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O Brasil nas mãos de um aventureiro

Posted by Cottidianos on 22:51

Domingo, 29 de agosto

Quando chegar o momento / Esse meu sentimento

vou cobrar com juros, juro

...

Você vai pagar e é dobrado

Cada lágrima rolada / Nesse meu penar

Apesar de você, amanhã há de ser outro dia

Onde vai se esconder da enorme euforia

Como vai proibir/ Quando o galo insistir

Em cantar

(Apesar de Você – Chico Buarque)





Tem alguém sensato nesse governo?

A julgar pelos atos e atitudes vemos que esse é um governo de lunáticos, a começar pelo mandatário da nação, aquele que, como ele mesmo diz, tem o poder da caneta. Obviamente, há vários tipos de amalucados. Há aqueles que ficam quietos no seu canto, e aqueles que fazem barulho. Há os que rasgam dinheiro e os que jogam pedras na lua.

Entretanto, a espécie de lunáticos encontradas nesse governo é uma espécie perigosa. Eles querem fazer pensar que é problema de somenos importância uma pandemia gravíssima. Pegam uma perigosa estrada de desvio quando o assunto se trata de proteger o meio ambiente. O mundo todo caminha numa direção, a direção correta, e eles percorrem o caminho inverso, o que leva ao atraso e a destruição do meio ambiente.

Querem jogar para debaixo a fome e o desemprego que assolam o país, dizendo que tudo isso são problemas de menor importância com os quais não devemos nos preocupar, pois o país está decolando. Decolando para onde Sr. Paulo Guedes? Para o abismo? E desde quando decolar para o abismo é uma aventura prazerosa?

E há os que, como o ministro da Educação, Milton Ribeiro, por exemplo, que acham que as crianças com deficiência atrapalham o processo normal de educação e querem excluí-los do convívio social com as outras crianças, criando para elas salas especiais. Como verniz da hipocrisia dão um outro nome para a palavra segregação.

Tudo isso faz parte do conjunto de um espetáculo tétrico que está em cartaz no teatro político brasileiro, no qual os atores desenvolvem cenas de uma estupidez sem tamanho e sem precedentes na história política brasileira. Porém, a cena mais ameaçadora e que também integra esse macabro espetáculo é a cena da ameaça à democracia.

Essa não é uma cena passageira. É ela o fio condutor da peça inteira. O ator principal, usando sempre sua grotesca e tosca fantasia de ditador  ̶   a qual ele sonha tirar do armário qualquer dia desses e fazer dela sua veste real  ̶ com frequência, dentro do próprio ato, ou entre um ato e outro, conclama os demais atores da peça teatral a exaltá-la.

Numa subversão de valores, interpretando uma versão tresloucada de Jesus Cristo, ele prega aos seus súditos, e os ensina que a democracia é um regime que oprime, que tolhe as liberdades do indivíduo, que censura, que mata, e que, por isso, deve ser morta em um 7 de setembro qualquer.

De acordo com o enredo dessa peça, escrita por algum tirano de plantão, após a morte da democracia, surgiria, glorioso, o regime opressor que traria a liberdade, o progresso, e a prosperidade aos habitantes do país. Nesse mundo ideal, a imprensa livre, tombada em combate ao lado da democracia, também já não mais existe para atrapalhar os planos dos governantes, já não mais apontaria os erros, e se desdobraria para apurar, averiguar, investigar, publicar, e trazer à tona os malfeitos dos governantes.

Agora, a única imprensa que existe seria a oficial e que se tornaria ainda mais brilhante em um governo negacionista. Todas as dificuldades e problemas do país desapareceriam como num passe de mágica, a nação seria transformada num conto de fadas, no qual tudo é belo e perfeito. Não pode faltar também o final clichê “E foram felizes para sempre”.

Tudo isso está posto na mesa. As cartas estão espalhadas sobre ela. O jogo está dado. Só não vê quem não quer, ou em quem foi colocado uma viseira  ̶  instrumento que se coloca ao lado dos olhos dos cavalos para que eles olhem apenas para a frente.

Há também aqueles que fazem parte do rebanho nos quais foram colocados freios, do tipo daqueles que se amarram na boca dos cavalos para que, ao ser acionados, façam-no parar abruptamente.

Pela quantidade de pessoas que temos visto no Brasil usando freios e viseiras, facilmente podemos concluir que é bem fácil usar os meios de criação de rebanhos sejam eles bovinos, caprinos, ou equinos, e adaptá-los para os humanos.

Esse processo todo é muito complicado, e muito sútil. Há os que embarcam nessa aventura golpista por interesses econômicos, e os que embarcam porque são manipulados pelo primeiro grupo.

Para defender o indefensável, para justificar o injustificável estão sendo usados vários setores da sociedade que, à princípio, deveriam estar ali para defendê-la, para esclarecê-la, e para torna-la mais pacífica.

As igrejas, principalmente as evangélicas, estão sendo usadas. O governo federal tem concedido muitas benesses a esse setor, então os pastores do rebanho, passam a defender, com unhas e dentes, quem prega o negacionismo, um negacionismo que, ao defender remédios sem eficácia, e a imunidade de rebanho ceifou a vida de milhões de brasileiros.

Por esses dias, vários pastores evangélicos, inflados pelo presidente, tem atacado e criticado os ministros do STF, principalmente, o ministro Alexandre de Moraes, que é quem conduz o inquérito das fakes news, atividade na qual estão envolvidos grandes aliados do presidente, os filhos do presidente, e até mesmo o próprio presidente.

E o que são fake news em bom português caros leitores e leitoras? Não são notícias falsas? E qual o melhor sinônimo para notícias falsas? Mentiras, não é mesmo? Então pergunto eu a vocês: Onde está a lógica de se defender alguém que defenda ferrenhamente a produção de notícias falsas?

O fato se torna ainda mais fundamentado na hipocrisia quando parte de pessoas que, por princípio, deveriam defender a verdade. Qual é mesmo o versículo bíblico mais citado pelo presidente? Não é João 8:32 que diz “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará?” E como pode a verdade habitar na mentira?

O presidente Jair Bolsonaro, na base do toma lá da cá, conquista o apoio dos pastores, e o pastores, por sua vez, inflam nos fiéis a ideia de que o certo é errado e o errado é certo, subvertendo os valores cristãos. Incitam seus fiéis ao crime conforme o inciso XLIV, artigo V da Constituição Federal que diz: “constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático”.

Obviamente, caros leitores e leitoras, nem todos os pastores evangélicos embarcam nessa aventura golpista, e nem navegam nesse mar de hipocrisia. Porém, os que embarcam e navegam, já por si só, fazem um grande estrago, e causa tristeza em quem, verdadeiramente, pratica o bom senso e a justiça.

O que foi dito acima em relação aos evangélicos também servem para grupos como agronegócio, os caminhoneiros, e os policiais militares. E mais, uma vez, repito, não são todos dentre esses grupos que estão cegos pelo ódio e dominados pela ignorância. E isso nos dá um pouco de esperança.

Um exemplo de como alguns setores da polícia estão dominadas pelo vírus que quer trazer de volta retrocessos ao nosso país.

O coronel Aleksander Lacerda, comandava 7 batalhões da PM paulista. 5 mil homens, espalhados por 78 municípios da região de Sorocaba, sede do  CPI-7 )Comando de Policiamento do Interior-7), estavam sob seu comando. Em postagens em redes sociais, o coronel convidou seus amigos para participar do ato de 7 de setembro, em Brasília, momento em que os bolsonaristas atacariam o Congresso e o STF, em defesa do voto impresso. Nas postagens, Lacerda chegou a dizer que sentia “nojo” do STF e que o governador, João Dória, é uma “cepa indiana”.

