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O pequeno Ituano vence o gigante Santos na final do Campeonato Paulista

Posted by Cottidianos on 23:52
Segunda-feira, 14 de abril



Um dos assuntos mais comentados e mais aguardados no país esse final de semana foi o jogo entre o Santos - uma das grandes equipes da primeira divisão do futebol brasileiro e o Ituano - pequeno time do interior paulista. Por que essa era uma batalha tão esperada? Pelo simples fato de representar algo como a batalha entre David e Golias. Pouquíssimos torcedores acreditavam em David.

Não assisti ao jogo, pelo menos, não totalmente. Estive na cidade de São Roque com o Coral do Regatas, onde fizemos uma apresentação numa das igrejas de lá. Depois da apresentação fomos dar um passeio pelas vinícolas nos arredores da cidade e nas plantações de alcachofra. Fiquei encantado com a beleza do lugar. Na volta para Campinas, meus pensamentos não saiam do tal jogo. Tentei sintonizar alguma estação de rádio que estivesse transmitindo o estivesse transmitindo, mas fiquei dividido entre a conversa com os companheiros de coral e a transmissão do jogo pelas ondas do rádio. Por fim, não fiz uma coisa nem outra... Tirei uma soneca e somente acordei quando já havíamos chegado à Campinas.

A primeira coisa que fiz ao chegar em casa foi ligar a TV. O jogo  ainda estava sendo transmitido. Ufa, que alívio! Consegui assisti aos últimos minutos do tempo regulamentar. O jogo acontecia no Estádio do Pacaembu, lotado, em sua imensa maioria por torcedores santistas. O placar do jogo estava 1X0 para o Santos, aquele resultado, porém, levaria o jogo para os pênaltis, uma vez que o Ituano havia vencido o primeiro jogo. A partida estava tensa. Os times jogavam com garra tornando a partida ainda mais emocionante. Finalmente o arbitro apitou o fim do jogo. Tensos, os jogadores de ambos os times se preparavam para a cobrança das penalidades. Cansados, deitados no gramado, sabiam que agora era hora de misturar sorte com talento. Creio eu, que essa coisa de pênaltis é mais uma questão de sorte que de talento. Muitas vezes acontece de os melhores jogadores, aqueles que brilharam durante um campeonato inteiro, serem traídos pela própria ansiedade.

O arbitro autorizou a cobrança das penalidades máximas e logo, na segunda cobrança, o goleiro Aranha, do Santos, defendeu um pênalti de Anderson Sales, do Ituano. Pensei comigo mesmo: “Agora acabou o jogo para David, com a defesa desse pênalti, Golias vencerá o jogo”. Porém, o futebol é uma caixinha de surpresa e, como já havia dito antes, essa coisa de penalidades máximas tem muito de sorte. Na quarta cobrança, foi a vez do santista Rildo desperdiçar um pênalti. A bola chutada por ele bateu na trave e foi para fora. O Ituano ainda podia respirar, estava vivo, ganhou mais uma chance, na linguagem do videogame “ganhou mais uma vida”.

Terminada cobrança das cinco penalidades com empate. Era a vez das cobranças alternadas e nessas, o goleiro Vagner pegou um pênalti de Neto, do Santos. Era a pedra que faltava pra David derrubar o gigante Golias e partir para merecida comemoração.

Parabéns a equipe do Ituano que provou que o impossível pode se tornar possível quando uma equipe se empenha em treinar com fé, garra e determinação.

Apesar de a vitória ter sido do Ituano faço minha homenagem ao ex-jogador do Santos Futebol Clube, mais conhecido em todo o planeta: Edson Arantes do Nascimento, ou simplesmente, Pelé. Há jogadores que são acima da média, verdadeiros gênios com visão de águia dentro de campo. Que surjam muitos outros como Pelé pelos campos do Brasil que nos tragam muitas alegrias no esporte e que, com sua arte, afastem a violência dos estádios. Afinal, esporte é saúde e sair agredindo que se encontra pela frente é coisa de gente doente da mente praticando atos que não compartilha com a grandeza do esporte.

A seguir apresento um texto do genial escritor e jornalista brasileiro, Nelson Rodrigues (1912-1980). É um texto no qual um gênio das letras fala de outro gênio da bola. O texto é uma crônica e foi escrito em 25 de março de 1958, após uma partida, no Estádio do Maracanã, entre o Santos e o América, na qual o Santos venceu a partida pelo placar de 5X3.

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Imagem: http://fosfosol.com.br/?p=99


No país do futebol

“Depois do jogo América x Santos, seria um crime não fazer de Pelé o meu personagem da semana. Grande figura, que o meu confrade Albert Laurence chama de “o Domingos da Guia do ataque”. Examino a ficha de Pelé e tomo um susto: — dezessete anos! Há certas idades que são aberrantes, inverossímeis. Uma delas é a de Pelé. Eu, com mais de quarenta, custo a crer que alguém possa ter dezessete anos, jamais. Pois bem: — verdadeiro garoto, o meu personagem anda em campo com uma dessas autoridades irresistíveis e fatais. Dir-se-ia um rei, não sei se Lear, se imperador Jones, se etíope. Racionalmente perfeito, do seu peito parecem pender mantos invisíveis. Em suma: — Ponham-no em qualquer rancho e sua majestade dinástica há de ofuscar toda a corte em derredor.

O que nós chamamos de realeza é, acima de todo, um estado de alma. E Pelé leva sobre os demais jogadores uma vantagem considerável: — a de se sentir rei, da cabeça aos pés. Quando ele apanha a bola e dribla um adversário, é como quem enxota, quem escorraça um plebeu ignaro e piolhento. E o meu personagem tem uma tal sensação de superioridade que não faz cerimônias. Já lhe perguntaram: — “Quem é o maior meia do mundo?”. Ele respondeu, com a ênfase das certeza eternas: — “Eu”. Insistiram: — “Qual é o maior ponta do mundo?”. E Pelé: — “Eu”. Em outro qualquer, esse desplante faria rir ou sorrir. Mas o fabuloso craque põe no que diz uma tal carga de convicção, que ninguém reage e todos passam a admitir que ele seja, realmente, o maior de todas as posições. Nas pontas, nas meias e no centro, há de ser o mesmo, isto é, o incomparável Pelé.

Vejam o que ele fez, outro dia, no já referido América x Santos. Enfiou, e quase sempre pelo esforço pessoal, quatro gols em Pompéia. Sozinho, liquidou a partida, liquidou o América, monopolizou o placar. Ao meu lado, um americano doente estrebuchava: — “Vá jogar bem assim no diabo que o carregue!”. De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável.

Ora, para fazer um gol assim não basta apenas o simples e puro futebol. É preciso algo mais, ou seja, essa plenitude de confiança, certeza, de otimismo, que faz de Pelé o craque imbatível. Quero crer que a sua maior virtude é, justamente, a imodéstia absoluta. Põe-se por cima de tudo e de todos. E acaba intimidando a própria bola, que vem aos seus pés com uma lambida docilidade de cadelinha. Hoje, até uma cambaxirra sabe que Pelé é imprescindível em qualquer escrete. Na Suécia, ele não tremerá de ninguém. Há de olhar os húngaros, os ingleses, os russos de alto a baixo. Não se inferiorizará diante de ninguém. E é dessa atitude viril e mesmo insolente que precisamos. Sim, amigos: — aposto minha cabeça como Pelé vai achar todos os nossos adversários uns pernas-de-pau”.



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