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A chave do enigma?
Posted by Cottidianos
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23:47
Domingo,
17 de maio
Paulo Marinho |
O jornal Folha de São Paulo, na edição deste
domingo, 17, em texto assinado pela jornalista, Mônica Bergamo, traz uma entrevista com o empresário, suplente de
senador, e pré-candidato à prefeitura do Rio de Janeiro, Paulo Marinho. Marinho
é ex-marido da atriz Maitê Proença, e foi um dos mais importantes apoiadores de
Jair Bolsonaro durante a campanha presidencial de 2018.
Era
um dos principais nomes que giravam em torno da órbita do então candidato Jair
Bolsonaro à presidência da República. A relação entre o empresário com os
bolsonaros era tão forte que ele chegou a emprestar sua bela casa no bairro
carioca do Jardim Botânico, área nobre do Rio de Janeiro, para reuniões e
gravações de programas eleitorais. Foi
também ele o escolhido para figurar como primeiro suplente na campanha ao
senado do filho do presidente, Flávio Bolsonaro. Como todos sabem, Flávio foi
eleito, levando consigo o primeiro suplente de sua chapa.
Paulo
Marinho é pessoa influente na sociedade carioca. Tanto é que em 2017, ofereceu
um jantar a João Dória e outros nomes fortes da sociedade carioca, como por
exemplo, Roberto Medina, dono da marca Rok in Rio. Na época, Dória era prefeito
de São Paulo.
Antes
filiado ao Patriotas, Marinho se filiou ao PSL em 2018, partido que o então
deputado federal, Jair Bolsonaro, escolheu para abrigar sua candidatura.
Lembremos que o PSL era, na época, um partido nanico, tornando-se nas eleições
daquele ano, uma legenda com fundo partidário milionário, tendo despertado,
posteriormente, a cobiça do presidente, causa do rompimento do presidente com o
partido.
Gustavo
Bebiano foi um dos pilares da campanha de Bolsonaro. Bebiano, fiel escudeiro,
chegou a ocupar o cargo de ministro da Secretária Geral da Presidência.
Bolsonaro assumiu o governo em 1 de janeiro de 2019. Bolsonaro ocupou o cargo
de ministro por um período breve, cerca de um mês e meio apenas.
Em
fevereiro de 2019, Bolsonaro exonerou o aliado por ele estar envolvido no
esquema de candidaturas laranjas no PSL. Embora, talvez essa não tenha sido o
real motivo da saída de Bebiano do governo. Ele deve ter discordado do
presidente em algum ponto, e quem discorda do presidente no menor ponto que
seja, é demitido do governo como temos visto recentemente.
Naquela
época já ficava evidente o norte pelo qual se basearia o governo de Bolsonaro,
facilmente perceptíveis hoje: a influência dos filhos no governo, e o uso das
redes sociais para fritar ministros, denegrir a imagem de opositores do governo,
fatores que tem tido o incrível poder de elevar a temperatura do governo e
fazê-lo entrar em rota de colisão com outros poderes da República, com opositores
e, até mesmo, com aliados. E assim, vez ou outra e quase sempre, a temperatura
se eleva dentro do governo e fora dele feito fogueira ardente.
Tanto
é que outros ministros se envolveram em escândalos e estão no governo até hoje,
contando inclusive com apoio irrestrito do presidente. O fato é que, segundo Paulo
Marinho, na referida entrevista à Folha, revelou que a saída do governo marcou
muito Bebiano. Diz que ele ficou com muito “desgosto”, e que o ex-ministro morreu
de “tristeza”, e “melancolia”.
O
escolhido inicialmente para ser pré-candidato à prefeito do Rio, pelo PSDB,
seri foi Gustavo Bebiano, mas ele morreu em 14 de março deste ano, vítima de um
enfarto, em seu sítio em Teresópolis, região Serrana do Rio. Ele chegou a ser
levado a um hospital, mas não resistiu. Quem deu o anúncio da morte de Bebiano
foi o próprio Marinho.
Na
ocasião, ele falou: “A cidade do Rio
perdeu um candidato que iria enriquecer o debate eleitoral, e eu perdi um irmão”.