O caso, revelado pelo jornal O Estado de São Paulo, em reportagem de 23 de agosto, mostra como a contaminação das PMs pelo bolsonarismo é perigosa. Sabemos que o sonho de Bolsonaro é que haja uma ruptura, como ele parece não encontrar apoio para isso entre o alto comando das Forças Armadas, então as polícias seriam um caminho. Uma ameaça para tentar tumultuar, e até mesmo, impedir as eleições de 2022.

No dia, 16 de agosto, o coronel postou: “Liberdade não se ganha, se toma. Dia 07/09 eu vou”. São as palavras dele para um ato que a Procuradoria-geral da República classificou como “tentativa de levante”, e que está preocupando a sociedade brasileira.

Depois da revelação e grande repercussão do caso, o governo de São Paulo determinou o afastamento do chefe do CPI-7 coronel Aleksander Lacerda. No dia 25, o comando da Polícia Militar do Estado de São Paulo, designou o coronel Aleksander Lacerda para o Estado-Maior-Especial. O órgão, entre os policiais, é conhecido como “Nasa”. Um lugar para onde são enviados os policiais apenas para não os deixarem sem função.

O coronel não ofendeu apenas o STF e seus ministros. Ofendeu também o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, os integrantes da CPI da Covid, o deputado federal, e ex-presidente da Câmara, Rodrigo Maia, e quem mais se colocasse como obstáculo aos arroubos autoritários de Bolsonaro.

A “Nasa” ada foi uma punição branda para um inimigo da democracia, para um inimigo do Brasil, como o coronel Aleksander Lacerda. A expulsão dele dos quadros da PM teria sido a mais adequada. Afinal, não foram uma ou duas mensagens ofensivas. Apenas entre os dias 1 e 22 de agosto foram postadas nas redes sociais dele cerca de 400 mensagens do mesmo teor que as reveladas pelo jornal O Estado de São Paulo. Ou seja, havia um ativismo grande por parte do coronel.

O presidente Jair Bolsonaro, desde que botou assento na cadeira presidencial, em 1 de janeiro de 2019, tem sido uma verdadeira indústria de fabricação de crises. Uma por dia. Às vezes mais de uma por dia. Assim, como as omissões no enfrentamento da Covid não foram omissões, foram ações deliberadas de deixar o povo brasileiro se contaminar com o vírus, a fim de provocar a tal imunidade de rebanho, e assim poder voltar mais rápido às atividades econômicas  ̶  caminho que levou muitos brasileiros e brasileiras à sepultura  ̶  assim também sabemos que as bravatas de Jair Bolsonaro não são apenas loucura, coisas ditas por dizer: a intenção dele é provocar o caos, e com o caos instalado, decretar um estado de sítio, daí então, para que ele concentre o poder nas próprias mãos, é apenas um passo. Porém, a democracia brasileira resistirá a esse traidor. Traidor, sim, pois um homem que foi eleito pelo processo democrático, e depois dispara suas balas de canhão contra esse processo, não merece outro nome.

Na sexta-feira, 27, no cercadinho, conversando com apoiadores o presidente chamou de idiota que preferia comprar feijão ao invés de fuzil. “Tem que todo mundo comprar fuzil, pô. O povo armado jamais será escravizado. Eu sei que custa caro. daí tem um idiota que diz ‘ah, tem que comprar feijão’. Cara, se não quer comprar fuzil, não enche o saco de quem quer comprar”.

No sábado, 28, ele voltou à carga tóxica de suas palavras. Ele participou do 1 Encontro Fraternal de Líderes Evangélicos de Goiás, em Goiana, DF. Na porta da Igreja Assembleia de Deus, os fiéis o receberam com gritos de “mito”. O presidente fez um discurso de cerca de 20 minutos no qual disse: “Temos um presidente que não deseja e nem provoca rupturas, mas tudo tem um limite em nossas vidas. Não podemos continuar convivendo com isso. Sei que a grande maioria dos líderes evangélicos vai participar desse movimento de 7 de setembro e assim tem que fazê-lo. Está garantido em nossa Constituição. Espero que não queiram tomar medidas para conter esse movimento. A liberdade de se manifestar, vedado o anonimato, está garantida na nossa Constituição, não depende de regulamentação”.

Em certo ponto do discurso ele insinuou que, nas eleições de 2022, não aceitará outro resultado que não seja a vitória. “Tenho três alternativas para o meu futuro: estar preso, ser morto ou a vitória. Pode ter certeza, a primeira alternativa, preso, não existe. Nenhum homem aqui na Terra vai me amedrontar. Tenho a consciência de que estou fazendo a coisa certa. Tem algo mais importante do que nossa vida, é a nossa liberdade”.

Na segunda-feira, 16, o ministro Luis Felipe Salomão, corregedor-geral da Justiça Eleitoral, determinou que as plataformas digitais YouTube, Twitch.TV, Twitter, Instagram e Facebook suspendam repasses de valores publicitários a canais bolsonaristas que são investigados na divulgação de fake news. A decisão atendeu a um pedido da Polícia Federal.

Em seu discurso aos evangélicos de Goiânia, Bolsonaro criticou essa decisão do TSE. Também comentou com ironia aqueles que o acusam de querer dar um golpe de Estado. “Eu já sou presidente. Vou dar um golpe em mim mesmo? Não pensem que muitos querem me tirar daqui em nome da volta da normalidade e da democracia. Querem me tirar daqui pelo poder. A abstinência do dinheiro fácil os torna belicosos. Os fazem reunir, os fazem conspirar. Digo uma coisa a eles: Deus me colocou aqui e somente Deus me tira daqui”.

Assim é o mandatário de nossa nação. Essa semana recebi um desses memes que circulam pelo WhatsApp. Ele mostrava a figura de Bolsonaro em cima de um cavalo. Abaixo a legenda: “O Castigo vem a cavalo”. E eu pergunto: Senhor Deus, que fizemos para merecer esse castigo?

Repito agora, a pergunta que fiz no início deste texto:

Tem alguém sensato nesse governo?

Tem sim.

Quem? Pergunta você.

O general Hamilton Mourão. As coisas poderiam estar bem piores se não fosse ele. Você pode até não concordar com as posições dele, mas não pode dizer que ele, ao contrário do presidente, não é digno do cargo que ocupa.

Perto de Bolsonaro, Mourão deve estar, como diz o ditado popular, “comendo o pão que o diabo amassou”. Pois, como temos visto, para o presidente Jair Bolsonaro, aliado bom é aquele que, como escravo, faz todas as suas vontades. Basta um posicionamento contrário ao seu e o aliado já se torna inimigo. E se for ministro ou de outro escalão do governo, o presidente faz a troca imediatamente, como se trocasse a peça de uma engrenagem.

Porém, não pode fazer isso com o vice-presidente, que foi alçado à Presidência da República pelo voto popular, juntamente com o presidente. Como não pode demitir o vice-presidente Bolsonaro o humilha, maltrata. Faz tempo que Bolsonaro não o convida para as reuniões ministeriais. Bolsonaro queria um vice-presidente que não falasse, e Mourão fala. Desde o início já mostrou que não aceitaria ser um vice-presidente em silêncio.

Mourão, apesar de afirmar lealdade total ao presidente, manifesta suas opiniões, mesmo quando elas vão em sentido contrário ao pensamento de Bolsonaro. Ele também não comunga com ele quando o assunto se trata de falas golpista. Sempre deixa bem claro que a democracia é o melhor caminho e que não aceita a ideia de ruptura.

Mourão tem um projeto e que é não um projeto golpista. Ele pretende disputar o cargo de governador do Rio de Janeiro nas próximas eleições, e está bem cotado entre os favoritos.

