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Pega na mentira

Posted by Cottidianos on 00:18

Quarta-feira, 22 de setembro

Você vive de mentira, ha-ha

A mentira te alimenta, ha-ha

As aparências enganam

E você só aparenta

Se você queria paz veio ao lugar errado

O futuro nunca chega e nem se volta ao passado

(De Mentira – Zeca Baleiro)


Desde que a comitiva brasileira chegou a Nova Iorque para Assembleia Geral da ONU, liderada pelo presidente, Jair Bolsonaro, não há nada do que nós, brasileiros, que não pertencemos ao chiqueirinho, digo do cercadinho do presidente, possamos nos orgulhar. A comitiva tem dado um vexame atrás do outro, e sofrido um vexame atrás do outro.  

Primeiro que a legislação da cidade de Nova Iorque não permite a entrada de não vacinados em lojas, bares e restaurantes. E o presidente Bolsonaro não tomou vacina, e nem pretende tomar agora.

O presidente já teve que comer pizza, de pé, em frente a um restaurante, por esse motivo. Em uma churrascaria, para driblar a exigência da vacinação, foi improvisado um “puxadinho” na calçada, em frente à churrascaria, com mesas ao ar livre e cercadas por um pano preto. Junto com o presidente nesse puxadinho estavam os ministros da Saúde Marcelo Queiroga, do Meio Ambiente, Joaquim Leite, o chanceler Carlos França e o chefe do GSI Augusto Heleno.

No domingo, 19, alguns manifestantes contrários ao governo Bolsonaro se reuniram em frente ao hotel Intercontinental New York Barclay. O presidente resolveu fugir deles entrando no hotel pela porta dos fundos. Na noite de segunda-feira, 20, o presidente e alguns membros da comitiva foram jantar na casa do representante da missão brasileira nas Nações Unidas. Alguns manifestantes se aproximaram da van em que estava o presidente com gritos de protestos. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, exaltado se levanta do banco da van e faz gestos obscenos para os manifestantes.

Outro que não se comportou de acordo com o que manda a boa educação, nem com a liturgia do cargo, foi o ministro das Relações Exteriores, Carlos França. Para os manifestantes ele fez gesto de armas com os dedos. Gesto tão apreciado pela família Bolsonaro.

Certamente, esses foram situações bastante constrangedoras, porém a coroação do constrangimento foi o discurso feito pelo presidente, Jair Bolsonaro, nesta terça-feira, 21, no discurso de abertura da Assembleia Geral da Nações Unidas.

O presidente não foi nada diferente da sua essência: vazio e mentiroso. E o discurso dele, idem. Para começar, deve ter sido chocante, no mínimo estranho, que o mandatário que faz o discurso de abertura seja um não vacinado. Na verdade, Bolsonaro aproveitou o palco da ONU para fazer uma live de luxo. Quem acompanha as lives do presidente às quintas-feiras logo reconheceu o estilo. As lives do presidente são cheias de mentiras, bobagens, e brincadeiras sem graça e de mal gosto. E um detalhe: Nela o presidente fala à sua base, aos seus apoiadores. Pois, para esses Bolsonaro pode até falar que a Terra é redonda que eles prontamente acreditarão. O mesmo acontecerá se ele disser que Papai Noel existe.

Mas, vamos ao discurso.

Após as saudações iniciais, Bolsonaro já dá uma de direita na imprensa, dizendo que vai “mostrar o Brasil diferente daquilo publicado em jornais ou visto em televisões”. E nesse caso, não apenas a imprensa brasileira é a vilã, mas a imprensa mundial, uma vez que a imprensa mundial também publica muitas críticas verdadeiras a respeito do governo, e do presidente. É a imprensa como inimiga. Aquela que deveria mostrar apenas as coisas boas que o governo faz. O problema é que jornalismo e literatura estão no mesmo plano, mas não a mesma coisa. Na literatura se pode inventar um mundo de coisas e sentimentos. O jornalismo, o bom jornalismo, deve se prender aos fatos e a realidade. Não dá para falar de coisas quando elas inexistem.

Vamos a segunda grande mentira, e olhem que, tirando as saudações iniciais ainda estamos bem no início do discurso.

O Brasil mudou, e muito, depois que assumimos o governo em janeiro de 2019. Estamos há 2 anos e 8 meses sem qualquer caso concreto de corrupção

O Brasil mudou muito é verdade, desde que Bolsonaro assumiu a presidência, e não foi para melhor. Instabilidade, confusão, ataques a democracia, desmonte do meio ambiente. Desmonte da Lava Jato. O presidente deveria ter falado dos escândalos de corrupção que a CPI trouxe à tona que são os contratos tenebrosos para a aquisição de vacinas. Ele também não falou dos escândalos de corrupção que envolvem seus filhos, e dos processos que tramitam contra ele no STF e no TSE.

E quanto a Amazônia? Vejamos o que disse o presidente.

Nenhum país do mundo possui uma legislação ambiental tão completa.

Nosso Código Florestal deve servir de exemplo para outros países.

O Brasil é um país com dimensões continentais, com grandes desafios ambientais.

São 8,5 milhões de quilômetros quadrados, dos quais 66% são vegetação nativa, a mesma desde o seu descobrimento, em 1500.

Somente no bioma amazônico, 84% da floresta está intacta, abrigando a maior biodiversidade do planeta. Lembro que a região amazônica equivale à área de toda a Europa Ocidental.

Antecipamos, de 2060 para 2050, o objetivo de alcançar a neutralidade climática. Os recursos humanos e financeiros, destinados ao fortalecimento dos órgãos ambientais, foram dobrados, com vistas a zerar o desmatamento ilegal.

E os resultados desta importante ação já começaram a aparecer!

Na Amazônia, tivemos uma redução de 32% do desmatamento no mês de agosto, quando comparado a agosto do ano anterior.

QUAL PAÍS DO MUNDO TEM UMA POLÍTICA DE PRESERVAÇÃO AMBIENTAL COMO A NOSSA?

Acho que sobre isso o presidente disse apenas duas verdades: Quando ele exalta a nossa legislação ambiental e o nosso código florestal. A partir daí, já não há mais verdades. Todos temos conhecimento do como o presidente Jair Bolsonaro encara essa questão do meio ambiente. Para ele, o meio ambiente só tem uma finalidade: dar lucro a madeireiros, mineiros, e grileiros ilegais. É preciso destruir a natureza para que ela nos dê lucros, e não proteger para que ela nos traga segurança.

Também era preciso dedicar, pelo menos um curtíssimo parágrafo para as questões internacionais.

O futuro do Afeganistão também nos causa profunda apreensão. Concederemos visto humanitário para cristãos, mulheres, crianças e jovens afegãos.

