Sementes do ódio
Domingo,
06 de novembro
Exatamente
há oito dias, os brasileiros, em clima de grande apreensão, iam às urnas. Era a
eleição mais importante para o Brasil desde o início da redemocratização. E mais
importante porque poderíamos retroceder de vez, e tornar novamente reais os fantasmas
da ditadura. E risco de se estabelecer no Brasil um estado fundamentalista
religioso.
Aliás,
como temos visto, principalmente, neste primeiro e segundo turnos das eleições deste
ano, e mesmo após ela, as sementes para isso já estão plantadas, basta uma
chuva de produtos tóxicos, lançadas por pessoas igualmente tóxicas para que
elas floresçam.
As
eleições deste segundo turno foram tranquilas para a maioria dos brasileiros. Para
outra parte elas não foram tão tranquilas assim. Para muitos eleitores houve
transtornos e estresse, gerados pela Polícia Rodoviária Federal. Ironicamente, órgão
estatal que deveria ter o papel de fazer com que o processo eleitoral se
desenrolasse de forma tranquila.
A
operação feita pela PRF neste segundo turno nas estradas federais,
principalmente nas estradas do Nordeste, foram bem seletivas. O senador Oto
Alencar, do PSD, da Bahia, foi parado numa dessas blitzs, na cidade de Feira de
Santana, Bahia. Ele publicou um vídeo em suas redes sociais relatando que eram
parados apenas os carros com adesivo de Lula. Os apoiadores de Bolsonaro,
passavam livremente.
Também
circularam vídeos nas redes sociais de eleitores relatando, com indignação, os
mesmos fatos. No sábado, 29, um dia antes das eleições, o presidente do
Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, havia emitido uma ordem de
que não fossem feitas operações policiais nas estradas no dia da eleição
relativas ao transporte de eleitores. Portanto, além de ser uma afronta aos
eleitores, os policiais também descumpriram ordem de um tribunal superior.
Um
levantamento feito pela TV Globo mostrava claramente o lado eleitoreiro da operação.
Esse levamento mostra que a maior quantidade dessas operações foi no Nordeste,
região em que Lula venceu Bolsonaro com folga no primeiro turno da eleição.
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272 operações no Nordeste (49,5% do total);
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122 no Centro-Oeste (22,22%);
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59 no Norte (10,7%);
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48 no Sudeste (8,74%), e
-
48 no Sul (8,74%).
Apesar
desses fatos, a eleição decorreu de forma tranquila em todo o Brasil. As eleições
foram finalizadas com sucesso. O resultado foi anunciado. Lula foi o grande
vencedor dela. O resultado foi bastante apertado. A diferença de votos foi
muito pequena. Lula obteve 60.345.999 (50,90%) dos votos, e Jair Bolsonaro,
58.206.354 (49,10%). Uma diferença de 2.139,645 (1,8%) de votos. O resultado
foi comemorado com bastante alegria em praças e avenidas de todo o país.
A
diferença de votos entre Lula e Bolsonaro é pequena, mas se analisarmos o
contexto veremos que vitória de Lula foi gigantesca. O candidato venceu quem
tinha a máquina estatal na mão, e com ela feriu a lei, e derramou milhões na
eleição tentando comprar votos do Congresso e de eleitores. Venceu a guerra das
fake-news que espalhavam as mais absurdas mentiras, venceu os três filhos de
Bolsonaro, que são hábeis espalhadores de notícias falsas e destruidores de
reputações nas redes sociais.
Enfim,
terminada a eleição, ainda tínhamos a tensão de como seria o comportamento de
Bolsonaro. E ele se calou. Fechou-se em si mesmo e no Palácio do Planalto,
maquinando não se sabe lá o que, ou tentando ruminar a derrota.
Enquanto
Bolsonaro se calava, ainda no domingo à noite, começaram os protestos nas rodovias
de todo o país do gado desvairado que ele comanda. Rodovias federais foram
fechadas. E mais uma vez, a PRF, estranhamente, silenciou. Omitiu-se quando era
seu papel agir com rapidez para desobstruir o fluxo nas rodovias. Ao contrário
disso, o que se viu foi a conivência de muitos agentes da PRF com os protestos
e com os manifestantes. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram agentes
batendo continência para os manifestantes.
A
PRF só veio agir efetivamente quando o ministro presidente do TSE, Alexandre de
Moraes emitiu ordens para que a PRF aumentasse o efetivo e agisse, imediatamente,
para normalizar a situação. Hoje, domingo, 06 de novembro, mas já não há mais
rodovias federais bloqueadas.
O
gado desvairado de Bolsonaro ainda não sossegou. Eles estão se mobilizando nas
redes sociais para uma greve geral nesta segunda-feira, provavelmente não terão
êxito, mas vão tentar. Nos vídeos eles dizem que serão fechadas, empresas, escolas,
universidades e indústrias.
Eu
mesmo cheguei a ver um desses folders de convocação que circulam nas redes. O motivo
da greve? Eles protestam contra a instalação do comunismo no Brasil. É coisa para
dar risadas, eu sei, mas para eles, que estão com a alma sequestrada pelas
fake-news, é coisa séria. Assim são os bolsonaristas: criaram uma realidade
paralela e nela estão mergulhados. Perdida e enganadoramente mergulhados nela. Nadando
no pântano podre e fétido da mentira eles protestam contra a instalação do
comunismo no Brasil, pedem a volta da ditadura. São perigosos e violentos como
mostraram os fatos que se sucederam nestas eleições. Citarei apenas alguns
deles, para que os leitores tenham um pouco da dimensão do que esse povo é capaz.