No final de julho, em entrevista à rádio Arapuan FM, da Paraíba, Bolsonaro disse: “No meu (caso), (a escolha do vice) foi feita a toque de caixa, mas o Mourão faz o seu trabalho, ele tem uma independência muito grande. Por vezes atrapalha um pouco a gente, mas o vice é igual a cunhado: Você casa e tem que aturar o cunhado do teu lado, não pode mandar o cunhado embora”, disse o presidente.

Essa é a realidade, caros leitores e eleitoras. Se Mourão tem uma paciência de Jó para aguentar Bolsonaro, nós brasileiros que não fazemos parte do cercadinho, nem do rebanho, já perdemos a paciência faz tempo. Resta-nos serenidade para, no momento certo tirá-lo de lá. Precisam as instituições frear, e reagir duramente os arroubos golpistas de Jair Bolsonaro... Antes que o pior aconteça.


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Bolsonero

Posted by Cottidianos on 02:15

 Segunda-feira, 23 de agosto

Os bombeiros todos ganham

Os trinta dinheiros pra aquecer o fogo

Mas eu vejo a chama e tremo, por que sou daqui

Entendo o fogo porque sou daqui

E estas paredes porque sou daqui

E os meus amigos porque sou daqui

E os meus perigos porque sou daqui

(Fagner – Incêndio)

 

Em comunicado do dia 29 de março deste ano, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva anunciou que deixaria o cargo. O ministro não informava o motivo pelo qual estava saindo do comando do ministério da Defesa. Azevedo ficou à frente da pasta por 2 anos e três meses. Marinha, Exército, e aeronáutica são vinculadas ao ministério da Defesa.

Uma frase no comunicado emitido por Fernando Azevedo soou como enigmática. Após agradecer o Presidente da República, e por destacar o tempo que serviu na pasta, ele diz: “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”. Depois, veio a se saber que o ministro fora demitido por Jair Bolsonaro. Os motivos, porém, permaneceram ocultos.

Um dia depois da saída de Azevedo, os comandantes do Exército (Edson Leal Pujol), da Marinha (Ilques Barbosa), e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica), entregaram os cargos. Isso representou um fato inédito, pois nunca antes na história da república brasileira havia ocorrido a demissão dos três chefes da Forças Armadas de forma simultânea, e marca também mais um capítulo na grave crise institucional na qual o país está mergulhado, em grande parte, devido aos arroubos autoritários do presidente, Jair Bolsonaro.

Se, Fernando Azevedo e Silva, ainda guardava algum pudor em não jogar as Forças Armadas dentro do caldeirão político, o seu substituto, o general Walter Braga Neto, que comandava a Casa Civil antes de ir para o ministério da Defesa, faz o jogo do presidente, apoiando em suas esdrúxulas ideias antidemocráticas.

Conforme dito acima, uma frase no comunicado de Fernando Azevedo, quando da sua saída do ministério da Defesa, pareceu enigmática. Em entrevista à revista Veja, publicada em 19 de agosto, Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa e Segurança Pública no governo de Michel Temer no período de maio de 2016 e janeiro de 2019, esclarece o fim do ministério da saída dos chefes das três Forças Armadas que entregaram em fins de março deste ano.

Segundo ele os três foram demitidos por não se dobrarem ao autoritarismo do presidente e seus ataques às instituições. “Foi por não endossar os achaques ao Supremo Tribunal Federal, ao Congresso Nacional e aos governadores, pelas políticas engendradas na pandemia, que, pela primeira vez, os chefes da Aeronáutica, Marinha e Exército foram demitidos. Eles não se dobraram. Os três foram demitidos porque se recusaram a envolver as Forças Armadas nas declarações e nos atos do presidente da República. Toda vez que ele se sente ameaçado, sob o tom e desrespeita os outros poderes, constrangendo as Forças Armadas a endossar esse discurso”.

Na entrevista, Raul Jungmann, vai mais além e fala do motivo real da demissão dos comandantes. “Ele (Jair Bolsonaro) chamou um comandante militar e perguntou se os jatos Gripen estavam operacionais. Com resposta positiva, determinou que sobrevoassem o STF acima da velocidade do som para estourar os vidros do prédio”, diz o ex-ministro.

Diz ainda que os chefes das Forças Armadas questionaram Bolsonaro sobre o absurdo desse pedido e, por isso, foram demitidos. Jungmann, obviamente, não cita a fonte, mas diz ter depoimento a respeito do assunto. Como ex-ministro da Defesa, ele conhece muito bem os bastidores das Forças e Armadas.

Na entrevista à Veja, Raul Jungmann também demonstra preocupação com as eleições do ano que vem diante dos conflitos e confrontos gerados pelo Presidente.

A semana terminou com o presidente jogando mais lenha numa fogueira que já está pra lá de ardente... e abre uma crise sem precedentes entre Poderes na história recente do país.

Ministros e aliados do governo bem que tentaram impedir, mas não obtiveram sucesso algum.  Na sexta-feira, 20, o presidente Jair Bolsonaro cumpriu a promessa e apresentou ao senado um pedido de impeachment contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Bolsonaro cumpriu a promessa pela metade, é verdade, mas cumpriu. Ele tinha ameaçado apresentar pedido de impeachment também contra o ministro do STF e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Carlos Barroso.

Na ação apresentada ao Senado, assinada apenas por ele, Bolsonaro acusa Moraes de crime de responsabilidade e diz que ele atua “como verdadeiro censor da liberdade de expressão ao interditar o debate de ideia e o respeito à diversidade, e ao descumprir compromisso expressamente assumido com este Senado Federal”.

No mesmo dia em que apresentou ao Senado o pedido de impeachment de Moraes, o presidente também apresentou uma ação no próprio STF na qual questiona a constitucionalidade das decisões do órgão no inquérito das fake news. Nele Bolsonaro argumenta que os atos processuais praticados nesse processo estão “contrariando as liberdades individuais e os princípios constitucionais”.

No procedimento, chamado de Ação de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF), o presidente questiona, por exemplo, o fato de o inquérito ter sido instaurado pelo próprio STF, que também é o órgão julgador. E pede a suspensão do inquérito das fake news até que seja julgada ação. A ADPF é assinada pelo presidente e por Bruno Bianco Leal, novo advogado-geral da União.

Antes prosseguirmos, é interessante relembrar o que é o inquérito das fake news, dessa forma percebemos o quão fora da realidade estão o pedido de impeachment de Alexandre de Moraes, e a ação que questiona a constitucionalidade de decisões do próprio STF.

O inquérito das fake news, foi instalado pelo STF em março de 2019. E por que ele foi instalado? Porque começaram a surgir por parte de grupos bolsonaristas muitas ameaças aos ministros do STF, inclusive ameaças de morte. Os bolsonaristas, como ainda hoje fazem, também lançavam ameaças a democracia, quando defendiam, e ainda hoje defendem, o fechamento do Supremo.

Durante a investigações, as ameaças aos ministros da Corte, que por si só, já eram graves, ficaram em segundo plano, pois as investigações revelaram uma verdadeira rede criminosa de produção de notícias falsas. Foram realizadas operações de busca e apreensão. Perfis bolsonaristas que ajudaram a eleger o presidente foram bloqueados. Prisões de pessoas responsáveis por espalhar as fake news foram presas.

Antes do ataque do presidente ao sistema eleitoral, o STF praticamente se limitava a divulgar notas de repúdio quando o presidente falava ou fazia alguma asneira, porém, depois disso, o STF resolveu agir de forma mais incisiva, dizendo de outro modo, resolveu partir para o combate contra aquele que estava lhe jogando pedras.

