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Terra, nossa casinha no universo

Posted by Cottidianos on 13:16

Domingo, 22 de abril


A respeito da nossa tão querida casinha no universo, a Terra, nosso planeta, disse um samurai, no Século XIV, em um poema a ele atribuído, intitulado, Credo do Samurai:

Credo do Samurai

Eu não tenho pais, faço do céu e da terra meus pais.
Eu não tenho casa, faço do mundo minha casa.
Eu não tenho poder divino, faço da honestidade meu poder divino.
Eu não tenho pretensões, faço da minha disciplina minha pretensão.
Eu não tenho poderes mágicos, faço da personalidade meus poderes mágicos.
Eu não tenho vida ou morte, faço das duas uma, tenho vida e morte.
Eu não tenho visão, faço da luz do trovão a minha visão.
Eu não tenho audição, faço da sensibilidade meus ouvidos.
Eu não tenho língua, faço da prontidão minha língua.
...
Também sobre ela se pronunciou, Alberto Caieiro — um dos pseudônimos de Fernando Pessoa — quando tão belamente versejou na poesia, Da Minha Aldeia:

Da Minha Aldeia

Da minha aldeia vejo quanto da terra se pode ver no Universo...
Por isso a minha aldeia é tão grande como outra terra qualquer
Porque eu sou do tamanho do que vejo
E não do tamanho da minha altura...
Nas cidades a vida é mais pequena
Que aqui na minha casa no cimo deste outeiro.
Na cidade as grandes casas fecham a vista à chave,
Escondem o horizonte, empurram o nosso olhar para longe
de todo o céu,
Tornam-nos pequenos porque nos tiram o que os nossos olhos
nos podem dar,
E tornam-nos pobres porque a nossa única riqueza é ver.

Mais recentemente, escreveram em versos os poetas cantantes, Caetano Veloso, na canção, Terra:

Terra

Quando eu me encontrava preso
Na cela de uma cadeia
Foi que vi pela primeira vez
As tais fotografias
Em que apareces inteira
Porém lá não estavas nua
E sim coberta de nuvens...
Terra! Terra!
Por mais distante
O errante navegante
Quem jamais te esqueceria?...
...

E Guilherme Arantes, na canção, Planeta Água:

Planeta Água

Água que nasce na fonte serena do mundo
E que abre um profundo grotão
Água que faz inocente riacho e deságua na corrente do ribeirão
Águas escuras dos rios que levam a fertilidade ao sertão
Águas que banham aldeias e matam a sede da população
Águas que caem das pedras no véu das cascatas, ronco de trovão
E depois dormem tranquilas no leito dos lagos, no leito dos lagos.
...

Esse blog dá voz a esses poetas que, com suas palavras bem construídas e bem colocadas ajudam a tornar o mundo mais colorido, mais musical, para construir uma justa homenagem a nossa casa em comum no universo.
Hoje, dia 22 de abril, é dia dela, a Terra, nosso planeta. O Dia Mundial da Terra foi um evento criado pelo senador norte-americano e ativista ambiental, Gaylord Nelson. O ato foi um jeito de fazer um protesto contra a poluição da Terra, após constatar as desastrosas consequências de um desastre petrolífero, ocorrido em 1969, em Santa Bárbara Califórnia.
A manifestação conclamada pelo senador mobilizou a sociedade norte-americana, e dela participaram cerca de duas mil universidades, dez mil escolas primárias e secundárias, além de centenas de comunidades. O resultado desse grito de insatisfação foi que o governo norte-americano criou a Agência de Proteção Ambiental, além de leis que protegem o meio ambiente.
Desde aquela insatisfação sentida por Gaylord Nelson, pouca coisa mudou. A verdade é que desastres ambientais continuam acontecendo, no Brasil e no mundo, sem que os responsáveis paguem por esse crime. Pelo menos aqui no Brasil, as grandes empresas, geralmente as responsáveis pelos grandes desastres ambientais, se beneficiam da lentidão da justiça, e tudo fica por isso mesmo. Só não fica por isso mesmo as milhares de vidas prejudicadas pelos atos desastrosos, e também os rios, lagos, oceanos, a fauna, a flora, e as terras atingidas.
A Terra está pedindo socorro, e isso já faz tempo. É como se uma pessoa tivesse sendo levada em direção a um precipício, e os que estão em sua volta, em vez de lhe darem às mãos, a empurram ainda com mais força para a queda inevitável no vazio.
Há vozes a alertar do perigo iminente, mas os grandes líderes fazem ouvidos de mercador, fingem que não ouvem, dão uma de desentendido.

“Em outros declives semelhantes, vimos, com prazer, progressivos indícios de desbravamento, isto é, matas em fogo ou já destruídas, de cujas cinzas começavam a brotar o milho, a mandioca, e o feijão. (...)."
“Pode-se prever que em breve haverá falta até de madeira necessária para as construções se, por meio de uma sensata economia florestal, não se der fim à livre utilização e devastação das matas desta zona”.

