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Justiça feita e promessas vãs

Posted by Cottidianos on 08:56

Segunda-feira, 26 de abril




Mais uma semana começando, muita coisa aconteceu na semana passada e já é passado, e assim gira o moinho da vida. A existência é movimento. Igual ao astro rei. O sol não para descansar. Está sempre a girar interminavelmente. Ele nunca descansa. Nunca tira férias. A vida é exatamente assim: puro movimento. Segundos, minutos, horas, dias, meses, anos, séculos, milênios, tudo também se sucede num girar interminável, de carona na carruagem de fogo que rodeia nosso — diante da grandeza e beleza estonteante do universo —pequeno e humilde planeta.

Nós, os humanos, é que precisamos de férias, descansos, e todas essas coisas que apenas nos lembram nossa condição de seres limitados, e que, como diria Raul Seixas, “só usa dez por cento de sua cabeça animal”. Mas, mesmo assim, somos diretamente afetados pelo movimento da vida, giramos junto com ela, querendo nós ou não. Não podemos estagnar. Prosseguir sempre em frente é o objetivo de todo ser vivente. A maioria das vezes não estamos conscientes de que o viver é uma constante evolução. Claro, tem gente que parece fazer o caminho inverso, em vez de evoluir, involue. Quem age assim, age na inocência, sem saber que serão cobrados por suas atitudes mesquinhas, e triturados pela implacável roda do moinho da vida.

Na onda do movimento da vida, dos fatos, e dos acontecimentos, este blog não poderia deixar de falar do julgamento histórico que ocorreu nos Estados Unidos semana passada.

Na terça-feira, 20 de abril, finalmente, e para alívio de todos, o policial branco, americano, Derek Chauvin, tirou o joelho do pescoço dos americanos que não aguentam mais anos e anos de preconceito, racismo e injustiça. E de quebra, Derek tirou também o joelho do pescoço de todas as pessoas do mundo inteiro que estão sufocando, que não conseguem respirar por causa de tanta opressão. Pessoas essas que, por intermináveis minutos, durante anos, tem gritado que não conseguem respirar, mas, raramente, são ouvidas. Os negros são sufocados, mortos, humilhados, não apenas nos Estados Unidos, mas no mundo inteiro. Aqui no Brasil são frequentes os casos de abusos da polícia para com os negros.

Quase um ano depois da fatídica segunda-feira de 25 de maio de 2020, em Minneapolis, dia em que Derek Chauvin, policial branco, 40 anos, apoiou o joelho sobre o pescoço de George Floyd, negro, 48 anos, por longos e intermináveis 9 minutos e 29 segundos. Após a morte, uma onda de protestos varreu os Estados Unidos como tsunami.

Na última terça-feira, 20 de abril, em um julgamento que durou três semanas, envolveu a audição de 45 testemunhas, e muitas horas de vídeos exibidos no tribunal, um grupo de jurados, formados por sete mulheres e cinco homens, por unanimidade, decidiu que Chauvin é culpado pela morte de Floyd. Desses jurados, seis pessoas são brancas, quatro negras, e duas multirraciais. Os jurados levaram cerca de 10 horas para chegar a essa decisão.

A pena de Derek Chauvin será conhecida dentro de dois meses. Espera-se que o ex-policial seja punido de forma exemplar, até para que outros casos, como o de Floyd, não se repitam. Isso é difícil, pois após a morte de George Floyd outros casos já aconteceram nos Estados Unidos. Mas, certamente, a condenação do assassino de Floyd já é um marco na justiça americana e, espera-se, sirva de parâmetro para outros julgamentos. Dias após a morte de Floyd, durante os protestos, e nos ombros do tio, a filha dele disse: “Meu pai mudou o mundo”. Com certeza, a pequena garota não estava errada. O nome do pai dela já entrou para as páginas de história da luta contra o preconceito. 

Outro fato muito importante para a toda a comunidade internacional, acontecido na quinta-feira, 22, e sexta, 23, apesar de ser um evento online, também teve como foco de atenção, os Estados Unidos. Foi a Cúpula de Líderes sobre o Clima. Mais cedo do que imaginavam os americanos estão descobrindo que a vida sem Donald Trump como presidente, e com Joe Biden na casa branca, vai ser muito melhor.

A questão do clima é uma é tão delicada como um cristal. Afinal, estamos tratando de nossa casa comum: o planeta Terra. O mundo já sente os efeitos das mudanças climáticas. Elas já não fazem mais parte de estudos ou conjecturas sobre o que acontecerá. Já são reais as elevações constantes de temperatura a cada ano, o que, por sua vez, eleva o número de queimadas, secas, e derretimento das geleiras. Apenas para citar algumas mudanças que percebemos e que podem ter consequências graves para o planeta como um todo.

Na verdade, os países ricos não conseguirão atingir a meta para diminuir a emissão de gás carbônico na atmosfera, até 2030, se atitudes enérgicas não forem adotadas agora. Isso de acordo com relatório divulgado em dezembro pela ONU. No evento recente, o presidente Joe Biden reconheceu que o país não está fazendo o suficiente para cumprir a meta estabelecida para diminuir a emissão de carbono na atmosfera, porém, fez o anúncio de metas ambiciosas de reduzir tais emissões em 50% a 52% dessas emissões até 2030.

O caminho é por aí, pois de nada adiantará termos um progresso estrondoso, se não tivermos um planeta para habitar, não é verdade? Lembrem-se que o mundo já foi habitado por seres enormes, gigantes, poderosos. E onde estão eles agora? Nós, sem a Terra não existimos. A Terra sem nós continua linda, bela, soberana, talvez até mais ainda que com a nossa presença. Então, é preciso nos esmerar em cuidados com esse nosso santuário chamado planeta Terra. 



Um dos discursos mais aguardados nesse evento era o do presidente Jair Bolsonaro. E ele até que fez um discurso bem mais moderado que outras ocasiões onde se falou sobre o clima. Pelo menos, dessa vez não passamos vergonha.

O site da Agência Brasil publicou o discurso de Jair Bolsonaro, na íntegra, o qual esse blog agora reproduz:

Agradeço o convite para participar desta Cúpula de Líderes.

Historicamente, o Brasil é voz ativa na construção da agenda ambiental global. Renovo, hoje, essa credencial, respaldada tanto por nossas conquistas até aqui quanto pelos compromissos que estamos prontos a assumir perante as gerações futuras.

Como detentor da maior biodiversidade do planeta e potência agroambiental, o Brasil está na vanguarda do enfrentamento ao aquecimento global.

 Ao discutirmos mudanças no clima, não podemos esquecer a causa maior do problema: a queima de combustíveis fósseis ao longo dos últimos dois séculos.

 O Brasil participou com menos de 1% das emissões históricas de gases de efeito estufa, mesmo sendo uma das maiores economias do mundo. No presente, respondemos por menos de 3% das emissões globais anuais.

 Contamos com uma das matrizes energéticas mais limpas, com renovados investimentos em energia solar, eólica, hidráulica e biomassa.

 Somos pioneiros na difusão de biocombustíveis renováveis, como o etanol, fundamentais para a despoluição de nossos centros urbanos.

 No campo, promovemos uma revolução verde a partir da ciência e inovação. Produzimos mais utilizando menos recursos, o que faz da nossa agricultura uma das mais sustentáveis do planeta.

 Temos orgulho de conservar 84% de nosso bioma amazônico e 12% da água doce da Terra.

 Como resultado, somente nos últimos 15 anos evitamos a emissão de mais de 7,8 bilhões de toneladas de carbono na atmosfera.

À luz de nossas responsabilidades comuns, porém, diferenciadas, continuamos a colaborar com os esforços mundiais contra a mudança do clima.

