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Um vídeo apimentado e polêmico

Posted by Cottidianos on 01:18

Quarta-feira, 07 de março

Folião critica as candidaturas laranjas

O carnaval chegou e passou. Sambas e marchinhas? Ninguém as ouve mais cantar porque ninguém mais as canta. Quem passava brincando feliz já não passa mais. E nos corações? Ah, nos corações, saudades e cinzas foi o que restou. Nesta quarta-feira de cinzas, apenas saudades e cinzas foi o que restou. Nesse retorno à normalidade, retorna-se também à impessoalidade das grandes cidades. Um mundo de gente que, mesmo caminhando lado a lado, passo a passo, na maioria das vezes nem se vê. E se não se vê também não pode se sorrir, nem muito menos se abraçar e beijar. Sérios, esqueceram-se de sair por aí, caminhando, dançando e cantando lindas canções de amor. E, no entanto, mais que nunca é preciso cantar, mais do que nunca é preciso cantar e alegrar a cidade e os corações envolvidos por tantos dramas e problemas que só o amor, a compreensão e alegria podem curar.

Lembram-se daquele cidadão que estava a toa na vida, e que foi chamado pelo amor dele para ver a banda passar, cantando coisas de amor. Um homem sério que contava dinheiro parou; uma moça que vivia sempre triste, vendo aquela alegria toda, até sorriu; outras pessoas que se fechavam como rosa em botão, resolveram se abrir e enfeitar o jardim; a meninada então... se assanhou toda e saiu a correr atrás da banda. Provavelmente da sacada de seu apartamento, ou da janela de sua casa, aquele cidadão via estas e outras cenas belas e cheias de vida suscitadas pelos blocos que passavam na rua.
E assim, com essa releitura das canções Marcha da Quarta-feira de Cinzas, de Vinicius de Moraes, e A Banda, de Chico Buarque, este blog abre o presente texto.
Cheio de cenas de alegria é o carnaval brasileiro. Em um ponto ou outro alguns tomam atitudes mais ousadas que arrepiam os cabelos dos puritanos, mais essas são cenas isoladas e infinitamente em menor número se comparadas a alegria que explode nas ruas, avenidas e salões nesses dias de carnaval. Essas cenas impróprias não representam e nem resumem essa festa cheia de alegria e cores.
O carnaval passou e o que era para ser apenas cinza virou faísca desnecessária com a publicação de um vídeo pornográfico publicado pelo presidente Jair Bolsonaro em seu perfil no Twiter.
Quando será que o presidente vai perceber que não é não é mais um deputado ou aspirante em campanha ao cargo de presidente? Sim, porque até agora o que presidente tem feito é agir como tal, contando para isso, em grande parte com a assessoria dos filhos, principalmente, o Carlos Bolsonaro, articulador da campanha do pai nas redes sociais.
Pois bem, com uma reforma tão importante como a reforma da previdência, o presidente e seus filhos resolveram passar o carnaval agitando as redes sociais, a alfinetar deputados, e artistas, e a publicar vídeos indecentes.
O vídeo que deu o que falar foi um vídeo postado pelo presidente, em que dois homens aparecem em cima de um ponto de táxi. Um deles se abaixa, enquanto o outro urina na cabeça dele. A cena, supostamente, acontece durante a passagem de um bloco de rua do carnaval de São Paulo.
Uma cena realmente deplorável. Se fosse nos limites do privado, então é até compreensível, pois entre quatro paredes, havendo consentimento entre os parceiros, está valendo, afinal é a vida privada deles e eles podem fazer o que bem entender, mas no âmbito público aí a coisa muda de figura. Se houvesse policiais por perto, os dois poderiam até ser preso por desacato ao pudor. Após a publicação, o vídeo apareceu com a classificação de conteúdo sensível na conta do Twiter.
Não me sinto confortável em mostrar, mas temos que expor a verdade para a população ter conhecimento e sempre tomar suas prioridades. É isto que tem virado muitos blocos de rua no carnaval brasileiro. Comentem e tirem suas conclusões”. Escreveu Bolsonaro na postagem.
