Bolsonero
Segunda-feira, 23 de agosto
“Os bombeiros todos ganham
Os trinta dinheiros pra aquecer o fogo
Mas eu vejo a chama e tremo, por que sou
daqui
Entendo o fogo porque sou daqui
E estas paredes porque sou daqui
E os meus amigos porque sou daqui
E os meus perigos porque sou daqui”
(Fagner – Incêndio)
Em
comunicado do dia 29 de março deste ano, o ministro da Defesa, Fernando Azevedo
e Silva anunciou que deixaria o cargo. O ministro não informava o motivo pelo
qual estava saindo do comando do ministério da Defesa. Azevedo ficou à frente
da pasta por 2 anos e três meses. Marinha, Exército, e aeronáutica são
vinculadas ao ministério da Defesa.
Uma
frase no comunicado emitido por Fernando Azevedo soou como enigmática. Após
agradecer o Presidente da República, e por destacar o tempo que serviu na
pasta, ele diz: “Preservei as Forças Armadas como instituições de Estado”.
Depois, veio a se saber que o ministro fora demitido por Jair Bolsonaro. Os
motivos, porém, permaneceram ocultos.
Um
dia depois da saída de Azevedo, os comandantes do Exército (Edson Leal Pujol),
da Marinha (Ilques Barbosa), e Antônio Carlos Bermudez (Aeronáutica),
entregaram os cargos. Isso representou um fato inédito, pois nunca antes na
história da república brasileira havia ocorrido a demissão dos três chefes da
Forças Armadas de forma simultânea, e marca também mais um capítulo na grave
crise institucional na qual o país está mergulhado, em grande parte, devido aos
arroubos autoritários do presidente, Jair Bolsonaro.
Se,
Fernando Azevedo e Silva, ainda guardava algum pudor em não jogar as Forças
Armadas dentro do caldeirão político, o seu substituto, o general Walter Braga
Neto, que comandava a Casa Civil antes de ir para o ministério da Defesa, faz o
jogo do presidente, apoiando em suas esdrúxulas ideias antidemocráticas.
Conforme
dito acima, uma frase no comunicado de Fernando Azevedo, quando da sua saída do
ministério da Defesa, pareceu enigmática. Em entrevista à revista Veja,
publicada em 19 de agosto, Raul Jungmann, ex-ministro da Defesa e Segurança
Pública no
governo de Michel Temer no período de maio de 2016 e janeiro de 2019, esclarece
o fim do ministério da saída dos chefes das três Forças Armadas que entregaram em
fins de março deste ano.
Segundo
ele os três foram demitidos por não se dobrarem ao autoritarismo do presidente
e seus ataques às instituições. “Foi por não endossar os achaques ao Supremo
Tribunal Federal, ao Congresso Nacional e aos governadores, pelas políticas
engendradas na pandemia, que, pela primeira vez, os chefes da Aeronáutica,
Marinha e Exército foram demitidos. Eles não se dobraram. Os três foram
demitidos porque se recusaram a envolver as Forças Armadas nas declarações e
nos atos do presidente da República. Toda vez que ele se sente ameaçado, sob o
tom e desrespeita os outros poderes, constrangendo as Forças Armadas a endossar
esse discurso”.
Na
entrevista, Raul Jungmann, vai mais além e fala do motivo real da demissão dos
comandantes. “Ele (Jair Bolsonaro) chamou um comandante militar e perguntou
se os jatos Gripen estavam operacionais. Com resposta positiva, determinou que
sobrevoassem o STF acima da velocidade do som para estourar os vidros do prédio”,
diz o ex-ministro.
Diz
ainda que os chefes das Forças Armadas questionaram Bolsonaro sobre o absurdo
desse pedido e, por isso, foram demitidos. Jungmann, obviamente, não cita a
fonte, mas diz ter depoimento a respeito do assunto. Como ex-ministro da
Defesa, ele conhece muito bem os bastidores das Forças e Armadas.
Na
entrevista à Veja, Raul Jungmann também demonstra preocupação com as eleições
do ano que vem diante dos conflitos e confrontos gerados pelo Presidente.
A
semana terminou com o presidente jogando mais lenha numa fogueira que já está
pra lá de ardente... e abre uma crise sem precedentes entre Poderes na história
recente do país.
