Colcha de retalhos
Terça-Feira,
02 de novembro
Caros
leitores e leitoras, que tal começar hoje falando de colcha de retalhos, e, por
que não, trazendo um pouco da poesia de Cora Coralina para dentro desse texto
no qual se pretende falar de política. Afinal, no meio da acidez em que se
tornaram as discussões e as ações no campo político, um pouco de poesia é até
um refresco para as nossas mentes e corações.
Colcha de Retalhos
Sou feita de retalhos.
Pedacinhos coloridos de cada vida que
passa pela minha e que vou costurando na alma.
Nem sempre bonitos, nem sempre felizes,
mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.
Em cada encontro, em cada contato, vou
ficando maior…
Em cada retalho, uma vida, uma lição, um
carinho, uma saudade…
Que me tornam mais pessoa, mais humana,
mais completa.
E penso que é assim mesmo que a vida se
faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também.
E a melhor parte é que nunca estaremos
prontos, finalizados…
Haverá sempre um retalho novo para
adicionar à alma.
Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.
E que assim, de retalho em retalho,
possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de “nós”.
Cora Coralina
Sem
dúvida, uma grande reflexão dessa maravilhosa poetisa brasileira, chamada Cora
Coralina. Fica a dica para os caros leitores fazerem uma autorreflexão a partir
dessa poesia. No momento em que o mundo atinge a triste marca dos 5 milhões de
mortos pela Covid-19, dedico essa poesia também a todos os que sofrem a dor e
saudade de ter perdido para essa doença um familiar, um amigo, um conhecido, ou
alguém que admirava. Retalhos de nossas histórias que se foram juntos com eles.
5
milhões são apenas os números oficiais. E as pessoas que não foram testadas? E
as pessoas que morreram em casa, sem assistência médica? Ainda mais triste para
nós, brasileiros, é saber que nessa estatística macabra de mortos pela Covid,
ocupamos o segundo lugar da lista, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. E
mais triste ainda saber que milhares de mortes poderiam ter sido evitada em
nosso país, se tivéssemos um presidente da República que realmente honrasse
esse nome e o cargo que ocupa. Mas, infelizmente, não é essa a realidade.
Bem
apropriada essa joia da poesia brasileira escrita por Cora Coralina num texto
que vai falar de política, uma vez que as colchas de retalhos, como as
conhecemos hoje, totalmente trabalhadas em blocos de tecidos costurados,
surgiram dentro de um contexto político.
Durante
a Guerra da Independência dos Estados Unidos, começaram a ser feitas muitas
colchas com motivos patrióticos e símbolos relacionados à revolução. Em 1795
apareceram os trabalhos feitos em patchowrk e as “bordas despedaçadas”, mas que
ainda giravam em torno de um medalhão central. As colchas totalmente costuradas
em blocos de tecidos ganharam destaque apenas em 1806.
Enfim,
voltemos ao nosso Brasil, com a nossa colcha de retalhos de raças, culturas e
histórias. O texto de hoje pretende ser uma colcha de retalhos feitos de vários
assuntos, que espero, fiquem bem costurados. Então, postos sobre a mesa,
tecidos, agulhas e linhas, comecemos.
Depois
de 5 meses e 29 dias de intenso trabalho, finalmente foi colocado um ponto
final na CPI da Covid-19. No dia 26 de outubro, com todos os holofotes e
atenções viradas para ela, a CPI chegou ao seu final com a leitura do relatório
elaborado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros. O relatório foi
aprovado pelo placar de 7 votos a favor e 4 votos contra.
O
robusto relatório que tem 1.289 páginas todas elas baseadas, fundamentadas, e
bem alicerçadas em depoimentos das
testemunhas e investigados convocados pelos membros da CPI, termina pedindo o
indiciamento de 78 pessoas, dentre eles o presidente da República, Jair
Bolsonaro, e seus três filhos, Flávio, Carlos e Eduardo, deputados federais,
ministros, ex-ministro, empresários, médicos, funcionários, e ex-funcionários
do governo. De última hora também foi incluído o nome do governador do
Amazonas, Wilson Lima.
A
Precisa Medicamentos e a VTCLog, empresas que firmaram contratos com o
Ministério da Saúde para a compra de vacinas contra a Covid-19, também foram
responsabilizadas.
