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República Federativa da Corrupção

Posted by Cottidianos on 23:38
 Quarta-feira, 30 de março

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
(Ideologia – Cazuza)



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Cheio de pontos de interrogação em relação à situação política e econômica de nosso país, é assim que me sinto, então resolvi expressar isso linguagem simbólica, através dos pontos de interrogação que abrem esse texto.

Profundamente mergulhado em uma crise política sem precedentes, com um processo de impeachment em andamento, um governo sitiado, e políticos que esperam por uma fatia do poder como os abutres esperam por um bocado de carne, tudo me parece a mim, entre nevoas.

Não gostaria de ser pessimista, e isso na verdade, isso nem é pessimismo, mas uma observação concreta da realidade, mas as perspectivas de futuro em nosso país são um tanto quanto sombrias.

Esta semana, o PMBD decidiu, finalmente, pular do barco do governo, e isso joga o impeachment de Dilma em um cenário ainda mais provável, pois outros partidos da base aliada podem seguir o mesmo exemplo e, com isso, lá se vão os apoios que a presidente poderia ter a fim de evitar o pior. Aliás, conquistar apoios e aliados foi o que Dilma nunca soube fazer, faltou-lhe este dom.

Entretanto, na política, tal qual na natureza, colhe-se o que se planta. E Dilma colhe o que plantou. Uma sucessão de erros marcou o seu primeiro e segundo mandato. O último deles, que o mesmo efeito que um tiro no próprio pé, foi a tentativa de colocar Lula como uma espécie de seu primeiro-ministro na Casa Civil. Fosse o objetivo apenas as manobras políticas que, Lula, com certeza, saberia muito bem conduzir, não haveria problema algum, ou seja, poderia até haver problemas, mas estaria tudo dentro da mais perfeita legalidade. A questão é que, como ficou evidente, nas gravações telefônicas sigilosas, cuja divulgação foi autorizada pelo juiz Sérgio Moro, o objetivo não tinha nada de nobre, muito pelo contrario, a grande jogada era colocar Lula no ministério, dá-lhe foro privilegiado, e escondê-lo da justiça. Com isso, o ex-presidente, que era para ser solução, tornou-se para o governo, um grande problema.

Agora, as sessões que tratam do processo de impeachment na Câmara caminham a passos largos, e afunila-se o prazo para que a presidente apresente sua defesa.

O governo usa a estratégia de alardear para o Brasil e para o mundo, que está sendo vítima de um golpe. Tudo conversa fiada. Na verdade, o processo de impeachment está dentro da legalidade, é garantido pela nossa Carta Maior. Mas um processo de impeachment mesmo dentro da legalidade, e atingindo sua finalidade que é o impedimento da presidente, não nos garante um futuro governo legítimo. Não do modo como os nossos quadros políticos estão corrompidos pelo vírus da corrupção.

República da Corrupção. É triste, mas é isso no qual se tornou o país. É estranho que dos 65 deputados que analisarão o processo de impeachment, 40 deles, enfrentem acusações de envolvimento em corrupção. É estranho que o processo de impeachment seja conduzido por um presidente da Câmara cínico, corrupto, e debochador das instituições, e do povo brasileiro. É estranho que, se a decisão sobre o impedimento de Dilma for para o Senado, lá também o presidente do Senado, e alguns senadores estejam também envolvidos em corrupção. É estranho que o PMDB esteja tão envolvido nos escândalos de desvios de dinheiro da Petrobrás quanto o PT. Idem para os partidos de oposição. Acho tudo muito estranho e surreal, penso que em países ditos de primeiro mundo isso seria inimaginável. Sinal de que ainda temos uma longa caminhada para receber esse nobre título de país de primeiro mundo.

Apenas sei que apenas um milagre salvará Dilma do impeachment. Também sei que apenas um milagre fará que com que o próximo a ocupar a cadeira presidencial do nosso país seja um político honesto.

Também sei que a saída de Dilma, não resolvera os nossos problemas, mas, pelo menos, terá mostrado à classe política que não aceitamos mais governos ilegítimos, governos que não nos representem.

Basta dar uma olhada para as casas legislativas de todo o país, tanto em nível estadual, quanto municipal, para ver que por lá também pipocam casos de irregularidades, também por lá impera soberana a corrupção. É isso que nos incomoda, a nós brasileiros, tanto essa onda de criminalidade política, quanto a impunidade de que gozam esses políticos bandidos, que se escondem debaixo do manto da lei, não para defendê-la, mas para manchá-la. Precisamos ir às ruas, não apenas para derrubar o governo Dilma, juntamente com todos os atores vilões que o compõem, mas para lavar o nosso país de toda essa onda de descaso para com a população e para com a coisa pública. Com ou sem impeachment, precisamos continuar lutando para que o nosso país deixe de ser uma REPÚBLICA FEDERATIVA DA CORRUPÇÃO e, passe a ostentar o belo e forte nome oficial que lhe é de direito, qual seja, REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Abaixo, compartilho matéria do jornalista Luiz Rufato, publicada no site do jornal ElPaís Brasil, no dia 23 de março.

