Djokovic, o Bolsonaro do tênis
Domingo, 16 de janeiro
Se a quadra de tênis fosse um reino, Novak Djokovic seria o rei, assentado no trono, tendo na cabeça uma coroa de ouro. O atleta é perfeito naquilo que sabe fazer: jogar tênis. É um gênio nessa modalidade de esporte.
Mas
saindo das quadras, tirando a coroa da realeza, e vestindo os trajes de um
simples mortal, o sérvio se revelou um idiota. É arrogante, antipático. Essas
caraterísticas dele já eram conhecidas. Mas, em 2019, veio a praga do
coronavírus — esse vírus que até hoje nos causa preocupação — e o tenista
sérvio tirou mais algumas máscaras e revelou caraterísticas que o mundo não
conhecia a respeito de sua personalidade.
Djokovic
mostrou não ter nenhuma empatia e respeito para com os seus irmãos em humanidade.
Revelou-se um negacionista ferrenho, desses que desdenham da doença, rejeitam a
vacina, e desprezam a ciência e, para completar, é adepto do movimento
antivacina. Se a quadra de tênis fosse um país, o tenista sérvio seria um Jair
Bolsonaro na presidência.
Desde
os primeiros dias desse ano de 2022, o mundo tem acompanhado com bastante
interesse a novela Novak Djokovic, o bad boy do tênis.
O
Australian Open, o primeiro grande slam deste ano, começa na segunda-feira, 17.
Grandes nomes do mundo do tênis darão o melhor de seus esforços nas quadras
australianas, em mais uma temporada do torneio. No Melburn Park jogarão nomes
como, Rafael Nardal, Naomi Osaka e Ash Barty.No ano passado, Djokovic,
foi o campeão do torneio, levantando seu 9o troféu na Austrália.
Mas
no ano passado, ainda estávamos sendo assolados gravemente pela pandemia, e não
tínhamos ainda as salvadoras vacinas. Correu o tempo, e correu também cientista
de todo mundo em busca de uma solução para a pandemia do coronavírus. Os esforços
dele foram bem-sucedidos e, em tempo recorde, tínhamos uma vacina contra o
coronavírus.
Com
as vacinas vieram também uma série de exigências. Uma delas foi que, para se
entrar em determinados lugares, participar de competições, e realizar diversas
outras atividades, passou a ser exigido a apresentação da carteira de
vacinação. Se já se vacinou, entra. Se não, fica de fora. Simples assim.
Foi numa dessas que, em setembro do ano passado, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, alguns ministros, e outros membros de sua comitiva, estando em Nova York para participar da Assembleia Geral das Nações Unidas (AGNU), foi obrigado a comer pizza em uma calçada, simplesmente, porque não pode adentrar nas dependências do restaurante novaiorquino que exigia a apresentação da carteira de vacina contra a covid-19.
Com o Australian Open não foi diferente. É exigido do atleta a comprovação de
que tomou a vacina, ou apresentar um certificado de dispensa dela, assinado por
uma junta médica. Não tendo tomado a vacina, aliás, criticando-a sempre que
pode, o bad boy do tênis, resolveu participar do torneio.
Com
a permissão dos organizadores do torneio, botou na mala o certificado de
dispensa exigido pelas autoridades australianas, junto com o comprovante de que
se recuperara de Covid-19 recentemente, e partiu para a Austrália.
Desembarcou na quarta-feira, 5, no aeroporto de Melbourne com um sorriso no rosto. Sorriso esse que logo lhe sumiu do rosto quando, ainda no aeroporto, as autoridades australianas lhe disseram não aceitavam a autorização especial que o isentava da vacina. Djokovic teve o visto de entrada negado e foi informado que teria de deixar o país nas próximas horas.
Era
o primeiro capítulo da novela bastante assistida em todo o planeta desde aquele
dia. O Jornal Nacional do dia 05 de janeiro chamou o episódio de “vexame
planetário”.
Após
um interrogatório que cerca de oito horas, as autoridades australianas
concluíram que faltava informação na documentação dele. Ele não conseguiu
justificar a permissão especial que o dispensava de apresentar o comprovante de
vacinação e foi encaminhado a um hotel de refugiados, em Carlton, Melbourne, cujas
condições de acomodação são péssimas.
