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Negacionismo: O obscuro mundo da estupidez

Posted by Cottidianos on 23:37

Domingo, 23 de janeiro

“Acho que é um momento da gente respirar fundo

e esperar um pouquinho.

Já vai passar já”

(Andrea Beltrão, atriz,

em entrevista ao programa Estúdio CBN Entrevista)

 



Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”.

A estupidez é infinitamente mais fascinante do que a inteligência. A inteligência tem seus limites, a estupidez não”. 

Nada há mais caro na vida que a doença - e a estupidez”.

Começo o texto de hoje com essas três frases citadas no texto, O discurso da estupidez, publicado no jornal Folha do ABC, em 23 de abril, de 2021.

A primeira citação é do físico e teórico alemão Albert Einstein. A segunda foi dita pelo produtor, ator, e roteirista francês, Claude Chabrol. A terceira frase é de autoria de Sigmund Freud.

Desde a chegada do bolsonarismo, temos visto aumentar, e muito, aquilo que já vinha tendo uma escalada impressionante em nosso país: a estupidez humana. Acho que nem os animais irracionais têm conseguido superar certos animais racionais.

Nessa pandemia, então, fomos invadidos por um mar de tolices. Cada uma pior que a outra. Esse festival de asneiras não é privilégio do Brasil. Pessoas de todo o mundo tem navegado nesse mar e se sentido muito à vontade nele. Cada um de nós deve ter o cuidado para não nos deixarmos influenciar por essas ideias tortas.

Citarei aqui três casos iniciais, e depois seguiremos por essa mesma vereda em outras áreas. Não tem muito como fugir das babaquices no texto de hoje.

O primeiro exemplo vem de fora do Brasil. Creio que os caros leitores e leitoras tenham tomado conhecimento do caso da cantora que se infectou de covid-19 de proposito, e morreu.

                                                                      Hana Horke, cantora Tcheca


No domingo, 16 de janeiro, a cantora tcheca Hana Horke, 57, morreu devido a complicações causadas pela Covid-19. A cantora era vocalista do grupo Assonance. Não conhecia esse grupo e nem a cantora, mas após a repercussão do caso, fui buscar alguma referência na Internet, e descobri que é um grupo que faz um som bastante agradável, e que Hana tinha uma bela voz.

Hana que tantas vezes navegou pelo sublime mundo da boa música, teve a má sorte de — influenciada por falsos amigos, e falsos conselheiros — a mergulhar no obscuro mundo do negacionismo.

A voz que encantava o público da República Tcheca tornou-se também uma das principais vozes a se levantar contra a ciência. Foi recrutada pelo exército de negacionistas — que, apesar de ser em menor número que o exército das pessoas de bom senso, conseguem fazer um barulho enorme e causar estrago na saúde de muitas pessoas — e para ele passou a trabalhar com afinco.

Adeptas das ideias das tropas negacionistas, cujas bases e métodos de ação já conhecemos, a cantora também se entregou de corpo e alma às campanhas antivacinas. O que aconteceu foi o seguinte. O filho de Hana, Jan Rek, e o pai dele, contraíram o coronavírus, mas não desenvolveram a forma grave da doença, apresentaram apenas sintomas leves.

A cantora viu nesse episódio a oportunidade perfeita para contaminar-se, de propósito, com o vírus para conseguir o passaporte de vacinação, exigido para frequentar locais públicos na República Tcheca.

No dia 14 de janeiro ela, radiante de felicidade, fez a seguinte postagem no Facebook: “Vou divulgar sim! Estou muito feliz. Desta forma poderei ter uma vida livre, como os outros, ir ao teatro, sauna, show. Quero um pouco de mar, urgentemente. A vida está aqui para mim e para ti também”. 

No dia seguinte, a radiante de felicidade Hana, saiu para fazer uma caminhada e voltou reclamando de dores nas costas. Morreu por sufocamento, deitada na própria cama. Talvez em seus últimos momentos, tenha sentido vontade de estar na cama de um hospital, sendo cuidada pela ciência que ela própria desprezou. Mas o coronavírus fez aquilo que era da vontade dela.

Jan Rek, filho da cantora, disse em entrevista: “Ela preferiu viver normalmente e pegar a doença para não ter que se vacinar. É triste que ela preferiu acreditar em estranhos invés da própria família. Minha mãe não foi apenas alvo de desinformação. Ela acreditava em opiniões sobre a imunidade natural e anticorpos que criaria quando pegasse a doença”.

                                                                              Elizangela, atriz brasileira

Aqui no Brasil,  quem quase embarca para o andar de cima esta semana, foi a atriz Elizangela. Também adepta do movimento antivacina, ela foi internada na quinta-feira, 20, em Guapimirim, Baixada Fluminense, em estado grave devido a sequelas respiratórias da Covid-19.

Segundo funcionários da prefeitura, Elizangela chegou ao hospital passando muito mal, e quase teve que ser entubada. Ainda segundo a assessoria da prefeitura, ela não havia tomado nenhuma dose de alguma das vacinas que protegem contra o coronavírus.  As últimas informações de que se tem notícias sobre a atriz é de que ela está estabilizada, porém, seu estado de saúde ainda inspira cuidados médicos.