Somos um dos poucos países em desenvolvimento a adotar, e reafirmar, uma NDC transversal e abrangente, com metas absolutas de redução de emissões inclusive para 2025, de 37%, e de 43% até 2030.

 Coincidimos, Senhor Presidente, com o seu chamado ao estabelecimento de compromissos ambiciosos.

 Nesse sentido, determinei que nossa neutralidade climática seja alcançada até 2050, antecipando em 10 anos a sinalização anterior.

 Entre as medidas necessárias para tanto, destaco aqui o compromisso de eliminar o desmatamento ilegal até 2030, com a plena e pronta aplicação do nosso Código Florestal. Com isso, reduziremos em quase 50% nossas emissões até essa data.

 Há que se reconhecer que será uma tarefa complexa.

 Medidas de comando e controle são parte da resposta. Apesar das limitações orçamentárias do Governo, determinei o fortalecimento dos órgãos ambientais, duplicando os recursos destinados às ações de fiscalização.

 Mas é preciso fazer mais. Devemos enfrentar o desafio de melhorar a vida dos mais de 23 milhões de brasileiros que vivem na Amazônia, região mais rica do país em recursos naturais, mas que apresenta os piores índices de desenvolvimento humano.

 A solução desse “paradoxo amazônico” é condição essencial para o desenvolvimento sustentável da região.

 Devemos aprimorar a governança da terra, bem como tornar realidade a bioeconomia, valorizando efetivamente a floresta e a biodiversidade. Esse deve ser um esforço, que contemple os interesses de todos os brasileiros, inclusive indígenas e comunidades tradicionais.

 Diante da magnitude dos obstáculos, inclusive financeiros, é fundamental poder contar com a contribuição de países, empresas, entidades e pessoas dispostos a atuar de maneira imediata, real e construtiva na solução desses problemas.

 Neste ano, a comunidade internacional terá oportunidade singular de cooperar com a construção de nosso futuro comum.

 A COP26 terá como uma de suas principais missões a plena adoção dos mecanismos previstos nos Artigos 5º e 6º do Acordo de Paris.

 Os mercados de carbono são cruciais como fonte de recursos e investimentos para impulsionar a ação climática, tanto na área florestal quanto em outros relevantes setores da economia, como indústria, geração de energia e manejo de resíduos.

 Da mesma forma, é preciso haver justa remuneração pelos serviços ambientais prestados por nossos biomas ao planeta, como forma de reconhecer o caráter econômico das atividades de conservação.

 Estamos, reitero, abertos à cooperação internacional.

Senhoras e senhores, como todos, reafirmamos em 92, no Rio de Janeiro, na conferência presidida pelo Brasil, o direito ao desenvolvimento deve ser exercido de tal forma que a resposta equitativamente e de forma sustentável às necessidades ambientais e de desenvolvimento das gerações presentes e futuras.

Com esse espírito de responsabilidade coletiva e destino comum, convido-os novamente a apoiar-nos nessa missão.

Contem com o Brasil".

Basta ver as ações de Bolsonaro e de seu ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, para ver que algo não bate bem, não combinam palavras, discursos e realidade. Os líderes mundiais já viam com descrédito a posição e as ações do Brasil em relação a questão climática, e, com certeza não sentiram verdade nas palavras do presidente brasileiro. Joe Biden disse que os discursos do Brasil, da Argentina, da África do Sul, e da Coreia do Sul foram animadores, mas também afirmou que os compromissos precisam se tornar realidade.

A impressão é que algum assessor de Bolsonaro, sabe-se lá qual, chegou para ele e falou, “Presidente, não vale a pena partir para o enfrentamento com os líderes mundiais. Faça um discurso moderado” e foi o que ele fez, embora citando conquistas adquiridas em governos anteriores.

Mas, aqueles que não estão cegos pelo fanatismo, sabem que o Bolsonaro não é uma pessoa confiável, não é um homem de palavra. Ao contrário, as palavras e os atos do presidente mudam ao sabor do vento e das circunstâncias... E os ventos mudam muito rápido.

Para começar, nas vésperas da realização da Cúpula do Clima, tivemos o episódio do ministro Ricardo Salles demitindo o superintende da Polícia Federal no Amazonas, Alexandre Saraiva, e se colocando, abertamente, ao lado dos madeireiros ilegais. Salles também adotou medidas que dificultam ainda mais o trabalho de fiscalização dos funcionários do Ibama.

Um dia após Bolsonaro fazer promessas de se alinhar aos demais líderes mundiais, na cruzada contra a emissão de carbono, anunciando que aumentaria  os recursos para a fiscalização ambiental, eis que o presidente, no dia seguinte o presidente sanciona o Plano Orçamentário para 2021, e nele constava um corte de R$ 240 milhões para o ministério do Meio Ambiente.

Depois de tudo isso, o presidente ainda esperar receber uma ajuda de 1 bilhão de dólares para ações de combate ao desmatamento ilegal. Se esse dinheiro chegar ao Brasil no governo Bolsonaro, certamente, não irá para a finalidade para o qual foi solicitado. Provavelmente irá beneficiar não a floresta, mas os inimigos dela.


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Boiada passando e CPI à vista

Posted by Cottidianos on 23:46

Domingo, 18 de abril


ministro Ricardo Salles

Foi numa segunda-feira, de 04 de novembro de 2019 que os Estados Unidos da América notificaram a ONU e confirmaram a saída do Acordo de Paris. Começava ali o processo formal para retirar a nação americana do acordo. Um ano depois, em 04 de novembro de 2020, ainda durante a apuração das eleições presidenciais no país Trump anunciou, formalmente, a saída dos EUA do Acordo de Paris. Assim, Trump cumpria uma promessa feita por ele em junho de 2017.

Depois de um processo eleitoral que o próprio Donald Trump se encarregou de complicar, e do qual ele saiu perdedor, já no primeiro dia como presidente eleito, Joe Biden se tratou de recolocar os EUA no Acordo de Paris, lugar de onde o país nunca deveria ter saído.

Passados apenas alguns dias após sua eleição Biden anunciou sua intenção de realizar uma cúpula do clima com líderes mundiais na tentativa de unir esforços  a grandes economias para enfrentar a crise climática.

Enfim, eis que chega a data do esperado evento. A Cúpula de Líderes sobre o Clima acontecerá entre os dias 22 e 23 de abril e será transmitido de forma virtual. O evento dará ênfase à urgência de ações climáticas mais incisivas, reforçando os benefícios econômicos que tais ações trarão. O evento que reunirá dezenas de líderes mundiais também prepara o caminho para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26) em novembro, em Glasgow. 

O convite para participar da cúpula também foi feito para o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro. Creio ser do conhecimento de todos como Bolsonaro tem tratado a questão ambiental, juntamente, com seu braço forte nessa área que é o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. O Brasil tem caminhado de retrocesso em retrocesso quando se trata também da questão ambiental com as políticas implantadas por Salles. Ambientalistas o acusam de um desmonte da política ambiental brasileira.

Há uma semana da realização da Cúpula do Clima, o presidente Jair Bolsonaro, enviou uma carta a Joe Biden, tentando convencê-lo que que o Brasil é um país comprometido com a questão ambiental e com a preservação de nossas florestas. Na carta, o presidente brasileiro apenas diz o que estava dito, e escreve o que já estava escrito no Acordo de Paris, do qual o Brasil é signatário: que se comprometerá a eliminar o desmatamento ilegal até 2030.

Mesmo que você nunca tenha pescado, acho que sabe como funciona uma pescaria. Primeiro o sujeito joga a isca, e depois fica esperando o peixe. Os peixes mais espertos, chegam perto, olham aquela coisa, estranham, e vão embora. Os mais desavisados, logo abocanham a isca e vão parar na cesta do pescador.

