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Os Pôncio Pilatos da cena política

Posted by Cottidianos on 00:54
Terça-feira, 26 de junho


 O caro leitor, ou leitora, já deve ter ouvido, ou até mesmo feito uso dessa expressão popular: Lavo minhas mãos. Ela é muito usada por aqueles que desejam isentar-se de uma responsabilidade, em outras palavras, omitir-se.
    A conhecida expressão popular tão usada por muitos, surgiu em um momento crucial na vida de um personagem imensamente popular na história da humanidade: Jesus Cristo, e funcionou como região fronteiriça entre a liberdade e a condenação de um homem justo à morte na cruz. Sendo que a morte na cruz era usada na antiguidade para condenar àqueles que haviam cometido faltas graves.
    Apesar de este não ser este um antigo que discorra sobre religião, permita o leitor, que se faça nele um breve mergulho neste momento tão importante da história cristã.
   Nos longínquos dias em que se sucederam os fatos referentes à paixão, morte, e ressurreição de Cristo a popularidade deste personagem, vinha crescendo vertiginosamente e isso estava incomodando bastante os líderes religiosos daquela época. Aliado a isso, os milagres que o mestre Jesus fazia e, principalmente, as coisas que ele dizia, eram motivo de preocupação para os líderes religiosos, uma vez que os ensinamentos e as ações de Cristo poderiam, por sua vez, inibir os ensinamentos, as ações, e, principalmente, as influências exercidas por eles, junto à população.
   Por tudo isso, os opositores de Cristo, procuraram — como se procura agulha no palheiro — um motivo para tirá-lo da cena, e, enfim, conseguiram.
   Era época de Páscoa e Jesus havia sido preso. Agora ele estava no Palácio de Pâncio Pilatos, governador da Judéia, e por este era interrogado. Também, preso e condenado, estava um fora da lei muito conhecido, chamado Barrabás.  Era costume, por ocasião de Páscoa, o governador soltar um preso à pedido dos chefes dos sacerdotes.
   Entre um inocente e um fora da lei, eles escolheram ser benévolos para com o fora da lei.
   Já naquela época os interesses pessoais e políticos falavam muito mais alto que o senso de justiça. Pilatos, então, não querendo manchar sua reputação perante aos chefes dos sacerdotes e principalmente, junto ao imperador de Roma, Tibério César, colocou sua carreira política acima daquilo que se espera de um governante justo.
   Dessa forma, querendo evitar problemas, para sua administração, mesmo sabendo que estava diante de um inocente, pediu que lhe trouxessem uma bacia com água e, lavando as mãos disse: “Estou inocente do sangue deste justo. Lavo minhas mãos. Fique o caso convosco“, entregando, em seguida, Jesus para ser martirizado.
   E assim, mesmo sabendo que condenava um inocente, Pilatos entregou Jesus aos seus algozes para que o chicoteassem, zombassem, cuspiam-lhe na face, e o crucificassem.
Já faz algum tempo que o eleitor brasileiro mostra tendências de que pode adquirir o mal de Pôncio Pilatos, qual seja: uma tendência em omitir-se, lavar as mãos. Esse fato aconteceu mais uma vez neste domingo (24) no estado do Tocantins. Naquele estado, foram realizadas eleições fora de época para governador. Realizada em duas etapas, a disputa levou para o segundo turno os candidatos Mauro Carlese (PHS) e Vicentinho (PR). Na eleição realizada no último domingo, Carlese levou a melhor, tendo sido eleito o novo governador do Tocantins.
No Tocantins aconteceu o seguinte. Em 2014 foram eleitos para o governo daquele estado, Marcelo Miranda (MDB), governador, e Claúdia Lelis (PV), vice-governadora. A chapa formada por eles foi eleita com mais de 360 mil votos. Entretanto, em 22 de março deste ano, o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), chegou à conclusão de que a chapa havia sido eleita a partir de doações ilegais para a campanha eleitoral dos dois candidatos em 2014. Em consequência disso, os dois tiveram os mandatos cassados.
O TSE exigiu ainda que os dois deixassem os cargos imediatamente, e convocou novas eleições com primeiro turno realizado no último 03 de junho. Interinamente, assumiu o cargo o presidente da Assembleia Legislativa, Mauro Carlese (PHS).
