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A voz sábia dos sem voz e sem vez

Posted by Cottidianos on 17:34
Sábado, 30 de abril


Prezados leitores e leitoras, na postagem de hoje apenas compartilho um texto do Dr. Drauzio Varella, publicado na Folha de São Paulo, deste sábado, 30 de abril. O Dr. Drauzio é médico cancerologista, dirigiu o serviço de Imunologia do Hospital do Câncer. Um dos pioneiros no tratamento da AIDS no Brasil e do trabalho em prisões. A cada duas semana, em dias de sábado, ele escreve textos para a Folha.

Resolvi publicar o texto do médico e jornalista, pois, coincidentemente, ele complementa minhas reflexões da última postagem, acerca da reforma que a sociedade brasileira precisa sofrer, e de certo modo já está nesse processo, e, principalmente, a reforma interior que cada um de nós, na condição de brasileiros e participes dessa nação, precisamos, urgentemente fazer.

Pois, nós apontamos o dedo para os políticos e os chamamos de corruptos, mas será que nós, em nosso agir cotidiano, somos honestos? Somos éticos? Apontamos o dedo para a presidente Dilma e dizemos que ela foi omissa quando, de certo modo, protegeu os seus pares envolvidos nos escândalos de desvios de dinheiro da estatal brasileira, mas será que também não somos nós omissos para com os desvios éticos de nossos pares?

No texto, o Dr. Drauzio dá voz a uma mulher, brasileira, nordestina, pobre a julgar pelas evidências as quais vocês terão oportunidade analisar no texto dele, que com sua simplicidade e humildade, falou muito mais aos seus nacionais, do que os próprios políticos estudados — alguns nem tanto — e engravatados, que votaram o impeachment da presidente. A brasileira anonima coloca o dedo na ferida das mazelas da nossa nação. Talvez, por isso, não pelo texto do Dr. Drauzio em si, é que resolvi partilhar o texto com vocês, e provocar também em vocês uma reflexão, assim como eu também fui provocado a fazê-la.

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Dr. Drauzio Varella

O poder do voto

Drauzio Varella

Pela primeira vez em 70 anos senti vergonha de ser brasileiro. Culpa da TV, que me manteve hipnotizado na frente da tela, enquanto transmitia a votação do impeachment na Câmara, duas semanas atrás.

Não posso alegar desconhecimento, ingenuidade ou espanto, vivo no Brasil e acompanho a política desde criança. Todos sabem que é lamentável o nível da maioria de nossos deputados, mas vê-los em conjunto despejando cretinices no microfone foi assistir a um espetáculo deprimente protagonizado por exibicionistas espertalhões, travestidos em patriotas tementes a Deus.

Votavam o impeachment de uma presidente da República como se estivessem num programa de auditório, preocupados somente em impressionar suas paróquias e vender a imagem de mães e pais amantíssimos. Nem sequer lhes passou pela cabeça confortar as famílias brasileiras afetadas pela crise; antes delas as deles, conforme deixou claro a sucessão infindável de nomes de progenitores impolutos, filhos, netos e tias virtuosas.

É o que temos, dirá você, leitor fatalista, antes o país com Câmara e Senado funcionando com essa gente do que fechados por uma ditadura. Lógico, também acho, mas esse argumento não apaga de minha memória o show de horrores a que assisti.

E pensar que aqueles homens brancos enfatuados, com gravatas de mau gosto, os cabelos pintados de acaju e asa de graúna, com a prosperidade a transbordar-lhes por cima do cinto, passaram pelo crivo de 90 milhões de eleitores que os escolheram para representá-los. Para aqueles que não viveram como nós as trevas da ditadura, manter a crença na democracia brasileira chega a ser um ato de fé.

Estava nesse estado de espírito quando recebi um vídeo caseiro, gravado sob um teto de amianto, que aparentava cobrir a sala de uma casa humilde. Na frente da câmera, uma moça de uns quarenta anos, em pé, de camiseta branca; no fundo, atrás dela, uma prateleira alta com frascos de plástico espremidos uns contra os outros e um fio de eletricidade pendente de uma viga do teto.

Com os olhos negros cheios de expressão, o sotaque e a energia da mulher nordestina, ela gravou as seguintes palavras, articuladas com espontaneidade, como se conversasse com o espectador:

“O problema não tá no ladrão corrupto que foi Collor, não, nem na farsa que foi Lula. O problema tá em nós como povo, porque a gente pertence a um país em que a esperteza é a moeda que é sempre valorizada. É um país onde a gente se sente o máximo porque consegue puxar a TV a cabo do vizinho. A gente frauda a declaração do Imposto de Renda para poder pagar menos imposto. Onde há pouco interesse pela ecologia, onde as pessoas atiram lixo na rua e depois reclamam do governo porque não limpa os esgotos. Saqueia as cargas dos veículos acidentados. O camarada bebe e depois vai dirigir. Pega um atestado sem tá doente só pra poder faltar no trabalho. Viaja a serviço de uma empresa, o que é que ele faz? Se o almoço foi dez reais, ele pega a nota fiscal de 20. Entra no ônibus, se senta, se tem uma pessoa idosa, se faz que tá dormindo. E querem que o político seja honesto. O brasileiro tá reclamando de quê? Com a matéria prima desse país? A gente tem muita coisa boa, mas falta muito pra gente ser o homem e a mulher que nosso país precisa. Porque eu fico muito triste, quando uma pessoa... Ainda que Dilma renunciasse, hoje, o próximo seria... a suceder ela, teria que continuar trabalhando com essa mesma matéria-prima defeituosa, que somos nós mesmos, como povo. E não poderá fazer nada, porque, enquanto alguém não sinalizar o caminho destinado a erradicar primeiro os vícios que temos como povo, ninguém servirá, não. Nós é que temos que mudar. O novo governante com os mesmos brasileiros não pode fazer nada não. Antes da gente chegar e culpar alguém, botar a boca no trombone, a gente tem que fazer uma autorreflexão: Fique na frente do espelho, você vai ver quem é o culpado. Eu espero que nessa próxima eleição, dessa vez, o Brasil todo tenha noção do que realmente significa o poder de um voto".