A atriz já participou de mais de trinta novelas, tendo tido sua última participação na novela, A Dona do Pedaço, de 2019.



Outro exemplo de estupidez humana vem das arquibancadas de um estádio de futebol em Pernambuco.

A partida ocorrida entre os clubes de futebol Náutico e Ibis, na cidade do Recife, no  Estádio Eládio de Barros Carvalho, popularmente conhecido  como Estádio dos Aflitos, em jogo disputado pelo campeonato pernambucano, cuja partida foi vencida pelo Náutico por 3 x 0. Nesse jogo teve um episódio bastante inusitado.  

Antes do jogo, o Náutico, em parceira com o governo do Estado havia feitos testes grátis para a Covid, com o objetivo de garantir a segurança da torcida. Um dos torcedores testou positivo para a doença. Porém, não se sabe como, ele conseguiu burlar a fiscalização e entrar no estádio assim mesmo.

Mesmo infectado pela Covid, o torcedor conseguiu assistir todo o primeiro tempo da partida, junto com os outros torcedores. Não contente com isso, ainda durante o jogo, ele fez postagens nas redes sociais se gabando do fato de estar ali, assistindo a partida, mesmo infectado pelo vírus.

O jovem tirou duas fotos que postou em sua rede social. Na primeira ele apresentava o resultado do teste feito no estádio, antes do jogo, que trazia a sinalização marcada “positivo/reagente”. Depois fez uma selfie no meio da torcida, e também postou. Na legenda desta segunda foto, ele escreveu: “Tropa da Covid”.

Denunciado por alguém, algum dos seus contatos provavelmente, ele foi retirado do estádio pela polícia, e levado para a delegacia.

Com certeza, esse torcedor da tropa do mal, conseguiu contaminar outras tantas pessoas, que contaminarão outras, e assim por diante. É um raciocínio perverso o desse rapaz, assim como é o das pessoas que espalham informações falsas sobre a doença e sobre as vacinas.

Se os fatos narrados beiram o absurdo, o que dizer então quando a tropa de choque do mal está no governo?

Entrando nesse território, começo fazendo referência a duas grandes atrizes brasileiras, que de estúpidas não tem nada, ao contrário, são pessoas maravilhosas, e profissionais talentosas.

                                                          Marieta Severo e Andrea Beltrão, atrizes

O programa Estúdio CBN, apresentado por Tatiana Vasconcellos e Guilherme Muniz, entrevistou no dia 18 de janeiro deste ano, as atrizes Marieta Severo e Andrea Beltrão, ambas atuando na novela, Um lugar ao sol, exibida atualmente no horário nobre da Globo. As duas atrizes deram uma entrevista muito agradável à CBN, na qual falaram muito de seus projetos, especialmente do projeto Teatro Poeira, iniciativa mantida pelas duas atrizes. Falaram também sobre as expectativas para o futuro do Brasil.

Quando perguntadas por Guilherme Muniz sobre que futuro elas enxergavam para o futuro da cultura brasileira e para o Brasil no momento atual, assim respondeu Andrea Beltrão:

Assim que esse governo sair, na verdade eu não gosto de chamar isso que temos de governo, porque eu acho que a palavra governo... eu gosto de política, eu acredito na política, então eu acho que só é possível uma convivência para todos através da política. Só que eu acho que algumas profissões elas têm uma natureza que é uma natureza vocacional. Eu acho que quando você é governante, ou representante público, quando você lida com a coisa pública, é preciso que você tenha uma verdadeira vocação para com o outro, para escutar o outro, para se interessar pelo outro, saber o que o outro precisa, o outro que votou em você, e, principalmente, o outro que não votou em você. Então eu acho que isso temos não passa por aí. Eu acho que é uma equipe de pessoas, de aproveitadores. Então eu acho muito difícil pensar “ah, agora como vai ser a cultura”, eu acho que agora é um momento de resistência, da gente se manter em pé, a gente não vai se calar jamais, a cultura tá aí, ela é alimento, ela é necessária, a gente não consegue viver sem. A vida só não basta, é preciso poesia, é preciso cultura, senão é insuportável. Então eu acho que daqui a pouco, a gente vai ter um momento bem melhor, mas eu acho que agora é um momento de sobrevivência, de resistência. Eu acho que acontece um massacre, acontece uma falta de respeito, um deboche, uma esculhambação, não só com a cultura, com a saúde, com a vacinação das crianças, e de todos, enfim, acho que é um momento da gente respirar fundo e esperar um pouquinho. Já vai passar já”.

No discurso de Andreia, ela fala basicamente de cultura, mas se você substituir as vezes em que ela fala de cultura por meio ambiente, direitos humanos, saúde, e todas as áreas que envolvem a sociedade, a conclusão é, como ela diz no final, que esse governo realiza um verdadeiro deboche para com o Brasil e para com os brasileiros, exceto, para os cerca de 25% do gado que ainda o apoia ferrenhamente.