Carlese seguiu no governo interino até 06 de abril devido ao fato de o “bondoso” ministro do STF, Gilmar Mendes, ter acolhido petição apresentada pelos advogados de Marcelo e Claúdia e, em decisão liminar, ter suspendido a   decisão do STF, proferida em março. Enquanto os recursos eram julgados os dois ocupantes do cargo voltaram ao poder, tendo Carlese que sair do cargo.
Em 17 de abril, o TSE negou os recursos apresentados pelos advogados de defesa do governador e da vice-governadora, decidindo manter a cassação da candidatura dos dois. Além disso, suspendeu a ordem temporária dada por Gilmar Mendes. Também foi confirmada a data das eleições para o dia 03 de junho.
Fechando a questão sobre quem ficaria no comando político do estado, Mauro Carlese foi eleito governador com 368.553 (75,14% dos votos válidos). O outro candidato, Vicentinho, obteve 121.908 votos (24,86% dos votos validos).
O que chamou a atenção, entretanto, foi a quantidade de eleitores do estado do Tocantins que lavaram as mãos na eleições deste dia 24 de junho. 51,83% dos eleitores, simplesmente, não escolheu nenhum candidato em segundo turno.  
Se esses eleitores fossem, de fato, um candidato ao governo teriam vencido Carlese e Vicentinho, pois a soma dos votos brancos, nulos, e abstenções somou o total de 527.868, enquanto que a soma dos votos conquistados pelos dois candidatos que concorreram ao pleito foi de 490.461. No primeiro turno, quase a metade dos eleitores não havia votado em nenhum candidato.
Além do Tocantins, outros 7 outros municípios voltaram às urnas no domingo para escolher novos prefeitos pelo mesmo fato que motivou a eleição fora de época no Tocantins: os vencedores das eleições municipais de 2016 tiveram seus mandatos cassados pela Justiça Eleitoral. Os 7 municípios a realizarem eleições suplementares para prefeito e vice-prefeito foram: Em Minas Gerais; Santa Luzia, Itanhomi, e Timóteo. No Rio de Janeiro; Cabo Frio e Rio das Ostras. Outros dois municípios foram: Moju, no Pará, e Santa Cruz das Palmeiras, em São Paulo.
Esse fato preocupante, que é a omissão dos eleitores, já havia sido notado nas eleições suplementares para governador e vice-governador no Amazonas em 2017, quando quase 50% dos eleitores de lá não compareceram, no segundo turno, para escolherem algum candidato.
Nas eleições municipais para prefeito em 2016, o número de abstenções, votos brancos e nulos superaram os votos dos candidatos eleitos em cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte, e Porto Alegre.
Nas eleições presidenciais de 2014, o eleitor já dava sinais de que seguiria essa tendência de lavar as mãos. Naquele ano, o número de eleitores que não escolheu nenhum candidato chegou a 27,7% dos votos.
Será que o que aconteceu no Tocantins no domingo passado é uma previa do que acontecerá nas eleições de outubro? Será mais um recado dos eleitores para os candidatos e partidos que fingem em não entender o que se passa na cabeça do eleitor?
Adianta alguma coisa o lavar as mãos? Omitir-se?
É certo que, diante de tantos escândalos e assaltos aos cofres públicos, é grande o desanimo do eleitorado brasileiro com a classe política, mas adianta alguma coisa cruzar os braços e fingir que nada acontece? Ou que se fingir de estatua irá resolver os graves problemas que o país atravessa?
Triste o país em que a escolha de seus representantes se dá pelo menos pior. Entre dois, escolher aquele que é menos ruim. Tem sido assim no Brasil. Porém aquele que se abstém, ao contrário do que ele mesmo pensa, também está se posicionando politicamente da pior forma possível. Pode ser, por intermédio de seu desinteresse, seja eleito o pior e não o menos o ruim, e isso, será péssimo para todos.
Fazer-se de Pôncio Pilatos e lavar as mãos é perigoso, pois enquanto o eleitor se omite, cruza os braços, finge não participar do processo político, os chefes dos sacerdotes modernos do mundo político continuam a incitar a condenação de muitos inocentes Brasil afora à morrer na cruz do abandono e do sofrimento, enquanto eles, chefes dos sacerdotes modernos se fartam em banquetes de corrupção e se alimentam de suas práticas desumanas, corruptas e miseráveis.

