou ou por algum outro órgão do governo, ou mesmo pelo Jair Bolsonaro através de simples comunicado oficial. Governadores brasileiros e prefeitos que tiveram a doença fizeram justamente isso: deram o anúncio a população através de comunicado oficial.
Para o anúncio o presidente convocou jornalistas da TV Brasil, CNN Brasil, e Record TV. Durante o anúncio o presidente, já com diagnóstico positivo, tirou a máscara enquanto ainda falava com jornalistas. Acho que todos já devem estar fartos de ver nos noticiários os risco que isso pode representar para a saúde das pessoas.
Depois do pronunciamento, os veículos de imprensa citados afastaram os jornalistas que acompanharam a fala do presidente temporariamente, por medida de prevenção ao coronavírus.
Já o contrário não se deu com os funcionários do Palácio do Planalto que tiveram contato com o presidente. Esses continuam trabalhando normalmente, contrariando normas estabelecidas pelo Ministerio da Saúde, e pela OMS. Quem acompanha de longe, e que em civilidade e humanidade no coração, apenas torce para que estes funcionários não tenham sido afetados pela doença, e que o próprio presidente se recupere logo da doença.
Outro erro do presidente foi postar vídeo tomando cloroquina que, como todos sabem, é um medicamento sem nenhuma comprovação cientifica contra o Covd-19, e que pode, inclusive, provocar efeitos colaterais graves. O presidente também afirmou que dentro de uma semana retomaria sua agenda de encontro com pessoas. Segundo médicos infectologistas, o prazo para que uma pessoas que foi contaminada pelo coronavírus volte a ter encontros presenciais é de quatorze dias.
Porém, caros leitores e leitoras, uma pessoa que tem o coração cheio de ódio, não muda assim de uma hora para outra. Editorial do Estado de São Paulo, A vida, o vírus e a política, publicado neste dia 09 de julho, traz duas diferentes situações em que Jair Bolsonaro se mostrou desprovido de humanidade. Um deles, segundo o editorial, foi as frases pronunciadas por Bolsonaro em relação ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: “O governo militar deveria matar pelo menos 30 mil, a começar por Fernando Henrique”, “o erro do governo militar foi não fuzilar o Fernando Henrique”, “defendo o fuzilamento do presidente”.
Outra situação apontada pelo jornal foi em 2015, quando foi questionado se a então presidente Dilma conseguiria concluir o mandato, ele assim respondeu: “Espero que o mandato dela acabe hoje, infartada ou com câncer, ou de qualquer maneira”. E fechando os parágrafos do editorial que trata dessa questão, o jornal assim se expressa: “De enorme brutalidade, a declaração é absolutamente despropositada, a revelar profunda incompreensão não apenas do exercício da política, mas de cidadania e humanidade”.
Já na função presidencial os brasileiros tem se acostumado com o descaso do presidente pela vida humana, como no “E daí?” ao se referir às vítimas do Covid-19. E também o desprezo com que trata a questão dos povos indígenas. Bem como referenda um discurso racista ao nomear para a Fundação Palmares Sérgio Camargo: um negro declaradamente racista.
O amor e o ódio são como dois vírus potencialmente transmissíveis. Os dois altamente contagiantes. Com a diferença abissal de que o primeiro transmite paz, cura, harmonia, e inspira a tantos outras sensações e sentimentos bons. O segundo ao contrário apenas espalha o mal.
E o presidente, Jair Bolsonaro, tendo sido contaminado pelo segundo vírus, o transmite largamente aos seus familiares, apoiadores, aliados, e seguidores.
Nem indo muito longe, basta ver o vídeo de um dos líderes do governo na Câmara criticando o ministro do Supremo, Alexandre de Moraes. Não são apenas as palavras que são carregadas de ódio. A expressão, a voz, tudo ali parece destilar um ódio mortal.
O vídeo foi publicado pelo deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), em redes sociais, na segunda-feira, 6, e vai de encontro ao novo posicionamento que o governo parece querer assumir em relação ao Judiciário.
Ontem, dia 8, o deputado deixou o cargo, alegando que não queria que sua fala fosse ligada ao Planalto.
