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Em busca do rumo certo
Posted by Cottidianos
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00:48
Terça-feira,
26 de março
“Não sou eu quem me navega
Quem
me navega é o mar
Não
sou eu quem me navega
Quem
me navega é o mar
É
ele quem me carrega
Como
nem fosse levar
É
ele quem me carrega
Como
nem fosse levar”
(Timoneiro - Paulinho da Viola)
Se
noticiário político fosse a cozinha de um restaurante teria ingredientes em
abundância para preparar comida para um batalhão. Haja notícia. É uma atrás da outra. Infelizmente, nenhuma
que venha a trazer algum alento ou esperança, ou que tenha algum efeito,
realmente positivo sobre a vida da população em geral. A maioria delas picuinhas. Fato é que sem elas
passaríamos muito melhor.
Por
falar em batalhão, senhoras e senhores, preparem os fogos de artifícios, ponha
as suas melhores roupas, encham suas mesas de deliciosas guloseimas e vinhos finos,
afinal é preciso comemorar, brindar o golpe militar de 1964: um dos períodos
mais tenebrosos de nossa história política. Muitos exilados, mortos, torturados,
vozes silenciadas, democracia morta.
Dia
31 de março próximo, o golpe que derrubou o presidente João Goulart, o popular
Jango, completa 55 anos. Iniciava-se ali um regime ditatorial que duraria 21
anos. Anos esses que pareceram uma eternidade para quem viveu sob aqueles anos
de chumbo. Quantos anseios por liberdade não foram suspirados nos corações... Quantas
lágrimas derramadas no silêncio dos quartos... Quanto sangue jorrado nas
prisões e nos porões...
A
imprensa foi severamente censurada — talvez resulte daí a obsessão do
presidente até hoje em ver a imprensa como inimiga — O Congresso Nacional foi
fechado, e mandatos foram cassados. Lembremo-nos de que o presidente venezuelano,
Nicolás Maduro, também considera a imprensa como inimiga.
Mas
o presidente, Jair Bolsonaro, viu e vê essa situação por outro ângulo. Para ele
foi um período glorioso no qual o bem venceu o mal, e o militares foram heróis.
É tanto que o presidente enviou ao Ministério da Defesa determinações para que os
militares comemorem a data em grande estilo.
“O nosso presidente já determinou ao
Ministério da Defesa que faça as comemorações devidas com relação a 31 de março
de 1964, incluindo uma ordem do dia, patrocinada pelo Ministério da Defesa, que
já foi aprovada pelo nosso presidente”, afirmou o porta-voz da Presidência
da República, Otávio Rego de Barros, nesta segunda-feira (25), em entrevista coletiva
no Palácio do Planalto.
“O presidente não considera 31 de março de 1964
um golpe militar. Ele considera que a sociedade, reunida e percebendo o perigo
que o país estava vivenciando naquele momento, juntou-se, civis e militares, e
nós conseguimos recuperar e recolocar o nosso país em um rumo que, salvo o
melhor juízo, se isso não tivesse ocorrido, hoje nós estaríamos tendo algum
tipo de governo aqui que não seria bom para ninguém", acrescentou o
porta-voz em outro trecho da coletiva.
Os
generais devem ter dado pulos de alegria, pensam vocês. Estão enganados. Eles estão
sendo bem mais sensatos em relação à questão do que o mandatário da nação. Os
que integram o primeiro escalão do governo acham que não é o momento para tais
arroubos. Afinal, eles têm sido testemunhas de tantos ruídos na comunicação que
Bolsonaro e seu clã tem provocado, e de quanto incêndios eles já correram para
apagar, e temem que este seja mais um.
Principalmente
no clima de acirramento e de farpas trocadas entre o presidente da Câmara
Rodrigo Maia e o presidente Jair Bolsonaro, tendo, mais uma vez, como pivô dos
ataques os filhos do presidente, com anuência deste. E ainda mais quando se
está em jogo a importante Reforma da Previdência, reforma essa na qual os
militares acabaram levando a melhor sobre as demais categorias pelo projeto
apresentado ao Congresso pelo presidente, em específico, para esta categoria.
Claro
que os militares irão comemorar a data, afinal eles foram os protagonistas da
cena, e agora que estão com a faca e o queijo na mão durante o governo Bolsonaro
— esse é o governo que mais reuniu o maior número de militares em cargos do
primeiro escalão desde o período da ditadura que foi de 1964 a 1985 — o que eles não queriam era estardalhaço.
E
o governo mais uma vez corre o risco de jogar correntes da sociedade brasileira
umas contras outras, como já fez diversas vezes, apenas nesses primeiros meses
de governo. Na verdade, o que estávamos precisando mesmo era de um governante que
conseguisse reunir o país em torno de uma causa e de ideais em comum, e não de
alguém que divida a nação ao meio. Isso é até compreensível em campanhas
políticas, passada elas, é hora de reunir esforços e fazer o país caminhar para
a frente, afinal, e usando frase do senso comum, “pra frente é que se anda”.
Por
falar nisso, das duas uma: ou esses assessores de Bolsonaro são muito ruins na
função que exercem, ou o presidente é muito cabeça dura. Alguém deveria ter
falado para ele que, no Chile, no se louva o general e ex-ditador Augusto
Pinochet. E Bolsonaro chegou lá fazendo justamente isso.
O
ministro da Casa Civil, Onix Lorenzoni, disse em entrevista a uma rádio gaúcha
que foi “Triste, o sangue lavou as ruas do Chile, mas já passaram oito governos
de esquerda e nenhum mexeu nas bases macroeconômicas colocadas no Chile no
governo Pinochet”. O deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do
presidente, também em posições recentes tem se declarado a favor de Pinochet,
dizendo que sem ele, o Chile teria se tornado uma nova Cuba.