Os dois parágrafos entre aspas acima falam de uma realidade que poderia ter sido observada em qualquer lugar do mundo, porém a narrativa refere-se a terras brasileiras. O leitor, a leitora pode até achar que se trata de um quadro atual pela semelhança do que acontece hoje em território brasileiro.
Essas informações, porém não são atuais em seu contexto, apenas em seu conteúdo. Nem tampouco foram observadas por um brasileiro.
As informações em destaque fazem parte de um livro escrito pelo naturalista austríaco, Johann Emanuel Pohi. O livro, intitulado, Viajem no Interior do Brasil, e publicado em 1976 pela editora Itatiaia, relata uma série de viagens feitas pelo naturalista, pelo interior do Brasil, entre os anos de 1818 e 1819. Há quase 200 anos o naturalista austríaco já percebia que o meio ambiente no Brasil não estava sendo bem cuidado, bem tratado. Já pensou se os governantes daquela época lhe tivessem dado ouvidos? Que paraíso tropical nós teríamos?
Observações feitas por Johann Emanuel Pohi, também devem ter sido feitas há muito tempo atrás por outros naturalistas, cientistas e pesquisadores. Também se lhe tivessem sido dados ouvidos aos alertas, estudos, e conselhos, não teríamos as consequências que vemos planeta afora, tais como aumento na temperatura, derretimentos das geleiras, destruição da camada de ozônio, e ameaça da falta de nosso bem mais precioso: a água, problema que já se faz sentir em grande parte do globo terrestre.
As coisas começarão a tomar um rumo diferente quando os homens compreenderem que, seja na África, Ásia, Europa, América, Oceania, ou na Antártida, mesmo vivendo culturas diversas, costumes diversos, dividimos todos e todas a mesma casa comum no universo. Que apesar de sermos diferentes na cor da pele, por dentro, somos todos iguais, com tecidos, órgãos, células, e nervos que repetem, a cada segundo, o mesmo processo, e desempenham as mesmas funções em nossos corpos tão humanos.
É preciso que compreendamos, principalmente, os grandes líderes, que o desabamento de uma casa começa, na maioria das vezes, com uma pequena rachadura que faz ruir toda a estrutura.
Os avisos e alertas foram dados no passado, e estão sendo dados, a cada dia, no presente. E, diante das evidencias de desarmonia climática, será que ainda continuaremos a fazer ouvidos de mercador?
Antes de finalizar, celebremos o 22 de abril também como a data que marca o nascimento de nossa nação. Pois foi em um dia como hoje que as caravelas da esquadra portuguesa, comandada por Pedro Alvares Cabral, aportaram no litoral Sul do atual estado da Bahia. Não diríamos que eles descobriram o Brasil, afinal por aqui já habitavam milhões de indígenas.
Mas, enfim, esses primeiros portugueses, pode-se dizer deles que desembarcaram num paraíso... O resto da história vocês já conhecem.
E assim, lá se vão quinhentos e dezoito anos da chegada dos portugueses, sem contar outros tantos nos quais esta terra era coberta de índios de uma infinidade de tribos.
Salve a Terra! Salve o Brasil! Salve o mundo!


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Por que é difícil mudar?

Posted by Cottidianos on 00:59

Terça-feira, 17 de abril


O que é preciso para que se mude o Brasil?
Pergunta simples, resposta complexa. Sabemos todos nós que uma eleição presidencial não mudará o Brasil. Nunca mudou antes e não mudará agora, neste que é um dos mais dramáticos momentos da história política brasileira. A próxima eleição, mais que uma escolha democrática, será um tiro no escuro.
A população está — como diz um ditado bem popular — “de saco cheio” com tanta corrupção e roubalheira. É muita falta de vergonha na cara para os políticos de um só país. Ainda assim, o Brasil é a contradição das contradições.
Vejamos: o ex-presidente, Luís Inácio Lula da Silva, responsável pela montagem de um dos maiores esquemas de corrupção jamais visto no país, e quem sabe, na América Latina, finalmente está preso. Contudo, apesar de a maioria da população ter sido a favor de sua prisão, outra grande parte ainda o idolatra. A ex-presidente Dilma teve seu mandato cassado, por ter dado umas pedaladas — não essas pedaladas que são saudáveis para o corpo e para a mente — mas daquelas que prejudicam as finanças do governo, e, consequentemente do país, e também pela edição de créditos suplementares.
No primeiro caso, houve um atraso nos repasses da União aos bancos públicos com a finalidade de cobrir os gastos dessas instituições financeiras para com programas desenvolvidos pelo governo. No segundo caso, decretos governamentais, sem autorização do Congresso, foram responsáveis por autorizar aumento nos gastos do governo o que fez com que as metas fiscais fossem prejudicadas.
Pois bem, impeachment de Dilma, problema resolvido. Engano nosso. Em lugar dela entrou Michel Temer, cuja ponta dos icebergs das investigações tem revelado que ele cometeu crimes bem maiores dos que os de Dilma.
