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Rebanho enfurecido
Posted by Cottidianos
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01:09
Terça-feira,
05 de maio
“Êh, ô, ô, vida de gado
Povo
marcado
Êh,
povo feliz!”
(Admirável Gado Novo – Zé Ramalho)
No
momento em que o Brasil ultrapassa os 100 mil casos confirmados de coronavírus. Os dados
atualizados do Ministério da Saúde até o momento em que este artigo é escrito informam
que o número de casos confirmados é de 107.780, e o número de mortos chega a
7.321, sendo a taxa de letalidade da doença no Brasil de 6,7%...
No
momento em que o sistema de saúde brasileiro começa a entrar em colapso por
causa da doença. Por exemplo, Manaus já vive seus caos nos sistema de saúde e
funerário...
No dia em que se celebra mundialmente o Dia
Mundial da Liberdade de Imprensa...
No
momento em que 40 nações se unem para tentar combater o inimigo. A União
Europeia liderou uma campanha que envolveu mais de 40 países e arrecadou R$ 45
bilhões para o desenvolvimento de vacinas e tratamentos...
No
momento em que a recomendação da Organização Mundial da Saúde e do Ministério
da Saúde pedem que os brasileiros fiquem em casa para evitar uma tragédia
nacional...
Eis
que o presidente Jair Bolsonaro resolve participar de mais uma manifestação contra
o isolamento social, e antidemocrática que pedia fechamento do STF e do
Congresso, e intervenção militar com Jair Bolsonaro.
Louco?
Genocida? Ditador? Descontrolado?
Como
qualificar uma personalidade assim? O que dizer de um presidente que age dessa
forma?
O
fato de seu neste domingo, 03. A manifestação começou na Esplanada dos
Ministérios e, quando na Praça dos Três Poderes, em frente ao Palácio do
Planalto, os manifestantes desceram dos carros e se aglomeraram no local.
O
presidente juntou-se aos manifestantes no Palácio do Planalto. Dessa vez uma
grade o separava dos manifestantes. Bolsonaro chegou com a filha Laura, e não
usava máscaras. Transmitiu ao vivo a manifestação através de suas redes
sociais.
Entre
os presentes estavam deputados federais, entre eles, o filho, Eduardo
Bolsonaro. O ministro da Cidadania, Onix Lorenzoni também participou do ato. Ao
canal Papo Conservador, do Youtube, que transmitia o ato, Lorenzoni disso: “Eu vim agradecer o carinho dos brasilienses,
das pessoas de fora que vieram aqui, que tão trazendo seu apoio, sua esperança,
sua fé, a certeza de que o Brasil vai continuar no rumo certo. E o rumo certo
do Brasil é o presidente Bolsonaro. Obrigado a todos, em nome de Jesus, muito
obrigado”.
O
presidente Bolsonaro, em sua fala, voltou a criticar o isolamento social e os
governadores que adotaram a prática recomendada pelos órgãos da Saúde. Para a
live que estava sendo transmitida ao vivo em suas redes sociais, o presidente
disse: “Tenho certeza de uma coisa, nós
temos o povo ao nosso lado, nós temos as Forças Armadas ao lado do povo, pela
lei, pela ordem, pela democracia, e pela liberdade. E o mais importante, temos
Deus conosco”.
Em
outro trecho do seu discurso o presidente falou: “Peço a Deus que não tenhamos problemas essa semana. Chegamos no limite,
não tem mais conversa, daqui pra frente, não só exigiremos, faremos cumprir a
Constituição, ela será cumprida a qualquer preço, e ela tem dupla mão”. Ao
dizer isso, o presidente também não explicou de que forma pretendia agir caso
tivesse mais uma de suas decisões contrariadas por algum dos demais poderes constituídos.
Mais
uma vez, autoridades do Legislativo e do Judiciário, e de outros setores da
sociedade criticaram a participação do presidente nos atos deste domingo.