Com a carta, Bolsonaro jogou a isca, mas condicionou a ela um pedido de ajuda financeira. “Exigirá recursos vultosos e políticas públicas abrangentes, cuja magnitude obriga-nos a querer contar com todo o apoio possível, tanto da comunidade internacional, quanto de governos, do setor privado, da sociedade civil e de todos os que comungam desse nobre objetivo”, diz um trecho da carta. Ou seja, para bom entendedor, meia palavra basta. Bolsonaro se compromete a eliminar o desmatamento até 2030, mas quer dinheiro para isso.

A carta não estipula valores, mas o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, já disse em momento anterior que o governo federal precisaria de, no mínimo 1 bilhão de dólares para cumprir a meta.

Ora, caros leitores, tudo cheira a puro teatro, encenação: a carta e a promessa de Bolsonaro de fazer algo em prol do meio ambiente. Pode ser que aconteça um milagre que traga o presidente brasileiro de volta ao mundo da sensatez, entretanto tem que ser um santo muito forte, e de muita paciência para realizar esse milagre em Bolsonaro. Talvez o santo até consiga seu intento, mas em outra vida, em outra encarnação, porque nessa, isso parece tarefa impossível.

Mas os peixes americanos não são bobos nenhum pouco. Querem primeiro ver os resultados. Querem ver o desmatamento reduzido pra já. Agora. Não em 2030. Sobre o pedido de ajuda, disse um porta voz do Departamento de Estado americano. “Continuamos focando nossas conversas em medidas necessárias para frear o desmatamento ilegal, em vez de pensar em fontes específicas de financiamento”.

 Organizações ambientais e de direitos humanos internacionais tem pressionado Biden para que não feche acordos no sentido de repassar recursos ao governo brasileiro. Dizem, com razão, que isso não é confiável, e que é preciso esperar para ver se Bolsonaro cumpre as metas estabelecidas antes de qualquer repasse financeiro. 

Apesar disso, o governo americano espera que Jair Bolsonaro mostre responsabilidade, e em seu discurso na cúpula do clima, assuma um compromisso claro de acabar com o desmatamento ilegal. Mas, caros leitores e leitoras, uma coisa são os discursos, outra é a prática”. Como diz o ditado popular: falar até papagaio fala.

Ainda às vésperas da realização do evento organizado por Biden, a promessa de Bolsonaro de deter o desmatamento, o Brasil, mais uma vez confundiu o mundo na questão ambiental.

Aconteceu o seguinte. Em uma operação batizada de “Handroanthus GLO”, contra o desmatamento ilegal, considerada pela PF a maior da história da corporação na área ambiental, os policiais federais apreenderam mais de 200 mil metros cúbicos — desde o final de 2020 até agora de madeira para exportação.  A apreensão ocorreu no oeste do Pará, fronteira com o Amazonas, nos rios Mamuru e Arapiuns. Quando foi apreendida no final de 2020, a carga foi avaliada em cerca de  R$130 milhões. A PF então passou a monitorar, através de imagens de satélite, o movimento dos madeireiros.

Em fiscalização na quarta-feira, 10 de março, a PF apreendeu quatro carretas carregadas de madeira serrada, no Porto de Trairi, zona centro-oeste de Manaus. Os madeiros apresentaram documentos nos quais os policiais encontraram muitas inconsistências. Eles encontraram evidências de falsidade ideológica e possíveis crimes ambientais. Resolveram então apreender as carretas e a carga, e resolveram transformar o fato num inquérito policial.

Esse movimento de transporte de madeira ilegal é constante na região. Segundo a PF o modo de agir dessas quadrilhas sugere que elas procuram meios de se desviarem dos postos de fiscalização da Polícia Federal.

A Polícia Federal fez um excelente trabalho ao apreender a carga ilegal de madeiras. Era para ser motivo de motivo de comemoração. Pelo menos esperava-se que fosse. Afinal os policiais haviam conseguido mais uma vitória na luta contra o desmatamento, mas não foi bem isso que aconteceu. O caso acabou virando uma briga enorme entre o superintende da PF no estado do Amazonas, Alexandre Saraiva, e o ministro Ricardo Salles.

Indignado com o trabalho da polícia, e com a apreensão da madeira, no dia 31 de março, Salles foi pessoalmente ao Pará para fazer uma “verificação” da carga. Após isso, ele afirmou que não havia indícios para afirmar que as empresas investigadas estivessem praticando algum ato ilegal. Afirmou também que havia falhas na operação. 

Em resposta a Salles, Alexandre Saraiva disse que “Na Polícia Federal não vai passar boiada”. “Passar a boiada” foi o termo usado por Salles na famosa reunião ministerial do ano passado.

O superintende disse ainda que a atitude de Salles de desqualificar o trabalho da PF “É o mesmo que um ministro do Trabalho se manifestar contrariamente a uma operação contra o trabalho escravo”.

Além de afirmar que era a primeira vez que via um ministro do Meio Ambiente se manifestar contrário a uma operação que visa proteger a Floresta Amazônica, afirmou ainda que toda a madeira apreendida desde o final do ano passado é fruto de ação criminosa. Ele também chamou as empresas que praticam esse esquema ilegal de “organizações criminosas”.

Por causa do estranho comportamento de Salles, Alexandre Saraiva resolveu denunciá-lo então ao STF. O chefe da PF no Amazonas resolveu apresentar uma denúncia crime contra Ricardo Salles e a encaminhou ao Ministério Público Federal e ao Supremo Tribunal Federal. Na mesma denúncia Saraiva cita também o senador Telmário Motta (Pros-RR). Ele acusa dos dois de atrapalhar as medidas de fiscalização ambiental. Também é citado Eduardo Bim, presidente do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama).  

Um dia após sustentar na denúncia que Salles e Telmário Mota integravam uma organização criminosa com as empresas madeireiras e de exerciam advocacia administrativa, Alexandre Saraiva, foi exonerado do cargo.

Para deixar que as organizações criminosas que atuam no desmatamento ilegal mais à vontade para cometer seus crimes, o ministro do Meio Ambiente resolveu reduzir o poder de multa dos fiscais do Ibama. Novas mudanças foram determinadas por ele em relação as autuações realizadas pelos fiscais. Com as novas mudanças as novas infrações terão de passar antes por um superior hierárquico para serem aprovadas, dificultando ainda mais a atuação dos agentes. Atualmente, há cerca de 130 mil processos de infração ambiental no Ibama, somando cerca de R$ 30 bilhões em multas.

De que lado se coloca Salles? Do lado dos madeiros ilegais e dos grileiros? Ou daqueles que querem proteger a Amazônia? É bem fácil responder a essa pergunta se analisarmos a atitudes de Salles. Lembrando que essa não é a primeira vez que ele parece atuar ao lado dos que querem ver a floresta devastada. Vale a pena também lembrar que Ricardo Salles é um dos ministros pelos quais Jair Bolsonaro devota grande estima. Já houveram inúmeros pedidos para que Salles deixe o cargo, mas Bolsonaro sempre faz ouvidos de mercador. E Salles vai ficando por lá, apesar de todas as críticas. Aliás, é o tipo de ministro perfeito para Bolsonaro. Como ele já disse, se o ministro for elogiado, ele demite. Claro, os madeireiros ilegais e os grileiros de terra podem elogiar e aplaudir Salles à vontade. Esses o presidente permite. E Salles recebe os elogios dessa gente com prazer.

Falemos agora de Covid-19.

