Prêmios, recompensas e castigos
Segunda-feira, 11 de outubro
"Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor que lindo
Quero a vida sempre assim
com você perto de mim
Até o apagar da velha chama"
(Corcovado – Tom Jobim)
A
começar da genialidade de Tom Jobim, apresentando acima uma das joias da coroa
da música popular brasileira por ele escrita, Corcovado, morro carioca onde
fica o Cristo Redentor.
E
esse Cristo sempre de braços abertos sobre a Guanabara, enfim, chega aos 90
anos, nesta terça-feira, 12. Com seu olhar misericordioso ele olha para a
Cidade Maravilhosa, e para todo o Brasil. De abraços abertos ele irradia sua
luz para o mundo todo, e atrai pessoas de todo o planeta.
O
monumento foi uma ideia na cabeça de muita gente que pelo Rio passou, mas que
se tornou realidade apenas em 1931. Foram cinco de anos de construção iniciada
em 1926. Desde a sua inauguração ele se tornou cartão postal do Rio de Janeiro
e referência de arquitetura brasileira, tão rápido como fogo em pólvora. Em
2007, foi nomeado como uma das sete maravilhas do mundo.
O
santuário se tornou ao longo dos anos muito mais que um símbolo de fé, e
monumento religioso. Números de um estudo da FGV citados em reportagem do
Jornal Nacional nos dão conta de que o Cristo Redentor gera uma renda de quase
R$ 1,5 bilhão para a cidade do Rio de Janeiro. Além disso, é responsável por 21
mil empregos diretos e indiretos numa cadeia de atividades que envolvem guias
turísticos, funcionários de hotéis, motoristas, dentre outros.
Ainda
segundo a FGV, o monumento é o mais visitado pelos turistas estrangeiros. Cerca
de 35% dos estrangeiros visitam o Cristo. Outros 44% visitam o santuário vindo
de outras partes do Brasil. Apenas 8% dos cariocas visitam o monumento.
O
Brasil e o mundo atravessam por tempos tão turbulentos que é sempre bom que lá
no alto, não necessariamente do Corcovado, há sempre um Cristo, de braços
abertos e olhar misericordioso olhando e protegendo a todos nós.
Outra
notícia boa foi a concessão do prêmio Nobel da Paz para dois jornalistas. O fato
foi bastante celebrado por jornalistas de todo o mundo que, em meio ao avanço
das fake news, se preocupam em levar aos seus leitores, ouvintes, e
telespectadores notícias de qualidade e fundamentadas na verdade dos fatos. Os
profissionais do jornalismo comemoraram o prêmio como se eles próprios
estivessem sendo premiados com o Nobel da Paz.
Maria Ressa e Dmitry Muratov
O
prêmio Nobel da Paz deste ano de 2021 foi para os jornalistas Maria Ressa e
Dmitry Muratov. O Comitê norueguês do Nobel premiou os dois jornalistas, na
sexta-feira, 8, por seus esforços na defesa da liberdade de expressão. “A
Sra. Ressa e o Sr. Muratov estão recebendo o Prêmio da Paz por sua corajosa
luta pela liberdade de expressão nas Filipinas e na Rússia. Ao mesmo tempo, são
representantes de todos os jornalistas que defendem esse ideal em um mundo em
que a democracia e a liberdade de imprensa enfrentam condições cada vez mais
adversas”, informou o comitê.
Ressa
é uma jornalista filipina que usa os meios de comunicação para denunciar o
abuso de poder, o uso da violência, e o crescente autoritarismo nas Filipinas.
Em 2012, ela atuou como cofundadora da Rappler (rappler.com), uma empresa
digital de jornalismo que se dedica ao jornalismo investigativo no país.
O
russo Dmitri Muratov é um dos fundadores do jornal independente Novaya Gazeta ((novayagazeta.ru).
Desde a sua fundação em 1993, foram seis os jornalistas assassinados que
trabalhavam para o Novaya. Todas as mortes ocorreram depois que Vladmir Putin
chegou ao poder. Apesar do assassinato dos colegas e das pressões sofridas pelo
jornal, Muratov se recusou a abandonar a linha independente do jornal.
Um
jornal que nasceu com vocação e a missão de revelar a corrupção, a violência
policial, as prisões arbitrárias, fraudes eleitorais, e o uso das forças
militares russas, dentro e fora do país, não podia mesmo se acovardar diante da
ameaça dos poderosos. Até porque mais poderosa que os poderosos é a verdade.
