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Marília Mendonça: Uma estrela que volta para o infinito

Posted by Cottidianos on 02:53

Sábado, 06 de novembro


Marília Mendonça

 Era para ser mais uma sexta-feira como outra qualquer, mas não foi.

Cheguei do trabalho por volta das sete da noite. Passei na portaria do prédio, cumprimentei o porteiro. Fiz as brincadeiras de sempre quando passo por lá. Ele estava vendo alguma coisa no celular, na rede social e me chamou para ver.

— Olha o que aconteceu!

— O quê? Perguntei eu, curioso. E me aproximei, achando que ele iria me mostrar alguma coisa engraçada na Internet. Me aproximei, e ele me mostrou imagens de um acidente aéreo.

— Marília Mendonça morreu num acidente de avião, disse ele.

— Não acredito! Disse. E não acreditava mesmo. Achava que era alguma fake news. Enfim, são tantas as notícias falsas que circulam pelas redes sociais, que a gente tem que desconfiar dessas notícias de grande impacto. Me recusava a acreditar que uma cantora de voz tão potente, e uma mulher de uma personalidade tão forte, tinha sido vitimada por um acidente aéreo.

Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz, aliás como quase sempre faço, foi sintonizar a rádio CBN. Quando sintonizei a rádio a sala de casa imediatamente foi invadida com a triste notícia da morte da cantora. E daí, não parou mais. Rádio, televisão, jornal impresso, Internet, conversas nos bares, nas ruas, todos falam do acidente fatal que vitimou a artista, que, em pouco anos, com voz poderosa e personalidade forte, se tornou um fenômeno da música sertaneja e das redes sociais. O sucesso de Marília Mendonça foi desses sucessos que a gente costumar chamar de meteórico.

No início da tarde desta sexta-feira, 05, foi uma Marília Mendonça alegre, e em paz consigo mesma que embarcou no aeroporto Santa Genova, em Goiânia. Fez postagens antes de embarcar, caminhando em direção a aeronave com a bagagem de rodinhas, e o violão pendurado no ombro. Dentro da aeronave, fez novas postagens fazendo uma refeição, e até fez brincadeiras com sua dieta.

A cantora ainda carregava as boas energias e vibrações adquiridas durante a quinta-feira, 04. A mãe dela. Ruth Moreira, havia feito aniversário naquele dia, e Marília se reuniu com ela para comemorar a data tão especial. Marília postou as comemorações em uma rede social.

Seu cuidado e carinho ultrapassam o limite do ser mãe. Você, com seu coração gigante, não se conforma em simplesmente ser mãe de Marília e João Gustavo, mas é mãe de todos que ama de verdade. Seu coração deveria ser estudado e reproduzido nas próximas gerações. O mundo seria mais bonito se existissem mais Ruths espalhadas por aí. Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida. Seremos sempre nós. Conectadas, entrelaçadas e fortes. Juntas! Te amo, mãe! PRA SEMPRE! Feliz aniversário @ruthmoreira67.”, escreveu ela no Instagram. Nem sabiam as duas que aquela era uma despedida. Que aquelas eram uma das últimas postagens de Marília Mendonça.

Quando Marília diz: “Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida”, ela provavelmente estava se referindo ao filho, Léo, de quase dois anos de idade. O Léo foi mais sonho realizado pela cantora.

O avião em que a Marília Mendonça estava seguia em direção a Ubaporanga, cidade da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. De Ubaporanga ele seguiria, de carro, por estrada de terra, até a cidade vizinha de Caratinga, onde faria um show na noite desta sexta-feira, 05, no Parque de Exposições da Cidade.

Era por volta da 16h30min, quando a aeronave — um avião bimotor da King Air da Beech Aircraft, fabricado em 1984 — se aproximava da pista de pouso. Estava a apenas dois quilômetros de uma aterrisagem tranquila e de uma viagem sem maiores incidentes. Foi então que tudo aconteceu. Quando passavam pela localidade de Piedade da Caratinga, a aeronave que transportava a cantora atingiu os cabos de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O avião bimotor então perdeu sustentação.