De acordo com o consórcio formado pelos veículos de imprensa, o Brasil registrou, nesse domingo, 373.442 mortes e 13.941.828 casos registrados desde o início da pandemia. A média móvel de mortes nos últimos 7 dias ficou em 2.878. Uma boa notícia é que o número de novos casos desacelerou nas últimas duas semanas. Houve uma estabilização quanto ao crescimento de novos casos. Entretanto, ainda não há motivos para comemorações, nem muito menos para baixar a guarda e relaxar quanto ao distanciamento social e as medidas sanitárias, pois, mesmo com essa estabilização o número de óbitos e novos casos da doença ainda está entre um dos mais altos do mundo. Portanto, todo cuidado é pouco.

Outra boa notícia é que a campanha de vacinação, mesmo com toda a incompetência do governo federal e do Ministério da Saúde, avança a passos lentos, mas avança. Já são 26.180.254 pessoas já foram vacinadas com a primeira dose dos imunizantes disponíveis no Brasil. Esse total representa 12,36% da população brasileira. 9.594.276 pessoas em todo o país já receberam a segunda dose, 4,53% da população. No total geral, já foram distribuídas 35.774.530 doses da vacina.



Outra boa notícia é a de que apesar de todos os esforços em contrário do governo, essa semana foi instalada a CPI da Covid, que investigará as responsabilidades do governo federal na condução da pandemia, suas ações e omissões, e o colapso da saúde no estado do Amazonas em janeiro deste ano.

O documento foi apresentado pelo senador Randolfe Rodrigues. Entretanto, o presidente do Senado resolveu apensar ao requerimento de Randolfe, um outro requerimento apresentado pelo senador Eduardo Girão (Podemos-CE), que pede que sejam investigadas a aplicação dos recursos financeiros enviados aos governos estaduais e municipais para o combate à pandemia.

Entretanto, se dependesse de Rodrigo Pacheco, esta CPI ainda estaria guardada em uma de suas gavetas. A investigação só vai sair porque determinado pelo ministro do STF, Luís Roberto Barroso, pedido de CPI que, por sua vez, foi provocado por um grupo de senadores.

A Constituição estabelece que são necessários três requisitos para instalação de uma CPI: que seja assinada por um terço dos integrantes da Casa; indicação de fato determinado a ser apurado; e definição de prazo certo para duração. Não deve haver também omissão ou análise de conveniência por parte da presidência da Casa Legislativa.

Como havia todos esses requisitos, mas, mesmo assim, Pacheco se recusava a instaurar a CPI — lembremos que Pacheco é aliado do Palácio do Planalto — então os senadores Alessandro Vieira, e Jorge Kajuru, do Cidadania, decidiram entrar com um mandado de segurança no STF para que o pedido de CPI saísse da gaveta de Pacheco e fosse colocada em prática.

Bolsonaro, obviamente, ficou muito irritado. Como sempre faz em momentos em que se sente acuado, passou a semana mandado recados de ameaças veladas à democracia. Ele também queria que a CPI também investigasse governadores e prefeitos, mas não cabe ao Senado investigá-los, mas sim, ao Legislativo de cada estado. Na verdade, isso ampliaria por demais o escopo da CPI e desviaria o foco das atenções e dificultaria enormemente o trabalho da CPI. Enfim, querendo Bolsonaro ou não, a CPI vai andar.

Está claro que as ações de Bolsonaro durante a pandemia ultrapassaram os limites da omissão e da irresponsabilidade. Quando se analisa as falas, os atos, e atitudes do presidente, desde o início da pandemia, percebe-se que há uma intenção de deixar o povo ir de encontro ao vírus como quem, deliberadamente, empurra uma multidão para o precipício.

O presidente ignorou as diretrizes da Organização Mundial da Saúde, e as recomendações do próprio Ministério da Saúde, inclusive, demitindo, ou forçando a se demitir os ministros que se recusaram a seguir sua cartilha de morte. Depois colocou no comando da pasta um general sem nenhuma na experiência na área da saúde, o general Eduardo Pazuello, que apenas foi um fantoche cumprindo as loucas determinações de Bolsonaro.

Mais uma vez, no meio de uma pandemia que ainda se faz muito forte no Brasil, temos que lidar com um fato político, provocado, de certa forma, pelo próprio Bolsonaro, e que pode, além de desviar o foco na solução da Covid, trazer mais instabilidade democrática, crise entre poderes, e, principalmente, muita dor de cabeça para o governo. É uma medida desconfortável, mas absolutamente necessária, afinal, os atos do presidente durante a pandemia não podem passar impunes. Só assim, descobriremos, verdadeiramente, as causas do fracasso do Brasil na luta contra a Covid-19. Com certeza, a CPI será um grande desgaste político para o governo. Ainda mais que a comissão será formada em sua maioria por senadores não alinhados ao governo. Dos 11 senadores que compõem a comissão, apenas 4 são alinhados ao governo. O governo tentou evitar que Renan Calheiros fosse o relator da CPI, e Renan é o relator da CPI. Pelo menos na partida inicial da comissão, os ventos não sopram a favor de Bolsonaro.

Então, teremos 90 longos dias de investigados, depoimentos, provas, quebras de sigilos bancários, fiscais, e telefônicos dos investigados, e muito trabalho. Muitos políticos condenam a criação de uma CPI no momento grave da pandemia. A pergunta que fica é: onde estavam esses políticos quando o presidente fazia aglomerações, pregava o uso de medicamentos sem eficácia comprovada, participava, durante a pandemia de atos antidemocráticos, instigava os seus seguidores contra os governadores, prefeitos, e ministros do STF? Se eles tivessem levantado a voz bem antes, quando o presidente cometia essas barbaridades, não teríamos chegado no ponto a que chegamos.

Um dos principais alvos da CPI, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, está preocupado com a instalação da CPI. Ele já disse que estará à disposição da CPI, e a interlocutores tem dito que fez tudo o que podia fazer, e disse também que se alguém tem que sair preso, não será ele.

E assim vamos seguindo nós, num país em que o coronavírus se manifesta com virulência, com um presidente extremamente incompetente, e rodeado de ministros que parecem ter saído dos parquinhos infantis, à exemplo do chefe.


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Um novo recomeço

Posted by Cottidianos on 00:33

Domingo, 11 de abril


A postagem abaixo trata do drama vivido por Daniel Freire, ex-assessor  do senador Major Olímpio (PSL-SP). Os dois foram internados com Covid no mesmo dia 02 de março deste ano. Ele em Brasília e o major em São Paulo. Os dois foram entubados. Porém, não tiveram a mesma sorte. Major Olímpio foi vencido pela Covid-19 em 18 de março deste ano. Daniel, depois de 35 dias internado em intensa luta para vencer a doença, recebeu alta do hospital onde estava internado, no dia 09 deste mês.

O texto abaixo foi inspirado no artigo, Extubado, assessor alucinou e demorou para saber da morte de Major Olimpio, publicado no portal UOL Notícias, em 10 de abril.

 

***

Daniel Freire e Major Olímpio

 Era o ano de 2017. O jornalista Diego Freire sorria feliz. Acabara de receber a notícia de que havia sido escolhido para a vaga de assessor do deputado federal Sérgio Olímpio Gomes, mais conhecido como Major Olímpio. Afinal, iria trabalhar na Câmara dos Deputados, em Brasília, coração do poder. O major fora eleito deputado federal dois antes, em 2015, mas somente agora havia surgido a vaga para o cargo que ele desejava desde que o major fora para Brasília. Aquele seria o penúltimo ano de Olímpio como deputado federal. Dali a dois anos, 2018, já seria disputada nova eleição e os eleitores teriam de ir às urnas, mais uma vez, para eleger deputados estaduais e federais, senadores, governadores, e o presidente da República.