Agora, voltando um pouco no passado recente, vejamos a atitude do deputado Daniel Silveira, em 31 de maio deste ano.
 Silveira era até poucos dias líder do governo na Câmara. Por ocasião dos atos a favor da democracia, o deputado defendeu a morte de manifestantes. Em um vídeos, também nas redes sociais, ele disse: “"Até que vocês vão pegar um polícia zangado no meio da multidão, vão tomar um no meio da caixa do peito, e vão chamar a gente de truculento", "Eu tô torcendo para isso”. Quem sabe não seja eu o sortudo. Vocês me peguem na rua em um dia muito ruim e eu descarregue minha arma em cima de um filho da puta comunista que tentar me agredir. Vou ter que me defender, não vai ter jeito. E não adianta falar que foi homicídio, foi legítima defesa. Tenham certeza: eu vou me defender”.
E esses absurdos não vieram de terceiros, de longe do Palácio do Planalto, mas sim de pessoas próximas ao presidente. Puro ódio. A história nos mostra que todas as filosofias, todos os governos, baseados no ódio não prosperam, e, se prosperam, seus frutos são amargos e venenosos.
E aqui a gente entra no gabinete. Gabinete do Ódio.
Na quarta-feira, 8, o Facebook removeu contas e perfis que estavam ligados ao gabinete de Flávio Bolsonaro, de Eduardo Bolsonaro, e de Jair Bolsonaro. Segundo a rede social foram identificadas e retiradas do ar 35 contas, 14 páginas, 1 grupo no Facebook, e mais 38 contas no Instagram.
Quem operava o esquema criminoso eram 5 funcionários e ex-auxiliares ligados aos bolsonaros, os quais eram encarregados de disseminar notícias falsas e ataques a inimigos políticos de Jair Bolsonaro.
Ainda segundo o Facebook, a rede criou pessoas fictícias que fingiam ser repórteres, e gerenciava páginas, que se passavam por páginas de veículos de comunicação. De tudo e mais um pouco entrava no caldeirão das notícias falsas: memes, críticas à oposição, à mídia, e ao Judiciário. O pacote também incluía conteúdo sobre política e eleição. Até sobre o coronavírus era possível encontrar notícias falsas.
Um dessas pessoas que operava esse esquema criminoso de fakenews é Tercio Arnauld Thomaz. E quem é Tercio Arnauld Thomaz? Ele é o líder do gabinete do ódio. Saiu de Campinas Grande, na Paraíba, diretamente para trabalhar com a família Bolsonaro. Ele já trabalhou como assessor especial no gabinete de Flávio Bolsonaro, e hoje trabalha como assessor especial do próprio presidente.
Tem um salário de R$ 13.623,39, mora em um apartamento funcional, em Brasília, que é pago com dinheiro público, e trabalha a poucos metros do gabinete presidencial, no Palácio do Planalto. Sua função? Cuidar das redes sociais do presidente, e, como já se vinha especulando na imprensa, cuida da rede que dissemina mensagens difamatórias contra adversários do presidente, estejam eles no campo da política ou não.
A fábrica de fake news derrubada pelo Facebook tinha quase 2 milhões de seguidores no país.
Essa iniciativa do Facebook de derrubar essas páginas e perfis que espalhavam fake news não foi realizada apenas no Brasil, mas fez parte de uma operação que incluiu quadrilhas digitais em outros países como Canadá, Equador, Ucrânia, e Estados Unidos.
O Palácio do Planalto sempre negou a existência do gabinete do ódio. Coisa que vem sendo denunciada pela imprensa desde que a Folha de São Paulo, ainda durante a campanha presidencial de 2018, denunciou que empresários estavam comprando pacotes de disparos em massa de mensagens.
De lá pra cá, várias outras denúncias surgiram, como a da ex-bolsonarista, a deputada federal Joice Hasselman (PSL-SP), que em dezembro de 2019, revelou a existência da milícia digital que espalhava ataques à reputação de críticos do governo Bolsonaro. Na época, ela disse que quem estava à frente dessas atividades eram os irmãos Carlos e Eduardo Bolsonaro. Além de parlamentares e assessores ligados ao presidente.
