Lenha na Fogueira
Quarta-feira, 29 de junho
Pedro Guimarães e Jair BolsonaroDias
atrás, houve uma especulação do nome da ex-ministra da Agricultura, Tereza
Cristina (PP-MS), para ser vice na chapa de Bolsonaro à presidência nas
próximas eleições. Sites e jornais anunciavam que o nome dela ganhava força
nessa empreitada. Aliados defendiam que seria uma forma de atrair o eleitorado
feminino diante do qual Bolsonaro tem forte rejeição.
Eu,
particularmente, tinha a certeza de que isso não iria acontecer. Bolsonaro ter
uma mulher como vice na chapa dele, para mim, era coisa impensável,
inimaginável. E pensava isso, não por achar as mulheres menos capazes que os
homens. Muito pelo contrário, elas estão por aí, mundo afora, ocupando cargos
públicos, e fazendo excelente trabalho.
O
problema é que o presidente pensa exatamente isso: Que as mulheres são menos
capazes. Digo isso, não por achismos, mas pelas reais atitudes e pensamentos do
presidente expressas mais de uma vez, não apenas durante o seu mandato como
presidente, mas também durante o tempo que atuava como deputado. E tanto faz se
a mulher é apoiadora dele ou não.
O
mais recente flagrante desrespeito para com as mulheres foi registrada em um
vídeo que viralizou nas redes, e aconteceu durante um evento evangélico
realizado em Balneário Camboriú (SC).
Bolsonaro
avança em direção ao público de mãos dadas com Luciano Hang, dono da Havan.
Junto com Bolsonaro também está a vice-governadora de Santa Catarina, Daniela
Reihner (PL), e alguns apoiadores. Daniela faz gesto de querer ficar na linha
de frente, junto com Hang e Bolsonaro, quando este, de forma ríspida, olha na
direção dela e ordena: “Fica para trás,
meu Deus do céu!” Diante disso, Daniela obedece, e dá um passo para trás.
Diante
da repercussão do vídeo, ela disse que as coisas não foram bem assim, que o
vídeo era tendencioso. Nas imagens fica claro o que aconteceu. Não resta
dúvidas: A vice-governadora levou uma esnobada do presidente.
Por
falar em presidente e suas ofensas contra as mulheres, a jornalista Patrícia
Campos Mello, da Folha de São Paulo, acaba de ganhar, na Justiça, uma causa que
moveu contra o presidente.
Era
manhã de terça-feira, 18 de fevereiro de 2020, Bolsonaro dava entrevistas em
frente ao Palácio do Planalto. Um repórter o questionou sobre o caso da Yacows,
agência que realiza disparo de mensagens em massa pelo WhattsApp.
Na
semana anterior, Hans River, funcionário dessa empresa, havia dado prestado
depoimento à CPI das Fake News, no Congresso Nacional, no qual disse, sem
apresentar provas, que a jornalista teria se insinuado sexualmente para ele em
troca de uma reportagem sobre o uso de disparos em massa durante a campanha
eleitoral.
A
Folha, imediatamente, divulgou mensagens de textos e de áudio que descontruíram
a mentira contada por Hans à CPI.
Apesar
disso, Bolsonaro aderiu a versão contada pelo mentiroso Hans River a expressou
durante a entrevista, e mais grave, também ele, Bolsonaro, ofendeu a
jornalista: “Ela queria um furo. Ela
queria dar o furo a qualquer preço contra mim”, fazendo também ele, insinuações
de cunho sexual contra a jornalista. Antes disso, o presidente, Jair Bolsonaro,
e seu filho, os deputados Eduardo Bolsonaro já haviam reproduzido em suas redes
sociais, o comentário mentiroso de Hans sobre a jornalista.
Na
época, o caso ganhou ampla repercussão, e entidades de imprensa, políticos, e
outros setores da sociedade se pronunciaram duramente contra fala do
presidente.
Patrícia
Campos Mello levou o caso à Justiça de São Paulo. Em abril de 2020, Hans River
do Rio Nascimento, foi condenado a indenizar a jornalista em 50 mil reais por
danos morais. Jair Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro também foram condenados a
indenizá-la.
Bolsonaro
recorreu da decisão. O resultado do recurso saiu nesta quarta-feira, 29. O
Tribunal de Justiça de São Paulo, por 4 votos a 1, não apenas manteve a
condenação, como também elevou de R$ 20 mil para R$ 35 mil o valor da
indenização pelo crime de ofensa à honra.
No
Twitter, Patrícia escreveu: “Ganhamos!!!!
