0

O que é viver bem?

Posted by Cottidianos on 04:03

Sexta-feira, 31 de dezembro

O que vale na vida não é o ponto de partida e sim a caminhada

Cora Coralina



Caros leitores e leitoras,

É sempre com alegria que me dirijo a vocês, mesmo quando falo de assuntos espinhentos, seja no campo da política ou qualquer outro tema em que esteja evidente o egoísmo que corrói o coração do homem.

Estou em viagem de férias aqui no Rio Grande do Norte em visita aos amigos e familiares, motivo pelo qual as postagens esse mês foram poucas. Entretanto, não poderia deixar de tirar um tempo, mesmo que seja no silêncio da madrugada, banhada pela chuva que há pouco caiu por aqui, amenizando o calor intenso que tem feito nessa terra que é meu berço, meu chão, minha raiz.

A partir do dia 10 de janeiro já estarei de volta à cidade de Campinas, São Paulo, e as postagens retornarão à sua regularidade costumeira.

Sentando aqui, em frente à tela do notebook, em meio a esse turbilhão de pensamentos que me dominam, dentre os quais alguns se transformam em palavras, me vem à mente que estamos há exatos dois anos do surgimento de um vírus que abalou o mundo, transformou relações de trabalho, destruiu economias, e ceifou vidas.

Foram dois anos de muitas provações para povos de todos os lugares do mundo, de todas as raças e culturas. Em todos os recantos do planeta, onde havia ser humano, os sentimentos foram os mesmos. Todos tentaram e tentam se proteger, de alguma forma, do novo coranavírus.

Enfim, chegaram as vacinas, e eu pensei, e tenho certeza de que vocês também imaginaram, que chegaríamos ao fim deste ano um pouco mais tranquilos em relação a esses dois anos de medos, receios, e provações pelos quais passamos.

Entretanto, vemos que as coisas não aconteceram como esperávamos. Vieram novas variantes do coronavírus que nos colocaram, novamente, em atitude vigilante. Mais recentemente, vimos surgir a ômicron que colocou novamente o planeta em alerta.

Aqui na cidade de Natal, capital do Rio Grande do Norte, e de onde escrevo estas linhas no momento presente, os relatos que ouço por aqui é de que as unidades públicas de saúde, estão lotadas devido a um surto de gripe.

Eu mesmo fico me perguntado, se é gripe mesmo, ou se tudo isso tem alguma coisa a ver como a nova variante do coronavírus. Não só em Natal a situação está dessa forma, mas também outras cidades do país enfrentam situação semelhante.

Farmácias brasileiras dizem haver um tsunami de casos de Covid. Em outras partes do mundo isso já é uma realidade. Para piorar as coisas ainda temos a tragédia que se abate sobre a Bahia em forma de chuvas torrenciais que deixam mortos e milhares de desabrigados. E, também nesse caso, vemos, novamente, o presidente da nossa nação zombando do sofrimento humano, fazendo pouco caso da vida dos próprios concidadãos. Rejeitando valiosa ajuda que é oferecida pela Argentina, e deixando de visitar a Bahia, apenas por motivos eleitoreiros.

Parece que não houve um aprendizado. E quem passa pelas provações da vida e delas não tira lição alguma, e ainda por cima, volta a percorrer o mesmo caminho errado que havia percorrido antes merece mesmo o nome de tolo, imbecil. Nem digo, burro, para não ofender os animais.

Apesar do entrarmos em 2022 em meio a essas incertezas em relação a saúde, economia, educação, cultura, e outras áreas, esse texto não se pretende ser um estímulo ao pessimismo. Não. De forma alguma.

Jamais devemos deixar nos abater por qualquer circunstância negativa em que a vida nos coloca, pois assim como o amor encobre uma multidão de pecados, conforme dito na Primeira Carta de Pedro, da Bíblia Sagrada, também uma atitude de fortaleza, fé, e otimismo, afasta uma multidão de negatividade.

Sejamos fortes. Sejamos firmes. Sem desanimar jamais. Dessa forma, mesmo que o barco chegue a naufragar, ainda assim, nos agarremos nas tábuas da fé, e não seremos engolidos pelas águas profundas do mar bravio.

Apenas não esqueçamos de continuar nos cuidando, e quando tudo isto passar, poderemos comemorar a vida, a fé, o amor, com a mesma intensidade de antes da pandemia.

Para terminar, e como votos de um Feliz Ano Novo, deixo para vossa reflexão o texto da poetisa, Cora Coralina (20 de agosto de 1889 – 10 de abril de 1985), mulher de grande sensibilidade, e um dos grandes nomes da nossa literatura.

O texto, O que é viver bem? Fala justamente dessa necessidade de sermos otimistas para atravessarmos com mais confiança o deserto da vida.

 ***


  O que é viver bem?

 Cora Coralina

 Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas.

Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.

E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida.

É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar.

Eu não tenho medo dos anos e não penso em velhice. E digo prá você: não pense.

Nunca diga estou envelhecendo ou estou ficando velha. Eu não digo. Eu não digo que estou ouvindo pouco.

É claro que quando preciso de ajuda, eu digo que preciso.

Procuro sempre ler e estar atualizada com os fatos e isso me ajuda a vencer as dificuldades da vida.

O melhor roteiro é ler e praticar o que lê.

O bom é produzir sempre e não dormir de dia.

Também não diga prá você que está ficando esquecida, porque assim você fica mais.

Nunca digo que estou doente, digo sempre: estou ótima. Eu não digo nunca que estou cansada.

Nada de palavra negativa. Quanto mais você diz estar ficando cansada e esquecida, mais esquecida fica.

Você vai se convencendo daquilo e convence os outros. Então silêncio!

Sei que tenho muitos anos. Sei que venho do século passado, e que trago comigo todas as idades, mas não sei se sou velha não.

Você acha que eu sou?

Tenho consciência de ser autêntica e procuro superar todos os dias minha própria personalidade, despedaçando dentro de mim tudo que é velho e morto, pois lutar é a palavra vibrante que levanta os fracos e determina os fortes.

O importante é semear, produzir milhões de sorrisos de solidariedade e amizade.

Procuro semear otimismo e plantar sementes de paz e justiça.

Digo o que penso, com esperança.

Penso no que faço, com fé.

Faço o que devo fazer, com amor.

Eu me esforço para ser cada dia melhor, pois bondade também se aprende.

Caminhando e semeando, no fim terás o que colher.



0

Fim da novela André Mendonça

Posted by Cottidianos on 17:31

05 de outubro de 2021

André Mendonça, novo ministro do STF


Finalmente, o Brasil assistiu ao fim da novela André Mendonça.

