O adeus a Gal Costa e Rolando Boldrin
Quarta-feira,
09 de novembro
Tem pessoas que tem o dom de nos surpreender. Nos surpreendem em vida com seus dons, talento, generosidade, e nos surpreendem também quando vão se embora para sempre, pois pegam a todos de surpresa.
Foi
o caso de Gal Costa. Esta manhã, ela partiu como se tivesse pegado carona na
cauda de um cometa brilhante que a levou para as esplendidas moradas eternas,
seu lar na eternidade.
Hoje
de manhã, ouvia uma estação de rádio local quando o apresentador anunciou a
morte de Gal Costa. Parei por um momento. Gal Costa morreu? Não é possível,
pensei. Nenhum veículo de imprensa havia noticiado que ela estivesse com alguma
complicação de saúde. Liguei imediatamente a TV para ver se ela também
anunciava a triste notícia. Alguns minutos depois, entrou uma chamada do telejornal
confirmando o fato.
Mais
tarde, passeando pela página do Facebook de um amigo, vi uma postagem dele,
dizendo, de forma surpresa que Gal havia morrido. Alguém nos comentários postou
carinhas dando risadas, achando que se tratava de piada. Não, não era piada. Era
a mais pura realidade.
Só
restou a todos nós lamentar. Mais uma estrela de primeira grandeza foi tirada
de nosso céu da música brasileira. Nós nos alegrávamos com o brilho dela, e com
a alegria que nos trazia através da música. Temos que compreender e aceitar que
a estrela não era nossa, foi nos dada pelo criador por empréstimo, e chegou a
hora de chama-la de volta.
Gal
representa o que de melhor a fábrica de nossa rica Música Popular Brasileira
produziu. Uma das mais talentosas divas de nossa música, ela morreu na manhã
desta quarta-feira, aos 77 anos, em São Paulo, a causa da morte, pelo menos até
o momento em que escrevo este texto, é desconhecida.
Segundo
comunicado de sua assessoria de imprensa, ela estava em recuperação após ser
submetida a um procedimento cirúrgico para a retirada de um nódulo na fossa
nasal direita. A cirurgia foi realizada há três semanas.
A
cantora era uma das atrações do Primavera
Sound, festival de música que aconteceu final de semana passado, em São
Paulo, mas havia cancelado sua participação. Além disso, estava em turnê com o
show As Várias Pontas de uma Estrela. Neste
espetáculo, ela cantava grandes sucesso da década de 80. A agenda de shows dela
estava suspensa até final de novembro.
Gal
Costa deixa um filho que adotou há 15 anos. O sonho da cantora era engravidar,
mas esse sonho não se tornou possível porque ela tinha as trompas obstruídas. Por
esse motivo, decidiu adotar uma criança. Foi quando, visitando um abrigo para
crianças no Rio de Janeiro, foi cativada pelo sorriso de Gabriel, com apenas dois
anos de idade na época, e resolveu adotá-lo. A cantora amava o filho e dizia
que ele havia transformado a vida dela.
Gal
Costa faz parte de uma geração de ouro da MPB da qual também fazem parte grande
nomes como Caetano Veloso e Maria Bethânia, Gilberto Gil, Chico Buarque,
Toquinho, Milton Nascimento, Roberto Carlos dentre outros.
Chorando,
em vídeo, Bethânia, grande amiga da cantora assim se expressou ao G1: “Em choque, triste demais, difícil demais.
Nunca pensei um dia chegar a vocês para falar sobre a dor de perder Gal. O
Brasil que ela sempre encantou com sua voz única, magistral hoje inteiro chora,
como eu. Uma amiga que mesmo longe sempre lhe mantive admiração e respeito.
Deus a receba na sua mais pura luz. Muito duro”.
Não
apenas Bethânia chorou, mas choraram também Chico, Caetano, Gil, Toquinho,
Milton. Na verdade, o Brasil inteiro chora a morte dessa grande, imensa,
esplendorosa artista que a todo encantou com sua doce voz.
