Domingo,
25 de setembro
“Vem,
vamos embora
Que
esperar não é saber
Quem
sabe faz a hora
Não
espera acontecer”
(Pra
não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)
A
corrida eleitoral está chegando ao final.
Domingo
próximo, dia 02 de outubro, os brasileiros irão às urnas depositarem os seus
votos nos candidatos a presidente da República, deputados federais e estaduais,
e senadores. A expectativa é enorme.
Porém,
antes de seguir com esse tema, permitam-me relatar uma experiência pessoal.
Neste
sábado, 24 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro esteve em Campinas fazendo
uma motociata pelas ruas da cidade, e terminando no Centro da cidade, onde ele
fez um comício.
Me
dirigi até o Largo do Carmo onde iria acontecer o evento. Meio que sem querer
ir, mas meus pés e minha vontade me puxavam para lá. Quando cheguei nas
imediações da Praça logo meus olhos começaram a mergulhar numa profusão de vendedores
ambulantes que vendiam bandeiras do Brasil, camisetas do candidato Jair
Bolsonaro, e outros itens sempre nas cores verde e amarelo.
O
verde e amarelo também estava nas vestimentas da multidão que acorria à praça. Eu
mesmo pensei em vestir uma peça verde amarela antes de sair de casa, mas desisti.
O verde amarelo, no caso em questão, simboliza muito mais fanatismo do que
patriotismo. E eu procuro me colocar fora do fanatismo seja ele político,
religioso, ou de qualquer outro matiz. Até porque esse é um sentimento que
afeta de maneira negativa o cérebro e a saúde. Então, não vejo sentido em beber
veneno. Não sou nem pretendo ser suicida.
Eu,
que sou avesso à filas, tive que enfrentar uma fila de revista para poder entrar
no local. Mas, felizmente, a fila era pequena quando cheguei, até porque o
candidato já estava em cima do carro de som, e a grande maioria dos apoiadores
já estava posicionada para ouví-lo. Havia muita gente no local, então tive que
ir me esgueirando por entre a multidão para chegar a um ponto próximo ao carro
de som, de onde pudesse ver o candidato discursando.
Consegui
chegar a um lugar estratégico não tão perto do carro de som, mas também não tão
longe. E cheguei lá bem no momento no qual o apresentador anunciou a fala do
presidente.
E
o discurso que ouvi da boca dele, não me surpreendeu em nada. Era tudo o que já
tinha ouvido nas entrevistas dele nos rádios, TVs, jornais impressos, onlines, redes
sociais, e canais de Internet.
Bolsonaro
atacou Lula em diversos momentos, chamando-o de ladrão. Disse que havia somente
dois nomes na disputa, o dele o de um ladrão, referindo-se ao Lula. Disse que no
governo dele, Bolsonaro, não houve casos de corrupção. Pregou o armamento da
população. Incitou a luta armada. “Se precisar lutar
contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos. E repito pra vocês:
Povo armado, jamais será escravizado”, disse ele em um trecho do discurso.
Bolsonaro
exaltou os feitos do próprio governo como a concessão do auxílio Brasil de R$
600,00 reais. Na economia, pintou um cenário totalmente irreal, no qual apenas
ele, e seus seguidores acreditam: o de que o Brasil vive um momento maravilhoso,
e de que o Brasil é uma potência econômica, desconsiderando a grande inflação
que vivemos, e os milhões de brasileiros que passam fome Brasil afora. É certo
que o preço dos combustíveis tem baixado ultimamente, mas isso ainda não se refletiu
nos itens alimentares que continuam muito caro. Ressalta-se também que o preço
da gasolina começou a baixar quando Lula começou a subir nas pesquisas.
Vez
em quando, o discurso do presidente era interrompido pelos gritos de “mito, mito,
mito”. Fiquei observando as pessoas ao meu redor. Não se pode negar que
Bolsonaro exerce um fascínio muito grande sobre seus seguidores. É impressionante
como ele manipula a consciência dessas pessoas de tal forma que, mesmo as
mentiras contadas por ele, são tomadas por essas pessoas como verdade.