Em julho deste ano, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Marco Aurelio de Mello, se aposentou de suas funções como ministro daquele órgão máximo da Justiça em nosso país. Sempre que um ministro do STF se aposenta, é atribuição do presidente indicar um novo nome para compor os quadros da corte, e ao senado aprovar o nome indicado pelo presidente. O nome indicado pelo presidente Jair Bolsonaro foi o de André Mendonça, mas sua indicação foi travada no Senado pelo presidente da Comissão de Constituição de Justiça do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP). A indicação ficou parada por quatro meses. Porém, após muita pressão de vários setores, principalmente os evangélicos, o processo andou.  

Para nos situarmos melhor nessa questão, voltemos um pouco no tempo.

Na manhã de 10 de julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro participava de um culto evangélico na Câmara dos Deputados. E em aceno à base evangélica ele disse que indicaria dois ministros para uma vaga no STF, e que um deles seria “terrivelmente evangélico”.

Nem tento explicar isso, pois não saberia definir uma pessoa comum “terrivelmente evangélica”, nem muito menos um ministro de uma Corte Suprema com a mesma qualidade.

Mais tarde, naquela mesma manhã, Bolsonaro reafirmou em plenário o que havia dito no culto. “Muitos tentam nos deixar de lado dizendo que o estado é laico. O estado é laico, mas nós somos cristãos. Ou para plagiar a minha querida Damares [Alves, ministra]: Nós somos terrivelmente cristãos. E esse espírito deve estar presente em todos os poderes. Por isso, o meu compromisso: poderei indicar dois ministros para o Supremo Tribunal Federal [STF]. Um deles será terrivelmente evangélico”.

Nada contra escolher um ministro do STF evangélico. Assim, como não haveria nada de mais ter um ministro católico, ou umbandista, pois a carta, a letra, o livro que rege as normas do Supremo Tribunal Federal chama-se Constituição Federal, e não a Bíblia. E um estado deve ser laico pois nem todas as pessoas que o formam professam os mesmos credos, as mesmas crenças. Há, inclusive, pessoas que não professam crença nenhuma. A lei não seria Lei, se abrigasse debaixo de seu manto, apenas pessoas desta ou daquela religião, deste ou daquele segmento, desta ou daquela raça.

Pois bem, o carro andou, e o ministro Celso de Melo se aposentou em outubro de 2020. Na verdade, Celso de Melo adiantou sua saída em cerca de duas semanas, uma vez que só completaria 75 anos em 01 de novembro daquele ano, data limite para sua aposentadoria compulsória. Uma vaga surgiu. Ficou o suspense: Oh, quem terrivelmente evangélico Bolsonaro indicará? Essas cogitações por si mesmas já são completamente ridículas, pois um ocupante de uma cadeira no STF não deve ser terrivelmente praticante dessa ou daquela religião, mas sim, um terrivelmente conhecedor da lei e da Constituição Federal. 

Pois, bem. Bolsonaro não cumpriu a promessa, e indicou o desembargador Kassio Nunes para a vaga aberta. A indicação foi feita no dia 01 de outubro de 2020. Foi criticado pela sua base, pois Nunes não é terrivelmente evangélico, mas, como podemos deduzir da atuação de Nunes no STF, essa coisa de ser “terrivelmente evangélico” parece não ser o critério em si mesmo dentro dos critérios de Bolsonaro, e isso faz todo o sentido analisando-se seu modo de governar. E já explico essa sopa de letra.

Desde a indicação até o caminho para a sabatina de Kassio Nunes pelo Senado, e sua consequente aprovação pelos membros daquela casa, o caminho foi bem curto. Bolsonaro indicou o nome de Nunes no dia 01 de outubro de 2020, e no dia 21 daquele mesmo mês o Senado aprovado o nome do indicado pelo presidente.

Mas, deixando de lado essa coisa de querer agradar a base com um ministro evangélico, parece que, para Bolsonaro, o importante é ter um ministro que ele possa chamar de seu no STF, isso é gravíssimo para uma democracia. É como diz o ditado popular: “Amigos, amigos, negócios à parte”.

E Nunes tem provado diante dos seus votos no STF que é um tapete de Jair Bolsonaro naquele orgão. Ele invariavelmente tem votado com o governo em todas as matérias. Parece que a ordem é não desagradar o chefe. Acho que ele apenas se esquece que o chefe é Constituição Federal, e não o governo federal. Há, portanto, um descompasso Kassio Nunes em relação aos princípios básicos do Supremo.

O que temos visto é que Bolsonaro tenta de todas as formas aparelhar o Estado. E, em muitos casos, tem conseguido. Por que Sérgio Moro deixou o governo? Pelo fato de acusar Bolsonaro de querer interferir nos trabalhos da Polícia Federal. Moro estava errado? Pelo que temos visto da atuação do governo, a resposta é não. E essa interferência parece continuar, pois todos aqueles da PF e de outros órgãos também, que dão pareceres ou fazem alguma ação contrária ao governo federal ou aliados dele, são logo afastados, substituídos em suas funções. A livre manifestação do cidadão também é proibida, ou pelo menos tentam inibi-la, como é próprio das ditaduras.

Dois exemplos recentes. No dia 10 de julho deste ano, uma mulher foi presa em Porto Alegre, por estar protestando contra o presidente. A mulher estava batendo panelas. Na ocasião, Bolsonaro estava na capital gaúcha para mais uma de suas motociatas.

No dia 27 de novembro, Bolsonaro estava em Rezende, RJ, para uma cerimônia de formação dos cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras. Antes de seguir para a cerimônia, o presidente se aproximou das margens da Dutra para acenar para os motoristas que por ali passavam e para cumprimentar policiais rodoviários que faziam sua segurança.

Uma mulher que passava pelo local, xingou o presidente e foi detida pelo crime de injúria contra ele. Em depoimento, a mulher negou as acusações.

Allan dos Santos, é um blogueiro aliado do presidente, e é um dos responsáveis pela divulgação e fake news, inclusive durante a pandemia de Covid-19, e que, com a ajuda de Eduardo Bolsonaro, conseguiu sair do Brasil para não ser preso pela PF.

A delegada da Polícia Federal, Dominique de Castro Oliveira, processou o pedido de extradição do jornalista na Interpol.  O que aconteceu com a delegada? Adivinhem. Ela foi exonerada da organização internacional de combate ao crime, na quarta-feira, 01 de dezembro. Dominique é delegada de carreira da PF, e estava há apenas 16 meses na polícia internacional. Mas, cometeu o “erro” de mexer com um aliado do presidente, e foi exonerada. Depois ainda dizem que não há perseguições e interferência na PF... E os tolos que acreditem.

