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Nas raias do desespero

Posted by Cottidianos on 22:02

Quinta-feira, 29 de setembro

Hoje, 29 de setembro, após a novela Pantanal, na TV Globo, vai ao ar mais um debate, o último antes das tão aguardadas eleições no domingo.

Deste debate participarão os candidatos Luís Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Soraya Thronicke (União Brasil), Felipe D’Avila (Novo), e Pe. Kelmon (PTB). O debate será mediado pelo jornalista William Bonner.

Durante a corrida eleitoral os candidatos participaram de outros dois debates: um promovido pela TV Bandeirantes, e outro formado por um pool de emissoras formado por SBT, CNN, revista Veja, jornal O Estado de São Paulo, Rádio Nova Brasil FM e portal Terra. Desse debate o candidato Lula não participou, motivo pelo qual foi muito criticado pelos demais candidatos.

Lula lidera as pesquisas com chances de vencer a disputa ainda no primeiro turno. E eis o motivo do desespero de Bolsonaro e dos bolsonaristas. A enxurrada de fake news contra o candidato petista e contra as urnas eletrônicas tem sido constante. O próprio presidente e o partido dele, o PL, divulgaram fake news.

Em live realizada ontem, 28, o presidente divulgou uma notícia falsa de que o TSE estaria avaliando a possibilidade proibir a votação de pessoas que forem votar vestindo camisas verde e amarelo. “É interferência demais. Está com medo de quê? De ter um mar de verde e amarelo? Você está preocupado com um mar de verde e amarelo votando [e depois] aparecer o nome do Lula ganhando. É isso TSE? É isso TSE? ”, disse ele.

Após fazer esse comentário, o presidente convidou os seus eleitores a irem votar vestidos com roupas verde e amarelo. “Eu estou convidando a todos voluntariamente votar com a camisa verde e amarela. O que as Forças Armadas puderem garantir [a] vocês de votarem com a camisa verde e amarela, vai ser garantido”.

E fez uma ameaça: “Eu vou determinar às Forças Armadas, que vão participar da segurança: qualquer seção eleitoral que for proibido entrar com a camisa verde e amarela, não vai ter eleição naquela seção. Ou estamos na democracia ou estamos no estado do Alexandre de Moraes”. Na live, o presidente também fez críticas ao ministro Alexandre de Moraes.

O partido do presidente, o PL, também entrou na dança das fake news. O partido divulgou uma nota na qual contestava a lisura, e a segurança do processo eleitoral na realização das eleições de domingo.

Somente um grupo restrito de servidores e colaboradores do TSE controla todo o código fonte dos programas da urna eletrônica e dos sistemas eleitorais. Sem qualquer controle externo, isto cria, nas mãos de alguns técnicos, um poder absoluto de manipular resultados da eleição, sem deixar qualquer rastro”, diz o documento intitulado Resultado da Auditoria de Conformidade do PL no TSE.

O documento redigido pelo partido repete as mesmas mentiras ditas por Jair Bolsonaro sobre as urnas eletrônicas. O relatório foi feito pelo Instituto Voto Legal a pedido do PL. O interessante é que esse documento já estava redigido desde meados de setembro, e só foi divulgado agora a 4 dias da eleição presidencial, numa clara tentativa de tumultuar o processo.  

Horas antes da divulgação do documento, o presidente do partido, Valdemar Costa Neto estivera no TSE, visitando a sala onde será feita a apuração dos votos, a convite de Alexandre de Moraes.

A reação do TSE à nota foi imediata dizendo que a nota do PL é falsa e mentirosa, e que atenta contra o Estado Democrático de Direito. “As conclusões do documento intitulado Resultados da Auditoria de Conformidade do PL no TSE são falsas e mentirosas, sem nenhum amparo na realidade, reunindo informações fraudulentas e atentatórias ao Estado Democrático de Direito e ao Poder Judiciário, em especial à Justiça Eleitoral, em clara tentativa de embaraçar e tumultuar o curso natural do processo eleitoral”, disse o órgão em nota.

Alexandre de Moraes determinou que a nota divulgada pelo PL fosse encaminhada ao Supremo Tribunal Federal para ser juntada ao inquérito das fake news. “Para apuração de responsabilidade criminal de seus idealizadores — uma vez que é apócrifo —, bem como seu envio à Corregedoria Geral Eleitoral para instauração de procedimento administrativo e apuração de responsabilidade do Partido Liberal e seus dirigentes, em eventual desvio de finalidade na utilização de recursos do Fundo Partidário”, disse o magistrado.


