Ameaças golpistas e delírios de fanáticos
Terça-feira, 22 de novembro
“Oh!
Oh! Seu Moço!
Do
Disco Voador
Me
leve com você
Pra
onde você for
Oh!
Oh! Seu moço!
Mas
não me deixe aqui
Enquanto
eu sei que tem
Tanta
estrela por aí”
(S.O.S
– Raul Seixas)
Muitas
aconteceram desde a última postagem que fiz. Como diz o ditado popular: Muita
água rolou debaixo da ponte.
Chegou
e passou a COP-27. Lula foi. Bolsonaro ficou. Não foi porque não quis. Lula foi
a grande estrela do evento. Muito fotografado. Muito aplaudido. Enfim, o Brasil
voltando ao cenário internacional, e voltando num evento que trata das questões
mais importantes para o futuro do planeta: A questão climática.
Após
duas semanas de longas negociações, a Cop-27 chegou ao fim neste domingo (20), Sharm
el-Sheikh, no Egito. A guerra travada entre Rússia e Ucrânia, e a crescente
tensão entre Estados Unidos e China tornaram o chão da COP-27 mais árido.
Aliado a isso, as enchentes que aconteceram na Nigéria e no Paquistão fizeram
aumentar pedidos de ajuda. É o planeta dando sinais, e ainda assim os cegos não
veem, e os surdos não ouvem.
Verões
mais quentes em uns lugares, invernos mais rigorosos em outros, derretimento
das geleiras, avanço do mar, enfim são muitos os sinais emitidos pelo planeta.
Lembremos que o planeta Terra não passará, quem passará somos nós. O homem se
considera grande, inteligente, e superpoderoso com suas invenções, mas
lembremos que os dinossauros também eram grandes e poderosos, mesmo assim, eles
se foram, não se sabe exatamente porque, foram varridos da face da Terra, e
hoje, só restam seus fósseis debaixo do solo, ou expostos em algum museu
famoso.
Como
diz o ditado: A corda sempre arrebenta para o lado mais fraco. E quem tem pago
a conta dos efeitos climáticos primeiro são, ironicamente, os países que menos
contribuem para a emissão de gases que causam o efeito estufa.
Na
esteira das propostas, surgiu um fundo chamado de “fundo de perdas e danos”,
através do qual os maiores poluidores, os países mais ricos, ajudem os países
menos desenvolvidos nos prejuízos causados pelos efeitos climáticos.
Obviamente,
os países mais ricos se opõem a criação desse fundo, mesmo assim, a União
Europeia deu o pontapé inicial, e um acordo foi fechado. Os detalhes ainda
precisam ser melhor definidos, mas já é um começo. Os países que seriam
doadores desse dinheiro exigem que as doações estejam alinhadas com o acordo de
Paris. Os países que receberão as doações temem que essa nova discussão
distraia os países doadores das doações que prometeram e até agora e não
entregaram. O nó da questão não está fechado e precisará esperar por mais uma
COP, em Dubai. De qualquer modo, uma luz
no fim do túnel foi acendida para aqueles que tem sobre suas cabeças a ira da
natureza. Não nos esqueçamos de que essa nuvem de ira paira sobre a cabeça de
todos nós.
Pensemos
no universo como uma grande e complexa engrenagem na qual todas as partes
funcionam com exatidão. O nosso pequeno planeta faz parte dessa engrenagem,
também ele cheio de outras pequenas engrenagens que semelhante ao Todo,
funciona com precisão.
Porém,
o homem pode interferir no funcionamento dessas peças e engrenagens, e a
máquina que funcionava com perfeição passa a apresentar problemas, defeitos.
Ainda dá tempo de consertar se algo for feito agora para sanar o perigo. Mas se
o homem continuar destruindo, destruindo, e destruindo, um dia a máquina dá
pane geral, e corremos o risco enquanto espécie humana de também desaparecermos,
à exemplo dos dinossauros grandalhões.
Alarmismo,
pensará o caro leitor, leitora. Retornemos em milhões de anos, e imaginemos uma
situação hipotética na qual os dinossauros pudessem falar, e alguém chegasse para
eles e dissesse: “Se não fizerem isso ou aquilo, vocês desaparecerão da face
da Terra”. Provavelmente, eles olhariam para seu grande porte deles mesmos
e para a natureza ao redor, depois dariam risadas da piada, e também diriam: “Chega
de alarmismos!”, e seguiriam a vida indiferente ao alerta dado a eles.
