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Reta final das eleições presidenciais

Posted by Cottidianos on 13:48

 Domingo, 25 de setembro

Vem, vamos embora

Que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer

(Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)

A corrida eleitoral está chegando ao final.

Domingo próximo, dia 02 de outubro, os brasileiros irão às urnas depositarem os seus votos nos candidatos a presidente da República, deputados federais e estaduais, e senadores. A expectativa é enorme.

Porém, antes de seguir com esse tema, permitam-me relatar uma experiência pessoal.

Neste sábado, 24 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro esteve em Campinas fazendo uma motociata pelas ruas da cidade, e terminando no Centro da cidade, onde ele fez um comício.

Me dirigi até o Largo do Carmo onde iria acontecer o evento. Meio que sem querer ir, mas meus pés e minha vontade me puxavam para lá. Quando cheguei nas imediações da Praça logo meus olhos começaram a mergulhar numa profusão de vendedores ambulantes que vendiam bandeiras do Brasil, camisetas do candidato Jair Bolsonaro, e outros itens sempre nas cores verde e amarelo.

O verde e amarelo também estava nas vestimentas da multidão que acorria à praça. Eu mesmo pensei em vestir uma peça verde amarela antes de sair de casa, mas desisti. O verde amarelo, no caso em questão, simboliza muito mais fanatismo do que patriotismo. E eu procuro me colocar fora do fanatismo seja ele político, religioso, ou de qualquer outro matiz. Até porque esse é um sentimento que afeta de maneira negativa o cérebro e a saúde. Então, não vejo sentido em beber veneno. Não sou nem pretendo ser suicida.

Eu, que sou avesso à filas, tive que enfrentar uma fila de revista para poder entrar no local. Mas, felizmente, a fila era pequena quando cheguei, até porque o candidato já estava em cima do carro de som, e a grande maioria dos apoiadores já estava posicionada para ouví-lo. Havia muita gente no local, então tive que ir me esgueirando por entre a multidão para chegar a um ponto próximo ao carro de som, de onde pudesse ver o candidato discursando.

Consegui chegar a um lugar estratégico não tão perto do carro de som, mas também não tão longe. E cheguei lá bem no momento no qual o apresentador anunciou a fala do presidente.

E o discurso que ouvi da boca dele, não me surpreendeu em nada. Era tudo o que já tinha ouvido nas entrevistas dele nos rádios, TVs, jornais impressos, onlines, redes sociais, e canais de Internet.

Bolsonaro atacou Lula em diversos momentos, chamando-o de ladrão. Disse que havia somente dois nomes na disputa, o dele o de um ladrão, referindo-se ao Lula. Disse que no governo dele, Bolsonaro, não houve casos de corrupção. Pregou o armamento da população. Incitou a luta armada. “Se precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos. E repito pra vocês: Povo armado, jamais será escravizado”, disse ele em um trecho do discurso.

Bolsonaro exaltou os feitos do próprio governo como a concessão do auxílio Brasil de R$ 600,00 reais. Na economia, pintou um cenário totalmente irreal, no qual apenas ele, e seus seguidores acreditam: o de que o Brasil vive um momento maravilhoso, e de que o Brasil é uma potência econômica, desconsiderando a grande inflação que vivemos, e os milhões de brasileiros que passam fome Brasil afora. É certo que o preço dos combustíveis tem baixado ultimamente, mas isso ainda não se refletiu nos itens alimentares que continuam muito caro. Ressalta-se também que o preço da gasolina começou a baixar quando Lula começou a subir nas pesquisas.

Vez em quando, o discurso do presidente era interrompido pelos gritos de “mito, mito, mito”. Fiquei observando as pessoas ao meu redor. Não se pode negar que Bolsonaro exerce um fascínio muito grande sobre seus seguidores. É impressionante como ele manipula a consciência dessas pessoas de tal forma que, mesmo as mentiras contadas por ele, são tomadas por essas pessoas como verdade.