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Reta final das eleições presidenciais

Posted by Cottidianos on 13:48

 Domingo, 25 de setembro

Vem, vamos embora

Que esperar não é saber

Quem sabe faz a hora

Não espera acontecer

(Pra não dizer que não falei das flores – Geraldo Vandré)

A corrida eleitoral está chegando ao final.

Domingo próximo, dia 02 de outubro, os brasileiros irão às urnas depositarem os seus votos nos candidatos a presidente da República, deputados federais e estaduais, e senadores. A expectativa é enorme.

Porém, antes de seguir com esse tema, permitam-me relatar uma experiência pessoal.

Neste sábado, 24 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro esteve em Campinas fazendo uma motociata pelas ruas da cidade, e terminando no Centro da cidade, onde ele fez um comício.

Me dirigi até o Largo do Carmo onde iria acontecer o evento. Meio que sem querer ir, mas meus pés e minha vontade me puxavam para lá. Quando cheguei nas imediações da Praça logo meus olhos começaram a mergulhar numa profusão de vendedores ambulantes que vendiam bandeiras do Brasil, camisetas do candidato Jair Bolsonaro, e outros itens sempre nas cores verde e amarelo.

O verde e amarelo também estava nas vestimentas da multidão que acorria à praça. Eu mesmo pensei em vestir uma peça verde amarela antes de sair de casa, mas desisti. O verde amarelo, no caso em questão, simboliza muito mais fanatismo do que patriotismo. E eu procuro me colocar fora do fanatismo seja ele político, religioso, ou de qualquer outro matiz. Até porque esse é um sentimento que afeta de maneira negativa o cérebro e a saúde. Então, não vejo sentido em beber veneno. Não sou nem pretendo ser suicida.

Eu, que sou avesso à filas, tive que enfrentar uma fila de revista para poder entrar no local. Mas, felizmente, a fila era pequena quando cheguei, até porque o candidato já estava em cima do carro de som, e a grande maioria dos apoiadores já estava posicionada para ouví-lo. Havia muita gente no local, então tive que ir me esgueirando por entre a multidão para chegar a um ponto próximo ao carro de som, de onde pudesse ver o candidato discursando.

Consegui chegar a um lugar estratégico não tão perto do carro de som, mas também não tão longe. E cheguei lá bem no momento no qual o apresentador anunciou a fala do presidente.

E o discurso que ouvi da boca dele, não me surpreendeu em nada. Era tudo o que já tinha ouvido nas entrevistas dele nos rádios, TVs, jornais impressos, onlines, redes sociais, e canais de Internet.

Bolsonaro atacou Lula em diversos momentos, chamando-o de ladrão. Disse que havia somente dois nomes na disputa, o dele o de um ladrão, referindo-se ao Lula. Disse que no governo dele, Bolsonaro, não houve casos de corrupção. Pregou o armamento da população. Incitou a luta armada. “Se precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos. E repito pra vocês: Povo armado, jamais será escravizado”, disse ele em um trecho do discurso.

Bolsonaro exaltou os feitos do próprio governo como a concessão do auxílio Brasil de R$ 600,00 reais. Na economia, pintou um cenário totalmente irreal, no qual apenas ele, e seus seguidores acreditam: o de que o Brasil vive um momento maravilhoso, e de que o Brasil é uma potência econômica, desconsiderando a grande inflação que vivemos, e os milhões de brasileiros que passam fome Brasil afora. É certo que o preço dos combustíveis tem baixado ultimamente, mas isso ainda não se refletiu nos itens alimentares que continuam muito caro. Ressalta-se também que o preço da gasolina começou a baixar quando Lula começou a subir nas pesquisas.

Vez em quando, o discurso do presidente era interrompido pelos gritos de “mito, mito, mito”. Fiquei observando as pessoas ao meu redor. Não se pode negar que Bolsonaro exerce um fascínio muito grande sobre seus seguidores. É impressionante como ele manipula a consciência dessas pessoas de tal forma que, mesmo as mentiras contadas por ele, são tomadas por essas pessoas como verdade.