Os refugiados afegãos são bem-vindos, se forem cristãos. Se não forem cristãos, se forem mulçumanos, procurem outro país para se refugiarem.  

Obviamente, como nas lives de quinta-feira, não poderia deixar de ter as críticas aos prefeitos e governadores que promoveram lockdowns, e ajudaram a salvar muitas vidas.

Sempre defendi combater o vírus e o desemprego de forma simultânea e com a mesma responsabilidade. As medidas de isolamento e lockdown deixaram um legado de inflação, em especial, nos gêneros alimentícios no mundo todo.

No Brasil, para atender aqueles mais humildes, obrigados a ficar em casa por decisão de governadores e prefeitos e que perderam sua renda, concedemos um auxílio emergencial de US$ 800 para 68 milhões de pessoas em 2020.

Lembro que terminamos 2020, ano da pandemia, com mais empregos formais do que em dezembro de 2019, graças às ações do nosso governo com programas de manutenção de emprego e renda que nos custaram cerca de US$ 40 bilhões.

Assim como quando se trata da vida do meio ambiente, para a qual o que interessa é o lucro e não a preservação, para a vida humana o raciocínio não é diferente. É preciso fazer a economia girar, mesmo que para isso tenha que enviar milhares de brasileiros para a morte. Todos nós nos lembramos do descaso com o qual o presidente tratou da questão da pandemia. Minimizando a letalidade do vírus, desprezando as vacinas, ignorando o uso de máscaras, e incentivando aglomerações. Se o presidente tivesse incentivado o lockdown, e a vacina, não estaríamos na situação que estamos hoje, nem na saúde, com milhares de mortes, nem na economia, com uma inflação absurda que comeu o poder de compra do brasileiro. Milhões de brasileiros desempregados.

O governo só se preocupou em comprar vacinas quando os brasileiros viram vários países começando a se vacinar e nós sem sair do lugar. Vieram as críticas e o presidente foi obrigado a comprar vacinas. Tardiamente.

E, essa é para cair de costas. O presidente usou a tribuna da ONU para fazer defesa do tratamento precoce, que já está mais do que provado que não tem eficácia nenhuma contra a Covid-19. Ele também condena a obrigatoriedade da vacina.

Apoiamos a vacinação, contudo o nosso governo tem se posicionado contrário ao passaporte sanitário ou a qualquer obrigação relacionada a vacina.

Desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce, seguindo recomendação do nosso Conselho Federal de Medicina.

Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label.

Não entendemos por que muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial.

A história e a ciência saberão responsabilizar a todos.

Não poderia faltar nesse rosário de mentiras o tal 7 de setembro. O presidente disse que milhões de brasileiros foram às ruas. Grande mentira. Talvez essas milhões de pessoas estivessem apenas na cabeça dele. O problema é que essas mentiras circulam fortemente nas redes sociais, com fotos adulteradas e muitas fake news. E o bolsonarista radical acredita. Se confrontado com a realidade, ele dá as costas para a realidade e fica com a ilusão.

Se fosse comentar todo o discurso do presidente Jair Bolsonaro, esta postagem certamente ficaria muito longa. Por isso, resolvi escolher apenas alguns trechos. Mas, gostaria de compartilhar com os leitores uma das análises mais completas que vi sobre o assunto. E foi no Jornal Nacional, edição desta terça-feira, 21. Está disponível no Globo Play.

https://globoplay.globo.com/v/9880266/programa/?s=13m48s

Ou na página do Jornal Nacional.

https://g1.globo.com/jornal-nacional/


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Vítimas da própria estupidez

Posted by Cottidianos on 00:12

Terça-feira, 21 de setembro


Há uma passagem do evangelho dos cristãos da qual gosto particularmente. Ela se encontra em Lucas, 21, 13-35.

Narra o texto que, dias após a morte de Jesus, dois discípulos caminhavam para uma aldeia chamada Emaús. Iam tristes, conversando sobre o que tinha se passado com Jesus Cristo. Na verdade, os discípulos ainda não tinha entendido qual era a de Jesus Cristo. Muitos de seus seguidores entendiam que ele era aquele que iria acabar com dominação que o povo sofria por parte dos romanos. Pensavam que Cristo seria aquele que tomaria o trono e iniciaria um novo reinado na lei dos homens. Muitos deles ainda não tinha essa consciência de que o reino de Cristo era todo espiritual.

Enquanto falavam, o próprio Jesus se aproximou. Os díscipulos não o reconheceram. Então Jesus se comportou como se fosse um estranho que acabara de chegar em Jerusalém. Perguntou a eles o que tinha acontecido.

Os díscipulos se admiraram de ele ser o único estrangeiro a não saber o que por lá acontecerá recentemente. Passaram então a contar o que havia acontecido em Jerusalém. Contaram de Jesus Cristo que era um profeta poderoso em obras e palavras, diante de Deus e do povo. Contaram como as autoridades judiciais e religiosas o haviam condenado a morte e o crucificado. Disseram das humilhações e crueldades a que Jesus havia sido submetido, e de sua morte na cruz. E que algumas mulheres, e depois alguns discípulos foram ao túmulo onde o corpo dele havia sido depositado, mas que não encontram corpo algum.

Jesus diz então aos dois discípulos como eles eram lentos para entender. Na verdade, um jeito delicado de dizer que eles burros. Então o mestre começa a percorrer as escrituras sagradas citando todas as passagens que estavam escritas sobre ele e sobre o que ocorrera.

Quando chegaram a aldeia, Jesus fez como ia que seguir em frente, mas os discípulos o convidaram a ficar. Mais tarde naquela noite, durante o jantar, ao partir o pão, os olhos dos discípulos se abriram e eles reconheceram Jesus, mas ele desapareceu da vista deles.

Falemos agora do caso de duas pessoas que foram bem lentas, mas muito lentas mesmo, para entender o perigo que, de fato, é a Covid-19 e sua legião de variantes, cada uma mais perigosa que a outra. Lembrando que esses dois casos são meramente ilustrativos, pois há milhões de indivíduos que, mesmo sendo letrados, tendo diploma universitário e todas essas formalidades que mostram que uma pessoa tem algum conhecimento, são analfabetos quando se trata de fazer uma leitura da realidade.

Um desses casos aconteceu nos Estados Unidos, e o outro aqui no Brasil. Dois jovens. Um tinha 30 anos e o outro 34.

Assim como nós brasileiros temos o nosso 7 de setembro, o americano tem o seu 04 de julho. Nesse dia especial, enquanto comemoramos a nossa independência de Portugal, os americanos comemoram sua liberdade em relação ao Império Britânico.