A mensagem não traz o nome nem diz quem é essa brasileira.

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Navegando em direção a águas seguras

Posted by Cottidianos on 23:41
Quinta-feira, 28 de abril

E há muito estou alheio e quem me entende
Recebe o resto exato e tão pequeno
É dor, se há, tentava, já não tento
E ao transformar em dor o que é vaidade
E ao ter amor, se este é só orgulho
Eu faço da mentira, liberdade
E de qualquer quintal, faço cidade
E insisto que é virtude o que é entulho
Baldio é o meu terreno e meu alarde
Eu vejo você se apaixonando outra vez
Eu fico com a saudade e você com outro alguém
(Os barcos – Legião Urbana)


Quando pensamos em reformar uma casa para que possamos viver nela com maior conforto, logo sabemos que a tarefa vai dar trabalho. É preciso mudar coisas de lugar, é necessário derrubar paredes, há o problemas da poeira e dos entulhos, sem contar os gastos e desgastos que isso traz àquele que se propôs reformar.

Acho que é isso que está acontecendo com a sociedade brasileira. Estamos nos reformando. E por isso, talvez, estejamos sentindo tanto desconforto. Há muita poeira no ar, cegando nossos olhos, mas também há muita lama sob os nossos pés, e quem sabe, até uma falta de perspectiva. Reforma, como já disse, é um processo doloroso em uma residência, imagine em uma sociedade.

Os desmandos e atitudes viciosas para os quais estamos abrindo os olhos agora, já existiam em nosso país há muito tempo. Se olharmos para trás, veremos que tudo gira em torno da mesma mor: Polícia Federal investiga, Ministério Público denúncia, manchetes de jornais estampam casos de corrupção abundantes em suas capas. Enquanto tudo isso acontecia é como se estivéssemos apáticos. Como se nos bastasse o pseudo conforto de nossa velha e carcomida casa.

Até chegamos a construir no quintal dela, castelos de areia, belos castelos que embelezavam os jardins de nossa casinha. Olhávamos, admirados para os castelos, e por algumas vezes, até chegamos a pensar que morávamos no castelo. Por fim, descobrimos que não tinham sido colocados alicerces sobre os castelos de nossos jardins, e que o que vivíamos era apenas uma ilusão.

Belo dia, sopraram ventos fortes, e derrubaram de uma vez só, nossos castelos de areia e nossas ilusões. Após esses ventos fortes que vieram acompanhados de impiedosas tempestades foi que descobrimos que nossa casa não era resistente, que os seus pisos de sustentação não eram seguros, e madeira e vigas que sustentavam o telhado estavam apodrecidos.

 E foi aí que, até mesmo com certa revolta e descontentamento percebemos que necessitávamos de uma reforma urgente. Não sabíamos bem por onde começar. Mas a questão se tornava imperiosa. Era preciso reformar. É preciso reformar.

E a indignação, sadia indignação, que invade nosso peito, dá forças para as instituições que lutam por um Brasil mais justo, como a Polícia e o Ministério Público, para que essas instituições atuem com mais vigor no combate à corrupção. É como se fosse a água sendo movida pela força do moinho do senso de justiça.

Finalmente acordamos, e percebemos que os nossos líderes políticos não nos representam, e não adianta eles saírem de debaixo da capa protetora de um partido e irem para debaixo de outro. Não mais os toleramos, nem a eles, nem a suas ideias pífias, nem aos seus partidos sem compromisso com a sociedade. Na verdade nós não os queremos lá. Não o queremos lá vai bem mais lá do que isso pode significar. Na verdade, queremos longe de nossas casas legislativas os corruptos e desonestos, tanto os que estão por lá, quanto os que pretendem ir pra lá.

É bom que a nossa classe política perceba esses sinais. Serão muito tolos se não olharem para o exemplo do que acontece com a Dilma e com o próprio PT. Desde 2013 que o povo vai às ruas gritar, protestar, mostrar sua indignação. O governo e seu partido pareciam não ouvir esse grito que vinha das ruas. Talvez se achassem indestrutíveis, ou melhor, inatingíveis. E deu no que deu.

Estamos navegando em meio a sérias crises, mas é bom que tenhamos a consciência de que a crise tanto pode ser uma escada que nos leva ao sucesso e bem-estar, ou também pode ser uma escada que nos precipite no abismo. Nós brasileiros estamos no meio dessa encruzilhada. Então, porque não escolhermos a primeira opção, e pressionar os nossos políticos a fazerem as reformas que necessitam ser feitas para que o trem realmente ande nos trilhos. E são tantas essas reformas: educacional, partidária, previdenciária, fiscal, financiamento de campanha eleitoral, e tantas outras.

Aproveitemos também para fazer uma reforma pessoal, pois é o homem que faz a sociedade. Sem homens como seria possível haver sociedade? Tratemos de nadar contra a corrente que nos leva para o abismo da corrupção e das facilidades baseadas no ilícito. No início vai parecer estranho nadarmos contra a corrente, mas, passados esses primeiros momentos perceberemos que o mar para o qual nos dirigimos é muito mais seguro e justo. Aí já não quereremos navegando ao nosso lado, os corruptos e corruptores, sejam eles políticos ou não.