Nas esferas judiciais vemos que começa a se fazer justiça com a prisão de figurões empresariais e medalhões da política. Porém ainda se faz uma justiça incipiente que não faz aos acusados devolverem aos cofres públicos a quantia que roubaram. Se bem que isso começou a ser feito na Lava Jato, mas ainda tem muitos acusados e presos, que só estão esperando se ver livres das enrascadas para poder usufruir do dinheiro sujo, adquirido no submundo criminoso e fétido da corrupção.
Também se vê nas altas cortes, ministros com profundo conhecimento do direito, e com entendimento das causas que julgam, mas que ainda não entenderam que a corrupção é um mal sem tamanho que atinge a eles, que parecem intocáveis, e atinge também aos cidadãos comuns, esses que não gozam dos privilégios dos quais gozam o judiciário, o executivo, e o legislativo.
Olhando para o congresso e para o senado brasileiros, às vezes temos a impressão de que vivemos em um regime monarquista, com seus reis, rainhas, príncipes e princesas, gozando dos altos mais privilégios, enquanto os súditos não têm direito a nenhum e ainda tem que trabalhar de sol a sol para sustentar a realeza. Esta, acima da lei, uma vez que é ela mesma que a faz e quem a executa. Os nobres, portanto, encontram brechas mil para escapar da justiça, enquanto os plebeus são castigados ao extremo ao menor deslize. É uma democracia que mais parece monarquia.
E porque para a questão: o que é preciso para que se mude o Brasil, a resposta não é simples, mas complexa.
Porque complexo foi o nosso nascimento enquanto nação. Se fosse criança, nosso pobre país não teria nascido em berço de ouro, e, portanto, com toda a classe e fineza da aristocracia.
Não. Infelizmente, não aconteceu assim.
Formado pelo cruzamento de três raças, a branca, a negra, e a índia, as coisas degringolaram desde o seu início.
Quanto aos brancos, os que vieram ter aqui na terra Brasilis não foram os mais educados, os mais gentis, os mais refinados. Para esta terra, a coroa portuguesa, talvez por não querer apostar no desconhecido, recheou seus navios com gente da pior espécie. E foi tal de desembarcar por aqui ladrões, assassinos, condenados, prostitutas, e daí pra baixo. Em resumo, quem aqui veio por primeiro estava pouco ou nada preocupado com ética e a moral, ao contrário, às favas com elas. O importante era levar vantagem em tudo, e enganar a quem se conseguisse.
Os negros, coitados dos negros! Arrancados de seu chão raiz, vieram para os infernos das senzalas. Na África, eram reis, rainhas, ou até mesmo plebeus, mas todos livres. De muito brio, viviam em suas tribos sob a égide da moral e da ética. Mas depois de tanta água amarga rolada por baixo da ponte, mesmo depois de “libertos”, a quem tinha como espelho senão os brancos que tinha herdado de seus antepassados, maus hábitos e maus costumes? Alguns, é verdade, ainda se lembravam das lições aprendidas ainda no torrão natal, mas esses já eram bem poucos para que frutificasse e inundassem o chão Brasil das coisas que haviam deixado em África.
Os índios, nessa historia toda foram os mais prejudicados, e os mais dizimados. Eram puros e viviam em idílico contato com a natureza, mas, devido a tanta pressão, acabaram por perder sua identidade, e sua ingenuidade... e seguiram a banda que tocava fora de compasso.
O resultado é que hoje, se corremos para o estádio de futebol para distrair um pouco a mente das pesadas atribuições da semana, lá teremos árbitros e dirigentes de futebol manipulando resultados e roubando o brilho de um espetáculo, cujo brilho deveria estar no brio dos atletas e nos troféus por ele levantados.
Decepcionados com os estádios, vamos aos hospitais buscar cuidados, e lá vemos médicos aplicando injeções com ampolas vazias, outros dando falsos diagnósticos com a finalidade de que o paciente faça tratamento que, às vezes nem é necessário. Outros ainda batem o ponto nos hospitais públicos e vão para suas clínicas particulares a fim de atenderem os pacientes que lhes podem pagar, enquanto abocanham dinheiro do estado e abandonam os leitos e pacientes públicos.
Cansado de tudo isso, o cidadão vai a igreja rezar, e eis que, onde deveria haver santidade, encontra padres e pastores fascinados pela cor e o brilho das moedas e inebriados pelo cheiro das notas. Ali também, o cheiro fétido da corrupção é forte.
Cheio de confiança esse desesperado cidadão recorre ao poder público e... Descobre que ele é um lobo em pele de cordeiro pronto a lhe devorar a qualquer instante.
Em uma última tentativa, o cidadão vira-se de um lado par outro na tentativa de que tudo tenha sido um sonho... Mas não é sonho. É a realidade nua e crua, e ainda por cima, sem sal. Se ainda fosse temperada, mas nem isso.
Para sairmos desse poço, é preciso mudar toda uma cultura que já dura séculos. Isso é possível? Sim, isso é perfeitamente possível. Para isso é preciso que se deem asas ao anjo salvador chamado educação. Mas coitado do anjo educação... São muitas as mãos a empurrá-lo para o fundo do poço da ignorância. Eles sabem, que se esse anjo ganha poder, todos viverão uma vida digna e o bolo deles diminui, perdem a cereja. Ah, e, além do bolo, terão que dividir o vinho e champanhe. Melhor então, deixar o anjo da educação escondido e o povo na ignorância. Enquanto isso, a cultura da corrupção se perpetua indefinidamente em nossa pátria.