No início desse mês, Alexandre de Moraes incluiu o presidente Jair Bolsonaro no inquérito das fake news por suas falas mentirosas contra as urnas eletrônicas. Na sexta-feira, 13, o ministro Alexandre de Moraes mandou prender preventivamente o ex-deputado Roberto Jeferson. O bolsonarista também faz muito barulhos nas redes sociais. O ministro também determinou o bloqueio de contas do ex-deputado nas redes sociais, apreensão de armas e munições, e apreensão de computadores.

Na fundamentação do pedido de prisão, o ministro listou vários crimes, dentre eles; calúnia, difamação, e incitação ao crime. Depois das falas golpistas do cantor Sérgio Reis, o ministro determinou busca e apreensão em endereços ligados ao cantor, e também em endereços ligados ao deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ), e de mais oito pessoas.

Moraes também determinou que os investigados se mantenham a pelo menos um quilometro da Praça dos Três Poderes, suspendeu os perfis deles nas redes sociais, e determinou que o Banco Central bloqueasse a chave de Pix para financiamento de protestos convocados pelos bolsonaristas para 7 de setembro.


Ministro Alexandre de Moraes

Enfim, os leitores perceberam pelos relatos acima que o ministro Alexandre de Moraes está tendo muito trabalho. Finalmente, os ministros do STF compreenderam que não basta soltar notas de repúdios para as asneiras do presidente, mas sim, mostrar a ele toda a força das instituições.

Na verdade, quem deveria estar pondo freios aos arroubos do presidente era a Procuradoria Geral da Presidência, mas o procurador-geral da República, Augusto Aras, de olho numa vaga no Supremo, fecha os olhos para todas as barbaridades cometidas pelo presidente.

Eis então os motivos para Bolsonaro estar com tanta raiva de Alexandre de Moraes, e de Luís Roberto Barroso, é porque eles estão impondo limites ao presidente, aos seus filhos, e a toda a legião de fanáticos bolsonaristas.

Na verdade, Bolsonaro sabe que o pedido de pedido de impeachment contra Alexandre de Moraes não prosperará. O presidente do senado, Rodrigo Pacheco, já disse que não dará andamento a esse pedido do presidente. As manifestações vieram fortes de todos os lados no mundo político. O que Bolsonaro pretende, e, na verdade já conseguiu, é incendiar a sua militância como Nero, dizem, incendiou Roma.

Os Bolsonaristas estão loucos. Acham que Alexandre de Moraes é bandido da história e Jair Bolsonaro é o mocinho, injustamente perseguido por um juiz tirano. E nessa loucura insana estão vários setores bolsonaristas, inclusive pastores evangélicos, incitando seus fiéis ao crime ao defenderem o fechamento do STF. Eles estão se organizando para ir às ruas no feriado de 7 de setembro, contra o que consideram o cerceamento da liberdade de expressão.

Pobres coitados! Completamente manipulados pela indústria de fake news, que, apesar de acuadas pelo STF, ainda continuam bem atuantes no Zap profundo, não conseguem distinguir a diferença entre liberdade de expressão e a ofensa e incitação ao crime.

Por todos os lados e ângulos que se observe, o pedido de impeachment protocolado por Bolsonaro é medíocre, tanto nos argumentos, como nos fundamentos, como medíocre é o próprio presidente. Para ele, Moraes é um péssimo ministro e comete crime de responsabilidade, por agir contra as milícias digitais que atentam contra a democracia e contra a vida, como foi o caso das fake news por eles divulgadas no combate à pandemia de Covid-19.

Em editorial publicado neste domingo, 22, intitulado Um arruaceiro naPresidência, o jornal o Estado de São Paulo, diz aquilo que muitos de nós já pensamos: que o bolsonarista é um ser a ser estudado: “O bolsonarismo é caso a ser estudado. No meio de uma pandemia, com inflação em alta, emprego em baixa, nível de confiança caindo, investimentos em compasso de espera, o presidente Jair Bolsonaro e seus seguidores tentam instigar medo no País, para que o Senado remova indevidamente um ministro do Supremo em razão de suas decisões judiciais”, diz trecho do editorial.

Enfim, caros leitores, o presidente, Jair Bolsonaro, abriu mais uma fenda na relação entre os poderes e colocou mais gasolina na crise institucional que já é grave. Para Bolsonaro, dane-se o país, dane-se os brasileiros que não estão no seu cercadinho. Ele não está nem aí nem para as pessoas que morreram e morrem de Covid. Não está nem aí para um país que precisa de uma retomada econômica depois da Covid-19. Nem muito menos está preocupado com os brasileiros desempregados.

Em sua mente lunática, ele está sempre procurando inimigos imaginários para perseguir. Está sempre com os dentes afiados para proteger os filhos e a ele próprio das acusações que pesam sobre eles, e com a sua reeleição no ano que vem.

Como um Nero brasileiro, o presidente vai incitando a sua militância ao ódio, e subvertendo os valores democráticos.

Que ateiem fogo a si mesmos e aos seus próprios reinos, porque o Brasil resistirá a essa gente, como Roma sobreviveu as loucuras do imperador romano Nero.


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República dos bananas de Bolsonaro

Posted by Cottidianos on 17:17

Domingo, 15 de agosto

O mundo é bom comigo até demais

Pois vendendo bananas

Eu pretendo ter o meu cartaz

Pois ninguém diz prá mim

Que eu sou um palha no mundo

Ninguém diz prá mim

Vai trabalhar vagabundo

(Vendedor de Bananas – Jorge Bem Jor)




Se você plantar sementes de feijão, o que espera colher? Feijões, não é verdade?  E se plantar mudas de ervas daninhas em seu pomar? Acha que vai colher um belo pé de alface? Obviamente que não.

Da mesma forma, se, em seu jardim plantar flores perfumadas, atraíra as operárias abelhas que, voando de flor, contribuem e muito para a polinização, que é o processo de fecundação das flores. De quebra, essas operárias ainda carregam para a colmeia elementos que as possibilitarão a produção do doce mel.

Ao contrário, se for colocado um boi morto na caatinga, ele apenas exalará o odor fétido que invadirá o ar  e atraíra urubus, que dali não sairão enquanto não comerem o último pedaço de carne, deixando apenas os ossos daquele que outrora foi um pujante animal.

Esses são apenas aspectos físicos, aqueles que podemos ver e comprovar. Mas há também nos dois casos, tanto nas abelhas das flores do jardim, quanto no boi na caatinga sendo devorado pelos urubus, uma questão de energia. No primeiro há uma energia leve e bela circulando pelo ar. No segundo, uma energia densa invadindo o ambiente.

Infelizmente, no Brasil temos visto menos flores no jardim e mais bois mortos no solo seco e árido da caatinga.

Desde que o atual presidente ocupou a cadeira presidencial, em 1o de janeiro de 2019, a pátria brasileira não sabe o que é ter um dia de paz. O Palácio do Planalto tornou-se como uma hospedaria no qual o novo hospede causa tumulto todos os dias, provoca ódio, confusão, angústia, sentimentos esses que se derramam sobre toda a nação.

Mas o comportamento do presidente não surgiu de uma hora para outra, assim, como num passe de mágica. Bolsonaro sempre foi assim e sempre será. O que é incompreensível mesmo é que ainda exista tanta gente disposta a defender um presidente como esse, com um governo que é tão vazio de bons projetos para o país, como são vazios os balões coloridos que decoram festas de aniversário.

Como diz a colunista do Estadão, Eliane Cantanhede, em seu artigo deste domingo, 15, no Estadão, intitulado, Bolsonaro e as fakes news: mortes, urnas, cloroquina, vacina, máscara,isolamento... Bolsonaro a gente já sabe quem é, o incompreensível é como tantos caem nessa esparrela”.