E isso é, de certa forma intrigante. E eu fico pensando, se fossem pessoas analfabetas, iletradas, ainda se poderia compreender tanta ignorância, mas não. São pessoas que tiveram acesso a escolas, muitas delas desfrutam de uma boa condição social e estão bem longe desse Brasil que passa fome. No entanto, estão ali, com as consciências presas a manipulação das ideias de um populista radical de extrema direita. Vítimas da indústria das fake news.

Um fato em especial chamou-me a atenção. Quando Bolsonaro falava sobre o armamento da população, um bolsonarista, ao lado, falou para a pessoa que o acompanhava no comício: “Arma traz paz. Quando uma pessoa está armada, ninguém chega perto dela”.

Isso doeu na minha mente e no meu coração. E tive pena daquele homem de raciocínio tão fraco. Embarcou numa ilusão perigosa da qual ele mesmo será a vítima. Um bom livro, uma canção, as amizades, as boas relações, uma oração, são coisas que trazem paz. Armas nunca trazem paz.

À proposito e para ser bem atual, perguntem aos soldados ucranianos, aos civis ucranianos, e até mesmo aos russos se eles, com a quantidade de armas que tem, estão em paz. Perguntem ao Putin se ele, sentado sobre os botões das armas nucleares, se ele está em paz. Se armas, realmente, trouxessem paz, Putin estaria dormindo o sono dos justos.

No meio daquele povo, eu compreendi as violências políticas que os bolsonaristas tem praticado com os petistas. É como se Bolsonaro, com seu discurso de ódio desse a senha para que os seus seguidores praticassem atos violentes. E, notem que ele deu a eles uma senha perigosa a uma semana da eleição, quando ele diz: “Se precisar lutar contra essa quadrilha do Lula, nós lutaremos”. Isso é convite ao tumulto e à baderna, caso ele perca a eleição.

Outro fato que também me chamou atenção no comício de Bolsonaro em Campinas, além das mentiras que ele contou, e do fanatismo do seu gado, foi a ausência de propostas para a o país. Propostas para as áreas de educação, segurança, economia. E Bolsonaro não as apresenta porque simplesmente não há proposta nenhuma a ser apresentada. A única proposta clara do Bolsonaro é o armamento da população. Ele quer todo mundo feito zumbi de arma na mão, assim fica mais fácil ameaçar petistas, ONGs, STF, e quem mais atravessar o caminho.

Nesse ponto a gente chega numa encruzilhada na economia. Bolsonaro não apresentada propostas para economia porque não as tem. Lula, certamente, as tem, mas não as apresenta. Portanto, quem vota em Lula está se jogando no abismo, está dando um tiro no escuro. O certo seria que ele colocasse todas as cartas na mesa. Não é aceitável que Lula esconda suas propostas para a economia. Não é aceitável, mas é compreensível, pois a essa altura do campeonato, qualquer proposta que ele apresentasse seria bombardeada com armas nucleares pelos bolsonaristas.

E Lula, com a possibilidade de vencer a eleição ainda no primeiro turno, não quer correr riscos desnecessários.

À noite, Bolsonaro e outros cinco candidatos participaram do segundo debate entre os candidatos á presidência. O evento foi promovido por um pool de veículos de imprensa formado pelo jornal O Estado de São Paulo, Veja, SBT, CNN, pelo portal Terra, e pelas rádios Eldorado e Nova Brasil FM.

Participaram desse debate os candidatos; Jair Bolsonaro (PL), Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB), Felipe D’Avila (Novo), Soraya Thronicke (União Brasil), e padre Elmo (PTB). O ex-presidente Lula (PT) não participou do debate. A presença de Lula foi bastante criticada por todos os candidatos.

No debate foram tratados temas como orçamento secreto, STF, fome, Auxílio Brasil, voto útil, política de controle de armas, Imposto Único Federal, feminismo, corrupção, violência política, educação, dentre outros.

Ainda no primeiro bloco do debate o presidente Jair Bolsonaro diz para Simone Tebet:

 Simone, durante a pandemia, obrigaram o povo a ficar em casa. O povo começou a passar fome de verdade. O que eu fiz? Eu criei o Auxílio Brasil. Botei um ponto final no Bolsa Família, que valia em média 190 reais e botei o Auxílio Brasil em 600 reais, três vezes mais!