Maria
Ressa, nas Filipinas, e Dmitri Muratov cumprem seus papeis como jornalistas que
se recusam a esconder a verdade em baixo dos tapetes da hipocrisia. Em um mundo
no qual o radicalismo avança, e o mundo da notícia é invadido pelo pseudo
jornalismo que espalha fake news e destrói reputações, a merecida premiação que
eles receberam servem como incentivo não apenas para eles, mas para todos
aqueles comprometidos na busca da verdade, da correta apuração dos fatos, e em
levar a todos, um jornalismo de qualidade.
No
Brasil, não chegamos ainda ao ponto de o governo estar envolvido em assassinato
de jornalistas, mas as agressões aos profissionais de imprensa, em especial, as
mulheres, vem sofrendo uma escalada desde que Jair Bolsonaro chegou ao poder.
As
agressões à jornalistas feitas por Bolsonaro têm sido tão frequentes que, em julho,
a Repórter sem Fronteiras, uma das mais respeitadas organizações
internacionais que defendem a liberdade de expressão, colocou o presidente Jair
Bolsonaro, juntamente com outros chefes de Estado ou de governo, na lista de
“predadores da liberdade de imprensa.
A
organização diz que Bolsonaro difama e humilha jornalistas por causa das
críticas que eles fazem ao governo, e que esses ataques se tornaram ainda mais
frequentes durante a pandemia. Na lista dos “predadores de imprensa” estão
outras figuras bastante conhecidas como por exemplo, Nicolas Maduro, presidente
Venezuelano, Vladmir Putin, da Rússia, Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria,
e os ditadores Kim Jong-um, e Bashar Al-Assad, da Corea do Norte e da Síria,
respectivamente.
CPI da Covid
No
Congresso, a CPI da Covid entra na reta final. Os depoimentos eram para
terminar na semana que passou, mas os membros da CPI resolveram convocar, pela
terceira vez, o ministro Marcelo Queiroga. Segundo o presidente da CPI, o
senador Omar Aziz, o calendário do colegiado na reta final é o seguinte: “Dia
18 deste mês, segunda-feira, vamos ouvir Marcelo Queiroga. Dia 19, Renan
Calheiros vai ler o relatório. Com certeza haverá pedido de vista coletiva. E
dia 20 vamos votar o relatório”, disse ele.
Na
quinta-feira, 07, estava prevista uma reunião da Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologia no SUS (Conitec). Nesta reunião estaria em discussão
um documento contraindicando o uso hidroxicloroquina, cloroquina e a azitromicina
no tratamento precoce contra a Covid-19.
Como
é sabido por todos, menos pelos negacionistas, esse medicamento não possui
nenhuma eficácia comprovada contra a Covid-19. Apenas o presidente Jair Bolsonaro, garoto
propaganda do medicamento no Brasil, e seus aliados, veem o medicamento como
milagroso no combate ao vírus.
Vimos,
durante a CPI da Covid, as tramoias na compra de vacina, os contratos
fraudulentos com atravessadores para obtê-los. Aquilo não tinha de nada
interesse em salvar vidas, poderia até ter, mas a questão principal era
financeira, obter lucros indevidos, colocando em risco a saúde da população.
Pois
bem, a insistência do presidente e de seus aliados em um medicamento que a
ciência já comprovou que não tem eficácia contra a doença, apenas nos leva ao
mesmo raciocínio: o de que não há nada de nobre nessas intenções, mas algum
interesse financeiro por trás de tudo isso. Sim, porque há gente ganhando
dinheiro com medicamentos ineficazes contra a Covid-19. Muito dinheiro. O
assunto é tão importante para o presidente que ele chegou até mesmo a defender
o uso do medicamento em seu discurso deste ano na Assembleia Geral da ONU.
Voltando
a reunião do Conitec. Tudo pronto para ela acontecer, e eis que, de repente,
Carlos Carvalho, médico da USP, escolhido para o cargo de coordenador do
Conitec pelo ministro Marcelo Queiroga, retirou da pauta da reunião o item 12
que tratava da ineficácia dos medicamentos contra a Covid. Detalhe a ser
observado: Carlos Carvalho é contra o uso da cloroquina e defensor do
distanciamento social e do uso de máscaras.
Ao
saber que reunião seria tratado esse assunto uma luz vermelha acendeu no
Palácio do Planalto, pois as consequências políticas e jurídicas, caso fosse
barrado o uso da cloroquina, poderia ser desastrosa para o governo. Os
integrantes da CPI poderiam usar o documento, avalizado por um orgão técnico
ligado ao ministério da Saúde, como mais uma prova dos desastrosos erros do
governo durante a pandemia.
