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O primeiro duelo presidencial

Posted by Cottidianos on 08:49

 Terça-feira, 30 de agosto

E Santo Cristo não sabia o que fazer

Quando viu o repórter da televisão

Que a notícia do duelo na TV

Dizendo a hora o local e a razão”.

(Faroeste Caboclo - Legião Urbana)


Se observamos o velho oeste americano da perspectiva do cinema e seus épicos filmes de faroeste teremos a visão de uma terra árida, de homens brutos, xerifes, bandidos roubando gado e caravanas. A lei era a lei das armas e a maneira mais fácil de resolver conflitos difíceis era o duelo. Todo filme de faroeste que se preze tem que ter um bom duelo no final.

Aqui no Brasil atual podemos também dizer que vivemos um faroeste. O clima selvagem aflorou de uns tempos para cá. Antes ainda se podia discutir política em qualquer ambiente e no meio de qualquer círculo de pessoas.

Hoje é meio complicado fazer isso. Por exemplo, se você discorda de um candidato de extrema direita, pode apanhar, sofrer violência física. Antes, era possível gostar de um artista e votar nesse ou naquele partido. Não havia problema nenhum nisso. Hoje, não. Se um artista apoia esse ou aquele candidato e assume isso publicamente é um perigo, pois as metralhadoras do ódio se voltam contra ele. Aquelas pessoas que, momentos atrás o aclamavam, passam a jogar pedras nele. É algo meio doentio.

As armas usadas são as armas da desinformação, das fake news. Até mesmo os homens que se dizem de Deus, concordam em usá-la para derrotar um adversário. Para mim é incompreensível que alguém a pregar os versos bíblicos “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará”, não tenha escrúpulos em fazer justamente o contrário do que diz a sabedoria escondida nas palavras do mestre Jesus.

Entretanto, é isso que temos visto: evangélicos usando desta artilharia suja e pesada para defender seus pontos de vista e seus protegidos no poder. Quando digo, “evangélicos” não quero generalizar pois há muitos que não comungam desse tipo de comportamento.

No velho oeste americano havia a corrida do ouro. Nos faroestes do novo Brasil que sente falta do velho Brasil temos uma corrida eleitoral. Que, de fato e de direito, começou recentemente, mas na realidade começou faz tempo, pois, Bolsonaro, como sabemos, desde que sentou na cadeira presidencial só pensa em reeleição. Esse é objetivo e o projeto principal de seu governo. Lula, por sua vez, depois que saiu da cadeia, não admitiu primeiramente que seria candidato, mas esteve ali sempre estendendo seus tentáculos.

Houve muito burburinho, muito disse me disse em torno de uma terceira via, uma ampla coalisão para derrotar Lula e Bolsonaro. Ao longo do caminho dessa terceira via, tal qual flores muito nomes foram desabrochando e murchando, nascendo e morrendo logo em seguida.

E isso me lembra a parábola do semeador citada no evangelho de Mateus (13; 1 -9) que fala de um semeador que saiu a semear. Enquanto semeava algumas sementes caíram ao longo do caminho, e vieram os pássaros do céu e as comeram. Outras, caíram em terreno pedregoso, onde não havia pouca terra. Nasceram, porém, o sol escaldante as fez morrer. Outras ainda, caíram entre espinheiros, e nasceram, mas os espinhos as sufocaram.  Algumas sementes tiveram mais sorte e caíram em terra boa, e cresceram e frutificaram.

Luciano Huck, Eduardo leite, João Dória, Sérgio Moro, Rodrigo Pacheco, Luiz Henrique Mandetta, foram alguns dos nomes que surgiram no meio desse burburinho da terceira via. Mas não prosperaram, ou porque caíram ao longo do caminho, ou entre pedregulhos, ou entre espinheiros.

No fim, quem vigorou mesmo foram duas sementes que, de novas, não tem nada. Já são bem conhecidas dos brasileiros; Jair Messias Bolsonaro e Luís Inácio Lula da Silva. E depois deles, Ciro Gomes, e Simone Tebet. Mas do jeito que as coisas estão polarizadas, é bem pouco provável que os dois últimos sejam alguma ameaça para Lula ou Bolsonaro.

Enfim, nesse faroeste eleitoral também não poderia faltar o grande duelo: o duelo dos debates, e o primeiro deles aconteceu nesse domingo, 29, em evento organizado por um pool de veículos de comunicação formado por Folha, Uol, e pelas emissoras de TV Bandeirantes e Cultura. Além de Lula e Bolsonaro também estiveram apresentando suas ideias e propostas os candidatos; Ciro Gomes, (PDT), Luiz Felipe D’Ávila (Novo), e as candidatas Simone Tebet, (MDB), e Soraya Thronicke (União Brasil).

Havia muita indefinição quanto as presenças de Lula e Jair Bolsonaro. Eles mantiveram suspense em relação à suas participações até 48 horas antes do debate. Creio que para os organizadores apenas relaxaram quando estavam todos presentes em suas bancadas.

Enfim, às 9hs horas da noite, o estúdio da TV Bandeirantes se iluminou e começou a transmissão do tão aguardo primeiro debate dos candidatos nas eleições presidenciais desse ano. O debate, de modo geral, foi muito bom. Os candidatos e candidatas, durante todo o debate, respeitaram o tempo que lhes era destinada a fala.

Durante a realização do debate o instituto Datafolha fez, em tempo real, uma pesquisa qualitativa com 60 pessoas. A pesquisa tinha como objetivo avaliar a percepção dos eleitores indecisos sobre o voto em algum dos candidatos, ou se preferem votar em branco ou nulo nas eleições de outubro.

Divididos em três salas virtuais os participantes responderam questões através de um aplicativo. Essas questões visavam analisar os candidatos na escala de péssimo, ruim, regular, bom e ótimo.