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Robin Hood às avessas

Posted by Cottidianos on 00:49
Segunda, 09 de abril

Um país onde as leis são descartáveis
Por ausência de códigos corretos
Com quarenta milhões de analfabetos
E maior multidão de miseráveis
Um país onde os homens confiáveis
Não têm voz, não têm vez, nem diretriz
Mas corruptos têm voz e vez e bis
E o respaldo de estímulo incomum
Pode ser o país de qualquer um
Mas não é com certeza o meu país
(O Meu País - Compositores: Livardo Alves –
Orlando Tejo - Gilvan Chaves

Interpretação; Zé Ramalho)


A prisão do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, está tendo grande repercussão internacional, os principais jornais internacionais estampam em suas manchetes a enrascada em que se meteu o ex-presidente.  Uma das melhores definições para o que é o Brasil atual, e em relação ao que nele acontece, foi dada pelo jornal El País espanhol.
Na quinta-feira, por ocasião da decretação da prisão de Lula, o referido jornal, em uma de suas reportagens, chamava o país, de o reino do imprevisível. Dizia o citado veículo de comunicação: “O Brasil é o “reino do imprevisível, dos meandros burocráticos, das mais surpreendentes mudanças de última hora”.
E reino do imprevisível tem sido o Brasil, principalmente, quando no referimos ao campo político. A cada dia uma surpresa, a cada semana um fato novo. Na maioria das vezes, nem bem terminamos de digerir um fato, e logo outro nos é empurrado garganta abaixo.
Foi exatamente o que ocorreu na semana passada. Quando os comentaristas políticos e as conversas de esquinas, bares e botequins, nem haviam terminado de fazer suas análises a respeito do julgamento do habeas corpus que impediria a prisão do ex-presidente Lula até que se tivessem esgotados todos os recursos em instâncias superiores, vem o Sérgio Moro e decreta a prisão do líder político.
Não que o juiz tenha querido aparecer, ou pegar carona na cena político-jurídica que se armou em torno do fato, de forma alguma, ele apenas deu continuidade ao seu trabalho de julgador no curso do processo, qual seja, sentença dada, prisão decretada, coisa que não havia sido feita ainda devido aos recursos apresentados pelo defesa de Lula após a sentença.
Foi após essa sentença de Moro que a defesa do ex-presidente, recorreu ao TRF-4 e, em julgamento, três juízes daquela instância jurídica, decidiram aumentar a pena dada por Sérgio Moro, de nove anos e meio de prisão para doze anos e um mês.
Na quinta-feira (5), após a decretação da prisão, o juiz permitiu ao condenado que se apresentasse na sede da Polícia Federal, até as 17 do dia seguinte, na Superintendência da Polícia Federal no Paraná, em Curitiba. Sem precisar ser algemado, nem todo esse ritual recomendado no caso dos presos comuns.
Foi aí que Lula resolveu transformar o momento em um desnecessário espetáculo. Após a ordem de prisão do juiz, o ex-presidente resolveu se reunir com a cúpula do PT no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, São Paulo. Lá fora ficou a militância petista, e a expectativa pela apresentação do ex-presidente no órgão da Polícia Federal.
Pelo sindicato dos metalúrgicos passaram diversos integrantes do meio político, além de gente do PT, e partidos aliados de Lula. O discurso montado pelo ex-presidente, e pelos seus correligionários foi o mesmo adotado desde os tempos do mensalão: perseguição política a um homem justo. Ao menos poderiam ter se renovado nesta parte, mas preferiram seguir o script já, por tantas vezes, adotado.
Passou noite, passou madrugada, e veio a manhã de sexta-feira, e nada do presente deixar o local para apresentar-se a PF. Mesmo não tendo se apresentado em dia e horário determinado por Sérgio Moro, Lula não foi considerado foragido.
Fora das dependências do sindicato dos metalúrgicos, um país dividido. Os seguidores do fundador do PT, o defendiam arduamente, e se insurgiam contra a prisão de seu líder. De outro, a maior parte dos brasileiros esperava que o ex-presidente fosse até a superintendência da PF e se entregasse, acabando de vez com aquele suspense. Enquanto o primeiro grupo ardia em ódio e revolta, o segundo, esperava, pacientemente, o desfecho do caso.
Os militantes do PT foram, em diversos momentos, agressivos e violentos. Na porta do Instituto Lula, um empresário manifestante contra o Lula foi agredido em frente ao Instituto que leva o nome do ex-presidente. Ele provocou o líder do PT no senado, Lindbergh Farias (RJ), enquanto este dava uma entrevista. Um apoiador de Lula deu um chute no homem e o jogou para a rua no momento em que passava um caminhão. O manifestante bateu com a cabeça na carroceria do caminhão e caiu desacordado. Foi levado ao hospital com ferimentos graves na cabeça.
Em Belo Horizonte, manifestantes pro Lula jogaram tinta vermelha nas paredes de um prédio no qual a ministra presidente do Supremo Cármem Lúcia tem um apartamento, sujando toda a fachada do edifício. Em outras regiões do país eles também fizeram barricadas em estradas e rodovias, ateando fogo em pneus e impedido a passagem dos carros. Também foram registrados ataques a jornalistas de diversos veículos de comunicação. O clima ficou bastante tenso com essa onda de violência promovida pelos simpatizantes de Lula.
O tempo corria e nada do ex-presidente se apresentar aos órgãos competentes. Até que, finalmente, na tarde deste sábado (07), o ex-presidente resolveu se cumprir a ordem que determinava sua apresentação na PF.
Era tarde de sábado, e Lula havia, finalmente, decidido, se entregar a PF, antes, porém, fez um discurso indigno de um ex-presidente da República, no qual disparou sua ira contra a imprensa e contra o judiciário. Um discurso perigoso e altamente ideológico — reproduzido em seus trechos essenciais na postagem anterior  — no qual incita à militância à violência, e agride o judiciário e a imprensa. As frases em itálico e em parágrafo recuado são textuais de Lula.
O Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato, quando fez o inquérito, mentiu que era meu. O Ministério Público, quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu. E eu pensei que o Moro ia resolver, e ele mentiu dizendo que era meu. E me condenou a nove anos de cadeia.
O jornal O Globo foi o primeiro a mostrar a ligação de Lula com a empreiteira OAS, envolvendo o apartamento no Edifício Solares, no Guarujá. Como todos sabem, um jornal de credibilidade e de grande circulação não faria uma denuncia dessas sem apresentar provas concretas da ligação de Lula com a empreiteira. À época em que o Globo apresentou a reportagem Lula não era investigado.
Foi feita uma criteriosa investigação por parte do Ministério Público que fez  parte de um processo embasado em provas documentais, testemunhais, e periciais que serviram para que o juiz Sérgio Moro proferisse a sentença que condenou Lula no caso do imóvel referido.
Dentre essas provas documentais estão documentos apreendidos na casa de Lula e no Triplex; documentos apreendidos na OAS; mensagens de celular de Leo Pinheiro, ex-presidente da OAS, se referindo ao projeto do "chefe" e para marcar com a "madame, dentre outras".
Eu acredito na Justiça, numa Justiça justa, numa Justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do crime.
Ora, se o processo no qual o presidente foi condenado, foi devidamente instruído, e conduzido, em que justiça ele acredita então?
Eu tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revistas me atacando. Eu tenho mais de milhares de páginas de jornais e matérias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando. Eu tenho mais a rádio do interior, a rádio do [inaudível]. E o que eles não se dão conta é que quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