Alan dos Santos mora nos Estados Unidos. Sua extradição foi determinada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, ainda em outubro, mas ainda está em tramitação.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, participou na sexta-feira, 3, do Derrubando Muros, evento organizado por empresários, intelectuais e políticos. Nesse evento, o político disse que nem a ditadura aparelhou tanto o Estado como faz o governo de Jair Bolsonaro. “O Brasil vive hoje uma situação bastante difícil. Um governo que ameaça, que aparelha como nunca. Talvez nem na ditadura se aparelhasse tanto”. Kassab está errado? Decerto que não.

De certo modo, o Brasil vive uma espécie de ditadura, perigosa porque ela acontece de modo silencioso. Não é aquela de colocar tanques nas ruas, mas é aquela de amarrar a mãos dos órgãos do governo, não apenas na polícia, mas na educação, no meio ambiente, cultura, e quem mais ousar levantar a voz e a caneta para contrariar o governo.

E essa ditadura branda, se torna ainda mais perigosa porque conta com fiéis escudeiros como o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e o procurador-Geral da República, Augusto Aras. Arthur Lira tem mais de 100 pedidos de impeachment contra o presidente Jair Bolsonaro, mas não os tira da gaveta, pois, para ele, Bolsonaro é como uma galinha dos ovos de ouro. Com Bolsonaro, Lira navega em rios de dinheiro de orçamento secreto e emendas parlamentares. Além, de tentar mudar a legislação brasileira para que ela se torne cada vez condizente e conivente com aqueles que praticam a corrupção e vivem dela.

Aras, por sua vez tem os seus interesses. Esperava, talvez, uma vaga no STF por indicação do presidente. Quem, sabe em um segundo governo de Jair Bolsonaro? Segundo governo de Bolsonaro que Deus nos permita não aconteça.

Depois dessa pausa para falar da interferência do governo nos órgãos públicos, voltemos a falar de André Mendonça.

O novo ministro do STF, André Luiz de Almeida Mendonça, tem 48 anos. Completará 49 no próximo dia 27 de dezembro. É advogado e pastor da igreja presbiteriana. É funcionário de carreira da União desde o ano 2000. Após quatro meses em banho maria, seu nome foi finalmente aprovado pelo Senado na quarta-feira,1 de dezembro. Obteve 18 votos a 9 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), e em plenário o placar também lhe foi favorável: 47 votos a favor e 32 contrários a sua indicação.  

O que fazer quando você se depara com duas versões de uma mesma pessoa, e ainda uma terceira referente a esse mesmo individuo que é uma incógnita?

Assim é o novo indicado do presidente para o SFT e aprovado pelo Senado. O André Mendonça que se sentou na cadeira no Senado para ser sabatinado pelos senadores, não foi o mesmo que comandou a Advocacia Geral da União e o Ministério da Justiça depois da saída de Sérgio Moro.

Antes de Bolsonaro anunciar, em 21 de novembro de 2018, o nome André Luiz de Almeida Mendonça, para o comando da Advocacia Geral da União, ele ocupava naquela época o cargo de consultor jurídico da Controladoria Geral da União, e atuava junto ao secretário-executivo da pasta.

Ele foi elogiado por juristas como sendo um nome técnico. Porém, Mendonça logo se mostrou muito alinhado ao governo Bolsonaro, e com isso ganhou a confiança do presidente. Em diversos momentos, ele assumiu atitudes autoritárias.

Em diversos momentos, Mendonça acionou a Polícia Federal, baseando-se na Lei de Segurança Nacional, com a finalidade de perseguir opositores do governo de Jair Bolsonaro. Foram alvos da sanha autoritária de André Mendonça, o pré-candidato à presidência da República, Ciro Gomes (PDT), Guilherme Boulos (PSOL), Hélio Schwartsman, colunista da Folha de São Paulo, e Ricardo Aroreira, cartunista. A maioria dos inquéritos pedidos por André Mendonça contra essas pessoas, as acusava de cometer injúrias contra o presidente pelo fato de em algum momento elas terem feito críticas ao mandatário da nação. Por determinação da Justiça, todos esses inquéritos foram arquivados.

Ainda no comando da AGU, Mendonça se alinhou a pautas do presidente também no STF. Ele foi contra a criminalização da homofobia. Também foi contra a que fossem permitidos a Estados e munícipios a decisão sobre o fechamento de templos religiosos durante a pandemia de Covid-19.

Houve aquela confusão em que Moro saiu do Ministério da Justiça acusando Bolsonaro de interferir na PF. Em abril de 2020, Mendonça foi indicado para a vaga na pasta da Justiça e Segurança Pública.

No ministério da Justiça, Mendonça continuou sua “missão” de perseguir opositores do presidente. Em fins de julho daquele ano, o site do UOL revelou que o ministério da Justiça, comandado por Mendonça havia elaborado, secretamente, um dossiê contra servidores federais considerados “antifacista”.

Ao menos, 579 servidores federais e estaduais de segurança, e ainda três professores, tiveram seus nomes incluídos no dossiê elaborado pela Secretaria de Operações Integradas (SEOPI).

Ao ser questionado sobre o caso, o ministério da Justiça disse não se tratar de uma investigação contra os servidores, mas sim, prevenir a prática de ilícitos e preservar a segurança das pessoas.

Na sabatina do Senado, na quarta-feira, 01 de dezembro, era outro André Mendonça falando aos senadores. Durante as oito horas que durou a sabatina, os senadores questionaram Mendonça sobre os temas do casamento entre pessoas do mesmo sexo, estado laico, democracia, independência do governo Bolsonaro, dentre outros.

Veja algumas frases de André Mendonça, elaboradas pelo Portal G1.

****

Democracia

"Reafirmo meu irrestrito compromisso com o Estado Democrático de Direito, conforme expresso desde o preâmbulo da nossa Constituição. Dentro desta perspectiva, inclui-se o compromisso de respeitar as instituições democráticas, em especial a independência e harmonia entre os poderes da República. Esse preceito constitucional está inserido dentro do sistema de freios e contrapesos, próprios ao Estado Democrático de Direito. Nesse sentido, entendo que o Poder Judiciário deve ser pacificador dos conflitos sociais e garantidor da legítima atuação do demais poderes, sem ativismos ou interferência indevidas nele. Penso que a automoderação do Judiciário é o corolário lógico do próprio princípio democrático."

Democracia conquistada sem 'sangue derramado'

"Eu disse na fala inicial: a democracia é uma conquista da humanidade. Para nós, não – mas, em muitos países, ela foi conquistada com sangue derramado e com vidas perdidas. Não há espaço para retrocesso. E o Supremo Tribunal Federal é o guardião desses direitos humanos e desses direitos fundamentais."

Pedido de desculpas

"Primeiro, meu pedido de desculpas, por uma fala que pode ter sido mal interpretada e que não condiz com aquilo que eu penso. Vidas se perderam na luta para a construção da nossa democracia. Além do meu pedido de desculpas, o meu registro do mais profundo respeito e lamento pela perda dessas vidas."

