Tragédia em São Sebastião
Quinta-feira, 23 de fevereiro
O carnaval passou. Blocos de rua superlotados depois de dois anos sem o povo poder explodir de alegria por causa da pandemia do coronavírus. Porém, graças aos deuses da medicina, veio uma vacina em tempo recorde, e o vírus perdeu força, apesar de não ter ido embora de vez.
Na
Marques de Sapucaí, coração do carnaval no Rio de Janeiro, e símbolo do
carnaval do mundo inteiro as escolas desfilaram com muito samba no pé, luxo, e
elegância nas fantasias e nos carros alegóricos.
Na
Bahia, e no Recife, outros points do carnaval brasileiros, também as multidões
que gostam de carnaval acorreram as ruas e extravasaram a alegria contida,
fazendo, igualmente, belas festas de carnaval.
Porém,
nem só de alegria viveu o carnaval no Brasil. O samba deste ano teve uma nota triste
que foi a tragédia que aconteceu em São Sebastião, litoral de São Paulo. A bela
São Sebastião é um dos destinos mais procurados por turistas no litoral
paulista, cheia de praias entrecortadas por enseadas e morros, e onde os
turistas também tem a opção de caminhar por trilhas repletas de cachoeiras.
Entretanto,
se você chegar hoje àquele ambiente paradisíaco e não souber o que aconteceu,
vai pensar que o lugar foi palco de uma guerra. Casas alagadas, ruas cheias de
lama, encostas desabadas, escassez de água e comida, os trechos não bloqueados da
Rio-Santos cheios carros deixando a cidade.
Uma
chuva intensa caiu sobre São Sebastião neste fim de semana. A região registrou
um índice pluviométrico recorde na história do país, deixou, mais de 50 mortos,
e ainda há muitas pessoas desaparecidas. Muitos turistas estavam a região para
aproveitar o feriadão de carnaval.
“No sábado ainda curtimos um pouco a praia, o
mar estava bem agitado. A chuva começou por volta de umas 20h, só foi parar no
outro dia de manhã. Fomos dormir, mas foi só uma horinha. Começou a subir muito
rápido. A gente levantou e começou a erguer tudo o que dava para erguer,
colocar crianças e cachorro pro alto”, diz ao portal G1, por telefone, Mariete
Paula dos Santos Silva, turista da cidade de Hortolândia, que passava o feriado
na casa de amigos.
Mariete
disse ao G1 que teve sorte pois casa em que ficou hospedada havia caixa d’água,
assim, puderam ficar mais tempo com água em casa. O grupo conseguiu deixar a
cidade na terça-feira, 21, em comboio. O grupo no qual ela estava chegou ao
litoral na sexta-feira, 17. Ainda conseguiram aproveitar a praia no sábado
durante o dia. No sábado à noite começou o temporal que devastou a região.
A
chuva também provocou grandes estragos na rodovia Rio-Santos. Encostas caíram e
a rodovia chegou a ficar completamente interditada após a tragédia. “Alguns pontos a gente não sabe o que sobrou
da rodovia, porque é um volume de terra tão grande que se deslocou, numa
extensão tão grande, que a gente até levanta hipótese da rodovia ter sido
arrastada junto, da rodovia não existir mais”, disse o governador de São
Paulo, Tarcísio de Freitas, na segunda-feira, 20, durante entrevista coletiva à
imprensa. Na terça-feira, 21, a rodovia começou a ser liberada no trecho entre
São Sebastião e Ubatuba.
E
assim, de tragédia em tragédia, vamos vivendo a cada início de ano, no período
das chuvas, e com a alteração das condições climáticas, não apenas no Brasil,
em todo o mundo, a cada ano vemos essas tragédias se intensificarem.
O
poder público, e com isso quero dizer, o a prefeitura, o governo do estado, e a
presidência da República, tem vindo em socorro das vítimas da tragédia com
recursos financeiros, recursos materiais tem chegado através de doações de
todas as partes do Brasil.
Mas
é preciso prevenir que estas coisas aconteçam, senão no próximo ano, ou daqui a
dois, três anos estaremos chorando mais mortes de moradores de áreas de risco,
e assistindo outras tragédias iguais ou piores.
Por
exemplo, os moradores não foram avisados de que o pior estava por vir. Não
havia sirenes para tocar, para avisar. Pois não adianta a Defesa Civil dizer
que enviou mensagens por WhatsApp, pois isso é muito pouco. Pois, no caso de
tragédias como a de São Sebastião, que chegam à noite ou de madrugada, se uma
sirene de alerta toca, essas pessoas tem uma chance de tomar uma decisão.
E
não adianta apenas dar aviso por sirene às pessoas. É preciso também dar uma
rota de fuga para essas pessoas, dizer exatamente para onde elas têm que ir
nessas horas de horror.
O
governo de São Paulo, tem agido para minimizar o sofrimento das vítimas da
tragédia, mas porque os órgãos estatais não atuaram, se não para impedir, mas
no sentido de que ela não tivesse feito tantas vítimas.