Segundo essa pesquisa do Datafolha, quem se saiu melhor no debate foi a candidata Simone Tebet, com 45%, seguida de Ciro Gomes com 23%. Empatados na terceira posição ficaram Lula e Jair Bolsonaro com 10%. Felipe D’Ávila, ficou com 8%, e Soraya Thronicke com 2%.

Na pesquisa qualitativa que perguntava qual candidato se saiu pior no debate votaram 57 pessoas. Para esse grupo, quem se saiu pior nas pesquisas foi o presidente, Jair Bolsonaro com 51% dos votos. Lula ficou com 21%. Soraya Thronicke, 14%, Felipe d’Ávila, 7%, Simone Tebet, 5%, e Ciro Gomes 2%.

Lula, que havia ido muito bem na entrevista ao Jornal Nacional, na semana passada, não foi tão bem desta vez. Pelo menos, foi esta a análise que fez a cúpula do Partido dos Trabalhadores. O candidato ficou em posição de neutralidade em relação ao seu principal adversário, Jair Bolsonaro, mesmo quando questionado por esse em assuntos espinhosos como a corrupção. Talvez, tenha sido uma estratégia, afinal, Lula lidera as pesquisas de intenção de voto, e não quis provocar embates calorosos. Um Lula pacificador em meio a radicalização pode ter sido a estratégia. E se foi estratégia, com certeza, não foi das melhores.

Bolsonaro, esse, como já disse tantas vezes aqui nesse blog, não é da natureza dele ser pacífico. Os seus marqueteiros, e as pessoas do seu entorno, bem que tentam, mas como fazer água se transformar vinho? Somente Jesus Cristo conseguiu tal façanha, diz o livro santo dos cristãos.

É sabido que o presidente é rude com mulheres e não aceita ser questionado por elas. O presidente, realmente, perde o controle diante de situações como essa. E Bolsonaro é rude com mulheres em diversos momentos, principalmente, se essas mulheres são jornalistas e o questionam.

Ontem, em pleno debate, aconteceu de novo. Vera Magalhães, apresentadora do Roda Vida, na TV Cultura, colunista do jornal O Globo, e comentarista da rádio CBN, questionou o presidente sobre as vacinas.

Era o segundo bloco do debate, e Vera fez uma pergunta para Ciro Gomes, para ser comentada por Jair Bolsonaro.

Vera Magalhães: A cobertura vacinal está despencando nos últimos anos. A cobertura para a vacina tríplice viral que protege contra o sarampo e outras doenças, foi de 71% em 2021, e ainda não chegou a 50% nesse ano. A da poliomielite que já chegou a ser de 96% em 2012, caiu a índices um pouco superiores a 67%. Queria saber do Sr. Em que medida o Sr. acha que a desinformação sobre vacinas difundida, inclusive pelo presidente da República pode ter contribuído, além de agravar a pandemia de covid-19, e causar mortes que poderiam ter sido evitadas também para desacreditar a população quanto a eficácia das vacinas em geral, e qual é a sua proposta para recuperar o Plano Nacional de Imunização, que já foi um orgulho nacional e uma referência para o mundo?

Ciro então responde dizendo que tudo no Brasil está fora de lugar, e diz que fica chocado ao ouvir o presidente Bolsonaro dizer que a economia está “bombando”. Ele fala da questão do desemprego, e de questões econômicas. Fala da saúde mental do brasileiro que está se deteriorando, em parte por causa desse clima de polarização e mentiras. Então Ciro fala que a questão da vacina é uma questão trivial. Fala então de sua experiência como governador do Ceará, e também como prefeito de Fortaleza, e que cumpriu tão bem as metas de vacinação que chegou a ganhar prêmios internacionais.

Então é a vez de Bolsonaro. Ele então desconsidera totalmente a pergunta da jornalista sobre vacinas e parte para o ataque.

Bolsonaro: Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo, mas tudo bem.

Vera Magalhães, apenas para citar, é uma das jornalistas mais respeitadas do país por pessoas de várias correntes políticas e pelos seus colegas de jornalismo. Se Bolsonaro está tentando conquistar o voto das mulheres, então a ofensa a Vera foi um tiro no pé.

Outro momento controverso de Bolsonaro foi no fim do debate, durante as considerações finais, quando ele fez acusações contra líderes latino-americanos de esquerda.

Lula apoiou o presidente do Chile também, o mesmo que praticava atos de tacar fogo em metrôs lá no Chile. Para onde está indo nosso Chile?”, disse Bolsonaro a respeito de Gabriel Boric, presidente do Chile. Boric, evidentemente, não gostou nenhum pouco dessas declarações, e mandou chamar o embaixador brasileiro no Chile, Paulo Roberto Soares Pacheco, para que preste esclarecimentos.

Simone Tebet foi uma das mais equilibradas e com respostas sensatas durante o debate. Tebet integrou a CPI da Covid, e estava, portanto, muito segura quando falou desse assunto. Ela também foi muito bem articulada quando falou do tema educação área na qual ela domina, pois já lecionou no curso de Direito de uma faculdade.

Ciro Gomes também foi muito bem articulado, em suas colocações e críticas, tanto ao presidente Jair Bolsonaro quando ao ex-presidente Lula. Sempre defendendo a não polarização. O desempenho do candidato Ciro Gomes está bem aquém daquele registrado na campanha de 2018, quando também foi candidato. Acho que ele esperava mais nessas eleições.

Ciro Gomes pode estar colhendo o que plantou nas eleições daquele ano quando, durante a campanha do segundo turno, ele, em vez de decretar apoio a Fernando Haddad, candidato de Lula em 2018, e fazer aliança com o PT, ele viajou à Paris.


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