Temos acompanhado como o presidente Jair Bolsonaro tem tratado a Covid-19 desde o seu início, com escarnio, com deboche, com falta de compaixão. A campanha que fez contra a vacinação de adultos, e não é diferente da que faz agora com a vacinação das crianças.

Com suas palavras e atitudes ele incentiva seus seguidores a atos que não entram na cabeça de quem não está dominado por esse vírus terrível chamado bolsonarismo.

Nesta quinta-feira, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), liberou a vacina contra a Covid, Coronavac, para crianças e adolescentes entre 6 e 17 anos, com exceção dos imunossuprimidos. A decisão foi tomada de forma unanime pelos cinco diretores da agência.

Isso bastou para que os diretores da Anvisa, que já haviam sido ameaçados anteriormente, quando aprovaram, em dezembro, a aplicação a Pfizer para o público na faixa de idade entre 05 e 11 anos, voltassem a ser ameaçados novamente. Em um dos trechos de um desses e-mails ameaçadores, uma pessoa chega a dizer até mesmo que ora “a Deus em desfavor de todos que tem causado dor e sofrimentos ao seu próximo (sic)”. Assim, na sua irracionalidade, os bolsonaristas invertem os valores.

Outro diz que os diretores da Anvisa devem rever suas decisões, “senão o preço que vc vai pagar será altíssimo (sic)”. Os diretos da agência têm recebido, desde dezembro, centenas de e-mails desse tipo.

Na semana que passou, uma criança da cidade de Lençóis Paulista, teve uma parada cardíaca. Ela havia tomado a vacina. Adivinhem quem foi a escolhida como culpada desse incidente? A vacina, óbvio. Dez especialistas do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo se reuniram para analisar o caso, e descobriram que a parada cardíaca da criança não estava relacionada a vacina, mas a uma doença congênita rara, até então, desconhecida da família.

Os lobos vorazes do governo logo salivaram, pensando ter encontrado a cartada final para apresentar o caso como prova da ineficácia da vacina. O ministro da Saúde Marcelo Queiroga, e a ministra da Mulher, da Família, e dos Direitos Humanos, logo viajaram, pessoalmente, até a cidade de Botucatu, onde a criança estava internada, para visitá-la. 

Isso foi uma clara tentativa de explorar politicamente o episódio — pelo que se comenta, tanto Damaris Alves, quanto Marcelo Queiroga, pretendem lançar suas candidaturas para as próximas eleições. Até o presidente, Jair Bolsonaro, ligou, pessoalmente, para família da criança.

Agora pensem, em toda a pandemia, que já vitimou mais de 600 mil brasileiros, em algum momento vocês viram o ministro da Saúde, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos, Damares Alves, ou qualquer outro ministro do governo, ou até mesmo o próprio presidente da República, soltaram alguma nota de compaixão, ou visitaram hospitais, ou alguma família que estivesse sofrendo as agruras da Covid-19?

Muito pelo contrário, era o coronavírus vitimando mais e mais brasileiros e brasileiras, milhares de famílias chorando o luto, e o presidente e seus ministros viajando em motociatas, em viagem de férias em locais badalados e caros. É uma gente muito “bondosa” e caridosa” essa que está no governo.

Outro caso protagonizado pelo ministério da Saúde, que é de arrepiar os cabelos das pessoas sensatas, foi a nota técnica, divulgada pelo próprio ministério da Saúde, com a finalidade de frear os estudos que contraindicam o uso do tal “kit covid”. O documento do ministério da Saúde classifica a cloroquina como eficaz no tratamento da covid, e ainda tem o disparate de afirmar que as vacinas não possuem a mesma efetividade contra a doença que o kit. Quem assina a nota é Hélio Angotti Neto, secretário de Ciência, Tecnologia, e Inovação e Insumos Estratégicos em Saúde da pasta.

Obviamente, um secretário do ministério da Saúde não pode emitir uma nota técnica sem o consentimento do ministro da Saúde, e sem a anuência do presidente da República — que é quem, sem nenhum conhecimento de medicina, ou de qualquer outra ciência — de fato, manda e desmanda no ministério da Saúde. Essa conjunção de forças suspeitas, baseando-se em estudos infundados e sem nenhuma credibilidade, resultou numa nota técnica que é a própria coroação das fake news sobre o tema, cuja coroa foi colocada pelo próprio governo.

Eduardo Pazuello foi um péssimo ministro da Saúde, é verdade. Entretanto, Marcelo Queiroga é ainda pior, pois, pelo menos Pazuello não era médico. Ao contrário de Queiroga que o fez o juramento solene da medicina. Juramento esse que tem mais e mais a cada dia, jogado no lixo, ao se vender a esse projeto de governo que não prioriza a vida, mas a morte, não valoriza a verdade, mas a mentira, não exalta a compaixão, mas a crueldade.