O
relatório já foi entregue ao procurador-Geral da República, Augusto Aras.
Cópias do relatório também serão entregues ao presidente do Senado, Rodrigo
Pacheco, aos ministérios públicos do Rio e de São Paulo, e ao Tribunal Penal
Internacional.
O
nome do senador governista, Luis Carlos Heinz, (PP-RS), chegou a ter seu nome
incluído no relatório do senador Renan Calheiros a pedido do senador Alessandro
Vieira (Cidadania-SE), mas, após protestos dos governistas integrantes da CPI,
e depois de conversas com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco foi retirado
na versão final.
Foram
dias intensos de muito trabalho, discussões acaloradas, muitas mentira e silêncios
por parte dos depoentes, revelações de fatos estarrecedores como os contratos
superfaturados para a compra de vacinas, e o caso da Prevent Sênior, operadora
de planos de saúde que escondeu mortes pela Covid, montou um experimento com
remédios ineficazes contra a Covid, sem o conhecimento dos pacientes, e obrigou
os médicos que trabalhavam para ela a receitar esses medicamentos.
Enfim,
espera-se agora que este relatório não fique guardado nas gavetas da
procuradoria-Geral da República, nem que o procurador Augusto Aras fique
sentado em cima dele, sem tomar nenhuma atitude. O Brasil espera respostas e
ações enérgicas para os crimes que foram cometidos pelo governo federal durante
a pandemia. E que as Assembleias Legislativas dos estados, investiguem e punam
os governadores que também cometeram crimes na pandemia.
Aliás,
esse foi um pedido dos senadores governistas durante toda a CPI: o de que os
governadores também fossem investigados pela CPI, porém a questão esbarrou em
dois muros: a competência para investigar os governos é das Assembleias
Legislativas estaduais. Além disso, os senadores teriam apenas um curto de
espaço de tempo para analisar mais uma centena de documentos vindos dos estados
brasileiros, aliados às centenas de documentos que tiveram que analisar.
Ainda
tratando do Senado, continua a situação vexatória acerca da indicação do nome
de André Mendonça para a vaga deixada pelo ministro Marco Aurélio de Melo no
Supremo Tribunal Federal.
Ao
presidente da República cabe indicar os membros do STF. Após a indicação, cabe
ao Senado Federal fazer a sabatina do novo indicado para aprovar a ou reprovar
a indicação. Geralmente, isso não é uma coisa demorada. Indicado o candidato
pelo presidente, logo depois é marcada a sabatina.
No
caso de André Mendonça, o caso virou uma novela. Mendonça foi indicado pelo
presidente em 13 de julho. Já se passaram quase quatro meses de sua indicação
e, até agora, não foi marcada sua sabatina.
Quem
é responsável por marcar a sabatina de André Mendonça no Senado é Davi
Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça. E ele não parece nenhum pouco animado para
colocar o assunto em pauta. Muito pelo contrário. Em outubro ele disse a
aliados que pretende segurar a indicação de Mendonça até 2023. Com essa
manobra, a indicação de Mendonça perderia a validade e a indicação ao STF
sairia apenas no próximo mandato presidencial.
Outra
manobra de Alcolumbre é que o presidente mude a indicação. O nome preferido dele
para a vaga no STF é o de Augusto Aras. Alcolumbre, inclusive, faz articulações
para que isso aconteça.
O
fato é que não sabe ao certo o motivo da resistência de Alcolumbre ao nome de
André Mendonça para a vaga no STF. O fato é que, enquanto David Alcolumbre
trava uma guerra fria com o Palácio do Planalto, ele vai prejudicando o
funcionamento do STF que opera no momento com dez ministros.
Com
certeza, causas importantes por lá estão paradas, à espera do ocupante da
cadeira de Marco Aurélio. Além disso, julgamentos podem ficar prejudicados em
caso de empate. Além disso, há os trabalhos da própria Constituição de Comissão
e Justiça do Senado que estão à espera da resolução desse imbróglio para que
voltem a sua normalidade.
Continuemos falando de Davi Alcolumbre. Marina, Lilian, Erica, Larissa, Jessyca e Adriana. O que essas mulheres têm a ver com ele? Ainda mais quando se trata de que todas elas são mulheres pobres, desempregadas, e moradoras da periferia do Distrito Federal. Aí, sim, é que não teriam nada a ver com o poderoso e rico Davi Alcolumbre.