"Faço um registro pelo respeito à memória dessas vidas e dessas pessoas. E faço também um registro de solidariedade, de respeito às famílias dessas vítimas. Muitos no nosso país lutaram pela democracia e vidas se perderam para a construção da nossa democracia. E essas vidas merecem ser lembradas e merecem o nosso respeito."

"Essa fala foi feita no momento em que fazia referência a revoluções liberais, que tanto a nossa independência como a nossa República não tiveram como precedência ou causa uma guerra, uma guerra civil como houve nos Estados Unidos ou houve uma luta na França. O que não significa que a construção da nossa democracia não tenha custado vidas. Custaram-se muitas vidas."

Estado laico

"Me comprometo com o Estado laico. Considerando discussões havidas em função da minha condição religiosa, faço importante ressaltar minha defesa do estado laico. A igreja presbiteriana da qual pertenço, uma das diversas igrejas evangélicas de nosso país, nasceu no contexto da reforma protestante tendo como uma de suas marcas justamente a defesa da separação entre igreja e do Estado."

'Na vida, a Bíblia; no Supremo, a Constituição'

"Ainda que eu seja genuinamente evangélico, entendo não haver espaço para manifestação pública religiosa durante as sessões do Supremo Tribunal. Neste contexto, também conseguindo que a Constituição é e deve ser o fundamento para qualquer decisão por parte de um ministro do Supremo, como tenho dito quanto a mim mesmo: na vida, a Bíblia; no Supremo, a Constituição."

Casamento gay

"Eu defenderei o direito constitucional do casamento civil das pessoas do mesmo sexo. [...] "O casamento civil, eu tenho a minha concepção de fé específica. Agora, como magistrado da Suprema Corte, eu tenho que me pautar pela Constituição. [...] Eu defenderei o direito constitucional do casamento civil das pessoas do mesmo sexo."

Violência contra população LGBTQIA+

"Em relação à situação da violência LGBT: Não se admite qualquer tipo de discriminação. É inconcebível qualquer ato de violência física, moral, verbal em relação a essa comunidade. Assim, o meu comprometimento é também diante de situações como essa aplicar a legislação pertinente, inclusive na questão da própria decisão do STF, que equiparou a ação dirigida a essa comunidade como racismo. Logicamente, também com a ressalva trazida no STF em relação a liberdade religiosa, mas ainda assim fazendo-se com o devido respeito a todas as pessoas."

Decretos sobre armas de Bolsonaro

"Há espaço para posse e porte de armas. A questão que deve ser discutida é quais os limites. [...] Não posso me manifestar sobre o tratamento que foi dado pelos decretos, mas a segurança pública deve ser um objetivo a ser alcançado por todos nós. O principal debate deve ser no Legislativo, mas há um espaço para a regulação."

Política ambiental

"Há muitas pessoas que não estão desmatando por que querem, mas para ganhar o pão de cada dia."

Convite de Bolsonaro para vaga no STF

"O convite ali feito [por Bolsonaro] considerava o meu currículo e a qualidade do meu trabalho. Aceitei ali a missão e como AGU tive a oportunidade de atuar em diversos julgamentos no STF."

****

André Mendonça, certamente, preenche os requisitos para a vaga no SFT. A pergunta que se coloca é qual dos Andrés Mendonças ocupará a vaga no STF, o autoritário que atuou na AGU e no ministério da Justiça, ou democrata polido que se sentou no banco do senado para ser sabatinado? Isso, logo, logo a gente descobre.


0

Luz vermelha no mundo

Posted by Cottidianos on 15:07

 Domingo, 28 de novembro



Final do ano de 2019.

Enquanto o mundo festejava as festas de Natal e se preparava para mais uma noite de Réveillon com toda a alegria e votos de Feliz Ano Novo que lhe é característica, na China, mais precisamente na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, um vírus silencioso se espalhava sorrateiramente. Os médicos chineses pensaram se tratar de casos de pneumonia. Depois descobriram que estavam lidando com uma desconhecida variante do coronavírus. Até então haviam sido identificados seis tipos de coronavírus. Esses tipos de vírus causam no máximo um resfriado comum.

Porém, o novo vírus se manifestou de uma forma totalmente diferente dos seus pares anteriores. Ele provocou a doença terrível, denominada pelos cientistas de Covid-19... E mudou o curso da história do planeta. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde reconheceu que estávamos diante de uma pandemia. O restante da história vocês já sabem muito bem como se desenvolveu.

Desde então, nós, habitantes deste pequeno grande planeta — pequeno em relação a imensidade de astros, estrelas, galáxias, e planetas que o rodeiam, e grande em relação a si mesmo — temos vivido de sobressaltos em sobressaltos. Pensávamos que tudo estaria resolvido, pelo menos em parte, com as vacinas.

Mas, como temos visto mundo afora, as coisas parecem não ser tão simples assim. Primeiro há os amantes do coronavírus. Sim, pasmem, leitores e leitoras há, sim, os amantes do vírus. Seja eles governantes, como o do Brasil, por exemplo, que fez de tudo para o vírus demorasse mais tempo no país, e matasse o maior número de pessoas possível, como há também as pessoas do movimento anti-vacina, que veem as vacinas como causadoras de mortes, e não o vírus. Para elas, a ameaça esta não no coronavírus, mas nas vacinas aplicadas contra ele. É um modo tosco, e até ingênuo de pensar. Ignorância mesmo.

A questão é que essa ignorância não prejudica apenas a pessoa que é portadora dela, mas todo um coletivo. Tanto é que alguns países enfrentaram, outros ainda enfrentam a pandemia dos não vacinados. São eles os responsáveis, por exemplo, pelo aumento dos casos de Covid-19 na Europa. Os Estados Unidos também já enfrentaram problemas semelhantes. Então, por tudo isto, podemos concluir que o pessoal antivacina não são apenas ignorantes, mas também, irresponsáveis.

Semana passada o mundo entrou novamente em alerta. Mais um sobressalto. Na sexta-feira, 26, a OMS anunciou o registro de mais uma variante do coronavírus surgida na África do Sul. A nova variante recebeu dos cientistas o nome de Ômicrom, em referência a última letra do alfabeto grego. A OMS classificou essa variante como “variante preocupante”.

E o motivo da preocupação é que a nova variante. possui 50 mutações, algo ainda não registrado antes em variantes do coronavírus. Mais de 30 dessas mutações se concentram na chave que o coronavírus usa para entrar nas células, chamada de “spike”. A spike é para onde se concentram os esforços dos cientistas ao desenvolver as vacinas contra o coronavírus. A nova variante também apresenta maior risco de infecção pela Covid-19.

Apesar de os cientistas ainda não saberem exatamente quão transmissível ou perigosa é a nova variante, eles estão apavorados apenas em saber o número de mutações que ela carrega.

