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Palavras ao vento

Posted by Cottidianos on 01:17

Terça-feira, 08 de setembro

cariocas lotam praia em feriado de 7 de setembro


Feriado de 7 de setembro.

Já se vão longe os dias, como conta a história, que D. Pedro II, à beira de riachozinho, deu o famoso grito: “Independência ou morte”! Grito esse que marcou a emancipação do Brasil em relação a coroa portuguesa.

A partir daquele 7 de setembro de 1822, o deixava de ser apenas uma colônia portuguesa e ensaiava os seus primeiros passos como nação. Certamente, seria uma grande nação se as aves de rapina não tivessem se lançado sobre suas riquezas e se apropriado delas. Ainda hoje, descaradamente, fazem isso.

Também não se pode dizer que o Brasil é uma nação pequena, insignificante. Isso não. O país tem sua importância no cenário internacional. Apesar de hoje ter um governante que ajuda a manchar a imagem da nação ao lavar às mãos às queimadas na Amazônia e em todo o território nacional. Que lava as mãos aos atos de corrupção que jurou, em campanha, combater. E que também lava as mãos para a questão do coronavírus que até agora vitimou 127.001 brasileiros.

Também vale destacar que já não somos o segundo país com maior número de casos de Covid-19. Fomos ultrapassados pela Índia. Por aqui, já são 4.147.598 casos confirmados da doença desde o início da pandemia. Enquanto lá já são 4.204.613 casos confirmados.

Por falar em 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro usou os meios de comunicação para fazer um pronunciamento à nação nesta data especial para os brasileiros.

Mas a realidade retratada nos discursos de presidentes de nações, especialmente os ditadores e os que se pretendem populistas não representam de fato a realidade. Esses discursos são como camadas de aquarela jogadas em um quadro para esconder ou disfarçar a pintura original.

Por exemplo, no discurso de hoje, Bolsonaro disse reiterar o compromisso com a Constituição, com a democracia e a liberdade, e a preservação da soberania. Mas basta olhar não muito longe sobre os ombros para ver o presidente exaltando e participando de atos antidemocráticos, ameaçando as instituições, e praticando atos de governo claramente autoritários e próprios das ditaduras. Se não é o STF, o Congresso, e diversos setores da sociedade civil a pressionar, provavelmente, as coisas já tivessem tomado outro rumo.

No mesmo discurso em que defende a democracia, o presidente exalta o golpe militar de 64, golpe esse que jogou o país em uma ditadura que durou vinte e um anos. O presidente também fez parecer em seu discurso que a diversidade étnica e cultural que é a base da sociedade brasileira atual se deu de forma natural, sem conflitos. Uma visão idealizada de Brasil.

Quando na verdade, todos sabem que houve muita luta, muita sofrimento, discriminação, genocídio, na base de tudo isso. A dizimação dos costumes e dos povos indígenas são exemplos disto. Assim como o preconceito que os negros sofreram e sofrem ao cultuar seus deuses de origem africana. E também no caso da ascensão social.

O próprio governo perpetua a dizimação dos povos indígenas quando não apoia as políticas públicas a estes povos, ao contrário, praticamente, ignorando-os como brasileiros que também são.

Enquanto o presidente falava, também falaram as panelas nas janelas das residências e edifícios em vários estados brasileiros. Vozes sufocadas, que não concordam com os atos que se escondem atrás dos discursos bem floridos, tem de encontrar uma forma de fazerem ouvir, e as panelas são uma ótima forma de dizer que não se concorda com que está sendo dito. Uma panela sozinha faz apenas comida. Muitas panelas juntas, ao mesmo tempo, fazem grande barulho.

Quem também reapareceu neste 7 de setembro foi o ex-presidente Lula. Ele usou as redes sociais para apresentar uma carta aberta aos brasileiros.

São muitos os assuntos tratados por Lula na carta aberta à nação. Ele vai da Covid-19, passando pelo militarismo no governo, do financiamento do SUS à floresta amazônica, dentre outros assuntos.

Com relação ao coronavírus o ex-presidente diz o atual governo banaliza a morte e que “converteu o Coronavírus em uma arma de destruição em massa”. E assim vai. A imensa maioria das palavras de Lula no discurso são reservadas para críticas ao governo.  Em relação a eleição de Bolsonaro, Lula diz: “Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos”.

Enfim, depois de apresentar um Brasil destruído sob o governo Bolsonaro, Lula propõe a reconstrução nacional através de um pacto social.  Um contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria... O alicerce desse contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto...Através dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático, soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião, protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania”.

Tudo muito bonito. Muito valido também. Mas Lula, tal qual Bolsonaro, parecem sofrer de um complexo de Narciso, personagem da mitologia grega que era fascinado pela própria beleza. Narciso é símbolo máximo da vaidade. No governo Bolsonaro, por exemplo, nenhuma estrela pode brilhar mais que a dele. Se brilhar, é guilhotina na certa. Que o digam o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Lula é taxativo. Não aceita a formação de frentes democráticas que englobem vários partidos, e representantes de diversos setores da sociedade. Em junho, quando se faziam mais fortes os ataques de Bolsonaro à democracia, vários deputados propuseram a criação de uma frente ampla para defender a democracia da qual participariam pessoas de várias correntes ideológicas, de vários grupos e setores da sociedade. Enfim, uma união nacional em defesa da democracia. É esse tipo de coisa a que Lula se opõe.

O pensamento é mais ou menos o seguinte: vamos criar um novo pacto social, mas ele só poderá ser criado pelo PT, tendo como centro dos debates sua estrela máxima: Lula.

Enfim, tanto o discurso de Bolsonaro, quanto o de Lula, são discursos, cheios de palavras e sentenças fortes, mas que carecem do selo da verdade. São homens que parecem habitar em um passado remoto, distante dos tempos atuais. Suas palavras são como balões coloridos bailando ao vento que ao primeiro obstáculo explodem, e aí acaba a beleza. Apenas resta o vazio.

Além dos discursos vazios de significado, ainda veio coroar o 7 de setembro, a irracionalidade de uma população que esqueceu que vivemos uma pandemia, e correu para as praias e parques provocando chocantes e escandalosas aglomerações, fazendo com isso, que a pandemia por aqui se prolongue além do normal e que nos mantenhamos no incomodo platô ainda alto de mortes por covid-19.

Para terminar, apresento um vocábulo, cuja definição foi tirada da página do IBC (InstitutoBrasileiro de Coaching).

Resiliência.

A palavra resiliência vem do latim: Resilire, que significa “voltar atrás”. Está associada à capacidade que cada pessoa tem de lidar com seus próprios problemas, de sobreviver e superar momentos difíceis, diante de situações adversas e não ceder à pressão, independentemente da situação.

A resiliência demonstra se uma pessoa sabe ou não trabalhar bem sob pressão. É mais que educação, experiência, treinamento. O nível de resiliência de um indivíduo determina quem terá sucesso e quem se perderá pelo caminho. Quanto mais resiliente é alguém, mais forte e preparado ele estará para lidar com as adversidades da vida.

Resiliência foi o que faltou para grande parte da população brasileira que lotou praias e parques, grande parte dessas pessoas sem tomar o menores cuidados sanitários contra o vírus.


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