Ao que a senadora responde:

Ele não queria pagar 600 reais. Nós, no Congresso Nacional, é que exigimos. Depois voltou para 400 reais antes da hora; e nós, no Congresso Nacional, exigimos de novo que voltasse aos 600. Aliás, ele voltou a 600 só agora, às vésperas da eleição, porque, repito, é insensível com a dor alheia. Sabe por que ficamos tanto tempo em casa, mais do que a média do mundo? Porque ele negou a vocês vacina, 45 dias de atraso. Estava lá, eu vi o esquema de corrupção, como se a vida pudesse valer um dólar, que era o que o Ministério da Saúde queria cobrar de uma empresa para comprar vacina para colocar no seu braço. Este Presidente insensível, que virou as costas para o povo brasileiro, no momento que mais precisou, que quer de novo os eu voto. Ele não pode ter.

É verdade que Bolsonaro tem cortado verbas significativas de  áreas como saúde e educação, dentre outras, para bancar o orçamento secreto, que nada mais é um grande esquema de compra de votos no Congresso.

Em certo momento do debate, Bolsonaro afirma: “Não é justa, não é verdadeira essa acusação de cortar dinheiro para a merenda, porque o orçamento não foi votado ainda”.

A equipe do Fato ou Fake do portal Globo.com checou a afirmação e viu que não é bem assim, pois é verdade que o orçamento para 2023 ainda não foi votado, mas as diretrizes que nortearão as prioridades desse orçamento já foram aprovadas. A Lei de Diretrizes Orçamentárias previa um aumento de 34%, o equivalente a 1,3 bilhões para o ano que vem. Porém, Jair Bolsonaro vetou esse aumento.

Ainda segundo informa o portal a quantia que a União repassa para estados e munícipios para a merenda escolar não é reajustada desde 2017. Desde aquele ano o valor repassado pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) é de R$ 0,36 centavos por dia para cada estudante do ensino fundamental e médio; R$ 0,53 por dia para os alunos da pré-escola; e R$ 1,07 para os alunos em creches ou no ensino integral.

Por aí se deduz como tem passado os estudantes brasileiros em relação a merenda escolar, principalmente aqueles provenientes de famílias de renda mais baixa, ou sem renda nenhuma.

Uma curiosidade no debate foi a participação do Pe. Kelmon. O candidato, em vez de defender as propostas dele, parece ter ido lá apenas para defender o presidente Jair Bolsonaro. E assim a gente descobriu mais um radical de extrema direita concorrendo à presidência.

Em vez do debate, Lula preferiu fazer comício no Rio de Janeiro. O candidato esteve na quadra da Portela, em Madureira, Rio de Janeiro. No evento, ele confirmou aos cariocas a ida ao debate entre os candidatos promovidos pela TV Globo, na próxima quinta, dia 29. Este será o último debate dos candidatos antes do primeiro turno. “Os debates estão ficando difíceis porque tem pouca gente com condições de disputar as eleições e eu vou lá disputar com cinco que só têm um objetivo: me atacar”, disse ele durante o evento.

Um apoio importante que Lula recebeu essa semana foi o de 8 ex-presidenciáveis que declararam apoio e ele. A reunião aconteceu em hotel em São Paulo, e nela estavam presentes além de Lula e o candidato a vice na chapa dele, Geraldo Alckim; Fernando Haddad (PT), Marina Silva (Rede), Luciana Genro (PSol), Henrique Meirelles (União), Cristovam Buarque (Cidadania), Guilherme Boulos (PSol) e João Goulart Filho (PCdoB).

Outro fato importante para a campanha de Lula foi uma nota divulgada pelo ex-presidente da República, Fernando Henrique Cardoso. Às vésperas da eleição FHC divulgou a seguinte nota:

Como é do conhecimento público, tenho idade avançada e, embora não apresente nenhum problema grave de saúde, já não tenho mais energia para participar ativamente do debate político pré-eleitoral.

Peço aos eleitores que votem no dia 2 de outubro em quem tem compromisso com o combate à pobreza e à desigualdade, defende direitos iguais para todos independentemente da raça, gênero e orientação sexual, se orgulha da diversidade cultural da nação brasileira, valoriza a educação e a ciência e está empenhado na preservação de nosso patrimônio ambiental, no fortalecimento das instituições que asseguram nossas liberdades e no restabelecimento do papel histórico do Brasil no cenário internacional.