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Uma nova sociedade, se faz com novas atitudes

Posted by Cottidianos on 23:27
Segunda-feira, 25 de outubro

Amanhã
Mesmo que uns não queiram
Será de outros que esperam
Ver o dia raiar
Amanhã
Ódios aplacados
Temores abrandados
Será pleno, será pleno
(Amanhã – Guilherme Arantes)


Em 20 de agosto de 2015, o deputado Eduardo Cunha, foi denunciado ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, por um suposto envolvimento parlamentar no esquema de corrupção na Petrobrás, investigado pela Operação Lava Jato. A denúncia, com 85 páginas, pede a condenação do parlamentar pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Janot afirma em sua denúncia que Cunha recebeu, entre junho de 2006 e outubro de 2012, pelo menos 5 milhões de dólares, para viabilizar a contratação de navios sonda da Petrobrás. Na mesma denúncia a Procuradoria informa que foram identificadas 60 operações envolvendo lavagem de dinheiro, dentre as quais, remessa de dinheiro ao exterior, contratos simulados de consultoria, emissão de notas frias e transferências de dinheiro suspeitas.

Em 03 de março deste ano, já em meio aos esquentados debates sobre o impeachment, o Supremo Tribunal Federal, por 10 votos favoráveis e nenhum contrario, aceitou a denuncia de Rodrigo Janot, apresentada no ano passado. Com a decisão, Cunha passou a condição de réu em ação penal no STF, em consequência dos desdobramentos da Operação Lava Jato. Janot pediu o afastamento de Eduardo Cunha da presidência da Câmara, mas o STF não tem data definida para julgar o pedido. Extremamente apegado ao cargo, Cunha anunciou a jornalistas que mesmo se tornando réu não se afastaria da presidência da casa. O peemedebista alega que as acusações contra ele não significam condenação.

Um dia antes dessa decisão do Supremo, a Câmara dos Deputados havia aprovado na madrugada de quarta-feira (02) de março deste ano, a admissibilidade da representação que pede a cassação de Eduardo Cunha. No Conselho de Ética da Câmara, Cunha é acusado de quebra de decoro parlamentar por ter mentido aos seus pares, durante a CPI da Petrobrás, ao dizer que não tinha contas no exterior. A admissibilidade da representação é apenas um passo. Agora Cunha terá que apresentar defesa e arrolar testemunhas. Da decisão, porém ainda cabem os tais recursos que podem atravancar ainda mais o processo.

Na orquestra dos horrores que foi a votação do prosseguimento do impeachment de Dilma Rousseff, Cunha atuou como maestro. Tarefa na qual foi muito bem sucedido. O processo que tramitou Câmara e que jogou nas mãos do Senado a responsabilidade sobre o futuro de Dilma Rousseff e os destinos da nação andou rápido como uma lebre, enquanto que o processo de cassação arrasta-se tal qual a uma tartaruga, daquelas mais lentas possíveis.

Como disse em outra postagem a respeito desse assunto, a oposição, e os aliados fieis de Cunha, principalmente os deputados da bancada evangélica, venderam a alma ao diabo. O acordo era o seguinte: o diabo (Cunha) daria um jeito de o processo de impeachment seria votado na Câmara em tempo record, e como recompensa ele ganharia salvo conduto pelos crimes cometidos. O capeta cumpriu sua parte... E agora cobra seu preço, ou pelo menos, se não cobra, os aliados, se sentem na obrigação de recompensá-lo por tamanha eficiência. E já começam a dar sinais disso.

Na terça-feira (19), o 1o vice-presidente da Câmara, Waldir Maranhão (PP-MA), anunciou que as investigações do Conselho de Ética em relação ao deputado Eduardo Cunha sofrerão limitações. O Conselho de Ética vem se reunindo regularmente para elaborar o parecer favorável a cassação de Cunha. Waldir Maranhão, a decisão lida em plenário, anunciou que não podem ser anexados ao processo, documentos e provas que não se relacionem com ao fato de Cunha ter mentido à CPI da Petrobrás, em março de 2015, ao dizer que não tinha contas no exterior. Waldir afirmou ainda que, caso sejam o parecer a ser elaborado pelo relator, contenha provas que fujam da base da acusação, o processo se tornará nulo.

Dessa forma, acusações gravíssimas contra o presidente da casa feitas pelo Ministério Público, e relacionadas a Lava Jato, ficariam de fora. Com isso, até mesmo acusações apresentadas por Rodrigo Janot ao STF, também ficariam de fora.

E as manobras dos “nobres” deputados para blindar Cunha não param por aí. Ao contrário, desde o final do ano passado, elas têm tornado-se intensas.  No final de 2015, já bem próximo ao recesso parlamentar, o deputado Marcos Rogério, do PDT de Roraima, apresentou um parecer favorável à admissibilidade da cassação de Cunha. Em fevereiro deste ano, Waldir Maranhão tratou de anular o parecer de Marcos Rogério, fazendo com isso que o processo de cassação que já é lento, voltasse à etapa zero. Com a decisão tomada pelo 1o vice-presidente da casa, tudo leva a crer que os deputados querem recompensar Cunha com a absolvição pela sua atuação no processo de impeachment de Dilma.

Outra solução possível em direção a esse plano vergonhoso dos aliados de Cunha é tentar desqualificar a acusação no Conselho de Ética de que Cunha mentiu quando disse que não era dono de contas não declaradas no exterior. As estratégias desses aliados de Cunha e inimigos do Brasil é admitir que Cunha é proprietário de contas no exterior, mas que esse dinheiro é advindo de negociações relacionadas a exportações de carne feitas pelo deputado. O detalhe perturbador, é que o Ministério Público brasileiro e autoridades suíças dizem ter provas contundentes de que o parlamentar realmente tem contas no exterior.