Tudo o que Joice disse, confirmou-se depois com o inquérito das fakenews que corre no Supremo Tribunal Federal, e que revela a participação de políticos, assessores, e apoiadores do presidente na onda de crimes digitais.
A iniciativa do Facebook vem num momento em que a empresa está sendo pressionada a mudar sua política digital e impedir a disseminação de notícias falsas e de páginas que espalhem o ódio e preconceito.
Grandes marcas, cancelaram, recentemente, contratos de divulgação nas páginas da rede, em uma espécie de boicote à empresa. A adesão de grandes marcas como Adidas, Coca-Cola, Heineken e Starbucks fizeram o boicote ganhar mais impulso e se tornar ainda mais forte, chamando a atenção mundial para a questão.
O caso brasileiro é muito grave pois envolve diretamente o presidente e seus filhos na trama. É dinheiro público sendo usado para financiar um crime, um crime digital, mas um crime da mesma forma. É o uso de funcionários do estado brasileiro para operar uma indústria criminosa que espalha notícias falsas e destrói reputações. Ou seja, um completo desvio das finalidades para os quais foram contratados, e tudo isso com a anuência do governo. E o que deixa a situação ainda mais complicada. A quadrilha, podemos chamar assim, operava no coração do poder: ou seja, dentro do Palácio do Planalto. Como diz o ditado “nas barbas” do presidente.
O governo, claro, nega a existência de tal gabinete do ódio. É tanto que após saber da operação realizada pelo Facebook, o senador Flávio Bolsonaro, divulgou uma nota na qual diz: “O governo Bolsonaro foi eleito com forte apoio popular nas ruas e nas redes sociais e, por isso, é possível encontrar milhares de perfis de apoio. Até onde se sabe, todos eles são livres e independentes. Pelo relatório do Facebook, é impossível avaliar que tipo de perfil foi banido e se a plataforma ultrapassou ou não os limites da censura. Julgamentos que não permitem o contraditório e a ampla defesa não condizem com a nossa democracia, são armas que podem destruir reputações e vidas”.
Ora, senhor senador, destruir reputações e vidas era o que a rede de fakenews, montada pelos senhores, fazia. Isso, sim, não condiz, nenhum pouco com nossa democracia.
É melhor alguém, urgentemente, dá umas aulas sobre liberdade de expressão, democracia, respeito à vida, direitos humanos, dentre outros assuntos para os bolsonaros, seus assessores, e apoiadores, pois eles tem se revelado bastante ignorantes em relação a essas questões. Quem sabe, com um pouco de lições de conhecimento e civilidade para essa turma, eles aprendam, pelo menos um pouco. E nos ajudem a recuperar o respeito e admiração internacional que estamos perdendo a cada dia.

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Enfim, calmaria! Até quando?!

Posted by Cottidianos on 00:37
Terça-feira, 07 de julho


E, de repente, se fez calmaria.
E para se fazer calmaria não precisou muita coisa. Bastou apenas que o presidente fechasse a boca. Calasse. Não dissesse mais nada de controverso, ou desferisse sua “metralhadora cheia de mágoas” contra inimigos invisíveis.
O fato é que desde o dia 18 de junho — quando a Polícia Federal prendeu o ex-assessor da Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz trabalhou no gabinete de Flávio na época em que Flávio era deputado federal pela Assembleia Legislativa no Rio. Os dois operaram juntos em um esquema criminoso de desvio de dinheiro público que ficou conhecido como rachadinha — que Bolsonaro nem ao menos tem parado no cercadinho montado no Palácio da Alvorada, lugar em que ele parava para conversar com apoiadores e satisfazia os bizarros e egoísticos deles ao falar coisas sem pensar, agredindo a quem bem achasse conveniente agredir.
Nisso, os apoiadores do presidente se assemelhavam a multidão que se aglomerava nos anfiteatros romanos, especialmente, no Coliseu, e cujo maior prazer era ver sangue e cabeças rolando. E, realmente, Bolsonaro satisfazia a vontade deles dando sangue e cabeças rolando em forma de ataques verbais.