O sorriso de felicidade foi, aos poucos se desfazendo dos lábios de Diego, e deu lugar a um suspiro. Seriam dois anos de muito trabalho,  mas ele se esforçaria por dar o melhor de si.

O trabalho como assessor do deputado Major Olímpio exigia constantes reuniões de trabalho com ele, e isso foi aproximando os dois, assessor e deputado. Tanta proximidade fez com que os dois se tornassem amigos. Era comum, depois do trabalho os dois se reunirem para bater papo depois do expediente. O deputado vivia sozinho em Brasília, e as conversas com Diego o ajudavam a aliviar os momentos de solidão. A conversa então, muitas vezes se afastava do dia a dia da Câmara dos Deputados e enveredava por outros assuntos além da política.

Foi numa dessas conversas que Olímpio lhe revelou o desejo de trocar a Câmara pelo Senado. Diego se surpreendeu com a decisão, mas achou possível o sonho se tornar realidade. Bastaria apenas muito empenho, foco e dedicação. Bastava para isso, como diz o ditado “arregaçar as mangas”.

Veio o ano de 2018. Major Olímpio concorreu para o senado pelo estado de São Paulo. Em 07 de outubro daquele ano, quando as urnas foram abertas, trouxeram o coroamento de todo um trabalho, de toda uma articulação política. São Paulo elegeu o Major Olímpio, PSL. Ele recebeu 25,79% dos votos. Em segundo lugar, eleita senadora pelo estado de São Paulo, estava Mara Gabrilli (PSDB-SP), com 18,63% dos votos.

Uma grande alegria dominava os membros do PSL, além da eleição do Major Olímpio, o partido também conseguira eleger o presidente da República, Jair Bolsonaro. O candidato começara a corrida eleitoral desacreditado e obtivera uma vitória sensacional. Além disso, o PSL foi o partido que mais votos obteve para a Câmara, saindo da condição de partido nanico para a posição de grande partido. Lá se foram Major Olímpio, Diego Freire, seu assessor, e demais membros da equipe trocar um gabinete na Câmara por um gabinete no Senado.

Então o moinho do tempo foi rodando, inexorável. Como diria os versos de Chico Buarque “roda mundo, roda gigante, roda moinho, roda pião, o tempo rodou num instante, nas voltas do meu coração”. Após sérias divergências o presidente Jair Bolsonaro, em dezembro de 2019, anunciou a saída do PSL. E nessas idas e vindas do moinho da vida, Major Olímpio passou de apoiador a crítico de Bolsonaro.

O governo de Bolsonaro, na verdade, o próprio Bolsonaro se tornara uma fábrica de crises. Eram constantes os ataques a democracia. Além de não governar sozinho. Eram os filhos que davam as cartas no governo do pai, coisa nunca antes vista na República brasileira. Todas essas coisas, aliadas a outros aspectos do governo fizeram com que Major Olímpio deixasse de ser apoiador do governo. O tempo correu mais um pouco e a fábrica de crises chamada Jair Bolsonaro, foi se tornando mais eficiente. Cada dia era mais lenha colocada na fogueira. Ele criava inimigos imaginários e, se ainda estivéssemos no tempo da inquisição, mandava todos para a fogueira com a acusação de ser esquerda. Era assim Bolsonaro. Quem não concordava com ele, era automaticamente colocado na condição de inimigo e esquerdista.

Se as nuvens que se anunciavam no horizonte do Brasil no cenário político já eram bastante pesadas, a roda do tempo se encarregou de tornar o céu ainda mais cinza. E tudo começou bem longe daqui. Começou na cidade chinesa de Wuhan. Naquela cidade, em dezembro de 2019, começou a se formar um tsunami chamado coronavírus. No início, os chineses acharam que acharam que era apenas maré alta, mas, para espanto de todos, a água recuou quilômetros mar adentro e avançou para a frente com força de um tsunami que varreu o mundo.

Houveram líderes sábios que souberam proteger bem os seus cidadãos, e mesmo correndo o risco de se tornarem impopulares, tomaram medidas drásticas: fecharam cidades quase por completo. Proibiram as pessoas de sair de casa, a não em casos excepcionais. E quando começou a surgir no horizonte da ciência a promessa da tão sonhada vacina, eles logo fecharam contratos com as grandes farmacêuticas para compra de milhões de doses, mesmo que estas vacinas ainda nem tivessem sido aprovadas. Estavam apenas em fases de testes. Estes governantes deram um tiro no escuro. Não restava outra alternativa. É assim a vida: um correr riscos. Principalmente, em momentos de calamidade e pandemias.

Esses líderes não se arrependeram e começam a colher os frutos de sua ousadia.

Outros líderes, os medíocres, preferiram zombar do poder de contaminação do vírus e deram de ombros para a capacidade desse mesmo vírus de ceifar vidas. Não compraram as vacinas. Ao contrário, enquanto os sensatos corriam para fechar contratos, eles fechavam as portas para as farmacêuticas que ofereciam o produto salvador.

O presidente do Brasil estava nesse grupo. Enquanto a pandemia se espalhava pelo país, ele zombava, ria, dançava, tirava férias, se juntava com aliados em jantares celebrativos no palácio. Dava de ombros para a gravidade da situação. “É apenas uma gripezinha”, “E daí?” “Sou Messias, mas não faço milagres”. “Não sou coveiro”. Dizia ele. Brigou com Deus e o mundo e com aquele que dissesse ser as medidas sanitárias e distanciamento social coisas importantes para barrar a transmissão do vírus.

Como resultado, a montanha de cadáveres, vítimas da Covid-19, foi se espalhando pelo Brasil. Em certo momento do ano passado, os números de casos e de mortes começou a baixar um pouco, mas ainda em patamar alto. Os brasileiros, não todos, mas aqueles inconsequentes e negacionistas, botaram o bloco na rua e acreditaram que o pior já havia passado.

O tsunami chamado coronavírus, que ama aglomerações, voltou com força. Ainda mais ameaçador ainda que no seu início.

Major Olímpio se protegia. Passou a criticar a condução do governo na pandemia. Em dezembro, quando ainda Bolsonaro zombava e questionava a eficácia das vacinas, Major Olímpio foi às redes sociais dizer que a vacinação em massa era o único caminho para humanidade sair desse pesadelo.

Diego Freire também se cuidava. Passava álcool em gel nas mãos. Uso de máscara. Mas com o tempo achou que tudo aquilo era um certo exagero e passou a fazer parte daqueles que achavam que o pior já tinha passado. Ele passou a minimizar a gravidade da situação. “Ah, não vou pegar isso”. Pensava ele.

Não foi só no uso de álcool gel e máscara que Diego começou a relaxar. Ele também passou a frequentar barzinhos e festas. Em fevereiro, se descuidou ainda mais. Tornou-se ele também um negacionista. Foi a uma festa do Flamengo. Foi em algum desses descuidos que o coronavírus se aproveitou da ingenuidade do assessor do Major Olímpio, e o infectou.

Diego pensava que o Major Olímpio jamais pegaria o vírus. Por que não tinha comorbidades, praticava esportes. Enfim, levava uma vida saudável. E além disso, se cuidava.

Porém, ninguém é perfeito nessa vida. Comete erros. Major Olímpio também cometeu. Em fevereiro deste ano, ele participou, em Bauru, de um protesto contra o isolamento social promovido pelo governador paulista João Dória. O protesto foi liderado pelo bolsonarista de carteirinha, o empresário Luciano Hang, e pela prefeita negacionista de Bauru, Suélle Rosim (Patriota). Coisas da política. Major Olímpio que criticava Jair Bolsonaro, juntou-se a uma manifestação contra as medidas de isolamento social promovida pelo governo paulista.