                                                                        Caleb Wallace

Era vésperas do dia 04 de julho de 2020. Por essa época, os Estados Unidos e o mundo estavam no centro de um furacão chamado coronavírus. Pelo mundo afora, milhões de pessoas morria em decorrência da Covid-19. A nação americana registrava recordes de mortes pela doença. Máscaras, álcool gel, distanciamento social. Todo o cuidado era pouco.

Foi nesse cenário tenebroso, que em 04 de julho do ano passado, um texano da cidade de San Angelo, chamado Caleb Wallace, 30 anos, organizou um comício não para falar de política, mas para defender a liberdade das pessoas não usarem máscaras. O ato foi chamado de The Freedom Rally (O Comício da Liberdade).

Nos panfletos que distribuiu convidado as pessoas para a manifestação, Wallace dizia que era um protesto pacífico, realizado por pessoas que estavam cansadas do controle do governo sobre suas vidas. Os cartazes carregados pelos manifestantes naquele dia criticavam o uso de máscaras, o fechamento do comércio, a mídia, e a ciência. “Mostre-me que a máscara funciona. Mostre-me que o fechamento das escolas funciona. Mostre que o lockdown funciona”, escreveu Wallace no Facebook

Ele também fundou o The San Angelo Freedom Defenders (Os Defensores da Liberdade de San Angelo), cujo objetivo era “educar e capacitar os cidadãos a fazerem escolhas informadas sobre a política local, estadual e nacional e encorajá-los a participar ativamente de seu dever de garantir direitos dados por Deus e protegidos constitucionalmente”, conforme relatado pelo The New York Daily News.

Uma coisa para a qual o texano não atentou é que: com a Covid-19 não se brinca.

O tempo foi passando, as folhas do calendário virando. A luta contra a Covid foi tendo resultados positivos. Vieram as vacinas. A Covid-19, apesar de não podermos dizer que estamos livres dela, apesar de não podermos dizer ainda que a pandemia passou, foi arrefecendo. Porém, os cuidados não podem e não devem ser desprezados... ainda.

Ora, mas quem desprezava os cuidados recomendados pelas autoridades no turbilhão da pandemia, não vai levá-los em consideração agora, não é verdade? Wallace, obviamente, também continuou com sua cruzada contra as máscaras e a ciência.

Porém, como já disse acima, e repito agora, com a Covid-19 não se brinca.

Em meados de julho deste ano, Wallace começou a se sentir estranho. De repente apareceu tosse, dores na garganta, dores de cabeça, dores musculares e nas articulações. Os dias foram passando e o corpo ficava cada vez mais fraco. Veio a dificuldade de respirar.

— Isso é Covid-19. Melhor você procurar um médico, amor, disse a esposa.

 — De jeito nenhum. Não vou procurar médico nenhum. Não quero fazer parte de nenhuma estatística de exame de Covid-19, respondeu o texano.

Ele resolveu se tratar em casa mesmo. Comprou o kit covid, conjunto formado por ivermectina — remédio sem nenhuma comprovação científica contra a Covid-19 — combinado com altas doses de vitamina C e zinco. Comprou também um inalador, pois a dificuldade de respirar era enorme.

O tratamento, como era de se prever, não funcionou. E Wallace foi levado para onde não queria e a quem sempre desprezou: ao encontro da ciência. No hospital, em 08 de agosto, perdeu a consciência e teve que ser entubado.

No sábado, 28 de agosto, Wallace perdeu a luta para a doença que achava que era uma fantasia inventada pelos médicos. Com a piora em seu estado de saúde os médicos do hospital onde ele estava decidiram transferi-lo para Shannon Medical Center, em San Angelo. Mas, o texano não resistiu ao avanço do vírus em seu corpo, e morreu antes da transferência.

Caleb Wallace, o antimáscara, anticiência, e, certamente, antivacina, deixa para trás três filhos e esposa gravida de mais um filho que não terá oportunidade de conhecer, de ver crescer, por causa de sua estupidez.

Aqui no Brasil tivemos um caso semelhante. Aconteceu em Uberlândia, Minas Gerais.

                                                                          Thiarles Santos

Thiarles Santos, 34 anos, era jovem e cheio de vida. Estava todo empolgado com o mandato de vereador para o qual fora eleito nas eleições de 2020. Advogado, casado, e bolsonarista radical. Seguia o líder Bolsonaro: não tomou vacina, e era contra o uso de máscara.

Em agosto, o vereador chegou a protocolar um PL (Projeto de Lei). No texto que apresentou, Thiarles dá justificativas não comprovadas pela ciência para o projeto, e diz que a medida irá beneficiar pessoas com problemas respiratórios. “O ar quente dentro da máscara pode dificultar a respiração e desencadear crises respiratórias, como crises de asma. Se a máscara for muito apertada, pode desencadear ansiedade, alterando padrões respiratórios e causando muito desconforto”. Ele diz ainda que o objetivo do projeto é desobrigar, e não impedir que as pessoas usem máscaras na cidade.

Com a Covid-19, não se brinca. Já disse isso, mas nunca é demais dizer novamente.

Corajoso. Sem tomar a vacina. Vacina? Para que tomar, não é mesmo?  Peito aberto diante de um inimigo pequeno, mas poderoso e devastador, desprezando a ciência, e seguindo os conselhos do Dr. Jair Bolsonaro, seu líder amado, no dia 16 de agosto o vereador, testou positivo para a Covid-19.

Coisa boba. Sintomas leves. Foi o que pensou. E era o que devia estar sentindo naquele momento. Tanto é que, naquele mesmo dia 16, mesmo sabendo que o coronavírus já estava se reproduzindo em seu corpo, ele foi às redes sociais para defender suas ideias. “Fim do uso das máscaras. Jamais irei fazer qualquer distinção entre vacinados e não vacinados. Vamos lutar pelo não uso de máscara quando tivermos com 70% de vacinados, ou já tiverem contraído a doença”.

Ele também postou nas redes sociais que estava bem, que estava fazendo o tratamento em casa, e que não iria precisar ser hospitalizado. Deve ter tomado o kit covid, receitado pelo Dr. Jair. Mas, como remédios de charlatões não funcionam, o quadro de saúde do vereador piorou e ele precisou ser internado.

Dia 31 de agosto foi uma terça-feira. Em vez de o presidente estar trabalhando ele estava, como um adolescente rebelde e sem causa, passeando de moto, em Uberlândia, MG. Aliás, trabalho não é muito o forte de Bolsonaro. Basta dar uma olhada na agenda presidencial dele para ver que os compromissos sérios diários dele são pouquíssimos. Na ocasião, ele esteve na cidade para participar das comemorações dos 133 anos da cidade.