Esse
foi o principal motivo da nova convocação de Queiroga. Houve uma clara
interferência política no Conitec, e os senadores querem saber mais a respeito
do assunto. Outro detalhe a ser observado é que em junho deste ano, quando
esteve depondo à CPI, Marcelo Queiroga disse aos senadores que iria esperar uma
posição do Conitec sobre o uso de medicamentos não comprovados contra a
Covid-19 para então tomar uma decisão sobre o assunto. Os senadores também
querem ouvir Queiroga sobre o Plano Nacional de Vacinação para o ano que vem,
sobre que medidas estão sendo tomadas nesse âmbito.
“Nós
não podemos terminar esta CPI sem a Conitec dar uma posição clara sobre a
ineficácia de cloroquina. Nós não podemos terminar esta Comissão Parlamentar de
Inquérito com uma briga de interesses entre Mayra Pinheiro [secretária do
Ministério da Saúde conhecida como "Capitã Cloroquina"] e Marcelo
Queiroga no âmbito do Ministério da Saúde e sem nenhuma resposta sobre a
vacinação de brasileiros no ano que vem, nenhuma resposta! Enquanto a ciência
toda, o planeta se prepara para a vacinação, não tem nenhuma resposta. Nós não
podemos terminar esta CPI sem uma resposta sobre a vacinação de adolescentes e
crianças”, disse o senador Randolfe Rodrigues, em sessão plenária da CPI da
Covid.
A
lógica dos bolsonaristas, inclusive do próprio presidente Jair Bolsonaro, parece
ser a lógica do absurdo. Para eles o objetivo principal em meio a uma pandemia,
e por consequência em qualquer outra situação de saúde, é deixar a doença
reinar soberana, e criticar os remédios que servem para curá-la.
Durante
a pandemia, o Brasil já teve quatro ministros da Saúde, incluindo o atual
Marcelo Queiroga. Os dois primeiros não aceitaram se submeter aos caprichos do
presidente e de seus sombrios gabinetes do ódio e do gabinete paralelo. Foram
eles Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Com Eduardo Pazuello, Bolsonaro
teve um ministro da Saúde para chamar de seu. Em Queiroga Bolsonaro também tem
um ministro que pode chamar de seu. Com a substituição de Pazuello por Marcelo
Queiroga nada mudou no ministério da Saúde. Pazuelo e Queiroga são apenas
fantoches manipulados por Bolsonaro. Não tem vontade própria, não tem poder de
decisão. O poder de decisão está nas mãos do presidente que, por sua vez, tem
por trás dele, médicos que defendem as mais absurdas teorias não aceitas e não
comprovadas pela ciência.
Mas
nem assim, os bolsonaristas estão satisfeitos com Marcelo Queiroga. A tal da
ala ideológica do governo critica o ministro por ter liberado a vacina para
adolescentes, por não impedir o passaporte da vacina, e por não agilizar plano
para desobrigar o uso da máscara.
Por
todos esses ruídos, por todas essas irresponsabilidades na condução da saúde de
um povo foi que chegamos ao absurdo e lamentável número de 600 mil brasileiros
e brasileiras mortos pela Covid-19.
Para
nosso alívio, o número de mortes, média móvel de mortes, e casos de Covid
continua em queda devido ao avanço da vacinação. Desde o início da pandemia o Brasil contabiliza até agora
601.266 óbitos e 21.581.094 casos de Covid-19. Nas últimas 24 horas o país
registou 219 mortes pela doença. Em relação a vacinação estamos com 46,5% de
vacinados com a primeira e segunda dose. 70% da população está vacinada com a
primeira dose.
Quantos
brasileiros poderiam ter sido salvos da Covid-19 se tivéssemos tido uma
condução técnica e responsável por parte do governo federal durante essa
pandemia? Certamente, milhares dos que se foram ainda poderiam estar entre seus
entes queridos. Todos eles estariam bem vivos, fazendo e realizando planos.
Quantas crianças por esse Brasil afora estão órfãs de pai, de mãe, ou de pai e
mãe, porque os próprios pais, ou alguém da família, um amigo, um conhecido, ou
até mesmo um desconhecido, acreditou que tudo não passava de uma gripezinha no
começo, ou depois, quando acreditaram que o vírus estava indo embora e que não
havia mais perigo, e por isso se tornaram alvos fáceis de um vírus altamente
perigoso e de uma doença ainda sem cura?
Essas
e outra perguntas que insistem em se apresentar em nossas consciências e nos
fazem refletir na gravidade e na atitude criminosa com que algumas autoridades
da política e da medicina se portaram durante essa pandemia, e que depois de
tudo que vivemos e pelas quais passamos ainda insistem no absurdo de lutar
contra a ciência a e vida.