Mas
elas têm, sim. Em algum momento da vida dessas mulheres comuns cruzou o caminho
de Davi Alcolumbre. Essas seis mulheres foram contratadas para trabalhar como
assessoras no gabinete do senador. Elas recebiam salários que variavam entre 4 e
14 mil reais.
Na
verdade, tudo era uma farsa. Mulheres contratadas. Salários pagos. Mas o fato é
que elas nunca pisaram no gabinete do senador. Do salário que elas ganhavam apenas
uma pequena parte ficava realmente com elas. O restante ficava com o senador.
Isso tem nome e se chama a prática de rachadinha. Apropriação indébita do
dinheiro público, desvio de verbas públicas. O caso foi revelado pela revista
Veja, publicada em 29 de outubro. Nenhuma das mulheres tinha curso superior ou
experiência em funções legislativas.
A
reportagem de Veja diz que, ao ser admitidas, as mulheres tiveram que abrir uma
conta no banco. Até aí, tudo bem. Essa é uma prática recorrente nas empresas públicas
e privadas. O nó da questão era que as mulheres tiveram que entregar o cartão
do banco e a senha a uma pessoa de confiança do senador.
Em
troca, as mulheres ficavam apenas com uma pequena gratificação. Além do
salário, também eram confiscados das mulheres todos os benefícios e as verbas
rescisórias a que teriam direito quando fossem demitidas. Nessa farsa criminosa
foram desviados dos cofres públicos cerca de R$ 2 milhões.
A
Veja revela que este esquema começou em 2016 e vigorou até março deste ano. Em 2019, Davi Alcolumbre foi eleito
presidente do senado para o biênio 2019/2020. Portanto o esquema criminoso
organizado por ele, vigorou mesmo durante o período em que ele atuou como
presidente do senado.
Pressionadas
pela necessidade financeira, e atraídas pela proposta de ganhar dinheiro sem
trabalhar, as seis mulheres emprestavam a um esquema criminoso nome, CPF, e
carteira do trabalho. Em troca era pedido a elas apenas sigilo total, e pago
uma gratificação.
O
desvio de dinheiro público praticado por Alcolumbre, sem dúvida, causa um
imenso constrangimento no Senado Federal. Um constrangimento que causa
silêncio. Principalmente porque nas sessões da CPI da Covid, se viu muito
discurso inflamado contra o mecanismo corrupto que se instalou no Ministério da
Saúde durante a pandemia.
Na
sexta-feira, o senador do Cidadania-SE, apresentou ao STF uma notícia crime
contra o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), Davi
Alcolumbre. Nele o senador pede que o STF investigue a prática de rachadinha
praticada pelo ex-presidente do Senado. A atitude de Alessandro Vieira só fez
aumentar ainda mais o ruidoso silêncio no qual está mergulhado o senado após a
revelação do caso pela revista Veja.
Não
dá para deixar de fora deste texto a reunião do G20, grupo formado pelas
maiores economias do mundo. O encontro aconteceu na Itália. Começou no sábado
30, e terminou no domingo, 31.
Entre
as pautas do encontro, estiveram temas como as questões climáticas, a
recuperação econômica mundial, e a contenção da pandemia. Um dos fatores a se
destacar na reunião dos líderes mundiais foi o isolamento de Bolsonaro entre
eles.
Não
era pra menos. Bolsonaro é conhecido pelas suas posições controversas em
relação ao clima, indo na contramão do mundo. Além disso, ainda teve a CPI com
trabalhos recém-concluídos e com relatório que acusa o presidente brasileiro de
crime contra a humanidade por suas ações na pandemia, além de outros crimes.
No domingo, 31, também começou, em Glasgow, Escócia, a Cúpula do Clima das Nações Unidas. Bolsonaro resolveu não participar do evento. É verdade que Bolsonaro e defesa do clima e meio ambiente são assuntos que não combinam. O presidente não é nem um pouco entusiasta da questão climática. O representante da delegação brasileira na COP 26 é o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.
O
governador de São Paulo também está em Glasgow, participando do evento.
Comentando a ausência do presidente brasileiro, ele disse “Seria uma
presença inútil, essa é a realidade, uma presença absolutamente inútil. Não
contribuiria para nada, exceto para convulsionar ainda mais o ambiente da
cúpula do clima”.