No
dia que se comemorava o Dia da Liberdade de Imprensa, repórteres que
registravam a manifestação foram agredidos. O repórter fotográfico Dida
Sampaio, do jornal O Estado de São Paulo, fazia o seu trabalho enquanto o
presidente acenava aos seus apoiadores. Nesse momento o repórter foi cercado
pelos manifestantes. Ele foi derrubado por duas vezes. Foi chutado pelas
costas, além de levar um soco no estomago. Marcos Pereira, motorista do jornal
também foi agredido.
Repórteres
de outros veículos de comunicação também sofreram agressões. Os jornalistas
tiveram que deixar a cobertura do ato, escoltados pela polícia.
Na
tarde de sábado, 2, durante a cobertura pela imprensa da chegada do ex-ministro
Sérgio Moro à Curitiba para prestar depoimento sobre o inquérito que investiga
tentativa de Jair Bolsonaro de interferir na Polícia Federal, um bolsonarista
tentou derrubar a câmera do cinegrafista Robson Willian da Silva, da TV Record.
Na
manhã de sexta-feira, 1o, dia em que se comemorava o Dia do
Trabalhador, um grupo de cerca de 60 enfermeiros e enfermeiras, respeitando a distância
recomendada pelos órgãos de saúde entre as pessoas, e usando máscaras, faziam
um ato de protesto silencioso em frente à Praça dos Três Poderes, em Brasília, por
melhores condições de trabalho e pelo respeito ao isolamento social, quando
foram agredidos verbalmente por bolsonaristas.
A
manifestação seguia pacífica até que um homem e uma mulher, partidários do
presidente, partiram aos gritos para cima do grupo de manifestantes chamando-os
de “sem-vergonha”, “covardes”, e “analfabetos funcionais”. Uma das enfermeiras
que participava do protesto silencioso foi empurrada, sem que esboçasse nenhuma
reação às provocações dos desordeiros.
Uma
terceira pessoa que fazia parte do grupo de agressores ainda fez um vídeo do
protesto dos enfermeiros e postou nas redes sociais dizendo que era fake news,
e que moradores de rua haviam sido convencidos a usar jaleco brancos e forjar
um protesto. O vídeos chegou a alcançar 20 mil visualizações, depois foi
apagado.
Esse
foi mais um grupo que teve de sair do local escoltado por policias para não
terem suas integridades físicas atingidas por tresloucados.
O
Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) identificou os
três agressores e vai processá-los.
Reconhecidos,
e responsabilizados criminalmente também devem ser os agressores dos
jornalistas, tanto no sábado como no domingo. Afinal, criminosos devem punidos
pelos seus atos.
Esse
final de semana, os bolsonaristas pareciam estar enlouquecidos, enfurecidos. Eles
também atacaram o ministro do STF, Alexandre de Moraes. Um grupo de
bolsoanristas fez um protesto em frente ao prédio onde mora o ministro.
Usando
megafones, cerca de 20 manifestantes, com carros parados na calçada, cobertos
com a bandeira do Brasil, emitiam palavras de xingamento ao ministro, e pediam
que ele descesse para a rua. Ele foi chamado pelos manifestantes de “comunista
que não gosta de polícia” e diziam que ele “estava com medo de Ramagem”.
Foi
Alexandre de Moraes quem suspendeu a nomeação de Alexandre Ramagem, poucas
horas antes da nomeação. Ramagem era o nome preferido por Bolsonaro para o
comando da PF por ser amigo da família. Era, portanto, o homem perfeito para
Bolsonaro controlar e, através dele, interferir nas investigações da PF, principalmente,
nas que envolvem seus filhos e seus amigos.
E
a escalada de violências e ameaças por parte de partidários do presidente não
parou por aí. O governador de São Paulo encaminhou, domingo, 3, ao serviço de
inteligência da Polícia Civil, uma ameaça de morte feita por uma mulher na
conta do Instagram de Bia Dória, mulher do governador. A mensagem ameaçava de
morte, Dória, a mulher, e os filhos do casal.