As autoridades suíças, que nada tem a ver com o peixe, mesmo assim, estão preocupados com ele. Essas autoridades dizem que Eduardo Cunha e família, são donas de duas contas no país, e que essas contas movimentaram cerca de R$ 23 milhões.

E porque os deputados, aliados de Cunha, se esforçam tanto para que ele não seja julgado pelo Conselho de Ética? Simplesmente, porque se ele for julgado por aquele órgão, perderá o foro privilegiado e passara a ser julgado pela justiça comum.

Qual o risco de uma absolvição de Cunha pela Câmara dos deputados? Isso deixaria para o país uma imagem altamente negativa, pois que autoridade teria o congresso ao destitui uma presidente por crimes de responsabilidade fiscal e premia um corrupto que comandou o processo de impeachment dela? Isso também nos deixaria perante a comunidade internacional, a imagem de que somos um país, onde a justiça que se faz, não é justiça de fato.

Outra consequência possível de todo esse circo dos horrores, e pesadelo do Ministério Público Federal, é a de que, com tantos políticos envolvidos em algum tipo de corrupção, esses políticos façam de tudo para desintegrar a Operação Lava Jato, ou pelo menos reduzir o campo de atuação da PF e do MP. Ora se todos os grandes partidos foram apanhados nas redes de corrupção como nos têm feito ver a Operação Lava Jato, é bem provável que eles queiram ver a Lava Jato morta enterrada. A Dilma e o Lula já estavam trabalhando para isso, como nos mostraram as gravações telefônicas divulgadas pela Lava Jato. 

Essa preocupação dos investigadores faz sentido, pois com o impeachment de Dilma, o Brasil ficaria completamente no comando do PMDB. No Palácio do Planalto estaria Michel Temer, na presidência da Câmara, Eduardo Cunha, e na presidência do Senado, Renan Calheiros, os três tiveram seus nomes citados por delatores da Lava Jato. Renan é investigado na Lava Jato e Cunha, além de investigado na mesma operação, é réu em processo que corre no STF. A situação de Temer também é frágil, pois com novas delações o nome dele pode ser ligado de maneira mais contundente aos escândalos na Petrobrás.

Então é compreensível a preocupação do Ministério Público e da Polícia Federal, pois pode ser que haja um acordo tácito para abafar a operação, e, uma vez que, metade dos deputados sofrem acusação de algum tipo de falcatrua, eles podem atuar como escudos defensores de Cunha, blindando-o e livrando de pagar, perante a lei, pelos crimes que praticou.

Já nos tiraram tantas coisas boas, não vamos deixar que nos tirem também a autonomia da Polícia Federal, do Ministério Público Federal, que tem nos feito perceber quão horríveis são os políticos que se escondem por trás dos belos rostos maquiados e pelos discursos ornados dos teleprompeters.

Há algo de muito errado no Executivo e no Legislativo brasileiros, mas de modo mais abrangente, há algo de errado com a sociedade brasileira, pois se há tanta mediocridade no Palácio do Planalto e no Congresso, os políticos que lá estão não entraram naqueles recintos por um passe de mágico, muito pelo contrário, eles receberam milhares ou milhões de votos. Você pode dizer: “Ah, mas eu não votei nesses bandidos”. Correto, eu não votei, você não votou, mas muita gente votou.

Acho que o momento político no qual vivemos merece uma profunda reflexão, não apenas sobre a nossa ação política, mas também, e principalmente, uma reflexão interior sobre o nosso agir ético. Não podemos, em nossas consciências, legalizar o roubo e a corrupção. Não. Políticos não tem que roubar, como é costume se dizer “todo político rouba” “cada qual que entrar lá vai fazer a mesma coisa”. Essa nossa atitude mental é uma atitude conformista e derrotista, e faz parte de um campo semântico de uma sociedade que já se acostumou à falta de ética e de caráter. Políticos tem que servir à nação, e não aos seus próprios interesses. Eles tem que fazer a nação produzir valores econômicos e morais, além de ter atitudes realizadoras eficientes nos campos social e econômico. Os plenários de nossas casas legislativas não podem ser apenas balcão de negócios onde se comercializam apoios, e se oferecem cargos em troca de favores. Não, os balcões de nossas casas legislativas precisam ser espaços onde se discutam os problemas da nação e sua efetiva solução.

Nós precisamos pensar diferente hoje, se quisermos uma sociedade mais justa amanhã.

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Mar em fúria em São Conrado, Rio de Janeiro

Posted by Cottidianos on 23:26
Há quatro meses do Jogos Olímpicos, trecho de ciclovia desaba no Rio e mata duas pessoas. 

Quinta-feira, 21 de abril


Sábado, 23 de abril, é de homenagear um dos santos mais populares entre os católicos, e um dos orixás mais queridos pelos umbandistas. Salve São Jorge! Saravá Ogum!

Após essa merecida lembrança, continuo o texto, dizendo-vos que não há como ficar impressionado com tantas coisas negativas que tem acontecido no Brasil nos últimos tempos. Não há como pensar que Deus está furioso para conosco. Estará ele furioso, com tanta injustiça, ladroagem e corrupção que impera em nosso país, principalmente, no setor público, que era aquele que deveria estar mais próximo à população, pois foi para isso que foram eleitos nossos políticos? Ou Deus não tem nada a ver com isso, e estamos sendo vítimas da ambição desenfreada e da mediocridade que campeiam em nosso país?  Confesso que estas são questões muito subjetivas e não há uma resposta pronta para elas. O que não significa que não possamos divagar sobre elas.