O presidente, há algumas semanas, vinha gritando e esperneando contra o voto eletrônico, insinuava, mentirosa e erroneamente, que o voto eletrônico não é auditável e que, portanto, era preciso o voto impresso, ou voto auditável. Disparou ofensas e impropérios contra os ministros do STF e do TSE. Disse que, se o Congresso decidisse pelo voto impresso o assunto estaria encerrado. Fez promessas a Arthur Lira, presidente da Câmara, e a Ciro Nogueira, ministro da Casa Civil, ambos do Centrão, de que, pararia com os ataques caso a PEC do voto impresso fosse derrubada na Câmara.

Esse blog já disse aqui que Bolsonaro não é uma pessoa confiável, e repete isso. Ele é daquelas pessoas que não honra a palavra que empenham. Pode afirmar uma coisa agora, e o contrário do que disse no minuto seguinte.

Na noite de terça-feira, 10, a tal PEC do voto impresso foi levada a plenário pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Para ser aprovada, o projeto, elaborado pela deputada bolsonarista, Bia Kicis, precisava de, no mínimo, 308 votos. 229 deputados votaram a favor do projeto, e 218 votaram contra. 64 deputados se ausentaram da votação. Houve 1 abstenção.

Numericamente, o governo obteve uma vitória. O que não deixa de ser impressionante que 229 deputados de diferentes partidos tenham votado a favor de um retrocesso. Baseado nisso, o presidente, que havia prometido que daria o assunto por encerrado, voltou a cena com novas ameaças, fake news, e desconfianças lançadas sobre o sistema eleitoral brasileiro. Em conversa com apoiadores o presidente disse: “Números redondos: 450 deputados votaram ontem [terça-feira]. Foi dividido, 229 [a favor], 218 [contra], dividido. É sinal que metade não acredita 100% na lisura dos trabalhos do TSE. Não acreditam que o resultado ali no final seja confiável”, disse ele.

O que Bolsonaro não disse aos seus apoiadores é que a ausência de 64 deputados na votação, indica que aqueles deputados também não concordam com o retrocesso, apenas não tiveram a coragem de assumir isso, como coragem teve os 218 que, efetivamente, votaram contra.

Para completar o quadro, ainda na manhã da terça-feira em que foi votado a PEC do voto impresso, houve o deprimente desfile dos blindados militares na Esplanada dos Ministérios, com uns tanques velhos e soltando tanta fumaça, que gerou uma onda de memes na Internet. Alguns deputados e senadores viram no gesto mais uma tentativa de ameaçar o Congresso. Militares disseram que o ato tinha sido uma infeliz coincidência de datas. Dos jeitos que as coisas andam em nosso país, é melhor ficar sempre “com a pulga atrás da orelha”, como diz o ditado popular.

Na verdade, Bolsonaro faz esse circo todo, não porque esteja preocupado com o voto eletrônico, nem com a segurança das urnas. Ele não está nem aí para essas coisas. Ele arma um teatro — e isso ele faz com maestria — para inflamar sua militância, seu gado. Mesmo que a PEC voto impresso fosse aprovada, Bolsonaro continuaria a provocar tumulto. Ele não tem vocação para a paz e o diálogo, mas, sim, para a confusão e o caos.

Bolsonaro tem um grande inimigo em seu caminho, uma pedra no seu sapato, da qual ele tenta se livrar, e esse inimigo se chama Estado Democrático de Direito. Se ele pudesse se livrar dessa entidade já teria feito isso faz tempo.

Em seu egocentrismo do tamanho universo não há espaço para manifestações democráticas, para críticas e críticos do governo, não há espaço para instituições que regulem o poder Executivo. Como diz o apresentador do programa CBN em Foco, e colunista do jornal O Globo, Carlos Andreazza, em artigo intitulado, O tanque de Bolsonaro, publicado em O Globo, no dia 11 de agosto, o que Bolsonaro realmente quer é “palanque para tumultuar, para difundir descrença contra a República, para plantar – artificialmente – dúvidas, contra os sistemas da democracia liberal, na sociedade”.

Uma coisa não se pode negar: Ele é bastante eficiente quando se trata de inflamar de ódio sua marionete militância. Isso já surtiu efeito. O cantor sertanejo, Sérgio Reis está organizando um ato pró Bolsonaro, nos dias que antecedem o 7 de setembro, Dia da Independência do Brasil.

Duas reivindicações prometem marcar este ato, segundo o cantor. A primeira é o morto vivo do voto impresso. Eles querem que as eleições de 2021 sejam através desse sistema de voto impresso. A outra reinvindicação é que o senado vote o impeachment dos ministros do STF Luiz Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, que, segundo eles, tem prejudicado a nação brasileira. Essa semana, Bolsonaro embarcou em mais um de seus delírios e disse que vai pedir ao Senador Federal que abra um processo para investigar os ministros. Isso cai sobre a militância como gasolina cai sobre folhas secas.

Os manifestantes pretendem acampar em Brasília, e prometem uma paralisação dos caminhoneiros em nível nacional. Sérgio Reis disse que os manifestantes são de paz. Mas disse também que “Ai daquele caminhoneiro que não aderir à paralisação”. É isso, às vezes uma pessoa diz uma coisa, para se desdizer na frase seguinte. Como diz o ditado: “Para bom entendedor, meia palavra basta”.

Ministros do STF podem ser investigados? Podem, claro. Eles não são intocáveis. O problema no caso citado é que não há elementos que embasem um pedido de investigação contra Moares e Barroso, nem muito menos o impeachment dos dois, ou de qualquer outro. Para Bolsonaro, o único erro dos dois ministros é tentar conter os arroubos autoritários dele próprio e de sua militância.

Bolsonaro e os bolsonaristas estão muito irritados com Alexandre de Moraes, também por causa da prisão de Roberto Jefferson. Jefferson é ex-deputado e presidente nacional do PTB. Além de ser um ferrenho defensor de Bolsonaro. Além da prisão, Moraes também determinou o bloqueio de conteúdos postados por ele nas redes socais, bem como apreensão de armas e acesso a mídias de armazenamento.

A ordem de prisão expedida pelo ministro se fundamenta no inquérito da milícia digital que, por sua vez, é uma continuidade do inquérito que apura os atos antidemocráticos. O ex-deputado e atual presidente do PTB não foi preso por causa das suas ideias, mas por causa das reiteradas ameaças aos ministros do STF. Críticas que, inclusive, envolviam o uso de armas em postagens feitas em vídeos nas redes sociais.

O que vemos, em meio a toda essa bravata, é um presidente acuado e com medo. E quando os covardes estão acuados e com medo, eles agem assim. Esbraveja, gritam, ofendem, espalham fake news.

Lula Inácio Lula da Silva foi colocado de novo em cena, e com grandes chances de derrotar Bolsonaro. Pesquisas tem mostrado isso. Bolsonaro então tenta armar um cenário para ter uma eleição da qual ele só aceita um resultado: ser vencedor. Qualquer outro resultado, mas sendo isento de fraudes, vai ser para ele falso. Então por isso desde já, arma o cenário para uma possível revolta por parte de seus seguidores.

Bolsonaro também tem medo. Medo de ser preso. Medo de Alexandre de Moraes. Por isso, não são à toa os ataques ao ministro. Moraes incluiu Bolsonaro no inquérito das fake news, atendendo um pedido do Tribunal Superior Eleitoral, no caso da divulgação de notícias falsas sobre as urnas eletrônicas.

Além disso, Flávio, Eduardo, e Carlos Bolsonaro, estão às voltas com investigações. Flávio está envolvido com o caso das rachadinhas, juntamente com seu ex-assessor, Fabrício Queiroz. Eduardo e Carlos são citados no inquérito que apura a realização de atos antidemocráticos. Enfim, é uma família de gente perigosa e corrupta que se faz passar por bonzinhos para os seus seguidores. E dominam tão bem a técnica de influenciar e manipular mentes que os seguidores acreditam, piamente, que estão diante de heróis injustiçados.

