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A era das boas e más influências

Posted by Cottidianos on 12:30

Domingo, 07 de agosto


Um inusitado pedido de socorro

                                              Menino Miguel abraçado a um policial

Era noite de terça-feira, em Santa Luzia, região metropolitana de Belo Horizonte. Os policias da delegacia de polícia da cidade estavam muito atarefados com as ocorrências que chegavam: roubos, confusões, maus tratos, violência doméstica. Nada diferente de outras noites.

No meio de toda aquela confusão, chega mais um telefonema, um pedido de socorro. A voz era a de um menino. Ele pedia socorro. A atendente pergunta qual é o problema. O menino responde: “Eu, minha mãe, e meus irmãos estamos passando fome”. O menino fornece o endereço, e lá se vai a viatura da polícia até lá, pensando se tratar de mais um caso de maus tratos contra crianças e adolescentes.

Chegando lá, os policiais verificam a situação e veem que não havia nenhum caso de violência, nem de maus tratos. Encontram, sim, uma família que passava fome. Ficam comovidos.

A residência é de Célia Arquimino de Barros, de 46 anos. Ela mora com seus seis filhos no bairro São Cosme. Célia está desempregada e sobrevive fazendo alguns bicos. Vive do auxílio emergencial. O auxílio emergencial é uma ajuda do governo, e para muitas vem em boa hora. Porém, com a carestia grassando no Brasil todo, uma pessoa sozinha já não consegue se alimentar direito com o dinheiro pago pelo governo, imagina então uma mãe com seis filhos para sustentar. O pai dos meninos envia para ela R$ 250,00 reais por mês. Mas não é todo mês que ele envia.

Célia conta aos policiais que estavam há três semanas sem comprar mantimentos. O pouco que tinha na geladeira foi diminuindo, diminuindo, até que sobraram apenas farinha e fubá. Fazia três dias que farinha, fubá, e água era o que ela tinha para dar de comer e beber aos seis filhos.

Certo dia, ela ficou desesperada. E não tendo mais o que fazer, sentou e chorou. Miguel Felipe Barros, 11 anos, vendo a mãe chorar, ficou com o coração partido. Uma luz se acendeu em sua cabeça. Ele sabia a quem pedir socorro. Pediu o telefone da mãe, procurou na casa um lugar mais tranquilo e ligou para a polícia. E foi assim que os policias chegaram até a casa dele.

Depois de ouvir toda a história, os policiais, comovidos, foram até um supermercado, e fizeram compras para a família, também receberam algumas doações.

Ao ver os policiais chegarem com as compras, Miguel não cabia em si de felicidade. Correu logo a organizar tudo. Por uns dias, teriam o que comer.

Esse pedido de socorro de Miguel, infelizmente, não é só dele. É de milhões de família brasileiras que vivem na mesma situação. A inflação voltou ao nosso país, e voltou com força.

E é nesse clima de problemas na economia, aliado às instabilidades e atritos criados pelo presidente Jair Bolsonaro que vamos caminhando para as eleições em outubro desse ano. Verdade que, com o aval da situação e da oposição, o governo lançou um pacote de benesses — furando o teto de gastos e atropelando a Lei de Responsabilidade Fiscal e a Lei Eleitoral — que pode fazer com que situação amenize um pouco até depois das eleições. Até depois das eleições, ressalta-se. E depois delas, como ficaremos?

Playboy inconsequente

                                             Bruno Krupp

Se de um lado temos um adolescente pobre, da periferia de Belo Horizonte, ligando para a polícia para dizer que ele e a família estavam passando fome, de outro temos um jovem carioca, rico, modelo, influencer digital, irresponsável, que nunca soube o que é ficar sem comida em casa, tirando a vida de outro jovem, na Barra da Tijuca, em um acidente de trânsito. O caso tem sido destaque na mídia desde que ocorreu.

                                                      João Gabriel e a mãe, Mariana

Era noite de sábado, 30 de julho, e o adolescente João Gabriel Cardim Guimarães, 16 anos, e a mãe dele, Mariana Cardim de Lima, estavam numa festa de aniversário na Barra da Tijuca, zona Oeste do Rio. A festa chegou ao final, e os dois, antes de irem para casa, aproveitando que a noite estava quente e agradável, resolveram ir até à beira da praia.