Domingo,
dia 30, em Divinópolis, Minas Gerais, um policial aposentado, 55 anos, tentou
sufocar uma criança de 7 anos. O pai tinha ido com filho ao açougue. La estavam
um grupo de pessoas conversando sobre política. O menino passou perto deles. O policial
passou a mão na cabeça do menino de disse que ele tinha cara de quem vota em
Bolsonaro, ao que o menino respondeu: “Eu sou Lula lá”.
O
policial se enfureceu e agarrou o pescoço do menino, tentando sufocá-lo. O menino
foi ficando sem ar, foi quando o pai que estava no balcão comprando a carne
percebeu a violência contra o filho, foi até lá e pediu para o policial parar. O
homem largou o menino, que caindo ao chão, machucou-se. “Meu filho está com
trauma, não dorme e, quando dorme, acorda gritando, pedindo ajuda, dizendo que
está sem ar”, disse a mãe da criança.
Na
quinta-feira, 03, em uma rodovia em Jundiaí, interior de São Paulo, um ônibus cheio
de estudantes trafegava cheio de estudantes. Manifestantes bolsonaristas que
faziam protestos apedrejaram o ônibus e depois o invadiram.
Os
estudantes passavam pelo ato golpista quando resolveram colocar adereços
vermelhos nas janelas, alusivos ao candidato eleito. Os selvagens passaram
então a jogar pedras no ônibus, estilhaçando janelas e ferindo um aluno de 18
anos. Em seguida, eles começaram a bater na lataria do veículo e na porta do
ônibus, pedido que o motorista abrisse a porta.
Aterrorizado,
o motorista acabou abrindo a porta, e eles entraram. Dentro do ônibus,
seguiram-se momentos de terror para os estudantes. Os golpistas começaram a
xingar e ameaçar os alunos. Pegaram no braço de um deles e ameaçaram tirá-lo do
ônibus para que sofresse uma sessão de espancamento. Uma mulher, que estava
dentro do ônibus, e que também era apoiadora do presidente, pediu que eles
parassem, e que o que tinha acontecido até ali, já era suficiente.
Os
golpistas só pararam realmente quando perceberam que o estudante que havia sido
ferido pelos estilhaços da janela sangrava muito. Detalhe grave: Um grupo de
policiais estava próximo ao local onde os golpistas invadiram o ônibus, mas não
fizeram nada para impedir o ato de agres idade dos bolsonaristas.
No
domingo, 30, na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, depois das eleições,
uma família comemorava a vitória do Lula. Passou um apoiador de Bolsonaro, viu
a comemoração, e de forma insana começou a atirar. Pedro Henrique Dias, 28
anos, foi baleado chegou a ser levado a um hospital, mas não resistiu aos
ferimentos. Os tiros atingiram ainda outras três vítimas que foram levadas ao
hospital.
Uma
das vítimas que tinha ficado internada no hospital era Luana Rafaela Oliveira
Barcelos, 12 anos. Luana morreu na quinta-feira, 03. Luana e Rodrigo, vítimas
da barbárie.
As
escolas também protagonizaram cenas de violência praticadas pelos próprios
estudantes.
Na
sexta-feira, 4, oito alunos foram expulsos de um colégio de elite, em Valinhos,
São Paulo. A explosão veio depois da denúncia de um aluno negro de 15 anos. Ele
conta que o grupo de estudantes publicou mensagens machistas, homofóbicas,
gordofóbicas, e xenofóbicas, além de exaltar figuras como Hitler e Mussolini. O
aluno que fez a denúncia, ao não concordar com as mensagens publicadas pelos
colegas, também foi alvo de ataques racistas. O caso está sendo investigado pela
Polícia Civil.
Alunos
de colégio de elite em Curitiba, Paraná, e que apoiam o Jair Bolsonaro, também
protagonizaram cenas de barbárie, espelhando o que veem e ouvem dentro de casa.
Eles agrediram alunos que votaram em Lula, e ainda fizeram ameaças de morte ao
candidato. Em conversas de WhatsApp, um deles diz: “Quem vai ser o herói que
vai matar o Lula?” “A 12 do meu pai chegou sexta-feira, kkkk”, diz
outro.
Na
quinta-feira, 3, o Ministério Público Federal, em Brasília, fez um pedido à Polícia
Federal que abra um inquérito para investigar a conduta do ex-campeão do Fórmula
1, Nelson Piquet, por ele ter sugerido a morte de Lula. Piquet participou de
atos golpistas contestadores do resultado das eleições. Nos vídeos que circulam
nas redes sociais, ao dizer a frase lema de Jair Bolsonaro “Brasil acima de tudo,
Deus acima de todos”, o ex-campeão completa com outra: “Lula no cemitério”.
Trouxe
apenas estes casos de barbárie para ilustrar o texto, mas outros semelhantes
aconteceram por todo o país. Como veem os caros leitores, Lula, certamente,
precisará de muita proteção das leis humanas e da lei divina.
O
Brasil não deu um segundo governo para Bolsonaro, mas as sementes do mal que
ele plantou durante esses quatro anos estão bem vivas. Para o país não basta se
livrar de Bolsonaro, é preciso e necessário impedir que essas sementes cresçam.
E por que elas crescem? Muito se tem que estudar para se chegar a essa
conclusão, mas uma vez se faz urgente: combater as fake news. Os devotos de
Bolsonaro, estudados ou não, apenas tem uma fonte de informação: O WhatsApp e a
Jovem Pan. A JP era um ninho bolsonaristas. E no WhatsApp correm as histórias
mais inverossímeis, as quais os bolsonaristas tomam por verdade.
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