Participou da cerimônia de inauguração do Complexo de Captação e Tratamento de Água Deputado Luiz Humberto Carneiro, em Uberlândia (MG) — o único compromisso oficial na cidade — depois abriu uma live no Facebook, onde cumprimentou os apoiadores. Andou sem máscara de proteção pelas ruas. Pura campanha eleitoral antecipada.

Mesmo internado em um leito de hospital, o vereador Thiarles Santos pediu que sua equipe participasse da motociata. Ele também postou um vídeo no qual dizia: “O vereador, que se encontra recuperando da covid-19, é um grande apoiador do presidente, com quem compartilha pautas importantes como a defesa da vida, da família, da propriedade privada e da legítima defesa”.

Ele também fez questão de manifestar apoio aos protestos do dia 07 de setembro, convocados pelo presidente.

No dia 14 de setembro, o vereador apresentou quadro de instabilidade. Os médicos chegaram a cogitar a hipótese de fazer uma traqueostomia, porém, resolveram adiar o procedimento. O quadro de saúde piorou significativamente, seus pulmões foram altamente comprometidos pela Covid-19. Diante da gravidade do quadro, ele não resistiu, e morreu na manhã do dia 17 de setembro.

Thiarles Santos deixa mulher e quatro filhos.

Mais uma vítima, mais da sua própria estupidez.

No Brasil, temos do início da pandemia até agora, temos 590.547 brasileiros vitimados pela Covid-19. Apesar da vacinação avançar, até agora são 37, 53% da população vacinada, e de ver o número de mortos pela doença, e taxa de transmissão cair a cada dia, ainda estamos longe de dizer que superamos a pandemia. Uso de máscaras, álcool gel, e demais cuidados ainda não devem ser desprezados.

As aberturas promovidas por estados e munícipios podem nos dar a falsa impressão de que vencemos o coronavírus, mas, pensar assim, é uma apenas uma falsa ilusão, e porque não dizer, uma armadilha. Não esqueçamos que as variantes continuam por aí.

                                                    Bolsonaro come pizza na calçada, em NY

Enquanto isso, o antivacina, antimáscara, e anticiência, Jair Bolsonaro, está nos Estados Unidos para participar da Assembleia Geral da ONU. É o único líder do G20 que não tomou vacina contra a Covid. Está por lá nos fazendo passar vergonha.

Na sede da ONU ele pode entrar, mas sua vida fica difícil quando ele sai para dar uma volta pela cidade. Já teve que comer pizza junto com ministros de sua comitiva, de pé, em calçada, em uma esquina qualquer da cidade.

Os ministros disseram que era por causa da simplicidade do presidente. Tudo mentira. Ele passou por esse vexame, e passará por outros, porque na cidade de Nova Iorque, ele não poderá frequentar a área fechada de bares, restaurantes, ou lojas, uma vez que a legislação da cidade exige o comprovante de vacinação com as duas doses. E o presidente diz que não tomou vacina.

Por tradição, o Brasil sempre abre os discursos da Assembleia Geral da ONU. E, nesta terça-feira, 21, o mandatário brasileiro promete dizer umas verdades aos líderes mundiais em seu discurso.

Nós, brasileiros, que o conhecemos muito bem, ficamos de cabelos em pé, só de pensar em que verdades sairão daquela boca. De outras vezes que ele falou verdades, ficamos até com vontade de enfiar a cabeça em algum buraco, como fazem os avestruzes.

Á conferir que verdades serão essas vindas de uma boca de uma boca da qual só sai estupidez.


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Liberdade e opressão

Posted by Cottidianos on 23:57

Domingo, 19 de setembro

“Ninguém ignora tudo.

Ninguém sabe tudo.

Todos nós sabemos alguma coisa.

Todos nós ignoramos alguma coisa.

Por isso aprendemos sempre”

Paulo Freire


Paulo Freire, Patrono da Educação Brasileira



“Parabéns pra você

Nesta data querida

Muitas felicidades

Muitos anos de vida”

Daqui a pouco explico para quem e porque comecei o texto de hoje com essa canção mais do que famosa e cantada em todo o mundo, talvez, mais até do que o Hino Nacional de cada país. A canção de autoria das irmãs americanas Mildred Jane e Patty Smith Hill. Elas registraram a canção em 1893. A letra da música, tinha o nome de Good Morning to All (Bom Dia a Todos), e era usada na educação infantil de crianças. A letra, como a cantamos hoje, veio depois. Mas a melodia é mesma registra pelas irmãs Hill.

Na segunda-feira, 6, véspera do feriado do Dia da Independência, resolvi pedalar um pouco. Me excedi nesse pouco e, ao final, havia pedalado 89 km. No domingo, 12, fiz o mesmo percurso: uma trilha muito bonita, é verdade — em meio à natureza deslumbrante dos distritos de Souzas e Joaquim Egídio, e as cidade de Amparo e Morungaba — trilha essa, porém, cheia de subidas, algumas muito íngremes, outras quilométricas. Então nesse domingo, 19, prometi que pegaria mais leve, não exigiria tanto de mim mesmo ao pedalar.  Fiz 30 km. Quando estava bem perto de casa, passei na feira hippie do Centro de Conivência, no Cambuí, bairro da região central aqui de Campinas.

Ali se vende de tudo um pouco, quadros de pinturas, incensos, produtos exotéricos, livros, discos, e Dvds usados, roupas, e uma série de outros produtos. Parei na banca dos livros usados. O procurar um livro também chamou a uma prosa com o vendedor. Ele me falou que era professor, de como gostava de ler, e de ouvir música. Eu que pensei chegar em casa um pouco mais cedo, acabei gastando um tempo de prosa com ele, e isso não foi aborrecido, ao contrário, foi até prazeroso. Ele acabou falando também de Paulo Freire e de seu famoso livro, Pedagogia do Oprimido, traduzido para várias línguas, e estudado em grandes universidades mundo afora.

Comprei um dos livros que o professor oferecia, e rumei para casa.

No caminho, fiquei pensando na grandeza e na genialidade de Paulo Freire (1921-1997): um dos maiores educadores do mundo. Ele é o Patrono da Educação Brasileira. A proposta foi apresentada pela então deputada Luiza Erundina (PSB-SP), e sancionada como Lei no 12.612/2012, no ano de 2012.

É para Paulo Freire o Parabéns pra Você que abre o texto, juntamente com todas as homenagens e honrarias, afinal, o aniversariante merece.

E esse homem, gigante da Educação, respeitado no Brasil e no exterior, tem sido atacado pelos bolsonaristas. Por quê? É a pergunta que fica. O caso é tão sério e as pedradas atiradas em Paulo Freire são tão violentas que foi preciso que, na quinta-feira, 16, a Justiça do Rio de Janeiro, proibisse o governo federal de tomar qualquer iniciativa que atentasse contra a dignidade de Paulo Freire.