Atravessavam a avenida Lúcio Costa, e estavam a apenas alguns passos do calçadão, quando, do nada, surge o farol de uma moto em altíssima velocidade. A mãe fica paralisada. João Gabriel corre tentando alcançar o calção distante dele pouquíssimos passos, quando é atingido em cheio pela moto. O impacto foi tão violento que a perna do jovem foi arrancada e arremessada 50 metros adiante, no gramado entre o calçadão e a areia da praia.

A mãe corre para junto do filho. Dor dilacerante se espalha pelo corpo do adolescente. Dor igualmente dilacerante atinge o coração da mãe. Porém, nem mesmo a dor os impede de declararem um ao outro, amor mútuo. “Eu te amo”, diz a mãe. “Eu também te amo”, responde o filho. E ali, na beira do mar da Barra da Tijuca, em uma noite quente e agradável, ocorre a despedida final entre Mariana e João Gabriel, seu único filho.

Pouco depois chegam as equipes de resgate, e o levam para o hospital, mas os ferimentos foram tão intensos que o jovem não resistiu, e morreu pouco após dar entrada no hospital.

E o irresponsável, e porque não dizer, assassino que pilotava a moto?

Esse, obviamente, teve alguns ferimentos, e foi levado ao hospital, de onde saiu com vida. Mas, certamente, a vida dele nunca mais será a mesma. Agora está preso no presídio de Benfica.

Quem é Bruno Krupp?

Bruno, 25 anos, é modelo e influenciador digital. Nas redes sociais ele tem mais de 140 mil seguidores. Antes do acidente, levava vida de playboy, praia, mulheres, esportes, e compartilhava nas redes seus trabalhos como modelo.

Na noite do acidente, transitava em uma velocidade, segundo testemunhas, que ultrapassava os 150km/h, em uma via onde a velocidade permitida é de 60km/h. Segundo funcionários que trabalham em quiosques na orla da praia era comum vê-lo nessa velocidade transitando pela orla.

Três dias antes de atropela e matar João Gabriel, Bruno havia sido parado em uma blitz da Lei Seca. Ele se recusou a soprar o bafômetro. Foi multado pelos agentes por dirigir a moto sem carteira de habilitação e sem placa.

Depois, em suas redes sociais, ainda ironizou o fato: ““Na moral, mano. Eu amo Lei Seca. Eu amo. Amo. Já é?! Vamos ver qual vai ser o desenrolado da melhor forma, demorou?! Tamu junto... Os dois lados da pista. Vem, amor, vem brincar, vem brincar. Vambora!

Bruno já responde processo por estupro e estelionato. A vítima, que prestou queixa na Delegacia de Atendimento à Mulher de Jacarepaguá. Ela relatou à polícia que os fatos ocorreram no apartamento do modelo. Ele nega os fatos.

Em 2021 foi registrada uma queixa de estelionato contra ele na 15a Delegacia de Polícia da Gávea. O gerente de um hotel na Zona Sul o acusa de ter vendido diárias no hotel a preços bem menores do que no site oficial. À pessoas que compraram a diária oferecida por Bruno ele pedia que o pagamento fosse feito no nome de outra pessoa. O gerente estima que o prejuízo causado foi de R$ 428,00 mil.

As investigações sobre o acidente de moto continuam. Na noite deste sábado, 6, o modelo e influenciador digital recebeu alta da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e foi transferido do hospital Marcos Moraes, no Méier, zona Norte, para o presídio de Benfica, zona Central do Rio.

Ali, atrás das grades, na solidão da prisão, Bruno Krupp, terá muito tempo, para refletir sobre as suas irresponsabilidades e consequências. Que ele pague pelos seus crimes é o que espera a sociedade carioca, e a sociedade brasileira.

Fora das celas de uma prisão, ficará uma família que sofre. Uma mãe que chora a morte do filho, e que o carregará para sempre apenas na lembrança dos dias felizes vividos ao lado dele.

