A ascensão do fascismo
Segunda-feira, 03 de outubro
Acho que a essa altura, o caro leitor,
a cara leitora já estar bem informado sobre as eleições brasileiras, ocorridas
neste domingo, 02 de outubro. Em uma eleição acirrada não houve definição em
primeiro turno, o gran finale ficou mesmo para o dia 30 de outubro.
O ex-presidente Lula terminou a disputa
desse primeiro turno na liderança. Ele teve 48,43% dos votos válidos, o
equivalente a 57.258.115 votos, enquanto o atual presidente, Jair Bolsonaro,
teve 43,20%, o equivalente a 51.071.277 votos.
O Brasil teve, pela primeira vez, um
fuso horário unificado para as eleições, que começaram no horário de Brasília
em todo o território nacional. Esperava-se que a apuração ocorresse de forma
mais célere por causa disso, porém, não foi o que ocorreu. Houve filas muito
grandes em várias sessões eleitorais. Os portões abriram as oito horas da
manhã, e foram fechados às 17hs, porém os eleitores que estavam dentro da
sessão eleitoral precisavam votar. Era um direito deles. Isso fez com que em
muitas delas a votação terminasse mais tarde.
Alguns fatos isolados e pitorescos
aconteceram, como por exemplo, na cidade de Jundiaí, interior de São Paulo, um
homem passou cola nas teclas nos números 1 e 3 de uma urna eletrônica para
impedir que os eleitores de Lula não conseguissem votar. O fato aconteceu por volta da 9h da manhã,
uma hora após o início da votação. Fato semelhante também ocorreu em Mato
Grosso do Sul, onde outro eleitor também passou cola nas teclas da urna.
Em Goiânia, Goiás, um eleitor entrou
com pedaço de pau escondido num guarda chuva e quebrou a urna eletrônica a
pauladas. Em todos os casos os delinquentes foram presos.
Mais de 200 urnas eletrônicas tiveram
de ser substituídas por causa de problemas técnicos, porém, nada disso tirou o
brilho, nem a eficiência delas, que foram tão duramente atacadas pelo
presidente Jair Bolsonaro.
Uma nota destoante em toda essa festa
foi os institutos de pesquisas. Eles erraram feio. A começar da chapa para a
presidência da República. Ao final da apuração a diferença entre Lula e
Bolsonaro foi de 5%, quando os institutos previam uma vantagem bem maior de
Lula sobre Bolsonaro. Algumas pesquisas chegaram inclusive a apontar uma
possível vitória de Lula no primeiro turno.
Em São Paulo, as pesquisas apontavam
uma liderança do candidato Fernando Haddad (PT), e em segundo lugar, o
candidato do presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio Freitas (PL). Vai haver
segundo turno entre os dois em São Paulo, como previam as pesquisas, porém, com
Tarcísio tendo terminado o primeiro turno à frente de Haddad.
Ainda em São Paulo, na eleição para
senador as pesquisas apontavam uma vitória do candidato Márcio França (PSB), e
Marcos Pontes (PL). Terminada a apuração quem vai para o senado representando o
estado de São Paulo é Marcos Pontes, eleito com ampla margem de votos.
No Rio de Janeiro, as pesquisas
indicavam um segundo turno entre Cláudio Castro (PL), e Marcelo Freixo (PSB).
Resultado final: Castro venceu as eleições em primeiro turno. Erros como esse
se repetiram em vários estados.
Agora os institutos de pesquisas
precisam vir a público e explicar porque tão graves distorções no resultado das
eleições em relação às pesquisas de intenção de voto. Em 2018, eles também já
haviam ocorrido. Estariam eles usando metodologias ultrapassadas?