No Congresso Nacional, houve avanços e retrocessos. O avanço veio na terça-feira, 10, mesmo dia em que a Câmara barrou a PEC do voto impresso, e que os tanques desfilaram por Brasília, o Senado revogou o Projeto de Lei que revoga a Lei de Segurança Nacional, criada em 1983, e herança da ditadura militar. Essa lei previa penas de até quatro anos de prisão para quem difamar o chefe do Executivo. Essa lei foi usada diversas vezes para perseguir opositores do governo, e até mesmo, para espioná-los. É inacreditável, mas é verdade. A Lei também foi usada por integrantes do STF. Foi com base nela que o ministro Alexandre de Moraes prendeu o deputado bolsonarista, Daniel Oliveira por ameaças aos ministros do STF.

A nova proposta aprovada pelos congressistas tipifica dez crimes contra a democracia. “A proposta protege a integridade e a soberania nacionais e acrescenta ao Código Penal uma seção para tipificar dez crimes contra a democracia. Entre eles, atentado à soberania do país, espionagem, golpe de estado, interrupção do processo eleitoral, comunicação enganosa em massa, sabotagem e atentado ao direito de manifestação”, diz texto postado no site da Agência Senado. O projeto ainda deve passar pela sanção do presidente, Jair Bolsonaro, porém, mesmo que haja vetos por parte do presidente, a palavra final sobre o assunto é do Congresso.

O retrocesso coube a Câmara dos Deputados. Na quarta-feira, 11, a Câmara votou em primeiro turno a reforma eleitoral. Havia sido incluído na proposta o voto distrital, o chamado “distritão”, e as coligações partidárias.  Pelo sistema do voto distrital apenas os candidatos mais votados seriam eleitos. Não haveria a proporcionalidade dos votos recebidos pelas legendas. O voto distrital foi muito criticado pois ele dificultaria a renovação do Congresso, uma vez que poderia possibilitar a eleição apenas dos caciques da política, e de celebridades, e também por enfraquecer os partidos.

Já as coligações partidárias, proibidas em 2017, permitem a coligação de partidos em um único bloco para a disputa das eleições proporcionais. Elas permitem a formação dos chamados “partidos de aluguel”, que não defendem nenhuma causa, nenhuma ideologia, e se juntam aos blocos de partidos apenas com a finalidade de negociar apoios.

O distritão, na verdade, era o chamado “bode na sala”. O que é isso? Por exemplo, o dono de uma casa não quer mudar nada na decoração. Então ele coloca o bode na sala. É uma coisa estranha. Ele sabe que as pessoas vão reclamar. E, de fato, reclamam. Então ele tira o bode, e finge que mudou alguma coisa.

E foi o que fizeram os deputados. Na verdade, o que importava mesmo para eles, era a volta das coligações partidárias. Houve muita reclamação com inclusão do “distritão” na proposta, então os deputados retiram o bode da sala e aprovaram a volta das coligações. Tanto o voto distrital, como a volta das coligações partidárias são consideradas retrocessos no processo eleitoral.

E olhem como age o presidente Arthur Lira. Essa votação da minirreforma eleitoral, que não é avanço, mas retrocesso, estava pautada para ser realizada na quinta-feira, 12. Para a quarta-feira, estavam previstas outras pautas. Lira resolve, de surpresa, votar a reforma eleitoral, e deixar para outra oportunidade as pautas que seriam votadas naquele dia.       

Na terça-feira, 17, o Plenário votará matéria em segundo turno. Caso seja aprovada, ela segue para o Senado, onde também será votada em primeiro e segundo turno. Porém, no Senado, a proposta parece não encontrar muito apoio por parte dos senadores. Como a política é um jogo de xadrez, a gente nunca sabe o que vai acontecer, então é melhor esperar para ver como os senadores receberão a proposta.

E assim seguimos nós, brasileiros e brasileiros. Liderados por um presidente que não tem o menor apreço pela democracia, que odeia a imprensa livre, e que se acha o todo poderoso. Governados por um presidente que tenta aparelhar as instituições. Já fez isso com a Polícia Federal, com o Ministério da Justiça, com a Advocacia Geral da União. A Procuradoria Geral da República nem parece aquela que atuava nos governos anteriores. Hoje, sob o comando de Augusto, ela parece mais um bibelô no armário da democracia, do que uma instituição à serviço da nação. Na Câmara dos Deputados tem o Arthur Lira para barrar qualquer pedido de impeachment. Também tinha o Rodrigo Pacheco, presidente do senador, que hoje, ao que parece, está tentando, ainda de forma tímida, se dissociar do presidente.

O único que ainda está dando trabalho em não querer se curvar à sua Excelência, o imperador, é o Supremo Tribunal Federal e o Tribunal Superior Eleitoral. Esses se mantém firmes na difícil missão de botar rédeas no cavalo insensato, impedindo que ele jogue a todos nós no abismo profundo.

O Brasil, sem dúvida, é uma nação com grande potencial econômico, mas o presidente, Jair Bolsonaro tem transformado, o nosso país já tão sofrido e abalado pela corrupção, numa república das bananas, em grande parte, devido aos 20% a 25% dos bananas que ainda o apoiam.

É preciso, a quem se recusa a embarcar nessa canoa furada comandada por um capitão emocionalmente desequilibrado, em primeiro lugar que procure estar bem-informado, pois a principal arma usada por ele e por sua milícia digital, são as fakes news, a desinformação. Segundo é preciso pedir ao infinito que nos governa, seja qual for o nome que você o atribua; Deus, Alá, Oxalá, Buda, Jesus Cristo, ou outro, que nos dê muita paciência e serenidade para enfrentar os dias de turbulência, pois eles, certamente, passarão.


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Bolsonaro e sua moto

Posted by Cottidianos on 01:26

Segunda-feira, 09 de agosto

Vital andava a pé e achava que assim estava mal

De um ônibus pra outro aquilo para ele era o fim

Conselho de seu pai: "Motocicleta é perigoso, Vital.

É duro de negar, filho, mas isto dói bem mais em mim."

Mas vital comprou a moto e passou a se sentir total

Vital e sua moto mas que união feliz

Corria e viajava era sensacional

A vida em duas rodas era tudo que ele sempre quis

Vital passou a se sentir total

Com seu sonho de metal

(Vital e sua moto – Paralamas do Sucesso)


 Bruno Fratus, medalha de bronze na natação nas Olímpiadas de Tóquio

Era noite de sexta-feira, 12 de agosto de 2016. No Estádio Aquático Olímpico, no Rio de Janeiro, era disputada a final da natação nos Jogos Olímpicos daquele ano. O nadador brasileiro, Bruno Fratus, estava numa das raias da piscina olímpica e, apesar de todo o esforço, conseguiu chegar apenas em sexto lugar, ficando longe do pódio.

Logo após o término da prova, a repórter Karin Duarte, do canal Sportv, pergunta ao nadador:

̶  Sai chateado?

Fratus responde de modo irônico:

̶  Não. Não, estou felizão, né. Fiquei em sexto. Desculpa, né, mas...tô, bastante.

Na época, a atitude do atleta foi bastante criticada nos meios jornalístico e esportivo, além de render muitos memes nas redes sociais. Depois da entrevista, ainda naquela mesma noite, ele concedeu outra entrevista à repórter, pedindo desculpas.

O fato é que o sexto lugar obtido pelo nadador nas Olímpiadas do Rio, aliado à decepção de também não ter não ter subido ao pódio nas Olímpiadas de Londres, em 2102, gerou uma frustração muito grande no atleta. Ele entrou em depressão. E passou a treinar ainda com mais afinco. Porém, com adicional de uma química perigosa para o seu o corpo e para o seu mental: o ódio.