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Os deuses do futebol e o brilho fugaz

Posted by Cottidianos on 01:21

Segunda, 18 de junho



Os deuses do futebol desembarcaram na Rússia. Vieram do Monte Olimpo, morada dos deuses desde tempos imemoriais. Em suas galáxias de origem eles se reúnem entre si para disputarem seus campeonatos municipais, estaduais, e nacionais. Também se reúnem para disputas entre galáxias vizinhas nos campeonatos continentais. Porém a grande festa, a grande celebração ocorre a cada quatro anos. A esse grande duelo eles resolveram chamar de Copa do Mundo.
A primeira edição desse grande evento aconteceu em 1930, e o planeta escolhido foi o Uruguai.  O evento foi realizado entre os dias 13 a 30 de julho daquele ano. O motivo da escolha foi que o Uruguai comemorava o primeiro ano do centenário de sua primeira constituição. Um segundo motivo foi que a Seleção Uruguaia de Futebol havia conquistado a medalha de ouro nos Jogos Olímpicos de Verão de 1928. A primeira Copa do Mundo foi organizada pela FIFA, poderosa entidade no mundo do futebol. Desde então a poderosa FIFA organiza o campeonato a cada quatro anos.
Como país sede da Copa do Mundo de 2018, o planeta escolhido foi a Rússia. O país dos czares. Pelo menos no período de 14 de junho a 15 de julho a Rússia está com a bola toda.
As 32 naves espaciais repletas de atletas, técnicos, e auxiliares, que disputam a edição do evento neste ano, desembarcaram naquele planeta, algumas com muita pompa, outras com muita discrição, mas todas com muita esperança de levantar a taça de campeão.
Entretanto, nessa enorme galáxia chamada futebol, nem todas as equipes tem realmente a chance de brigar pelo título de melhor do mundo. Apenas uma ostentará esse título. Algumas equipes sabem que não tem a menor chance contra os gigantes do mundo da bola, mas, enquanto houver campeonato, haverá esperança, e uma vez que esta é a última que morre, e uma vez que, em Copas do Mundo, sempre há espaços para as zebras e os azarões, todo mundo, as equipes mais fortes, e as mais fracas também, continuam correndo atrás da bola com muito esforço e tenacidade, na esperança de, ao final, ser coroadas com os louros da vitória.
Porém, mesmo que não ganhem coisa alguma, restará para as equipes não favoritas, a alegria de ter feito parte da festa, e o esforço de continuarem sempre melhorando para, algum dia, quem sabe, estar entre o staff que já ganhou o título de melhor seleção do mundo.
A ascensão profissional, o sucesso, está para o mundo do futebol como o espermatozoide está para o óvulo. No caso do segundo, há uma corrida feroz para ver quem ver quem fecunda o óvulo e ganha o direito á vida. Envolvidos nessa guerra estão milhões de espermatozoides, entretanto apenas um em 300 milhões consegue a façanha e o milagre da fecundação — com raríssimas exceções mais de um espermatozoide chega ao óvulo, é o caso dos gêmeos, e mais raros ainda, os trigêmeos e os quadrigêmeos.
Portanto, cada um de nós, humanos que somos, apesar de todas as adversidades que enfrentamos na vida, pode bater no peito, e dizer: sou um vencedor. Ainda que você mesmo duvide disso, pense nos 299 milhões que você venceu na corrida para chegar ao útero de sua amada mãe.
No mundo do futebol também é assim. A luta é constante. É coisa de matar um leão por dia. Muitos garotos tem o sonho de ser astros do futebol, mas pouquíssimos conseguem. Os campinhos de várzeas Brasil afora não nos deixam mentir. Até mesmo para os que conseguem um lugarzinho nas categorias de base dos times profissionais, mesmo para esses alcançar o estrelato é coisa difícil.