Ministros
e aliados do governo bem que tentaram impedir, mas não obtiveram sucesso algum.
Na sexta-feira, 20, o presidente Jair
Bolsonaro cumpriu a promessa e apresentou ao senado um pedido de impeachment
contra o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. Bolsonaro
cumpriu a promessa pela metade, é verdade, mas cumpriu. Ele tinha ameaçado
apresentar pedido de impeachment também contra o ministro do STF e presidente
do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Carlos Barroso.
Na
ação apresentada ao Senado, assinada apenas por ele, Bolsonaro acusa Moraes de
crime de responsabilidade e diz que ele atua “como verdadeiro censor da
liberdade de expressão ao interditar o debate de ideia e o respeito à
diversidade, e ao descumprir compromisso expressamente assumido com este Senado
Federal”.
No
mesmo dia em que apresentou ao Senado o pedido de impeachment de Moraes, o
presidente também apresentou uma ação no próprio STF na qual questiona a
constitucionalidade das decisões do órgão no inquérito das fake news. Nele
Bolsonaro argumenta que os atos processuais praticados nesse processo estão “contrariando
as liberdades individuais e os princípios constitucionais”.
No
procedimento, chamado de Ação de Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental
(ADPF), o presidente questiona, por exemplo, o fato de o inquérito ter sido
instaurado pelo próprio STF, que também é o órgão julgador. E pede a suspensão
do inquérito das fake news até que seja julgada ação. A ADPF é assinada pelo presidente
e por Bruno Bianco Leal, novo advogado-geral da União.
Antes
prosseguirmos, é interessante relembrar o que é o inquérito das fake news, dessa
forma percebemos o quão fora da realidade estão o pedido de impeachment de
Alexandre de Moraes, e a ação que questiona a constitucionalidade de decisões
do próprio STF.
O
inquérito das fake news, foi instalado pelo STF em março de 2019. E por que ele
foi instalado? Porque começaram a surgir por parte de grupos bolsonaristas
muitas ameaças aos ministros do STF, inclusive ameaças de morte. Os
bolsonaristas, como ainda hoje fazem, também lançavam ameaças a democracia,
quando defendiam, e ainda hoje defendem, o fechamento do Supremo.
Durante
a investigações, as ameaças aos ministros da Corte, que por si só, já eram
graves, ficaram em segundo plano, pois as investigações revelaram uma verdadeira
rede criminosa de produção de notícias falsas. Foram realizadas operações de
busca e apreensão. Perfis bolsonaristas que ajudaram a eleger o presidente
foram bloqueados. Prisões de pessoas responsáveis por espalhar as fake news
foram presas.
Antes
do ataque do presidente ao sistema eleitoral, o STF praticamente se limitava a
divulgar notas de repúdio quando o presidente falava ou fazia alguma asneira, porém,
depois disso, o STF resolveu agir de forma mais incisiva, dizendo de outro
modo, resolveu partir para o combate contra aquele que estava lhe jogando pedras.
No
início desse mês, Alexandre de Moraes incluiu o presidente Jair Bolsonaro no inquérito
das fake news por suas falas mentirosas contra as urnas eletrônicas. Na
sexta-feira, 13, o ministro Alexandre de Moraes mandou prender preventivamente o
ex-deputado Roberto Jeferson. O bolsonarista também faz muito barulhos nas
redes sociais. O ministro também determinou o bloqueio de contas do ex-deputado
nas redes sociais, apreensão de armas e munições, e apreensão de computadores.
Na
fundamentação do pedido de prisão, o ministro listou vários crimes, dentre eles;
calúnia, difamação, e incitação ao crime. Depois das falas golpistas do cantor
Sérgio Reis, o ministro determinou busca e apreensão em endereços ligados ao cantor,
e também em endereços ligados ao deputado bolsonarista Otoni de Paula (PSC-RJ),
e de mais oito pessoas.
Moraes
também determinou que os investigados se mantenham a pelo menos um quilometro
da Praça dos Três Poderes, suspendeu os perfis deles nas redes sociais, e
determinou que o Banco Central bloqueasse a chave de Pix para financiamento de
protestos convocados pelos bolsonaristas para 7 de setembro.
