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O grande acordão
Posted by Cottidianos
on
02:03
Segunda-feira,
16 de setembro
Prezados
leitores e leitoras, hoje compartilho uma das análises mais suscintas e mais
precisas que já li nos últimos dias sobre o atual momento político pelo qual
passamos. Tudo parece tão confuso e desordenado, mas nessa confusão toda as
peças do quebra estão todas se encaixando, porém só consegue perceber isso quem
tem um olhar perspicaz sobre a realidade.
O
artigo que compartilho, cujo título é: O grande acordão do governo Bolsonaro,
foi publicado neste domingo (15), pelo jornal Folha de São Paulo, e é de
autoria do jornalista Vinicius Torres Freire. O artigo mostra um resumo do
Brasil político atual em apenas oito tópicos.
***
O
grande acordão do governo Bolsonaro
No
tumulto aparente, se ajeitam interesse de família, de elites econômicas e dos
Poderes
Vinicius
Torres Freire
Jornalista,
foi secretário de Redação da Folha. É mestre em administração pública pela
Universidade Harvard (EUA).
A
gritaria ultrajante do bolsonarismo e as crises de governo criadas pelo próprio
governo produzem queimadas e fumaças políticas que obscurecem acontecimentos da
selva brasileira. Os casos da Amazônia, do teto de gastos e da CPMF são
sintomáticos. Mas, desde a aprovação da reforma da Previdência, faz dois meses,
há certa ordem notável sob o tumulto que é o Brasil sob Jair Bolsonaro. Por
exemplo:
1)
quase no mesmo instante da votação favorável da Previdência, Bolsonaro passou a
radicalizar no ultraje, no mandonismo, na aproximação com os neopentecostais,
no elogio da ditadura e deixou ainda mais claro que está em campanha eleitoral;
2)
parte pequena da elite econômica, de resto quase toda acomodatícia e tolerante
das barbaridades, passou a insinuar que o presidente é um risco também para a
economia. O projeto da "centro-direita" para 2022 reapareceu. Ainda
assim, a maioria se cala, por colaboracionismo, gosto, cinismo ou interesse
cru. Bolsonaro ainda seria preço razoável a pagar por "reformas";
3)
mas as reformas são tocadas pelo Congresso. Ainda resiste o parlamentarismo
branco, acerto definido em março por Rodrigo Maia e o miolão do Parlamento. Na
economia, o governo quase se limita a conter gastos, a animar a torcida e a
prometer planos para "breve". No mais, o governo se dá tiros no pé
(teto, CPMF), até porque a administração econômica e social do país
desinteressa a Bolsonaro;
4)
o Congresso parece quieto, mas continua a aprovar mudanças enormes. Por
exemplo, revisou a velha Lei Geral de Telecomunicacões (de 1997).
Desregulamentou um tanto do setor e, além de melhorias para o público e doutros
benefícios privados, ajudou empresas a evitar falência ou a se associar ao
capital externo. Outras mudanças virão (a seguir, o setor elétrico). Em
outubro, começa para valer o debate da reforma tributária;
5)
vexames como o sururu da CPMF, além do "parlamentarismo branco",
fazem com que o governo continue sem protagonismo na economia, como na reforma
tributária; são prejudicados grandes projetos do Ministério da Economia
(capitalização, alívio tributário para empresas, CPMF, desmonte da lei
trabalhista);
6)
agosto foi o mês de implementação de um grande programa bolsonarista, um
programa de família. Como se sabe, Bolsonaro tenta proteger Flávio da polícia e
nomear Eduardo para a embaixada. Para tanto, Bolsonaro tenta ou consegue
intervir no Coaf, na Polícia Federal, na Receita e na Procuradoria-Geral, por
exemplo;
7)
essas intervenções de Bolsonaro são na prática toleradas na cúpula
político-judicial. Esse o verdadeiro pacto entre os Poderes ou entre alguns de
seus líderes (e não aquela conversa fiada de Dias Toffoli e Bolsonaro, de fins
de maio). Em nome do programa de família e do acordão, Bolsolnaro se arrisca a
perder apoio entre sua milícia virtual e entre os pares da extrema direita;
8)
o objetivo do acordão tácito é limitar a força das instituições de controle e
polícia (PF, Receita, PGR etc.) e contra-atacar o Partido da Lava Jato.
Abafa-se a CPI da Lava Toga (dos juízes e Supremo), com a ajuda de Flávio 01;
aprova-se a lei de abuso de autoridade, com veto para inglês ver de Bolsonaro,
que também não chia contra os dinheiros e facilidades que o Congresso deu aos
políticos para a eleição de 2020, mas não apenas.
Não
é uma conspiração, claro. Mas os grandes blocos de pedra do poder vão se
encaixando no terremoto constante.
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