Aqui o ex-presidente se apresenta como vítima de um complô. Já havia citado o judiciário como tendo mentido e manipulado os fatos para que o incriminassem sem provas. Agora cita a imprensa de um modo geral. Isso serve de base para que ele diga, como já disse tantas vezes, que é o seu julgamento é político. Ora, Lula não está sendo julgado pelos discursos que proferiu, nem pelos conchavos que fez durante seu governo, mas sim, pelas atitudes que o colocaram no caminho da condenação por lavagem de dinheiro e corrupção passiva, ou seja, matérias do direito penal e não do direito político.
Eu sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil levando leite, feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades desse país. Para que a gente não tenha juiz e procurador só da elite.
Sem dúvida, o governo Lula desenvolveu programas sociais que ajudaram muita gente. Isso é indiscutível. Mas isso só foi possível porque durante seu governo o mundo atravessava uma fase tranquila no campo econômico, não só o Brasil se beneficiou disso, mas também diversos outros países o fizeram. Mas se os pobres ascenderam no governo Lula, foram derrubados pelas desastrosas políticas econômicas do governo Dilma Rousseff.
E eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela.
Mais uma acusação grave contra a imprensa e contra o Ministério Público. Marisa Letícia morreu, em São Paulo, aos 66 anos, no dia 03 de fevereiro de 2017, vítima de Acidente Vascular Cerebral (AVC). Para uma militância inflamada isso soa como gasolina sobre palhas sobre a qual se risca um fosforo.
É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria, se esse é o crime que eu cometi, eu quero dizer eu vou continuar sendo criminoso nesse país porque vou fazer muito mais.
Da forma como o presidente coloca a questão parece que os ricos ficaram irritados com essa ascensão dos pobres durante o governo petista. Isso, porém, não passa de uma forte dose de demagogia, pois o que querem os empresários e comerciários? Que seus produtos vendam. E para isso não importa que sejam pobres ou ricos a comprar, pois para eles o que lhes interessa é o lucro, e, portanto, quanto mais gente comprando, mais lucro lhes cai nos cofres.
Também é verdade que no governo Lula as universidades, e os donos de universidades ganharam bastante dinheiro com as políticas de financiamento que propiciaram que mais estudantes tivessem acesso aos estabelecimentos de ensino.
É mais do que verdade que, quem mais lucrou durante o governo do petista foram os ricos e poderosos. Quem era a apadrinhada mais forte e a que mais recebeu benefícios e incentivos durante o governo do ex-presidente? A Odebrecht. Uma das empresas mais poderosas do ramo empreiteiro que permitiu que Lula obtivesse uma série de benefícios durante e após deixar o governo.  A prática do clientelismo reinou solta durante o governo do PT. Aquele clientelismo amigo, cujo objetivo era a associação do governo com empresas privadas a fim de obter vantagens para ambas as partes envolvidas. É bem verdade que essa troca de privilégios e favores não ocorreu apenas no governo do PT, mas ocorreu antes e continua ocorrendo depois, e Lula, como se anuncia um guardião da moralidade e defensor dos pobres teria a obrigação, não apenas o dever, de fazer cessar tudo isso, mas agiu justamente o contrário, tornando-se um Robin Hood às avessas, tirando dos pobres e distribuindo aos ricos.
Certamente, também não foram os pobres a dilapidar o patrimônio da Petrobras, mas sim, os integrantes da cúpula do PT, e de partidos aliados, e esses, de pobres não tem nada. Por tudo isso, não dá para se afirmar que o governo Lula foi exatamente um governo para os pobres. A militância engole essa ideologia que lhes é apresentada com facilidade, pois a militância é cega, não pensa, mas que, se pararem para pra pensar, verão que esse prato é bem indigesto.
Quando se pensa em quão prejudicada foi a Petrobrás em toda essa história, em quanto se financiou, durante o governo do ex-presidente, com dinheiro do BNDES, em obras milionárias no exterior, aí é o caso de se perguntar: onde está o governo para os pobres?
Vamos fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm que saber, que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu, e poderão queimar os pneus que tanto queima, fazer as passeatas que tanto vocês [inaudível], fazer as ocupações no campo e na cidade.
Aqui, Lula promove duas sugestões graves. A primeira é a de que haja uma regulação aos meios de comunicação, em outras palavras, censura a esses meios, que, segundo se depreende do seu pensamento, despejam mentiras todos os dias sobre a população, sendo necessário, portanto que sejam trazidos sobre rédeas curtas. Outro ponto grave nessa fala do presidente é a incitação à violência. Lula conclama, claramente, aos seus seguidores a continuarem quebrando pneus e promovendo quebra-quebra.  E já que o mesmo falou tão mal da imprensa, então segue-se, ainda segundo esse raciocínio de incitação à violência, que se continue agredindo jornalista no pleno exercício de sua função, e quando não disserem aquilo que o ex-presidente espera ouvir, bem como ao judiciário, quando não fizer aquilo que esperava que ele fizesse.
Na postagem anterior o leitor encontrará a reprodução dos principais trechos do discurso de Lula, em São Bernardo, berço do PT, e da carreira política do ex-presidente.
É importante ressaltar que esse ataques a imprensa não tem sido feitos apenas pelo ex-presidente Lula, e seus sectários, mas também por outros partidos e por figuras notáveis a eles pertencentes. O atual presidente Michel Temer parece ter lido na cartilha de Lula, e tem feito ataques à imprensa e se afirmando perseguido por ela, apenas porque resolveu se candidatar a presidência da republica para dar continuidade ao seu desastroso mandato.
É bem verdade também que o mesmo discurso adotado pela defesa de Lula, é o mesmo discurso adotado pela defesa de Temer, bem como de todos os políticos envolvidos, ou denunciados em esquemas de corrupção. Até mesmo o ministro do Supremo, Gilmar Mendes, em julgamento que negou o habeas corpus a Lula, disparou sua metralhadora cheia de magoas contra a imprensa.
Sem querer usar de ideologias, mas já usando, em nosso país, no cenário político, trava-se uma luta entre o bem e o mal, e os políticos, ao que parece, não estou do lado bem, não. Se a Operação Lava Jato fosse um ente vivente já teriam dado um jeito de fazer o avião dele cair no mar, principalmente, em tempo ruim, para não deixar suspeita, e tudo parecer que foi acidente.
Enfim, talvez chegue o dia em que o ex-presidente Lula compreenda que não é o salvador da pátria, nem que é onipotente, e que se fez o errado, tem que pagar por ele. Mas pedir que ele tenha essa consciência talvez seja pedir demais.
Para finalizar, duas notas:
A primeira é que Lula diz em seu discurso:
E façam o que quiserem, eu vou terminar com uma frase que eu peguei em 1982, com uma menina de dez anos em Catanduva, que eu não sei quem é. E essa frase não tem autor. A frase dizia: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”.
Essa frase Lula não ouviu de nenhuma menina de dez anos. Ele deve saber muito bem de quem é essa frase. Essa frase é de autoria de Che Guevara. Talvez ele não tenha querido revelar o autor para não causar ainda mais polêmica.
A segunda nota é de que a alusão a Robin Hood às avessas não se refere apenas ao ex-presidente, mas a todos os políticos corruptos de nosso país.