O ódio, por melhor intenção que se coloque no objetivo a que se quer atingir, nunca é benéfico. Ele sempre trará consigo uma carga negativa, que, ao final, turbará o brilho da vitória.

Com a ajuda de Michelle Lenhardt, ex-atleta olímpica na natação, Bruno Fratus superou a depressão, e mudou o estilo de vida. Tornou-se adepto da meditação, incorporou novas dietas, novos sistemas de treino, e reencontrou-se com seu amor pelo esporte.

A mudança de foco, de vida, e de pensamento do atleta deu resultado. Na noite de 31 de julho passado, no Centro Aquático de Tóquio, ele conquistou a tão sonhada medalha: medalha olímpica no Jogos Olímpicos de Tóquio. Não de ouro. Não de prata. De bronze. Mas, certamente, uma grande conquista para ele. O ouro foi para o americano Caeleb Dressel, e a prata para o Francês Florent Manadou.

Mais uma vez a âncora que lhe fez parar quando necessário e que lhe deu asas quando era preciso foi a esposam treinadora, nutricionista, Michelle. O amor e as serenidade o fizeram vencer, não o ódio.

Muito bom falar de Olímpiadas, mas elas merecem um capítulo à parte, tantas são as histórias de frustação e superação, de derrotas e vitórias. Os Jogos Olímpicos representam a arte de levar o corpo extremo. Porém, esse blog segue falando do terreno pantanoso da política brasileira.



Era noite de domingo, 28 de outubro de 2018. Às 19h18 min, horário de Brasília, com 94,44% das urnas apuradas, era confirmada a vitória do candidato do PSL à presidência da República, Jair Messias Bolsonaro. Naquele momento, o candidato petista Fernando Haddad não poderia mais ultrapassar Bolsonaro.

A presidência da República de qualquer país democrático está para o político como a medalha de ouro olímpica está para o atleta, que, para conquista-la treina horas e horas todos os dias. E Bolsonaro naquele 28 de outubro ganhou o ouro olímpico.

Naquele domingo, numa eleição apurada em tempo recorde  ̶  a votação foi encerrada às 17 horas  ̶  e sem evidências de fraude, como aliás todas as outras desde que foi instaurado o sistema de urnas eletrônicas, em 1996. Desde então já são vinte e cinco anos de um dos sistemas eleitorais mais confiáveis do mundo.

Nem todo o Brasil foi inundado, ou melhor beneficiado, pela grande novidade, pela experiência que se tornaria a regra no Brasil. Nas eleições municipais de 1996, apenas 57 cidades brasileiras receberam urnas eletrônicas. Os votos de 32 milhões de brasileiros foram coletados por esse meio, o que correspondeu a um terço do eleitorado na época.

Segundo informação do site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o desejo de um sistema de votação moderno já era bem antigo: “A criação de um aparelho mecanizado para coletar votos era um desejo antigo no país. O primeiro Código Eleitoral, de 1932, previa em seu artigo 57 o “uso das máquinas de votar, regulado oportunamente pelo Tribunal Superior [Eleitoral], devendo ser assegurado o sigilo do voto”, diz o texto do site.

A ideia, porém, só ganhou vida em 1995. Naquele ano, o Tribunal Superior Eleitoral reuniu uma comissão técnica liderada por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), e do Centro Técnico Aeroespacial, para dar forma a sonhada “máquina de votar”, mencionada no primeiro Código Eleitoral. A “máquina de votar” ganhou inicialmente o nome de Coletor Eletrônico de Votos.

O novo sistema de votação teria que ser, além de moderno, muito seguro. “O dispositivo teria de ser capaz de eliminar a intervenção humana dos procedimentos de apuração e totalização dos resultados, bem como de garantir maior segurança e transparência ao processo eleitoral. Além disso, deveria ser leve e compacto (para facilitar seu transporte) e prático de usar. O resultado foi um sucesso. A urna eletrônica combinou tela, teclado e CPU numa só máquina, com teclado similar ao de um telefone justamente para possibilitar que o analfabeto e o deficiente visual pudessem interagir com o novo dispositivo sem dificuldade.”, diz informação fornecida pelo site do TSE.

Além de ser um sucesso operacional, a urna eletrônica também foi um sucesso em logística: as urnas eletrônicas eram distribuídas em tempo recorde pelos aviões da Força Aérea Brasileira.  

A urna eletrônica representou um grande avanço no sistema eleitoral brasileiro, e veio atender uma falha no sistema de votação em papel: a fraude. Havia muitas fraudes no antigo sistema. Além disso, esse modo de votação tornava o processo de apuração dos votos muito lenta.

Por exemplo, nas últimas eleições em 2018, o vencedor foi conhecido pouco mais de duas horas, após o início da votação, coisa impensável se o processo fosse pela votação em papel. Antes da votação eletrônica, o processo de apuração levava dias, ou até semanas.

Desde então, não se teve mais notícias de fraudes nas votações e o processo de votação no Brasil ficou bem mais ágil e mais prático.

Esse texto falava do resultado da eleição presidencial em 2018 e da vitória de Jair Bolsonaro quando foi aberto esse parágrafo para falar das urnas eletrônicas. Retomemos desse ponto então: das eleições de 2018 e da vitória do presidente.

Então veio o ano de 2019 e Jair Bolsonaro, finalmente, tomou posse no dia 01 de janeiro. Á exemplo do nadador Bruno Fratus, ele deve ter passado por alguma frustação na vida, talvez alguma prova não ganha, alguma medalha não conquistada, pois passou a vida política dele destilando ódio, veneno, confusão e desestabilização.

O bom mesmo, que são os projetos que transformam vida e impulsionam o país, Bolsonaro não teve nenhum aprovado. Talvez nem mesmo tenha apresentado algum realmente relevante. Nos vinte e sete anos que passou no Congresso Nacional como deputado, ele só teve dois projetos aprovados. O primeiro deles foi uma proposta que estende o benefício da isenção de Imposto sobre Produto Industrializado (IPI) destinado a produtos de informática. O segundo foi um que autoriza o uso da fosfoetanolamina sintética, a chamada pílula do câncer.

Bolsonaro até chegou a apresentar 170 projetos de lei, mas a qualidade desses projetos era muito ruim, como por exemplo, o de inscrever o nome do ex-deputado federal Enéias Carneiro no livro de heróis da pátria pelo seu “valoroso nacionalismo e sua oposição ao comunismo”, e um projeto de lei que tentava revogar a Lei 12.845, que foi sancionada em agosto de 2013, e que obriga o SUS a oferecer um atendimento emergencial, integral e multidisciplinar às vítimas de violência sexual.

Se o deputado Jair Bolsonaro era assim na apresentação de projetos de Lei, imagina então nas votações no plenário e no trato com seus pares, principalmente, com as mulheres. Enfim, o mandato do deputado Jair Bolsonaro, foi muito ruim sob todos os aspectos.

Ainda a exemplo do Bruno Fratus, em vez de Bolsonaro ter feito umas sessões de meditação, novas dietas, novos posicionamentos em relação à vida e os seres humanos, adquirido novos meios do fazer e de como se fazer política, ele fez, justamente, o contrário.

Trouxe para o exercício da Presidência todo o ódio e rancor que semeou na vida, não apenas na vida pública, mas também nos tempos de Exército. Não se passa um dia sem que ele provoque confusão, que incite sua louca militância, que não ataque os demais poderes da República, em especial o Supremo Tribunal Federal. Arranjando inimigos imaginários. Mas ele é assim. Bolsonaro não existe sem a confusão e sem o caos.