Fernando Henrique Cardoso

Ex-presidente da República

A nota do ex-presidente foi entendida como um apoio, ainda que velado, como um apoio a Lula.

Para o bem-estar de todos e felicidade geral da nação seria mesmo bom que o ex-presidente vencesse as eleições ainda no primeiro turno.


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Rainha, rei, e bobo da corte

Posted by Cottidianos on 23:59

Quinta-feira, 22 de setembro


Elizabeth II e Pelé - Rio de Janeiro, 1968

Era dia 11 de novembro de 1968. No gramado do Maracanã jogavam as seleções do Rio e São Paulo. Em um jogo disputado, os paulistas venceram a partida por 3 a 2. Em campo estava um rei: Pelé, então com 28 anos.

Na Tribuna de Honra do Estádio Mário Filho, estava uma sorridente rainha. Elizabeth II assistia ao jogo ao lado do marido, o Príncipe Philip (1921-2021), e do governador da Guanabara, Negrão Lima. Os olhos da rainha estiveram o tempo todo em cima dos jogadores. Ela usava um binóculo. Ao final da partida, os jogadores subiram a Tribuna de Honra para cumprimentar o casal real.

 Majestade, esse é o jogador Pelé, famoso mundialmente! Lael Soares, chefe de cerimonial do Palácio Guanabara, sede oficial do governo do Rio de Janeiro.

Ah, eu sei! Disse a rainha com um sorriso nos lábios, e estendendo a mão para cumprimentar o craque.

Entre Pelé o interprete que acompanhava a rainha travou-se o seguinte diálogo:

Diz pra ela eu estou muito emocionado por ter participado de um jogo com a presença dela.

Ao que a rainha respondeu:

Diga pra ele que a felicidade é minha!

Em 1968 fazia 16 anos que Elizabeth II havia sido coroada rainha da Inglaterra. A rainha estava no Brasil para uma visita de 11 dias.  Durante esse tempo ela visitou 16 cidades. Ela havia chegado ao Brasil no dia 1 de novembro e a ida ao Maracanã marcava sua despedida do Brasil.

A primeira e única visita da rainha Elizabeth ao Brasil poderia ter se dado em meio a águas tranquilas, porém ela se deu em mares turbulentos. Estávamos em plena ditadura militar. As ruas do país eram cenário de revoltas políticas e manifestações estudantis. Porém, com sua elegância, simpatia, e diplomacia, a rainha tirou tudo isso de letra.

Porém, destoando de todo aquela alegria e orgulho com que os brasileiros recebiam a rainha. Um grupo de crianças de uma escola carioca ficou bastante decepcionada com a visita dela ao local onde estudavam. Eles esperavam que a rainha aparecesse por lá com vestes reais, cetro e coroa. E ela apareceu com roupas comuns. As crianças ficaram realmente frustradas.

A roda do tempo correu. A rainha foi testemunha ocular de grandes fatos que marcaram nosso mundo. Muita água rolou por baixo da ponte nos anos de reinado de Elizabeth.

Porém, com seu girar constante a roda da vida também nos lembra que estamos aqui de passagem. Chega o peso dos anos, as limitações da idade e, por mais que a gente ache que certas pessoas não morrem nunca, elas nos surpreendem, e morrem.

Foi com muita tristeza que, neste dia 19 de setembro de 2022, o mundo, e em especial o Reino Unido, se despediu de uma grande mulher, grande líder, e um ser humano espetacular. Nunca via rainha pessoalmente. Quando ele esteve no Brasil, em 1968, eu ainda nem tinha nascido, mas posso dizer que era um ser humano espetacular.

Afirmo isso, tendo por base as palavras de Jesus Cristo no evangelho de Lucas, 6-44, que diz: “Pois cada árvore é conhecida pelos seus próprios frutos. Não é possível colher-se figos de espinheiros, nem tampouco, uvas de ervas daninhas”.

Porém o dia da partida chega para todos, nobres e plebeus. E chegou o dia rainha voltar para casa, deixar o plano material. Quando o Palácio de Buckingham anunciou a morte da rainha, imediatamente, o Reino Unido mergulhou em luto. Homenagens e mais homenagens foram feitas. Homenagens foram feitas em metrôs, nas ruas, em pubs, em abadias, e em diversos outros lugares.