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Discurso de Lula em São Bernardo antes da prisão

Posted by Cottidianos on 00:42
Segunda, 09 de abril

***

O texto abaixo é uma reprodução dos trechos principais do discurso do ex-presidente Lula, na tarde de sábado (07), em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, São Paulo. O discurso foi feito antes de Lula se entregar a Polícia Federal para começar a cumprir o mandado de prisão expedido contra ele pelo juiz Sérgio Moro, na quinta-feira (5).
Mais considerações sobre o discurso e sobre os fatos que o antecederam serão feitos na postagem seguinte.

***


Queridas companheiras e queridos companheiros...
...
Agora, nós estamos quase que na mesma situação, eu estou sendo processado e eu tenho dito claramente: o processo do meu apartamento, eu sou o único ser humano que sou processado por um apartamento que não é meu.
E eles sabem que O Globo mentiu quando disse que era meu. A Polícia Federal da Lava Jato, quando fez o inquérito, mentiu que era meu. O Ministério Público, quando fez a acusação, mentiu dizendo que era meu. E eu pensei que o Moro ia resolver, e ele mentiu dizendo que era meu. E me condenou a nove anos de cadeia.
É por isso que eu sou um cidadão indignado. Porque eu já fiz muita coisa nos meus 72 anos, mas eu não os perdoo por ter passado para a sociedade a ideia de que eu sou um ladrão.
Deram a primazia dos bandidos fazerem um Pixuleco pelo Brasil inteiro. Deram a primazia dos bandidos chamarem a gente de Petralha. Deram a primazia de criar quase que um clima de guerra negando a política nesse país.
Eu digo todo dia: nem um deles tem coragem ou dorme com a consciência tranquila da honestidade, da inocência, que eu durmo. Nem um deles.
Eu não estou acima da Justiça. Se eu não acreditasse na Justiça, eu não tinha feito um partido político. Eu tinha proposto uma revolução nesse país.
Mas eu acredito na Justiça, numa Justiça justa, numa Justiça que vota um processo baseado nos autos do processo, baseado nas informações das acusações, das defesas, na prova concreta que tem a arma do crime.
O que eu não posso admitir é um procurador que fez um PowerPoint e foi para a televisão dizer que o PT é uma organização criminosa que nasceu para roubar o Brasil e que o Lula, por ser a figura mais importante desse partido, o Lula é o chefe. E, portanto, se o Lula é o chefe, diz o procurador: “Eu não preciso de provas, eu tenho convicção”.
Eu quero que ele guarde a convicção dele para os comparsas deles. Para os asseclas deles, e não para mim. Não para mim. Certamente um ladrão não estaria exigindo provas. Estaria de rabo preso, com a boca fechada, torcendo para a imprensa não falar o nome dele.
Eu tenho mais de 70 horas de Jornal Nacional me triturando. Eu tenho mais de 70 capas de revistas me atacando. Eu tenho mais de milhares de páginas de jornais e matérias me atacando. Eu tenho mais a Record me atacando. Eu tenho mais a Bandeirantes me atacando. Eu tenho mais a rádio do interior, a rádio do [inaudível]. E o que eles não se dão conta é que quanto mais eles me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro.
Eu não tenho medo deles. Eu até já falei que gostaria de fazer um debate com o Moro sobre a denúncia que ele fez contra mim. Eu gostaria que ele me mostrasse alguma coisa de prova. Eu já desafiei os juízes do TRF-4. Que ele fosse para um debate na universidade que ele quiser, no público que ele quiser, provar qual é o crime que eu cometi nesse país.
E eu às vezes tenho a impressão, e tenho porque sou um construtor de sonho... Eu, há muito tempo atrás, eu sonhei que era possível governar esse país envolvendo milhões e milhões de pessoas pobres na economia, envolvendo milhões de pessoas nas universidades, criando milhões e milhões de empregos nesse país.
Eu sonhei, eu sonhei que era possível um metalúrgico sem diploma de universidade, cuidar mais da educação do que os diplomados e concursados que governaram esse país.
Eu sonhei que era possível a gente diminuir a mortalidade infantil levando leite, feijão e arroz para que as crianças pudessem comer todo dia. Eu sonhei que era possível pegar os estudantes da periferia e colocar nas melhores universidades desse país. Para que a gente não tenha juiz e procurador só da elite.
Daqui a pouco nós vamos ter juízes e procuradores nascidos na favela de Heliópolis, nascido em Itaquera, nascido na periferia. Vamos ter muita gente dos Sem Terra, do MTST, da CUT formado. Esse crime eu cometi.
Eu cometi esse crime que eles não querem que eu cometa mais. É por conta desse crime que já tem uns dez processos contra mim. E se for por esses crimes, de colocar pobre na universidade, negro na universidade, pobre comer carne, pobre comprar carro, pobre viajar de avião, pobre fazer sua pequena agricultura, ser microempreendedor, ter sua casa própria, se esse é o crime que eu cometi, eu quero dizer eu vou continuar sendo criminoso nesse país porque vou fazer muito mais. Vou fazer muito mais.
Companheiros e companheiras, eu, em 1990, em 1986, eu fui o deputado constituinte mais votado na história do país. E nós ficamos descobrindo que dentro do PT, Manuela, companheiros, o Ivan era do PT na época, havia uma desconfiança que só tinha poder no PT quem tinha mandato.
...
Então, companheiros, quando eu percebi que o povo desconfiava que só tinha valor no PT quem era deputado, Manuela e Guilherme, sabe o que eu fiz? Deixei de ser deputado. Porque eu queria provar ao PT que eu ia continuar sendo a figura mais importante do PT sem ter mandato. Porque se alguém quiser ganhar de mim no PT, só tem um jeito, é trabalhar mais do que eu e gostar do povo mais do que eu. Porque se não gostar, não vai ganhar.
Pois bem, nós agora estamos num trabalho delicado. Eu talvez viva o momento de maior indignação que um ser humano vive. Não é fácil o que sofre a minha família. Não é fácil o que sofrem os meus filhos. Não é fácil o que sofreu a Marisa.