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Djokovic, o Bolsonaro do tênis

Posted by Cottidianos on 12:34

Domingo, 16 de janeiro

Se a quadra de tênis fosse um reino, Novak Djokovic seria o rei, assentado no trono, tendo na cabeça uma coroa de ouro. O atleta é perfeito naquilo que sabe fazer: jogar tênis. É um gênio nessa modalidade de esporte.

Mas saindo das quadras, tirando a coroa da realeza, e vestindo os trajes de um simples mortal, o sérvio se revelou um idiota. É arrogante, antipático. Essas caraterísticas dele já eram conhecidas. Mas, em 2019, veio a praga do coronavírus — esse vírus que até hoje nos causa preocupação — e o tenista sérvio tirou mais algumas máscaras e revelou caraterísticas que o mundo não conhecia a respeito de sua personalidade.

Djokovic mostrou não ter nenhuma empatia e respeito para com os seus irmãos em humanidade. Revelou-se um negacionista ferrenho, desses que desdenham da doença, rejeitam a vacina, e desprezam a ciência e, para completar, é adepto do movimento antivacina. Se a quadra de tênis fosse um país, o tenista sérvio seria um Jair Bolsonaro na presidência.

Desde os primeiros dias desse ano de 2022, o mundo tem acompanhado com bastante interesse a novela Novak Djokovic, o bad boy do tênis.

O Australian Open, o primeiro grande slam deste ano, começa na segunda-feira, 17. Grandes nomes do mundo do tênis darão o melhor de seus esforços nas quadras australianas, em mais uma temporada do torneio. No Melburn Park jogarão nomes como, Rafael Nardal, Naomi Osaka e Ash Barty.No ano passado, Djokovic, foi o campeão do torneio, levantando seu 9o troféu na Austrália.

Mas no ano passado, ainda estávamos sendo assolados gravemente pela pandemia, e não tínhamos ainda as salvadoras vacinas. Correu o tempo, e correu também cientista de todo mundo em busca de uma solução para a pandemia do coronavírus. Os esforços dele foram bem-sucedidos e, em tempo recorde, tínhamos uma vacina contra o coronavírus.

Com as vacinas vieram também uma série de exigências. Uma delas foi que, para se entrar em determinados lugares, participar de competições, e realizar diversas outras atividades, passou a ser exigido a apresentação da carteira de vacinação. Se já se vacinou, entra. Se não, fica de fora. Simples assim.

Foi numa dessas que, em setembro do ano passado, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, alguns ministros, e outros membros de sua comitiva, estando em Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), foi obrigado a comer pizza em uma calçada, simplesmente, porque não pode adentrar nas dependências do restaurante novaiorquino que exigia a apresentação da carteira de vacina contra a covid-19.

Com o Australian Open não foi diferente. É exigido do atleta a comprovação de que tomou a vacina, ou apresentar um certificado de dispensa dela, assinado por uma junta médica. Não tendo tomado a vacina, aliás, criticando-a sempre que pode, o bad boy do tênis, resolveu participar do torneio.

Com a permissão dos organizadores do torneio, botou na mala o certificado de dispensa exigido pelas autoridades australianas, junto com o comprovante de que se recuperara de Covid-19 recentemente, e partiu para a Austrália.

Desembarcou na quarta-feira, 5, no aeroporto de Melbourne com um sorriso no rosto. Sorriso esse que logo lhe sumiu do rosto quando, ainda no aeroporto, as autoridades australianas lhe disseram não aceitavam a autorização especial que o isentava da vacina. Djokovic teve o visto de entrada negado e foi informado que teria de deixar o país nas próximas horas.

Era o primeiro capítulo da novela bastante assistida em todo o planeta desde aquele dia. O Jornal Nacional do dia 05 de janeiro chamou o episódio de “vexame planetário”.

Após um interrogatório que cerca de oito horas, as autoridades australianas concluíram que faltava informação na documentação dele. Ele não conseguiu justificar a permissão especial que o dispensava de apresentar o comprovante de vacinação e foi encaminhado a um hotel de refugiados, em Carlton, Melbourne, cujas condições de acomodação são péssimas.

Djokovic recorreu à Justiça Australiana e, na segunda-feira, 10, o juiz federal, Anthony Kelly, concedeu ao esportista o direito de permanecer no país e disputar o Australian Open. O juiz considerou a decisão de barrar o tenista “irracional”, e ordenou que fossem devolvidos documentos pessoais que haviam sido apreendidos no aeroporto, e que Djokovic fosse libertado em 30 minutos.

Na terça-feira, 11, o tenista foi visto treinando na sede do Australian Open, mas sua participação no torneio ainda era incerta.

Nesta sexta-feira, 14, novo capítulo na novela que prendeu a atenção de pessoas dentro e fora do mundo esportivo. O governo australiano decidiu cancelar o visto do número 1 do mundo no tênis, entretanto, ele não poderia ser deportado pois apresentara recurso, e o governo aguardaria o pronunciamento da justiça. Segundo o ministro da Imigração, as razões para cancelar o visto de entrada do tenista sérvio seriam de “saúde e ordem pública”.