O acaso parece estar rindo de nosso país.

No dossiê de candidatura do Rio, apresentado em 2009, foram apresentados 17 projetos, para melhoria da cidade em vista dos Jogos Olímpicos, sendo que essas mesmas obras, ficariam como legado para a cidade. Se as coisas fossem realmente levadas a sério em nosso país, estes 17 projetos estariam de bom tamanho. Mesmo assim, com o tal “jeitinho brasileiro” duvido que essas obras fossem realizadas a contento. Porém, não contentes com o número de 17 obras, aumentou-se o número de obras para 27. Se, com 17 projetos, as coisas podem não sair a contento, imaginem com 27. Não é difícil acontecer no Rio o que aconteceu no país antes, durante, e pós Copa. Prometeram um grande legado que ficou apenas na imaginação de nossos governantes, e no desejo de angariar votos, uma vez que muitos projetos prometidos para a Copa, ou foram mal realizados, ou ainda estão em andamento, sem previsão de conclusão.

Um desses projetos que o Rio se comprometeu a fazer foi a ampliação do Elevado do Joá. O projeto serve para melhorar o acesso entre a Zona Sul e a Barra da Tijuca. O projeto consta de duas novas pistas e dois novos túneis construídos paralelos aos atuais, com 5 km de extensão. Como parte do projeto também foi construída uma ciclovia com vista para a belíssima praia de São Conrado. O projeto custou aos cofres públicos a quantia de R$ 457,95 milhões.

Pois bem, no dia em que a tocha olímpica foi acesa na Grécia, em cerimônia realizada no Templo de Hera, em Olímpia, na manhã desta quinta-feira (21), na manhã desta mesma quinta-feira — feriado no Brasil, dia de Tiradentes, mártir da inconfidência mineira — pelo menos para duas famílias outra chama se apagou no Rio: a chama da vida.   
Um trecho de 50 metros, dessa ciclovia que deveria ser um legado para a cidade, e que liga as praias de Leblon e São Conrado, não resistiu às ondas gigantes que se lançaram contra ela, e desabou. Dois ciclistas que passavam pelo local foram vitimados pela tragédia, e uma terceira pessoa está desaparecida. A ciclovia havia sido inaugurada em janeiro deste ano. Ainda é cedo para tirar conclusões, mas tudo leva a crer que a causa da tragédia foi o mau planejamento na obra. Não se pode colocar culpa nas ondas, pois eles sempre estiveram lá, e quem desenvolveu o projeto sabia disso.

O prefeito do Rio, Eduardo Paes, que chegava a Grécia, justamente para participar da cerimônia que sinalizaria para o mundo que os Jogos Olímpicos no Rio agora são uma realidade de fato, teve que voltar imediatamente. A tragédia no Rio, além de vitimar pelo menos dois ciclistas, de manchar a imagem do Rio perante a comunidade internacional em termos de segurança das obras realizadas, ainda joga um balde de água fria nas intenções do prefeito, que ainda neste mês de abril, pretende, ou pretendia inaugurar um novo trecho ligando São Conrado à Barra da Tijuca.

O Brasil vive mesmo seu inferno astral. Uma crise econômica que já passou de grave, e se tornou gravíssima, deixando, não dez, nem dez mil, mas dez milhões de desempregados; uma rapinagem nos cofres da Petrobrás, para alimentar campanhas eleitorais, e enriquecer ilicitamente, muitos bandidos de gravata; uma crise política que tem desafiado as instituições; uma votação grotesca, na Câmara dos Deputados, de um estranho processo de impeachment, onde os acusadores da presidente são tão ou mais corruptos quanto as acusações que fazem ao governo; uma presidente que, ridiculamente, afirma que está sendo vítima de um golpe.

Por falar nisso, Dilma Rousseff, vai participar de uma reunião nas Organizações das Nações Unidas (ONU), e dirá que está sendo vítima de um golpe parlamentar. Na verdade, não se o que se passa pela cabeça da presidente, e de seus auxiliares em sua defesa nesse processo de impeachment. Acho essa coisa de afirmar que está sendo vítima de um golpe uma tremenda burrice. E, se é estratégia, é uma desastrada estratégia. Primeiro porque ela joga contra si, de uma vez só, a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Supremo Tribunal Federal, e a imensa maioria da população brasileira favorável ao impeachment. Talvez esteja, justamente, nessa capacidade de jogar todos contra ela, a raiz de nossa crise política, econômica, e do próprio processo de impeachment.

Dilma sempre foi arrogante, desde a sua primeira gestão. Aquele tipo de pessoa que olha para os congressistas e diz: “Sou todo-poderosa, não preciso de vocês para governar”. Tenho lembranças de ter visto o Fernando Henrique, quando presidente da nação, dialogar com o congresso, até o próprio Lula, fazia isso. Na gestão Dilma, não me lembro de tê-la visto discutir com os deputados e senadores os problemas da nação.

Agora lá se vai ela dizer perante a comunidade internacional, com já tem dito, que está sendo vítima de golpe. Estranho golpe, pois quando a presidente deixou o território nacional em direção aos Estados Unidos, que ficou no lugar dela? Michel Temer, o vice-presidente. Quem entregará a cadeira presidencial quando ela retornar? Michel Temer. Então, eu pergunto a vocês: Com tudo funcionando dentro da mais absoluta legalidade, onde está o golpe?