A ação ajuizada pelo Movimento Nacional dos Direitos Humanos, tem caráter liminar, e prevê que a União pague uma multa de R$ 50 mil por dia, caso a decisão seja descumprida.

Neste domingo, 19, data em que é celebrado o centenário de Paulo Freire, o Google fez uma homenagem ao Educador. Ao acesso a ferramenta de busca o usuário encontra o rosto do pernambucano no logotipo do buscador. Uma justa homenagem, reconheçamos.

Porém, não é o que pensa Jair Bolsonaro, seus filhos, e seguidores fanáticos. Neste domingo, o deputado federal, Eduardo Bolsonaro, como não encontrou algo melhor para fazer — e penso que esse povo nunca encontra algo melhor para fazer — criticou o Google por fazer a homenagem ao educador brasileiro. 


Segundo o deputado, ao fazer a homenagem, o Google se posiciona a favor da Justiça do Rio que proibiu o governo federal de atentar contra a dignidade de Paulo Freire. Anteriormente, Eduardo Bolsonaro também havia criticado a decisão da Justiça do Rio. “Educação do país de péssima qualidade e não se pode nem criticar o patrono desta bagunça? Isso não é justiça, é militância doentia. Nunca foi tão difícil fazer o certo e consertar o Brasil. Mas nós somos chatos e estamos certos, então vamos adiante”. Outros bolsonaristas também foram às redes sociais criticar Paulo Freire.

Alguns até fizeram críticas mais ácidas contra o educador como, por exemplo, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub. “Bilionários que controlam empresas gigantes/monopólios são de esquerda. Drogas, Paulo Freire, aborto, a destruição da SUA da família, estão na agenda deles. NÃO É COINCIDÊNCIA! Nossa luta é contra isso”, disse Weintraub, criticando a decisão do Google de homenagear Paulo Freire.

E porque Paulo Freire, mesmo depois de 24 após sua morte, incomoda tanto Bolsonaro e os bolsonaristas? Paulo Freire incomoda tanto Bolsonaro e os bolsonaristas por ser ele o avesso da ideologia que permeia esse governo. A educação para Paulo Freire é um agente libertador. Este governo propõe uma educação opressora. Este é ponto fundamental para se entender a questão.

O professor Thiago José de Biagio, mestre em História Social, em entrevista ao portal iG, falando sobre o livro Pedagogia do Oprimido, disse: “A obra vai ao encontro da ideia de emancipação do sujeito, uma consciência da condição social do oprimido. A proposta do Paulo Freire é de uma educação baseada no diálogo. Há um incentivo ao questionamento e à ação social. Portanto, o professor não é o topo da hierarquia, aquele que tudo sabe. Ele prega que não haja o medo da liberdade. Inclusive, uma frase de Paulo Freire que representa esta proposta é 'Quando a educação não é libertadora, o sonho do oprimido é ser o opressor nos ajuda a entender ainda melhor essa questão”.

Para esse governo, o ideal é ter uma sociedade de pessoas que não pensem. Quanto menos capacidade de pensar, mais fácil dominar essas mentes fracas. Daí o ataque a imprensa, e a exaltação às fake news que circulam pelo WhatsApp profundo, e outras redes sociais também.

Sabemos que o ódio e não o amor, a racionalidade, o bom senso, é o combustível que move os bolsonaristas e o próprio presidente. Em relação a esse veneno destilado por esse grupo de pessoas em direção a Paulo Freire o professor Biagio afirma ao iG: “Para eles, só existe uma verdade. Só existe uma forma de se comportar e enxergar o mundo, sendo que a pedagogia do Paulo Freire estimula a autonomia. Uma perspectiva tradicional de sociedade, como é defendida pelos bolsonaristas, defende que deva haver uma hierarquia, uma obediência militar, quase cega, em relação ao professor. Paulo Freire entendia que a educação precisava ser dialógica e que o professor devia escutar seus alunos também”.

Porém, o que dizer de um presidente que diz que excesso de professores atrapalha?

Nesta quinta-feira, 16, o presidente, falando a apoiadores sobre um concurso público feito pela presidente Dilma Rousseff, que trouxe para a educação 100 mil professores, Bolsonaro disse: “Não vou entrar em detalhes, mas o Estado foi muito inchado. Não estou dizendo que não precisa de professor, mas o excesso atrapalha”.

Em dezembro de 2019, o presidente havia dito a seus apoiadores que a TV Escola deseduca, e que Paulo Freire era um energúmeno.

E também o que dizer de um ministro da Educação que quer separar os alunos com Síndrome de Down dos alunos sem essa deficiência, e que diz que os alunos com síndrome de Down “atrapalham” os outros alunos?

No dia 9 de agosto, em entrevista ao programa Sem Censura, da TV Brasil, o ministro da Educação, Milton Ribeiro, falando a respeito de educação inclusiva, o ministro disse: “O que é inclusivismo? A criança com deficiência é colocada dentro de uma sala de alunos sem deficiência. Ela não aprendia, ela ‘atrapalhava’ — entre aspas, essa palavra eu falo com muito cuidado – ela atrapalhava o aprendizado dos outros, porque a professora não tinha equipe, não tinha conhecimento para dar a ela, atenção especial”.

A declaração do ministro irritou educadores de todo o país. E não parou por aí. Na mesma entrevista, o ministro disse também que a universidade deveria ser para pouco: “Tenho muito engenheiro ou advogado dirigindo Uber porque não consegue colocação devida. Se fosse um técnico de informática, conseguiria emprego, porque tem uma demanda muito grande”.

Todas os sinais são bem claros e nos levam a conclusão de que estamos diante de um governo altamente elitista no qual alguns cursarão universidade. E que são esses “alguns” que cursarão a universidade? Será o filho do porteiro, da empregada doméstica, do motorista, e de outros tantos profissionais de categorias semelhantes, ou será o filho de pessoas elitizadas como o Sr. ministro da Educação?

Enfim, não é de hoje que a educação no Brasil vem sendo relegada a segundo plano. Mas quando pensamos que a coisa vai melhorar chega um grupo com ideias retrógadas também no campo da educação, e que podem jogar a educação do nosso país ainda mais no obscurantismo.

Queremos uma educação libertadora, e não de uma educação opressora. Queremos o aluno como o ser capaz de buscar o conhecimento, e não de um professor ditador em sala de aula. Precisamos de mais Paulos Freires e menos Olavos de Carvalho. 


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Mitos, heróis e governos

Posted by Cottidianos on 21:36

Quarta-feira, 15 de setembro



 Brasil, o país das manifestações!