Djokovic recorreu à Justiça Australiana e, na segunda-feira, 10, o juiz federal, Anthony
Kelly, concedeu ao esportista o direito de permanecer no país e disputar o
Australian Open. O juiz considerou a decisão de barrar o tenista “irracional”, e
ordenou que fossem devolvidos documentos pessoais que haviam sido apreendidos
no aeroporto, e que Djokovic fosse libertado em 30 minutos.
Na
terça-feira, 11, o tenista foi visto treinando na sede do Australian Open, mas sua
participação no torneio ainda era incerta.
Nesta
sexta-feira, 14, novo capítulo na novela que prendeu a atenção de pessoas dentro
e fora do mundo esportivo. O governo australiano decidiu cancelar o visto do
número 1 do mundo no tênis, entretanto, ele não poderia ser deportado pois
apresentara recurso, e o governo aguardaria o pronunciamento da justiça. Segundo
o ministro da Imigração, as razões para cancelar o visto de entrada do tenista
sérvio seriam de “saúde e ordem pública”.
E
a agitada e tensa trama prosseguiu. Neste sábado, 15, o governo australiano
determinou que Djokovic fosse detido novamente no Park Hotel, em Melbourne, o
mesmo hotel de refugiados que havia sido detido anteriormente. Ele ficará lá
até que a Justiça se pronunciasse sobre o seu processo de extradição por não
ter tomado a vacina contra a Covid-19. A audiência foi realizada neste domingo.
Os advogados do tenista tentaram obter uma liminar para permitir que ele permanecesse
no país e disputasse o Australian Open.
Toda
novela, por mais audiência que tenha, chega uma hora que tem o seu último
capítulo. Com a novela, Djokovic, bad boy do tênis, não foi diferente. Na
madrugada deste domingo, a Justiça australiana indeferiu o pedido de Novak Djokovic para permanecer no país, e disputar a edição 2022 do Australian Open,
mesmo sem estar vacinado contra a Covid-19.
A
decisão pôs fim a tentativa da defesa do sérvio de reverter o segundo
cancelamento de seu visto. O tenista estrearia no torneio já nesta
segunda-feira, 17, dia em que o começam as competições. Com o indeferimento do
recurso, o tenista sérvio foi obrigado a deixar o país.
Para Djokovic estava em jogo, não apenas mais um Grande Slam, mas a oportunidade de
bater o recorde de 21 títulos de Grande Slam ((Australia Open, Roland Garros,
Wimbledon e US Open). Ao ser deportado, o tenista sérvio, número um do mundo, perde
o direito ao visto australiano por três anos, ou seja, por três anos ele não
poderá disputar o Australian Open. Se Djokovic já vinha arranhando a sua imagem
durante a pandemia com suas atitudes inconsequentes, com o episódio Australian
Open, ele quebra a sua imagem, além de ser submetido a um “vexame planetário”.
Algumas
das perguntas que ficam, caros leitores e leitoras, são as seguintes: Vale a
pena prejudicar uma carreira, um emprego, um trabalho, ao dar ouvidos as
baboseiras que dizem esse povo do movimento antivacina? Vale a pena insistir em
não querer se vacinar quando o mundo, mais uma vez, é sacudido pela Ômicron,
nova variante do coronavírus, e por surtos de gripe? É lícito por a própria
saúde e a saúde dos outros em risco ao negar a ciência?
Após
a decisão, o atleta disse: “Agora vou tirar um tempo para descansar e me
recuperar”. Descansar e se recuperar: Apenas isso não basta Djokovic. É preciso
que você pense e repense suas atitudes irresponsáveis e inconsequentes que podem,
inclusive, pôr em risco a saúde daqueles que se esforçam por seguir todos os
protocolos exigidos pela ciência no combate ao coronavírus, inclusive, no ato
de tomar a vacina contra a doença, ato que ajudado a evitar tantas mortes por Covid-19.
Descanse, Djokovic, pois o mundo já está cansado de pessoas irresponsáveis como
você.
O
tenista sérvio prova com seu exemplo que ser o número 1 no jogo não significa
necessariamente ser o número 1 na vida. Para
ser o número 1 no jogo é preciso uma boa dose de talento, habilidade, e
técnica, e isso, reconheçamos, Djokovic possui. Mas, para ser o número 1 na
vida, é necessário bem mais que isso. É preciso uma consciência expandida,
senso de responsabilidade, empatia, amor e respeito ao próximo.