Após o anúncio do resultado os
candidatos se pronunciaram. Na Avenida Paulista, onde estavam reunidos os
eleitores do candidato, Lula disse que o segundo turno é apenas uma
prorrogação. Ele agradeceu à imprensa. Lembrou que há quatro anos ele era considerado
um ser humano jogado fora da política. Falou das dificuldades que o país
apresenta, e do seu desejo de recuperá-lo, “inclusive do ponto de vista das
suas relações internacionais”, disse ele.
Bolsonaro em seu discurso pós 1º turno
destacou a questão da economia: “Eu entendo que tem muito voto que foi pela
condição do povo brasileiro, que sentiu o aumento dos produtos. Em especial, da
cesta básica. Entendo que há uma vontade de mudar por parte da população, mas
tem certas mudanças que podem vir para pior”.
Ciro Gomes disse estar preocupado com o
que está acontecendo no Brasil: “Eu nunca vi uma situação tão complexa, tão
desafiadora, tão potencialmente ameaçadora sobre a nossa sorte como nação”.
Ciro não marcou posicionamento quanto ao que vai fazer no segundo turno. Ele
disse que ainda vai conversar com os amigos e com o partido antes de tomar uma
decisão. É bem provável que declare apoio a Lula, ape
A candidata Simone Tebet também se
pronunciou. Simone disse que não vai se manter neutra e que vai se posicionar. “Não
esperem de mim omissão, tomem logo a decisão, porque a minha já está tomada. Eu
tenho lado e vou me pronunciar no momento certo. Eu só espero que vocês
entendam que esse não é qualquer momento no Brasil”, disse ela.
Tebet também vai esperar que a decisão do partido, mas é quase certo que ela
declare apoio ao ex-presidente Lula.
O fato é que Jair Bolsonaro deu uma
demonstração de força ao eleger os candidatos que apoiou. O PL, partido do
presidente conseguiu eleger 8 senadores das 27 vagas disponíveis. Ao todo, o PL
terá uma bancada de 15 senadores. Será a maior bancada conservadora, que inclui
ainda candidatos de outras siglas, mas que também apoiam e foram apoiados por
Jair Bolsonaro, como por exemplo, a recém-eleita, Damaris Alves (Republicanos),
ex-ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
Não bastasse isso, o PL também elegeu a
maior bancada da Câmara: 99 deputados. Se conseguir se reeleger, Bolsonaro está
como diz o ditado popular, “com a faca e o queijo na mão”. Poderá aprovar no
Congresso qualquer pauta que queira. Além disso, Bolsonaro ainda poderá indicar
dois ministros ao STF.
A partir de hoje, já começam as
movimentações no tabuleiro para a jogada do jogo do segundo turno. E há muito
jogo para jogar. Mesmo que Simone Tebet e Ciro Gomes decidam apoiar Lula, os
votos que eles tiveram serão também transferidos para o candidato? Não se sabe
ao certo.
Destas eleições emerge um Brasil muito
mais fascista do que em 2018. E isso significa um aumento do ódio, da
intolerância, o descaso com a cultura, com a educação e com o meio ambiente. Nas
políticas de segurança será privilegiado o armamento da população, e veremos
mais aumento de violência. Como o fascismo brasileiro veremos o descaso e o
desprezo pelas populações indígenas e pelas minorias. E se a reeleição do
Bolsonaro vier como cereja do bolo, então a coisa se torna ainda mais
ameaçadora.
O bolsonarismo elegeu Eduardo Pazuello
que conduziu muito mal a pandemia da Covid-19, dando espaço, inclusive, para os
tratamentos ineficazes contra a Covid. Elegeu também o ex-ministro do Meio
Ambiente, Ricardo Salles, que propôs passar a boiada e ir quebrando os
regramentos ambientais, enquanto a imprensa estava dando destaque para a
pandemia de Covid-19.
O PT precisa repensar, urgentemente,
sua estratégia para o segundo turno das eleições. Não se pode apenas viver das
glórias do passado. Não há como continuar escondendo o jogo para a economia. É
hora de botar as cartas na mesa... Antes que seja tarde demais.
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