Por 4x1, o TJ de SP decidiu que não é aceitável um presidente da República
ofender, usando insinuação sexual, uma jornalista. Uma vitória de todas nós
mulheres”.
O
presidente ainda pode recorrer da decisão.
Ainda
falando de mulheres e do desrespeito a elas, o Brasil acordou hoje
sobressaltado e indignado com o caso de assédio sexual contra funcionárias da
Caixa Econômica Federal, praticado pelo presidente da instituição, Pedro
Guimarães.
Na
tarde desta terça-feira, 28, o site Metrópoles trouxe relatos de cinco
funcionárias da Caixa Econômica Federal que acusam Pedro Guimarães, presidente
da Caixa, de as ter assediado sexualmente.
O
relato das cinco funcionárias são bem semelhantes. Uma das funcionárias diz que
era comum o presidente da Caixa chamar grupos de funcionários para jantar com
ele. E, durante esses jantares, ocorriam os constrangimentos. Ela conta que,
numa dessas ocasiões, durante uma viagem de trabalho, ele a fez ir ao quarto
dele, altas horas da noite, pedindo que ela levasse até ele um carregador de
celular. Quando chegou ao quarto encontrou ele apenas de cueca samba canção. Ela
diz que se sentiu humilhada, e desrespeitada como mulher.
As
funcionárias contam ainda que era comum ele tocar as funcionárias nas partes
íntimas, e que esses assédios ocorriam em viagens de trabalho, e até na frente
de outras pessoas.
As
mulheres falam que até tentaram denunciar o assédio através dos canais de
denuncia disponibilizados pela Caixa, mas que essas denúncias eram encobertas. Além
disso, elas dizem também que outras mulheres que tentaram denunciar, sofreram
retaliações. A outras ainda, eram oferecidas promoções, e até cursos no
exterior.
O
Ministério Público do Trabalho está investigando o caso. Até agora, foram
ouvidas cinco depoimentos e três testemunhas.
Pedro
Guimarães é um nome muito próximo do presidente, Jair Bolsonaro. Está com ele
desde o início do governo, e aparecia com frequência nas lives que o presidente
faz às quintas-feiras.
Hoje,
no final da tarde, a situação de Pedro Guimarães se tornou altamente insustentável,
e ele pediu demissão do cargo. Através de carta dirigida ao presidente Jair
Bolsonaro, ele mais fala do trabalho que fez à frente da Caixa Econômica, mais
que das denúncias. Em relação a estas, ele diz que são inverídicas e que a
inocência dele será provada no tempo devido. Ele só esquece que não é um relato
grave, são cinco denunciantes e, provavelmente, venham a surgir outros casos.
O
núcleo político da campanha do presidente recebeu a notícia com grande
preocupação. Quando eles ainda estavam tentando assimilar o escândalo do gabinete
paralelo que atuava no ministério da Educação, com a participação de pastores
de igrejas evangélicas, e do próprio ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro,
que reacendeu na semana passada, envolvendo, inclusive com suspeita de
interferência do presidente da República na Polícia Federal, eis que vem mais
uma bomba envolvendo um nome ligado ao presidente.
Quando
estourou o escândalo no MEC, Bolsonaro disse que colocaria a cara no fogo por
Milton Ribeiro. E agora, será que também colocará a cara no fogo por Pedro
Guimarães?
Falando
em corrupção, um governo que se elegeu tendo como bandeira o combate a
corrupção, e que depois matou a Lava Jato, e que também tinha como lema “corrupção
zero”, eis que pipocam escândalos. Aqui e acolá temos visto escândalos no governo.
Houve gabinete paralelo no ministério da Saúde. Houve gabinete paralelo no
ministério da Educação. Provavelmente há gabinetes paralelos em outros
ministérios que ainda não vieram à tona.
Outro
fato a não permite que haja corrupção no governo Bolsonaro, é que os delegados
da PF que apuram escândalos de corrupção no governo são imediatamente
afastados. Foi assim no caso do delegado que investigava o filho do presidente,
Jair Renan, do diretor da PF que atuava no caso Flávio Bolsonaro. E em outros
casos, em que os delegados ou foram afastados ou exonerados. Assim fica fácil
não ter corrupção.
Mas para esquentar ainda mais o caldo, na reta final de campanha, o governo, provavelmente, tenha de enfrentar mais uma CPI: A CPI do MEC. Os senadores de oposição já conseguiram as assinaturas necessárias para sua instalação. Tudo depende agora do presidente do senado, Rodrigo Pacheco.
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