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O legado da nossa miséria

A decisão final do Congresso sobre o impeachment, seja qual for ela, embora revestida de legalidade, carecerá de legitimidade

LUIZ RUFFATO

Em 2009, ancorado em excelentes indicadores econômicos que lhe davam uma altíssima taxa de popularidade (72%), o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva resolveu impor o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata do PT à sua sucessão. Dilma, que embora tivesse um histórico de militância na esquerda nunca havia concorrido a um cargo eletivo, obteve 56% dos votos válidos, tornando-se a primeira mulher a alcançar o cargo máximo do Poder Executivo brasileiro. Com uma taxa de desemprego estável e a inflação sob controle, mas desgastada por denúncias de corrupção contra membros de seu partido, ela reelegeu-se em 2014 com uma margem apertada, 51% dos votos válidos.

A ampliação do cerco a importantes membros do PT pelas investigações da Operação Lava-Jato e o acelerado colapso da economia resultaram no aprofundamento da crise institucional e no consequente abandono de Dilma por seus aliados – e até mesmo pelos caciques de seu partido. Envolvido em denúncias de corrupção, Lula tenta agora reaproximar-se da presidente, oferecendo-se como uma espécie de primeiro-ministro em um regime presidencialista. Na prática, ele aposta que com seu inegável carisma conseguirá recuperar as rédeas da governabilidade, retomando o crescimento econômico e cacifando-se para as eleições de 2018. Ao mesmo tempo, sela o suicídio político de sua antiga pupila.

Neutralizada no comando do governo, Dilma enfrenta ainda um estranho processo de impeachment. Há investigações em curso, mas nenhuma acusação formal contra ela. As alegações que justificam os pedidos de seu afastamento da Presidência da República são difusas e obedecem muito mais a uma lógica de vingança que de justiça. Pressionados pelas ruas – 68% apoiam a saída de Dilma, segundo pesquisa Datafolha –, a maior parte dos parlamentares vai deliberar baseado em obscuros interesses particulares.

A comissão especial da Câmara dos Deputados que determinará a instalação ou não do processo de impeachment tem 65 membros – 40 deles receberam dinheiro de empresas investigadas pela Operação Lava-Jato para financiar suas campanhas e 10 são réus em processo no Supremo Tribunal Federal (entre eles, Paulo Maluf, que tem seu nome na lista de procurados pela Interpol). Caso aprovado, o processo será discutido no plenário da Casa, que tem como presidente Eduardo Cunha, também réu em processo no STF e alvo de pedido de cassação de seu mandato no Conselho de Ética. A Câmara totaliza 53 réus em processos na Suprema Corte, além de outros 148 deputados que respondem a acusações criminais, entre eles os presidentes do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho da Força); do PR, Alfredo Nascimento; do PTB, Cristiane Brasil; e do PCdoB, Luciana Santos.

Se aprovado na Câmara por maioria absoluta – 257 votos favoráveis – o processo sobe para o Senado, que, por maioria simples – metade mais um dos 81 membros – decidirá se referenda ou não a instauração do processo de impeachment contra a presidente Dilma. Quatro senadores são réus em processo no STF e outros 31 respondem a inquérito ou ação penal, entre eles o presidente da Casa, Renan Calheiros, os presidentes do DEM, José Agripino Maia, e do PP, Ciro Nogueira, e o ex-presidente Fernando Collor. A decisão final do Congresso, seja qual for, embora revestida de legalidade, carecerá de legitimidade.

Na hipótese de afastamento definitivo de Dilma Rousseff, assumiria o vice, Michel Temer, que vem sistematicamente trabalhando nas sombras pela saída da presidente, seja promovendo o afastamento do PMDB do governo, seja articulando uma aliança com o PSDB. Assim, Temer, que também preside o PMDB, o partido que durante a curta história da democracia vem se especializando em criar dificuldades para vender facilidades, ocuparia um cargo para o qual não obteve um único voto e que por mérito próprio nunca alcançaria. Pesquisa Datafolha mostra que só 16% dos entrevistados acreditam que, caso assuma o governo, o desempenho de Temer seria bom ou ótimo.

Hoje, o principal interlocutor de Temer é o PSDB, partido presidido pelo senador Aécio Neves, candidato derrotado em 2014, e também envolvido em denúncias de corrupção na Operação Lava-Jato. Os tucanos, por meio de suas lideranças, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e o próprio Aécio Neves, vêm demonstrando enorme regozijo com a possibilidade de assumir indiretamente um mandato que perderam na disputa direta de votos. De novo, uma situação que não será desprovida de legalidade, mas que com certeza carecerá de legitimidade.

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O poder da ressurreição

Posted by Cottidianos on 00:08
Segunda-feira, 28 de março


A ressurreição de Cristo está para o cristianismo como o fermento esta para a massa de bolo, ou como a pedra está para o alicerce de uma construção. Como diz o apostolo Paulo: “Se Cristo não ressuscitou, vã é nossa pregação, e vã é nossa fé”.

É impressionante como a crença num Deus que voltou à vida, vencendo a escuridão do sepulcro, conseguiu, incólume, atravessar, mais de dois milênios, vencendo o pensamento materialista, vencendo o avanço da ciência de da tecnologia, e tantas outras mudanças que se operaram no mundo depois de seu acontecimento. O que faz essa crença, ainda nos dias de hoje, tão arrebatadora, é um mistério indecifrável. Enfim, é como diz Jesus a Tomé: “Você acreditou porque viu. Felizes aqueles que acreditarão sem ter visto”.