E a agitada e tensa trama prosseguiu. Neste sábado, 15, o governo australiano determinou que Djokovic fosse detido novamente no Park Hotel, em Melbourne, o mesmo hotel de refugiados que havia sido detido anteriormente. Ele ficará lá até que a Justiça se pronunciasse sobre o seu processo de extradição por não ter tomado a vacina contra a Covid-19. A audiência foi realizada neste domingo. Os advogados do tenista tentaram obter uma liminar para permitir que ele permanecesse no país e disputasse o Australian Open.

Toda novela, por mais audiência que tenha, chega uma hora que tem o seu último capítulo. Com a novela, Djokovic, bad boy do tênis, não foi diferente. Na madrugada deste domingo, a Justiça australiana indeferiu o pedido de Novak Djokovic para permanecer no país, e disputar a edição 2022 do Australian Open, mesmo sem estar vacinado contra a Covid-19.

A decisão pôs fim a tentativa da defesa do sérvio de reverter o segundo cancelamento de seu visto. O tenista estrearia no torneio já nesta segunda-feira, 17, dia em que o começam as competições. Com o indeferimento do recurso, o tenista sérvio foi obrigado a deixar o país.

Para Djokovic estava em jogo, não apenas mais um Grande Slam, mas a oportunidade de bater o recorde de 21 títulos de Grande Slam ((Australia Open, Roland Garros, Wimbledon e US Open). Ao ser deportado, o tenista sérvio, número um do mundo, perde o direito ao visto australiano por três anos, ou seja, por três anos ele não poderá disputar o Australian Open. Se Djokovic já vinha arranhando a sua imagem durante a pandemia com suas atitudes inconsequentes, com o episódio Australian Open, ele quebra a sua imagem, além de ser submetido a um “vexame planetário”.

Algumas das perguntas que ficam, caros leitores e leitoras, são as seguintes: Vale a pena prejudicar uma carreira, um emprego, um trabalho, ao dar ouvidos as baboseiras que dizem esse povo do movimento antivacina? Vale a pena insistir em não querer se vacinar quando o mundo, mais uma vez, é sacudido pela Ômicron, nova variante do coronavírus, e por surtos de gripe? É lícito por a própria saúde e a saúde dos outros em risco ao negar a ciência?

Após a decisão, o atleta disse: “Agora vou tirar um tempo para descansar e me recuperar”. Descansar e se recuperar: Apenas isso não basta Djokovic. É preciso que você pense e repense suas atitudes irresponsáveis e inconsequentes que podem, inclusive, pôr em risco a saúde daqueles que se esforçam por seguir todos os protocolos exigidos pela ciência no combate ao coronavírus, inclusive, no ato de tomar a vacina contra a doença, ato que ajudado a evitar tantas mortes por Covid-19. Descanse, Djokovic, pois o mundo já está cansado de pessoas irresponsáveis como você.

O tenista sérvio prova com seu exemplo que ser o número 1 no jogo não significa necessariamente ser o número 1 na vida. Para ser o número 1 no jogo é preciso uma boa dose de talento, habilidade, e técnica, e isso, reconheçamos, Djokovic possui. Mas, para ser o número 1 na vida, é necessário bem mais que isso. É preciso uma consciência expandida, senso de responsabilidade, empatia, amor e respeito ao próximo.

O sérvio provou nessa pandemia que ainda não despertou esses requisitos em sua consciência. A irresponsabilidade dele é tamanha que em junho de 2020, em plena pandemia, organizou o Adria Tour, torneio de tênis cujas partidas se desenvolveram na Croácia e na Sérvia. Um desses jogo chegou a ter 4.000 pessoas presentes nas arquibancadas.

Tudo como se o mundo não estivesse atravessando uma pandemia, nesses jogos não havia a menor preocupação com distanciamento social, máscaras, ou álcool gel. Dane-se a ciência, era a regra nas partidas organizadas por Djokovic. Foi nesse evento que reuniu as 4.000 pessoas que o sérvio, sua esposa e outros tenistas contraíram covid. Ele veio a público pedir desculpas.

A defesa de Djokovic, para justificar a isenção especial que recebeu, afirmar que o tenista tinha se recuperado, recentemente, de Covid-19, apresentou exame. O primeiro teste de Covid teria sido feito em 16 de dezembro de 2021, e depois de não apresentar febre ou dificuldade respiratória ele se candidatou a isenção especial para competir no primeiro grande slam do ano. Tais documentos foram apresentados na segunda-feira, 10, data da audiência do tenista na Justiça australiana.

Como novela boa sempre tem que ter uma pitada a mais de pimenta, chega a respeitada revista alemã, Der Spiegel e diz que o tenista sérvio pode ter falsificado esse exame.

A Der Spiegel confrontou os documentos apresentados pela defesa de Djokovic à Justiça australiana com dados do Instituto de Saúde da Sérvia e verificou inconsistências entre as informações contidas em ambos os documentos.

Um desses indícios apontou que o teste negativo para a covid-19, havia sido produzido antes de um segundo teste com resultado positivo. Outra informação curiosa apontada pela revista é em relação ao QR registrado no teste Covid do atleta, datado de 16 de dezembro.