E isso é, de certa forma intrigante. E eu fico pensando, se fossem pessoas analfabetas, iletradas, ainda se poderia compreender tanta ignorância, mas não. São pessoas que tiveram acesso a escolas, muitas delas desfrutam de uma boa condição social e estão bem longe desse Brasil que passa fome. No entanto, estão ali, com as consciências presas a manipulação das ideias de um populista radical de extrema direita. Vítimas da indústria das fake news.

Um fato em especial chamou-me a atenção. Quando Bolsonaro falava sobre o armamento da população, um bolsonarista, ao lado, falou para a pessoa que o acompanhava no comício: “Arma traz paz. Quando uma pessoa está armada, ninguém chega perto dela”.

Isso doeu na minha mente e no meu coração. E tive pena daquele homem de raciocínio tão fraco. Embarcou numa ilusão perigosa da qual ele mesmo será a vítima. Um bom livro, uma canção, as amizades, as boas relações, uma oração, são coisas que trazem paz. Armas nunca trazem paz.

À proposito e para ser bem atual, perguntem aos soldados ucranianos, aos civis ucranianos, e até mesmo aos russos se eles, com a quantidade de armas que tem, estão em paz. Perguntem ao Putin se ele, sentado sobre os botões das armas nucleares, se ele está em paz. Se armas, realmente, trouxessem paz, Putin estaria dormindo o sono dos justos.

No meio daquele povo, eu compreendi as violências políticas que os bolsonaristas tem praticado com os petistas. É como se Bolsonaro, com seu discurso de ódio desse a senha para que os seus seguidores praticassem atos violentes. E, notem que ele deu a eles uma senha perigosa a uma semana da eleição, quando ele diz: “Se precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos”. Isso é convite ao tumulto e à baderna, caso ele perca a eleição.

Outro fato que também me chamou atenção no comício de Bolsonaro em Campinas, além das mentiras que ele contou, e do fanatismo do seu gado, foi a ausência de propostas para a o país. Propostas para as áreas de educação, segurança, economia. E Bolsonaro não as apresenta porque simplesmente não há proposta nenhuma a ser apresentada. A única proposta clara do Bolsonaro é o armamento da população. Ele quer todo mundo feito zumbi de arma na mão, assim fica mais fácil ameaçar petistas, ONGs, STF, e quem mais atravessar o caminho.

Nesse ponto a gente chega numa encruzilhada na economia. Bolsonaro não apresentada propostas para economia porque não as tem. Lula, certamente, as tem, mas não as apresenta. Portanto, quem vota em Lula está se jogando no abismo, está dando um tiro no escuro. O certo seria que ele colocasse todas as cartas na mesa. Não é aceitável que Lula esconda suas propostas para a economia. Não é aceitável, mas é compreensível, pois a essa altura do campeonato, qualquer proposta que ele apresentasse seria bombardeada com armas nucleares pelos bolsonaristas.

E Lula, com a possibilidade de vencer a eleição ainda no primeiro turno, não quer correr riscos desnecessários.

À noite, Bolsonaro e outros cinco candidatos participaram do segundo debate entre os candidatos á presidência. O evento foi promovido por um pool de veículos de imprensa formado pelo jornal O Estado de São Paulo, Veja, SBT, CNN, pelo portal Terra, e pelas rádios Eldorado e Nova Brasil FM.

Participaram desse debate os candidatos; Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D’Avila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil), e padre Elmo (PTB). O ex-presidente Lula (PT) não participou do debate. A presença de Lula foi bastante criticada por todos os candidatos.

No debate foram tratados temas como orçamento secreto, STF, fome, Auxílio Brasil, voto útil, política de controle de armas, Imposto Único Federal, feminismo, corrupção, violência política, educação, dentre outros.

Ainda no primeiro bloco do debate o presidente Jair Bolsonaro diz para Simone Tebet:

 Simone, durante a pandemia, obrigaram o povo a ficar em casa. O povo começou a passar fome de verdade. O que eu fiz? Eu criei o Auxílio Brasil. Botei um ponto final no Bolsa Família, que valia em média 190 reais e botei o Auxílio Brasil em 600 reais, três vezes mais!