E eu quero dizer que a antecipação da morte da Marisa foi a safadeza e a sacanagem que a imprensa e o Ministério Público fizeram contra ela. Tenho certeza. Porque essa gente eu acho que não tem filho, eu acho que não tem alma e não tem noção do que sente uma mãe e um pai quando vê um filho massacrado, quando vê um filho sendo atacado. E eu então, companheiros, resolvi levantar a cabeça.
Não pensem que eu sou contra a Lava Jato não. A Lava Jato se pegar bandido, tem que pegar bandido mesmo, que roubou, e prender. Todos nós queremos isso. Todos nós a vida inteira dizíamos, só prende pobre, não prende rico. Todos nós dizíamos. E eu quero que continue prendendo rico. Eu quero.
Agora, qual é o problema? É que você não pode fazer julgamento subordinado à imprensa. Porque no fundo, no fundo, você destrói as pessoas na sociedade, na imagem das pessoas, e depois os juízes vão julgar e falam “Eu não posso ir contra a opinião pública porque a opinião pública está pedindo pra cassar”.
Quem quiser votar com base na opinião pública, largue a toga e vá ser candidato a deputado. Escolha um partido político e vá ser candidato. Ora, a toga é um emprego vitalício. O cidadão tem que votar apenas com base nos autos do processo. Aliás, eu acho que ministro da Suprema Corte não deveria dar declaração de como vai votar. Nos Estados Unidos, termina a votação e você não sabe o que o cidadão votou exatamente para que ele não seja vítima de pressão.
Imagina um cara ser acusado de suicídio e não tenha sido ele o assassino. O que que a família do morto quer? Que ele seja morto, que ele seja condenado. Então o juiz tem que ter, diferentemente de nós, a cabeça mais fria. Mais responsabilidade de fazer acusação ou de condenar.
O Ministério Público é uma instituição muito forte, por isso esses meninos, que entram muito novos, fazem um curso de direito, depois fazem três anos de concurso, porque o pai pode pagar, esses meninos precisavam conhecer um pouco da vida, conhecer um pouco de política para fazer o que eles fazem na sociedade brasileira. Ter uma coisa chamada responsabilidade.
E não pensem que, quando eu falo assim, eu sou contra. Eu fui presidente e indiquei quatro procuradores. E fiz discurso em todas as posses. E eu dizia: quanto mais forte for a instituição, mais responsáveis os seus membros têm que ser. Você não pode condenar a pessoa pela imprensa para depois você julgá-la. Vocês estão lembrados que quando eu fui prestar depoimento lá em Curitiba eu disse pro Moro: você não tem condições de me absolver porque a Globo está exigindo que você me condene e você vai me condenar.
Pois bem, eu acho que tanto o TFR-4 quanto o Moro, a Lava Jato e a Globo, elas têm um sonho de consumo. O sonho de consumo é que, primeiro, o golpe não terminou com a Dilma. O golpe só vai concluir quando eles conseguirem convencer que o Lula não possa ser candidato a presidente da República em 2018.
Eles não querem, não é porque eu vou ser eleito, eles não querem que eu participe apenas porque tem a possibilidade de cada um de nós se eleger. Eles não querem o Lula, eles não podem [inaudível] que pobre na cabeça deles [inaudível]. Pobre não pode andar de avião, pobre não pode fazer universidade, pobre nasceu, segundo a lógica deles, de comer e ter coisa de segunda categoria.
O sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Ah, eu fico imaginando a tesão da Veja colocando a capa minha preso. Eu fico imaginando a tesão da Globo colocando a fotografia minha preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos.
Eles decretaram a minha prisão. E deixa eu contar uma coisa pra vocês. Eu vou atender o mandado deles. E vou atender porque eu quero fazer a transferência de responsabilidade. Eles acham que tudo o que acontece nesse país, acontece por minha causa. Eu já fui condenado a três anos de cadeia. [Corte no vídeo] chegando a hora de a onça beber água e os camponeses mataram o fazendeiro e eles acham que essa frase minha era a senha.
O que eu quero transferir de responsabilidade? Eles já tentaram me prender por obstrução de justiça, não deu certo. Eles agora querem me pegar numa prisão preventiva, que é uma coisa mais grave, porque não tem habeas corpus. O Vaccari já está preso há três anos, o Marcelo Odebrecht já gastou R$ 400 milhões e não teve habeas corpus. Eu não vou gastar um tostão.
Mas eu vou lá com a seguinte crença: eles vão descobrir pela primeira vez o que eu tenho dito todo dia, eles não sabem que o problema desse país não chama-se Lula. O problema desse país chama-se vocês, a consciência do povo, o Partido dos Trabalhadores, o PC do B, o MST, o MTST... Eles sabem que tem muita gente.
E aquilo que nossa pastora diz, e eu tenho dito todo discurso: não adianta tentar evitar que eu ande por esse país porque tem milhões e milhões de Lulas, de Boulos, de Manuela, de Dilmas Rousseff para andar por mim. Não adianta tentar acabar com as minhas ideias, elas já estão pairando no ar e não tem como prendê-las. Não adianta tentar parar os meus sonhos porque quando eu parar de sonhar, eu sonharei pela cabeça de vocês.
Não adianta achar que tudo vai parar no dia que o Lula tiver infarte. É bobagem porque o meu coração baterá pelo coração de vocês e são milhões de corações.
Não adianta eles acharem que vão fazer com que eu pare, eu não pararei porque eu não sou mais um ser humano. Eu sou uma ideia. Uma ideia misturada com a ideia de vocês.
E eu tenho certeza que companheiros como os Sem Terra, MTST, os companheiros da CUT, do movimento sindical [corte]. E essa é uma prova. Eu vou cumprir o mandado e vocês vão ter que se transformar, cada um de vocês, vocês não vão mais chamar Chiquinha, Joãozinho, Zezinho, Robertinho, todos vocês, daqui pra frente, vão virar Lula e vão andar por esse país.