No
acordo de Paris de 2015 foi feito um acordo para limitar o aquecimento global a
1,5 graus Celsius. Acordo não foi cumprido, e as emissões de gases estão
aumentando, ao invés de diminuir. Mas um pequeno consolo nisso tudo é que,
antes do acordo de Paris citado acima, o mundo caminhava para um nível de aquecimento
do planeta estimado em 4,5 graus Celsius até o fim de século.
Essa
previsão foi atualizada para um aquecimento de 2,6oC, graças ao
trabalho já feito até aqui. Mas isso não basta, é preciso reduzir ainda mais. A
questão é que o mundo precisa caminhar na direção de energia limpa, redução do
uso de metano. A redução de gases poluentes e a busca de energia limpa e
renovável é uma necessidade. Ao invés de buscar soluções urgentes, os líderes
das potências mundiais vão postergando o assunto, fazendo o mínimo necessário.
Enquanto isso, os efeitos das mudanças climáticas vão sendo sentidas a cada ano
e cada vez mais intensas por pessoas de todo o mundo.
Voltando
ao Brasil, uma coisa que tem chamado a atenção é o silêncio dos Bolsonaro após
a vitória de Lula. O site da Veja traz uma reportagem publicada nesta
segunda-feira, 21, na qual aborda o assunto. Segundo a revista, os finais de
semana eram sempre de muita animação. Os Bolsonaro eram os anfitriões e reuniam
familiares e amigos mais próximos, e faziam festa até tarde. Agora, segundo
relatos de vizinhos, o silêncio é tamanho que chega até a assustar.
A
jornalista Andrea Sadi em sua coluna publicada no site do G1, também destaca o
silêncio do presidente. Segundo a jornalista, o presidente só deu a breve
declaração reconhecendo a derrota para Lula, por pressão dos aliados.
As
eleições foram dia 02 de novembro e, até o dia 18, Bolsonaro só havia aparecido
publicamente para o brevíssimo pronunciamento em que reconheceu a derrota, e
também quando apareceu para pedir, tardiamente, que os manifestantes
desocupassem as rodovias. Ele também participou de um encontro com os ministros
do Supremo Tribunal Federal. Depois disso, o presidente pouco apareceu para
trabalhar. Está recluso.
Os
Bolsonaros também eram muito barulhentos nas redes sociais. Depois do resultado
das eleições eles não chegaram a silenciar, mas diminuíram bastante as
postagens. Os discursos conspiratórios também parecem ter perdido força entre
eles. Eles estavam certos de que venceriam as eleições. Fizeram um esforço
enorme para isso à custa do dinheiro público, à custa da máquina pública.
Na
madrugada do dia 30 de setembro, Bolsonaro postou nas redes sociais dizendo que
nunca havia perdido uma eleição: “Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade
e dos desafios que vamos enfrentar. Mas sabemos aonde queremos chegar e como
chegaremos lá. Pela graça de Deus, nunca perdi uma eleição e sei que não será
agora, quando a liberdade do Brasil inteiro depende de nós, que iremos perder”.
Depois eu o ouvir dizer a mesma coisa em entrevista à TV. E ele parecia
convicto do que dizia.
E
agora, o que passa na cabeça de Bolsonaro e dos filhos? Medo de ir preso. Os
filhos têm foro privilegiado, mas após o fim do mandato ele não terá. E há
muitos processos contra ele que agora podem ir parar na Justiça comum uma vez
que a partir de 1o de janeiro ele perde o foro privilegiado.
Enquanto
isso, o governo Lula já trabalha a todo vapor no processo de transição. Nenhum
ministro foi anunciado oficialmente. O que se tem até agora são especulações. Lula
já estressou com os mercados, os mercados já se estressaram com Lula, e assim,
vida que segue. Depois tudo se ajeita. É sempre assim. O mercado fica nervoso,
mas também precisa de dinheiro. Então não vai ficar nervosinho o tempo todo.
Tudo
por causa do teto de gastos. Como sabemos, Bolsonaro derrubou a porteira do
teto de gastos, Lula seguiu na esteira. Enfim, prometeu muito em campanha,
promessas que vão na direção de dar ao povo brasileiro, principalmente aquela
parcela da população que passa fome, uma vida melhor. Então há muito que
negociar as PECs da vida.
Verdade,
que Lula também não pode chutar o balde e abandonar de vez a responsabilidade
fiscal, pois isso não é bom para ninguém, nem para os ricos, e nem para os
pobres, pois a conta vem alta depois, principalmente para os pobres.
