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Abacaxi do Brasil, Laranja do Panamá

Posted by Cottidianos on 02:32
Terça-feira, 04 de dezembro.


Imagem: http://www.pavablog.com/2013/11/26/jose-dirceu-foi-contratado-em-hotel-de-brasilia-por-r-20-mil-mensais/


Tenho saudades do tempo em que laranjas significavam, apenas e tão somente, frutas deliciosas no pomar... Ah, bons tempos aqueles!

José Dirceu, condenado na ação penal 470 - conhecida popularmente como mensalão – e cumprindo pena no regime semiaberto, no Complexo Penitenciário da Papuda, no Distrito Federal, foi contratado para trabalhar no Saint Peter, maior hotel da área central de Brasília, próximo à Esplanada dos Ministérios. O hotel é de propriedade de Paulo Masci de Abreu, que é irmão de José M. de Abreu, presidente nacional do PTN (Partido Trabalhista Nacional). O partido apoiou a presidente Dilma Roussef, durante à campanha à presidência, em 2010. No formulário de contratação que José Dirceu preencheu dia 22 de novembro, constava o cargo de gerente administrativo e o salário de 20 mil reais. Estaria tudo bem até esse ponto, não fosse umas esquisitices que rondaram a contratação.

Vejamos: Quem ganha mais? O chefe ou o subordinado? Zé Dirceu foi contratado para ser o gerente administrativo do empreendimento. A gerente geral do mesmo hotel, a quem Zé Dirceu deveria estar subordinado, recebe apenas 1.800 reais, ou seja, apenas 10% do salário do ex-chefe da Casa Civil. Estranho, não?

Outro fato esquisito: Na mesma semana em que Zé Dirceu foi contratado, o empresário, Paulo de Abreu, dono do hotel que contratou Dirceu, foi beneficiado com uma medida do governo, que foi aprovada mesmo contra todos os relatórios técnicos.

O caso é o seguinte: O dono do St. Peter é proprietário de uma rede comunicações que envolve várias rádios e TVs. É filiado ao PTN, partido que apoiou a campanha de Dilma Rousseff à presidência da República.  Paulo de Abreu, dono da TV Top – Uma das emissoras de TV comandadas por ele – no município de Francisco Morato/SP, ganhou o direito de transferir a antena da emissora para a Avenida Paulista – uma espécie de Wall Street brasileira. A localização de uma antena de TV na Paulista melhora consideravelmente o sinal de transmissão, além de conquistar maior audiência. O problema destacado pelos relatórios técnicos é que essa transferência pode atrapalhar o sinal de uma emissora de Suzano, também no Estado de São Paulo.

Atentos a esses detalhes a equipe de jornalismo do Jornal Nacional, exibido, de segunda a sábado, em horário nobre pela Rede Globo de Televisão, resolveu investigar o caso, e o que eles descobriram causou grande surpresa. O fio da meada estava na Republica do Panamá.

O real e poderoso dono do hotel St. Peter, que ofereceu um salário de 20 mil reais a Zé Dirceu, é um modesto auxiliar de escritório de advocacia em uma empresa daquele país. Espantoso, não?

A equipe do JN (Jornal Nacional) teve acesso ao contrato social do St. Peter, e descobriu que Paulo de Abreu, o responsável pela contratação de José Dirceu, é apenas um sócio minoritário e que sua cota na sociedade possui o valor de 1 real. Isso mesmo, não é erro de digitação, é um real mesmo. O restante das cotas pertence à empresa Truston Iternacional Inc, com sede na Cidade do Panamá, capital do país. As cotas da Truston somam 499 mil reais.

O registro público da empresa no Panamá aponta, como presidente da poderosa empresa, um cidadão panamenho, chamado, José Eugênio Ritter. Além da Truston, o nome do panamenho aparece ligado à centenas de empresas em vários países, de acordo com um site anticorrupção, criado por um ativista. Ainda segundo o contrato, o procurador do Truston no Brasil, é Raul de Abreu, filho de Paulo de Abreu.