O fato é que, além da África do Sul, a variante já foi detectada também na Alemanha, Austrália, Bélgica, Botsuana, Dinamarca, Hong Kong, Israel, Itália, Reino Unido, República Tcheca. Vários países já começam a proibir voos com origem na África do Sul.

No Brasil, o governo federal publicou uma portaria em edição extra do Diário Oficial da União, na qual proíbe, temporariamente, voos originários de seis países, a saber; África do Sul, Botsuana, Eswatini (ex-Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue. A proibição começa a valer nesta segunda-feira, 29. A recomendação da proibição dos voos havia sido feita ao governo federal pela Anvisa, na sexta-feira, 26.

A portaria foi assinada neste sábado, 27, pelos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Marcelo Queiroga (Saúde), e Tarcísio Freitas (Infraestrutura).

Ainda na sexta-feira, apesar da nota técnica emitida pela Anvisa, a criança mimada, e quando digo “criança mimada” estou me referindo ao presidente Jair Bolsonaro, o menino birrento, e egocêntrico que mora dentro dele, passou o dia dizendo que não iria proibir voos.

Bolsonaro foi questionado por um apoiador sobre a questão e respondeu: “Tem que aprender a conviver com o vírus. Não vai vedar [a entrada de estrangeiros], rapaz. Que loucura é essa? Fechou o aeroporto o vírus não entra? Já está aqui dentro”. O homem ainda questionou o presidente sobre a nova onda de Covid-19 na Europa, e o presidente respondeu dizendo que o apoiador estava “vendo muita Globo”.

Enfim, Bolsonaro passou o dia repetindo que não iria proibir voos com origem na região onde surgiu a nova variante do coronavírus, mas, certamente, deve ter sido pressionado pelos seus ministros, pois, ainda no fim da tarde da sexta-feira, 26, o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, divulgou nota em que afirmava a proibição dos voos.

Ainda se comportando como criança birrenta, dessas que fazem beicinho, que esperneiam, e choram quando contrariadas, o presidente reclamou: “Não é Anvisa quem decide? Pergunta pra Anvisa. Ponto final. Eu não tenho opinião. Eu sou um presidente que não tenho como decidir as questões voltadas à pandemia. Quem decide é o Supremo.”

Ainda com relação ao coronavírus, os líderes mundiais parecem que ainda não compreenderam que o incomodo vírus veio para testar os limites da globalização, e para dizer que somos todos elos de uma mesma corrente. Não adianta as campanhas de vacinação avançarem apenas nos países mais desenvolvidos e deixar as regiões mais pobres do planeta sem cobertura vacinal. Pois, justamente, essas regiões, podem se tornar celeiros de novas e mais perigosas variantes, e então o belo trabalho de vacinação feita nos países ricos, pode ir embora com a mesma fragilidade dos castelos de areia na beira do mar, levados pelas suaves ondas.

 Saindo da área da saúde para o futebol, permeando, entretanto, o campo da política.

No sábado, 24 de novembro de 2019, os torcedores do Flamengo estavam em êxtase. O time havia ganhado o título da Taça Libertadores daquele ano. Os jogadores ainda estavam no gramado do estádio Monumental de Lima, no Peru. O ex-governador do Rio, afastado do cargo por corrupção, também estava presente no estádio.

O jogador do Flamengo Gabigol estava ainda no gramado, alegremente, conversando um integrante da comissão técnica. Ele havia sido o herói do jogo ao marcar dois gols contra o rival River Plate — o placar do jogo foi de 2 x 0 por Flamengo — e levar o time carioca à vitória. Witzel se aproxima do jogador, aperta a mão dele, cumprimenta-o, em seguida se ajoelha aos seus pés. O jogador que estava sorrindo, fecha a cara, se afasta do governador, e saí andando em outra direção. Wilson Witzel protagonizou uma cena patética. Ao ver aquela cena, não pude deixar de estranhá-la, e de ver que havia algo errado com aquele homem, e havia mesmo uma hipocrisia sem tamanho.

Neste sábado, novamente houve decisão da Libertadores da América. Dessa vez, a final foi entre dois grandes do futebol brasileiro: Palmeiras x Flamengo. Gabigol até chegou a marcar um gol na partida, mas o Palmeiras marcou dois e ficou com o título.

Pois bem, o presidente Jair Bolsonaro, que era palmeirense até poucos dias atrás, resolveu mudar de time nessa decisão da Libertadores e declarou seu apoio ao Flamengo. E por que Bolsonaro traiu o verdão? Por simples cálculo político.

O Flamengo possui uma das maiores torcidas do Brasil, e portanto, de acordo com raciocino baixo dele, renderia mais votos. Além disso, a diretoria do clube carioca é simpática a ele, suas ideias, e seu governo.

Portanto, caros leitores, não esperem fidelidade de Jair Bolsonaro, em lugar algum: nem no futebol, nem na política. Ele troca de clubes de futebol ou de partido como quem troca de roupa. E também não esperem que ele esteja interessado em coronavírus, em economia, em inflação, educação, ou outro assunto qualquer, pois o único objetivo dele parecer ser a reeleição, e tirando isso, nada mais importa.


0

As marcas da discriminação

Posted by Cottidianos on 00:08

Domingo, 21 de novembro

Negro entoou

Um canto de revolta pelos ares

No Quilombo dos Palmares

Onde se refugiou

...

E de guerra em paz

De paz em guerra

Todo o povo dessa terra

Quando pode cantar

Canta de dor

(Canto das Três Raças – Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)

 

                                                Casarão Pq. Ecológico - Campinas, São Paulo

Sábado, 20, comemorou-se o Dia da Consciência Negra. E eu gostaria de começar falando de uma experiência pessoal.

O Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, é um dos lugares favoritos onde gosto de passear aqui, na cidade de Campinas, São Paulo. O lugar onde fica o parque era originalmente a Sesmaria e Engenho Fazenda do Mato Dentro. É uma grande área verde aberta ao público. Lá as pessoas vão para fazer piqueniques, caminhadas, andar de bicicleta, enfim, fugir um pouco da rotina. Segundo informações do Wikipedia, o local possui uma área de “2.850.000 m² (sendo 1.100.000 m² aberta ao público”.

A data de fundação da fazenda é de 1806. Ainda faltavam 133 anos para que a escravidão fosse abolida no Brasil. Portanto, os donos daquela enorme fazenda também tinham escravos. E julgar, pelo tamanho da casa em que moravam e o tamanho das terras que possuíam, também eram donos de muito capital.

O parque conserva alguns prédios remanescentes da construção original, entre elas a casa grande, onde moravam os senhores do engenho, a casa anexa, a capela, e a senzala. Antes, esses prédios também eram abertos à visitação pública. Hoje, o público só consegue ver o exterior das construções.

