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Tragédia em São Sebastião

Posted by Cottidianos on 00:36

 Quinta-feira, 23 de fevereiro


O carnaval passou. Blocos de rua superlotados depois de dois anos sem o povo poder explodir de alegria por causa da pandemia do coronavírus. Porém, graças aos deuses da medicina, veio uma vacina em tempo recorde, e o vírus perdeu força, apesar de não ter ido embora de vez.

Na Marques de Sapucaí, coração do carnaval no Rio de Janeiro, e símbolo do carnaval do mundo inteiro as escolas desfilaram com muito samba no pé, luxo, e elegância nas fantasias e nos carros alegóricos.

Na Bahia, e no Recife, outros points do carnaval brasileiros, também as multidões que gostam de carnaval acorreram as ruas e extravasaram a alegria contida, fazendo, igualmente, belas festas de carnaval.

Porém, nem só de alegria viveu o carnaval no Brasil. O samba deste ano teve uma nota triste que foi a tragédia que aconteceu em São Sebastião, litoral de São Paulo. A bela São Sebastião é um dos destinos mais procurados por turistas no litoral paulista, cheia de praias entrecortadas por enseadas e morros, e onde os turistas também tem a opção de caminhar por trilhas repletas de cachoeiras.

Entretanto, se você chegar hoje àquele ambiente paradisíaco e não souber o que aconteceu, vai pensar que o lugar foi palco de uma guerra. Casas alagadas, ruas cheias de lama, encostas desabadas, escassez de água e comida, os trechos não bloqueados da Rio-Santos cheios carros deixando a cidade.

Uma chuva intensa caiu sobre São Sebastião neste fim de semana. A região registrou um índice pluviométrico recorde na história do país, deixou, mais de 50 mortos, e ainda há muitas pessoas desaparecidas. Muitos turistas estavam a região para aproveitar o feriadão de carnaval.

No sábado ainda curtimos um pouco a praia, o mar estava bem agitado. A chuva começou por volta de umas 20h, só foi parar no outro dia de manhã. Fomos dormir, mas foi só uma horinha. Começou a subir muito rápido. A gente levantou e começou a erguer tudo o que dava para erguer, colocar crianças e cachorro pro alto”, diz ao portal G1, por telefone, Mariete Paula dos Santos Silva, turista da cidade de Hortolândia, que passava o feriado na casa de amigos.

Mariete disse ao G1 que teve sorte pois casa em que ficou hospedada havia caixa d’água, assim, puderam ficar mais tempo com água em casa. O grupo conseguiu deixar a cidade na terça-feira, 21, em comboio. O grupo no qual ela estava chegou ao litoral na sexta-feira, 17. Ainda conseguiram aproveitar a praia no sábado durante o dia. No sábado à noite começou o temporal que devastou a região.

A chuva também provocou grandes estragos na rodovia Rio-Santos. Encostas caíram e a rodovia chegou a ficar completamente interditada após a tragédia. “Alguns pontos a gente não sabe o que sobrou da rodovia, porque é um volume de terra tão grande que se deslocou, numa extensão tão grande, que a gente até levanta hipótese da rodovia ter sido arrastada junto, da rodovia não existir mais”, disse o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, na segunda-feira, 20, durante entrevista coletiva à imprensa. Na terça-feira, 21, a rodovia começou a ser liberada no trecho entre São Sebastião e Ubatuba.

E assim, de tragédia em tragédia, vamos vivendo a cada início de ano, no período das chuvas, e com a alteração das condições climáticas, não apenas no Brasil, em todo o mundo, a cada ano vemos essas tragédias se intensificarem.

O poder público, e com isso quero dizer, o a prefeitura, o governo do estado, e a presidência da República, tem vindo em socorro das vítimas da tragédia com recursos financeiros, recursos materiais tem chegado através de doações de todas as partes do Brasil.

Mas é preciso prevenir que estas coisas aconteçam, senão no próximo ano, ou daqui a dois, três anos estaremos chorando mais mortes de moradores de áreas de risco, e assistindo outras tragédias iguais ou piores.

Por exemplo, os moradores não foram avisados de que o pior estava por vir. Não havia sirenes para tocar, para avisar. Pois não adianta a Defesa Civil dizer que enviou mensagens por WhatsApp, pois isso é muito pouco. Pois, no caso de tragédias como a de São Sebastião, que chegam à noite ou de madrugada, se uma sirene de alerta toca, essas pessoas tem uma chance de tomar uma decisão.

E não adianta apenas dar aviso por sirene às pessoas. É preciso também dar uma rota de fuga para essas pessoas, dizer exatamente para onde elas têm que ir nessas horas de horror.

O governo de São Paulo, tem agido para minimizar o sofrimento das vítimas da tragédia, mas porque os órgãos estatais não atuaram, se não para impedir, mas no sentido de que ela não tivesse feito tantas vítimas.

