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Pandemia da desinformação
Posted by Cottidianos
on
02:58
Sexta-feira,
24 de julho
Caros
leitores e leitoras, começarei a postagem de hoje falando de experiências
pessoais, relacionadas ao coronavírus.
Era
anoitecer de sexta-feira, 17 deste mês. Resolvi pegar a bicicleta e dar uma
volta pela cidade.
Em
meus passeios de bike tenho evitado os lugares de maior movimento como os
parques, por exemplo, que geram bastante aglomeração. Muitas pessoas usam
máscaras, outras não nesses lugares. Tenho procurado as ruas mais tranquilas
onde o movimento de carros e de pessoas é bem pouco. Tenho gostado da
experiência. Cuido ao mesmo tempo do corpo e do espírito. Uma vez que o clima
de tranquilidade também me provoca reflexões. Descobri que, mesmo numa cidade bastante
agitada, como é a cidade em que moro, ainda é possível encontrar ruas e lugares
onde se pode pedalar com tranquilidade. Antes da pandemia não pensava dessa
forma e acabava procurando sempre as ruas e lugares mais movimentados.
Penso
no momento atual como um cenário de tempos de guerra. E em toda guerra há os
tais campos minados. Impossível saber onde as bombas estão escondidas. Então todo
o cuidado é pouco ao se caminhar por um lugar assim. Qualquer passo em falso, e
eis que uma delas explode e o indivíduo perde um braço, uma perna, quando não a
vida. Então é preciso muito cuidado e paciência para se andar por campos
minados.
A
pandemia nos colocou a todos do planeta nesse cenário de guerra. As bombas
escondidas sob o terreno é o coronavírus. Ele está por aí. Ninguém sabe onde
ele está. Um passo em falso e eis que a bomba explode e o indivíduo pode tanto
ter sintomas leves como perder a vida. Então melhor não arriscar.
Também
é verdade que nenhum combatente circula pelos campos de guerra sem as devidas
armas que o protejam de um ataque inimigo. Dizendo de um modo frio e realista
como a própria guerra o é: nela está para se matar ou morrer. No caso em
questão, os bravos combatentes somos nós e o inimigo é o vírus.
As
armas mortais, aquelas que realmente matarão o inimigo ainda estão sendo
pesquisadas, testadas. E elas são as vacinas. A corrida para que se tenha uma
arma eficaz é frenética em diversas partes do mundo, e algumas já deram
resultados bem positivos e animadores. Como é o caso da vacina de Oxford e uma
vacina chinesa. Mas, por enquanto tudo não passa de testes. Testes que nos dão
esperança é verdade. Mas que nem por isso devemos atravessar o campo minado de
modo atabalhoado, como se já tivéssemos ganho o jogo.
Então,
quais são as nossas armas: lavar as mãos com água e sabão, na impossibilidade
de não se ter esse recurso à mão, como estando na rua, por exemplo, o uso de álcool
gel é altamente recomendado, principalmente após tocar em produtos e superfícies.
Outro remédio bastante eficaz segundo os cientistas é o distanciamento social.
E, claro, todos os cuidados básicos com a higiene são sempre bem vindos.
Depois
desse longo parênteses, volto ao meu passeio de bike. Já estava distante de
casa cerca de cinco quilômetros, quando passei por cima de um caco de vidro. Senti
o vidro estalar embaixo do pneu dianteiro. Torci para que ele não tivesse
furado. Pedalei mais cerca de um quilometro, quando meu temor se confirmou: o
pneu murchou completamente. E logo aquele dia em que sai para dar um volta
rápida — porém me empolguei e acabei indo um pouco mais longe — não havia
levado comigo, nem bomba para encher o pneu, nem muito menos uma câmara de ar
para fazer a troca.
Tive
que voltar empurrando a bicicleta. Porém, como em tudo na vida é preciso
encontrar o lado positivo pensei: se não faço exercício pedalando, o faço
caminhando. O resultado da ação é a mesma.
Pensei
em um bicicletária que já havia visto aberta à noite, em um bairro um pouco
mais distante, mas que no rumo de casa, e resolvi arriscar. Rumei para lá. Quando
cheguei lá, o estabelecimento estava quase fechando. O dono já se preparava
para ir embora.
Mesmo
assim, gentilmente, me atendeu. Enquanto ele fazia os reparos devidos. Começamos
a conversar, respeitando o distanciamento, obviamente. Primeiro entramos no
campo da religião. Ele me falou de um padre que faz um programa em que transmite
belas mensagens, e de músicas católicas que costumava ouvir na juventude. Ele não
era velho, mas também já não era tão jovem.
Foi
quando eu perguntei do coronavírus e da situação pela qual estamos passando
atualmente. E vivi uma situação um tanto quanto constrangedora. O homem era um
negacionista. Ele começou a falar que mesmo que surja uma vacina contra a
doença ele não tomaria, pois, segundo ele, essas vacinas são venenos, que ao
invés de nos afastar dos vírus, trazem eles para dentro de nosso corpo. Tentei argumentar.