Diante de tantos sobressaltos que assaltam a nossa nação, eu peço ao poderoso Ogum que, montado em seu fiel cavalo, Ginete, e brandido a sua poderosa espada, domine os inimigos que levam à ruína o nosso Brasil. Bem como peço a todos os Orixás, que lancem suas bênçãos e proteções sobre este chão verde, amarelo, azul e branco, e afastem de nós esses males, e tormentas pelos quais atravessamos. 

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O outono do Brasil

Posted by Cottidianos on 00:15
Terça-feira, 19 de abril

Nas ruas de outono
Os meus passos vão ficar
E todo abandono que eu sentia vai passar
As folhas pelo chão
Que um dia o vento vai levar
Meus olhos só verão que tudo poderá mudar
(Ruas de Outono – Ana Carolina)


Dizem que é por volta da meia que eles, os fantasmas saem das sombras e passam a assustar os medrosos. É também nesse horário que os mortos se levantam das tumbas e vivem a ilusão de que podem ser vivos de novo. Meia-noite também é hora dos vampiros saírem por aí em busca de sangue, alimento preferido deles.

Dá até arrepios pensar nessas coisas, mas foi por volta da meia-noite de domingo (17), que terminou a votação do impeachment da presidente Dilma. Foi uma longa e tensa sessão. Durou ao todo 9 horas. Ao final, foram contabilizados, 367 votos a favor, 137 contra, 7 abstenções, e 2 ausências por motivo de saúde. Às vinte e três horas e sete minutos, acerca de uns quarenta minutos do fim da votação, com o voto do deputado Bruno Araújo, do PSDB de Pernambuco, foram completados os 342 votos necessários ao prosseguimento do processo de impeachment no Senado. Quando faltavam seis votos para completar essa soma, os deputados oposicionistas começaram a fazer contagem regressiva. Quando o deputado Bruno Fernandes deu seu voto, foi como se o Brasil tivesse feito um gol em final de Copa do Mundo. Fogos estouraram Brasil afora, gritos de alívio foram ouvidos, carros buzinaram alto, panelas batucaram tal qual instrumentos barulhentos nas janelas dos edifícios.

Alias, acho que foi a primeira vez que vi os brasileiros se entregarem a política, com a mesma paixão com que se entregam ao futebol. Nas eleições tem disputa, mas dessa vez foi diferente. Acho que nem no impeachment de Collor foi assim. Naquela época o país não estava dividido. Ao contrário, havia um consenso em toda a sociedade. Não havia, na ocasião, pessoas contra e a favor da saída do caçador de marajás. Todos estavam convictos de que ele deveria deixar o poder. Por isso, não houve discursos inflamados e demagogos.

Dessa vez não. As pessoas vestiram a camisa do Brasil como se estivessem indo para um jogo. E era um jogo. Um jogo que definiria o futuro, e não apenas uma partida. Havia certo receio que as coisas desandassem e acabassem em violência. Tanto é que as autoridades policiais se preocuparam em colocar os manifestantes prós e contra o impeachment de Dilma em lados opostos da cidade. Em Brasília foi até construído um muro separando as duas “torcidas”. Mas graças a Deus, não houve nenhum incidente grave, pelo que se tenha noticia.

Em meio a tudo isso, creio, a democracia brasileira sai amadurecida. Não foi preciso pegar as armas e destituir a presidente, não foi necessário jogar bombas no Palácio do Planalto, não foi necessário que nenhum adversário tombasse no campo de guerra. Todo o processo seguiu os trâmites legais. Câmara dos Deputados e Supremo Tribunal Federal conversaram em paz, um ratificando as decisões do outro, sem maiores problemas. Na hora da votação ninguém foi coagido a votar, nem haviam armas ameaçadoras apontadas para suas cabeças caso votassem sim ou não. Não consigo enxergar, como queria a oposição, sinais de golpe.

Acompanhei a votação de todos os deputados votantes. Aí sim, o espetáculo foi patético, para não dizer vergonhoso. Não precisávamos  assistir aquilo. Das palavras dos deputados saiam palavras vãs, discursos sem sentido. Uns pareciam crianças no Xou da Xuxa, os crescidos que foram baixinhos entre meados da década de 80, e início da década de 90, devem se lembrar bem como era. Quando a loura conversava com um baixinho ao microfone e perguntava para quem ele queria mandar um beijo, eles, invariavelmente, diziam: “Pra minha mãe, pro meu pai, e pra você”. A votação de domingo me trouxe saudades do Xou da Xuxa. Chegava um deputado e, antes do voto, dizia: “Pela minha mãe, pelo pai, pela minha filha, pelo meu filho, e etc”. Só faltou dizerem “pela Xuxa”.

Também nunca vi o nome de Deus ser usado em vão por tantas vezes seguidas. A começar do voto do presidente da Câmara, Eduardo Cunha. Cunha foi breve ao votar. Disse ele simplesmente: “Que Deus tenha misericórdia dessa nação. Voto sim”. Achei isso de uma hipocrisia tão grande quanto a bondade e a misericórdia de Deus. Como um homem debochado, corrupto, ousa invocar o nome de Deus para justificar o seu voto. Se há evangélicos que acreditam nas palavras de Cunha, então sou que imploro: “Que Deus tenha misericórdia desses evangélicos”.

E não foi apenas Cunha, outros deputados da bancada evangélica, inciavam seus votos em nome de Deus. Discursos vãos, palavras vãs, pois como se pode invocar o nome de Deus, que é o Sumo Bem, e pactuar com práticas antievangélicas e corruptas? Talvez seja mais fácil atacar os novos modelos familiares que tendem a ocupar seu espaço no mundo moderno. Assim, os nobres políticos aparecem perante aos olhos dos homens como defensores da moral e dos bons costumes... E isso dá voto. Muitos votos.