Imaginem então num país como o nosso em que o apoio ao esporte é tão precário e relegado a segundo plano. Infelizmente, ou felizmente — depende do ponto em que se observe a situação — descobrimos, não faz muito tempo, como é que a banda toca por aqui. Sabemos agora para onde vai o dinheiro que poderia ser investido nos projetos e investimentos que poderiam transformar o país numa fábrica de craques que nos orgulhassem em todas as áreas do esporte e não apenas no futebol, infelizmente, para muitas crianças e adolescentes as aspirações a uma bem-sucedida carreira esportiva são sonhos que morrem pelo caminho como a imensa maioria dos espermatozoides que não fecundam óvulos.
Outras nações, chamadas nesse artigo de planetas, dão prioridade a projetos esportivos que incentivam e despertam os atletas e craques adormecidos dentro de cada menino, de cada menina que deseja dedicar sua vida ao esporte. Esse países aprenderam uma lição ainda mais importante: qualquer caminho para o sucesso e para uma carreira sólida, passa pela educação. Então, se eles são grandes no esporte, é porque antes foram enfáticos na educação de seus pequenos e pequenas. Dessa forma, mesmo que os pequenos não se projetem no esporte, o cidadão, ou cidadã, está pronto para se projetar em qualquer outra área.
Talvez, essa falta de planejamento e investimento em estrutura no futebol explique em parte a queda de rendimento no futebol brasileiro, coisa que se reflete nos campeonatos estaduais e nacionais.
Ainda falando dos deuses que desembarcaram na Rússia, alguns poucos atingiram o topo da fama, sendo reconhecidos em qualquer parte dessa imensa galáxia chamada Terra.
Neymar Junior. Cristiano Ronaldo. Leonel Messi. Qual criança ou adolescente que sonha com o estrelado no mundo do futebol não conhece esses nomes? Eles, como tantos outros famosos jogadores, são amados, idolatrados, venerados, em qualquer canto do planeta.
Esses jogadores deixaram de ser meros indivíduos para se tornarem empresas. Empresas que faturam milhões através dos contratos com clubes famosos e também com merchandising.
Há também os que já experimentaram o brilho e a glória dos estádios, e que já não ouvem mais os aplausos e ovações, mas que deixaram seus nomes para sempre escritos nos céus da bola. Esses deixaram seus legados através da carreira solida que construíram e com a dedicação a que se entregaram ao esporte, como é o caso do brasileiro rei Pelé, do argentino Maradona, do português Eusebio, do alemão Beckenbauer, do italiano Platini, e tantos outros brasileiros e estrangeiros.
Até meados de julho, o mundo acompanha o show de bola que acontece nos gramados russos. Por lá desfilarão os deuses do futebol com suas jogadas, dribles e defesas maravilhosas. Nos emocionaremos e nos decepcionaremos. Muitos atletas derramarão lágrimas de alegria ou de dor. Todos brigarão valentemente. Mas apenas uma seleção levantará a taça de campeã.
Melhor seria se este vencedor, e todos os que participam deste campeonato se lembrassem de todas as crianças que sonham com uma oportunidade na vida e no esporte. Melhor ainda seria se as mãos deles fossem tão longas que pudessem chegar à mão dessas crianças e as puxar para cima, para o sucesso, e que o coração desses atletas fosse tão grande que pudesse iluminar essas crianças e transformá-las.
A apoteose seria se todos os deuses que desfilam pelos estádios russos, se lembrassem de que as glorias humanas passarão, e que os aplausos cessarão algum dia. E, no dia em que isso acontecer, eles se descobrirão tão humanos quanto qualquer outro humano e, como tais, apenas uma gota ínfima no mar da vida, do qual o Deus maior, o Deus verdadeiro, é o regente.
Façamos votos de que todos, atletas ou não, compreendam que o deus da ilusão, pode até ter nervos de aço, e o brilho da glória e do poder, mas eles terão sempre os pés de barro, e que apenas se abandonando nos braços do Deus infinito, o homem cumpre sua verdadeira essência, e encontra a verdadeira missão.