No
governo de Augusto Pinochet (1973 – 1990), o Chile viveu uma das ditaduras mais
sangrentas, deixando mais de três mil mortos.
Revoltados
com essas declarações, os presidentes do Senado e da Câmara do Chile, recusaram
convite para participar de um almoço oferecido pelo presidente de centro-direita
do Chile, Sebastián Piñera, ao presidente Jair Bolsonaro e comitiva, no palácio
presidencial, La Moneda.
Ainda
enquanto estava no Chile, não contente com a saia justa que criou com os
parlamentares de lá, o presidente brasileiro ainda resolveu cutucar o presidente
da Câmara, Rodrigo Maia. O clima esteve quente e ainda não esfriou entre os
dois.
Farpas
já haviam sido trocadas entre o ministro da Justiça e da Segurança Pública, Sérgio
Moro. O ministro queria urgência na tramitação do pacote que enviou à Câmara
com propostas de combate à corrupção, ao crime organizado, e a crimes
violentos.
“Eu acho que ele conhece pouco a política. Eu
sou presidente da Câmara, ele é ministro, funcionário do presidente Bolsonaro.
O presidente Bolsonaro é que tem que dialogar comigo. Ele está confundindo as
bolas. Ele não é presidente da República. Ele não foi eleito para isso. Está
ficando uma situação ruim para ele, porque ele tá passando daquilo que é a
responsabilidade dele” disse Rodrigo Maia.
O
ministro Sérgio Moro rebateu: “A única
expectativa que tenho, atendendo aos anseios da sociedade contra o crime, é que
o projeto tramite regularmente e seja debatido e aprimorado pelo Congresso
Nacional com a urgência que o caso requer. Talvez alguns entendam que o combate
ao crime pode ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta
mais”.
A
verdade é que Rodrigo Maia não queria que pacote anticrime de Sérgio Moro,
tramitasse ao mesmo tempo que a Reforma da Previdência, que, aliás, está um
angu de caroço. Rodrigo Maia também é um sujeito sobre quem pairam suspeitas de
corrupção. Em 2017, o nome dele também apareceu na delação premiada de
executivos da Odebrecht. Ele teria recebido, pelo menos, R$ 1 milhão em três campanhas
eleitorais. Maia disse que era tudo mentira e coisa e tal. O fato é que ele não
parece ser um sujeito disposto a defender arduamente o projeto de Sérgio Moro,
então uniu o útil ao agradável: já que a Reforma da Previdência vai ser trabalhosa,
deixemos o pacote anticrime para outro momento.
O
fato é que os filhos, de novo eles, dessa vez o Carlos Bolsonaro, compartilhou
nas redes sociais a fala de Sérgio Moro, porém, dando uma alfinetada em Maia: “Talvez alguns entendam que o combate ao
crime possa ser adiado indefinidamente, mas o povo brasileiro não aguenta mais”,
escreveu ele na rede social. Maia não gostou nada, nada disso e a confusão
começou, e, mais uma vez, Bolsonaro, é claro, tomou partido do filho.
Nessa
briga, Maia tem razão, pois é ele quem está carregando o peso de ter que
aprovar a Reforma da Previdência, e em vez de receber rosas, recebe fogo, é
demais. O bom é que ele não falou em nome próprio, mas em nome da instituição Congresso
Nacional. Afinal, não são os presidentes da Câmara e do Senado quem tem que
correr atrás de votos para a Reforma da Previdência, mas sim, o presidente tem
que fazer isso, tem que fazer articulações, buscar votos. O que é de admirar é
que um homem com 7 mandatos legislativos como deputado não atine que as coisas
tenham que ser assim, que ele, presidente, é quem tem que chamar para si a
responsabilidade. Mas não, ao invés disso, fica é no reino encantado do Twiters,
junto com os filhos, e arma toda uma confusão, absolutamente, desnecessária.
Nesse
quesito uma coisa é certa: até agora, o pior inimigo do governo não tem sido a
imprensa, nem o PT, nem outro qualquer partido de esquerda. O pior inimigo do
governo tem sido ele mesmo, junto com seu clã, que, ao invés de aproveitar o
alto grau de popularidade que obtiveram nas últimas eleições presidenciais, estão
se enrolando em linha feito carretel.
A
verdade é que o governo de Jair Bolsonaro, até agora, não disse a que veio. Não
há um projeto definido de governo. Não se sabe para onde vai e como caminha a
educação, nem o meio ambiente, nem outras áreas estratégicas do governo. Há um
vazio de projetos sem tamanho. Talvez se deixasse um pouco de lado as intrigas
que conseguem fazer através das redes sociais o governo andasse melhor das
pernas.
Mas
o bom, ou ruim, quem saberá, é que Bolsonaro não está enganando ninguém. Ele está
apenas sendo ele mesmo. Durante a campanha apenas encheu linguiça com seus
discursos enquanto os projetos de governo passavam bem longe deles. Porém, o
importante era tirar o PT do caminho, pois bem, o PT saiu do caminho, o
problema é que o governo atual ainda não encontrou o caminho da governança.
Enquanto
isso, os brasileiros estão como navegantes num barco que ainda não sabem muito
bem para onde vai. Torcem para que siga um rumo seguro. Por enquanto, é só
maresia... Enquanto os navegantes esperam que o pulso firme do capitão coloque
o barco no prumo e no rumo certo.
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