Tal publicação não condiz de forma alguma com a cadeira presidencial. Um presidente da República não deve, ele próprio, se arvorar como defensor da moral e dos bons costumes. Existem instituições ao redor dele que podem ser porta vozes e baluartes nessa luta, e, dela podem falar com autoridade. Ao presidente cabe governar, fazer a ponte entre Congresso-Palácio do Planalto-sociedade, e conduzir nesse tripé a hábil arte de negociar, principalmente, com o Congresso, para aprovar, leis, projetos de lei, e reformas importantes para o país. É isso que se espera de um presidente.
E ele como tal, deveria, por exemplo, ligar para o governador de São Paulo, pedir a ele que tomasse as providências cabíveis em relação aos que cometeram atentado ao pudor. Uma vez de posse da gravação do ato obsceno seria fácil identificar os infratores e puni-los.
Mas todo ato, não é praticado à toa. Havia uma intenção por trás da publicação do vídeo indecente por parte do presidente, em sua conta no Twiter. E todos os indícios levam a crer que se trata de uma vingança do presidente.
O fato é que o carnaval de rua tem crescido muito nestes últimos anos no Brasil. Os blocos aumentaram imensamente o número de participantes. São Paulo, por exemplo, que era uma cidade sem tradição de blocos de rua, e, em feriado como o carnaval a cidade ficava deserta, hoje tem efervescência de blocos nessa época tão propícia a eles.
Muitos desses blocos pelo Brasil afora fizeram críticas ao presidente, Jair Bolsonaro, e aos seus filhos, destacando, entre outras questões o caso dos candidatos laranjas — candidatos lançados pelo partido do presidente, PSL, e outros partidos, com a única finalidade de desviar dinheiro do fundo partidário para candidaturas de maior vulto. As laranjas eram, em sua maioria, candidaturas femininas.
Essas sátiras políticas durante o carnaval não foram inventadas agora. Antigos carnavais já faziam esse tipo de sátira. O problema é que o presidente levou para o lado pessoal e resolveu se vingar desses blocos.
Porém, escolheu a pior maneira para fazer isso. Pois quando ele escreve na postagem que “temos que expor a verdade para a população”, ele faz um recorte irresponsável do que seja o carnaval no Brasil, e o pior, faz esse pensamento circular pelo mundo, uma vez que jornais do mundo inteiro repercutiram o fato.
Ora, todos os brasileiros sabem que o carnaval não é isso que Jair Bolsonaro quis mostrar. Há uma grande maioria de gente de bem que vai atrás dos blocos. São jovens, velhos e crianças. Pessoas sozinhas ou famílias inteiras que aproveitam esses dias para uma diversão saudável.  
Porque então ele não mostrou essas belas cenas para ilustrar sua página na rede social? Por que, se queria mostrar obscenidades não escolheu uma cena entre heterossexuais? Por que foi, justamente, escolher um casal gay para essa finalidade?
Foi isso para encher de ódio o seu público maior que são os fiéis evangélicos? Seja qual tenha sido a motivação: disseminar o ódio ou uma atitude de vingança o fato é que isso pegou mal para quem acabou de ser eleito presidente da nação brasileira.
Outro fato que se tem notado nesse governo é falta uma articulação na aérea de comunicação. As coisas estão meio bagunçadas nesse quesito. Redes sociais não são espaços para publicações oficiais. Existem recursos da mídia tradicional para isso. Ao desprezar a mídia tradicional o presidente e seus “meninos” só tem feito asneiras. Ficamos a pensar em quantas mais virão.
Enquanto isso, reformas e outras questões importantes estão de vento em popa. Esperamos que o presidente não se distraia com questões menores e assuma, com mão forte, o rumo do barco para o qual foi escolhido como capitão. Botar ordem na casa, trazer o Brasil de volta aos trilhos do crescimento e do desenvolvimento econômico e social. É o que os brasileiros esperam do senhor, presidente, e não que fique feito um adolescente irresponsável a fazer picuinhas e mandar recados pelas redes sociais.

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