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Pega na mentira

Posted by Cottidianos on 00:18

Quarta-feira, 22 de setembro

Você vive de mentira, ha-ha

A mentira te alimenta, ha-ha

As aparências enganam

E você só aparenta

Se você queria paz veio ao lugar errado

O futuro nunca chega e nem se volta ao passado

(De Mentira – Zeca Baleiro)


Desde que a comitiva brasileira chegou a Nova Iorque para Assembleia Geral da ONU, liderada pelo presidente, Jair Bolsonaro, não há nada do que nós, brasileiros, que não pertencemos ao chiqueirinho, digo do cercadinho do presidente, possamos nos orgulhar. A comitiva tem dado um vexame atrás do outro, e sofrido um vexame atrás do outro.  

Primeiro que a legislação da cidade de Nova Iorque não permite a entrada de não vacinados em lojas, bares e restaurantes. E o presidente Bolsonaro não tomou vacina, e nem pretende tomar agora.

O presidente já teve que comer pizza, de pé, em frente a um restaurante, por esse motivo. Em uma churrascaria, para driblar a exigência da vacinação, foi improvisado um “puxadinho” na calçada, em frente à churrascaria, com mesas ao ar livre e cercadas por um pano preto. Junto com o presidente nesse puxadinho estavam os ministros da Saúde Marcelo Queiroga, do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o chanceler Carlos França e o chefe do GSI Augusto Heleno.

No domingo, 19, alguns manifestantes contrários ao governo Bolsonaro se reuniram em frente ao hotel Intercontinental New York Barclay. O presidente resolveu fugir deles entrando no hotel pela porta dos fundos. Na noite de segunda-feira, 20, o presidente e alguns membros da comitiva foram jantar na casa do representante da missão brasileira nas Nações Unidas. Alguns manifestantes se aproximaram da van em que estava o presidente com gritos de protestos. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, exaltado se levanta do banco da van e faz gestos obscenos para os manifestantes.

Outro que não se comportou de acordo com o que manda a boa educação, nem com a liturgia do cargo, foi o ministro das Relações Exteriores, Carlos França. Para os manifestantes ele fez gesto de armas com os dedos. Gesto tão apreciado pela família Bolsonaro.

Certamente, esses foram situações bastante constrangedoras, porém a coroação do constrangimento foi o discurso feito pelo presidente, Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, 21, no discurso de abertura da Assembleia Geral da Nações Unidas.

O presidente não foi nada diferente da sua essência: vazio e mentiroso. E o discurso dele, idem. Para começar, deve ter sido chocante, no mínimo estranho, que o mandatário que faz o discurso de abertura seja um não vacinado. Na verdade, Bolsonaro aproveitou o palco da ONU para fazer uma live de luxo. Quem acompanha as lives do presidente às quintas-feiras logo reconheceu o estilo. As lives do presidente são cheias de mentiras, bobagens, e brincadeiras sem graça e de mal gosto. E um detalhe: Nela o presidente fala à sua base, aos seus apoiadores. Pois, para esses Bolsonaro pode até falar que a Terra é redonda que eles prontamente acreditarão. O mesmo acontecerá se ele disser que Papai Noel existe.

Mas, vamos ao discurso.

Após as saudações iniciais, Bolsonaro já dá uma de direita na imprensa, dizendo que vai “mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”. E nesse caso, não apenas a imprensa brasileira é a vilã, mas a imprensa mundial, uma vez que a imprensa mundial também publica muitas críticas verdadeiras a respeito do governo, e do presidente. É a imprensa como inimiga. Aquela que deveria mostrar apenas as coisas boas que o governo faz. O problema é que jornalismo e literatura estão no mesmo plano, mas não a mesma coisa. Na literatura se pode inventar um mundo de coisas e sentimentos. O jornalismo, o bom jornalismo, deve se prender aos fatos e a realidade. Não dá para falar de coisas quando elas inexistem.

Vamos a segunda grande mentira, e olhem que, tirando as saudações iniciais ainda estamos bem no início do discurso.