Também
continuam os delírios dos bolsonaristas. Alguns deles são hilários, como um
vídeo publicado nas redes sociais na noite deste domingo, 20, que mostra bolsonaristas
golpistas pedindo ajuda aos extraterrestres. Não, você não leu errado, nem
escrevi por engano. Eles estavam pedindo ajuda interplanetária para combater o
grande inimigo que, segundo eles, é a instalação do comunismo no Brasil.
O
vídeo foi gravado por um homem de Porto Alegre. Na postagem ele diz: “Pessoal,
fui dar um rolê de bike como faço sempre. Filmei essa pérola dos golpista
pedindo ajuda extraterrestre com celular na cabeça, fazendo sinais de luz e
pedindo ajuda do 'general”.
Os
bolsonaristas botam os celulares da cabeça e ficam fazendo gestos como se fosse
um ritual. Uma mulher no vídeo diz “SOS”, e outra pessoas diz: “Olha
para nós, general”. Isso já é uma questão de sanidade mental. Há outros
comportamentos dessa turma de bolsonaristas que são mais preocupantes porque
violentos, como o bloqueio de estradas, por exemplo, e a ameaça de paralização
dos caminhoneiros em plena época de Natal. Há também atentados terroristas
contra bases da Polícia Rodoviária Federal.
Há
outros comportamentos ainda mais perigosos porque vindos de altas autoridades golpistas
do governo. É o caso do ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), Augusto
Nardes.
O
ministro publicou um áudio de oito minutos de duração em um grupo de WhatsApp,
que depois vazou para a imprensa e para o público em geral. No áudio, o
ministro do TCU faz uma fala altamente golpista, insinua que nas casernas —
caserna é um termo usado entre os militares para se referir as Forças Armadas —
está se articulando um golpe, elogia os participantes dos atos antidemocráticos,
e termina dizendo: “Os próximos dias serão nebulosos e o que vai acontecer
de desdobramento não se sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito
fortes nos próximos dias. Um abraço”.
Segue
abaixo a transcrição do áudio na integra publicado pela revista Veja.
Estimado
Sartori, como eu sou magistrado e julgo muitas coisas que estão acontecendo no
Brasil, praticamente muita coisa passa pelo Tribunal de Contas da União, somos
nove lá, e a situação é bem complexa, muito complexa. É o pior momento que a
nação vai viver, mas talvez seja importante para poder recuperar… até pelo
depoimento desse caminhoneiro que mostra a visão que todo mundo está tendo, não
há mais… Os intelectuais da nação hoje você consegue escutar o que a gente vem
pensando há muito tempo das pessoas mais humildes da nação e que têm uma visão
clara do conjunto do país. Que nós somos hoje sociedade conservadora, que não
aceita as mudanças que estão sendo impostas e que despertou. Isso é muito
importante.
Lá
nos anos 80, quando eu voltei da Europa eu tentei criar um movimento com um
grupo de especialistas e um professor de direito constitucional, César Saldanha
Júnior, que hoje já está um pouco fora de combate aí em Porto Alegre, para
contrapor toda essa transformação que acabou acontecendo no Brasil. Criamos um
instituto, enfim, fazíamos aulas pra defender a economia de mercado, capital,
mas fomos superados pela incompetência de todos nós, claro que lutamos muito,
eu estive na época conversando com Ernesto Geisel, com os líderes da época,
João Figueiredo, que não tiveram uma visão de que tínhamos que fazer uma
transição com um parlamentarismo, e escolher um primeiro-ministro e fortalecer
a economia de mercado com princípios que pudessem nortear a nação.
Agora
veio o Bolsonaro que despertou a sociedade conservadora e hoje todo mundo está
nas ruas aí fazendo a sua defesa desses princípios. Demoramos, mas felizmente
acordamos. Demoramos, mas felizmente acordamos.
O
que vai acontecer agora? Está acontecendo um movimento muito forte nas
casernas. Eu acho que é questão de horas, dias, no máximo uma semana, duas,
talvez menos que isso, que vai acontecer um desenlace bastante forte na nação.
Imprevisíveis, imprevisíveis. Portanto a fala desse cidadão é pra despertar o
produtor rural também porque não adianta só caminhoneiro trabalhar.
Vamos
perder? Sim, vamos perder alguma coisa, mas a situação para o futuro da nação
poderá se desencadear de forma positiva, apesar desse principal conflito que
deveremos ter nos próximos dias ou nas próximas horas.