Quando a Der Spiegel acessou esse código verificou que, no espaço de pouco mais de uma hora, havia dois resultados diferentes para o mesmo código. O resultado do primeiro teste realizado às 13h19min, horário local, aparece como negativo. E no teste realizado às 14h33min, o resultado aparece como positivo.

Outra coisa chama atenção em toda essa confusão. Se Djokovic diz que testou positivo para Covid-19 em 16 de dezembro, por que ele foi a uma cerimônia no Novak Tennis Center, em Belgrado, ocorrido em 17 de dezembro, com menos de 24 horas após teste positivo para Covid-19?

No evento, o tenista foi fotografado, sorrindo com a maior naturalidade, sem máscara de proteção, abraçando crianças e distribuindo prêmios a jovens fãs, nesse evento que era beneficente.

E não parou por aí. No dia seguinte a esse evento, o atleta, postivado para Covid, ao invés de estar em quarentena, estava participando de uma sessão de fotos e dando entrevista para o esportivo francês L’Equipe. Novak Djokovic diz que não sabia que estava com Covid. Ora, quem acaba de fazer um teste para Covid, e pode ter suspeita da doença, se gosta realmente das pessoas que o rodeiam, o certo é se colocar logo em quarentena, e não sair por aí, beijando, abraçando, e dando entrevistas.

A respeito do comportamento de Djokovic, deixo aos leitores e leitoras três alternativas:

A)    Djokovic estava mentindo ao falar que testara positivo para Covid-19.

B)     Ele realmente queria contaminar pessoas, mostrando, dessa forma, seu lado mais cruel.

C)     O atleta é um grande irresponsável.

O caro leitor pode escolher uma delas, ou mais de uma.

***

Davi Seremramiwe, indígena, primeira criança a ser vacinada no Brasil


Aqui no Brasil, temos boas notícias. Já chegaram ao país as vacinas para as crianças. Um grande alívio para os pais que, em meio a escalada de casos de Covid-19, e surto de gripe, veem se aproximar o início do ano letivo. 

Mas as coisas não foram assim tão simples. Dessa vez também teve o fator complicador chamado Jair Bolsonaro a colocar dúvidas sobre a eficiência das vacinas para as crianças. É o “Dr. Bolsonaro” mais uma vez, cumprindo seu papel, de espalhar dúvidas e confusão, e negar a ciência.

Bolsonaro é tão idiota que sabota o próprio governo. Um dia depois que o governo federal anunciou o cronograma de vacinação para as crianças, ele voltou a criticar a vacina direcionada ao público infantil.

A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] lamentavelmente aprovou a vacina para crianças entre 5 e 11 anos. A minha opinião eu quero dar para você aqui. A minha filha de 11 anos não será vacinada!”, disse ele em entrevista a TV Nordeste, do estado de Pernambuco, na quinta-feira, 6.

Durante a entrevista o presidente também lançou dúvidas sobre a idoneidade dos técnicos da Anvisa. “E você vai vacinar seu filho contra algo que o jovem por si só uma vez pegando o vírus a possibilidade de ele morrer é quase zero? O que é que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por trás disso aí? Qual é o interesse daquelas pessoas ‘taradas por vacina’? é pela sua vida? É pela sua saúde? Se fosse estariam preocupados com outras doenças do Brasil, que não estão”, acrescentou ele.

Na entrevista a TV Nordeste Bolsonaro também questionou o repórter se se ele tinha conhecimento de crianças de 5 a 11 anos que tivesse morrido de Covid. Além de ser sádico o presidente também é desinformado, pois, de acordo com o próprio ministério da Saúde, desde o início da pandemia 311 crianças com idade entre 5 e 11 anos perderam a vida por causa da Covid.

As palavras do presidente ecoam na fraca mente de seus eleitores, basta ver nos discursos deles quando falam de vacina.

                                               Antonio Barra Torres - Diretor da Anvisa

No sábado, 8, o diretor presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, deu uma resposta digna de aplausos ao presidente, Jair Bolsonaro, e que merece ser reproduzida na íntegra.

 

Íntegra da nota

Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr. Antonio Barra Torres

Em relação ao recente questionamento do Presidente da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11 anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:

Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.

Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte tomou de mim um paciente.

Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso testemunho.

Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente. Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.

Se o senhor dispõe de informações que levantem o menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com orgulho eu tenho o privilégio de integrar.

Agora, se o Senhor não possui tais informações ou indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor tanto cita, se retrate.

Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita guerra pela frente.

Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o senhor em nada. Muito pelo contrário.

Antonio Barra Torres

Diretor Presidente - Anvisa

Contra-Almirante RM1 Médico

Marinha do Brasil

 Bolsonaro disse que a resposta de Barra Torres foi agressiva. Mas continuou atacando a Anvisa e as vacinas. O presidente Jair Bolsonaro possui espírito hitleriano. O führer, e a alta cúpula do III Reich, se alimentavam de confusão, de ódio, e de mentiras. Quanto mais confusão estivesse acontecendo no país e no entorno deles, melhor. As pessoas, mesmo as mais próximas, não eram importantes, eram úteis. Uma vez que não serviam mais, eram descartadas. A paz os irritava. Foi assim que levaram a Alemanha daquele tempo para o abismo. assim agiu o führer. Assim age Bolsonaro. Assim agem os espíritos que estão na escala mais baixa da evolução.