Talvez, a prisão de Fabrício Queiroz, e da decretação de prisão de Márcia Aguiar, mulher dele, foragida desde a operação que prendeu Fabrício, em 18 de junho, tenha algo a ver com isso. Márcia e Fabrício sabem muita do que acontecia nos porões da Alerj, e também nas transações escusas do filho do presidente, e hoje senador, Flávio Bolsonaro.
Ou o silêncio do presidente está relacionado a operação policial, desencadeada no dia 27 de maio, que realizou busca e apreensão em endereços de empresários, políticos, e blogueiros, que são apoiadores do presidente, no inquérito que apura a produção de informações falsas contra os ministros do STF, e que ficou conhecido como inquérito das Fake News?
Durante essa operação também foi presa temporariamente Sara Winter, líder do movimento denominado ‘300 do Brasil’. Também houve pedidos de prisão temporária de outras cinco pessoas ligadas ao grupo.
Ou ainda o inédito fato de o presidente não ter mais comprado nenhuma briga com integrantes do Judiciário e do Legislativo se deve a que as últimas pesquisas divulgadas mostrarem que ele está perdendo popularidade. O presidente perde popularidade até mesmo em setores onde teve ampla maioria, como é o caso dos mais ricos e escolarizados.
Ou teria sido ainda ao fato de que, mesmo em meio à pandemia, começaram a se levantar em várias capitais do país, movimentos e manifestações em prol da democracia, em contraste com os manifestações radicais que pregavam o ódio às instituições democráticas do país, manifestações essas das quais o presidente participou diretamente?
A resposta para a pergunta: porque o presidente silenciou e não soltou palavras por vezes raivosas, por vezes irônicas, e por vezes sem sentido, no cercadinho do Palácio da Alvorada, e o fato de ele não ter mais tocado fogo nas redes sociais, como costumava fazer todos os dias talvez esteja presente em algum dos fatos citados acima, mas pode se um amarrado de todos eles.
A mudança de direção pode também ter ser creditado ao recém chegado ao governo, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, genro de Sílvio Santos. Fábio é ligado ao Centrão, base no qual Bolsonaro tem buscado apoio. Lembrando que essa base de apoio faz parte do que de mais velho e podre existe na política brasileira. Velha política tão duramente criticada durante a campanha por Bolsonaro.
Fábio chegou ao ministério das Comunicações com ideias novas, e de que é preciso que o presidente seja mais cordial com a imprensa, com o Judiciário, e com o Congresso. Segundo informado pela revista Veja, na reportagem, Bolsonaro afasta-se dos radicais e busca pacificação com Congresso e STF, na edição 2694, publicada em 08 de julho, o ministro das Comunicações estaria fazendo um giro pelas redações dos principais veículos de comunicação do país, com a finalidade de melhorar a relação do presidente com a imprensa.
Algumas atitudes já foram tomadas neste aceno de paz com as instituições, como por exemplo a exoneração do ex-ministro da Educação, Abraham Weintraub, que, na famosa reunião ministerial de 22 de abril, chamou os ministros do STT de vagabundo e disse querer prendê-los.
O fato é que o presidente deve estar ouvindo muitos conselhos, inclusive para se afastar da ala mais radical de seus apoiadores.
Tudo isso é muito bom. Essa calmaria é benéfica para o país. A pergunta que fica é: —conhecendo a personalidade do presidente, que diz uma coisa hoje, e amanhã faz outra completamente diferente — Até quando?
Mas mesmo com todo esse inédito falta de crises provocadas pelo próprio presidente nos últimos dias, o governo ainda não disse a que veio. O governo de Jair Bolsonaro ainda se assemelha em muito a um corpo sem alma, a um carro sem gasolina.
Falta-lhe consistência. Faltam projetos que tragam alento e esperança ao coração dos brasileiros.
Onde está o projeto do governo para a área da educação? Pelo ministério da Educação já passaram os ministros Ricardo Velez e Abraham Weintraub. Eles não acrescentaram em nada na busca por uma educação de qualidade. Apenas se entregaram a ideológicas e inócuas guerras. Projetos mesmo que é bom, nada.
