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Irmã Dulce: Um milagre do amor

Posted by Cottidianos on 13:03
Domingo, 13 de outubro
Milagres acontecem
Quando a gente reza e reza sem desanimar
E a paz é dos milagres, o milagre mais bonito que se possa
desejar
Milhares de pessoas encontram a resposta no momento de oração
Milagres acontecem quando pomos de joelho o coração

(Milagres acontecem – Pe. Zezinho)


2001.
Cidade de Malhador. Estado Sergipe.
Claudia Santos estava feliz e eufórica. Estava grávida de seu segundo filho. Fez os preparativos para receber a nova criança que em breve chegaria. Enxoval pronto. Os exames pré-natais também. Tudo corria muito bem. A família esperava ansiosa o novo integrante.
Enfim, chegou o grande dia. A sergipana começou a sentir as dores que toda mulher sente e que antecedem o nascimento de uma criança. Foi levada então ao hospital. A equipe médica à postos recebeu a parturiente e, após os procedimentos médicos o bebê nasceu de parto normal.
Tudo correu bem até esse momento.
Logo após o parto, a mulher sofreu uma violenta hemorragia. O sangue jorrava incontrolavelmente. Ali, na mesa de cirurgia, o esforço da equipe médica não foi suficiente para fazer estancar o sangue.
Claudia foi então levada para a Unidade de Tratamento Intensivo (UTI). Os médicos tentaram todos os procedimentos possíveis, mas nada do sangue estancar. Foi então transferida para a capital, Aracajú. Em apenas 18 horas ela chegou a passar por três cirurgias, mas de nada adiantou.
Então chegou o tenso momento em que a família ouviu dos médicos que nada mais havia a ser feito. Que eles se preparassem para o momento da despedida final. Todos ficaram muito tristes, como é de se esperar nesses casos.
Naquele momento de agonia, em Aracajú, Cláudia recebeu a visita do Pe. Almir, um religioso que também morava em sua cidade, Malhador. O padre fez uma oração, e depois entregou a ela uma imagem da Irmã Dulce. Um grupo de oração foi formado e também começou a pedir a Irmã Dulce pela saúde de Claudia.
Aquilo que os médicos haviam tentado fazer de todas as formas: fazer parar a sangria, ocorreu logo após o início das orações, sem nenhuma intervenção médica. Depois disso, foi uma melhora impressionante a cada dia.
O médico que a atendera por primeiro, foi chamado à casa da paciente, e recordando-se da gravidade do fato, achou que estava indo assinar o atestado de óbito dela. E qual não foi a sua surpresa ao ver a mulher totalmente recuperada do sangramento e segurando em seus braços o recém-nascido.
Esse foi o primeiro milagre atribuído a Irmã Dulce.

***

Corria o ano de 1992.
O maestro José Maurício Moreira, então com 23 anos, estava cheio de sonhos, esperanças e vontade de lutar pela realização dos seus sonhos. Porém, naquele ano, descobriu que tinha um glaucoma. Ficou apreensivo, porém os médicos lhe disseram que a doença tinha tratamento. Exames mais detalhados, entretanto, revelaram que já havia uma grande perda do nervo ótico.
Submeteu-se ao tratamento indicado pelos médicos por oito anos. Mesmo assim, em 2000, a visão foi se tornando cada vez mais turva e então veio a cegueira total. A vida seguiu sua normalidade dentro das limitações impostas pela cegueira. Já com a deficiência visual, conheceu Marize Mendonça e com ela se casou. Um dos seus maiores sonhos era poder ver o rosto da esposa.
Em 2014, Maurício foi acometido de uma conjuntivite forte que lhe trouxe dores intensas. Ele já tinha ouvido falar da primeira cura que irmã Dulce fizera em Claudia. Resolveu então pedir ajuda daquela que a tanta gente ajudara em sua passagem pela terra.
Uma noite, antes de dormir, as dores causadas pela conjuntivite tornaram-se insuportáveis. Já era madrugada e o sono não vinha. Então, com muita fé, tateando, ele pegou uma imagem de Irmã Dulce que ficava em uma cômoda, perto da cama, colocou sobre os olhos e pediu a ela que lhe curasse daquelas dores que estava sentindo. Porém, Irmã Dulce fez muito mais do que Maurício havia pedido.
Maurício herdara a devoção e a imagem de Irmã Dulce da mãe que já havia falecido.
Após fazer os pedidos ele adormeceu. Quando acordou, cerca de quatro horas depois, teve uma surpresa: conseguiu enxergar a própria mão.
Ao acordar, ele resolveu fazer uma compressa de gelo nos olhos. Como o gelo derretia, ele pegava um papel toalha para limpar o rosto. Foi numa desses movimentos que ele viu a mão se aproximar do rosto, como se tivesse saindo de uma nuvem de fumaça. A partir daí, foi questão de semanas para que a nuvem se dissipasse por completo.
A esposa tinha ido ao banco. Maurício resolveu então lhe fazer uma surpresa. Pegou o rosto dela entre as mãos e lhe disse que ela era muito linda. Marize ficou em estado de choque de tão surpresa ao ver que o esposo estava enxergando.
Quando voltou ao médico para lhe informar da nova situação, apesar de surpreso, este lhe disse que, fisicamente, de acordo com os exames, nada havia mudado. Clinicamente, ele continuava cego, uma vez que o nervo ótico continuava muito danificado. Clinicamente, Maurício ainda estava cego, mas o milagre estava ali presente e todos podiam ver.
Até hoje os médicos não conseguem uma explicação cientifica para o caso de Maurício, pois ele tem o nervo ótico danificado, e uma pessoas nessas condições não consegue enxergar. Porém, Maurício enxerga perfeitamente.
“O nervo ótico é como um cabo de eletricidade que leva as informações para o cérebro processar. O aumento da pressão ocular lesiona o nervo progressivamente até impedir a visão”, diz o oftalmologista, Rodrigo Oliveira, em entrevista ao G1.
E, assim, temos o segundo milagre atribuído a Irmã Dulce.