Com o coronavírus você não pode baixar a guarda. Nunca. Você baixa a guarda. Ele não. O vírus está sempre pronto a contaminar àquele que se distrai.

Não se sabe ao certo se foi nessa manifestação que o Major Olímpio se contaminou ou se foi no próprio gabinete. O fato é que, no dia 02 de março deste ano, Major Olímpio foi internado com Covid-19 em um hospital particular de São Paulo. No dia 05 o caso dele evoluiu para estado grave e ele precisou ser entubado. O político não resistiu a doença e faleceu no dia 18 de março.

Simultaneamente a Major Olímpio, Daniel também pegou Covid-19. Foi internado em um hospital de Brasília no mesmo dia em que Olímpio foi internado em São Paulo. O problema do Covid-19 é que ele sempre puxa mais gente para a dança do sofrimento. Nesse caso também não foi diferente. Outros amigos próximos aos dois e a quase totalidade dos funcionários do gabinete no Senado também foram infectados, todos sem gravidade.

Logo quando começou a sentir os sintomas Diego achou que apenas uma “gripezinha”. Mas as coisas foram piorando. No segundo dia, aliados aos sintomas da gripezinha, apareceu também uma febre. No terceiro dia, as dores no corpo foram aparecendo. No quarto dia, começou a lhe faltar o ar. Ainda assim, Daniel pensava que era só febre e dor no corpo e que logo tudo estaria bem. Grande engano. As coisas pioraram bastante.

Foi então que a namorada de Daniel resolveu leva-lo ao hospital. No hospital foi informado que precisava ser entubado. Após os exames os médicos avisaram a Daniel que o caso dele era grave.

O jornalista então se desesperou. Não queria ser entubado. Já soubera de casos de pessoas que tinham sido entubadas e voltaram com sequelas. Outras nem voltaram. Medo. Muito medo foi o que ele sentiu. Foi preciso muita paciência da equipe médica para convencê-lo de que o procedimento precisava ser feito.

Apesar da recusa, Daniel se sentia como um peixe fora d’água. Tentava respirar e não conseguia. Sentia agonia dominar seu ser. Aliada a falta de ar havia ainda as dores no pulmão. Terríveis.

O argumento usado pela equipe médica para convencê-lo foi bem simples: ou você permite a entubação ou morre.  Daniel escolheu a primeira opção. Pelo menos, nela havia uma esperança de vida. Foi então foi sedado e os médicos fizeram os procedimentos para entubação.

Foram 14 dias de luta pela vida na UTI. Diferentemente de Major Olímpio, o quadro de saúde de Daniel foi evoluindo para uma condição positiva. Após 14 dias sedados, ele acordou.

Mas não acordou bem. Estava confuso. Em estado de delírio, achava que havia sido sequestrado. Olhava assustado para os lados. Havia algo de muito errado naquela situação. Que lugar estranho era aquele? Perguntava-se ele. E aquelas pessoas que o rodeavam? Quem eram. Para ele, cada médico ou enfermeiro que se aproximava queria lhe fazer algum tipo de mal.

Ele não conseguia falar. Tentava mexer os braços, as pernas. Esforço em vão. Seus membros não lhe obedeciam. Estavam inertes. Nenhuma parte do seu corpo parecia responder aos comandos do cérebro. Ele chorava. Desesperado, queria arrancar aqueles aparelhos estranhos que impediam sua respiração.

Os médicos tiveram que conter seus braços para que ele não arrancasse os aparelhos. Depois de quatro dias contidos pelos médicos, ele foi se acalmando. Só então os médicos fizeram uma chamada de vídeo para a família dele. Ainda estava assustado quando começou a falar com a mãe. Ela foi acalmando-o e lhe disse que ele havia acabado de ser extubado.

Diego saiu da UTI, mas até sair do hospital ainda havia um longo caminho. Depois da UTI ele foi colocado na ala de terapia semi-intensiva. Um dia antes de ser extubado, ocorreu a morte do Major Olímpio.

A mãe de Diego, Sandra Regina, foi cuidar dele no hospital. Mas não teve coragem de lhe falar da morte do senador. O estado de saúde do filho ainda inspirava cuidados. Era melhor poupá-lo da notícia. Sandra Regina não deixava o filho ver TV. Até o celular dele foi confiscado. O assessor ficou como que apartado do que acontecia fora das quatro paredes do hospital.

Quando perguntava pelo senador recebia a resposta de que ele estava entubado. O paciente ficava mais tranquilo. Afinal o patrão e amigo sempre demonstrara ser uma pessoa forte e de boa saúde. Com certeza, ele sairia bem dessa.

Passou-se uma semana. Depois que a mãe de Diego viu que ele não estava mais delirando e que havia recobrado a consciência, ela então resolveu contar da morte do senador.

As dores físicas do corpo haviam diminuído, mas chegou a dor da tristeza pela perda do amigo. Diego chorava. Não queria comer. Bateu uma depressão. A princípio, não acreditou. Foi preciso entrar na Internet para ter certeza.

No hospital, os dias se passavam entre a alegria por estar recuperando a saúde e por ter vencido uma doença tão perigosa, e a tristeza por ter perdido um amigo. Às vezes Diego achava que estava sonhando. Que não existia nada de pandemia. Que não havia entubação. Que tudo aquilo havia sido apenas um pesadelo. Ficava triste ao voltar a realidade e saber que o monstro não era fantasia. Era uma realidade.

Se culpava por sua atitude irresponsável ao relaxar os cuidados com a pandemia. Afinal de contas, estamos no momento em que as pessoas devem se proteger umas às outras da invasão de um inimigo. Somo todos responsáveis uns pelos outros. É mais ou menos como os elos de uma corrente: para que ela funcione como deve todos os elos devem estar unidos.

Uma tristeza lhe batia no peito quando via notícias de jovens em festas clandestinas, provocando aglomerações, ou quando via notícias de passeatas contra o isolamento. Se ele pudesse voltar no tempo, voltava e fazia tudo diferente. Mas enfim, não podemos fazer correr para trás o relógio tempo. Temos que prosseguir sempre em frente, apesar dos nossos erros. E procurar corrigi-los.

No dia 09 deste mês, Diego recebeu um grande presente, talvez o maior deles depois do seu nascimento. Ele recebeu alta do hospital onde estava internado, em Brasília. Mais magro quinze quilos. Ainda com dificuldade para falar e com dificuldades para caminhar. Afinal, o jornalista teve 80% dos pulmões comprometidos e mais de 15 dias na UTI, grande parte desse tempo, entubado.

É um novo nascimento. Um novo aprendizado. E Diego está em processo de reaprender a andar, a falar, inclusive a comer. Será necessário passar por fisioterapia e fonoaudiologia. Mas isso é o de menos para quem passou pela UTI com estado grave de Covid. A fraqueza ainda bate forte no corpo. Os efeitos dos sedativos parecem ainda não ter passado e fazem efeito no corpo.

Quanto ao futuro, já pensava em falar com o senador Alexandre Giordano (PSL-SP). Giordano era suplente de Major Olímpio no Senado. Ele tomou posse no Senado no dia 31 de março. Diego pretende pedir a ele uma recolocação no gabinete, retomar as atividades, e seguir a vida.

Na manhã de sexta-feira, 19, ao deixar o hospital, usava uma camisa com uma foto onde estavam estampadas as fotos dele e do Major Olímpio, e onde se podia ler os dizeres: Obrigado por tudo, Major Olímpio.

Antes de entrar no carro, olhou para trás. Dentro daquelas paredes haviam sido vividos os piores dias de sua vida. Muitas dores físicas e também tristezas. Mas sentia que agora tudo ficaria bem. E que um horizonte de esperanças e um novo recomeço estava a sua espera. Bola pra frente.