Recentemente, houve Carlos Decotteli, que foi demitido antes mesmo de tomado posse por causa de uma séria de incongruências no currículo.
No ministério da Saúde, a mesma coisa. Por lá já passaram Luiz Henrique Mandetta, e Nelson Teich. Desde a saída de Teich em 15 de maio, o Brasil não conta com um ministro da Saúde efetivo. Desde então o cargo é ocupado por um interino, o general Eduardo Pazuello. E o interino é do jeito que Bolsonaro gosta: cumpridor de ordens.
Ainda se estivéssemos em tempos de calmaria o fato de ter um interino na pasta da Saúde não seria muito indicado, imaginem então no meio de pandemia que já vitimou mais de 65 mil brasileiros, e tem potencial para matar muito mais nos próximos meses.
E o que dizer da Cultura, qual o projeto de cultura para o país? E no Meio Ambiente qual o projeto, além de provocar ações que incentivam o desmatamento das nossas florestas e afastam do país os grandes investidores comprometidos com a causa ambiental?
O que sabemos é que o Brasil está como barco sem rumo, nau sem capitão. E o problema não é apenas devido a pandemia, ou a crise econômica. A primeira é absolutamente nova, o governo teve o azar de tê-la como convidada non grata em pleno governo, mas também é responsável com sua atitude de negar a doença e a ciência, por agravá-la. A segunda já vinha se arrastando desde o governo da ex-presidente, Dilma Rousseff.
A causa do país está como barco sem rumo, nau sem capitão é devido a incompetência do governo que não sabe firmar o Brasil nos trilhos. E, todos sabem, que um trem que não tem estabilidade, mais cedo ou mais tarde, descarrilhará.
Por aqui este blog finaliza este artigo, mas não antes sem deixar aos leitores uma reflexão do ex-presidente, Fernando Henrique Cardoso, publicada no jornal, El País, Brasil, em 05 de julho de 2020, sob o título, Tempos Confusos.
Apenas esclarecendo. No artigo, Fernando Henrique diz: “Pelo menos até a última sexta-feira, quando escrevo este artigo, não demitiu ninguém ou ninguém se sentiu na obrigação de abandonar o ministério”. Porém, após a publicação do texto, surgiu mais um fato novo.
O secretário de Educação do Paraná, Renato Feder, que havia sido convidado por Bolsonaro para assumir a pasta da Educação, publicou no domingo, 5, uma nota em rede social, dizendo ter rejeitado o convite do presidente para assumir o cargo. O fato é que Feder já vinha sendo fritado por setores bolsonaristas antes mesmo de aceitar o cargo. Ele deve ter mesmo pensado: “Eu hein, nessa panela quente, eu é que não entro”. No que fez muito bem. Era desgaste à toa. Já sabemos como essa história terminaria.

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Tempos confusos
Governo que não tem rumo nas principais áreas sociais dificilmente encontrará a lanterna mágica para levar-nos a bom porto. Não são apenas pessoas mal escolhidas. É a falta de projetos, de esperança, o que nos sufoca



FERNANDO HENRIQUE CARDOSO
05 JUL 2020 - 07:52 BRT

Tempos confusos os que temos vivido. A tal ponto que estranhamos o que ocorreu no meio da semana: chamou a atenção o fato de o Governo não haver arranjado nenhuma confusão nova. Isso depois de, sem dar-se ao luxo de explicar melhor ao país as razões, o presidente haver dispensado vários ministros nas pastas de Educação e Saúde. Pelo menos até a última sexta-feira, quando escrevo este artigo, não demitiu ninguém ou ninguém se sentiu na obrigação de abandonar o ministério. Nem mesmo se viu o presidente ou seus porta-vozes atribuírem à oposição ou a alguém mais notório o estar “conspirando”. Daí a calmaria.
É assim que vai andando o atual Governo, meio de lado. Sem que os “inimigos” façam qualquer coisa de muito espetacular contra ele, é ele próprio quem se embaraça com sua sombra. De repente, quando não há nenhum embaraço novo, nenhuma “crise”, o presidente não se contém: fala e cria uma confusão.