O povo se mobiliza daqui, se movimenta dali, protesta acolá. Tudo muito justo, muito democrático. Tudo bem. É um direito garantido pela Constituição Federal. O brasileiro sabe fazer protestos. Desde o fim da ditadura tem sido assim.

Voltemos um pouco no tempo e vejamos a beleza da Campanha pelas “Diretas Já”.

O povo ansiava por eleições diretas para presidente da República após longos anos sob o julgo de ditadores. A primeira faísca, a manifestação inicial pela realização das diretas aconteceu no município de Abreu e Lima, região metropolitana do Recife, Pernambuco, em 31 de março de 1983.

Um incêndio não começa com grandes labaredas. Ele vai se construindo de faísca em faísca até que, fora de controle, não é controlado por mais ninguém. Foi assim com aquela faísca, aquela chama de esperança acesa em Abreu e Lima. Nos meses seguintes ela foi se espalhando, silenciosamente, pelo território brasileiro, até que entre os últimos meses de 1983 e abril de 1984 aquela fagulha se tornou um grande incêndio de esperança que varreu o Brasil inteiro, naquele que se tornou um dos movimentos mais marcantes e belos da história política brasileira. Milhões de brasileiros saíram às ruas pela liberdade e pelo direito de escolher, através do voto, o presidente da nação. Porém, apesar de toda aquela pressão popular, os brasileiros só veriam realizado o sonho das eleições diretas em 1989.

Naquele ano, após 29 anos debaixo da cortina de ferro da ditadura, os brasileiros, enfim, puderam escolher o seu presidente. Lula e Collor marcaram uma disputa histórica da qual Fernando Collor de Mello sagrou-se vencedor. Era o “caçador de marajás”, aquele que ia acabar com os privilégios que nadam de braçada no Legislativo, Executivo e Judiciário desde há longo tempo.

Logo se viu que o “caçador de marajás” era apenas mais um deles. Um corrupto. E, em 1992, lá se foi o povo brasileiro novamente para as ruas. Pintaram os rostos de verde, amarelo, azul e branco. O movimento ficou conhecido como “Caras Pintadas”. Os brasileiros exigiam o impeachment do presidente Collor de Melo. O fogo provocado pelos “caras pintadas” conseguiu queimar o mandato do presidente Collor. Ele tinha que tinha praticado um estelionato eleitoral ao dizer que lutaria contra a corrupção e aliou-se a ela, foi definitivamente afastado da presidência em dezembro de 1992.

E assim a roda da vida foi girando... girando... girando e, como a roda da vida não gira à toa, eis que Lula que havia disputado a primeira eleição direta para presidente em 1989, concorrendo com Fernando Collor, finalmente, chega a presidência. Era um sonho para milhões de brasileiros. Um sol de esperança e liberdade que, enfim, parecia raiar sobre o país.

O tempo foi passando e vieram os escândalos de corrupção no governo do PT e a esperança se desfez. Lula conseguiu se eleger para dois mandatos, e reelegeu a sua sucessora, Dilma Rousseff. Os esquemas de corrupção herdados nos dois governos de Lula, continuados no primeiro mandato de Dilma, e a difícil situação econômica na qual mergulhou a nação no governo Dilma, aliada a incapacidade da presidente de conversar com o Congresso, tornaram o governo dela insustentável. E eis que, os brasileiros foram novamente às ruas e gritaram “Fora Dilma” “Fora PT".

Dilma, por sua vez, gritava e esperneava dizendo que estava sofrendo um golpe. Ninguém acreditou. Hoje, olhando para trás por cima dos ombros da história, vemos que, Dilma, realmente, foi vítima de um golpe bem orquestrado, sob o manto da lei, que a tirou do poder.

Milhões de pessoas, insufladas por movimentos como o Movimento Brasil Livre, e Vem pra Rua, inundaram às ruas em vários momentos, enfraquecendo cada vez mais o já frágil governo Dilma. Os gritos de “Fora Dilma” “Fora PT” ecoaram no Congresso Nacional e, em 31 de agosto de 2016, Dilma Rousseff era definitivamente afastada da presidência em votação no Senado Federal. A faixa presidencial foi para o peito de Michel Temer, que foi um ótimo articulador junto ao Congresso no golpe que derrubou Dilma Rousseff. Coube a Temer terminar um governo do qual ele era vice.

Os escândalos de corrupção não terminaram com Dilma. Eles ressurgiram com Michel Temer, provando mais uma vez que a questão da corrupção no país, não deve ser atribuída a partido A, B, ou C, nem muito menos a candidato D, E, ou F. Talvez aí esteja o erro da sociedade brasileira: dedicar-se a lutar contra um partido em especifico, e em eleger mitos e heróis, ao invés de se reunir e protestar contra toda uma cultura de corrupção. É preciso que a sociedade brasileira entenda que não precisamos de heróis e mitos com cabeça de ferro e pés de barro, mas sim de governantes que resolvam os problemas que desafiam o país, nas áreas de educação, segurança, cultura, meio ambiente, e de todos os outros organismos que formam esse corpo chamado Estado Brasileiro.

O moinho da política foi girando rápido e imprevisível como ele só, e nessas idas e vindas o presidente Luís Inácio Lula da Silva, em 2018, sentiu o peso do braço da lei. Foi condenado e preso por atos de corrupção, ficando, dessa forma inelegível para as eleições que ocorreriam ainda naquele ano.

No palco no qual se desenvolveu e tomou corpo a Lava Jato, mandando políticos e empresários poderosos para a cadeia, não nos esqueçamos do todo poderoso juiz, Sérgio Moro, que, diga-se de passagem, fez um ótimo trabalho à frente da Lava Jato. Foi dele a decisão que levou Lula para a prisão. Moro foi um personagem central em toda essa trama. Levando em conta o contexto da época tornou-se para os petistas um bandido, e para os bolsonaristas, um mocinho.

O Brasil, realmente, não é um país para amadores. Tem que ser muito bom para compreender o que acontece no Brasil. A imprensa internacional deve se desdobrar para entender o que acontece por aqui. E não é para menos: Às vezes, quem é brasileiro também se desdobra para entender o que acontece dentro de casa, imaginem então um estrangeiro.

Inelegível Lula, surgiu na raia um azarão chamado Jair Bolsonaro, um político folclórico do baixo clero do Congresso, cuja “grande colaboração” em seus 28 anos no Congresso foi colecionar problemas, intrigas, e discussões inúteis.