Na entrevista à Folha, ele repete esse laço fraternal que tinha com o
ex-ministro de Bolsonaro: “Para mim, foi
uma tragédia pessoal. Perdi um irmão. Para o partido, foi irreparável”.
Morreu
Bebiano, aos 54 anos, e como ele morreram muitos segredos. Ou talvez não.
Talvez eles estejam por aí, guardados em algum telefone celular, nas mãos de
não se sabe quem.
Em
20 de dezembro de 2019, Gustavo Bebiano, em entrevista ao programa 3 em 1 da
Rádio Jovem Pan, disse não ter medo do presidente e que tinha material que
poderia comprometê-lo: “Se o presidente acha
que eu tenho medo dele, ele está enganado. Eu sou tão ou mais homem que ele.
Tenho um material [sobre Bolsonaro], sim, e fora do Brasil. Tenho muita coisa e
não tenho medo. Uma vez o presidente disse que eu voltaria para minhas origens,
mas minha origem é muito boa”. Na mesma entrevista ele afirmou que se
sentia vulnerável e sob risco constante: “O
presidente é uma pessoa que tem muitos laços com policias bons e ruins do Rio
de Janeiro. Me sinto vulnerável e sob risco constante”.
Em
relação à facada que levou durante a campanha, Bolsonaro afirmava que pessoas
próximas dele tinha participação no atentado. Quanto a isso Bebiano diz coisas
a respeito do comportamento do presidente para essa questão, mas que também ficaram
bem mais evidente nesse momento de combate a pandemia, diz ele: “É uma acusação que não merece muito da minha
atenção, é de um grau de loucura absoluta, uma coisa estapafúrdia. Fico entre o
que o Delegado Waldir falou quando o chamou de ‘vagabundo’ ou é um atestado de
loucura, assim, incomparável. A perplexidade fica em primeiro lugar. Me
preocupa muito o Brasil estar entregue a uma pessoa tão desequilibrada. Tenho
conversado com juristas amigos que compartilham da mesma opinião, vou
processá-lo na esfera civil e criminal, além disso vamos mover um processo de
interdição também. Ele não condições de governar o Brasil”.
Na
entrevista, Marinho afirma que costumava dizer a ele: “O capitão vai se enfraquecer de tal maneira que só vai ter a saída do
golpe para se manter no poder. E ele é louco para fazer o golpe’. Ele tinha
certeza que isso ia acontecer”.
Ainda
em relação a essa questão dos segredos guardados por Bebiano, Marinho diz que
ele tinha um celular com o qual se comunicou durante toda a campanha com o
presidente e que, nele, havia um conteúdo imenso de mensagens que foram
trocadas entre Bebiano e Bolsonaro. Nessas mensagens certamente estariam muitas
coisas relevantes para entender o que acontece hoje nos bastidores de Brasília.
Por segurança, Bebiano deixou esse telefone com uma pessoa nos Estados Unidos.
Ainda
com relação ao comportamento do presidente, Marinho diz ficava só observando.
Ele diz que o então deputado federal, Jair Bolsonaro, era incapaz de um gesto
de agradecimento. Ele não costumava agradecer às pessoas que lhe faziam um
gesto de gentileza, por menor que fosse. Marinho então logo percebeu que não
estava diante de um “mito”.
Se
alguma empregada lhe servia um cafezinho, ou se um assistente lhe entregava
algum papel, ele era incapaz de dizer a palavrinha mágica: “obrigado”. Mágica
essa que revela um bocado da educação de uma pessoa. E Marinho ficava pensando:
“Será que é uma pessoa apenas de maus
hábitos, que não tem educação?” Fala também das piadas homofóbicas que o
candidato contava entre uma atividade e outra e também do desprezo com que
tratava as mulheres.
Mas
a informação mais relevante que Marinho deu na entrevista à Folha é a que,
talvez explique a insistência de Jair Bolsonaro em troca da superintendência da
PF no Rio, e até do ministro da Justiça, Sergio Moro, caso ele não concordasse
com isso. Como sabemos, as duas coisas acabaram acontecendo: o superintendente
da PF no Rio foi trocado, e não apenas ele, mas também o comando geral da PF, e
também o ministro da Justiça.