Em
vez de ir a Glasgow, Bolsonaro resolveu ficar na Itália. Ele foi a localidade
do norte da Itália chamada Anguillara Veneta, norte da Itália, cidade onde
nasceu o avô dele. Lá, recebeu o título de cidadão honorário. O título foi
concedido pela prefeitura local que é administrada por políticos de extrema
direita.
Protestos contra Bolsonaro em Anguillara Veneta
A
entrega de título de cidadão honorário a Jair Bolsonaro não foi um evento
tranquilo. O presidente teve que enfrentar manifestações contrárias ao
recebimento da homenagem por Jair Bolsonaro. Agentes de segurança tiveram que
usar cassetetes e jatos de água para dispersar os manifestantes.
Andando
nas ruas de Roma, o presidente protagonizou novas cenas de agressões à
imprensa. Bolsonaro, mais uma vez, destratou jornalistas. Um dos seguranças de
Bolsonaro deu um soco na barriga de Leonardo Monteiro, jornalista da Globo. O
jornalista do UOL, Jamil Chade, tentava gravar a cena para tentar identificar o
agressor quando teve o celular arrancado de suas mãos e jogado ao chão por um
dos seguranças.
O
que vimos durante esse encontro do G20 é lastimável e a prova de que o Brasil
sob o governo Bolsonaro se tornou um pária perante a comunidade internacional.
Vimos também o resultado de uma diplomacia que age como amadora.
O
encontro do G20 é um encontro importante pois ele reúne as principais economias
do mundo, as mais industrializadas e emergentes. É um ambiente perfeito para se
discutir questões chaves para a economia global. Realizado em Roma este ano, o
evento foi ainda mais importante, pois foi realizado em um contexto de mundo
fragilizado pelos efeitos devastadores da pandemia de Covid-19 que afetou não
apenas um país, uma região, uma província, mas o planeta inteiro. Obviamente
não poderia faltar nesse encontro — além do carro chefe que é a economia —
temas como saúde, clima, e desenvolvimento sustentável.
A
COP 26, que começou dia 31 de outubro e vai até 12 de novembro é outro evento
de grande importância para o planeta.
Uma
matéria especial do portal UOL sobre o assunto nos apresenta o que é o evento:
“COP significa Conferência das Partes. As "partes" são os 197
signatários (196 países e a União Europeia) da Convenção-Quadro da ONU sobre
Mudança do Clima, um acordo internacional que começou a valer em 1994. A partir
do ano seguinte, esses países passaram a se encontrar anualmente para avaliar
como estão indo os esforços de combate ao aquecimento global causado pelas
atividades humanas. O 26 se refere ao fato de que esta é a 26ª edição do
encontro — em 2020, por conta da pandemia, ele não ocorreu”.
Na
década de 80 quando começou a se falar em aquecimento global e efeito estufa,
muitos deram de ombros. Depois disso o assunto foi ganhando cada vez mais
importância. A cada dia os cientistas chamam a atenção da humanidade para as
mudanças climáticas que podem, e já estão afetando, profundamente a vida do
nosso planeta.
Todos
nós, não importa em que parte do mundo estejamos habitando no momento, já
percebemos eventos estranhos no clima. Frio intenso. Calor intenso. Aumento do
nível das águas do oceano. Secas. Nuvem de poeira onde não costumava ocorrer
esse tipo de fenômeno. Incêndios florestais. Todos esses a mais outros que
podemos perceber.
Aos
líderes mundiais é preciso discutir urgentemente esses assuntos, e mais que
discutir, colocar em prática ações que nos permitam continuar vivendo nesse
planeta. Pois, em alguma esquina do futuro a raça humana pode desaparecer. A
Terra dará de um jeito de se refazer. Nós passaremos., se providências não
forem tomadas agora, no momento presente.
Pois, bem, caros leitores e leitoras, diante de discussões tão importantes para o nosso país, e para o nosso planeta, a participação do governo brasileiro, e do presidente Jair Bolsonaro nos dois eventos foi patética. Superficial. Apenas mostrou o isolamento no qual se meteu o presidente brasileiro. Jair Bolsonaro devia olhar para as colchas de retalhos e ver que a beleza delas está justamente na união de pedacinhos de tecidos que se unem para formar uma bonita colcha de retalhos.
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