As lições de Jesus, inclusive de sua Paixão, Morte e Ressurreição, nos animam a continuar lutando e acreditando, apesar de todas as dificuldades, pois sabemos que por maiores que sejam elas, estamos nas mãos de um Deus que venceu a morte e, com ele, também nós venceremos, e com ele ressuscitaremos gloriosos.

Abaixo, compartilho texto de minha autoria, escrito com base em relatos bíblicos.

Aproveito para desejar a todos uma serena e abençoada semana.

 FELIZ PÁSCOA!

***


O poder da ressurreição

Era madrugada de domingo em Jerusalém, cidade santa. Dali a algumas horas o sol ressurgiria em todo o seu esplendor para cumprir mais uma jornada. Uma mulher caminhava. Tristemente caminhava com um ramalhete de flores nos braços. Levava ela também, um pequeno frasco com bálsamo aromático, que fora preparado com essências de nardo e de flor de lótus, misturado com puríssimo óleo de oliveira. Do frasco, rescendia essa perfumada mistura inundando o ambiente de agradável perfume. O vento agitava suavemente as folhas das árvores à beira do caminho. Olhando para o alto, ainda se podia ver a estrela d’Alva, dona soberana da madrugada, cintilar em todo o seu esplendor.

Após algum tempo de caminhada, ouviu, ao longe, o cantar de um galo, anunciando que era quase chegada a hora do amanhecer. No infinito, uma barra avermelhada começava a se desenhar no horizonte anunciando a chegada do astro rei. Tivesse sol alto, ela conseguiria ver todo o verdor que se espalhava pelos vales do Cédron e do Tiroféon, formando um vastíssimo tapete verde que se estendia a perder de vista. Veria também as palmeiras tremulando ao sabor do vento, nas colinas da estrada para Jericó.

O animado canto dos pardais e dos pintassilgos servia para amenizar-lhe a tristeza que lhe ia ao coração. O nome dessa mulher era Maria Madalena. Lágrimas silenciosas desciam de seu rosto. Os três últimos dias tinham sido para ela muito intensos, tristes, e dolorosos. Presenciara seu melhor amigo, e pai espiritual, ser injustamente, assassinado no alto de uma cruz, sem que ela pudesse fazer qualquer coisa para impedir.

Rompia o dia quando ela avistou a colina do Gólgota, onde fora sepultado seu querido amigo e pai espiritual. Havia acompanhado o Mestre — como carinhosamente, o chamava desde o início de seu ministério — e afeiçoara-se a ele. Havia se tornado uma de suas seguidoras mais fieis.  Havia acompanhado as curas que ele fizera, os discursos que pregara, o carinho e amor com que ele sempre tratava a todos. Ela era testemunha de todo o bem que ele fizera, não somente a ela, mas a milhares de outras pessoas.

Mas Jesus, pensava ela, havia contrariado interesses dos grupos religiosos dominantes. Ele anunciava um reino que não era deste mundo, e todo o reino precisa de um rei que o governe. Esse era um dos medos dos chefes dos sacerdotes. Outra coisa abominável em toda essa história foi a inveja que eles sentiam do Mestre. Jesus era conhecido e aclamado por onde passava. Não se deixava guiar rigidamente pelas leis judaicas, e por isso também era visto como subversivo. Por esses e outros motivos os chefes dos sacerdotes incitaram o povo contra Jesus, e a pressão dos líderes religiosos forçou o governador, Pôncio Pilatos, a tomar a decisão de mandar crucificá-lo, mesmo que não encontrasse nele culpa alguma.

Mas como eles estavam errados, lamentava ela. O reino que Jesus queria estabelecer era o reino do amor, do perdão, do respeito aos mais necessitados. O Mestre queria apenas dar voz e vez, àqueles que eram jogados à margem da sociedade.

Apesar de estar muito próximo ao Mestre, e aos seus discípulos, e acompanhando-os em quase todas as missões, ela não entendia certas coisas que ele falava. Era como se Jesus falasse em código, tanto a ela, quanto aos discípulos. Dentre esses tantos enigmas propostos pelo Mestre, um deles lhe vinha à mente com mais força e intensidade. Estavam subindo para Jerusalém para a festa da Páscoa e o Mestre chamou os seus discípulos em particular. Ela estava presente, pois a comitiva precisava de todo o apoio naquele momento. Lembrava-se nitidamente das palavras ditas por ele naquela ocasião. Jesus dissera, em voz pausada e suave, como se estivesse sussurrando um grande segredo. Um suor frio percorreu o corpo de Maria Madalena na ocasião, pois as palavras dele pareciam mais uma despedida, uma previsão sombria. Assim se expressara Jesus: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o filho do homem vai ser entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão a morte para zombarem dele, flagelá-lo, e crucificá-lo. E no terceiro dia ressuscitara”.