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Serial Killers, corrupção, e corruptos

Posted by Cottidianos on 23:45

Domingo, 10 de junho


Sentar confortavelmente em frente à telona ou à telinha... E tremer de medo e de horror. Para quem gosta de filme do gênero terror é um prato cheio. Quem não se lembra de ou pelo menos já ouviu alguma menção a Jack, o estripador, um homem, cujo divertimento era atacar prostitutas em ruas desertas nas áreas mais pobres de Londres, durante a solidão da noite, ou do fino, educado e meticuloso médico Hannibal Lecter, em O Silêncio dos Inocentes, ou do terrível e assustador Freddy Krueger, em A Hora do Pesadelo?
De personagens frios, sanguinários e calculistas está recheado o cinema. Respiramos aliviados quando o filme termina e os fantasmas vão embora. Trememos de medo quando vemos que muitos deles foram inspirados em casos reais, como é o caso de Jack, o estripador.
Ultimamente, em nosso país, temos sentado em frente às nossas telinhas da TV, do computador, ou em um sofá, ou banco de praça, lendo um jornal ou revista, e procurado se inteirar do que acontece no mundo político. Arrepiamos os cabelos quando vemos a grande quantidade de dinheiro que sai dos cofres públicos. Trememos quando vemos do que são capazes os políticos, empresários, e até mesmo cidadãos comuns quando se trata de levar vantagem em cima de outrem.
Gostaríamos de respirar aliviados como se fosse um filme que termina e os fantasmas vão embora. Infelizmente, a corrupção no Brasil não é filme cujos fantasmas se esvaem ao final. Ao contrário, eles parecem jorrar aos borbotões, a cada dia.
O que tem em comum os serials killers e os corruptos? Ambos são frios, calculistas, despidos de qualquer remorso ou arrependimento. Também não há neles aquele sentimento que faz com o que o homem perceba a luz no fim do túnel e repare os seus erros: a culpa.
Alguém por acaso já viu ou ouviu algum político admitir que tivesse praticado algum ato ilícito? É quase certo que não. Todos eles, ao serem acusado, negam peremptoriamente qualquer envolvimento. A história é sempre a mesma: não sei, não vi. Mesmo quando são pegos de calças curtas, ou com fortunas dentro da cueca.
Quem também já não ouviu falar do famoso slogan “rouba, mas faz”, tão enfaticamente associado a Paulo Maluf? Apesar de assim ser, Maluf, entretanto, não foi o criador desse infame slogan. O bordão surgiu ainda na década de 50. Havia em São Paulo um político corrupto chamado Adhemar de Barros. Os adversários dele o chamavam de ladrão e os cabos eleitorais de Adhemar contra-atacavam dizendo que ele roubava mas fazia. Ou seja, se ele roubava, pouco importava, o que importava mesmo eram as obras e ações por ele realizadas. Roubar era apenas um detalhe.
E Maluf roubou dos cofres públicos e muito. As obras por ele realizadas tornam-se uma gota em meio ao oceano se comparado ao patrimônio amealhado por ele à custa do dinheiro público. Enfim a justiça tardou, e tardou muito, mas conseguiu chegar a esse figurão da política brasileira.
E assim, aos 86 anos, exercendo seu quarto mandato como deputado federal, na manhã de quarta-feira, do dia 20 de dezembro de 2017, antecipando-se a uma ordem de prisão expedida pelo ministro do STF, Edson Fachin, Maluf entregou à Polícia Federal.
Ele havia sido condenado a 7 anos e 9 meses de cadeia, pelo crime de lavagem de dinheiro quando ele ainda era prefeito de São Paulo entre 1993 e 1996. Atualmente, ele cumpre prisão domiciliar. Apesar de condenado e preso, a Câmara dos Deputados não cassou o mandato do deputado. Os deputados foram “solidários” ao companheiro de parlamento, e apenas o afastaram de suas funções parlamentares. E assim, o dinheiro público continua patrocinando um bandido. São os contrassensos da política e dos parlamentares brasileiros. Isso nos leva a crer que eles não consideram corrupção como crime grave, talvez quiçá, um leve desvio de comportamento.  
Seguindo essa trilha chegamos ao ex-presidente Lula, também ele condenado e preso. Mesmo assim, Lula ainda goza de muita popularidade entre os seus eleitores. Talvez, consciente, ou inconscientemente, o raciocínio seja o mesmo aplicado ainda nos idos de 1950 pelos cabos eleitorais de Adhemar de Barros: ele roubou, mas desenvolveu muitos e bons programas sociais.
Pode ser ainda que isso explique recente pesquisa do Datafolha que, na corrida eleitoral, mostra Lula liderando a pesquisa com 30% das intenções de votos. A pesquisa feita entre 2,284 eleitores, nos dias 06 e 07 de junho, em 174 cidades, repete o mesmo cenário da que foi feita em abril.
