Um incomodo corajoso
Sexta-feira, 19 de agosto
Nesse mundo tem gente chata. Vem com uns
assuntos sobre os quais você não quer conversar, não quer ouvir falar, e o cara
insistindo.
E também tem gente corajosa. Dessas que
entram em ninho de cobra, mesmo sabendo que pode ser picada por elas.
Assim é Wilker Leão: chato e corajoso.
Quem é ele? Pois é, nem eu mesmo sabia quem era. Ouvir falar dele apenas hoje.
Vamos seguindo a narrativo e você e eu saberemos que é esse rapaz.
O personagem em questão é youtuber. Nesses
tempos de polarização, a especialidade dele é provocar, tanto os partidários do
presidente Jair Bolsonaro, quanto os partidários do ex-presidente Lula.
Ele ama misturar-se com os apoiadores do
presidente no cercadinho, em frente ao Palácio da Alvorada, fazendo vídeos provocando-os.
Ele faz a mesma coisa em eventos do PT.
Na manhã desta quinta-feira (18), Wilker
estava, mais uma vez, em frente ao Palácio da Alvorada, fazendo esse arriscado
trabalho. Bolsonaro parou para tirar fotos e conversar com um grupo de
apoiadores.
Fotos. Filmagens. Abraços. E lá vem Wilker
com o celular dele, filmando. E já vem com uma pergunta provocadora: “Porque
que o senhor limitou a delação premiada? ”. Obviamente, os apoiadores não
poderiam admitir que alguém questione o presidente, de modo algum. Para eles,
Bolsonaro é intocável. Um deles, então, não é identificado nas imagens,
imediatamente, empurra o youtuber no chão.
“Olha o nível do amor”, diz ele
ironicamente. O jovem levanta-se, imediatamente, e continua provocando ainda
mais o presidente.
“Presidente, o que o senhor acha dessa
violência comigo? Acabaram de me derrubar, Bolsonaro”.
Os seguranças do presidente se aproximam,
o afastam do grupo, e pedem para ele se retirar. O jovem se recusa dizendo
estar num local público e que não vai se retirar. Ele volta e continua
questionando o presidente.
Provocador, Wilker diz, dirigindo-se ao
presidente: “Quero ver se o senhor é corajoso pra sair e conversar comigo, tchutchuca
do Centrão”. Ele critica Bolsonaro por fazer tudo o que a esquerda faz. “Me
responde, para de ser covarde, seu covarde. Tchutchuca do Centrão. Tô aqui todo
dia pra te combater safado. Você é vagabundo. Tô falando aqui na frente do gado
do cercadinho inteiro. Quem foi que me derrubou. E aí, quem me derrubou? Fala
agora”.
Bolsonaro, meio que sem saber o que fazer
pega na gola da camisa do rapaz e tenta tomar o celular dele. Nessa hora, o
youtuber se desespera, e recusa a entregar o celular. Os seguranças do presidente
logo intervêm e afastam o jovem do grupo. A todo momento ele grita: “Vocês
estão malucos”.
Há alguém no grupo filmando a cena e que,
provavelmente, também não seja apoiador de Bolsonaro. Os seguranças vão em
direção a essa pessoa, e querem impedi-la de filmar. O homem diz: “Eu posso
filmar. Sou da imprensa”. E continua filmando sem ser mais incomodado.
Passam-se alguns minutos e dois cenários
se desenvolvem. Em um ficam os seguranças do presidente conversando com o
youtuber, afastados do grupo. No outro, o presidente conversando com os
apoiadores.
Longos minutos se passam. Muitas selfies.
Muitas conversas. Muito puxa saco. O jovem então se aproxima novamente do
presidente. Dessa vez, o presidente conversa com ele. Diante dos
questionamentos do rapaz, Bolsonaro, explica, até de maneira calma, que não
governa sozinho, que depende do Congresso para aprovar medidas. Falam de
orçamento secreto.
Em um dos trechos da conversa, Bolsonaro
diz: “Eu fiquei 28 anos no parlamento. Me aponte qual reforma tributária foi
aprovada ao longo de 28 anos dentro do parlamento”. Wilker então retruca: “Nenhuma.