***
Diz trecho da letra da canção, Vida, interpretada por Fábio Júnior:

“Talvez, quem sabe por
Essa cidade passe um anjo
E, por encanto, abra suas
Asas sobre os homens
E dê vontade de se dar
Aos outros sem medida,
A qualidade de poder viver.
Vida... Vida... Vida... Vida...”

E esse anjo realmente passou na cidade de Salvador na figura piedosa e enérgica de Irmã Dulce, canonizada neste domingo (13), no Vaticano, em cerimonia celebrada pelo Papa Francisco. A primeira santa genuinamente brasileira. E o mais interessante: uma santa do nosso tempo. Muitos dos que estão vivos hoje tiveram a oportunidade de com ela ter conversado, abraçado, e provado da bondade e da sabedoria do “anjo bom da Bahia”, como era conhecida.  
Cerca de 50 mil pessoas acompanharam a cerimônia na Praça São Pedro, em frente à Basílica de mesmo nome, no Vaticano, na presença de religiosos, autoridades, e fieis.
Além de Irmã Dulce foram canonizados o teólogo britânico John Henry Newman (1801-1890), a freira italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a freira indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a catequista suíça Marguerite Bays (1876 -1926). 
Nós costumamos ter dos religiosos e religiosas, principalmente, dos santos e santas, uma imagem de uma pessoa orante e piedosa, mas, por ser Irmã Dulce uma santa do nosso tempo fica mais fácil entender as coisas como elas realmente são.
Certamente, Irmã Dulce tinha essas características de oração e piedade, mas, acima de tudo era uma mulher de ação. Dessas que não cruzam os braços diante das dificuldades, por maiores que elas possam parecer. E, se as coisas eram impossíveis, a nova santa brasileira sabia que Deus torna o impossível possível.
Para construir o império em obras de assistência social que Irmã Dulce construiu na Bahia somente sendo uma mulher, em primeiro lugar, de muita fé, depois vem as características que o fruto da fé faz nascer: força, coragem, e determinação. Aliado a tudo isso, o fermento do amor: sem ele não se entrega a uma causa ou a um projeto como a baiana se entregou.
Filha de Augusto, dentista e professor da Universidade Federal da Bahia, e Dulce, dona de casa, a menina Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, nasceu em Salvador, aos 26 de maio de 1914. Dona Dulce deixou este mundo material muito cedo quando Maria Rita tinha apenas 7 anos.
Aos 19 anos a jovem ingressou na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição da Mãe de Deus, quando se tornou a Irmã Dulce. Escolheu o nome, Dulce, em homenagem a mãe.
A vocação para ajudar os mais pobres e necessitados surgiu ainda na adolescência, bem antes de entrar para o convento, quando, aos 13 anos começou a acolher em casa pessoas doentes e moradores de rua. Também foi professora de uma escola mantida pela congregação.
Além do pão material, Irmã Dulce também se preocupou com o pão da cultura. Em 1948, fundou o Cine Teatro Roma, que recebeu grandes nomes da MPB como Roberto Carlos e Raul Seixas. Entretanto, sua grande contribuição à humanidade foi mesmo na área social.
Assim como Jesus Cristo nasceu numa humilde manjedoura, o grande projeto social iniciado pela Irmã Dulce, teve seu embrião em um galinheiro. Em 1959, ela ocupou um galinheiro que funcionava ao lado do Convento Santo Antônio, em Salvador, e montou ali uma enfermaria para cuidar dos doentes.
E, foi naquele galinheiro, que nasceu as Obras Sociais Irmã Dulce, que hoje atende uma média de 3,5 milhões de pessoas por ano, tudo isso, gratuitamente.  
Talvez, de todos os milagres que Irmã Dulce fez e dos que venha a fazer, seja o milagre do amor, o de ter ajudado a dar um pouco de alento e esperança a quem estava à margem da sociedade, pedindo um pouco de pão ou de remédio, mas até mesmo esse pouco lhes era negado.
Muitos senadores e deputados estiveram no Vaticano acompanhando a cerimonia de canonização de Irmã Dulce. O presidente Jair Bolsonaro foi representado pelo vice Hamilton Mourão. O presidente alegou conflito de agenda para não ir à cerimônia.
Que sabe esses políticos tragam na bagagem a lição e a mensagem que Irmã Dulce pregou com sua vida dedicada aos pobres e aos mais necessitados.
Quem sabe todos nós aprendamos com essa mulher corajosa, inteligente, forte, determinada, e cheia de fé, a termos força para superamos as dificuldades, e a entender que o impossível não existe quando depositamos nossa confiança naquele que tudo pode.

Santa Dulce dos Pobres, rogai por nós.


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