Para
termos uma ideia, a pressa era tanta que o novo diretor-geral da PF, André
Mendonça, precisou de apenas vinte minutos após assumir o cargo para anunciar a
troca da superintendência da PF no Rio. Acho que nem precisa pegar calculadora
para ver que dois e dois realmente são quatro. Carlos Henrique de Oliveira foi
para chefia executiva da PF, de onde não pode ter acesso às investigações, e,
para o lugar dele foi nomeado o delegado Tácio Muzzi.
Voltando
à entrevista que Paulo Marinho concedeu à Folha neste domingo, 17, ele diz que,
no final de 2018, a Polícia Federal avisou a Flávio Bolsonaro que haveria uma
operação e que Fabrício Queiroz e a filha dele iriam ser alvos de investigação.
O delegado que o alertou falava da operação Furna da Onça, deflagrada pela PF,
na manhã de 11 de novembro de 2018. Esse aviso teria sido dado a Flávio entre o
primeiro e segundo turno das eleições de 2018.
O
objetivo da operação era combater um esquema de corrupção, lavagem de dinheiro,
loteamento de cargos públicos, e mão de obra terceirizada, em órgãos da
administração estadual, inclusive na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. O
operação prendeu sete deputados da Alerj, expediu novos mandatos de prisão para
outros três que já estavam detidos. Flávio Bolsonaro não era um dos alvos daquela
investigação naquela operação mas as investigações chegaram a ele, e a seu
ex-assessor.
O
fato tornado público pelo jornal O Estado de São Paulo e que chegou nos
familiares do presidente foi o de que o um relatório produzido pelo Coaf (Conselho
de Controle de Atividades Financeiras, indicava uma movimentação fora dos
padrões na conta de Fabrício José Carlos de Queiroz, o famoso Fabrício de
Queiroz, ex-policial militar e ex-assessor do então deputado estadual Flávio
Bolsonaro. Em outubro, Fabrício de Queiroz, e a filha dele foram exonerados do
gabinete de Flávio.
Queiroz
havia movimentado uma quantia de R$ 1, 2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro
de 2017. Estava entre essa movimentação um cheque de R$ 24 mil depositados na
conta de Michelle Bolsonaro, que viria a ser a futura primeira dama do país.
Até hoje, a finalidade desse depósito é história mal explicada. Não houve uma
explicação convincente para a transação.
Em
19 de dezembro de 2018, o Ministério Público do Rio apontou Flávio Bolsonaro
como chefe de uma organização criminosa que atuou no gabinete dele durante o
período em que ele foi deputado estadual pelo Rio de Janeiro, entre 2003 e
2018. Baseado em investigação policial o MP apurou que cerca de R$ 2, 3 milhões
tenham sido movimentadas no esquema conhecido como rachadinha, que é quando o
os funcionários de um político tem que devolver para ele metade dos salários que recebem. Flávio
Bolsonaro já tentou por 4 vezes barrar essa investigação.
Paulo
Marinho diz que em 12 de dezembro, poucos dias após o termino do segundo das
eleições, o recém-eleito senador, Flávio Bolsonaro dizendo que o pai, agora
presidente, havia sugerido que ele o procurasse. Naquela ocasião o operação
Furna da Onça já havia sido deflagrada e o nome do ex-assessor dele havia vindo
à tona, bem como as denúncias do esquema de rachadinha na Alerj. A mídia estava
em cima de Flávio, e Fabricio de Queiroz havia simplesmente sumido.
Segundo
Marinho, Flávio queria que ele indicasse um advogado criminalista para ele,
Flávio. Então os dois combinaram de se encontrar na casa de Marinho no dia
seguinte, pela manhã.
No
horário combinado Flávio apareceu trazendo o advogado de confiança que trabalha
em seu gabinete, Victor Alves. Na casa de Marinho estava, além dele próprio,
Christiano Fragoso, advogado criminalista que Marinho pretendia indicar para
Flávio. O filho do presidente começou a contar o caso envolvendo o esquema das
rachadinhas e de Queiroz. “Ele estava
absolutamente transtornado”, diz Marinho.
Flávio
com aquela conversa de quem quer tirar o corpo fora, dizia que havia sido
vítima de uma traição e que Queiroz havia abusado de sua confiança, que estava
“decepcionado” e “preocupado”. Até porque esse episódio poderia prejudicar o
governo do recém-eleito presidente. Chegou até a lacrimejar, segundo Marinho.