A imprensa livre, juntamente com os movimentos Brasil Livre e Vem pra Rua, foram construindo um sentimento anti-petista, um ódio pela esquerda, que foi se avolumando e criou uma onda de rejeição a Lula, Dilma, integrantes do PT e de partidos da esquerda. O azarão, Jair Bolsonaro, foi quem melhor soube fazer uso dessa onda, quando, tal qual o presidente, Collor de Melo, apresentou-se como o justo arauto, aquele que iria acabar com a corrupção em nosso país. Levantou a bandeira da luta contra a corrupção. Bolsonaro surfou nessa onda anti-petismo e anticorrupção em 2018, tal qual o surfista Ítalo Ferreira surfou nas águas de Tóquio nas Olimpíadas deste ano. Ítalo conquistou a medalha de ouro na modalidade, e Bolsonaro a cadeira presidencial.

  Após as eleições, já vitorioso, Bolsonaro jogou fora a máscara de político honesto, baixou a bandeira da luta contra a corrupção e guardou-a não se sabe onde. Ele deixou muito felizes e satisfeitos políticos de direita, de esquerda, e de Centro ao matar a Operação Lava Jato.  

Começou a ameaçar as instituições democráticas, perseguir os seus inimigos políticos, na maioria das vezes imaginários, interferir em órgãos de Estado para que agissem em favor dos filhos envolvidos em escândalos de corrupção. Tornou-se também réu em alguns processos que correm no STF e TSE.

E o mocinho/bandido Sérgio Moro? Deu um passo do qual deve ter se arrependido amargamente: Abandonou uma sólida carreira na magistratura, e aceitou o cargo de ministro da Justiça e Segurança Pública no governo do recém-eleito, Jair Bolsonaro. Após 15 meses, Mouro deixava o governo Bolsonaro. O presidente queria colocá-lo à serviço de seus interesses pessoais, e não a serviço do país. Sérgio não aceitou ser usado.

No meio disso tudo veio um vento, virou o jogo e Lula saiu da prisão, tornando-se elegível novamente, e que é pior para os bolsonaristas: capaz de derrotar Bolsonaro nas eleições presidenciais de 2021. Bolsonaro enlouquece e passa atacar as urnas eletrônicas, a lançar dúvidas sobre a idoneidade do processo de votação. Destila jatos e jatos de veneno contra o presidente do TSE e ministro do STF, Luiz Roberto Barroso.

O assunto vai parar na Câmara dos Deputados e os deputados impõem derrota ao governo derrotando a PEC do voto impresso. Bolsonaro finge aceitar o resultado, mas dias depois volta a questionar o processo.

Ah, não esqueçamos também da pandemia que assolou o Brasil e o mundo. No Brasil a questão sanitária foi muito mal gerenciada pelo governo federal que apostou numa tal de imunidade de rebanho que levou milhares de brasileiros à morte. Uma coisa leva à outra. Por causa do mau gerenciamento da pandemia, a economia também sofreu revezes e hoje milhões de brasileiros sofrem as agruras da fome e do desemprego.

No meio ambiente, a boiada do ex-ministro Ricardo Salles, foi passando e quebrando todo o regramento para o meio ambiente. De acordo com a visão tétrica e gananciosa de Salles, a natureza, e a proteção a ela, ficavam em segundo plano. O primeiro plano era destinado aos madeireiros, garimpeiros, grileiros de terra, o pessoal do agronegócio, enfim essa cambada de gente que atua de modo ilegal e para os quais o que interessa é apenas o lucro, e dane-se o meio ambiente. Projetos para a cultura? Zero; Projetos para educação? Zero.

A impressão que se tem é que o governo é um avião que levantou voo sem plano de voo. E no qual, durante a viagem, os motores começaram a dar pane, sem que o piloto tivesse a menor preocupação de resolver o problema. E agora que o avião já está em pleno voo, o melhor é rezar para ele não cair.... Ou para que o piloto seja substituído. Ou até mesmo para que não que ele não faça nenhuma burrada, nenhuma manobra arriscada que atire o avião sobre rochas montanhosas.

E lá está de novo o povo nas ruas pedindo o impeachment do presidente. Mas tem algo diferente no ar. E não é algo bom. Há no momento presente uma divisão entre os brasileiros, uma cisão que está sendo muito nociva para o país. Há os radicais de extrema direita que, insuflado pelo próprio presidente da República, falam em invadir Congresso, STF, e quem mais se colocar no caminho do presidente.

Tão manipulados como os bonecos nos teatros de marionetes, os bolsonaristas nem se dão conta de que estão sendo usados, não para um projeto de país, mas para um projeto pessoal de poder que apenas beneficia o próprio presidente, Jair Bolsonaro, seus filhos, e demais familiares, e os grupos que o apoiam formados, em sua grande maioria, por grandes empresários, pastores evangélicos, e militares.

Não esperem os mais pobres se verem representados nesse governo, porque não serão. Esse é um governo altamente elitista no qual qualquer pauta social, que não sejam as puramente eleitoreiras, é tratada como coisa de comunista. Aliás, os termos “comunista” e “comunismo” perderam completamente a definição gramatical e o sentido histórico. “Qualquer pessoa que discorde das ideais e que não comungue dos ideais do presidente”, essa é a definição dos termos citados para o bolsonarismo. Definição pobre e vazia assim como pobre e vazio é o movimento? chamado bolsonarismo.

Por falar nisso, deve dar um trabalho danado ser bolsonarista. Um dia, Bolsonaro diz que a vacina contra a Covid não é eficaz, outro dia diz que a vacina funciona, para no outro dia voltar a dizer que vacina não tem eficácia. No dia 07 de setembro fez ataques inimagináveis para um presidente da República fazer ao STF e seus ministros, no outro dia diz que está tudo bem, e que um Poder deve respeitar o outro. Coitados, dos bolsonaristas! Devem ficar o tempo se dizendo para logo em seguida se desdizer. Como baratas tontas correm para cá e para lá tentando justificar as posições do presidente.

No dia 12 setembro, foi a vez de manifestações contra o presidente Jair Bolsonaro, organizadas desta vez, pelos mesmos movimentos que, anteriormente, haviam saído às ruas pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff. Se nos anos de 2014/2015 o MBL e Vem pra Rua encheram as ruas de gente, no último domingo o movimento foi um fracasso. Principalmente, se comparados aos movimentos pró governo ocorridas no domingo anterior, 7 de setembro.

E porque o protesto foi um fracasso? Porque o PT, que muitos pensavam morto depois da prisão de Lula e dos escândalos de corrupção, prova que está muito vivo com a escalada de Lula nas pesquisas de intenção de votos para as eleições do ano que vem. Nesse cenário, o slogan que os movimentos escolheram para os protestos de domingo foi: “Nem Lula, nem Bolsonaro”. Agora, imaginem se a esquerda iria se juntar a um movimento que não aceite a figura de Lula.