Porém, quando estavam ainda estavam abertos à visitação, tive a oportunidade de entrar neles. Fui junto com um amigo. Comecei visitando a pequena capela onde os donos daquelas terras e seus familiares faziam suas orações, depois entrei na casa-grande.

Passeamos tranquilamente pela parte de cima, onde viviam os senhores de engenho. Olhando o mobiliário, louças, e outras coisas que estavam expostas deu para ter uma visão dos costumes dos habitantes daquela época e, especialmente, daquela casa. Enquanto estávamos visitando essa parte da casa, tudo me pareceu muito tranquilo. Meus sentimentos estavam todos em harmonia.

No subsolo da casa grande, ficavam as instalações onde os escravos eram alojados. Desci até lá, junto com o meu amigo. Lá estavam expostos objetos referentes ao mundo dos escravos, objetos com os quais eles eram torturados, e tudo o mais. O contraste entre os dois ambientes era gritante. Lá em cima, o luxo. Embaixo, a mais pura simplicidade.

Imediatamente quando entrei naquele ambiente, fui acometido por uma outra sensação, bem diferente da que tinha experimentado quando visitei o espaço onde ficavam os donos do engenho. Comecei a sentir uma sensação de como quem está sufocando. Me faltava o ar. Não conseguia respirar. Não aguentei ficar muito tempo ali, e saí. Meu amigo, que também desceu até a senzala junto comigo, não sentiu as mesmas emoções.

Embora não percebamos, mas o bem, ou mal que praticamos, cria em torno de nós, e daqueles que nos rodeiam um campo de energia, igualmente boa ou má. Os escravos daquela fazenda viveram ainda nos anos 1800, muito tempo já se foi, mas a energia pesada na qual eles viviam ainda estava impregnada naquele ambiente.

Nas senzalas do Brasil colônia e do Brasil Império, certamente, circulava uma energia de dor e sofrimento. Havia os clamores de corpos cansados implorando por descanso e paz, e consciências roubadas implorando por liberdade. Havia muito ódio contra senhores tiranos. Claro, havia também momentos de alegria e de festa, mas, creio, ser os primeiros dominantes. Finalmente, em 13 de maio de 1888, os escravos receberam suas cartas de alforria, e tudo mudou.

Será que mudou mesmo?

Para começar, os escravos saíram dos locais onde trabalhavam, como dizemos atualmente, apenas com a roupa do corpo. É como se os trabalhadores das indústrias do Brasil fossem mandados embora sem direito a coisa alguma. Sem serem remunerados pelo tempo em que trabalharam para suas empresas.

Como recomeçar a vida numa situação dessas? Foi mais ou menos isso o que aconteceu com o povo escravizado libertado pela Lei Áurea. E o pior, o estado brasileiro, não fez a menor ação no sentido de prover aquele povo de meio algum meio com os quais eles pudessem recomeçar suas vidas.

Vale destacar que o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão, e Campinas, a última cidade brasileira a fazer o mesmo.

A “demissão” dos escravos naqueles fins de 1800, e a ida deles para a rua da amargura, deixou para o povo negro uma herança de pobreza, miséria, racismo e preconceito. Ainda hoje, os negros ainda são atingidos pelas balas do preconceito, e pelos tiros que saem das armas dos policiais.

Por que o Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, e não em 13 de maio?

Por que, como vimos, nas ações que resultaram nos eventos de 13 de maio, os negros foram coadjuvantes, e não protagonistas. Foram os brancos que lutaram pela causa abolicionista, foi uma princesa branca que assinou a Lei Áurea.

Dia 20 de novembro foi o dia da morte de Zumbi dos Palmares, o líder do maior quilombo brasileiro e que mais tempo resistiu ao poderio português. Apenas sob o comando de Zumbi foram quase 20 anos de luta. Ele assumiu a liderança do quilombo em 1678. Os primeiros registros da chegada dos negros ao Quilombo dos Palmares se dão por volta do ano de 1580. Sem dúvida, a história de Palmares explicita uma história de luta e resistência contra a opressão que reinava nas fazendas de açúcar e de café, e também contra os portugueses que temiam o poder de organização social e política que os quilombolas conseguiram desenvolver dentro dos quilombos.

A luta dos negros não terminou com a abolição da escravidão. Ao contrário, ela continua até hoje. Em parte, herança daquela “demissão” em massa, sem direito a nenhuma remuneração por tempo trabalhado, em parte porque tem gente cujo pensamento não evoluiu e  ainda pensam que ainda estão nos atrasados tempos, em que se achava que negro não merecia circular nos mesmos lugares que os brancos, e nem frequentar os mesmos espaços que eles. Diríamos que são pessoas mentalmente atrasadas em relação ao espaço e ao tempo.



Por exemplo, neste dia 20 de novembro, dia em que se comemorava o Dia da Consciência Negra, enquanto várias cidades brasileiras faziam suas comemorações e protestos, dois irmãos, em Belo Horizonte, sentavam-se na cadeira de uma delegacia para registrar um boletim denunciando uma injuria racial que sofreram.

Carlos Miguel de Almeida, anos, e Carlos Eduardo Almeida, 22 anos, saíram no sábado á noite para ver a partida do time do coração: O Atlético Mineiro. O Atlético jogou naquela noite com o Juventude.

Já dentro do estádio ocorreu uma discussão. Segundo os jovens, um homem que eles conheciam por terem amigos em comum com ele, dirigiu-se até os dois irmãos e falou para eles: “Estão olhando o quê, macaco? Bando de macacos”.

Ao Portal G1, Carlos disse “Senti uma angústia tão grande (...) Por ser uma pessoa que a gente conhece, sabe quem é, foi o que doeu mais. Não tem desculpa porque estava bêbado, ele sabia o que estava falando”.

A administração do estádio disse que repudia os casos de discriminação e injuria racial e que a atendimento, orientação e acolhimento foi prestado aos dois ofendidos. E que auxiliará as autoridades nas investigações. A administração também disse que tem trabalhado em campanhas educativas.

E ainda dizem que o Brasil não é um país racista. O próprio fato de serem elaboradas campanhas educativas contra o racismo é uma prova cabal de que ele existe em nossa sociedade. Basta olhar para as estatísticas de mortes pela polícia na qual os negros são a maior parte das vítimas em relação aos brancos, e a falta de negros em alguns ambientes e postos de trabalho para vermos outras provas evidentes que o racismo ainda é muito forte em nosso país.

Mesmo quando os negros chegam a postos de destaques, nem assim eles são poupados.



Na noite de segunda-feira, 08, deste mês, ocorria uma sessão na Câmara Municipal de Campinas. A vereadora do PT, Paolla Miguel, ocupava a tribuna fazendo um discurso no qual abordava o projeto que trata do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra e um Fundo Municipal de Valorização da Comunidade Negra, quando, da área destinada ao público ouve-se uma voz de mulher que dizia: “Preta lixo”.