Enquanto prosseguiam a caminhada para Jerusalém, aquelas palavras martelavam sua cabeça. O filho do homem ia ser entregue para sofre toda uma série de castigos, e depois ser condenado à morte? Quem seria esse filho do homem? Estaria Jesus falando dele mesmo? É certo e sabido que os chefes dos sacerdotes e doutores da Lei tinha era muita inveja do Mestre pelos milagres que fazia e da popularidade que ele gozava, mas daí a condená-lo à morte? Não, definitivamente, isso não era possível. Mas então quem seria aquele filho do homem do qual ele falava?

Hoje, ela compreendia as palavras do Mestre de forma tão clara como água cristalina. Jesus falava de si mesmo. Previa sua própria condenação, flagelação e condenação à morte? Mas, então, se sabia de todas essas coisas, porque insistira em subir para Jerusalém? Por mais que pensasse nisso não conseguia compreender. Havia ainda mais um mistério o qual ela não conseguira decifrar. E esse mistério estava nas últimas palavras do Mestre naquele momento em que falara aos discípulos na subida para Jerusalém. “E no terceiro dia ressuscitará” .

Agora ela sabia que Jesus falara de si mesmo, prevendo sua própria morte. Mas que significaria ressuscitar? E mais ainda ressuscitar no terceiro dia? É fato que já haviam se passado três dias da morte do Mestre. Se algum mistério ainda havia a ser revelado, estava bem próximo.

Finalmente, aproximou do sepulcro. Achou estranha a ausência dos soldados, que ainda deveriam estar de guarda ali — como era de costume para com os que morriam condenados na cruz. Ao chegar mais perto, viu que a pedra do túmulo havia sido retirada. Ela havia sido testemunha de que fora ali mesmo, naquele sepulcro, que agora estava aberto, que ela havia visto colocarem o corpo do Mestre. Maria Madalena olhou rapidamente dentro do sepulcro, e um pavor enorme percorreu seu corpo: Ela não vira ali nenhum corpo.

Imediatamente, ela saiu correndo e, no caminho, encontrou Pedro e João, que também estavam indo ao sepulcro. Apavorada, disse a eles: “Tiraram o corpo do Mestre do túmulo e não sei onde o colocaram. Sei apenas que a pedra que fechava o túmulo estava aberta”.

“Como assim, não há nenhum corpo no túmulo?” perguntou Pedro. Em seguida, João e Pedro saíram correndo a fim de ver o que havia acontecido. João chegou primeiro ao túmulo, e viu que os panos de linho que envolveu o corpo de Jesus estavam no chão, mas não entrou. Pedro chegou ofegante por último, e entrou no sepulcro. Viu os panos de linho no chão, da mesma forma que João havia visto, mas notou que o sudário, pano que havia sido usado para cobrir a cabeça de Jesus, não estava junto com os panos de linho, mas sim enrolado num lugar à parte.

Os dois discípulos voltaram para a comunidade a fim de dar a notícia do sumiço do corpo de Jesus ao outros discípulos. Maria Madalena ficou ao pé do túmulo. Ela chorava e por alguns momentos, baixou os olhos, pensativa. Quando os ergueu novamente, deparou-se com dois anjos. Eles estavam vestidos de branco, e sentados no lugar onde Jesus havia sido colocado. Enquanto um deles olhava para ela com olhos cheios de conforto, o outro lhe dirigiu à palavra dizendo: “Mulher, porque choras?” “Estamos aflitos porque levaram o corpo de Jesus e não sabemos onde o colocaram”, disse ela.

Maria Madalena, notou uma sombra que vinha de trás dela. Levantou-se e viu um homem que lhe fez a mesma pergunta que o anjo acabara de lhe fazer, acrescentando: “Quem você procura?”. Pensando que aquele homem fosse o jardineiro, ela perguntou: “Onde foi que você colocou o corpo de Jesus? Diga onde o pôs que iremos buscá-lo?” Foi então que ele pronunciou o nome dela: “Maria”.  Maria Madalena sentiu como se a cegueira que havia em seus olhos tivesse sido curada. Nesse momento, ela reconheceu o Mestre, e tomada de surpresa, ela disse: “Mestre”, e quis abraçá-lo, mas ele lhe disse: “Não me segure porque ainda não voltei para o meu Pai, que também é Pai de vocês. Agora vá e diga aos discípulos que isso é ressurreição. Vencer a morte é ressuscitar”.

Emocionada, ela foi e fez como Jesus havia pedido. Mesmo assim, eles não compreenderam a mensagem. Foi preciso que Jesus aparecesse a eles e lhe desse a boa nova. Tomé não estava junto com os discípulos quando Jesus apareceu. Quando os discípulos lhe contaram a maravilhosa novidade, ele, obviamente não acreditou, e disse: “Se eu não vir a marca dos pregos nas mãos dele, e se eu não colocar a mão no lado dele, não acreditarei”.

Passada uma semana, os discípulos estavam reunidos, em uma sala à portas fechadas e, dessa vez, Tomé estava com eles. Então Jesus entrou, posicionou-se no meio deles, e disse: “A paz esteja convosco!” Então, olhando para Tomé, cujos olhos estavam arregalados, tomados pela grande surpresa, Jesus disse, estendendo as mãos: “Tomé, você que não acreditava, estenda suas mãos e ponha seu dedo em minhas mãos, e toque o meu lado”. De joelhos, maravilhado, Tomé conseguiu apenas dizer: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus olhou mansamente para ele, e disse: “Tomé, você acreditou por que viu. Felizes aqueles que acreditarão sem ter visto”.