É verdade que o governo federal não teve sorte. Não foi ele quem criou a pandemia que nos aflige, nem a paralisação da economia, que já vinha de antes. Mas a confusão política, desta ele se pode apropriar: foi coisa inventada pelo próprio presidente e seus fanáticos.
Por certo ela se agrava com a crise econômica e a da saúde pública. Mas o mau gerenciamento das crises e da política é o que caracteriza os vai-e-vens do Governo Bolsonaro. No Congresso e nos Tribunais (apesar de tão mal falados nos comícios pelos adeptos presidenciais) tem havido resistências à inação governamental e a suas investidas contra as instituições.
Comecemos pelo que mais importa, a saúde pública e a de cada um de nós. O governo federal desconsiderou os riscos da situação epidêmica no início, e, depois, passou o bastão às autoridades locais. Compreende-se que sejam estas, mais perto das populações, a gerenciar o dia-a-dia. Mas o papel simbólico é sempre, para o bem e para o mal, de quem exerce a presidência, tenha ou não culpa no cartório. Além disso é o que prescreve a Constituição, no seu art.23, sobre as competências comuns, entre as quais está a de zelar pela saúde pública, como deixou claro o STF em sua decisão a respeito.
Da mesma maneira é inacreditável que em tão pouco tempo o Governo haja substituído dois ministros na pasta da Educação e que o país ainda não saiba quem será o próximo ministro. Os anteriores o pouco que fizeram foi suficiente para darmos graças por se terem afastado. Mas quem virá? E logo numa área crucial para o país.
Governo que não tem rumo nas principais áreas sociais dificilmente encontrará a lanterna mágica para levar-nos a bom porto. Não são apenas pessoas mal escolhidas. É a falta de projetos, de esperança, o que nos sufoca.
Talvez esteja aí a falta maior do presidente: ele fala como qualquer pessoa, o que pode parecer simpático. É um “uomo qualunque”. Diz o que lhe vem à cabeça, como qualquer mortal. Mas este é o engano: o papel atribuído pelas pessoas ao presidente, qualquer deles, exige que ele, ou ela, mesmo sendo simples (para não dizer simplório), não pareça ser tão comum na hora de decidir ou de falar ao povo sobre os destinos da nação.
Em certos momentos muita gente no país pode até apreciar a semelhança entre si e o chefe-de-estado. A maioria mesmo: pois não foi ele quem ganhou as eleições? Afinal o presidente, dirão, é uma pessoa como qualquer outra. Mas quando há crises, é quando mais se precisa que haja comando, rumo. Talvez por isso os “homens comuns” no poder acabem por ser incomuns, singulares na sua incapacidade de definir um rumo. Quando têm personalidades autoritárias, investem e esbravejam contra as instituições democráticas. No Brasil, elas têm respondido bem ao desafio.
Onde iremos parar? Não tenho bola de cristal, mas é melhor parar logo. Se pudesse eu lhe diria: presidente, não fale; ou melhor, pense nas consequências de suas falas, independentemente de suas intenções. Sei que é difícil, afinal estava em seu lugar quando houve o “apagão” e também durante algumas crises cambiais. Não adianta espernear: vão dizer que a “culpa” é sua, seja ou não. E, no fundo, é sua mesma. Não se trata de culpa individual, mas, política. Quem forma o governo (sob circunstâncias, é claro) é o presidente. A boca também é dele. Logo, queiramos ou não, sempre haverá quem pense que o presidente é responsável. Vox Populi, dir-se-á...
É assim em nosso sistema presidencialista e, talvez, seja assim nas sociedades contemporâneas. Com a internet as pessoas formam redes, tribos, e saltam as instituições. Por isso é mais necessário do que nunca que haja lideranças. Em nossa cultura e em nosso regime, já de si personalistas, com mais forte razão os líderes exercem um papel simbólico, falam pela comunidade. O líder maior é sempre o presidente, pelo menos enquanto continuar lá. Por isso é tão importante: se não souber falar, se tiver dúvidas, que o presidente se cale. Como nesta semana. Melhor, contudo, é que se emende e fale coisas sensatas, que cheguem ao coração e faça sentido na cabeça das pessoas razoáveis.

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