Na hora, o vereador Zé Carlos (PSB), disse: “Alguém na plateia disse uma besteira. Nós estamos gravando a sessão. Nós vamos buscar as imagens, e quem falou vai pagar [...] Já vieram três vereadores falar aqui do racismo que aconteceu aqui dentro. A TV Câmara grava neste momento e já vai separando essas imagens. Quem fez isso vai pagar. A gente está pedindo com educação. As imagens falam por si, fiquem tranquilos. Eu vou expor aqui na Câmara quem falou essa bobagem”.

A vereadora registrou um boletim de ocorrência por injúria racial e uma investigação se seguiu. A mulher foi identificada e prestou depoimento. À polícia a mulher disse que foi mal interpretada. Que não tinha intenção de proferir a ofensa. Quem for bobo que acredite que ela não tinha intenção de ofender. Também o que esperar de uma pessoa que estava na Câmara Municipal de Campinas gritando que as vacinas contra a Covid-19, matam? A mulher fazia parte de um grupo que protestava contra o passaporte de vacina. Nas galerias da Câmara o grupo gritava: “Vacina mata”.

É lamentável que o tempo tenha passado, que a escravidão tenha ficado no passado. É louvável que avanços tenham chegado. Mas é triste ver que algumas mentes tenham ficado no passado, que ainda vivam no passado opressor dos tempos das senzalas. E, radicados nesse tempo, sem dele querer sair, ainda não compreenderam que racismo nos tempos atuais é crime, e que peito de negro não é alvo sobre o qual eles possam praticar tiro ao alvo. E racismo tem mesmo que ser considerado crime, porque racismo mata.


0

Marília Mendonça: Uma estrela que volta para o infinito

Posted by Cottidianos on 02:53

Sábado, 06 de novembro


Marília Mendonça

 Era para ser mais uma sexta-feira como outra qualquer, mas não foi.

Cheguei do trabalho por volta das sete da noite. Passei na portaria do prédio, cumprimentei o porteiro. Fiz as brincadeiras de sempre quando passo por lá. Ele estava vendo alguma coisa no celular, na rede social e me chamou para ver.

— Olha o que aconteceu!

— O quê? Perguntei eu, curioso. E me aproximei, achando que ele iria me mostrar alguma coisa engraçada na Internet. Me aproximei, e ele me mostrou imagens de um acidente aéreo.

— Marília Mendonça morreu num acidente de avião, disse ele.

— Não acredito! Disse. E não acreditava mesmo. Achava que era alguma fake news. Enfim, são tantas as notícias falsas que circulam pelas redes sociais, que a gente tem que desconfiar dessas notícias de grande impacto. Me recusava a acreditar que uma cantora de voz tão potente, e uma mulher de uma personalidade tão forte, tinha sido vitimada por um acidente aéreo.

Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz, aliás como quase sempre faço, foi sintonizar a rádio CBN. Quando sintonizei a rádio a sala de casa imediatamente foi invadida com a triste notícia da morte da cantora. E daí, não parou mais. Rádio, televisão, jornal impresso, Internet, conversas nos bares, nas ruas, todos falam do acidente fatal que vitimou a artista, que, em pouco anos, com voz poderosa e personalidade forte, se tornou um fenômeno da música sertaneja e das redes sociais. O sucesso de Marília Mendonça foi desses sucessos que a gente costumar chamar de meteórico.

No início da tarde desta sexta-feira, 05, foi uma Marília Mendonça alegre, e em paz consigo mesma que embarcou no aeroporto Santa Genova, em Goiânia. Fez postagens antes de embarcar, caminhando em direção a aeronave com a bagagem de rodinhas, e o violão pendurado no ombro. Dentro da aeronave, fez novas postagens fazendo uma refeição, e até fez brincadeiras com sua dieta.

A cantora ainda carregava as boas energias e vibrações adquiridas durante a quinta-feira, 04. A mãe dela. Ruth Moreira, havia feito aniversário naquele dia, e Marília se reuniu com ela para comemorar a data tão especial. Marília postou as comemorações em uma rede social.

Seu cuidado e carinho ultrapassam o limite do ser mãe. Você, com seu coração gigante, não se conforma em simplesmente ser mãe de Marília e João Gustavo, mas é mãe de todos que ama de verdade. Seu coração deveria ser estudado e reproduzido nas próximas gerações. O mundo seria mais bonito se existissem mais Ruths espalhadas por aí. Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida. Seremos sempre nós. Conectadas, entrelaçadas e fortes. Juntas! Te amo, mãe! PRA SEMPRE! Feliz aniversário @ruthmoreira67.”, escreveu ela no Instagram. Nem sabiam as duas que aquela era uma despedida. Que aquelas eram uma das últimas postagens de Marília Mendonça.

Quando Marília diz: “Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida”, ela provavelmente estava se referindo ao filho, Léo, de quase dois anos de idade. O Léo foi mais sonho realizado pela cantora.

O avião em que a Marília Mendonça estava seguia em direção a Ubaporanga, cidade da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. De Ubaporanga ele seguiria, de carro, por estrada de terra, até a cidade vizinha de Caratinga, onde faria um show na noite desta sexta-feira, 05, no Parque de Exposições da Cidade.

Era por volta da 16h30min, quando a aeronave — um avião bimotor da King Air da Beech Aircraft, fabricado em 1984 — se aproximava da pista de pouso. Estava a apenas dois quilômetros de uma aterrisagem tranquila e de uma viagem sem maiores incidentes. Foi então que tudo aconteceu. Quando passavam pela localidade de Piedade da Caratinga, a aeronave que transportava a cantora atingiu os cabos de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O avião bimotor então perdeu sustentação.

Em uma região da mata, e em desespero, o piloto procurou, naqueles instantes fatais, um lugar onde pudesse fazer um pouso forçado. Tentou uma clareira, em uma cachoeira, mas era um lugar acidentado e cheio de pedras. O piloto bem que tentou, mas o pior aconteceu. O avião não explodiu, mas espatifou-se nas pedras, matando todos os ocupantes.

Além de Marília Mendonça, morreram no acidente; Geraldo Martins de Medeiros Junior, o piloto, Tarciso Pessoa Viana, o copiloto, o produtor-geral Henrique Ribeiro e o assessor Abicieli Silveira Dias Filho, que também era tio de Marilia Mendonça.