Às vezes  ̶  e isso é uma opinião absolutamente pessoal  ̶  me pego pensando e tendo pena de Bolsonaro. Pois penso que ele nunca na vida tenha sabido o que é ter paz, o que é viver em paz. Talvez, nunca tenha sabido o significado da palavra amor, como tão bem nos lembrou o filho do falecido Bruno Covas, ex-prefeito de São Paulo que morreu de câncer em 16 de maio de 2021.


Ex-prefeito de São Paulo Bruno Covas e o filho, Tomás

Essa semana, Bolsonaro tratou de modo desrespeitoso à memória do falecido. Foi na segunda-feira, 02. Bolsonaro falava aos seus apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada, quando criticou pela enésima vez as medidas sanitárias contra a Covid-19. Fez referência ao governador de São Paulo, João Dória, e a Bruno Covas, referindo-se a este como “aquele que morreu”. “Um fecha São Paulo e vai para Miami. O outro, que morreu, fecha São Paulo e vai ver Palmeiras e Santos no Maracanã. Esse é o exemplo…”.

Dória foi tirar umas férias em Miami, no auge da pandemia, mas não chegou a passar nem um dia por lá, as críticas a ele foram pesadas, e ele, pediu desculpas e resolveu voltar imediatamente. Bruno Covas, provavelmente, já sabendo que não lhe restava mais muito tempo de vida, quis desfrutar de um momento, assistindo uma partida do time do coração, o Santos, com o filho. Na época, as críticas também vieram pesadas sobre ele, e ele rebateu dizendo: “Depois de tantas incertezas sobre a vida, a felicidade de levar o filho ao estádio tomou uma proporção diferente para mim. Ir ao jogo é direito meu. É usufruir de um pequeno prazer da vida”.

Autoridades criticaram a fala do presidente, mas a melhor resposta veio mesmo foi do filho de Bruno Covas, Tomás. “Lamento a fala dita hoje pelo incompetente e negacionista presidente Bolsonaro. Em uma fala covarde hoje durante a tarde, ele atacou quem não está mais aqui conosco, não dando o direito de resposta ao meu pai. Além disso, cumprimos com todos os protocolos no estádio do Maracanã, utilizando a máscara e sentando apenas nas cadeiras permitidas. Meu pai sempre foi um homem sério e fez questão de me levar ao Maracanã no fim da sua vida para curtirmos seus últimos momentos juntos. Isso é amor! Bolsonaro nunca entenderá esse sentimento”, escreveu Tomás em uma mensagem enviada à coluna da jornalista Mônica Bergamo, na Folha de São Paulo.

Bolsonaro já sentiu que as coisas não andam nada bem para ele, então resolveu tumultuar de vez o cenário, provocando uma crise institucional entre os poderes com a guerra que declarou às urnas eletrônicas e na defesa do voto impresso. Elegendo como inimigo número um, dessa vez, o ministro do STF, e presidente do TSE, Luís Roberto Barroso.

De outras vezes, os poderes soltavam apenas notas de repúdio às falas golpistas de Bolsonaro. E ele prometia se endireitar. Tornar-se o Bolsonaro paz e amor que pararia de atacar a democracia. Esse blog nunca acreditou nisso nem sequer por um segundo. E continua não acreditando que o presidente da República Federativa do Brasil seja capaz de um gesto de nobreza. “Pelo fruto se conhece a árvore”, diz Jesus Cristo no evangelho, e “Cada um dá apenas aquilo que tem”, diz o ditado popular. Como o presidente não tem nobreza no seu mercado interior, consequentemente, ele não pode distribuir essa qualidade para ninguém.

Semana passada, na quinta-feira, 05, a comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) do voto impresso, rejeitou a proposta por 23 votos a 11.

O assunto poderia ter parado por aí, mas o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, resolveu levar a questão à plenário. Lira é aliado de Bolsonaro e, em uma primeira análise, a insistência de Lira poderia soar como um apoio ao presidente, ou um conchavo como ele. Mas, na opinião desse blog, Lira deu mesmo foi uma jogada de mestre no xadrez da política. Levando a questão em plenário é improvável que essa proposta seja aprovada. Se assim ocorrer, Lira terá dado um xeque-mate no presidente, e sepultado de vez a incomoda questão.

Resta saber o que fará então o presidente se a proposta do voto impresso for mesmo sepultada. Ele que diz que não haverá eleições no ano que vem se não for através do voto impresso.

Desde a live patética na qual disse que apresentaria provas de fraude nas urnas eletrônicas e apresentou apenas fake News a reação tem sido dura, desde o STF, TSE, até setores da sociedade civil.

Na semana passada, empresários e intelectuais se uniram num manifesto que visa coletar assinaturas a favor do sistema eleitoral brasileiro. Centenas de empresários, economistas, diplomatas, intelectuais de centro, de direita, e de esquerda saíram em defesa da democracia. O manifesto não cita o nome de Jair Bolsonaro, mas diz em um de seus trechos que “O princípio chave de uma democracia saudável é a realização de eleições e a aceitação de seus resultados por todos os envolvidos. A Justiça Eleitoral brasileira é uma das mais modernas e respeitadas do mundo. Confiamos nela e no atual sistema de votação eletrônico. A sociedade brasileira é garantidora da Constituição e não aceitará aventuras autoritárias

Os ex-presidentes da República, e todos os ex-presidentes do Tribunal Superior Eleitoral saíram em defesa da democracia e afirmaram a lisura do processo eleitoral brasileiro.


Motociata de Bolsonaro em Florianópolis

Enquanto isso, o presidente, tal qual um adolescente inconsequente, está a passear de moto por diversas cidades brasileiras. Esse fim de semana foram duas motociatas. No sábado, 07, foi a vez de Florianópolis, Santa Catarina.

Em Florianópolis, o presidente se posicionou mais uma vez a favor do voto impresso: “Faremos tudo pela nossa liberdade, por eleições limpas, democráticas. Eleição fora disso que eu falei não é eleição. Há mais de um ano tenho advertido que temos que ter eleições limpas no Brasil. Não continuem nos provocando, não queiram nos ameaçar. Quem está com Deus e o povo tem o poder”.

Neste domingo, 08, o passeio de moto foi em Brasília. Além de Brasília e Florianópolis o presidente já passeou de moto, em campanha eleitoral antecipada, pelas cidades do Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Chapecó (SC) e Porto Alegre (RS). Em todas elas, é dinheiro público que escorre pelo ralo. Pois cada um desses passeios de moto do presidente exige uma forte estrutura de segurança. Apenas em São Paulo, os gastos com a segurança do evento foram de R$ 1,2 milhão. Juntando o dinheiro gasto com segurança nas demais cidades, é possível concluir que alguns milhões já saíram dos cofres públicos para bancar um capricho do presidente.

Enquanto isso em país, que, já dá inícios de superação da crise da Covid-19, no qual milhões de brasileiros precisarão de atendimento no SUS para curar as sequelas da doença, que tem quase 15 milhões de desempregados, pessoas passando fome, vê o presidente passeando de moto como se nada estivesse acontecendo.

Está mais do que na hora do presidente deixar de brincar de adolescente inconsequente que passeia de moto com sua turma, e sentar-se na mesa e começar a planejar uma reabertura econômica, curar os feridos na guerra da Covid, e fazer o país retomar, pelo menos um terço, o prestígio que tinha antes dele assumir a presidência.

Não querendo ser pessimista, apenas realista, esse blog sabe que isso que não vai acontecer. Uma pessoa não amadurece do dia para a noite. O processo de amadurecimento, e de crescimento emocional e pessoal de um indivíduo é um processo que se desenvolve ao longo da vida. Processo esse que o presidente desconhece.


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