E por um lado os petistas e outros partidos de esquerda tem razão, se olharmos pelo ponto de vista da lógica, ou até mesmo do orgulho ferido. Em manifestações anteriores, MBL e Vem pra Rua insuflam o povo a gritar “Fora Dilma” Fora PT”, “Lula na cadeia”, e depois o PT se juntar a esse povo?

Além do mais os movimentos citados acima, consideram Bolsonaro um traidor, não porque Bolsonaro esteja atacando a democracia, mas sim, porque ele não foi tão radical quanto prometeu. As pautas sociais também não são bem-vindas no MBL. Ou seja, eles criticam o bolsonarismo, mas as pautas defendidas por eles não se afastam muito das pautas defendidas por Bolsonaro.

Por exemplo, nas eleições para a prefeitura de São Paulo nas eleições do ano passado, Arthur do Val, integrante do MBL, foi candidato pelo partido Patriotas. Seguindo a cartilha do bolsonarismo, cartilha que agora ele rejeita, escolheu um inimigo para bater. E adivinhem qual inimigo Arthur do Val escolheu? O padre Júlio Lancellotti.

Padre Júlio faz, na cidade de São Paulo, um belíssimo trabalho de ajuda e amparo aos sem tetos, a crianças e adolescentes em situação de risco, aos dependentes de drogas na região da Cracolandia, e diversos outros grupos marginalizados na capital paulista.

Em suas redes sociais, durante a campanha à prefeitura de São Paulo no ano passado, o candidato Arthur do Val, postou: “O que o Padre Lancellotti faz é deplorável. A Igreja Católica tem uma linda histórica e não pode ficar à mercê de um cafetão da miséria. Nunca ameacei ninguém, nem ele. Ele é uma das maiores farsas do Brasil, em breve vocês saberão! Vou desmascarar esse Padre”.

Duas perguntas: Um indivíduo que ataca o Pe. Júlio e o trabalho que ele faz, a quem irá defender? Vocês acham que o Pe. Júlio e outros que fazem trabalho semelhante iriam participar de uma manifestação de quem os chama de inimigos?

Enfim, para confundir ainda mais a cabeça dos bolsonaristas, após os protestos do dia 07 de setembro, Bolsonaro escreveu uma “Declaração à Nação”, melhor dizendo, o ex-presidente Michel Temer escreveu a carta, e Bolsonaro apenas deve ter mudado um outro ponto, e assinado.

A Declaração, na verdade, é um recuo nos ataques que ele havia feito ao STF e, em especial, ao ministro Alexandre de Moraes, durante os protestos de 07 de setembro. Ele que, naquela ocasião, chamara Moraes de “canalha” na Declaração exalta suas qualidades de jurista e professor. Ou seja, uma guinada de 180 graus no tratamento dado a Moraes. Esse recuo veio após as reações bastante negativas do STF, do TSE, do Congresso, e de vários outros setores da sociedade.

Partidos de Centro começaram até a falar em impeachment do presidente. Depois do recuo de Bolsonaro, eles parecem também ter recuado nesse intento.

O fato é que esse blog, como dito em outras ocasiões, não acredita em Bolsonaro paz e amor. Ele é do conflito, de insuflar uns contra os outros, não gosta da democracia, nem dos seus pesos e contrapesos. O recuo, ocorrido depois de uma sessão de conselhos de Michel Temer, vem apenas para preservar os seus próprios interesses. Até quando durará essa trégua, não se sabe. Mas, hora ou outra o presidente voltará a mostrar a sua verdadeira natureza.

Isso me lembra a Fábula do Escorpião e da Rã, de Esopo, que agora reproduzo aqui:

Houve um incêndio na floresta e todos precisavam atravessar um rio para se salvar. O escorpião, desesperado, chegou à beira do rio e suplicou à rã que o carregasse nas costas até a outra margem.

– Eu não sou louca. Sei muito bem o que você faz às pessoas que se aproximam de você. – Disse a rã.

– Mas, veja – argumentou o escorpião – se eu a picar com o meu ferrão, você morreria, e eu afundaria junto, porque não sei nadar.

A rã concluiu que era um raciocínio razoável e o escorpião não seria burro o bastante de matá-la, morrendo em seguida. Ela tinha um bom coração, e parecia que os riscos seriam mínimos, então resolveu salvá-lo. O escorpião subiu nas costas da rã e sentiu-se bem ao tocar a pele macia da rã. Via de regra, ele só picava com o ferrão, era estranho estar em contato com alguém. Ele estava feliz também por navegar, a rã nadando tranquilamente… a rã poderia ser uma boa amiga.

O escorpião virou para ver a floresta incendiada, e viu-se refletido, corpo inteiro, na água do rio: seu rabo, antes ereto, agora dobrado, desarmado. Escorpião de rabo mole… todos ririam dele. Ele sentiu ódio da rã, não podia ser esse escorpião… enrijeceu o rabo, picou a rã.

Já sentindo as dores do veneno e sentindo turvar-se a vista, quase sucumbindo, a rã perguntou:

— Por quê fez isso? Agora nós dois vamos morrer.

— Desculpe, mas não pude evitar.... É a minha natureza, respondeu o escorpião.

E assim vamos caminhando caros leitores e leitoras. Havia o PT e os fanáticos seguidores do Lula. Que acreditam e sempre acreditaram que ele é inocente. Lula foi para a cadeia e não concorreu às eleições de 2018. Manobra?

Então surgiu um “mito” e as pessoas ficaram fascinadas por ele. O mito mostrou-se mais perigoso que Lula no seu agir. Mais disposto a minar o poder das instituições e, até mesmo, dá uma rasteira na democracia. Ele adotou uma estratégia errada para conter a pandemia, e agora adota estratégia errada também para a retomada econômica. O país atravessa uma situação complicada. Parte da elite que elegeu Bolsonaro percebe que cometeu um grande erro. Não quer a volta do Lula, enquanto Lula sobe nas pesquisas para o ano que vem. Tentam construir uma terceira via, mas haverá tempo para isso? De onde surgirá esse cavaleiro do apocalipse? Há algum nome forte para se sobrepor a Lula e Bolsonaro? Se há, onde estará ele agora?

A história recente do país mostra que os brasileiros sabem fazer manifestações contundentes, coloridas, cheias de significados. Parece-me que faltam agora escolher os seus candidatos sem endeusa-los, ou coloca-los na condição de mitos nem de heróis. Não precisamos de governantes que sejam mitos nem que sejam heróis, bastam apenas que sejam humanos, e dispostos a enfrentar os problemas que o país atravessa com serenidade e sabedoria, sem arroubos autoritários nem arrogâncias.


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