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Decisão irresponsável em dias turbulentos

Posted by Cottidianos on 15:06

 Domingo, 04 de abril


O médico Arthur Milach termina mais um dia de expediente na linha de frente contra a Covid 19, em Recife, Pernambuco. Havia sido um dia cansativo e pesado, aliás, como tem sido todos os dias no hospital desde a chegada da Covid 19.

Caminhava em direção a seu carro, no estacionamento do hospital. Semblante tenso. Coração apertado. Sentia-se impotente diante de tanto sofrimento. Em sua vida como médico nunca antes tinha visto uma situação tão complicada, nem para ele, nem para os pacientes. O sofrimento para estes era enorme. UTIs lotadas. Muitas vezes os pacientes tinham que ser atendido nos corredores do hospital por falta de leitos. Aliado a tudo isso, ainda havia a ameaça de falta de produtos para intubação, o que agravaria em muito a situação. Em janeiro, em Manaus, há havia faltado oxigênio nos hospitais, e ele não queria nem imaginar a agonia de passar por algo semelhante.

Abriu a porta do carro. Tirou o equipamento de proteção... e desabou num choro sentido. Lembrava-se, especialmente, de um paciente idoso, 75 anos e com muitas comorbidades. O paciente estava com grande comprometimento dos pulmões e precisava ser entubado.

Então ele disse a Arthur que queria falar com a família. O médico então fez uma chamada de vídeo. O homem disse aos familiares que os amava, e ouviu deles palavras de encorajamento e de força. Mas, intimamente, sabia que havia chegado a sua hora.

Enquanto o paciente falava com os familiares, chamou a atenção o modo sereno e calmo como o paciente falava com seus familiares. Nem um desespero. Nenhuma queixa. Nenhuma reclamação contra Deus, contra a situação, nem contra os médicos.

Arthur então se preparou para os procedimentos de intubação. Como de costume, enquanto fazia os preparos, ele se colocou próximo a cabeça do paciente e ficou conversando com ele com a finalidade de tranquilizá-lo. Foi então que um gesto o tocou profundamente. O paciente pegou na mão dele, e, serenamente, disse:

—Foi muito bom viver, obrigado. Disse em tom de despedida.

Arthur ficou paralisado por alguns instantes. Já tinha bastante experiência como médico, porém, era a primeira vez que via alguém se portar de maneira tão serena diante da iminência da morte. Enfim, os procedimentos para intubação foram finalizados.

Apesar de todos os cuidados e de todos os esforços feitos pelo médico, o estado do paciente era muito grave, e ele não resistiu. Vinte e quatro horas depois da entubação, o paciente que estivera sob os cuidados de Arthur durante toda a semana, morreu.

Aos poucos o choro do médico cessou. Desde o início da pandemia ele atuava na linha de frente contra a Covid-19. No ano de 2020, trabalhou no Hospital Israelita Albert Stein, em São Paulo, depois mudou-se para Recife, onde, atualmente, exerce as funções de coordenador de UTI-Covid em dois hospitais: o Hospital de Referência Unidade Boa Viagem Covid, e o Hospital Eduardo Campos da Pessoa Idosa.

A profissão de médico faz com que as pessoas se acostumem ao sofrimento. O que não significa indiferença. Fazia tempos que Arthur não chorava em decorrência de um procedimento médico, nem devido a morte de um paciente. Mas a despedida feita por aquele paciente e a serenidade que ele viu brotar dos olhos dele, realmente o emocionou e o fez encontrar ressignificados para a própria vida e para a sua luta como médico da linha de frente do Covid.

Enquanto cruzava as ruas da praia de Boa Viagem, em direção a sua casa, ele ainda pensava em quão a doença havia mudado de características em um ano. Ano passado, o que se viam pelos hospitais eram, geralmente, pessoas idosas.

Agora, nessa segunda não, ele tem visto chegar muitos pacientes jovens em estado grave, principalmente os que sofrem de obesidade. Esses jovens já chegam ao hospital com grande comprometimento do pulmão e em seguida já são entubados. Os pacientes jovens talvez demorem mais a reconhecer os sintomas, e consequentemente, a procurar um hospital.

Outro fato que chamou a atenção do médico, era que muitos desses pacientes jovens relataram ter tomado o “kit covid”, conjunto de medicamentos de tratamento precoce contra a Covid-19, ampla e ferrenhamente defendida pelo governo federal, mas que não tem nenhuma eficácia comprovada pela ciência no combate à doença.

Grande engano. O que Arthur via com frequência nas UTIs dos hospitais onde trabalha, são pessoas que se encheram de kit covid. Isso apenas agravou o quadro do paciente por reações ao medicamento, ou porque os fazem demorar um tempo extra para procurar um médico. Tempo extra que, no caso, pode ser fatal.

Muitas ainda são as dúvidas para o médico Arthur a respeito do assunto Covid-19. Uma doença nova que fez os médicos e enfermeiros descobrirem como lidar com ela na prática diária. Tendo muitos deles perdido a vida nessa batalha. Ele mesmo já viu vários amigos médicos e enfermeiros sucumbirem à doença.

De uma coisa porém, o médico tinha certeza: enquanto a campanha de vacinação não atingir todos os brasileiros, ou pelo menos grande parte dele, não há outro remédio a ser tomado a não ser o distanciamento social, o uso de máscaras, álcool gel, lavar as mãos com água e sabão, e todos esses cuidados que ajudam a combater o vírus. Kit Covid não vai resolver o problema de ninguém, a ainda por cima, pode agravar o quadro clínico do doente.

Em meio a tudo isso, a todo esse casos, ele lembrou que ainda tem que lidar com os negacionistas, pessoas que, até hoje, vendo tudo o que estão vendo, presenciando tudo o que estão presenciando, ainda não acreditam que a doença seja real. Arthur acha impressionante que com os doentes chegando aos borbotões aos hospitais, muita gente ainda se agarra a crença de que a doença não existe.

Dias atrás, um fato o deixou extremamente chateado, e desanimado. Um amigo escreveu nas redes sociais que os médicos estavam inflando os números de mortos por Covid. Segundo ele, nem toda essa quantidade de pessoas está morrendo da doença. São as prefeituras que colocam como causa morte de qualquer doença, Covid-19.

Arthur então respondera para ele que a prefeitura elabora suas estatísticas de acordo com a declaração de óbito. E era ele, Arthur, que preenchia essa declaração, e que, em nenhum momento, mentiu sobre a real causa da morte dos pacientes.

Enfim, Arthur chegou em casa e começou a se preparar para um breve descanso. De outra coisa ele também teve certeza. De que a guerra ainda duraria alguns meses, mas que, ao final, será vencida. 

O relato acima, foi baseado na reportagem Eunão estou mentindo nos atestados de óbitos, desabafa medico de Recife, assinada pela repórter Carolina Marins, e publicada no portal de Notícias Uol.

Outra notícia que o portal Uol Notícias trouxe essa semana, e que também é de comover o coração, foi a de três crianças, trigêmeos, que, em um intervalo de apenas oito dias, perderam a mãe, a tia, e a avó vitimadas pela Covid-19. As crianças moravam com as três, na cidade de Parisi, a cerca de 550 km de São Paulo.

Para ficar ainda mais dramática a situação, os irmãos Pedro, Paulo, e Felipe, de apenas cinco anos de idade, também haviam perdido o pai há um ano, em um acidente de trânsito.

Felizmente, no caso dos meninos, apareceu um anjo disposto a cuidar deles e dar a eles o carinho de pai, e a acolhida de um lar.