Em uma região da mata, e em desespero, o piloto procurou, naqueles instantes fatais, um lugar onde pudesse fazer um pouso forçado. Tentou uma clareira, em uma cachoeira, mas era um lugar acidentado e cheio de pedras. O piloto bem que tentou, mas o pior aconteceu. O avião não explodiu, mas espatifou-se nas pedras, matando todos os ocupantes.

Além de Marília Mendonça, morreram no acidente; Geraldo Martins de Medeiros Junior, o piloto, Tarciso Pessoa Viana, o copiloto, o produtor-geral Henrique Ribeiro e o assessor Abicieli Silveira Dias Filho, que também era tio de Marilia Mendonça.

A mãe de Marília Mendonça, Ruth Moreira, logo cedo percebeu que a filha cantava bem, tinha uma boa voz. Então começou meio que a empurrá-la para esse caminho. Levava a filha para cantar em restaurantes, barzinhos, em troca de cachês baratos, e comida. Coração de mãe é como mente de Nostradamus. Ali onde ninguém enxerga talento, ela enxerga uma celebridade. E dona Ruth estava certa. A menina tinha mesmo dom para a música. Aos doze anos compôs seu primeiro sucesso, Minha Herança, gravado pela dupla sertaneja, João Neto e Frederico.

Apaixonada por redes sociais, Marília começou a postar nelas vídeos em que ela aparecia cantando. Não eram vídeos profissionais. Eram vídeos caseiros e de baixa qualidade. Mesmo assim, o número de visualizações não era pequeno. Quem assistia aqueles vídeos de baixa qualidade sabia que os vídeos podiam até não ser bem elaborados, mas a cantora era de primeira grandeza.

Marília foi seguindo sua carreira mais como compositora que como cantora. Em 2015 ela gravou um EP de estreia. Porém, o primeiro sucesso veio com o lançamento do primeiro DVD, Marília Mendonça. O DVD vendeu 240.000 mil cópias. Quase sempre uma canção se destaca no álbum do artista. E no primeiro DVD da cantora, a música, Infiel, caiu no gosto popular, e, logo levou o disco a receber o certificado de disco de diamante triplo, e também puxou a cantora sertaneja para os braços da fama.

Marília Mendonça seguiu sua carreira iluminada e vitoriosa, arrebanhando multidões por onde passava. Outros milhões de fãs a seguiam pelas redes sociais. Então veio a pandemia do coronavírus impedindo as pessoas de todo o planeta de se beijarem, se abraçarem, de se aglomerar. Os artistas foram uma das categorias que mais sofreram, e ainda sofrem com esse distanciamento.

Entretanto, mesmo em meio à pandemia a luz da cantora brilhou. Sem poder ter o contato físico com o público, os artistas recorreram às lives. Todo mundo queria fazê-las.

No dia 08 de abril de 2020 Marília Mendonça fez a live intitulada, Live Local de Marília Mendonça. O título engana bem, pois a live da cantora não teve nada de local, ao contrário, teve 3,31 milhões de visualizações, tornando-se a live mais assistida da história do Youtube, e a mais vista no mundo, ficando à frente de lives de artistas como Andrea Bocelli.

Sem dúvida, o Brasil perdeu nesta sexta-feira, uma de suas grandes cantoras. Você pode não gostar da música sertaneja, nem do estilo de música cantada por Marília Mendonça, mas não se pode negar a importância dela no meio musical brasileiro.

Em um meio sertanejo dominado pelos homens, em suas composições e nas canções que cantava, Marília Mendonça falou de amores sofridos, de traições, da valorização da mulher, do empoderamento feminino. Virou a “rainha da sofrência”. Enfim, nada melhor que uma mulher para falar com tanta verdade ao universo feminino.