O sérvio provou nessa pandemia que ainda não
despertou esses requisitos em sua consciência. A irresponsabilidade dele é
tamanha que em junho de 2020, em plena pandemia, organizou o Adria Tour,
torneio de tênis cujas partidas se desenvolveram na Croácia e na Sérvia. Um
desses jogo chegou a ter 4.000 pessoas presentes nas arquibancadas.
Tudo como se o mundo não estivesse atravessando uma
pandemia, nesses jogos não havia a menor preocupação com distanciamento social,
máscaras, ou álcool gel. Dane-se a ciência, era a regra nas partidas
organizadas por Djokovic. Foi nesse evento que reuniu as 4.000 pessoas que o
sérvio, sua esposa e outros tenistas contraíram covid. Ele veio a público pedir
desculpas.
A defesa de Djokovic, para justificar a isenção
especial que recebeu, afirmar que o tenista tinha se recuperado, recentemente,
de Covid-19, apresentou exame. O primeiro teste de Covid teria sido feito em 16
de dezembro de 2021, e depois de não apresentar febre ou dificuldade
respiratória ele se candidatou a isenção especial para competir no primeiro
grande slam do ano. Tais documentos foram apresentados na segunda-feira, 10,
data da audiência do tenista na Justiça australiana.
Como novela boa sempre tem que ter uma pitada a mais
de pimenta, chega a respeitada revista alemã, Der Spiegel e diz que o tenista
sérvio pode ter falsificado esse exame.
A Der Spiegel confrontou os documentos apresentados
pela defesa de Djokovic à Justiça australiana com dados do Instituto de Saúde
da Sérvia e verificou inconsistências entre as informações contidas em ambos os
documentos.
Um desses indícios apontou que o teste negativo para
a covid-19, havia sido produzido antes de um segundo teste com resultado
positivo. Outra informação curiosa apontada pela revista é em relação ao QR
registrado no teste Covid do atleta, datado de 16 de dezembro.
Quando a Der Spiegel acessou esse código verificou
que, no espaço de pouco mais de uma hora, havia dois resultados diferentes para
o mesmo código. O resultado do primeiro teste realizado às 13h19min, horário
local, aparece como negativo. E no teste realizado às 14h33min, o resultado
aparece como positivo.
Outra coisa chama atenção em toda essa confusão. Se Djokovic diz que testou positivo para Covid-19 em 16 de dezembro, por que ele
foi a uma cerimônia no Novak Tennis Center, em Belgrado, ocorrido em 17 de
dezembro, com menos de 24 horas após teste positivo para Covid-19?
No evento, o tenista foi fotografado, sorrindo com a
maior naturalidade, sem máscara de proteção, abraçando crianças e distribuindo
prêmios a jovens fãs, nesse evento que era beneficente.
E não parou por aí. No dia seguinte a esse evento, o
atleta, postivado para Covid, ao invés de estar em quarentena, estava
participando de uma sessão de fotos e dando entrevista para o esportivo francês
L’Equipe. Novak Djokovic diz que não sabia que estava com Covid. Ora, quem acaba
de fazer um teste para Covid, e pode ter suspeita da doença, se gosta realmente
das pessoas que o rodeiam, o certo é se colocar logo em quarentena, e não sair
por aí, beijando, abraçando, e dando entrevistas.
A respeito do comportamento de Djokovic, deixo aos
leitores e leitoras três alternativas:
A) Djokovic estava mentindo ao falar que testara positivo para Covid-19.
B) Ele realmente queria contaminar
pessoas, mostrando, dessa forma, seu lado mais cruel.
C) O atleta é um grande
irresponsável.
O caro leitor pode escolher uma delas, ou mais de uma.
***
Davi Seremramiwe, indígena, primeira criança a ser vacinada no Brasil
Aqui no Brasil, temos boas notícias. Já chegaram ao país as vacinas para as crianças. Um grande alívio para os pais que, em meio a escalada de casos de Covid-19, e surto de gripe, veem se aproximar o início do ano letivo.