Um tio dos meninos, o vendedor Douglas Junior Faria Amaral, de 26 anos, resolveu pedir a guarda das crianças e a Justiça concedeu. As crianças já tinha uma certa proximidade com ele, o que facilitou o processo.

E agora, Douglas que morava numa casa pequena com a mulher e uma filha do casal, agora tem que cuidar de mais três crianças. Por enquanto, as crianças estão dormindo em um colchão no quarto, junto com o casal, mas Douglas já planeja construir um quarto para eles.

Outros anjos se juntaram a essa luta e pessoas estão doando roupas e alimentos para manter os três garotos. Também está sendo feita uma vaquinha virtual para colaborar com as demais despesas, como por exemplo, a educação das crianças.

Em meio a todo esse sofrimento, de diversas famílias, seja por ter perdido alguém, ou por estarem com a doença, ou ainda por estarem sofrendo as consequências econômicas que a pandemia provoca, no momento em que, para conter o avanço da doença, e evitar que o sistema de saúde, piore ainda mais do que já está, ontem à noite o Brasil foi surpreendido por uma decisão o ministro do STF, Kassio Nunes Marques.

                                                                        ministro Kassio Nunes Marques

Neste sábado, 3, o ministro, julgando um pedido feito pela Anajure (Associação Nacional de Juristas Evangélicos), decidiu liberar a realização de missas, cultos, e demais celebrações religiosas em todo o país.

Na prática, a partir da decisão do ministro, estados e o Distrito Federal, ficarão impedidos de editar ou exigir que sejam cumpridos decretos ou atos administrativos locais que proíbam a realização de celebrações religiosas presenciais, com a finalidade de deter o avanço da Covid-19.

A decisão estabelece que sejam aplicadas para esses eventos as medidas sanitárias de prevenção e que seja respeitado o limite de 25% da ocupação do local. Também é exigido o espaçamento entre bancos e/ou cadeiras. Há também recomendação para que os eventos sejam realizados em locais amplos e arejados, com janelas e portas abertas sempre que possível.

A decisão também segue o que é pedido para os demais estabelecimentos como o uso de máscara, uso de álcool gel e que seja medida a temperatura dos fiéis

Reconheço que o momento é de cautela, ante o contexto pandêmico que vivenciamos. Ainda assim, e justamente por vivermos em momentos tão difíceis, mais se faz necessário reconhecer a essencialidade da atividade religiosa, responsável, entre outras funções, por conferir acolhimento e conforto espiritual”.

O ministro citou ainda o caráter filantrópico dessas instituições e disse que elas ajudam muita gente fornecendo alimento e abrigo para a população mais carente. Na decisão, o ministro citou também o transporte público e as farmácias, serviços essenciais que continuam funcionando durante a pandemia: “Tais atividades podem efetivamente gerar reuniões de pessoas em ambientes ainda menores e sujeitos a um menor grau de controle do que nas igrejas”.

Ora se intenção das medidas restritivas é diminuir a circulação de pessoas nas ruas, a decisão do ministro caminha na direção contrária. Quando o ministro libera as pessoas para irem às igrejas é mais gente que está sendo colocada na rua. Além do mais, a grande maioria dos templos e igrejas no Brasil, são lugares pequenos, fechados, apertados, ou seja lugares muito propícios para a transmissão do coronavírus. Quanto à caridade, tem muita gente fazendo isso, arrecadando alimentos e roupas para as pessoas carentes, sem depender de uma igreja aberta para fazer isso.

Como diz o Rodrigo Bocardi, apresentador do programa Ponto Final, na rádio CBN, “No Brasil, ninguém morre de tédio”. Eu que pensava discutir nesta postagem, as manobras feitas no governo na semana que passou com a dança das cadeiras no mistérios, onde o presidente trocou alguns ministros, inclusive o péssimo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e a mal explicada troca de ministros no mistério da Defesa, e eis que outro assunto de grande relevância já se impõe, e que a decisão de Kassio Nunes, e é importante porque nela está envolvida o bem mais preciso: a vida.

Ao saber da decisão, o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), afirmou que, em BH, a proibição seria mantida. Para isso, ele se baseou na decisão do próprio Supremo de que prefeitos e governadores tem competência para adotar medidas de restrição de circulação de pessoas em um contexto de pandemia. “Em Belo Horizonte, acompanhamos o Plenário do Supremo Tribunal Federal. O que vale é o decreto do Prefeito. Estão proibidos os cultos e missas presenciais”, disse ele seus redes sociais.

Durante a madrugada deste domingo (4), Kassio Nunes intimou o prefeito de BH a cumprir a decisão. A decisão do ministro exige cumprimento imediato e que o prefeito também esclareça as providências tomadas, sob pena de responsabilização, inclusive, no âmbito criminal. Para o ministro é grave a “declaração de uma autoridade que não pretende cumprir uma decisão” do STF.

Alexandre Kalil também começou a sofrer ataques de bolsonaristas nas redes sociais, ao anunciar que não iria cumprir a decisão do ministro. O fato é que a decisão do ministro era tudo o que Bolsonaro e líderes religiosos inescrupulosos queriam. Muitos deles já foram às redes sócias comemorar.

O Brasil registra até agora 330.297 mortos pela Covid. Neste sábado, 3, em 24 horas foram 1.931 mortos pela doença. Desde o início da pandemia já são 12.953.597 brasileiros contaminados pelo coronavírus.

Infelizmente, o país continua em estado crítico em relação a pandemia, e, apesar dos esforços dos prefeitos, governadores, infectologistas, e todos os demais profissionais de saúde, as coisas por aqui não vão melhorar, pelo menos por enquanto. Nos próximos dias ainda poderemos ver cenas desesperadoras.

Para perceber isso basta olharmos as comemorações de Páscoa que acontecem no dia de hoje, comemorações essas que foram precedidas por imensas filas nos mercados para a comprar de peixes e de demais preparativos para a comemoração. Alie-se a isso, as festas clandestinas que ocorrem com jovens ignorando por completo a pandemia. Acrescentemos a essa receita a decisão inconsequente e irresponsável do ministro Kassio Nunes Marques de liberar cultos e missa em todo o país, e teremos um receita explosiva, e um prato amargo, capazes de piorar ainda mais uma situação pra lá de complicada.

E ainda temos que ficar de olho em mais esse embaraço da Justiça brasileira. Em 16 de abril de 2020, o plenário do Supremo Tribunal Federal, havia decido, por nove votos a zero, que prefeitos e governadores possuem autonomia para regulamentar medidas de isolamento social.

Os ministros Marco Aurélio Mello, Alexandre de Moraes, Edson Fachin, Rosa Weber, Luiz Fux, Cármen Lúcia, Ricardo Lewandowski, Gilmar Mendes e o presidente da Corte, Dias Toffoli, votaram a favor da proposta. Celso de Mello e Luis Roberto Barroso não votaram.

Na decisão, os magistrados não isentaram o governo federal desse processo, como tem dito continuamente o presidente Jair Bolsonaro. Na ocasião os ministros decidiram também que o governo federal tinha autonomia apenas para definir serviços essenciais e de interesse nacional.

Portanto, a interpretação da decisão dos magistrados naquela ocasião é a de que o gestores estaduais e municipais tem autonomia para quais serviços podem parar ou continuar em seus territórios.

No entanto, neste 03 de abril de 2021, o ministro Nunes Marques, dá uma decisão que contrária uma decisão já definida anteriormente em plenário.

Resta-nos ver como se desenrolará o caso durante os próximos dias, e a crise criada entre o governo municipal de Minas e ministro Kassio Nunes Marques. Coisas da Justiça brasileira. Certamente, outros prefeitos e governadores questionarão a decisão.


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