Até discursos a favor da ditadura tivemos que ouvir naquele espaço democrático, como por exemplo, o deputado Jair Bolsonaro, que dedicou seu voto ao coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra. O coronel foi chefe do Destacamento de Operações de Informação-Centro de Operações de Defesa Interna (DOI – Codi), e torturou centenas de pessoas durante o regime militar. O exemplo foi seguido pelo filho de Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, que também dedicou seu voto aos militares.

Foi também patético o discurso dos petistas e dos aliados do governo. Exaltados, eles defendiam que estavam participando de uma farsa, de um golpe, e coisas desse tipo que foram ditas durante a campanha do impeachment. O que eles defendiam? A legalização da corrupção? Os seus próprios interesses? Acredito que um pouco disso tudo, menos o interesse do país.

O deputado Glauber Braga (Psol – RJ) também fez referência a figuras históricas como Marighela e Zumbi dos Palmares para justificar seu voto contra o impeachment. Acho que os nobres heróis devem ter se revirado no túmulo ao verem seus nomes sendo invocados para defender a corrupção.

Pelo menos Paulo Maluf, corrupto de carteirinha, foi breve em seu voto, não fez discurso, e nos poupou de mais hipocrisia.

Durante toda a votação, foram constantes os ataques a Eduardo Cunha. Muitos deputados oposicionistas ou não, chamaram Cunha de corrupto e disseram que não sentiam legitimidade em um processo de impeachment guiado por ele, no que estou de pleno acordo.

Poucos deputados fizeram discursos ponderados lembrando-se dos seus eleitores, ou dos motivos pelos quais estavam votando. Dos 367 votos favoráveis ao impeachment, pelo menos uns dezesseis deputados, creio que não mais que isso, fizeram referência ao crime de responsabilidade fiscal, que foi o verdadeiro motivo do impeachment.

Eu fixo os olhos no horizonte cinzento e não vejo na batalha desse impeachment vencidos, nem vencedores. O povo comemora, é verdade. Está cansado de ver triunfar a corrupção refinada que o PT conseguiu instalar na máquina pública. O PT funciona como imã do mal. Tudo que é mal e ruim ele atrai. Seus tesoureiros estiveram ou estão presos, os marqueteiros que fizeram suas campanhas estão presos, grandes figuras de seus quadros estão presos, o ex-presidente Lula está envolvido até o pescoço em escândalos de corrupção, e quem sabe, até a atual presidente também esteja envolvida nesses esquemas, se não de forma direta, pelo menos indiretamente.

Fixo o olhar no horizonte e vejo um país em seu outono. O vento soprando melancólico, deixando as árvores desnudas de folhas. Estação de transição entre o verão e o inverno, o outono chega a ser triste, mas traz em si a esperança de que as mesmas árvores que perdem suas folhas, renasçam em outra estação vicejantes e cheias de frutos.
Que assim seja o nosso país, que enfrenta o ocaso de sua política e de suas esperanças, para renascer viçoso e pujante, cheios de frutos que matem nossa fome de paz e de um futuro melhor.

E que, florescendo, em pleno sol de verão, nossa árvore Brasil, com suas perfumadas flores, e seus deliciosos frutos, afaste de nós os fantasmas da mediocridade, da ignorância, e da corrupção.

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Não foi golpe. A democracia venceu.

Posted by Cottidianos on 23:28
Domingo, 17 de abril de 2016


São onze horas e sete minutos da noite deste histórico domingo, dia 17 de abril de 2016.

Ouço o estourar dos fogos lá fora. Engraçado que até agora a cidade de Campinas parecia dormir. Que nada! Estavam todos atentos a votação que, no momento em que escrevo estas linhas, ainda ocorre na Câmara dos Deputados, em Brasília. Mas, o grito entalado na garganta, quando a oposição, após exaustivas cinco horas de votação, transmitidas em rede nacional de televisão, conseguiu os 342 votos necessários ao prosseguimento do processo de impeachment, dessa vez no Senado.

É como se um inquérito tivesse sido concluído, e agora tivesse que ser enviado ao grande julgador.

Não apenas Campinas comemora. O Brasil todo está em festa. Seria um pesadelo para todos nos que queremos um Brasil livre da corrupção, se o processo de impeachment tivesse sido enterrado na Câmara.

Não foi golpe. A democracia venceu.

Uns alívios para todos nós brasileiros que não aguentávamos mais tantos desmandos e deboches.


Uma batalha foi vencida. Há ainda uma batalha a ser travada no Senado, porém, ainda há muitas guerras a vencer até que o grandioso nome Brasil, seja honrado como se deve.

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Reflexões de um brasileiro

Posted by Cottidianos on 23:39
Sábado, 16 de abril



Os olhos, as lentes, e os pensamentos do Brasil e do mundo estarão voltados neste domingo em uma só direção: Brasília, centro do poder público brasileiro.

A Capital Federal estará dividida por um muro que separara os manifestantes pró e contra o impeachment.

Dividido também estará todo o país. Com a imensa maioria de sua população querendo o impeachment da presidente. Na verdade, a presidente Dilma é apenas o alvo, pois o que o povo brasileiro quer mesmo, é o impeachment do PT. Partido que se anunciou há treze anos como salvador da pátria, mas que se tornou, ele próprio, pior do que aqueles aos quais criticava, subverteu os ideais nos qual acreditava, aliou-se aos poderosos, e virou às costas à nação. Criou programas sociais, e verdade, mas deu o peixe, em vez de ensinar o povo a pescar. E enquanto o povo comia o peixe, barato peixe, eles comiam caviar no palácio e bebiam vinho francês servido em taças do mais puro cristal. Seus brindes tilintavam pelos salões da corte, em festas milionárias, comemorando acordos espúrios com empreiteiros, acordos esses que vinham recheados de ricas propinas para os seus bolsos, e para os cofres de seus partidos, que por sua vez, se encarregavam de abastecer campanhas eleitorais.