Ela foi responsável pelo movimento musical chamado, feminejo, que significa a ascensão das mulheres na música sertaneja. Na esteira do sucesso de Marília Mendonça vieram, por exemplo, as duplas Simone e Silmara e Maiara e Maraisa.

A morte de Marília Mendonça choca o país por uma série de motivos. Porque nos mostra a brevidade da vida, porque é a mulher que acreditou no sucesso e por ele lutou, porque estava no auge da carreira, e que sempre se superava, e também porque, apesar de ter alcançado o estrelato, sempre soube conservar a humildade, o amor, e o respeito para com seus fãs.

Marília Mendonça nasceu em Cristianópolis, Goiás, em 2 de julho de 1995, e se despediu deste mundo nesta sexta-feira, 05 de novembro de 2021, aos 26 anos de idade. Deixa o Brasil mais triste e o céu mais alegre.

Não poderia deixar de falar neste texto também de outras duas grandes perdas que o Brasil teve recentemente: Uma no campo da música, e outra no campo da literatura.

                                                         Nelson Freire

Na segunda-feira, 01 de novembro, o Brasil se despediu de Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo. Um verdadeiro gênio no piano. O artista morreu na casa dele, aos 77 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi vítima de uma queda que sofreu em casa. Há dois anos ele também havia sofrido uma queda na rua que lhe trouxe uma série de complicações.

Nelson nasceu na cidade de Boa Esperança, Minas Gerais. Talento precoce, ele começou a tocar piano em casa, aos três anos de idade. Os pais resolveram colocar o menino numa aula de piano. Quando já havia feito doze aulas, o professor chegou para os pais do garoto e disse a eles que não tinha mais nada para ensinar, pois o menino já havia aprendido tudo. Aconselhou-os a mudar para o Rio de Janeiro, onde Nelson poderia dar vazão a sua genialidade.

Aos cinco anos, o garoto realizou o seu primeiro recitou em um teatro na cidade de Boa Esperança. Foi ainda quando ele tinha cinco anos que, ele os pais, e mais nove irmãos, mudaram-se para o Rio de Janeiro. O pequeno Nelson causou uma revolução na vida dos pais e dos irmãos. Os pais, que viviam numa cidade pequena e pacata do interior de Minas tiveram que se mudar para a grande e agitada cidade do Rio de Janeiro.

Já no Rio de Janeiro, aos doze anos, ele ficou em sétimo lugar em um concurso internacional de música. A partir daí, trilhou uma carreira brilhante, premiada internacionalmente.


                                                                 Gilberto Braga

Outra grande perda para os brasileiros foi o novelista Gilberto Braga. Gilberto morreu na terça-feira, 26 de outubro, aos 75 anos no Rio de Janeiro. Há algum tempo a saúde do autor vinha se deteriorando. Ele já havia passado por uma cirurgia na coluna, uma cirurgia no coração, e uma hidrocefalia. Uma semana antes Gilberto Braga foi levado para o hospital onde teve uma infecção generalizada. 

Quando era anunciada uma nova novela da Globo e ela tinha a assinatura de Gilberto Braga, o público já ficava na expectativa, pois sabia que novela dele era sinônimo de sucesso.

E de fato, inúmeras foram as novelas de sucessos e personagens marcantes que ele criou. Dentre elas estão, Corpo a Corpo (1984), Rainha da Sucata (1990), na qual atuou como colaborador, e O Dono do Mundo (1991). São também as minisséries Anos Dourados, (1986) e Anos Rebeldes (1992), Paraíso Tropical (2008). Sua última produção foi Babilônia (2015), foi a última produção do autor exibida pela TV Globo.

É também de Gilberto Braga a adaptação para a televisão de Escrava Isaura, romance escrito por Bernardo Guimarães, em 1875. Escrava Isaura se tornou uma das novelas de maior sucesso produzida no Brasil e exportada para vários países.

Á Marília Mendonça, Nelson Freire, e Gilberto Braga, os votos desse blog para que façam uma caminhada espiritual tão ou mais iluminada do que foram as suas caminhadas terrenas.


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