Entretanto, com o líder nas pesquisas, preso em uma cela da polícia federal em Brasília, é bem pouco provável que ele venha a ser candidato, e mais improvável ainda que a justiça eleitoral lhe dê aval para que concorra nas próximas eleições presidenciais. Aliás, essa é uma tecla na qual o PT tem batido insistentemente: o de que o ex-presidente venha a entrar na disputa, esquecendo-se com isso de lançar um plano indicando um candidato próprio que não seja Lula. Talvez quando venha a querer a fazer isso seja tarde demais.
Em um cenário em que o líder petista não concorra, Jair Bolsonaro (PSL-RJ) assume a liderança com 19% das intenções de voto, seguido de Marina Silva (Rede) com 15%. Ciro Gomes (PDT) oscila entre 10 e 11%, e o candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, tem 7%.
Ainda segundo a pesquisa, caso conseguisse driblar o veto da justiça a sua candidatura, Lula seria imbatível, vencendo com diferença confortável seus adversários. Numa disputa entre Lula e Alckmin, o petista teria 49% contra 27% do peessedebista; com Marina ele teria 46% contra 31% da candidata da Rede; e concorrendo com Bolsonaro Lula teria 49% contra 32% de Bolsonaro.
Mas todo esse cenário pode mudar, pois há um complicador em todo esse cenário que são os eleitores que ainda não tem preferencia por nenhum candidato. Estes eleitores somam 21% com Lula concorrendo, e de 34% sem ele na disputa. Esses eleitores podem desestabilizar o quadro apontado pelas pesquisas.  
Sendo mais conhecidas pelos eleitores, a candidata Marina Silva lidera as pesquisas em um cenário de segundo turno sem Lula nas eleições. As posições de Marina ficariam da seguinte forma: contra Bolsonaro, este teria 32% e Marina 42%, se o adversário fosse Alckmin, Marina teria 42% contra 27% de Alckmin.
Ainda segundo a pesquisa Datafolha, a avaliação que os brasileiros fazem do atual presidente, Michel Temer piorou. 82% dos brasileiros consideram o governo dele ruim ou péssimo. Com isso, Temer leva o troféu de presidente mais impopular desde a redemocratização.
E não é difícil entender essa impopularidade. Em primeiro lugar há os eleitores do PT que ainda hoje levantam a bandeira de que Temer chegou ao poder através de um golpe que derrubou a presidente Dilma Rousseff, da qual era vice na chapa. Esses, certamente, não aprovarão o governo.
De outro lado estão os brasileiros que querem um Brasil livre dos corruptos, e Temer está envolvido até o pescoço nos tentáculos da corrupção. As denúncias de corrupção contra ele não retrocedem apenas avançam. Esse grupo de brasileiros, que não são poucos, também, com certeza, reprovam o governo.
Sorrindo ironicamente para ele de outro lado, está a lenta recuperação da economia, e, sem dar aviso de chegada veio a crise dos caminhoneiros, que pesou bastante na balança da popularidade do governo.
Enfim, o grande teatro das eleições no Brasil, com seus personagens que muito prometem e pouco fazem se aproxima, e está cada vez, mas difícil prever como será o decadente espetáculo no picadeiro do circo. A verdade é que desde a redemocratização o Brasil ainda não escolheu aquele presidente do qual se possa dizer: é o cara. Ao contrário, tentando escapar dos lobos tem ido parar diretamente na boca deles. Escolhem a pior opção achando que estão escolhendo a melhor.
Dessa vez, também é de arrepiar, diante de tantas más notícias no campo da politica e da economia, os brasileiros estão sendo tentados, novamente, a correr para a boca dos lobos, e dessa vez, podem, realmente, ser engolidos por eles. Depois não adianta chorar. O bom disso tudo é que as eleições estão longe e dá muito tempo de mudar de ideia.
Ainda falando de um dos serial killers que mais tem matados brasileiros nas últimas décadas, a corrupção, a respeito desse monstro, disse ainda em junho de 2016, o procurador Deltan Dallagnol, quando falava para a comissão da Câmara que discutia as 10 medidas de combate à corrupção: “A corrupção mata, a corrupção é uma assassina sorrateira, invisível e de massa. Ela é uma serial killer que se disfarça de buracos em estradas, falta de medicamentos, crimes de ruas e pobreza”.
O Brasil tem avançado no sentido de enfraquecer esse monstro. Já conseguiu alguns avanços, mas muitos esforços ainda serão necessários pois o monstro é grande demais. Se quisermos que o Brasil sobreviva, que saia ileso dessa luta é preciso exterminar de vez o serial killer.