Essa
não é a primeira ameaça que Dória recebe, por parte dos Bolsonaristas, desde
que a quarentena começou a vigorar no estado de São Paulo. No dia 13 de abril,
Dória entrou com uma queixa-crime contra o advogado Bolsonarista, Marcelo Pegoraro.
Durante uma manifestação realizada na Avenida Paulista contra o fim do
isolamento social, Pegoraro enrolou a bandeira do Brasil no corpo e, enquanto
era gravado em vídeo, ameaçou o governador, usando palavras de baixo calão, dizendo:
“Cê vai morrer, fdp! É isso que vai
acontecer: a gente vai lá na tua casa e vamos quebrar sua casa inteira, seu
“pau no c*”! É isso que o pessoal quer falar pra você, seu fdp”.
É
triste ver a bandeira do Brasil sendo usada como símbolo de opressão, ameaças e
violências. A bandeira do Brasil não merece isso. O Brasil muito menos. Porém,
o que esperar de seguidores de um presidente que prega o ódio e a intolerância?
Falando
no presidente, hoje, 04, em cerimônia rápida e à portas fechadas, ele nomeou o
novo diretor-geral da Polícia Federal. O novo diretor do órgão é Rolando de
Souza. Rolando era o braço direito de Alexandre Ramagem na Abin. A rapidez foi
uma tentativa de evitar que fosse mais uma vez impedido por algum ministro do
STF.
E
adivinhem qual foi uma das primeiras ações do novo comande chefe da PF? Atender
um desejo de Bolsonaro que era trocar o superintendente da PF no Rio de
Janeiro. Vinte minutos depois de nomeado. Foi o tempo que levou para a troca.
Carlos Henrique de Oliveira, superintendente da PF no Rio, foi convidado por
Rolando para assumir direção-executiva da PF, o que faz ser o número dois do
novo diretor. Assim todo mundo fica contente. Rolando de Souza, Bolsonaro, e os
filhos. Mas será que Carlos Henrique de Oliveira queria mesmo isso, ou ele
preferia ter continuado no Rio de Janeiro?
A
troca no comando da PF no Rio tem mais cara de estratégia do que de promoção. Afinal,
o Rio de Janeiro é uma área de interesse de Bolsonaro e de seus filhos. Ou
seja, Bolsonaro acabou dando um jeito de driblar o STF ao nomear para PF o
braço direito de Ramagem na Abin. Dessa forma, continua tudo em casa.
É
simplesmente vergonhoso o que o presidente quer fazer na PF. E não só na PF. Ele
também quer interferir no Exército.
Será
que alguém imaginava que depois do PT poderia vir algo pior? Pois aconteceu. Se
o PT ameaçava os cofres públicos. Bolsonaro acrescenta mais um item a esse
temor: uma ameaça à democracia.
Para
finalizar, faço minhas as palavras de Paulo Coelho quando de uma entrevista concedida
por ele à BBC Brasil em setembro de 2019. Aliás, uma entrevista muito boa. Quem
tiver tempo de assistir, assista. Vale a pena. Falando de Bolsonaro, o
entrevistador da BBC, Ricardo Senra, perguntou: “Você fez críticas ao presidente, ao chanceler. Você se preocupa de
alguma maneira que essas críticas desagradem a parte dos seus leitores?”
Ao
que Paulo Coelho respondeu: “Mas óbvio.
Não, não. Preocupar é uma palavra muito forte. A essa altura, eu tenho um
compromisso histórico e o compromisso histórico é não ficar calado. Eu tenho
que falar. Vou perder leitores? Vou. Tenho perdido? Devo estar perdendo? Não
sei. Eu não fico contabilizando isso. No Brasil. Mas, fora do Brasil, eu não
acredito. Acho que todo mundo está olhando o Brasil neste momento com muita
suspeita”.
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