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Chegará a justiça ao chefe?

Posted by Cottidianos on 10:50
Domingo, 07 de maio

Da esquerda para a direita: Renato Duque, Lula, e Sérgio Moro

Quando todos esperavam que a semana na Lava Jato terminasse sem maiores novidades, eis que o ex-diretor da Petrobras, Renato Duque, resolve falar, e joga ainda mais dinamite na já ardente fogueira das vaidades políticas. Duque disse que Lula tinha pleno conhecimento de todo o esquema de desvio de dinheiro e pagamento de propina na estatal petroleira.

Comecemos pelo final, e não pelo início, como é de praxe. Façamos também desta postagem uma mistura de momento presente, representado pelo depoimento de Renato Duque, ligado ao escândalo do petrolão, com o depoimento de outro personagem bastante conhecido nosso, ligado ao caso do mensalão: Marcos Valério.

Ao saber do depoimento que o ex-aliado havia dado ao juiz Sérgio Moro, o Instituto Lula, divulgou nota na qual afirma que o depoimento de Renato Duque é uma tentativa de fabricar acusações contra o ex-presidente, e que seria resultado de acordos entre os condenados na Lava Jato, e os procuradores que investigam o caso, em troca de redução de pena. Na nota o instituto classificou como levianas as denuncias contra o ex-presidente, e que os réus ainda não haviam conseguido levantar nenhuma prova contra ele, apesar de as investigações já durarem dois anos, e de ter havido quebra de sigilo, e violação de telefonemas.

Os advogados de defesa de Lula também divulgaram nota desclassificando o depoimento do ex-diretor da Petrobrás.

A defesa de João Vaccari, ex-tesoureiro do PT, também declarou serem mentirosas as acusações de Duque, e que devem ser recebidas com desconfiança pelo fato de partirem de alguém que está tentando fechar acordo de delação premiada.

Ainda na noite de sexta-feira (5), após saber das denúncias de Renato Duque, Lula, durante o 6o Congresso Estadual do PT, em São Paulo, reagiu fazendo duras críticas a Operação Lava Jato, e aos procuradores do Ministério Público. Até fez uma ameaça velada contra eles.

“Amanhã prenderam tal empresário, ele vai delatar o Lula. Amanhã o Lula vai ser preso. Faz dois anos que eu estou ouvindo isso. Dois anos que eu estou escutando. E se eles não me prenderem logo, quem sabe um dia eu mando prendê-los por mentira que estão falando”, disse ele em discurso no evento petista.

É um contrassenso, em uma democracia, um homem que já foi presidente, ameaçar prender aqueles que o estão investigando. Ele que já foi presidente, será que não sabe que essa coisa de mandar prender ou soltar, investigar crimes, não é atribuição do presidente da República, e sim da lei e da justiça?

Outro ponto fora da curva é quando o ex-presidente fala do apartamento triplex na praia do Guarujá, litoral paulista. “Porque eles falam de um tríplex para tentar impressionar vocês, na verdade é como se fosse uma casa Minha Casa Minha Vida uma em cima da outra”. Vejam só que sandice: o ex-presidente compara um apartamento triplex à beira-mar, no Guarujá as casas do projeto Minha Casa Minha Vida. Se fosse um apartamento simples naquela localização já seria um luxo, um triplex então, é um luxo multiplicado por três. O presidente comparar esse luxo as moradias do programa “Minha Casa Minha Vida” é demais. Só mesmos os idiotas conseguem engolir uma coisa dessas. 

O ex-presidente termina seu discurso dizendo: “Eles já estão com a tese pronta: ‘o PT é uma organização criminosa, o Lula montou um governo para roubar até depois que ele saísse’. Portanto, se o Lula é o Lula, o Lula era o chefe então ele tem que saber de tudo”. Querendo ser irônico o presidente acabou dizendo a mais pura verdade no final de seu discurso.

Se os caros leitores, e leitoras, repararem bem nos argumentos dos petistas para se defenderem — bem como na dos outros envolvidos em escândalos — é sempre a mesma. O roteiro parece girar sempre na tentativa de desqualificar depoentes, promotores, e juízes, e se colocar como os mais puros e mais santos, incapazes de cometer o menor deslize. Lula já chegou a dizer que era um dos homens mais honestos que o Brasil já teve.

Por que o PT faz isso? Deixo Marcos Valério, operador do mensalão, preso em Minas Gerais, dar essa resposta. Em seu primeiro depoimento como réu na Lava Jato, ao juiz Sergio Moro, em setembro de 2016, Valério diz, referindo-se aos petistas: “Eles tem uma máquina muito grande de desmoralização das pessoas. Via redes sociais, os blogeiros, e via algumas pessoas situadas na imprensa. O PT tem essa mania de querer desmoralizar as pessoas pra tirar a credibilidade dessas pessoas no que elas dizem”.

Fugindo um pouco do assunto, e, ao mesmo tempo permanecendo nele, Valério faz nesse depoimento, uma acusação séria: a de que o então presidente Lula, e a cúpula do PT teriam sofrido chantagem por parte de Ronan Maria Pinto. Disse o depoente que, soube pelo secretário geral do PT, Silvio Pereira, que o empresário da cidade de Santo André estaria chantageando o presidente Lula, e os ministros, José Dirceu, e Gilberto Carvalho.

Valério recebeu uma ligação de Silvio Pereira, para que fosse se encontrar com ele em São Paulo. Lá Silvio teria falado da chantagem, e perguntado se Valério poderia emprestar R$ 6 milhões. Nessa ocasião, Valério ficou sabendo que o chantagista era Ronan Maria Pinto, dono de uma empresa de ônibus em Santo Andre.

Mais tarde, em conversas com outros integrantes da cúpula petista, ao saber dos reais motivos pelos quais Ronan estaria chantageando o ex-presidente, e os dois ministros, Marcos Valério arrepiou os cabelos, e recusou-se a prosseguir com a negociação. Em um encontro em Brasília, disse a Silvio Pereira, que não queria o nome dele envolvido naquele assunto. Posteriormente, o empréstimo acabou sendo concedido ao PT, pelo pecuarista, José Carlos Bumlai.

A chantagem devia estar relacionada mesmo a algo muito grave, pois ao ser perguntado sobre por um integrante do MP sobre qual seria o motivo dela, Valério disse: “Eu gostaria de não responder a essa pergunta por que ela é muito... O que eu fiquei sabendo é muito grave... E o Sr. não vai poder garantir a minha vida”. Mas à frente no depoimento, a questão do motivo da chantagem volta novamente à tona, e Valéria torna a dizer: “O que eu descobri é muito sério, e eu não queria me envolver. E vou pedir para não responder a essa pergunta. Por quê? Porque é um assunto muito grave, eu não quero correr risco, eu estou preso, e numa penitenciária”.

Em relação à Ronan Maria Pinto, as investigações mostram que ele é um empresário, da cidade de Santo André, no grande ABC paulista. Segundo os investigadores, Ronan conhecia detalhes do assassinato, em 2002, do prefeito da cidade, Celso Daniel (PT).

Voltando ao depoimento que Renato Duque deu, em Curitiba, ao juiz Sérgio Moro. Duque ficou calado por muito tempo. Esperando um milagre divino, talvez? Ou esperava que algum dos advogados do PT encontrasse alguma solução mágica? Ou será que ainda contava com a influência do chefe para libertá-lo? São muitas as conjecturas para essa questão, mas o fato é que, quando ninguém mais esperava por algum depoimento seu, ele falou. E quer fazer delação premiada, depois de ser preso em março de 2015, ter sido condenado em 4 processos, e sua pena somar 57 anos de prisão.

A primeira vez que Renato Duque soube o que é ficar atrás dos muros de uma prisão, e dentro das grades dela, foi em novembro de 2014, quando a Polícia Federal deflagrou a 7a fase da Operação Lava Jato. Entretanto, um habeas corpus concedido pelo ministro Teori Zavascki o libertou. Em março de 2015, a PF deflagrou a 10a fase da Operação Lava Jato, e ela veio pra cima de Duque como um tsunami. Dessa vez, ele não escapou. 

Os investigadores descobriram que ele mantinha contas secretas no exterior na qual estavam aplicados mais de 20 milhões de euros. Além disso, os policiais descobriram transações bancárias as quais consideraram lavagem de dinheiro. Na casa de Duque, os policiais encontraram um acervo com mais de cem obras de arte.

Oficialmente, Duque era Diretor de Engenharia e Serviços, entre 2003 e 2012 na Petrobras, mas, ao que parece, tudo na política brasileira, parece ter os seus caminhos obscuros que levam aos subterrâneos da corrupção, a função de ex-diretor na estatal era arrecadar propina para o Partido dos Trabalhadores. Segundo ele, a propina tinha origem em contratos com a estatal. Em outras palavras, o ex-diretor era o homem do PT na Petrobras. Entre Duque, a propina, e os contratos estava a figura de João Vaccari Neto, tesoureiro do PT. Apesar de “trabalhar” para o PT na Petrobrás, arrecadando milhões de reais, muito dessa dinheirama acabava caindo na conta pessoal de Vaccari, como ele mesmo afirma no próprio depoimento.

No depoimento dado ao juiz Sérgio Moro, o ex-diretor, disse que esse esquema de pagamento de propina já existia quando ele assumiu a Diretoria de Engenharia e Serviços, no ano de 2003, afirmando que todos os integrantes da cúpula do Partido dos Trabalhadores, desde o presidente da República, ao presidente do PT, todos sabiam do esquema criminoso. Hoje é sabido que a propina sempre existiu, mas foi durante os governos petistas de Dilma e Lula que esse esquema criminoso foi tornado “profissional”, “aperfeiçoado”.

O que se depreende de tudo isso que acontece no Brasil político do qual hoje temos conhecimento, é que os grandes partidos, e seus líderes de expressão nacional, corriam atrás de propina como os urubus correm atrás de carniça. Fala-se aqui, especialmente do PT, devido a ele estar no centro da fala de Duque à Moro, mas o mesmo vale para todos os partidos políticos.

O ex-diretor da Petrobrás disse ao juiz, em Curitiba, que “quando existia um contrato, seja ele qual fosse, que corria uma licitação normal, o partido ou o tesoureiro do partido normalmente procurava a empresa pedindo contribuição. E a empresa normalmente dava porque era uma coisa institucionalizada na companhia, isso. O Paulo Roberto cuidava da área do PP, Partido Progressista, a área do PT, eu que cuidava”.

E isso, pelo menos entre os integrantes do partido, não era coisa escondida. Todos sabiam: o presidente do partido, deputados, senadores, secretários. Nessa fonte suja, todos bebiam com gosto. 

Ainda segundo Duque, os responsáveis pela arrecadação da propina eram os tesoureiros do partido “inicialmente o Delúbio, posteriormente, o Paulo Ferreira, e depois o Vaccari”.

Ao juiz Sérgio Moro, Renato Duque afirmou que foi o próprio presidente, Lula, que indicou o Vaccari para a arrecadação de propina na empresa. Ele conta que conheceu o Vaccari em 2007, quando ele ainda não era tesoureiro, mas já começava a dar os primeiros passos no crime cuidando da arrecadação de propina.

Segundo o depoente, o ex-presidente era conhecido dentro do esquema por “Chefe”, “Grande Chefe”, “Nine”, também um gesto de coçar a barba era uma referência ao ex-presidente. “Eu fui chamado a Brasília e essa pessoa falou: ‘Olha você vai conhecer uma pessoa indicada pelo...’ e fez esse movimento (Duque faz um gesto como que tocando a barba). Não citava o nome. O presidente Lula era conhecido como Chefe, Grande Chefe, Nine, ou pelo movimento (tocar a barba). ‘Você vai receber uma pessoa que está sendo indicada e ele vai conversar com você, ele vai ser agora quem vai atuar junto às empresas que trabalham com a Petrobras”, afirmou Duque. A partir daquele momento, foi estabelecido o contato com Vaccari, e por determinação de Lula.

Durante o depoimento, Duque falou também do vasto conhecimento que o João Vaccari, tinha dos contratos de licitação da Petrobrás. O depoente chega a dizer: “Ele sabia muito mais de resultados de licitações do que eu”. O ex-diretor, diz que nem precisava passar as informações para o Vaccari, ele próprio já sabia quais empresas estavam pagando a parte que lhes cabia na propina e quais não estavam pagando, e que, Vaccari mesmo, procurava as empresas para fazer os acertos.

Renato Duque disse que esse dinheiro advindo de propina teria abastecido os cofres do PT, de José Dirceu, e do próprio Lula, e que Antonio Palocci era quem gerenciava os recursos desviados para o presidente.

No depoimento dado a Sérgio Moro, Renato Duque coloca Lula no comando do esquema. Ele fala de três encontros que teve com Lula, quando ele já não era mais presidente da República. O primeiro encontro, segundo o depoente, foi em 2012. E nessa ocasião, conta Duque, que ficou impressionado com o conhecimento que Lula tinha do projeto de sondas. Ele começou a fazer muitas perguntas sobre o assunto. Perguntou, inclusive, porque ainda não tinha sido assinado o contrato, já que tinha sido aprovado em abril, ao que Duque respondeu: “Presidente, nem sabia que não tinha sido, estou fora da empresa, não sei responder”. Dizendo com outras palavras, diante do alto nível de conhecimento que Lula demonstrava em relação aos assuntos da estatal, que Lula era o chefe, e que Vaccari era apenas um serviçal dele.

Em um segundo encontro, em 2013, Lula e voltou o assunto das sondas. Lula queria saber por que algumas empresas não estavam pagando, questão a qual Duque também não soube responder.

No último encontro entre os dois, Lula se mostrou preocupado sobre se Duque possuía contas no exterior. À essa altura a Lava Jato já estava a todo vapor. Segundo ele, Lula houvera dito que Dilma Rousseff havia recebido a informação de que um diretor da Petrobrás recebera dinheiro em uma conta na Suíça. Ainda segundo o depoente, Lula teria dito: “‘Olha, presta atenção no que vou te dizer, se tiver alguma coisa não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”. Duque entendeu, mas àquela altura o estrago já estava feito.

Desses três encontros, diz Duque em relação a Lula: “Ficou claro, muito claro pra mim que ele tinha pleno conhecimento de tudo e detinha o comando.”.

Não foi apenas Renato Duque que afirmou que Lula era o “Chefe”. Também Marcos Valério, o operador de um organizado e elaborado esquema financeiro criminoso — que ficou conhecido como mensalão — que possibilitou ao PT montar o maior esquema de corrupção da história, também afirmou isso à Veja, em 15 de setembro de 2012.

Valério foi o mais duramente punido. Punição que também deveria ter caído de forma mais severa sobre a cúpula petista, afinal Valério, apesar de muito inteligente e hábil, não era o chefe do esquema, mas tão somente uma engrenagem importante dele. Se bem que com o advento do mensalão, ficou claro que o esquema criminoso montado pelo PT era muito mais profundo e sofisticado.

Valério foi seduzido pelos petistas com promessas de impunidade, e depois, quando isso não era mais possível, de penas mais brandas. Depois o empresário amargou a dura realidade de estar sozinho. Os poderosos que tanto o tinha bajulado tinham virado-lhe às costas.

Ao repórter da Veja, Rodrigo Rangel, Valério diz a mesma coisa que Duque disse na sexta-feira (05) ao juiz Sérgio Moro: que Lula se empenhava pessoalmente na coleta de dinheiro de propina. Tudo era feito de uma forma a não deixar rastros. Em uma contabilidade que corria por fora, sem registros contábeis. Um crime perfeito. Talvez, por isso, Lula se gabe tanto de que não há provas contra ele. O ex-presidente foi muito hábil nessas transações. Ficou à margem de todos os escândalos, sempre dizendo que não sabia de nada. E até hoje diz que não sabe, enquanto seus auxiliares pagavam o pato e eram jogados na lama da desmoralização, do descrédito, e da prisão. E ali eram esquecidos pelo “Chefe”.

Valério chega a se definir, apesar de ser o operador dos pagamentos milionários, como apenas um “boy de luxo”, sendo Lula era quem, realmente, dava as cartas.

Pelas colocações de Lula nas pesquisas ainda há no Brasil, muita gente cega, e muita gente comprometida até o pescoço com esse criminoso esquema que levou o Brasil à falência econômica e moral.

Não dá mais para ignorar o que está diante dos olhos de todos: houve um esquema criminoso no Brasil que foi aperfeiçoado durante os governos petistas de Lula e Dilma. E é sabido por todos que em todo esquema criminoso tão sofisticado há um chefe, um comandante. Até agora, foram punidos apenas os homens de confiança do chefe, e seus subalternos. A pergunta é: conseguirá a lei chegar ao chefe e colocá-lo na cadeia?

Não dá mais para tolerar as mesmas desculpas de perseguição, de “querem destruir o ex-presidente, e o PT”. O Brasil foi traído por gente que se apresentou como salvadora, e se transformou em ave de rapina de cofres públicos.

Sem lideranças em que se possa confiar, o que fazer para as próximas eleições, se não apenas o PT, mas todos os grandes partidos brasileiros, e as principais lideranças da política brasileira estão chafurdando num mar de lama, ou correndo atrás de propina como urubus em busca de carniça?

Essa é uma pergunta na qual o brasileiro deve meditar, e muito, se não quiser ver o país naufragar de vez nos mares da corrupção e do descrédito.

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