E
isso é, de certa forma intrigante. E eu fico pensando, se fossem pessoas analfabetas,
iletradas, ainda se poderia compreender tanta ignorância, mas não. São pessoas
que tiveram acesso a escolas, muitas delas desfrutam de uma boa condição social
e estão bem longe desse Brasil que passa fome. No entanto, estão ali, com as consciências
presas a manipulação das ideias de um populista radical de extrema direita. Vítimas
da indústria das fake news.
Um
fato em especial chamou-me a atenção. Quando Bolsonaro falava sobre o armamento
da população, um bolsonarista, ao lado, falou para a pessoa que o acompanhava
no comício: “Arma traz paz. Quando uma pessoa está armada, ninguém chega
perto dela”.
Isso
doeu na minha mente e no meu coração. E tive pena daquele homem de raciocínio tão
fraco. Embarcou numa ilusão perigosa da qual ele mesmo será a vítima. Um bom
livro, uma canção, as amizades, as boas relações, uma oração, são coisas que
trazem paz. Armas nunca trazem paz.
À
proposito e para ser bem atual, perguntem aos soldados ucranianos, aos civis ucranianos,
e até mesmo aos russos se eles, com a quantidade de armas que tem, estão em
paz. Perguntem ao Putin se ele, sentado sobre os botões das armas nucleares, se
ele está em paz. Se armas, realmente, trouxessem paz, Putin estaria dormindo o
sono dos justos.
No
meio daquele povo, eu compreendi as violências políticas que os bolsonaristas
tem praticado com os petistas. É como se Bolsonaro, com seu discurso de ódio
desse a senha para que os seus seguidores praticassem atos violentes. E, notem
que ele deu a eles uma senha perigosa a uma semana da eleição, quando ele diz: “Se
precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos”. Isso é
convite ao tumulto e à baderna, caso ele perca a eleição.
Outro
fato que também me chamou atenção no comício de Bolsonaro em Campinas, além das
mentiras que ele contou, e do fanatismo do seu gado, foi a ausência de
propostas para a o país. Propostas para as áreas de educação, segurança, economia.
E Bolsonaro não as apresenta porque simplesmente não há proposta nenhuma a ser
apresentada. A única proposta clara do Bolsonaro é o armamento da população. Ele
quer todo mundo feito zumbi de arma na mão, assim fica mais fácil ameaçar petistas,
ONGs, STF, e quem mais atravessar o caminho.
Nesse
ponto a gente chega numa encruzilhada na economia. Bolsonaro não apresentada
propostas para economia porque não as tem. Lula, certamente, as tem, mas não as
apresenta. Portanto, quem vota em Lula está se jogando no abismo, está dando um
tiro no escuro. O certo seria que ele colocasse todas as cartas na mesa. Não é
aceitável que Lula esconda suas propostas para a economia. Não é aceitável, mas
é compreensível, pois a essa altura do campeonato, qualquer proposta que ele apresentasse
seria bombardeada com armas nucleares pelos bolsonaristas.
E
Lula, com a possibilidade de vencer a eleição ainda no primeiro turno, não quer
correr riscos desnecessários.
À
noite, Bolsonaro e outros cinco candidatos participaram do segundo debate entre
os candidatos á presidência. O evento foi promovido por um pool de veículos de imprensa
formado pelo jornal O Estado de São Paulo, Veja, SBT, CNN, pelo portal Terra, e
pelas rádios Eldorado e Nova Brasil FM.
Participaram
desse debate os candidatos; Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet
(MDB), Felipe D’Avila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil), e padre Elmo
(PTB). O ex-presidente Lula (PT) não participou do debate. A presença de Lula
foi bastante criticada por todos os candidatos.
No
debate foram tratados temas como orçamento secreto, STF, fome, Auxílio Brasil,
voto útil, política de controle de armas, Imposto Único Federal, feminismo, corrupção,
violência política, educação, dentre outros.
Ainda
no primeiro bloco do debate o presidente Jair Bolsonaro diz para Simone Tebet:
— Simone, durante a pandemia, obrigaram o
povo a ficar em casa. O povo começou a passar fome de verdade. O que eu fiz? Eu
criei o Auxílio Brasil. Botei um ponto final no Bolsa Família, que valia em
média 190 reais e botei o Auxílio Brasil em 600 reais, três vezes mais!