Vivemos na era das imagens. A sociedade está em processo constante de transformação. A Internet chegou para ficar mudando hábitos, costumes. Se as redes têm poder de influenciar, o influenciador digital torna-se profissão. E se o influenciador exerce poder sobre a opinião de outras pessoas, é importante a gente se perguntar como ficamos nós no meio de tudo isso.

É interessante fazer-se certas reflexões. Quem você segue? Quem seus filhos seguem. Existe pessoas que nos edificam e pessoas que nos empurram para baixo. Quem são os seguidores do Bruno, um jovem inconsequente, acusado de estupro e estelionato. Você seguiria uma pessoa assim? Você seguiria ou segue influenciadores, irresponsáveis, racistas, homofóbicos, que defendem o nazismo e tantas outras porcarias semelhantes?

A nós é dada a liberdade de escolher entre o bem o mal. Escolhamos, pois, sempre o bem. Da fria Antártida ao calor do nordeste brasileiro haverá sempre uma lei que nos rege. Rico, pobre, negro, índio, branco ninguém escapa dela. Essa lei é a lei do retorno. Toda ação nossa, por menor que seja, provocará sempre uma reação que se reverterá para nós mesmos. Tanto bem fizeres, tanto bem receberás. Igualmente o mal que fizeres retornará para ti em dobro.

Em se tratando de redes socais, em tempos de campos recheados de trigo (boa informação) e joio (má informação) sempre é possível colher o trigo e fazer o pão que alimenta. E com o joio o que fazer? Jogue no fogo para que queime. Não jogue de volta ao trigal, dando a ele, joio dessa forma, condição de voltar a crescer e empestear os campos.

O adeus a um gênio chamado Jô Soares

                                                               Jô Soraes

Não poderia deixar de terminar essa postagem sem falar de um ser humano iluminado que, com certeza, não teve o menor problema na vida em fazer as melhores escolhas; as melhores amizades, os melhores livros, as melhores músicas, os melhores filmes, os melhores pensamentos. Como resultado, teve uma vida plena, esplendorosa.

Falo de José Eugênio Soares, nosso querido e amado Jô Soares.

Esse ícone do humor, da TV e do teatro nos deixou na sexta-feira, 5, aos 84 anos. Seu ponto de partida para a eternidade foi o Hospital Sírio-Libanês, na região Central de São Paulo. Jô estava internado no Sírio desde o dia 28 de julho.

Dentre os programas de humor nos quais Jô Soares atuou sempre com muito sucesso durante toda a sua carreira estão: A Família Trapo, Faça Humor não Faça Guerra, Satiricom, O Planeta dos Homens, A Praça da Alegria, Viva o Gordo, e Chico Anysio Show. Conquistava a todos com seu inegável talento. Sabia misturar como ninguém graça e leveza para fazer pesadas críticas sociais e políticas.

O brilho de Jô Soares também se fez notar no jornalismo. Fazer um programa de entrevistas não é coisa fácil. Arrancar do entrevistado confissões, segredos, revelações não é coisa para qualquer um, e ele conseguia isso e muito mais de uma forma esplendida. Do entrevistado mais sisudo ao mais risonho a entrevista era sempre interessante com o Jô. Quando estavam diante dele os entrevistados deixavam de lado as armas. Nessa modalidade apresentou os programas Jô Soares Onze e Meia (SBT), e Programa do Jô (TV Globo). Pelo programa dele passaram políticos e artistas famosos, e gente dos mais variados setores.

Dizer que Jó era apenas humorista e apresentador de programa de entrevistas é redundância pois ele era um artista multifacetado. Tudo o que fizesse fazia bem. Era escritor, diretor, artista plástico, ator, músico, jornalista.

Jô Soares se vai, e deixa uma grande lacuna nas artes brasileiras. E muitas saudades naqueles que viram seus programas de humor e riram com seus personagens, e nos que refletiram sobre a vida vendo seus programas de entrevistas, que leram seus livros, que leram seus artigos.

Descanse em paz, gênio, Eugênio, Jô Soares. 


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