Palavras ao vento
Terça-feira,
08 de setembro
Feriado
de 7 de setembro.
Já
se vão longe os dias, como conta a história, que D. Pedro II, à beira de
riachozinho, deu o famoso grito: “Independência ou morte”! Grito esse que
marcou a emancipação do Brasil em relação a coroa portuguesa.
A
partir daquele 7 de setembro de 1822, o deixava de ser apenas uma colônia portuguesa
e ensaiava os seus primeiros passos como nação. Certamente, seria uma grande
nação se as aves de rapina não tivessem se lançado sobre suas riquezas e se
apropriado delas. Ainda hoje, descaradamente, fazem isso.
Também
não se pode dizer que o Brasil é uma nação pequena, insignificante. Isso não. O
país tem sua importância no cenário internacional. Apesar de hoje ter um
governante que ajuda a manchar a imagem da nação ao lavar às mãos às queimadas
na Amazônia e em todo o território nacional. Que lava as mãos aos atos de
corrupção que jurou, em campanha, combater. E que também lava as mãos para a
questão do coronavírus que até agora vitimou 127.001 brasileiros.
Também
vale destacar que já não somos o segundo país com maior número de casos de
Covid-19. Fomos ultrapassados pela Índia. Por aqui, já são 4.147.598 casos
confirmados da doença desde o início da pandemia. Enquanto lá já são 4.204.613
casos confirmados.
Por
falar em 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro usou os meios de
comunicação para fazer um pronunciamento à nação nesta data especial para os
brasileiros.
Mas
a realidade retratada nos discursos de presidentes de nações, especialmente os
ditadores e os que se pretendem populistas não representam de fato a realidade.
Esses discursos são como camadas de aquarela jogadas em um quadro para esconder
ou disfarçar a pintura original.
Por
exemplo, no discurso de hoje, Bolsonaro disse reiterar o compromisso com a Constituição,
com a democracia e a liberdade, e a preservação da soberania. Mas basta olhar não
muito longe sobre os ombros para ver o presidente exaltando e participando de
atos antidemocráticos, ameaçando as instituições, e praticando atos de governo
claramente autoritários e próprios das ditaduras. Se não é o STF, o Congresso,
e diversos setores da sociedade civil a pressionar, provavelmente, as coisas já
tivessem tomado outro rumo.
No
mesmo discurso em que defende a democracia, o presidente exalta o golpe militar
de 64, golpe esse que jogou o país em uma ditadura que durou vinte e um anos. O
presidente também fez parecer em seu discurso que a diversidade étnica e
cultural que é a base da sociedade brasileira atual se deu de forma natural,
sem conflitos. Uma visão idealizada de Brasil.
Quando
na verdade, todos sabem que houve muita luta, muita sofrimento, discriminação,
genocídio, na base de tudo isso. A dizimação dos costumes e dos povos indígenas
são exemplos disto. Assim como o preconceito que os negros sofreram e sofrem ao
cultuar seus deuses de origem africana. E também no caso da ascensão social.
O
próprio governo perpetua a dizimação dos povos indígenas quando não apoia as
políticas públicas a estes povos, ao contrário, praticamente, ignorando-os como
brasileiros que também são.
Enquanto
o presidente falava, também falaram as panelas nas janelas das residências e
edifícios em vários estados brasileiros. Vozes sufocadas, que não concordam com
os atos que se escondem atrás dos discursos bem floridos, tem de encontrar uma
forma de fazerem ouvir, e as panelas são uma ótima forma de dizer que não se
concorda com que está sendo dito. Uma panela sozinha faz apenas comida. Muitas panelas
juntas, ao mesmo tempo, fazem grande barulho.
Quem
também reapareceu neste 7 de setembro foi o ex-presidente Lula. Ele usou as
redes sociais para apresentar uma carta aberta aos brasileiros.
São
muitos os assuntos tratados por Lula na carta aberta à nação. Ele vai da
Covid-19, passando pelo militarismo no governo, do financiamento do SUS à
floresta amazônica, dentre outros assuntos.
Com
relação ao coronavírus o ex-presidente diz o atual governo banaliza a morte e
que “converteu o Coronavírus em uma arma
de destruição em massa”. E assim vai. A imensa maioria das palavras de Lula
no discurso são reservadas para críticas ao governo. Em relação a eleição de Bolsonaro, Lula diz: “Como nos filmes de terror, as oligarquias
brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que
continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos”.
Enfim,
depois de apresentar um Brasil destruído sob o governo Bolsonaro, Lula propõe a
reconstrução nacional através de um pacto social. “Um
contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em
que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia
esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria... O alicerce desse
contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto...Através
dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático,
soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião,
protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania”.
Tudo
muito bonito. Muito valido também. Mas Lula, tal qual Bolsonaro, parecem sofrer
de um complexo de Narciso, personagem da mitologia grega que era fascinado pela
própria beleza. Narciso é símbolo máximo da vaidade. No governo Bolsonaro, por
exemplo, nenhuma estrela pode brilhar mais que a dele. Se brilhar, é guilhotina
na certa. Que o digam o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o
ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.
Lula
é taxativo. Não aceita a formação de frentes democráticas que englobem vários
partidos, e representantes de diversos setores da sociedade. Em junho, quando
se faziam mais fortes os ataques de Bolsonaro à democracia, vários deputados
propuseram a criação de uma frente ampla para defender a democracia da qual
participariam pessoas de várias correntes ideológicas, de vários grupos e
setores da sociedade. Enfim, uma união nacional em defesa da democracia. É esse
tipo de coisa a que Lula se opõe.
O
pensamento é mais ou menos o seguinte: vamos criar um novo pacto social, mas
ele só poderá ser criado pelo PT, tendo como centro dos debates sua estrela
máxima: Lula.
Enfim,
tanto o discurso de Bolsonaro, quanto o de Lula, são discursos, cheios de
palavras e sentenças fortes, mas que carecem do selo da verdade. São homens que
parecem habitar em um passado remoto, distante dos tempos atuais. Suas palavras
são como balões coloridos bailando ao vento que ao primeiro obstáculo explodem,
e aí acaba a beleza. Apenas resta o vazio.
Além
dos discursos vazios de significado, ainda veio coroar o 7 de setembro, a
irracionalidade de uma população que esqueceu que vivemos uma pandemia, e
correu para as praias e parques provocando chocantes e escandalosas
aglomerações, fazendo com isso, que a pandemia por aqui se prolongue além do
normal e que nos mantenhamos no incomodo platô ainda alto de mortes por
covid-19.
Para
terminar, apresento um vocábulo, cuja definição foi tirada da página do IBC (InstitutoBrasileiro de Coaching).
Resiliência.
A
palavra resiliência vem do latim: Resilire, que significa “voltar atrás”. Está
associada à capacidade que cada pessoa tem de lidar com seus próprios
problemas, de sobreviver e superar momentos difíceis, diante de situações
adversas e não ceder à pressão, independentemente da situação.
A
resiliência demonstra se uma pessoa sabe ou não trabalhar bem sob pressão. É
mais que educação, experiência, treinamento. O nível de resiliência de um
indivíduo determina quem terá sucesso e quem se perderá pelo caminho. Quanto
mais resiliente é alguém, mais forte e preparado ele estará para lidar com as
adversidades da vida.
Resiliência foi o que faltou para grande parte da população brasileira que lotou praias e parques, grande parte dessas pessoas sem tomar o menores cuidados sanitários contra o vírus.
Postar um comentário