Mas as coisas não foram assim tão simples. Dessa vez também teve o fator
complicador chamado Jair Bolsonaro a colocar dúvidas sobre a eficiência das
vacinas para as crianças. É o “Dr. Bolsonaro” mais uma vez, cumprindo seu
papel, de espalhar dúvidas e confusão, e negar a ciência.
Bolsonaro é tão idiota que sabota o próprio governo. Um dia depois que o
governo federal anunciou o cronograma de vacinação para as crianças, ele voltou
a criticar a vacina direcionada ao público infantil.
“A Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] lamentavelmente
aprovou a vacina para crianças entre 5 e 11 anos. A minha opinião eu quero dar
para você aqui. A minha filha de 11 anos não será vacinada!”, disse ele em
entrevista a TV Nordeste, do estado de Pernambuco, na quinta-feira, 6.
Durante a entrevista o presidente também lançou dúvidas sobre a
idoneidade dos técnicos da Anvisa. “E você vai vacinar seu filho contra algo
que o jovem por si só uma vez pegando o vírus a possibilidade de ele morrer é
quase zero? O que é que está por trás disso? Qual é o interesse da Anvisa por
trás disso aí? Qual é o interesse daquelas pessoas ‘taradas por vacina’? é pela
sua vida? É pela sua saúde? Se fosse estariam preocupados com outras doenças do
Brasil, que não estão”, acrescentou ele.
Na entrevista a TV Nordeste Bolsonaro também questionou o repórter se se
ele tinha conhecimento de crianças de 5 a 11 anos que tivesse morrido de Covid.
Além de ser sádico o presidente também é desinformado, pois, de acordo com o
próprio ministério da Saúde, desde o início da pandemia 311 crianças com idade entre
5 e 11 anos perderam a vida por causa da Covid.
As palavras do presidente ecoam na fraca mente de seus eleitores, basta
ver nos discursos deles quando falam de vacina.
Antonio Barra Torres - Diretor da Anvisa
No sábado, 8, o diretor presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, deu
uma resposta digna de aplausos ao presidente, Jair Bolsonaro, e que merece ser
reproduzida na íntegra.
Íntegra da nota
Nota – Gabinete do Diretor Presidente da Anvisa, Sr.
Antonio Barra Torres
Em relação ao recente questionamento do Presidente
da República, Jair Messias Bolsonaro, quanto à vacinação de crianças de 05 a 11
anos, no qual pergunta "Qual o interesse da Anvisa por trás disso
aí?", o Diretor Presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, responde:
Senhor Presidente, como Oficial General da Marinha
do Brasil, servi ao meu país por 32 anos. Pautei minha vida pessoal em
austeridade e honra. Honra à minha família que, com dificuldades de todo o
tipo, permitiram que eu tivesse acesso à melhor educação possível, para o único
filho de uma auxiliar de enfermagem e um ferroviário.
Como médico, Senhor Presidente, procurei manter a
razão à frente do sentimento. Mas sofri a cada perda, lamentei cada fracasso, e
fiz questão de ser eu mesmo, o portador das piores notícias, quando a morte
tomou de mim um paciente.
Como cristão, Senhor Presidente, busquei cumprir os
mandamentos, mesmo tendo eu abraçado a carreira das armas. Nunca levantei falso
testemunho.
Vou morrer sem conhecer riqueza Senhor Presidente.
Mas vou morrer digno. Nunca me apropriei do que não fosse meu e nem pretendo
fazer isso, à frente da Anvisa. Prezo muito os valores morais que meus pais
praticaram e que pelo exemplo deles eu pude somar ao meu caráter.
Se o senhor dispõe de informações que levantem o
menor indício de corrupção sobre este brasileiro, não perca tempo nem
prevarique, Senhor Presidente. Determine imediata investigação policial sobre a
minha pessoa aliás, sobre qualquer um que trabalhe hoje na Anvisa, que com
orgulho eu tenho o privilégio de integrar.
Agora, se o Senhor não possui tais informações ou
indícios, exerça a grandeza que o seu cargo demanda e, pelo Deus que o senhor
tanto cita, se retrate.
Estamos combatendo o mesmo inimigo e ainda há muita
guerra pela frente.
Rever uma fala ou um ato errado não diminuirá o
senhor em nada. Muito pelo contrário.
Antonio Barra Torres
Diretor Presidente - Anvisa
Contra-Almirante RM1 Médico
Marinha do Brasil
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