Jesus ficou com ele ainda por alguns dias, preparando-os e orientando-os para darem prosseguimento, sozinhos, ao anúncio do Reino de Deus.

Muitos anos depois, através da janela, olhando o céu que se levantava no horizonte, Maria Madalena refletia sobre essas coisas. Tudo para ela ainda era um grande mistério para o qual não tinha explicação. Não tinha explicação mas acreditava verdadeiramente. Isso era o que se costuma chamar de fé: acreditar nas coisas que não vemos. Ela, outras mulheres seguidoras de Jesus, e os discípulos, haviam tido a ventura de vê-lo ressuscitado, mas muitos outros creram sem tê-lo visto, e esses mereciam maiores venturas que eles. Até aquele momento, e depois de ter perseverado por tantos anos na fé no Deus que vence a morte, ela não entendia a mudança na fisionomia de Jesus quando ele apareceu a algumas pessoas, inclusive para ela.

Ressurreição! Essa era para ela uma palavra chave e pedra de fundamental importância na religião que dobrou os joelhos do arrogante Império Romano. Pois essa grande vitória do cristianismo como religião, não veio dos belos discursos feitos por Jesus, pois, certamente, havia em Roma outros oradores tão eficientes quanto o Mestre, nem veio das curas que ele fazia, pois também em Roma havia que curasse os enfermos, nem da popularidade que o Mestre gozava entre o povo, havia outros profetas bem populares e contemporâneos a ele. Mas fora a ressurreição que vencera o jogo, transformando o cristianismo de seita em religião oficial do Império.

Ademais, se Cristo não houvesse ressuscitado, não havia porque continuar acreditando. Mas ele venceu a morte, e se ele venceu, pensava ela, todo aquele acredita também pode obter a mesma vitória. Os ensinamentos de Jesus, juntamente, com sua paixão, morte e ressurreição, haviam-na tornado mais forte, mais tolerante para com a natureza humana. A lição da cruz a havia ensinado que, por maiores que sejam as dificuldades, as contrariedades, invejas e perseguições, muito maior é força que Deus nos dá para superá-las. E a certeza de que um dia também estaria na casa do Pai, a animava a nunca desistir da luta, a nunca esmorecer diante das batalhas da vida, e a seguir sua missão espalhando por onde quer que passasse, o bem, o amor, e a caridade.

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Momento de fé na lavagem das escadarias da Catedral de Campinas

Posted by Cottidianos on 00:03
Domingo, 27 de março


No agitado centro de Campinas, se ergue imponente e grandiosa, a Catedral Metropolitana de Campinas. Em meio às lojas e edifícios comerciais, produtos do consumismo, com seu silêncio ela parece dizer: “Nem só de pão vive o homem”. Seu estilo dominante é o neoclássico, e sua cor, restaurada, é de um amarelo tão vivo quanto o manto da cor de Oxum.

O maior e mais importante templo religioso católico de Campinas, começou a ser erguida em 1807, e muitos negros escravos trabalharam na construção daquele edifício que procura unir terra e céus. Os negros, literalmente, colocaram a mão na massa, mas era reservada sua participação no banquete, pois os primeiros lugares à mesa do Senhor, eram reservados aos barões, baronesas, sinhazinhas e sinhozinhos e, se sobrasse algumas migalhas do corpo do Senhor, essas eram distribuídas aos negros. Era assim naquela sociedade extremamente escravocrata da imperial Vila de São Carlos.

A pequena Vila de São Carlos cresceu, tornou-se a grande cidade de Campinas, porém a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, continuou irretocavelmente majestosa, ocupando posição de destaque no centro da cidade.

Porém o passado sempre volta, e aqueles que foram humilhados, discriminados, pedem passagem, exigem reparação pelos erros cometidos, e fazem isso lutando com as armas do bem, da justiça e da paz. Não querem sangue derramado, querem paz no coração de seus antepassados, deles mesmos, seus descendentes, e no coração da sociedade na qual vivem.

Neste Sábado de Aleluia, sob quente sol, a praça em frente à Catedral de Campinas foi invadida pelo branco da paz, pelo branco de Oxalá. Aquele seria cenário da lavagem das escadarias da Catedral, ato realizado pelo povo de santo desde o ano de 1985. O evento é realizado desde aquele ano pelas organizadoras, Mãe Dango Hongolo e Mãe Corajacy.

Os filhos, mães, e pais de santos, se reuniram, inicialmente, em frente à Estação Cultura, antiga estação ferroviária de Campinas. Desceram à Rua Treze de Maio, outra rua histórica de Campinas. Traziam na cabeça seus cântaros repletos de água de cheiro, flores brancas nas mãos, e muita fé no coração. Após atravessar o mar de gente que toma a Rua Treze de Maio, todos os dias, e não apenas aos sábado, chegaram à frente da Catedral, onde eram aguardados por centenas de pessoas.