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Sinais à beira do caminho

Posted by Cottidianos on 23:41

Segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

 certos fatos, certos acontecimentos que formam uma imagem tão forte em nosso imaginário que nem precisamos estar presentes ao local e ao momento em que ocorreram para que elas se tornem recorrentes em nossa mente. Nos colocamos em uma atitude de empatia em relação àqueles que foram protagonistas dos eventos, e ficamos imaginando o que pensaram aquelas pessoas que sabiam que estavam presenciando seus últimos de vida terrena.

É o caso do maior desastre natural do milênio, ocorrido no mar do norte da Indonésia e em parte do Sudeste Asiático. Eram quase 8hs da manhã do dia 26 de dezembro de 2004. Naquela região ocorreu um terremoto de grande magnitude que atingiu 9,1 na escala Richter. As pessoas se assustaram um pouco, mas não chegaram a ficar em pânico, nem entraram em desespero. Passado o susto, a vida seguiu seu curso.

O dia corria normal. Pessoas iam e vinha dos seus trabalhos. À beira-mar, turistas aproveitavam para tomar um gostoso banho de mar. Outros, sentados na areia da praia perdiam seu olhar na imensidão do horizonte. Muitos haviam ficado nas pousadas e hotéis nos quais estavam hospedados, descansando um pouco.

Foi então que, por volta das 10hs da manhã, o pior aconteceu. O forte terremoto fora apenas o prenúncio do horror que se seguiria. O mar pareceu recuar quilômetros deixando atrás de si muitos peixes espalhados pela areia. Alguns vendedores ambulantes brincaram com a situação dizendo que a pesca seria fácil. Quando a água voltou, um vendedor ambulante percebeu de imediato a gravidade do momento, e saiu correndo, dizendo aos que estavam próximos que se afastassem da praia o mais rápido possível.

As águas do mar, que haviam recuado, formaram um tsunami, e avançaram em direção à terra com fúria, em forma de grandes ondas que pareciam monstros sedentos e vorazes. As grandes ondas seguiam velozes engolindo pessoas, carros, prédios, animais, objetos e tudo o mais que encontravam pela frente.

Bastaram apenas cerca de duas horas para que ondas gigantescas e com a velocidade de um trem bala atingissem dez países, matassem cerca de 230 mil pessoas — a maioria delas na Indonésia — e deixassem atrás de si um rastro de morte e destruição.

Outra cena que nunca se apagará de nossas memórias é o fatídico 11 de setembro de 2001, quando dois aviões sequestrados por terroristas se jogaram contra as Torres Gêmeas do World Trade Center, nos Estados Unidos. O ato terrorista deixou cerca de 3.000 mortos.

Muitas pessoas que estavam naquele prédio morreram, sem nem ao menos saber o que acontecera. Porém, muitas outras viram o avião se aproximando pela janela, testemunhando com os próprios olhos o desastre iminente, milhares de outras viram as chamas se aproximarem, devastadoras. E os que estavam dentro dos aviões? Esses sabiam o tempo todo que estavam sendo guiados para a morte.

O que pensaram aquelas pessoas? O que sentiram, sabendo que estavam se despedindo da vida?



E o que dizer dos funcionários que, no início da tarde de 25 de janeiro de 2019 estavam almoçando em um restaurante da mineradora Vale do Rio Doce, na barragem de Brumadinho, Minas Gerais, quando a barragem se rompeu? Eles estavam em meio a um vale, com certeza, ouviram o estrondo provocado pelo rompimento da barragem, e viram o mar de lama avançar ameaçador e veloz. Mas o que fazer se, mesmo que corressem dali o mais rápido que pudessem, ainda assim seriam engolidos pelo mar de lama que seguiu veloz, destruindo, simultaneamente, vidas e meio ambiente? A tragédia deixou 262 mortos e provocou danos ambientais sem precedentes.


Neste sábado, 08 de janeiro, o Brasil viveu mais uma tragédia cujas imagens são impressionantes. O palco foi o lago de Furnas, no município de Capitólio, centro-oeste de Minas Gerais.

O lago artificial da represa de Furnas é um dos maiores lagos artificiais do planeta. Um ousado trabalho no qual o homem mostrou que é possível fazer nascer um rio onde antes ele não existia.

São 5,4 mil quilômetros de águas claras e cristalinas. O lago corre por entre paredões de pedra, os famosos cânions. A beleza do lugar atrai turistas de várias partes do Brasil que para lá vão buscar um pouco de paz e diversão, fugindo da correria das cidades.

Não foi diferente nesse fim de semana. Vários turistas acorreram ao lugar para desfrutar das belezas naturais por ele proporcionadas, apesar de ter chovido na região em dias anteriores.

