Nacionalismo Cristão: Uma ideologia perigosa
Domingo, 09 de outubro
“Extremistas levam palavras
fundamentalistas
Templos destruídos no tibet
Divisão da palestina
Guerra civil na síria
Conflitos que a gente nem imagina
Horrores que a gente nem imagina”
(Extremistas Fundamentalistas –
Supla)
Essa semana, o portal Globo.com trouxe uma
reportagem de um homem que, sozinho, conseguiu criar o primeiro parque linear
de São Paulo, e um dos maiores do mundo. Esse homem se chama Hélio da Silva,
tem 71 anos de idade, e é administrador de empresas.
A região que ele arborizou é a segunda menos
arborizada da cidade de São Paulo. Ele sempre
passava pelas margens do córrego Tiquatira, Zona Leste de São Paulo. E o que
via era um grande descampando, uma paisagem meio que sem vida. Áreas assim,
costumam virar lixões que poluem ainda mais a paisagem.
Tudo surge na mente. Nenhum projeto sai do
papel sem ter passado por ela. Poderíamos até fazer uma cronologia do
nascimento de um projeto que é: Mente, papel, realidade. E na mente daquele
sonhador-realizador, surgiu naquele descampando um grande parque. Então ele
arregaçou as mangas e começou a dar vida ao sonho.
Primeiro ele começou plantando 200 árvores.
Mas para ser um realizador tem que ser persistente. Nem sempre as coisas dão
certo da primeira vez. São inúmeros os obstáculos que aparecem no caminho. No caso
de Hélio e sua floresta, os inimigos, os contratempos, vieram dos vândalos que destruíram
as mudas.
Poderia ter sido um desestímulo, porém,
Hélio plantou o dobro delas. Dessa vez foram 500 mudas. Mas os inimigos da
natureza, aqueles a quem a ignorância não permite enxergar mais longe, vieram e
destruíram também essa nova plantação.
Hélio dobrou a aposta. Resolveu plantar 10
vezes aquelas 500 mudas. Plantou 5.000 mil mudas. Não se sabe se os vândalos se
cansaram de tanta teimosia, ou perceberam que alguém estava tentando fazer algo
sério naquele lugar. Enfim, venceu o bem, o sonho, e a teimosia de Hélio. Isso foi
em 2003.
Hoje, 2022, já são 37 mil árvores
plantadas, até agora, pelo menos, pois o semeador continua a semear cada vez,
mais e mais árvores. O Parque do Tiquatira é hoje o quarto maior parque plano do
mundo. E é uma joia para os moradores da região, e para a cidade como um todo,
pois onde possa haver um pequeno pulmão verde respirando no meio de uma agitada
cidade como São Paulo, é algo sempre bem-vindo.
O Parque do Tiquatira é um exemplo de como
uma só pessoa pode fazer a diferença, e transformar aquilo no qual a vida
estava esmaecida numa vida com cores vibrantes.
Voltemos nossa atenção agora para a seara
política. Nessa, tem muita gente querendo fazer a diferença, mas diferença
apenas para si mesmo e para sua família.
Após os resultados das urnas, no domingo à
noite, já na segunda-feira, os candidatos que foram ao segundo turno, começaram
a sair em campo, a fazer acordos na tentativa de garantir a eleição no dia 30
de outubro. Exatamente daqui há 22 dias.
A primeira pesquisa eleitoral do Datafolha, feita após o resultado do primeiro turno das eleições foi realizada entre quarta-feira, 5, e sexta-feira, 7. Nela, Luís Inácio Lula da Silva (PT) aparece à frente com 53% dos votos, e Jair Bolsonaro (PL) com 47%. Os votos nulos e brancos somam 6%, e os que não sabem ainda em quem votar, ou simplesmente não responderam às perguntas dos entrevistadores, somam 2%. Foram entrevistadas 2.884 pessoas em 170 munícipios.
Lula e Bolsonaro começam a procurar apoios
e eles começam a chegar. Bolsonaro conseguiu alguns apoios importantes e bem
previsíveis como os dos governadores Romeu Zema (Novo), Claudio Castro (PL), e
Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), reeleitos em primeiro turno, respectivamente
dos estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, e Paraná.
O atual
governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, derrotado nas urnas no primeiro turno,
também declarou apoio ao presidente Jair Bolsonaro, coisa que provocou certo
alvoroço dentro do PSDB, tendo alguns secretários do governo dele pedido
exoneração após esse anúncio. O problema é que Garcia tomou a decisão sem
consultar a direção do partido.
Lula conseguiu apoio de Simone Tibet (MDB),
candidata à presidência no primeiro turno, e de Ciro Gomes (PDT). Tebet
terminou a disputa em terceiro lugar com 4,16% dos votos, e Ciro em quarto, com
3,04% dos votos. Apesar de os dois terem declarado apoio a Lula houve uma clara
diferença entre eles dois. O apoio da candidata do MDB ao petista foi bem mais
efusivo, Tebet, inclusive almoçou com Lula e Geraldo Alckmin. Eles se reuniram
na casa de Marta Suplicy, na região dos Jardins, em São Paulo.