Ao som dos atabaques, entraram na área de segurança e, cercado por grades de ferro, cedidas pela Prefeitura Municipal, fizeram uma grande roda, e giraram, e cantaram, exaltando às nações africanas das quais vieram seus antepassados. Também entoaram canções religiosas louvando aos Orixás. Moços, velhos, crianças, negros e brancos irmanados numa só fé, numa só religião que, apesar de praticar o amor e a caridade, ainda é bastante discriminada na sociedade campineira, e em toda a sociedade brasileira.

Em seguida, derramaram seus perfumados cântaros nas escadarias da Catedral, pegaram suas vassouras e começaram a lavagem.

Sob as palmeiras que ladeiam a catedral, que não eram suficientes para impedir o sol forte que caia sobre todos, fiquei pensando em quão simbólico era aquele ato. Tão simples, mas ao tempo divino.

Aquele misto de cerimônia cultural-religiosa era também um ato de afirmação do povo negro em uma sociedade preconceituosa, duplamente preconceituosa, primeiro para com os negros, e segundo para a religião praticada por eles. O culto aos Orixás representava ontem, o bálsamo do qual os negros se utilizavam nas senzalas para diminuir as dores e chagas causadas pelo açoite dos chicotes, e, hoje, continua sendo o bálsamo aos quais os negros recorrem para aliviar as dores e chagas causadas pelo preconceito e pela discriminação social e racial.

Pensei naquele momento também em toda a sujeira que invade nosso país, e invoquei naquela hora o poder do machado de Xangô, orixá da justiça, e pedi a ele que afaste de nós os governantes maus e perversos que, com suas atitudes ilícitas, causam o mal a tantos irmãos, brasileiros como eu.

Naquela hora sagrada, e naquele sagrado local, olhei para o alto, para além das palmeiras e do sol radiante, e orei a Xangô:

Kaô meu Pai, Kaô Ô Cabecilê Obá!
O Senhor que é o Rei da Justiça, faça valer por intermédio de seus doze ministros, a vontade Divina.
Purifique minha alma na cachoeira. Se errei, conceda-me a luz do perdão.
Faça de seu peito largo e forte meu escudo, para que os olhos de meus inimigos não me encontrem.
Empresta-me sua força de guerreiro, Para combater a injustiça e a cobiça.
Minha devoção ofereço.  Que seja feita a justiça para todo o sempre
É meu Pai e meu defensor. Conceda-me a graça de receber sua luz e proteção.
Kaô meu Pai, Kaô! Ô Cabecilê Obá!
Poderoso Orixá de Umbanda, Pai, companheiro e guia.
Senhor do equilíbrio e da justiça. Auxiliar da Lei do Carma,
Tu que acompanhas pela eternidade, todas as causas, todas as defesas, acusações e eleições, promanadas das ações desordenadas, ou dos atos impuros e benfazejos que praticamos.
Senhor de todos os maciços, pedreiras e cordilheiras, símbolo e sede da tua atuação planetária no físico e astral.
Soberano Senhor do Equilíbrio e da equidade, Velai pela fortaleza de nosso caráter. Ajuda-nos com tua prudência.
Defendei-nos das nossas perversões, ingratidões, antipatias, falsidades, incontenção da palavra e julgamento indevido dos atos dos nossos irmãos em humanidade. Só Tu és o grande Julgador!
Kaô Cabecilê! Obá meu Pai Xangô!

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Paixão, morte e ressurreição do Brasil

Posted by Cottidianos on 00:33
Sexta-feira, 25 de março

Veja!

Não diga que a canção

Está perdida / Tenha fé em Deus

Tenha fé na vida / Tente outra vez!

Beba! 

Pois a água viva / Ainda tá na fonte

(Tente outra vez!)

Você tem dois pés / Para cruzar a ponte

Nada acabou!

(Tente outra vez – Raul Seixas)
 



 O tempo parece estar correndo na velocidade do ano luz. Já nos aproximamos do fim de março. Chegamos a mais uma semana de grande importância no mundo cristão, que é a Semana Santa. Semana que, segundo relatos bíblicos, aconteceu o injusto julgamento de Jesus Cristo. Julgamento esse que resultou na sua paixão e morte. O Deus-homem foi castigado, humilhado e ferido. Os líderes políticos e religiosos romanos da época, jogaram Jesus nas mãos dos soldados que o castigaram, humilharam e maltrataram impiedosamente. Esses mesmos líderes que queriam a morte de Jesus, fizeram do povo massa de manobra, a ponto de eles preferirem à libertação de um criminoso, a salvar um inocente da cruz. Mas, sendo Deus feito homem, Jesus venceu todas essas demandas e ressuscitou ao terceiro dia. Provando que a fé vence qualquer barreira, inclusive a barreira da morte.


Nós brasileiros, chegamos a essa Semana Santa assistindo ao Calvário do nosso país. Por aqui também, os líderes políticos — e porque não dizer, religiosos, uma vez que o presidente da Câmara, e sua bancada evangélica, já assumiram esse papel dentro do âmbito institucional, confundido estado e religião — jogaram nosso país nas mãos de empresários e governos corruptos. Os soldados, aliados desses governos, humilham, roubam e castigam esse país impiedosamente. Roubam seus recursos para abastecer suas campanhas presidenciais e saciar sua sede de poder, enquanto nas ruas o povo pede pão; nos hospitais públicos, imploram pelo remédio que lhes falta; e, na área educacional, o povo pede a dignidade que lhes é negada.