Por telefone o repórter Vladmir Neto do Jornal Nacional conversou com Paulo de Abreu e com o advogado de Raul de Abreu. (O diálogo foi transcrito do site do Portal Globo.com)

***

Jornal Nacional: Quem é o seu sócio majoritário?

Paulo de Abreu: É a Truston. É uma empresa que investe em hotéis.

Jornal Nacional: Quem é o dono da Truston?

Paulo: Ah, tem vários acionistas. Precisa ver, até porque as ações são vendidas constantemente, né?

Jornal Nacional: Quem é José Eugenio Silva Ritter?

Paulo: É o presidente.

Advogado: É o presidente da empresa.

Jornal Nacional: Mas vocês o conhecem?

Paulo: Uma vez nós já estivemos em reunião.

Jornal Nacional: Ele veio ao Brasil, Dr. Paulo?

Paulo: Não, eu estive lá em Miami.

Jornal Nacional: Isso foi quando? Foi quando os senhores resolveram fazer uma sociedade para administrar o St. Peter?

Paulo: É, quando formalizamos a parceria. De lá pra cá, a gente manda as informações para lá e ele se dá por satisfeito, enfim, ou pergunta alguma coisa, mas houve essa reunião em Miami quando da formalização do entendimento.

***
A equipe também foi ao Panamá, tentar entrevistar o poderoso empresário. Depois de muito trabalho descobriram o endereço dele. E, para surpresa de todos, o dono do maior hotel no centro de Brasília, morava num bairro pobre, na periferia da Cidade do Panamá. A equipe de reportagem encontrou José Eugênio Silva Ritter lavando o carro em frente á residência dele.

O repórter Vladmir Neto, iniciou o dialogo abaixo (também transcrito do globo.com):

***

Jornal Nacional: Você é José Eugenio Silva Ritter?

José Eugenio: Correto.

Ritter disse que trabalha em um escritório de advocacia, o Morgan y Morgan, há mais de 30 anos. E reconheceu que  aparece mesmo como sócio de muitas empresas mundo afora.

José Eugenio: Sim, sim, de várias empresas, correto.

Jornal Nacional: Várias empresas. Por que isso?

José Eugenio: Porque eu trabalho na Morgan y Morgan e eles se dedicam a isso.

Pergunto sobre a Truston International Inc, que administra o Hotel Saint Peter, empresa da qual ele é o presidente. Ele disse que não se lembra dela, e não responde mais nada.

José Eugenio: Eu sequer sei se é o nome de uma sociedade de várias pessoas. Você, por favor, vá lá na Morgan y Morgan, com um advogado, aí eu posso lhe dar a informação de que você precisa. Se me autorizarem, se puder falar, lhe dar as respostas. Porque pode botar em perigo meu emprego.

Ele encerra a conversa.

José Eugenio: Você não está entendendo, eu quis ser amável. É melhor lá no escritório. Tudo que você quiser é lá no escritório.

***

Em seguida, a equipe foi à sede da empresa Morgan y Morgan, onde José Eugênio trabalha, porém, ninguém quis falar com a equipe. A finalidade da empresa é ajudar na fundação e administração de empresas internacionais com sede no Panamá. É difícil saber quem, de fato, é o verdadeiro dono da Truston Internacional Inc, pois a legislação do país permite que ações da companhia sejam transferidas de um empresário para outro sem que haja necessidade de comunicar o ocorrido às autoridades.

Um caso de tamanha gravidade exige investigação apurada. Espero que o poder legislativo brasileiro e a Polícia Federal procedam às investigações para saber até onde vai o fio dessa meada.

Diante de fatos tão nebulosos é muito difícil que o juiz Bruno Ribeiro, da Vara de Execuções Penais do Distrito Federal conceda parecer favorável à que José Dirceu assuma o cargo de gerente administrativo do hotel Saint Peter, em Brasília, Distrito Federal. É bem provável ainda, que esse benefício também não seja concedido a Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT, que havia pedido para trabalhar na CUT (Central Única dos Trabalhadores).


O pessoal foi atrás de uma laranja e encontrou um abacaxi dos grandes. E agora, quem vai descascar o esse abacaxi e chupar essa laranja? Estou curioso para saber.

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