Vi que não adiantava. Então fiquei quieto. Ouvindo.
Depois
ele começou a falar do presidente, disse que ele era o homem mais honesto do
Brasil. Que tinha vindo para salvar o país. E então começou a desfiar o rosário
bolsonarista. Então me calei de vez.
Tudo
bem. Passou esse fato. Ele consertou o furo no pneu. E eu pude chegar em casa
pedalando.
Já
essa semana na qual estamos, estava conversando via WhatsApp com um amiga que é
advogada. Também fiquei um pouco triste com o posicionamento dela. Ela também é
negacionista. Porém, um negacionismo diretamente voltado ao trabalho da
imprensa. Para ela, tudo isso é paranoia inventada pela grande mídia. A doença
não é tão grave. A imprensa é que a surperdimensionou. Também aqui não há como
argumentar. A opinião já está estabelecida.
Voltando
ao início do mês, também conversava com um pessoal que tem uma certa condição
financeira boa. E, segundo eles, a culpa de tudo isso que está acontecendo, de
a economia não está indo como deveria, é dos governadores que decretaram
medidas restritivas. Ah, e também da China. A China é responsável pelo
surgimento do vírus.
Como
se vê caros leitores, e leitoras. Muita gente aqui no Brasil, e também em outras
partes do globo, estão infectadas. Infectadas com um vírus tão perigoso quanto
o coronavírus. Elas pegaram o vírus da desinformação. E assim como o
coronavírus, esse outro vírus também não escolhe vítimas, nem a escolaridade,
nem classe social. Basta apenas que as pessoas estejam vulneráveis. Quanto mais
vulnerável melhor é para o vírus da desinformação se apoderar das mentes desses
seres.
A
Organização Mundial também está preocupada com esse vírus desinformativo. Tanto
é que encerrou na terça-feira, 21, a primeira conferência científica sobre a
pandemia de informações.
Foram
três semanas de debates e discussões online que reuniu 110 especialistas de 14
áreas diferentes. A essa enxurrada de informações, grande maioria delas falsas,
a OMS deu o nome de “infodemia”.
Segundo
um relatório feito pela Organização Pan Americana de Saúde (PAHO), e citado no
site do UOL, mostra que o boom de informações referentes a pandemia no mês de
abril foi o seguinte:
—
361 milhões de vídeos carregados no Youtube com a classificação COVID-19
—
19.200 artigos publicados no Google Acadêmico
—
550 milhões de tuítes com os termos coronavírus, coronavírus, covid19, covid_19
ou pandemia.
O
problema é que grande parte dessas informações são fake news. E essas informações
acabam prejudicando o combate à doença. Por exemplo, uma pessoa que acredita
que lavar as mãos com água e sabão não é eficaz contra o vírus, acaba assumindo
um risco maior de contaminar-se.
São
tantas as desinformações a respeito desse assunto... Provavelmente o leitor ou leitora
já deve ter tido ouvido ou lido sobre algumas delas.
Por
exemplo, já surgiu até uma teoria da conspiração que diz que as redes moveis
que usam a tecnologia 5G ajudam a propagar o novocoronavírus. No Reino Unido,
um grupo levou essa falsa informação tão à sério que incendiou cerca de 100
torres que usam este tipo de sinal. O ataque também se estendeu aos funcionários
de operadoras que trabalham com essa tecnologia. Mas o que tem ver a tecnologia
5G com tudo isso, pergunta você. Segundo os loucos que acolheram essa teoria
como verdadeira, a implantação de antenas de última geração violaria, de alguma
forma, o sistema imunológico das pessoas, tornando-o mais frágil, e permitiriam
a disseminação de vírus como o Covid-19.
Outro
absurdo aconteceu no Irã. Naquele país, cerca de 700 pessoas morreram
envenenadas ao tomar metanol — álcool extremamente tóxico. As vítimas acreditavam
que o líquido seria capaz de curar o coronavírus. Além das pessoas que morreram
outras 5 mil foram envenenadas e sobreviveram, mas podem ter sequelas como
cegueira e sofrer danos cerebrais.
O
próprio presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, já estimulou seus concidadãos
a tomar desinfetante para tratar o novo coronavírus. Depois dessa declaração
feita por Trump em abril, cresceram os casos de intoxicação por desinfetante em
Nova York.
Na
conferência realizada pela OMS os especialistas chegaram à conclusão de que a “infodemia”,
precisa de uma resposta coordenada e multidisciplinar.
A
OMS também faz um apelo: “não compartilhem informações antes de confirmá-las”.
Talvez
seja esse o caso dos negacionistas que há aos montes circulando por aí. Eles fogem
da imprensa tradicional, acabam consumindo informação sem nenhuma
confiabilidade, e, com isso, são presas fáceis do vírus da desinformação que
também pode provocar vários danos, inclusive matar. Portanto,
caro leitor, cara leitora, fuja desse vírus, o vírus da desinformação. Não deixe
que ele lhe contagie.
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