No funeral da monarca filas quilométricas se formaram. Nem sol, nem chuva, nem frio, nem cansaço, nem exaustão impediram que milhares de pessoas aguardasse horas e horas na fila apenas para passar pelo hall do Palácio de Westminster, local onde estava sendo velado o corpo da rainha.

Depois de quatro dias de velório público, o corpo da rainha foi sepultado na segunda-feira,19, no castelo de Windsor nos arredores de Londres. O corpo da rainha desceu à sepultura, mas não sem antes o filho, o agora rei Charles III, colocar o último recadinho para mãe deixado em forma de bilhete em uma das coroas de flores dedicados a ela. Não há como ignorar a curiosidade em saber o que tinha escrito naquele simples bilhetinho, mas enfim, isso são segredos entre mãe e filho.

E essa coisa de família nos mostra ainda mais a sensibilidade de Elizabeth II, pois ela, como mulher, tinha que cuidar das coisas de governo e das coisas de família. E harmonizar essas duas coisas sem deixar de lado uma ou outra é coisa para pessoas de alta nobreza de coração.

Que a rainha seja recebida no mundo espiritual com a mesma pompa e circunstância com que seus súditos se despediram dela aqui na vida terrena.

Muitos líderes mundiais foram à Inglaterra se despedir da rainha. E o presidente brasileiro também foi lá, a nossa vergonha mundial. Confesso que fiquei surpreso quando o Palácio do Planalto anunciou a ida do presidente ao funeral da rainha. Fiquei pensando em como um homem que não possui o dom da compaixão no coração ia fazer num funeral.

Me veio à mente os milhares de pessoas mortas no Brasil durante a pandemia de Covid. Do presidente não se ouviu nenhum gesto de compaixão, nenhuma visita a um hospital, nenhuma palavra de conforto aos familiares das vítimas. Muito pelo contrário, Bolsonaro fez troça de pacientes atingidos pela doença, minimizou o problema, e criticou as vacinas.

Mas enfim, lá foi ele para Londres, acompanhado de uma comitiva da qual fazem parte a mulher do presidente, Michelle, o pastor Silas Malafaia, e o filho Eduardo Bolsonaro. E a primeira coisa que Bolsonaro fez ao chegar a Londres foi fazer discurso político para os seus apoiadores da janela da embaixada brasileira.

Após o discurso de presidente, os seguidores dele hostilizaram jornalistas que cobriam a visita do presidente. O gado presidencial chegou ao cúmulo de discutir com um britânico que pedia respeito ao sentimento de luto dos britânicos pela rainha. A outros que também reclamaram do clima de campanha do presidente brasileiro em meio ao funeral da rainha, eles diziam para eles irem para Cuba ou Venezuela. Como papagaios de pirata é essa a mesma ladainha que eles repetem em qualquer lugar: esquerda, Cuba, Venezuela. O presidente foi recebido com gritos de “mito” e “homem extraordinário”. Para chamar Bolsonaro de homem extraordinário é porque a pessoas já chegou a um alto grau na escala dos zumbis.

Ainda em Londres, o presidente foi a um posto de gasolina fazer vídeos e fotos para suas redes sociais comparando o preço da gasolina na Inglaterra e no Brasil, sem mencionar para os seus eleitores a diferença entre o salário e nível de vida do povo de lá em relação ao povo daqui. Obviamente, a atitude de Bolsonaro foi muito criticada pelos jornais britânicos.

Depois de Londres, Bolsonaro foi a Nova York, onde fez o discurso de abertura na Assembleia das Nações Unidas (ONU). Durou vinte minutos o discurso do presidente, e mais vez, ele usou o palco da ONU para fazer campanha eleitoral e para fazer uma coisa que ele sabe fazer bem: mentir. Bolsonaro, em seu discurso, fez um balanço do próprio governo, atacou gestões petistas, e defendeu itens da pauta conservadora.

A duas semanas das eleições Bolsonaro voltou a atacar o sistema eleitoral brasileiro. Em Londres, em entrevista ao SBT, Bolsonaro disse que acredita que vencerá no primeiro turno e que se isso não acontecer é porque algo de errado existe dentro do TSE. “Se nós não ganharmos no primeiro turno, algo de anormal aconteceu dentro do TSE”, disse ele.