Ciro declarou seu apoio ao candidato
petista em vídeo publicado nas redes sociais. Porém, diferente de Tebet, o
apoio de Ciro foi bem mais tímido, bem mais contido. No vídeo ele nem chega a
citar o nome de Lula, apenas se atém a dizer que seguirá as orientações do
partido, o PDT.
A campanha segue cheia de ataques de ambos
os lados. Um tema bastante explorado nessas eleições tem sido o tema da religião,
parece até que os candidatos estão concorrendo a um cargo no Vaticano ou em
alguma igreja pentecostal, e isso não é bom, nem para a política, nem para a
religião, nem para o Brasil, nem para ninguém. É uma tal de conversa
ideológica, de pauta ideológica, que, na verdade, não enche barriga de ninguém.
Enquanto isso, problemas graves que o Brasil enfrenta como a fome o desemprego,
vão ficando para trás, sem que ninguém dê a devida atenção a eles.
Que a reeleição de Bolsonaro é perigo enorme
para a democracia brasileira, isso já é sabido. Essa semana, conversava eu com
uma jovem advogada sobre política. Não a conheço, apenas nossos caminhos se cruzaram
por alguns minutos, tempo, no qual, deu para travarmos uma conversa.
Ela meu pareceu um protótipo do
bolsonarismo. Defende as mesmas ideias que defende qualquer bolsonarista, seja
nas grandes cidades, ou nos rincões mais afastados do Brasil. É como se tivessem
sido colocados numa forma, e saíssem com as mesmas ideias e os mesmos
pensamentos. A certa altura da conversa, ela se mostrou simpática à volta da
ditadura. Depois que ela saiu, fiquei pensando em como estava contaminada a
mente daquela jovem formada em Direito. Imagina então a mente dos analfabetos
bolsonaristas.
Além disso, há o perigo do fundamentalismo
religioso. Por baixo disso, há uma escola de extremistas cristãos sendo
formada, silenciosamente, mas que pode ser explosiva, se alimentada continuamente,
e com a proteção do governo.
É o nacionalismo cristão, ressaltada em
uma matéria de hoje, do jornal Folha de São Paulo: “O nacionalismo cristão é
uma ideologia política de extrema direita que se vale, quase sempre, de uma
gramática religiosa para justificar sua visão de mundo. Invisibilizada e fora
do radar, a extrema direita não recebeu a devida atenção no Brasil, tampouco o
nacionalismo cristão. Os resultados do primeiro turno das eleições, no entanto,
nos mostraram que a democracia brasileira está muito mais em risco do que se
poderia imaginar”.
A matéria destaca ainda que o nacionalismo
cristão não é apenas coisa de evangélico, católicos, ou qualquer outro grupo
cristão, mas que é um movimento global da extrema direita. As ideologias são
como uma roupa que o individuo veste e sair por aí com ela. E a do nacionalismo
cristão cai muito bem nos ideais da supremacia branca, no autoritarismo, no militarismo,
e no antissemitismo.
Despindo o processo eleitoral daquele que
é seu significado primeiro, e ignorando o sentido de democracia, a primeira-dama,
Michelle Bolsonaro, em um culto do qual participou, em Goiânia, neste sábado, 08,
que a disputa eleitoral deste ano de 2022 é uma “guerra espiritual”. Ela participava
de um evento promovido pelo grupo Mulheres com Bolsonaro. “Não é uma guerra
política, como foi bem colocado aqui, é uma guerra espiritual, onde a gente
luta contra a luz das trevas, contra o mal que quer ser instalado no nosso
país. E a gente vê como o inimigo é sujo, é astuto, agindo dentro da casa do
Senhor”.
O marido dela, o presidente Jair
Bolsonaro, já havia dito algo semelhante em 18 de agosto quando fazia campanha
eleitoral na cidade de Juiz de Fora, Minas Gerais. “Nós sabemos da luta do
bem contra o mal. Nós, aqui, sempre pregamos e defendemos a liberdade absoluta.
Se uma pessoa se sentir ofendida, que vá à Justiça, mas não podemos criar leis,
como a de fake news”.
É como diz um ditado popular: “Não se pode
chupar cana e assoviar ao mesmo tempo”. Quando uma pessoa veste a roupa do
nacionalismo cristão, ela imediatamente tira a máscara de boa gente, e deixa a
mostra a face do mal, do preconceito, e da intolerância, sob a qual se
escondiam. Agradam ao diabo pensando estar agradando a Deus. Assim são os
extremistas.
A matéria da Folha a qual citei acima termina
dizendo: “Ao dizer que colocaria o Brasil acima de tudo e Deus acima de
todos, Bolsonaro fez a síntese perfeita do nacionalismo cristão como ideologia
de extrema direita, que, a exemplo dos Estados Unidos, vislumbrou tomar o país,
literalmente.”
Como vê o caro leitor, leitora, há bem mais coisas em jogo nestas eleições de 2022 do que apenas uma eleição, ou a luta pela democracia.
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