Na sexta-feira, 07, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), havia emitido alerta de chuvas intensas, que durariam até a manhã de sábado. No sábado, foi a vez da Defesa Civil emitir alerta sobre a possibilidade de chuvas intensas na região, e até mesmo ocorrências do fenômeno conhecido como “cabeça d’água”, que nada mais é que o aumento repentino no nível de um rio, provocado por chuvas intensas nas cabeceiras dele, ou em suas partes mais altas.

Ignorando esses avisos, as empresas que alugam lanchas para esses momentos de lazer mantiveram os passeios com os turistas. Em meio a muita alegria, as lanchas se aproximaram de um ponto na base dos cânions por onde descem cachoeiras. È o ponto preferido pelos visitantes para as sessões de fotos.

Naquele dia, as águas da cachoeira estavam particularmente aumentadas. Alguns visitantes, cujas lanchas estavam um pouco mais afastadas do local começam a notar que as águas da cachoeira começaram a aumentar rapidamente de volume. Pedras também começaram a se desprender dos cânions. A fenda entre paredes começou a aumentar. Eles perceberam que o paredão iria cair e tentaram alertar aqueles que estavam em perigo. Mas foi em vão. O barulho da água, do vento, e da música que tocava nas lanchas dificultava que qualquer aviso de perigo chegasse até eles.

De repente, como se fosse num filme de terror, uma grande rocha do paredão dos cânions se desprendeu e atingiu em cheio as lanchas que estavam bem próximas à base, espalhando grande volume de água, pedras. Uma das embarcações foi atingida em cheio. As pessoas que estavam em outras embarcações foram arremessadas com força para longe pela força da água. Os condutores que estavam nas demais embarcações aceleraram, fazendo com que algumas lanchas se chocassem, lateralmente, umas contra as outras. O clima era de desespero.

A tragédia deixou 10 mortos. Todos eram conhecidos entre si. Eram familiares e amigos uns dos outros, e dividiam a mesma embarcação.

Em todos esses casos, à exceção do caso das Torres Gêmeas, a natureza deu sinais. No tsunami, na Indonésia, o mar recuou. Em Brumadinho, os sinais de que a barragem poderia se romper vinham sendo percebidos pelos técnicos, e nada foi feito. No lago de Furnas não foi diferente: o volume de água na cachoeira aumentando rapidamente de uma hora para outra, as pedras caindo, a fenda aumentando.

Em Brumadinho os técnicos e donos da Vale foram diretamente responsáveis pela tragédia. O rompimento da barragem nem mercê o nome de acidente, mas sim de assassinato, uma vez que eles sabiam dos problemas e fragilidades na estrutura da barragem, e se omitiram.

Em Capitólio, Minas Gerais, as autoridades municipais deveriam ter um plano de verificação e de demarcação de áreas de risco e de prevenção de acidentes, bem como a proibição de passeios no lago em caso de mau tempo.

Depois do ocorrido é que técnicos e autoridades se reuniram para entender o que ocorreu, e traçar planos futuros. A propósito, há um ditado popular que diz que “brasileiro só fecha a porta depois que é roubado”, e ele se aplica bem a esse caso.

Em todas essas ocorrências, à exceção da tragédia do World Trade Center, fica para nós a reflexão de que é preciso estarmos atentos aos sinais dados pela natureza, pelo tempo, e pelas circunstâncias. A natureza está falando conosco todos os dias, todas as horas. Uma casa não vem ao chão de uma hora para outra. Primeiro ela vai apresentando rachaduras, que depois vão se tornando mais espaçadas, e, se nada for feito, a casa vem abaixo.

Há pessoas que conseguem prever coisas que ocorrerão muito tempo depois apenas observando os sinais dados pela natureza. Por exemplo, em 2012, o médico Flávio Freitas, fazia um passeio de barco pelos cânions no lago de Furna, quando uma fenda na rocha chamou sua atenção.

Em uma dessas viagens, passei por esse local onde houve o acidente, um dos mais visitados ali em Capitólio, e aquela fenda me chamou atenção, porque realmente ela é extensa, larga. Visualmente, ela apresentava um aspecto perigoso. Fiz a foto na ocasião e escrevi: 'Essa pedra vai cair”. disse o médico, hoje com 52 anos, em entrevista ao jornal O Globo, depois do acidente ocorrido no último sábado.

Naquela ocasião, ele chegou a postar no Facebook uma foto da rocha com os dizeres: “ESSA ´PEDRA VAI CAIR”. Percebam que nem geólogo ele era, mas conseguiu, através da observação de um fato, prevê um acontecimento que ocorreria dez anos depois. Se um médico percebeu esse fato, por que não os geólogos que cuidam da área não perceberam?

O mesmo também se aplica as tragédias anunciadas que ocorrem todos os anos durante o período chuvoso em várias partes do Brasil? Por que o poder público não age realizando obras que impeçam tais acidentes, sabendo que eles se repetem a cada ano e, praticamente, nos mesmos lugares?


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