Por exemplo, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e alertas de Desastres Naturais, informou que a prefeitura de São Sebastião, e o governo do estado de São Paulo foram informados dois antes que havia previsão de chuvas intensas na região e que poderia ocorrer desastres.

Nós conseguimos fazer a previsão com 48 horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, disse Oswaldo Moraes, diretor do Cemaden.

O comunicado citava como região mais crítica a Vila do Sahy, localizada no bairro Barra do Sahy, um dos locais mais atingidos pela tragédia, onde morreram mais de 30 pessoas. Entretanto, os moradores da região dizem que não foram avisados pela Defesa Civil do risco que corriam, nem foi pedido a nenhum deles que deixassem suas casas.

O jornal Folha de São Paulo, em reportagem desta terça-feira, 22, ao falar da tragédia recente do litoral norte paulista, relembrou outra tragédia ocorrida em Caraguatatuba, cidade vizinha a São Sebastião. O fato aconteceu em 1967.  Choveu vários dias seguidos o que fez com que o solo ficasse por demais encharcado, por consequência, as encostas desabaram, soterrando casas, e deixando cerca de 500 pessoas mortas. A cidade ficou isolada, sem água e sem energia elétrica.

Naquela época, a cidade tinha 15 mil habitantes e hoje já são 125 mil. Mesmo aquele tendo sido uma tragédia que vitimou centenas de pessoas, o volume de chuvas foi de 580 mm em apenas dois dias. Desta vez foram 640 mm de chuvas em apenas 24 horas.

Em meio a tragédia, é louvável o trabalho das equipes de resgate e de voluntários que se desdobram em esforços para salvar vidas, resgatar corpos, e aliviar o sofrimento de que foi atingido pela tragédia. Mas é triste quando sabemos de exemplos de desumanidade.

Por exemplo, comerciantes da região estavam vendendo água a R$ 93, o litro, numa clara exploração do sofrimento e da dor alheia. Na terça-feira, 21, o repórter do programa Bom Dia SP, Wallace Lara, fazia uma reportagem sobre a tragédia, e ao comentar o assunto, muito emocionado, ele chorou enquanto fazia a reportagem: “Desculpa, gente, vou respirar aqui e vou falar. Tive ontem em uma comunidade aqui em Topolândia, em São Sebastião, onde tem pelo menos cem pessoas tirando lama de dentro das casas. É uma situação muito difícil de se ver e acompanhar. As cidades não têm estrutura. É difícil ouvir o depoimento que a gente ouviu agora e não se emocionar. Cobrar R$ 93 em um litro de água na situação que nós estamos aqui é inacreditável”, disse ele com voz embargada.

Outro fato revoltante foi a agressão sofrida por repórteres do Estadão enquanto gravavam reportagem em um condomínio de luxo durante a cobertura das chuvas que caíram em São Sebastião.

A jornalista Renata Cafardo, e o fotografo Thiago Queiroz, ambos do Estadão, estavam no condomínio de luxo Vila de Anomam, na praia de Maresias, para mostrar como a tragédia havia atingido também pessoas de alto padrão de vida. Eles estavam na Rio-Santos indo para a Vila do Sahy, quando viram o condomínio inundado e resolveram parar e fazer uma matéria sobre o assunto.

Tiveram autorização de um funcionário do condomínio para entrar, porém, mesmo assim, cinco homens e uma mulher, se aproximaram deles desferindo ofensas, e chamando-os de comunistas e esquerdistas. Um dos homens obrigou o fotografo a apagar as imagens que havia feito. Outro homem, quando percebeu que a jornalista estava filmando a cena, tentou tomar o celular dela e a jogou na lama.

Segundo Renata, os ataques só pararam quando outros moradores do condomínio que passavam pela via, afastaram os agressores.

Foi uma agressão bem ao estilo bolsonarista. Os repórteres estavam lá, fazendo o trabalho deles, registrando cenas da tragédia e, de repente, como se se abrisse um túnel do tempo, surgem uns brutamontes dos tempos das cavernas, e, do nada, começam a agredir e xingar quem apenas fazia seu trabalho. Lembremos que os ataques á imprensa eram estimulados em seus seguidores pelo ex-presidente, Jair Bolsonaro, ele mesmo, diversas vezes, xingou profissionais de imprensa.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o caso será investigado. “Estou enviando à apreciação do Observatório da Violência contra Jornalistas, órgão do Ministério da Justiça, para acompanhamento das providências legais visando à proteção da liberdade de imprensa. O Secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho, coordenará os trabalhos”, disse o ministro em suas redes sociais.

E o fato se deu num condomínio de luxo. São pessoas que tem um bom padrão de vida, mas que não tem um bom padrão de educação. Devem ser desse tipo de gente que, por opção, decidem atacar a imprensa séria e dar às mãos às fake news que circulam pela Internet. Pobres ricos sem educação.


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