Ao que a senadora responde:

Ele não queria pagar 600 reais. Nós, no Congresso Nacional, é que exigimos. Depois voltou para 400 reais antes da hora; e nós, no Congresso Nacional, exigimos de novo que voltasse aos 600. Aliás, ele voltou a 600 só agora, às vésperas da eleição, porque, repito, é insensível com a dor alheia. Sabe por que ficamos tanto tempo em casa, mais do que a média do mundo? Porque ele negou a vocês vacina, 45 dias de atraso. Estava lá, eu vi o esquema de corrupção, como se a vida pudesse valer um dólar, que era o que o Ministério da Saúde queria cobrar de uma empresa para comprar vacina para colocar no seu braço. Este Presidente insensível, que virou as costas para o povo brasileiro, no momento que mais precisou, que quer de novo os eu voto. Ele não pode ter.

É verdade que Bolsonaro tem cortado verbas significativas de  áreas como saúde e educação, dentre outras, para bancar o orçamento secreto, que nada mais é um grande esquema de compra de votos no Congresso.

Em certo momento do debate, Bolsonaro afirma: “Não é justa, não é verdadeira essa acusação de cortar dinheiro para a merenda, porque o orçamento não foi votado ainda”.

A equipe do Fato ou Fake do portal Globo.com checou a afirmação e viu que não é bem assim, pois é verdade que o orçamento para 2023 ainda não foi votado, mas as diretrizes que nortearão as prioridades desse orçamento já foram aprovadas. A Lei de Diretrizes Orçamentárias previa um aumento de 34%, o equivalente a 1,3 bilhões para o ano que vem. Porém, Jair Bolsonaro vetou esse aumento.

Ainda segundo informa o portal a quantia que a União repassa para estados e munícipios para a merenda escolar não é reajustada desde 2017. Desde aquele ano o valor repassado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é de R$ 0,36 centavos por dia para cada estudante do ensino fundamental e médio; R$ 0,53 por dia para os alunos da pré-escola; e R$ 1,07 para os alunos em creches ou no ensino integral.

Por aí se deduz como tem passado os estudantes brasileiros em relação a merenda escolar, principalmente aqueles provenientes de famílias de renda mais baixa, ou sem renda nenhuma.

Uma curiosidade no debate foi a participação do Pe. Kelmon. O candidato, em vez de defender as propostas dele, parece ter ido lá apenas para defender o presidente Jair Bolsonaro. E assim a gente descobriu mais um radical de extrema direita concorrendo à presidência.

Em vez do debate, Lula preferiu fazer comício no Rio de Janeiro. O candidato esteve na quadra da Portela, em Madureira, Rio de Janeiro. No evento, ele confirmou aos cariocas a ida ao debate entre os candidatos promovidos pela TV Globo, na próxima quinta, dia 29. Este será o último debate dos candidatos antes do primeiro turno. “Os debates estão ficando difíceis porque tem pouca gente com condições de disputar as eleições e eu vou lá disputar com cinco que só têm um objetivo: me atacar”, disse ele durante o evento.

Um apoio importante que Lula recebeu essa semana foi o de 8 ex-presidenciáveis que declararam apoio e ele. A reunião aconteceu em hotel em São Paulo, e nela estavam presentes além de Lula e o candidato a vice na chapa dele, Geraldo Alckim; Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Luciana Genro (PSol), Henrique Meirelles (União), Cristovam Buarque (Cidadania), Guilherme Boulos (PSol) e João Goulart Filho (PCdoB).

Outro fato importante para a campanha de Lula foi uma nota divulgada pelo ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Às vésperas da eleição FHC divulgou a seguinte nota:

Como é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do debate político pré-eleitoral.

Peço aos eleitores que votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação de nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional.

Fernando Henrique Cardoso

Ex-presidente da República

A nota do ex-presidente foi entendida como um apoio, ainda que velado, como um apoio a Lula.

Para o bem-estar de todos e felicidade geral da nação seria mesmo bom que o ex-presidente vencesse as eleições ainda no primeiro turno.


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