O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção

O Brasil mudou muito é verdade, desde que Bolsonaro assumiu a presidência, e não foi para melhor. Instabilidade, confusão, ataques a democracia, desmonte do meio ambiente. Desmonte da Lava Jato. O presidente deveria ter falado dos escândalos de corrupção que a CPI trouxe à tona que são os contratos tenebrosos para a aquisição de vacinas. Ele também não falou dos escândalos de corrupção que envolvem seus filhos, e dos processos que tramitam contra ele no STF e no TSE.

E quanto a Amazônia? Vejamos o que disse o presidente.

Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa.

Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países.

O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais.

São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500.

Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.

Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.

E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer!

Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior.

QUAL PAÍS DO MUNDO TEM UMA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL COMO A NOSSA?

Acho que sobre isso o presidente disse apenas duas verdades: Quando ele exalta a nossa legislação ambiental e o nosso código florestal. A partir daí, já não há mais verdades. Todos temos conhecimento do como o presidente Jair Bolsonaro encara essa questão do meio ambiente. Para ele, o meio ambiente só tem uma finalidade: dar lucro a madeireiros, mineiros, e grileiros ilegais. É preciso destruir a natureza para que ela nos dê lucros, e não proteger para que ela nos traga segurança.

Também era preciso dedicar, pelo menos um curtíssimo parágrafo para as questões internacionais.

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e jovens afegãos.

Os refugiados afegãos são bem-vindos, se forem cristãos. Se não forem cristãos, se forem mulçumanos, procurem outro país para se refugiarem.  

Obviamente, como nas lives de quinta-feira, não poderia deixar de ter as críticas aos prefeitos e governadores que promoveram lockdowns, e ajudaram a salvar muitas vidas.

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo.

No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões.

Assim como quando se trata da vida do meio ambiente, para a qual o que interessa é o lucro e não a preservação, para a vida humana o raciocínio não é diferente. É preciso fazer a economia girar, mesmo que para isso tenha que enviar milhares de brasileiros para a morte. Todos nós nos lembramos do descaso com o qual o presidente tratou da questão da pandemia. Minimizando a letalidade do vírus, desprezando as vacinas, ignorando o uso de máscaras, e incentivando aglomerações. Se o presidente tivesse incentivado o lockdown, e a vacina, não estaríamos na situação que estamos hoje, nem na saúde, com milhares de mortes, nem na economia, com uma inflação absurda que comeu o poder de compra do brasileiro. Milhões de brasileiros desempregados.

O governo só se preocupou em comprar vacinas quando os brasileiros viram vários países começando a se vacinar e nós sem sair do lugar. Vieram as críticas e o presidente foi obrigado a comprar vacinas. Tardiamente.

E, essa é para cair de costas. O presidente usou a tribuna da ONU para fazer defesa do tratamento precoce, que já está mais do que provado que não tem eficácia nenhuma contra a Covid-19. Ele também condena a obrigatoriedade da vacina.

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina.

Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.

Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label.

Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial.

A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.

Não poderia faltar nesse rosário de mentiras o tal 7 de setembro. O presidente disse que milhões de brasileiros foram às ruas. Grande mentira. Talvez essas milhões de pessoas estivessem apenas na cabeça dele. O problema é que essas mentiras circulam fortemente nas redes sociais, com fotos adulteradas e muitas fake news. E o bolsonarista radical acredita. Se confrontado com a realidade, ele dá as costas para a realidade e fica com a ilusão.

Se fosse comentar todo o discurso do presidente Jair Bolsonaro, esta postagem certamente ficaria muito longa. Por isso, resolvi escolher apenas alguns trechos. Mas, gostaria de compartilhar com os leitores uma das análises mais completas que vi sobre o assunto. E foi no Jornal Nacional, edição desta terça-feira, 21. Está disponível no Globo Play.

https://globoplay.globo.com/v/9880266/programa/?s=13m48s

Ou na página do Jornal Nacional.

https://g1.globo.com/jornal-nacional/


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