Ah, Deus! Como estamos precisando vencer todas essas demandas e ressuscitar. Olha, Deus, nem precisa ser no terceiro dia, se nos concederes um ano para que ressuscitemos esse país, já tá de bom tamanho.


Assim, como perdoastes aqueles que batiam nas faces, furavam tuas mãos com pregos, e zombavam da mensagem salvadora pregada por teu filho, perdoa também a essas aves de rapina que destroem a nossa querida nação, porém, como imploraste na cruz, eu imploro a ti: “Afasta de nós esse cálice”... E faz com que aqueles que acabam com o sonho de um país mais justo e mais próspero, sejam devidamente responsabilizados pelos maus atos que praticaram.

 Após esse orante e suplicante introito, digo a vocês caros leitores, que sempre fico muito curioso para saber o que a imprensa estrangeira diz a respeito da atual crise política brasileira. Mas os jornais e telejornais só nos dão as manchetes de jornais estrangeiros falando do Brasil, tais manchetes são bem afinadas com o que ocorre no país, mas dão apenas uma ideia do que circula a respeito de toda essa lama lá fora.

 Resolvi então traduzir um artigo publicado na revista britânica, The Economist, cujo título é, Hora de ir (Time to go). O artigo fornece uma panorâmica da atual crise política brasileira, falando, inclusive, de fatos bem recentes como as manifestações nas ruas, a nomeação de Lula como ministro, a delação do senador Delcídio do Amaral, e o posicionamento de Sérgio ao liberar gravações sigilosas. O artigo diz ainda aquilo que costumamos dizer ou pensar, ou seja, estamos no meio de um fogo cruzado, como diz o ditado, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. O texto cita a corrupção generalizada que tomou conta do nosso país, e questiona aquilo que, de fato, acontece: se Dilma sofrer impeachment, quem vai assumir o lugar dela, se o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, também são citados nos escândalos de corrupção, e junto com eles metade da Câmara e do Senado?


Só discordo quando o jornal afirma que não há provas de que Dilma tenha cometido as tão faladas pedaladas fiscais para maquiar a verdadeira dimensão do déficit fiscal do ano de 2015. Ora, se o próprio Tribunal de Contas da União, em abril do ano passado, declarou que não havia mais dúvidas de que a presidente havia cometido crime de responsabilidade fiscal, ao utilizar recursos de bancos públicos para inflar os resultados orçamentários e, com isso, melhorar as contas da União, como dizer que não há provas de crime de responsabilidade fiscal? Junte-se a isso, as tentativas, na quais a própria Dilma se envolveu para obstruir a justiça para salvar a pele do ex-presidente Lula, acho que temos motivos de sobra — e eu me incluo nesse grupo de eleitores sem partido que são a favor do impeachment — para ver a presidente fora de seu posto.


E, em seus delírios, a presidente, o ex-presidente, chamam um processo democrático de golpe. Os petistas fanáticos acreditam, realmente, que está em curso um processo golpista no país.  Não nos deixemos envolver pela conversa dos lobos, eles querem apenas abocanhar mais ovelhas, ou mais dinheiro, quem sabe? 


O Brasil está envolvido em uma grave crise política e econômica, mas o país busca soluções, recursos que estão dentro da lei, para solucioná-las, e o impeachment é uma delas.

Obviamente que, como cita The Economist, o Brasil, com uma classe política desacreditada, e tendo a seguinte situação no Congresso: “de 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações de corrupção” dá certo medo do que viria depois de um governo Dilma, mas acho que, às vezes, a situação é tão dramática, que vale a pena um mergulho no escuro, quem sabe não haverá uma luz no fim do túnel. É uma esperança que nos resta, e nela devemos apostar.


Aproveito para desejar um bom feriado religioso a todos, e porque não fazermos nossas orações, nossos pedidos, para que consigamos atravessar, em paz, a tempestade, e pedir que a justiça impere?


Abaixo, compartilho com vocês, a tradução livre que fiz do artigo da The Economist.


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Crise política brasileira


Hora de ir


Com reputação manchada, presidente deveria renunciar


As dificuldades de Dilma Rousseff têm se aprofundado há meses. Os enormes escândalos envolvendo a Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, da qual ela já foi presidente, envolvem algumas pessoas muito próximas a ela. Ela governa uma economia que sofre a pior recessão desde a década de 30, em grande parte, devido a erros que ela cometeu durante seu primeiro mandato. Sua fraqueza política tornou seu governo quase impotente diante do aumento do desemprego e queda nos padrões de qualidade de vida.  Seus índices de aprovação estão na casa de dois dígitos e milhões de brasileiros foram às ruas para gritar: Fora Dilma!


E, no entanto, até agora, ela afirma, categoricamente, que a legitimidade de conferida a ela na reeleição de 2014 não foi abalada, e que nenhuma das acusações feitas contra ela, justificam seu impeachment. Aos juízes e policiais que investigam algumas das figuras mais importantes do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual ela pertence, ela declara, com fisionomia séria, o seu desejo de que a justiça seja feita.