Segundo todos os institutos de pesquisa, inclusive aqueles aos quais ele pagou para fazer pesquisa, dizem que ele está em segundo lugar nas pesquisas, e que tem alta rejeição por parte da população. O ex-presidente Lula lidera as pesquisas. A fala de Bolsonaro é uma senha que o presidente dá aos seus eleitores para que eles ajam com violência, caso ele perca as eleições. Como o bolsonarismo parece roubar cérebros, é isso mesmo que os eleitores do presidente fazem: Reagem com violência ao que foram chamados. Foi assim em diversos momentos do governo, e acredito que não será diferente agora.

Outro dia, um amigo me chamou a atenção para a questão da distribuição dos santinhos de propaganda eleitoral. Ele me falou que quase não via santinhos de candidatos do PT. Então eu comecei a observar melhor. Andando pelas ruas da cidade, aqui e acolá eu vejo bandeiras do Brasil estendidas nas janelas dos apartamentos. Como já disse aqui nesse blog, os bolsonaristas se apoderaram dos símbolos nacionais e os transformaram em símbolos de campanha eleitoral. Porém, andando nas ruas dessa mesma cidade eu não vejo nas ruas nem nas janelas dos apartamentos, símbolos que remetem ao PT.

Isso mostra que a polarização no Brasil está intensa, porém, existe um lado mais violento que o outro. Então aqueles que temem sofrer alguma violência, se resguardam um pouco.

Enquanto Bolsonaro, fazia sua campanha no funeral da rainha e em Nova York, o ex-presidente tratava de formar uma espécie de frente ampla. O candidato reuniu oito ex-candidatos à presidência em torno de sua campanha. Lula trabalha, arduamente, para ser eleito no primeiro turno.


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Quarta-feira, 14 de setembro

Posted by Cottidianos on 23:54

Ofensas gratuitas



Está chegando a hora de depositar o voto nas urnas. Falta muito pouco. Apenas 18 dias. E quanto mais perto das eleições, mais os bichos ficam raivosos. A gente tem visto de tudo nessa reta final, até mesmo coisas impensáveis, como por exemplo, um Jair Bolsonaro “arrependido” por coisas que disse na pandemia. Ora, um ser que não consegue se compadecer, ter compaixão pelo ser humano, então fica difícil acreditar que possa ter essa dádiva de ter um coração arrependido.

É sabido por todo mundo que o jornalismo, o bom jornalismo, ressalte-se, não é visto com bons olhos pelos presidentes e seus seguidores. Frequentemente eles são atacados, principalmente, e especialmente, quando são mulheres.

Um dos alvos preferidos dele é a jornalista Vera Magalhães, apresentadora do programa Roda Viva, na TV Cultura, e também colunista do jornal o Globo, e comentarista da rádio CBN.

No dia do debate ente os candidatos a presidente da República ela havia sido ofendida pelo presidente Jair Bolsonaro. Ela havia sido escalada como uma das jornalistas para fazer perguntas aos candidatos.

O debate aconteceu no domingo, 28 de agosto e foi promovido pela TV Bandeirantes. No segundo bloco do programa a jornalista perguntou para Ciro Gomes: “A cobertura vacinal está despencando nos últimos anos. Em que medida que a desinformação difundida pelo presidente pode ter agravado a pandemia de covid?”.

A questão era para ser comentada por Ciro, e Bolsonaro comentaria a resposta do presidenciável.  Entretanto, depois que Ciro falou, o presidente ignorou a pregunta dele, não a comentou, ao invés disso, partiu direto para a ofensa contra a jornalista. “Vera, não podia esperar outra coisa de você. Acho que você dorme pensando em mim. Você tem alguma paixão por mim. Você não pode tomar partido num debate como esse, fazer acusações mentirosas a meu respeito. Você é uma vergonha para o jornalismo, mas tudo bem”.

A atitude foi bastante criticada por veículos de imprensa e pelos demais candidatos presentes ao debate. Bolsonaro não pediu desculpas à jornalista.