Por
exemplo, o Cemaden (Centro Nacional de Monitoramento e alertas de Desastres
Naturais, informou que a prefeitura de São Sebastião, e o governo do estado de
São Paulo foram informados dois antes que havia previsão de chuvas intensas na
região e que poderia ocorrer desastres.
“Nós conseguimos fazer a previsão com 48
horas de antecedência, inclusive, dando a localização do desastre”, disse Oswaldo
Moraes, diretor do Cemaden.
O
comunicado citava como região mais crítica a Vila do Sahy, localizada no bairro
Barra do Sahy, um dos locais mais atingidos pela tragédia, onde morreram mais
de 30 pessoas. Entretanto, os moradores da região dizem que não foram avisados
pela Defesa Civil do risco que corriam, nem foi pedido a nenhum deles que
deixassem suas casas.
O
jornal Folha de São Paulo, em reportagem desta terça-feira, 22, ao falar da
tragédia recente do litoral norte paulista, relembrou outra tragédia ocorrida em
Caraguatatuba, cidade vizinha a São Sebastião. O fato aconteceu em 1967. Choveu vários dias seguidos o que fez com que
o solo ficasse por demais encharcado, por consequência, as encostas desabaram,
soterrando casas, e deixando cerca de 500 pessoas mortas. A cidade ficou
isolada, sem água e sem energia elétrica.
Naquela
época, a cidade tinha 15 mil habitantes e hoje já são 125 mil. Mesmo aquele
tendo sido uma tragédia que vitimou centenas de pessoas, o volume de chuvas foi
de 580 mm em apenas dois dias. Desta vez foram 640 mm de chuvas em apenas 24
horas.
Em
meio a tragédia, é louvável o trabalho das equipes de resgate e de voluntários
que se desdobram em esforços para salvar vidas, resgatar corpos, e aliviar o
sofrimento de que foi atingido pela tragédia. Mas é triste quando sabemos de
exemplos de desumanidade.
Por
exemplo, comerciantes da região estavam vendendo água a R$ 93, o litro, numa
clara exploração do sofrimento e da dor alheia. Na terça-feira, 21, o repórter do
programa Bom Dia SP, Wallace Lara, fazia uma reportagem sobre a tragédia, e ao
comentar o assunto, muito emocionado, ele chorou enquanto fazia a reportagem: “Desculpa,
gente, vou respirar aqui e vou falar. Tive ontem em uma comunidade aqui em
Topolândia, em São Sebastião, onde tem pelo menos cem pessoas tirando lama de
dentro das casas. É uma situação muito difícil de se ver e acompanhar. As
cidades não têm estrutura. É difícil ouvir o depoimento que a gente ouviu agora
e não se emocionar. Cobrar R$ 93 em um litro de água na situação que nós
estamos aqui é inacreditável”, disse ele com voz embargada.
Outro
fato revoltante foi a agressão sofrida por repórteres do Estadão enquanto
gravavam reportagem em um condomínio de luxo durante a cobertura das chuvas que
caíram em São Sebastião.
A
jornalista Renata Cafardo, e o fotografo Thiago Queiroz, ambos do Estadão,
estavam no condomínio de luxo Vila de Anomam, na praia de Maresias, para
mostrar como a tragédia havia atingido também pessoas de alto padrão de vida. Eles
estavam na Rio-Santos indo para a Vila do Sahy, quando viram o condomínio
inundado e resolveram parar e fazer uma matéria sobre o assunto.
Tiveram
autorização de um funcionário do condomínio para entrar, porém, mesmo assim,
cinco homens e uma mulher, se aproximaram deles desferindo ofensas, e
chamando-os de comunistas e esquerdistas. Um dos homens obrigou o fotografo a
apagar as imagens que havia feito. Outro homem, quando percebeu que a
jornalista estava filmando a cena, tentou tomar o celular dela e a jogou na
lama.
Segundo
Renata, os ataques só pararam quando outros moradores do condomínio que
passavam pela via, afastaram os agressores.
Foi
uma agressão bem ao estilo bolsonarista. Os repórteres estavam lá, fazendo o
trabalho deles, registrando cenas da tragédia e, de repente, como se se abrisse
um túnel do tempo, surgem uns brutamontes dos tempos das cavernas, e, do nada,
começam a agredir e xingar quem apenas fazia seu trabalho. Lembremos que os
ataques á imprensa eram estimulados em seus seguidores pelo ex-presidente, Jair
Bolsonaro, ele mesmo, diversas vezes, xingou profissionais de imprensa.
O
ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, disse que o caso será investigado.
“Estou enviando à apreciação do
Observatório da Violência contra Jornalistas, órgão do Ministério da Justiça,
para acompanhamento das providências legais visando à proteção da liberdade de
imprensa. O Secretário Nacional de Justiça, Augusto de Arruda Botelho,
coordenará os trabalhos”, disse o ministro em suas redes sociais.
E o fato se deu num condomínio de luxo. São pessoas que tem um bom padrão de vida, mas que não tem um bom padrão de educação. Devem ser desse tipo de gente que, por opção, decidem atacar a imprensa séria e dar às mãos às fake news que circulam pela Internet. Pobres ricos sem educação.
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