Mas o senhor não é o cara que ia fazer diferente”.
O Centrão entra na conversa novamente. E o
youtuber lembra ao presidente o que ele havia dito na campanha sobre não rezar
a cartilha da velha política, de fazer uma nova política. Uma máscara. Uma
farsa. Pois, uma vez eleito, Bolsonaro voltou a praticar as artimanhas da velha
política ainda com mais força.
A conversa finaliza com a questão do porte
de arma. Depois Bolsonaro entra no carro e sai.
Wilker Leão serviu o exército durante 8
anos. O canal que ele tem no Youtube foi criado em março do ano passado. Nessa
época ele ainda estava na ativa. Na verdade, ele criou o canal para isso, para
tratar de assuntos referentes aos militares, tais como; documentação, pensão,
porte de armas, dentre outros.
Por causa destas postagens ele foi punido
e passou três dias detido. Em fevereiro deste ano, ele anunciou em uma rede social
que estava indo para a reserva. A partir daí ficou livre para fazer o trabalho
que faz hoje.
E assim estamos nós, brasileiros, no
momento atual. Tendo que ter precaução, pois vivemos um momento de polarização,
e, ao mesmo, não podemos nos calar.
A campanha eleitoral começou,
oficialmente, nesta terça-feira, 16. Foi dada a largada inicial e os candidatos
já podem fazer comícios, promover caminhadas, distribuir material gráfico,
fazer propagandas na Internet, jornais, rádios e TVs. No domingo, 2 de outubro
teremos o primeiro turno das eleições. E se houver segundo turno ele será
realizado no dia 31 de outubro de 2022.
Até lá, seremos invadidos por uma
enxurrada de fake news, de ambos os lados. Uma guerra de falsas notícias. E
muitos ataques pessoais entre os candidatos. Isso era tudo o que a gente não
queria. O que gostaríamos de ver mesmo eram propostas de governo, mas receio
que estas fiquem em segundo plano.
A além de tudo ainda temos que conviver
com ameaça de golpe, e instabilidade. E também de ver repetido aqui o que
aconteceu nos Estados Unidos por invasão do capitólio.
Em sua coluna no site do jornal Metrópoles,
o jornalista Guilherme Amado escreve que empresários bolsonaristas defendem um
golpe, caso Lula vença as eleições. E eles defendem essa posição horrorosa e
inconstitucional abertamente. A escalada da defesa dessa ruptura democrática se
dá através de grupos de WhatsApp, especialmente, do grupo Empresários &
Política, dos quais participam empresários bolsonaristas como Luciano Hang, por
exemplo.
Além da ruptura democrática, o tom das
conversas destes grupos também se estende a ataques às urnas eletrônicas, ao
STF, TSE, a qualquer outra instituição que queira por freios aos ímpetos
autoritários de Jair Bolsonaro. Isso é grave e as intuições deveriam pôr um
freio no ímpeto autoritário desses empresários. Se eles querem viver em regimes
autoritários que vão então para a Rússia, a Coreia do Norte, para a Venezuela,
ou qualquer outro lugar onde os ditadores reinem, e deixem o Brasil em paz.
Uma boa notícia é que, no meio desse
momento tão conturbado, Alexandre de Moraes assumiu a presidência do TSE em
cerimônia realizada na terça-feira, 16, coincidentemente, mesmo dia em que
começou para valer a campanha eleitoral. Moraes tem como vice-presidente no
comando do TSE, Ricardo Lewandowisk.
Em seu discurso de posse, Alexandre de
Moraes fez uma defesa enfática da democracia, do processo eleitoral brasileiro,
e das urnas eletrônicas. Presentes à solenidade estavam os ex-presidentes,
Michel Temer, Dilma Rousseff e Luís Inácio Lula da Silva. O presidente Jair
Bolsonaro também esteve presente, mas ele deve ter se sentido como peixe fora
d’água, vendo e ouvindo tanta gente reunida num lugar só, falando de
democracia.
Alexandre de Moraes tem sido muito corajoso, e, pelos ataques e críticas que recebe, pode-se dizer que ele tem incomodado muita gente.
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