Nesta semana, estava em uma gráfica e papelaria da cidade, esperando pela impressão de um trabalho, quando vi uma senhora que iria imprimir uma camiseta com os dizeres: “Lula mexeu comigo, mexeu com o Brasil”. Tive pena daquela mulher pela ignorância que não a deixa ver a realidade tal qual ela se apresenta, e nem as pessoas tal qual elas são. Tive raiva da ignorância. E tive pena do ex-presidente Lula, que poderia ter construído uma biografia invejável e, contudo, tem sido biografado pelo seu pior ângulo, jogando fora toda uma história que poderia ser a história de um verdadeiro líder, que guiaria o Brasil e o povo brasileiro as altas montanhas do progresso.

Também lamento pela presidente, que está mais para teatro de marionetes que para presidência da República. Em vez de usar a maquiagem para torná-la um pouco mais bela, a presidente usou a maquiagem para mascarar a realidade brasileira que surgia por entre números e dados estáticos, e apresentou aos eleitores um Brasil belo e pujante em sua economia. Mostrou aos brasileiros um Brasil surreal onde não haveria aumento de combustíveis, aumento das tarifas de energia elétrica, nem desemprego. Enfim, aos brasileiros desatentos e cegos pela ignorância, que a elegeram, a presidente mostrou um Brasil de capa de revista, como diz o ditado “coisa para inglês ver”. Mentiu, enganou, e conseguiu se reeleger. Mas como diz outro ditado popular: “mentira tem pernas curtas”. Logo aos primeiros dias do segundo mandato do governo Dilma Rousseff, as promessas se desfizeram como se desfazem os castelos de areia na beira do mar. Tal quais estes, as promessas do governo não tinha alicerces sólidos e firmes que os sustentassem.

Sua popularidade despencou. O povo foi às ruas e pediu seu impeachment. Não apenas uma, mas várias vezes. Prepotente, se achando inabalável e inatingível, o governo fez pouco caso do grito das ruas, bem como fez pouco caso dos políticos que a procuravam para conversar, tentando discutir com ela soluções para sair da crise e do impasse.  Dilma se fez de muda e surda. O resultado é que, às 14 horas da tarde deste domingo (17), começa na Câmara dos Deputados, em Brasília, a sessão que decidirá se encaminha ou não o processo de impeachment ao senado.

É esquisito, pois apesar de estar entre aqueles que querem o impeachment da presidente, e que não veem tal ato democrático como golpe, não me sinto feliz por isso, nem satisfeito, ou com qualquer sentimento desse tipo. Não vejo líderes no horizonte capazes de reconduzir o Brasil ao caminho do progresso, e considero essa coisa de não ter líderes sérios e comprometidos com os verdadeiros princípios democráticos para os quais foram eleitos, uma pobreza sem tamanho. Pobre não é o pai ao qual lhe faltam condições de desenvolvimento, pobre é o país ao qual faltam líderes capazes de conduzir o povo e nação aos caminhos da educação, da prosperidade, da modernidade e do desenvolvimento.

A oposição? Que oposição não temos? Tenho até vergonha dos oposicionistas que temos. Pergunto aos senhores, que oposição houve ao governo Lula? Da própria presidente Dilma, que oposição houve, a não ser durante a campanha eleitoral, e nessa reta final do impeachment? E por que a oposição não se fez mais presente? Porque não cumpriu o seu verdadeiro papel? Ora, se estavam todos, governo, aliados e oposição, se banhando nos rios de dinheiro que jorrava da Petrobrás e de outros órgãos públicos, como haviam eles de reclamar de alguma coisa?

A começar do maestro do impeachment, Eduardo Cunha, “nobre” presidente da Câmara, réu na Operação Lava Jato, com contas milionárias na Suíça não declaradas ao fisco do Brasil, é esse vil maestro, cuja música não é das mais agradáveis, que está dando celeridade ao processo de impeachment. Se o Lula ainda não havia encontrado um adversário com as mesmas qualidades morais que ele, esse adversário surgiu na pessoa de Cunha. De uma coisa não podemos duvidar: Cunha é, de fato, um político hábil e ardiloso.

Meu lamento aqui também vai para essa oposição que se tornou refém de um bandido, para conseguir atingir o seu objetivo de tirar de Dilma a cadeira presidencial. Com uma Câmara dos Deputados com mais da metade deles envolvidos em alguma espécie de falcatrua ou corrupção, a oposição fez uma espécie de pacto com o diabo para queimar Dilma na fogueira das vaidades. Depois? Depois vêem o que se faz com Eduardo Cunha, que por sua vez, enfrenta um processo de cassação.

Trazendo à tona o impeachment de Collor, os políticos que participaram dele podiam se orgulhar de sair na foto dos que fizeram aquele momento histórico. Se o impeachment passar amanhã pela Câmara não vejo motivo de orgulho algum em que algum deles saia na foto. Acresça se a isso, o fato de que não poderão evitar que Cunha saia na foto também, pois como poderão eles expulsar da foto aquele que comandou o espetáculo?


O clima de alta tensão e intensa disputa. Quem vencerá essa guerra? Esperemos o amanhecer e entardecer deste domingo, e aguardemos que a noite nos traga o resultado desse combate. 

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