Ainda
segundo Marinho, foi então que Flávio resolveu abrir o jogo. E contou a
história.
Haviam
se passado uma semana do termino do primeiro turno da eleição quando o coronel
Miguel Braga, que é atual chefe de gabinete de Flávio Bolsonaro no senado,
recebeu um telefonema de um delegado da PF, dizendo que precisava falar com
Flávio.
O
coronel relutou. Disse que Flávio não costumava atender desconhecidos. O
delegado deve ter insistido mais ainda. Então Braga resolveu levar o caso até
ele. Flávio então teria ficado curioso e pedido para o coronel ir encontrar a
tal pessoa.
O
encontro foi marcado na porta de uma Superintendência, a da Praça Mauá, no Rio
de Janeiro. Teriam ido a esse encontro três pessoas: o coronel Braga, o
advogado Victor, e Val [Meliga], irmã de dois milicianos que depois foram
presos na Operação Quarto Elemento, deflagrada pela PF em gosto de 2019.
Quando
o grupo chegou ao local do encontro, o delegado veio até eles e conversaram ali
mesmo, na calçada. Segundo Marinho, o delegado teria avisado então que iria ser
deflagrada uma operação, a Operação Furna da Onça, e que ela tinha como alvo a
Assembleia Legislativa do Rio. E foi ainda mais longe ao dizer que ela atingiria
também que o assessor do deputado Fabrício Queiroz, e a também a filha dele,
Natália, que trabalhava, na época, no gabinete do então deputado, Jair
Bolsonaro, em Brasília.
O
delegado disse que era eleitor de Bolsonaro, que simpatizava com a campanha
dele, e então foi ainda mais longe do que já houvera ido. Disse que Flávio
tomasse providências, que ele iria segurar a operação para que ela não
atrapalhasse o andamento da campanha de Jair Bolsonaro.
Ainda
segundo Marinho disse à Folha. Flávio então teria procurado o pai e falado da
conversa que o grupo havia tido com o delegado. Bolsonaro então teria pedido
que Flávio exonerasse Queiroz e a filha dele, imediatamente. De fato, no dia 15
de outubro, Queiroz foi exonerado do cargo que ocupava no gabinete de Flávio.
Naquele mesmo dia, a filha de Queiroz também foi exonerada.
Tudo
correu conforme o combinado. Bolsonaro venceu o segundo turno da eleição em 28
de outubro, e, em novembro, foi deflagrada a Operação Furna da Onça.
No
dia 18 de dezembro ocorreu a diplomação de Flávio Bolsonaro, e de Paulo Marinho
como senador e suplente, respectivamente. Após a cerimônia, segundo Marinho,
eles foram à um restaurante. Foi quando o senador disse a Marinho que havia
encontrado outro esquema jurídico, que seria comando por outro advogado.
Dispensando assim, o advogado que Marinho havia lhe indicado.
Ao
ter conhecimento da entrevista, Flávio Bolsonaro reagiu dizendo que ela se
tratava de “invenção de alguém
despreparado e sem votos” e que Marinho tinha virados às costas a quem
havia lhe estendido a mão, e que havia trocado a família Bolsonaro pelos governadores
João Dória (PSDB-SP) e Wilson Witzel (PSC-Rio de Janeiro).
Flávio
diz que Marinho quer prejudica-lo, pois caso aconteça algo e ele seja impedido
de seu mandato no senado, é que Marinho quem lucra com a situação, pois é o seu
suplente na casa. “Ele sabe que jamais
teria condições de ganhar nas urnas e tenta no tapetão. E por que somente agora
inventa isso, às vésperas das eleições municipais em que ele se coloca como
pré-candidato do PSDB à Prefeitura do Rio, e não à época em que ele diz terem
acontecido os fatos, dois anos atrás?”, disse Flávio.
Acho
que todo mundo tem ficado com uma pulga atrás da orelha com essa obsessão de
Jair Bolsonaro em trocar o superintendente da PF no Rio. Intento ao qual
conseguiu recentemente. Talvez essa entrevista que Paulo Marinho deu à Folha de
São Paulo neste domingo venha a ser a chave que abre a porta desse enigma. E a
resposta para muitas perguntas até agora sem respostas.
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