Falei
longamente com o time do Bolsonaro essa semana, ele não tá bem, tá com a
ferimento na perna, uma doença de pele bastante significativa, mas tem
esperança ainda, né? Tem esperança de pode ser recuperar e melhorar a sua
situação física, e certamente terá condições de enfrentar o que vai acontecer
no país. Se vai haver alguma mudança em relação a isso? Só que haja uma
capitulação por parte de alguns integrantes importantes e dirigentes que tudo
se sente que vai pra um conflito social na nação brasileira.
Eu
não posso falar muito até porque, sim, tenho muitas informações, mas queria
passar pra ti, Sartori, e para o teu time aí do agro que eu conheço todos os
líderes e sei da importância do agro.
Até
quando lá atrás negociamos a ciclo de sessão eu era o líder da bancada
ruralista, articulei a união em 17 estados pra colocar 20.000 pessoas em
Brasília em [19]99. Queimamos máquinas, tratores, fizemos um escarcéu. Fizemos
até carreteiro aqui pra mais de 2 mil pessoas junto com meu estimado amigo
Sperotto e tantos líderes que aí acompanham junto com você esse time do agro
Brasil. Então conheço todos os passos que temos que fazer.
Fiz
a minha parte. Em [20]14, eu era presidente [do TCU], alertei a presidente
[Dilma Rousseff] em [20]12, [20]13 o que ia acontecer no país, infelizmente não
conseguimos diálogo na época. Porque eles nunca aceitaram o diálogo, eles foram
pro confronto e agora é um confronto decisivo, eles vão vir para um confronto
que nós todos sabemos quais são as consequências, mas nós tomamos uma decisão
importantíssima em [20]15, quando eu tive a coragem em 130 anos, pela primeira
vez, de tomar de tomar uma atitude de reprovar as contas porque encontramos 340
bilhões em [20]15 e [20]16 de irregularidades na nação. E tudo se mostra que
vai acontecer novamente.
Ou
seja, princípios de estabilidade fiscal não vão ser postos, a não ser que a sociedade
faça muita pressão e que haja mudança, mas tudo está muito nebuloso em relação
ao futuro do país.
Não
vou me alongar mais, tenho muitas informações especialmente para o grupo do
agro, mas eu acho que é o grande momento, baseado no que falou esse
caminhoneiro lá de Sinop, de que é necessário acordar todo o Brasil. Acordar,
despertar, ter fé e crença, como nós tivemos lá em [20]15 apresentando pela
primeira vez um processo que desmontou, de certa forma, essas estruturas que
eles conseguiram remontar agora, baseado na estrutura que tinha já ficado, que
foi muito longa. Imagina eles com mais quatro anos de governo o que vai
acontecer na nação. Não sei. Vai
depender da sociedade se reerguer, retomar a sua força, saber da sua força,
saber da sua força. A sociedade sabe da sua força, mas não tinha despertado. Hoje
nós estamos despertos, esperamos poder avaliar melhor a nação.
E
eu fico aqui, como magistrado, procurando olhar a árvore e a floresta. A floresta,
se não for tomado medidas bastante fortes, ela está indo pra um processo de ser
incendiada aos poucos.
Um
grande abraço pra vocês e estamos juntos, esperando aí a visita de vocês. Quando
for ao Rio Grande eu vou lá matar a saudade e ver especialmente o meu amigo
Sartori e tantos outros que estão aí junto, Francisco Turra, meu colega, homem
de fé, de criança, tantos que eu poderia falar aqui, vários políticos, várias
pessoas que têm capacidade de auxiliar nesse momento tão dramático da nação.
Grande dia.
Os
próximos dias serão nebulosos e o que vai acontecer de desdobramento não se
sabe, mas certamente teremos desdobramentos muito fortes nos próximos dias. Um
abraço.”
A
repercussão da fala golpista do ministro do TCU Augusto Nardes foi intensa. Por
meio de nota divulgada pela assessoria de imprensa do órgão Nardes se desculpou
pela fala, e disse que ela foi mal interpretada e o áudio, despretensioso. Para
quem leu e quem ouviu as coisas ali estão colocadas de forma bem clara. Há uma
intenção golpista e um desprezo pela democracia, sim. Querer dizer que o áudio
é despretensioso é chamar a sociedade brasileira de idiota.
Após
a divulgação do áudio com falas criminosas, o ministro pediu afastamento do
cargo por motivos de saúde. Autoridades do meio judiciário de meio político
reagiram fortemente às falas de Nardes.
Mas
não é por ter se afastado do cargo que ficará impune. Esse senhor deve
explicações ao Congresso, ao Judiciário e a toda sociedade brasileira, que não
tolera golpismos.
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