No
domingo, 6, Chico Buarque havia testado positivo para Covid 19, e cancelou os
shows que tinha neste fim de semana, em Salvador. Após a saber da morte da
amiga, Chico declarou que, mesmo que se recupere e seja liberado pelo médico
para apresentações, ainda assim os shows continuarão cancelados.
“Ainda que se recuperasse a tempo de realizar
os shows, o impacto da notícia da morte de Gal Costa, esta manhã, deixou o
cantor e compositor sem condições emocionais de seguir com a agenda”, informou
a assessoria de imprensa do cantor através do Instagram.
Aos
26 de setembro de 1945, nascia na cidade de Salvador, Bahia, Maria das Graças
Penna Burgos, filha de Mariah Costa Penna e Arnaldo Burgos. Aquela menina
conquistaria o Brasil e o mundo e se tornaria conhecida, simplesmente, como Gal
Costa.
Arnaldo,
pai de Maria das Graça, morreu quando ela tinha 14 anos. Nunca foi um pai
dedicado à filha, não era um pai presente. Se o pai era desse jeito, a mãe era
totalmente o inverso, era um universo de amor na vida da filha.
Ela
estimulou o dom de Gal para a música mesmo antes da menina nascer. Ainda gestante,
ela costumava ouvir música clássica, e se concentrava nessa tarefa como se
quisesse compartilhar aquele universo de sons com a filha.
Na
mocidade, Maria das Graças trabalhou como atendente em lojas de disco de
Salvador. A estreia de Gal Costa como cantora aconteceu na inauguração do
Teatro Vila Velha, em Salvador, no dia 22 de agosto de 1964. Na ocasião ela
participou do show Nós, Por Exemplo...
juntamente com Caetano Veloso, Gilberto Gil, Maria Bethânia, Tom Zé, e outros.
Em
1965, a cantora se mudou para o Rio de Janeiro. Ainda em 1965 grava seu
primeiro disco, ainda assinando como Maria das Graças. Daí por diante, a
carreira daquela menina que fora predestina e escolhida pela música ainda no
ventre materno, ou quem sabe, antes mesmo de ser gerada, foi, de sucesso em
sucesso, como uma estrela em ascensão.
Não
apenas Gal Costa foi iluminar os céus da pátria celeste com sua voz. Nesta quarta-feira,
o céu também chamou o ator, cantor e compositor, Rolando Boldrin. Ele também
morreu em São Paulo, aos 86 anos. Boldrin estava internado no Hospital Albert
Einstein havia dois meses. A causa da morte não foi informada.
Por
17 anos ele apresentou na TV Cultura, o programa Senhor Brasil, que a cada
programa trazia para o palco o melhor da música regional brasileira. Era um
programa cheio de brasilidade em todos os sentidos nos convidados que trazia,
no cenário, nas obras dos artesãos que decoravam o ambiente, nas poesias recitava,
e nos ‘causos’ que contava.
Boldrin
também atuou em novelas de grande sucesso, dentre as quais; O Direito de Nascer, As Pupilas do Senhor Reitor, Mulheres de Areia, A Viagem, e Roda de Fogo.
Na
TV Globo, ele apresentou o programa Som
Brasil, na Bandeirantes, Empório
Brasileiro, e no SBT, apresentou Empório
Brasil. Todos com caraterísticas semelhantes.
Filho
de uma família de 12 irmãos, Rolando Boldrin nasceu em São Joaquim da Barra,
São Paulo, no ano de 1936. Aprendeu a toca viola muito cedo, e aos 12 anos, já
se aventurava a formar, junto com um irmão, a dupla Boy e Formiga, que obteve
relativo sucesso ao se apresentar na rádio da cidade.
Aos
16 anos mudou-se para a cidade de São Paulo. Antes de fazer na carreira na
música na capital paulista trabalhou como sapateiro, frentista de posto de
gasolina, carregador, garçom, e ajudante de farmácia.
Com sua inteligência e talento, Boldrin ajudou a divulgar a música sertaneja sempre com paixão e muito bom gosto.
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