A mãe de Marília Mendonça, Ruth Moreira, logo cedo percebeu que a filha cantava bem, tinha uma boa voz. Então começou meio que a empurrá-la para esse caminho. Levava a filha para cantar em restaurantes, barzinhos, em troca de cachês baratos, e comida. Coração de mãe é como mente de Nostradamus. Ali onde ninguém enxerga talento, ela enxerga uma celebridade. E dona Ruth estava certa. A menina tinha mesmo dom para a música. Aos doze anos compôs seu primeiro sucesso, Minha Herança, gravado pela dupla sertaneja, João Neto e Frederico.

Apaixonada por redes sociais, Marília começou a postar nelas vídeos em que ela aparecia cantando. Não eram vídeos profissionais. Eram vídeos caseiros e de baixa qualidade. Mesmo assim, o número de visualizações não era pequeno. Quem assistia aqueles vídeos de baixa qualidade sabia que os vídeos podiam até não ser bem elaborados, mas a cantora era de primeira grandeza.

Marília foi seguindo sua carreira mais como compositora que como cantora. Em 2015 ela gravou um EP de estreia. Porém, o primeiro sucesso veio com o lançamento do primeiro DVD, Marília Mendonça. O DVD vendeu 240.000 mil cópias. Quase sempre uma canção se destaca no álbum do artista. E no primeiro DVD da cantora, a música, Infiel, caiu no gosto popular, e, logo levou o disco a receber o certificado de disco de diamante triplo, e também puxou a cantora sertaneja para os braços da fama.

Marília Mendonça seguiu sua carreira iluminada e vitoriosa, arrebanhando multidões por onde passava. Outros milhões de fãs a seguiam pelas redes sociais. Então veio a pandemia do coronavírus impedindo as pessoas de todo o planeta de se beijarem, se abraçarem, de se aglomerar. Os artistas foram uma das categorias que mais sofreram, e ainda sofrem com esse distanciamento.

Entretanto, mesmo em meio à pandemia a luz da cantora brilhou. Sem poder ter o contato físico com o público, os artistas recorreram às lives. Todo mundo queria fazê-las.

No dia 08 de abril de 2020 Marília Mendonça fez a live intitulada, Live Local de Marília Mendonça. O título engana bem, pois a live da cantora não teve nada de local, ao contrário, teve 3,31 milhões de visualizações, tornando-se a live mais assistida da história do Youtube, e a mais vista no mundo, ficando à frente de lives de artistas como Andrea Bocelli.

Sem dúvida, o Brasil perdeu nesta sexta-feira, uma de suas grandes cantoras. Você pode não gostar da música sertaneja, nem do estilo de música cantada por Marília Mendonça, mas não se pode negar a importância dela no meio musical brasileiro.

Em um meio sertanejo dominado pelos homens, em suas composições e nas canções que cantava, Marília Mendonça falou de amores sofridos, de traições, da valorização da mulher, do empoderamento feminino. Virou a “rainha da sofrência”. Enfim, nada melhor que uma mulher para falar com tanta verdade ao universo feminino.

Ela foi responsável pelo movimento musical chamado, feminejo, que significa a ascensão das mulheres na música sertaneja. Na esteira do sucesso de Marília Mendonça vieram, por exemplo, as duplas Simone e Silmara e Maiara e Maraisa.

A morte de Marília Mendonça choca o país por uma série de motivos. Porque nos mostra a brevidade da vida, porque é a mulher que acreditou no sucesso e por ele lutou, porque estava no auge da carreira, e que sempre se superava, e também porque, apesar de ter alcançado o estrelato, sempre soube conservar a humildade, o amor, e o respeito para com seus fãs.

Marília Mendonça nasceu em Cristianópolis, Goiás, em 2 de julho de 1995, e se despediu deste mundo nesta sexta-feira, 05 de novembro de 2021, aos 26 anos de idade. Deixa o Brasil mais triste e o céu mais alegre.

Não poderia deixar de falar neste texto também de outras duas grandes perdas que o Brasil teve recentemente: Uma no campo da música, e outra no campo da literatura.

                                                         Nelson Freire

Na segunda-feira, 01 de novembro, o Brasil se despediu de Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo. Um verdadeiro gênio no piano. O artista morreu na casa dele, aos 77 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi vítima de uma queda que sofreu em casa. Há dois anos ele também havia sofrido uma queda na rua que lhe trouxe uma série de complicações.

Nelson nasceu na cidade de Boa Esperança, Minas Gerais. Talento precoce, ele começou a tocar piano em casa, aos três anos de idade. Os pais resolveram colocar o menino numa aula de piano. Quando já havia feito doze aulas, o professor chegou para os pais do garoto e disse a eles que não tinha mais nada para ensinar, pois o menino já havia aprendido tudo. Aconselhou-os a mudar para o Rio de Janeiro, onde Nelson poderia dar vazão a sua genialidade.

Aos cinco anos, o garoto realizou o seu primeiro recitou em um teatro na cidade de Boa Esperança. Foi ainda quando ele tinha cinco anos que, ele os pais, e mais nove irmãos, mudaram-se para o Rio de Janeiro. O pequeno Nelson causou uma revolução na vida dos pais e dos irmãos. Os pais, que viviam numa cidade pequena e pacata do interior de Minas tiveram que se mudar para a grande e agitada cidade do Rio de Janeiro.

Já no Rio de Janeiro, aos doze anos, ele ficou em sétimo lugar em um concurso internacional de música. A partir daí, trilhou uma carreira brilhante, premiada internacionalmente.


                                                                 Gilberto Braga

Outra grande perda para os brasileiros foi o novelista Gilberto Braga. Gilberto morreu na terça-feira, 26 de outubro, aos 75 anos no Rio de Janeiro. Há algum tempo a saúde do autor vinha se deteriorando. Ele já havia passado por uma cirurgia na coluna, uma cirurgia no coração, e uma hidrocefalia. Uma semana antes Gilberto Braga foi levado para o hospital onde teve uma infecção generalizada. 

Quando era anunciada uma nova novela da Globo e ela tinha a assinatura de Gilberto Braga, o público já ficava na expectativa, pois sabia que novela dele era sinônimo de sucesso.

E de fato, inúmeras foram as novelas de sucessos e personagens marcantes que ele criou. Dentre elas estão, Corpo a Corpo (1984), Rainha da Sucata (1990), na qual atuou como colaborador, e O Dono do Mundo (1991). São também as minisséries Anos Dourados, (1986) e Anos Rebeldes (1992), Paraíso Tropical (2008). Sua última produção foi Babilônia (2015), foi a última produção do autor exibida pela TV Globo.

É também de Gilberto Braga a adaptação para a televisão de Escrava Isaura, romance escrito por Bernardo Guimarães, em 1875. Escrava Isaura se tornou uma das novelas de maior sucesso produzida no Brasil e exportada para vários países.

Á Marília Mendonça, Nelson Freire, e Gilberto Braga, os votos desse blog para que façam uma caminhada espiritual tão ou mais iluminada do que foram as suas caminhadas terrenas.


Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates