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O Raul Seixas: Um mito que vive nas canções que compôs

Posted by Cottidianos on 01:09
Segunda-feira, 29 de junho

Enquanto você
Se esforça pra ser
Um sujeito normal
E fazer tudo igual
Eu do meu lado
Aprendendo a ser louco
Um maluco total
Na loucura real”       
(Maluco Beleza - Raul Seixas , Claudio Roberto)



Se estivesse vivo, o saudoso roqueiro brasileiro, Raul Seixas, teria feito, nesse domingo (28), 70 anos. Raul nasceu em Salvador, no dia 28 de junho de 1945, e morreu em São Paulo, no dia 21 de agosto de 1989. É com saudades que festejamos o dia do nascimento de Raul, que tantas belas canções nos legou.

O texto abaixo é uma singela homenagem a esse rebelde, contestador, maluco beleza, Raul Seixas. Escrevi o texto baseado na obra do artista, especialmente nas músicas, Metamorfose Ambulante, Tente Outra Vez, Ouro de Tolo, Eu nasci há dez mil anos atrás, O trem das sete, e O Conto do sábio chinês, sucessos inesquecíveis do artista.

***



O Raul Seixas: Um mito que vive nas canções que compôs

Ter uma opinião formada sobre tudo não era a marca de Raul Seixas. Ao contrário, ele preferia ser uma metamorfose ambulante e, com essa atitude, mais que atitude, uma filosofia de vida, um jeito de estar no mundo, ele fugia a responsabilidade de ter sempre uma opinião formada sobre tudo, sobre amor, sobre aquilo quem a gente já nem sabe o que é.

Até porque, na verdade, a gente nessa vida, é como a chama ardente de uma vela: ilumina, mas dura pouco. Será que a vela tem consciência de que seu brilho é finito e, por isso, se consome com tanta intensidade? Se um dia a gente é estrela, amanhã... O amanhã a Deus pertence. Não nos esqueçamos de que até as estrelas se apagam. Ao contrário da vela, que se consome com fugacidade e intensidade, os objetivos não: os objetivos devem ser lutados, conquistados, a longo prazo. Quem chega a um objetivo num instante não tem o prazer de saboreá-lo plenamente, não porque não sabe a luta, não sabe a batalha, não sabe o suor que foi derramado. E se Raul tivesse que desdizer tudo aquilo que acabei de escrever ele diria exatamente, que prefere continuar sendo essa metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião sobre tudo.

Por falar nessa coisa de objetivos e da luta por eles, tem gente que, quando uma coisa não dá certo, já acha que a canção está perdida. Logo perde a fé em Deus, perde a fé na vida... E se esquecem de que é preciso ter fé em Deus, ter na fé na vida. Caiu? Levante. Afinal de contas, você têm dois pés para cruzar a ponte, duas mãos para segurar a espada da vitória. Não! Não! Não! Não entre paranoia, desanimo, ou depressão. Levante essa sua mão sedenta de vida e recomece a andar. Você acha que a cabeça aguenta se você parar? De modo algum! Se sua cabeça parar no tempo, seu corpo desaba na poeira da estrada. Sorria, há uma voz cantando, uma voz girando, uma voz que baila no ar, especialmente para você. Quem diz a batalha da vida está perdida, desconhece que é de batalhas que é formada a vida. Garanto que, se você for sincero consigo mesmo, e com seus sonhos, se você desejar profundo, você será capaz de sacudir o mundo. Por isso, lhe digo: Se um sonho seu se foi como pássaro que voa para longe, não desanime: tente outra vez.

O viver, porque transitório, é tão profundo, porque é passagem, é tão misteriosao, que nem nos damos conta disso. Às vezes acabamos nos enredando na armadilha perigosa do comodismo. Somos um cidadão, ou cidadã responsável, ganhamos tantos reais por mês, e tá tudo bem. O problema é que usamos apenas dez por cento de nossa cabeça animal. Temos tantas coisas boas para conquista e ficamos aí, parados. Bom seria que desembarcasse um ser extraterreno e, saindo de sua bela nave espacial, nos ensinasse uma receita de viver melhor. Será que o homem do disco voador aprovaria nossa sociedade alternativa?

Mas até o disco voador pousar em nossos quintais, tanta coisa já aconteceu em nossa história humana! Houve as bruxas e os bruxos, queimados vivos na fogueira por terem a coragem de ser aquilo que todo homem é: místico. Houve o profeta Jesus, que foi morto por pregar um amor sem limites, e uma sociedade igualitária. Nesse mundo louco, dizem que o conde Drácula já sugou muito sangue novo e se escondeu atrás da capa, que Pedro já negou Cristo por três vezes, isso porque era seguidor dele. Houve também cidades prodígios que hoje não são mais do que lendas, como Babilônia, por exemplo. Assim também como houve Zumbi dos Palmares, que fugiu para o quilombo, a fim de estabelecer uma sociedade livre do açoite do chicote dos feitores das fazendas. Se considerarmos que somos participes dessa fantástica história da humanidade, podemos também dizer que nascemos há dez mil anos atrás, e que não tem nada nesse mundo que a gente não saiba demais.

Assim, a gente vai vivendo, amando, correndo, lutando, até o dia em que o trem das sete, surja de trás das montanhas, trazendo bem lá de longe, as cinzas o velho éon e nos leve para a travessia tão temida pela imensa maioria dos humanos.  E, assim, o trem segue o seu destino, fumegando, apitando e chamando os que sabem do trem.

E quanto o trem partir da estação, quem é que vai chorar? Quem vai sorrir? Quem será que vai ficar ou partir?

Acho que só o sábio chinês que um dia sonhou que era uma borboleta, e ao acordar, viveu o resto da vida uma dúvida de que não sabia se ele era uma borboleta, ou um sábio chinês, é que tenha a reposta para essas questões.

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