Agora, ela jogou fora o que lhe restava de credibilidade. No dia 16 de março, ela tomou a extraordinária decisão de nomear seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, como seu chefe da Casa Civil. Ela descreveu isso como uma manobra perspicaz. Lula, como é conhecido por todos, é um articulador político astuto: ele poderia ajudar a presidente a sobreviver às tentativas do impeachment no Congresso, e até mesmo estabilizar a economia. Porém, alguns dias antes, Lula havia sido levado para interrogatório por ordem de Sérgio Moro, juiz federal encarregado das investigações na Petrobrás (apelidada de Lava Jato), que suspeita que o ex-presidente tenha se beneficiado do esquema de corrupção. Promotores do Estado de São Paulo acusam Lula de ocultar um Triplex, em um condomínio em frente à praia. Ele nega essas acusações. Ao se tornar ministro, Lula teria foro privilegiado: somente a corte suprema do país poderia julgá-lo. Neste caso, um juiz do Supremo suspendeu sua nomeação.


Este jornal tem argumentado que tanto o sistema judicial, quanto eleitores — sem ligação com partidos políticos, que querem o impeachment da presidente, deveriam decidir o destino dela. Porém, a nomeação de Lula parece ser uma tentativa grosseira de impedir o curso da justiça. Mesmo se essa não fosse a intenção, teria o mesmo efeito. Este foi o momento no qual a presidente escolheu os mesquinhos interesses de seu grupo político, em detrimento do Estado de Direito. Dessa forma, ela mostrou-se incapaz de permanecer na presidência.


Três maneiras de deixar o Planalto


A forma como ela deixará o Planalto importa muito. Nós continuamos a acreditar que, na ausência de provas de criminalidade, o impeachment de Dilma Rousseff não é justificável. O processo contra ela no Congresso se justifica em denuncias não comprovadas de que ela usou truques contábeis para esconder a verdadeira dimensão do déficit orçamentário de 2015. Isso parece apenas um pretexto para expulsar uma presidente impopular.  A ideia defendida pelo chefe do comitê de impeachment de decidir o destino de Dilma ouvindo “as ruas” criaria um precedente preocupante. Democracias representativas não devem ser governadas por protestos e pesquisas de opinião.


Há três modos de tirar Dilma do poder apoiados em bases legais. A primeira seria a de que ela obstruiu a investigação na Petrobrás. Declarações de um senador petista de que ela fez isso, pode formar a base para uma segunda proposta de impeachment. Mas até agora essas acusações não foram comprovadas, e ela nega-as; a tentativa de proteger Lula da investigação pode fornecer mais motivos. Uma segunda opção seria uma decisão do Supremo Tribunal Federal de convocar nova eleição presidencial. Isso pode ser feito, se for comprovado que a campanha à reeleição de 2014, foi financiada com dinheiro desviado da Petrobrás. Mas essa investigação seria demorada. O modo mais rápido e melhor de Dilma deixar o Palácio do Planalto seria ela renunciar, antes que seja posta para fora.


Sua saída ofereceria ao Brasil a chance de um novo começo. Mas a renúncia da presidente, por si só, não resolveria os problemas do Brasil. O lugar dela seria, a princípio, ocupado pelo vice-presidente, Michel Temer, líder do Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Temer poderia condizer um governo de unidade nacional, incluindo os partidos de oposição, que, em teoria, pode ser capaz de promover as reformas fiscais necessárias para estabilizar a economia e corrigir um déficit orçamentário que está perto dos 11% do PIB.


Infelizmente, o partido de Temer está profundamente envolvido no escândalo da Petrobrás, assim como o PT. Muitos políticos que participariam de um governo de unidade são vistos como representantes de uma classe política desacreditada. De 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações de corrupção. Uma nova eleição presidencial daria aos eleitores a oportunidade de confiar as reformas a um novo líder. Porém, se correia o risco de deixar outro governante corrupto no cargo até 2019.


O judiciário também tem perguntas para responder. Os juízes merecem grande crédito por prenderem poderosos políticos e empresários brasileiros, mas eles tem se enfraquecido porque desrespeitam as normas legais. O exemplo mais recente foi a decisão de Sérgio Moro de liberar gravações de conversas telefônicas entre Lula e seus aliados, incluindo Dilma Rousseff.  A maioria dos juristas defende que somente o Supremo Tribunal pode divulgar conversas em que umas das partes têm foro privilegiado, como a presidente, por exemplo. Isso não justifica as acusações de partidários do governo de que o judiciário está encenando um ”golpe”. Assim fica fácil aos acusados na Operação Lava Jato desviarem a atenção de seus erros para os erros de seus acusadores.


A guerra de partidos e personalidades do Brasil obscurece algumas das mais importantes lições que se pode tirar da crise. Tanto o escândalo na Petrobrás, quanto a crise econômica, tem suas origens em práticas e leis erradas que são praticadas no Brasil há décadas. Para o Brasil sair dessa bagunça são necessárias mudanças profundas: incluindo a questão previdenciária; reforma das leis fiscais e trabalhistas que atravancam o crescimento; e a reforma de um sistema político que estimula a corrupção e enfraquece os partidos políticos. 


Estas coisas não podem mais ser adiadas. Aqueles que gritam “Fora Dilma” nas ruas irão reivindicar a vitória se ela sofrer o impeachment. Mas para o Brasil sair ganhando, isso é apenas o primeiro passo.

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