Vamos fazer definitivamente uma regulação dos meios de comunicação para que o povo não seja vítima das mentiras todo santo dia. Eles têm que saber, que vocês, quem sabe, são até mais inteligentes do que eu, e poderão queimar os pneus que tanto queima, fazer as passeatas que tanto vocês [inaudível], fazer as ocupações no campo e na cidade... Parecia difícil a ocupação de São Bernardo e amanhã vocês vão receber a notícia de que ganharam o terreno que vocês invadiram.
Portanto companheiros, eu tive chance agora, eu estava no Uruguai, entre Livramento e Rivera. E as pessoas diziam assim pra mim: Lula, você dá uma voltinha ali, é só atravessar a rua, finge que você vai comprar um “uisquizinho”, você está no Uruguai junto com Pepe Mujica e vai embora e não volta mais e pede asilo político. Ô Lula, você pode ir na embaixada da Bolívia, pode ir na embaixada do Uruguai. Ô Lula, vai na embaixada da Rússia, vai na embaixada e de lá você pode ficar falando. E eu falei eu não tenho mais idade.
A minha idade é enfrentá-los de olho no olho e eu vou enfrentá-los aceitando cumprir o mandado. Eu quero saber quantos dias eles vão pensar que estão me prendendo. E quanto mais dias eles me deixarem lá, mais Lula vai nascer nesse país e mais gente vai querer brigar nesse país porque a democracia não tem limite, não tem hora pra gente brigar.
Por isso eu estou fazendo uma coisa muito consciente, mas muito consciente. Eu falei para os companheiros, se dependesse da minha vontade eu não iria, mas eu vou. Eu vou porque eles vão dizer a partir de amanhã que o Lula está foragido, que o Lula está escondido. Não, eu não estou escondido. Eu vou lá na barba deles, para eles saberem que eu não tenho medo, para eles saberem que eu não vou correr e para eles saberem que eu vou provar a minha inocência. Eles têm que saber disso, tá?
E façam o que quiserem, eu vou terminar com uma frase que eu peguei em 1982, com uma menina de dez anos em Catanduva, que eu não sei quem é. E essa frase não tem autor. A frase dizia: “Os poderosos podem matar uma, duas ou três rosas, mas jamais conseguirão deter a chegada da primavera”.
Porque nós queremos mais casa, nós queremos mais escola, nós queremos menos mortalidade. Nós não queremos impedir a barbaridade que fizeram com a Marielle no Rio de Janeiro? Nós não queremos impedir a barbaridade que fazem com meninos negros na periferia desse país? Não queremos mais que volte a desnutrição, a mortalidade por desnutrição nesse país. Nós não queremos mais que um jovem não tenha esperança de entrar na universidade. Porque esse país é tão cretino que foi o último do mundo a ter uma universidade. O último. Todos os países mais pobres tiveram. Porque eles não queriam que a juventude brasileira estudasse e falaram que custava muito fazer escola. E se perguntar quanto custou não fazer há 50 anos atrás.
Então eu quero que vocês saibam que eu tenho orgulho, profundo orgulho, de ter sido o único presidente da república sem ter um diploma universitário, mas sou o presidente da república que mais fiz universidades na história desse país para mostrar para essa gente que não confunda inteligência com quantidade de anos na escolaridade.
Isso não é inteligência, é conhecimento. Inteligência é quando você sabe tomar decisão. Inteligência é quando você tem lado. Quando você não tem medo de descobrir com os companheiros aquilo que é prioridade. E a prioridade desse país é garantir que esse país volte a ter cidadania.
Não vão vender a Petrobras. Vamos fazer uma nova Constituinte, vamos revogar a lei do petróleo que eles estão fazendo. Não vamos deixar vender o BNDES, não vamos deixar vender a Caixa Econômica, não vamos deixar destruir o Banco do Brasil, e vamos fortalecer a agricultura familiar que é responsável por 70% do alimento que comemos nesse país.
É com essa crença, companheiros, de cabeça erguida, como eu estou falando com vocês, que eu quero chegar lá e falar para o delegado: estou à sua disposição. E a história, a história, daqui a alguns dias, vai provar que quem cometeu crime foi o delegado que me acusou, foi o juiz que me julgou e foi o Ministério Público que foi leviano comigo.
Por isso companheiros, eu não tenho lugar no meu coração para todo mundo. Mas eu quero que vocês saibam, se tem uma coisa que eu aprendi a gostar é da minha relação com o povo. Quando eu pego na mão de um de vocês, quando eu abraço um de vocês, quando eu beijo ---porque agora eu beijo homem e mulher igualzinho--- quando eu beijo um de vocês, eu não estou beijando com segundas intenções. Eu estou beijando porque quando eu era presidente, eu dizia, eu vou voltar para onde eu vim e eu sei quem são meus amigos eternos e quem são os amigos eventuais.
Os de gravatinha, que iam atrás de mim, agora desapareceram. Quem estão comigo são aqueles companheiros que eram meus amigos antes de eu ser presidente da República. São aqueles que comiam rabada aqui no Zelão, que comiam frango com polenta no Demarchi, aqueles que tomavam caldo de mocotó no Zelão. Esses continuam sendo nossos amigos.
Aqueles que têm coragem de invadir um terreno para fazer casa. Aqueles que têm coragem de fazer uma greve contra a Previdência, aqueles que têm coragem de ocupar um campo para fazer uma fazendo produtiva. Aqueles que, na verdade, precisam do estado.
Então companheiros, eu vou dizer uma coisa para vocês, vocês vão perceber que eu sairei dessa maior, mais forte, mais verdadeiro e inocente porque eu quero provar que eles é que cometeram o crime. Um crime político, de perseguir um homem que tem 50 anos de história política. E por isso eu sou muito grato.
...
Por isso companheiros, um grande abraço.
Pode ficar certo, esse pescoço aqui não baixa, a minha mãe já fez um pescoço curto para ele não baixar e não vai baixar porque eu vou de cabeça erguida e vou sair de peito estufado de lá porque vou provar a minha inocência.
Um abraço companheiros, obrigado, mas muito obrigado a todos vocês pelo o que vocês me ajudaram. Um beijo querido, muito obrigado.


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