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Após a tempestade vem a bonança?

Posted by Cottidianos on 19:21

Domingo, 03 de junho


Depois da tempestade vem a bonança, diz o ditado popular.
O Brasil viveu, com a greve dos caminhoneiros, uma tempestade, e das grandes, daquelas com direito a raios, trovões, e tornados. Não houve setor que não fosse atingido por ela. Escolas, universidades, hospitais, mercados, templos religiosos, de forma ou de outra sofreram as consequências da paralisação dos caminhoneiros. Dos postos de combustíveis nem se fala. O caos. Com a falta de combustível ou diante da ameaça dela, valeu a lei do mercado: maior procura, preço nas alturas.
Alguns aumentos foram realmente abusivos. Formaram-se filas quilométricas de carros cheios de motoristas desesperados por abastecer o veículo. A rede de postos de combustível em todo o país não suportou tal volume de pessoas e tal procura e muitos deles fecharam por falta de combustível.
Enfim, o país começa a retornar a normalidade, aos poucos, é verdade. Pois haja combustível para abastecer tanto posto parado. Os produtores rurais que tiveram enormes prejuízos com seus produtos que estragaram nas gigantescas filas de caminhões formadas nos pontos de bloqueio de rodovias, tendem a repassar esse prejuízo para os clientes.
Em pronunciamento feito no domingo, 27, o presidente Michel Temer, anunciou um novo acordo com a categoria. Em longa reunião feita no Palácio do Planalto, ficou decidido entre o governo e os representantes da categoria, que o preço do óleo diesel ficará congelado por dois meses. Após esse prazo o diesel será reajustado apenas a cada trinta dias. O preço do diesel será reduzido em 0,46 centavos nas refinarias, e essa redução deverá chegar às bombas.
Ainda em seu pronunciamento, o presidente anunciou três medidas provisórias a serem tomadas. A primeira delas é isenção da cobrança de pedágio por eixo suspenso dos caminhões nas rodovias do país. Pela segunda medida serão reservados 30% do frete da CONAB (Companhia Nacional de Abastecimento) para os autônomos. A terceira Medida Provisória cria uma taxa mínima para o preço de fretes.
Mesmo após o acordo, muitos caminhoneiros ainda relutavam em aceitar, continuando parados em vários pontos do país, e, só aos poucos, foram liberando as rodovias e desfazendo os bloqueios.
Sem dúvida a paralisação dos caminhoneiros foi um desgaste enorme para um governo já desgastado e impopular, o mais impopular desde a abertura democrática. É fato também que o Palácio do Planalto não soube lidar com a situação que se anunciava ameaçadora, como um tornado.
Quando se tem notícias de que um tornado se aproxima o que faz um homem de bom senso? Fica de papo pro ar? Senta no sofá e relaxa? Nada disso. Quando se tem notícias de que um deles se aproxima há que agir, e rápido.
Tanto para o governo quanto para o cidadão comum há uma série de cuidados que se deve ter para que o gigante enfurecido passe sem causar maiores danos à vida humana.
No caso da paralisação dos caminhoneiros o governo não foi sensato. Preferiu as primeiras opções: ficar de papo por ar e relaxar.
Antes da paralisação, a Associação Brasileira dos Caminhoneiros (Abcam) informou ao governo de que uma grande paralisação estava a caminho se as reivindicações da categoria não fossem atendidas no sentido de compensar as perdas no frete decorrentes da alta do óleo diesel. A equipe de governo simplesmente ignorou o ofício enviado pela entidade. Guardou-o na gaveta.
No dia 21 de maio, os caminhoneiros cumpriram o prometido: fecharam as rodovias do país, impedindo que caminhões chegassem às refinarias para abastecer e caminhões abarrotados de produtos agrícolas chegassem aos centros de abastecimento.
Primeiro dia de paralisação já começou forte. Segundo dia, as filas de caminhões nas estradas aumentando. Terceiro dia, a situação começou a ficar tão quente quanto o sol escaldante do deserto. E o governo? Sentado no sofá, só assistindo o circo pegar fogo. Apenas no fim do terceiro dia ele se deu conta de que havia um incêndio que era preciso apagar. Mas já era tarde demais as chamas já tinha atingido a casa inteira. A paralisação já havia atingido o país e a ameaça de desabastecimento se tornara real.