Enfim,
os leitores perceberam pelos relatos acima que o ministro Alexandre de Moraes
está tendo muito trabalho. Finalmente, os ministros do STF compreenderam que
não basta soltar notas de repúdios para as asneiras do presidente, mas sim,
mostrar a ele toda a força das instituições.
Na
verdade, quem deveria estar pondo freios aos arroubos do presidente era a
Procuradoria Geral da Presidência, mas o procurador-geral da República, Augusto
Aras, de olho numa vaga no Supremo, fecha os olhos para todas as barbaridades cometidas
pelo presidente.
Eis
então os motivos para Bolsonaro estar com tanta raiva de Alexandre de Moraes, e
de Luís Roberto Barroso, é porque eles estão impondo limites ao presidente, aos
seus filhos, e a toda a legião de fanáticos bolsonaristas.
Na
verdade, Bolsonaro sabe que o pedido de pedido de impeachment contra Alexandre
de Moraes não prosperará. O presidente do senado, Rodrigo Pacheco, já disse que
não dará andamento a esse pedido do presidente. As manifestações vieram fortes
de todos os lados no mundo político. O que Bolsonaro pretende, e, na verdade já
conseguiu, é incendiar a sua militância como Nero, dizem, incendiou Roma.
Os
Bolsonaristas estão loucos. Acham que Alexandre de Moraes é bandido da história
e Jair Bolsonaro é o mocinho, injustamente perseguido por um juiz tirano. E
nessa loucura insana estão vários setores bolsonaristas, inclusive pastores
evangélicos, incitando seus fiéis ao crime ao defenderem o fechamento do STF.
Eles estão se organizando para ir às ruas no feriado de 7 de setembro, contra o
que consideram o cerceamento da liberdade de expressão.
Pobres
coitados! Completamente manipulados pela indústria de fake news, que, apesar de
acuadas pelo STF, ainda continuam bem atuantes no Zap profundo, não conseguem
distinguir a diferença entre liberdade de expressão e a ofensa e incitação ao
crime.
Por
todos os lados e ângulos que se observe, o pedido de impeachment protocolado
por Bolsonaro é medíocre, tanto nos argumentos, como nos fundamentos, como medíocre
é o próprio presidente. Para ele, Moraes é um péssimo ministro e comete crime
de responsabilidade, por agir contra as milícias digitais que atentam contra a
democracia e contra a vida, como foi o caso das fake news por eles divulgadas
no combate à pandemia de Covid-19.
Em editorial publicado neste domingo, 22, intitulado Um arruaceiro naPresidência, o jornal o Estado de São Paulo, diz
aquilo que muitos de nós já pensamos: que o bolsonarista é um ser a ser
estudado: “O bolsonarismo é caso a ser estudado. No meio de uma pandemia,
com inflação em alta, emprego em baixa, nível de confiança caindo,
investimentos em compasso de espera, o presidente Jair Bolsonaro e seus
seguidores tentam instigar medo no País, para que o Senado remova indevidamente
um ministro do Supremo em razão de suas decisões judiciais”, diz trecho do
editorial.
Enfim,
caros leitores, o presidente, Jair Bolsonaro, abriu mais uma fenda na relação
entre os poderes e colocou mais gasolina na crise institucional que já é grave.
Para Bolsonaro, dane-se o país, dane-se os brasileiros que não estão no seu
cercadinho. Ele não está nem aí nem para as pessoas que morreram e morrem de
Covid. Não está nem aí para um país que precisa de uma retomada econômica depois
da Covid-19. Nem muito menos está preocupado com os brasileiros desempregados.
Em
sua mente lunática, ele está sempre procurando inimigos imaginários para
perseguir. Está sempre com os dentes afiados para proteger os filhos e a ele
próprio das acusações que pesam sobre eles, e com a sua reeleição no ano que
vem.
Como
um Nero brasileiro, o presidente vai incitando a sua militância ao ódio, e
subvertendo os valores democráticos.
Que ateiem fogo a si mesmos e aos seus próprios reinos, porque o Brasil resistirá a essa gente, como Roma sobreviveu as loucuras do imperador romano Nero.
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