Ao
que a senadora responde:
—
Ele não queria pagar 600 reais. Nós, no Congresso Nacional, é que exigimos.
Depois voltou para 400 reais antes da hora; e nós, no Congresso Nacional,
exigimos de novo que voltasse aos 600. Aliás, ele voltou a 600 só agora, às
vésperas da eleição, porque, repito, é insensível com a dor alheia. Sabe por
que ficamos tanto tempo em casa, mais do que a média do mundo? Porque ele negou
a vocês vacina, 45 dias de atraso. Estava lá, eu vi o esquema de corrupção,
como se a vida pudesse valer um dólar, que era o que o Ministério da Saúde
queria cobrar de uma empresa para comprar vacina para colocar no seu braço.
Este Presidente insensível, que virou as costas para o povo brasileiro, no
momento que mais precisou, que quer de novo os eu voto. Ele não pode ter.
É
verdade que Bolsonaro tem cortado verbas significativas de áreas como saúde e educação, dentre outras,
para bancar o orçamento secreto, que nada mais é um grande esquema de compra de
votos no Congresso.
Em
certo momento do debate, Bolsonaro afirma: “Não é justa, não é verdadeira
essa acusação de cortar dinheiro para a merenda, porque o orçamento não foi
votado ainda”.
A
equipe do Fato ou Fake do portal Globo.com checou a afirmação e viu que não é
bem assim, pois é verdade que o orçamento para 2023 ainda não foi votado, mas
as diretrizes que nortearão as prioridades desse orçamento já foram aprovadas.
A Lei de Diretrizes Orçamentárias previa um aumento de 34%, o equivalente a 1,3
bilhões para o ano que vem. Porém, Jair Bolsonaro vetou esse aumento.
Ainda
segundo informa o portal a quantia que a União repassa para estados e munícipios
para a merenda escolar não é reajustada desde 2017. Desde aquele ano o valor
repassado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é de R$ 0,36 centavos
por dia para cada estudante do ensino fundamental e médio; R$ 0,53 por dia para
os alunos da pré-escola; e R$ 1,07 para os alunos em creches ou no ensino
integral.
Por
aí se deduz como tem passado os estudantes brasileiros em relação a merenda
escolar, principalmente aqueles provenientes de famílias de renda mais baixa,
ou sem renda nenhuma.
Uma
curiosidade no debate foi a participação do Pe. Kelmon. O candidato, em vez de
defender as propostas dele, parece ter ido lá apenas para defender o presidente
Jair Bolsonaro. E assim a gente descobriu mais um radical de extrema direita
concorrendo à presidência.
Em
vez do debate, Lula preferiu fazer comício no Rio de Janeiro. O candidato
esteve na quadra da Portela, em Madureira, Rio de Janeiro. No evento, ele confirmou
aos cariocas a ida ao debate entre os candidatos promovidos pela TV Globo, na
próxima quinta, dia 29. Este será o último debate dos candidatos antes do
primeiro turno. “Os debates estão ficando difíceis porque tem pouca gente
com condições de disputar as eleições e eu vou lá disputar com cinco que só têm
um objetivo: me atacar”, disse ele durante o evento.
Um
apoio importante que Lula recebeu essa semana foi o de 8 ex-presidenciáveis que
declararam apoio e ele. A reunião aconteceu em hotel em São Paulo, e nela
estavam presentes além de Lula e o candidato a vice na chapa dele, Geraldo Alckim;
Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Luciana Genro (PSol), Henrique
Meirelles (União), Cristovam Buarque (Cidadania), Guilherme Boulos (PSol) e
João Goulart Filho (PCdoB).
Outro
fato importante para a campanha de Lula foi uma nota divulgada pelo
ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Às vésperas da eleição
FHC divulgou a seguinte nota:
Como
é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum
problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do
debate político pré-eleitoral.
Peço
aos eleitores que votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o
combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos
independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da
diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e
está empenhado na preservação de nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento
das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel
histórico do Brasil no cenário internacional.
Fernando
Henrique Cardoso
Ex-presidente
da República
A
nota do ex-presidente foi entendida como um apoio, ainda que velado, como um
apoio a Lula.
Para
o bem-estar de todos e felicidade geral da nação seria mesmo bom que o
ex-presidente vencesse as eleições ainda no primeiro turno.