Mas não é que a reação tenha sido rápida. De forma alguma. Foi tipo aquela coisa: Fulano tem algum extintor de incêndio por aí? Alguma mangueira?  Não. Então, por favor, alguém vai compra o que precisa. Ou seja, reação lenta demais.
Outra grande bobeira do governo foi sentar-se à mesa de negociações sem antes exigir o desbloqueio das estradas e rodovias. Ele deveria ter sido mais enérgico: fazemos o acordo, mas antes vocês liberam as rodovias.
Erros por cima de erros, o governo acionou as forças armadas como forma de ameaça. Poderia ter conversado com os governos dos estados para que, cada qual, usasse a polícia estadual.
Na noite de quinta-feira, 24, os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil), Carlos Marun (Secretaria de Governo), Eduardo Guardia (Fazenda) e Valter Casimiro (Transportes) anunciaram que, após seis horas de reunião com representantes dos caminhoneiros, havia sido fechado um acordo para por fim a paralisação.
Veio à manhã de sexta-feira e nada aconteceu. As estradas continuaram bloqueadas e os postos sem combustível. De braços cruzados, os caminhoneiros diziam que quem havia se sentado à mesa de negociação com o governo não os representava. Isso apenas mostrou ainda mais despreparo do governo, pois nem, exatamente, com quem negociarem eles sabiam.
E assim erros e mais erros por parte da equipe governamental foram se sucedendo, desgastando o governo, prejudicando a população, deixando descontentes os caminhoneiros, e desvalorizando a Petrobrás.
O ditado popular citado no início do texto: Depois da tempestade vem a bonança, para os brasileiros, não serviu nesse caso.
Em decorrência desse acordo feito com os caminhoneiros, o prejuízo para os cofres públicos é de R$ 9,5 bilhões, segundo o ministro da Fazenda Eduardo Guardia. “Com relação aos R$ 9,5 bilhões, nós faremos o seguinte: nós anunciamos no último relatório bimestral de execução orçamentária e financeira um excesso de resultado de R$ 5,7 bilhões, então, esses R$ 5,7 bilhões serão utilizados, usaremos esta margem financeira e orçamentariamente, usaremos a reserva de contingencia", disse o ministro. “Só que ainda faltam R$ 3,8 bilhões para chegar aos R$ 9,5 bilhões. Estes R$ 3,8 bilhões serão obtidos através de corte de despesa do orçamento. Nós teremos sim que cortar R$ 3,8 bilhões de despesas da execução do orçamento deste ano para poder fazer frente a este gasto de R$ 9,5 bilhões", concluiu ele.
Ou seja, para as finanças de um país que já está com um enorme rombo no orçamento, mais um é coisa nada agradável. Em janeiro, o presidente havia sancionado o Orçamento para o exercício de 2018 com previsão de rombo na ordem de R$ 157 bilhões.
Após a paralisação, os brasileiros não viram redução no preço da gasolina, ao contrário, esta aumentou de preço nas refinarias, onde o litro ficou 2,25% mais caro. Isso é sinal de as coisas andam mal das pernas quando se trata da política de preços da Petrobrás.
Por falar nisso, outra consequência da paralisação dos caminhoneiros, foi a queda do presidente da estatal, Pedro Parente. Ele estava no comando da empresa desde 2016, e entregou o cargo na sexta-feira, 01. No lugar de Pedro Parente assumirá Ivan Monteiro, um engenheiro elétrico que fez carreira no Banco do Brasil. Monteiro participa da diretoria financeira da Petrobrás desde 2015. Foi ele quem iniciou na companhia um programa de gestão de dívidas, jogando para 2020, parte do excessivo do volume de vencimentos.
Depois da dilapidação dos cofres da Petrobrás, esquema revelado pela Lava Jato, o presidente da Petrobrás talvez tenha usado de remédios amargos demais para a população de um modo geral, a fim de recuperar os prejuízos. Que o próximo não repita a dose, pois a dor de cabeça acaba sobrando sempre para a população, além de doer também no bolso.

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