A campanha continuou seu curso. Em todos o Brasil redes de rádio e de TV estaduais promovem debates com os candidatos a governador. Nesta terça-feira, 13, foi a vez do debate com candidatos ao governo do Estado de São Paulo, transmitido pelo Uol, em parceria com a Folha de São Paulo e a TV Cultura.

O debate foi realizado no Memorial da América Latina e teve início às 22hs. Dele participaram os candidatos; Fernando Haddad (PT), Rodrigo Garcia (PSDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Vinícius Poit (Novo) e Elvis Cezar (PDT). Em São Paulo, Haddad é líder nas pesquisas de intenção de voto.

Tudo correu bem no debate. Propostas foram apresentadas, críticas foram feitas, aqui e acolá alguns ataques, mas tudo dentro do limite da normalidade em um debate eleitoral.

A surpresa veio ao final do debate. Dessa vez a jornalista Vera Magalhães não fazia parte perguntas aos candidatos. Ela assistia ao debate em um espaço reservado a jornalistas convidados.

O deputado federal Douglas Garcia (Republicanos), vai até a área onde estava Vera Magalhães, e bastante exaltado, profere ofensas a ela, usando, inclusive, a mesma frase usada por Bolsonaro no debate promovido pela TV Bandeirante: “Vera você é uma vergonha para o jornalismo brasileiro”. O deputado já se aproxima de Vera com o celular em punho. Ela também começa a gravar a cena. Enquanto isso a discussão continua.

O diretor de redação da TV Cultura, que era o mediador do debate, pega o celular do deputado e o atira longe, ele vai busca-lo e volta para continuar agredindo a jornalista. Nesse momento, os seguranças intervêm e retiram o parlamentar do recinto.

Circula entre os bolsonaristas uma fake news que afirma que Vera Magalhães tem um contrato irregular com a TV Cultura na qual ganha R$ 500 mil anualmente. Vera já desmentiu essas mentiras. Nas ofensas que proferiu após o debate, o candidato voltou a insistir nesse ponto.

Após a discussão, Vera postou o seguinte esclarecimento em suas redes sociais: “Eu ganho R$ 22 mil por mês da TV Cultura, desde o ano de 2020, num contrato que é público, que ele como deputado já requereu e ao qual ele tem acesso, e que eu já publiquei nas minhas redes sociais. Ele veio mentir novamente”.

A jornalista Vera Magalhães precisou de escolta para deixar o Memorial da América Latina.

Em suas redes sociais ela questionou o candidato Tarciso de Freitas pela atitude do deputado bolsonarista. Ele havia sido convidado para o debate por Tarcísio. “Gostaria de saber se o candidato @tarcisiogdf concorda com a postura de seu convidado para o debate. Eu estava trabalhando. Sentada, quieta, sozinha. É esse o tipo de aliado técnico que o senhor terá em SP, candidato? Isso está correto?”, escreveu Vera em sua rede social.

Autoridades e políticos repudiaram o ataque feito pelo deputado à jornalista, inclusive o próprio Tarcísio, que defende a punição do deputado, inclusive pela própria Assembleia Legislativa de São Paulo. “Eu não posso falar pelo partido, mas eu acho que esse tipo de atitude tem que ser punida severamente. Inclusive, pela Alesp”, disse ele.

Nesta quarta-feira, 4, ao menos cinco deputados entraram com pedido de cassação do deputado. Bolsonaro não se pronunciou sobre o caso. E também como poderia, se foi ele quem deu a senha para a agressão à jornalista Vera Magalhães pelo deputado Douglas Garcia, quando também ofendeu a jornalista no debate da Band.

Não só em debate Vera Magalhães foi ofendida por Bolsonaro e seus seguidores. Isso já aconteceu inúmeras vezes por Bolsonaro, pela família dele, e por seguidores. Este blog presta solidariedade a jornalista responsável e competente que é Vera Magalhães e afirma: “Vera você é orgulho para o jornalismo brasileiro”.

Esse blog também alerta aos caros e leitores de leitoras para não entrarem em embates sobre a questão política, principalmente com bolsonaristas. A escalada de violência tem aumentado, e mais ainda aumentará até as eleições. Se Bolsonaro perder as eleições, então será o ápice dessa tragédia que já vivemos.


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7 de Setembro: O sequestro de uma data cívica

Posted by Cottidianos on 23:08

Quinta-feira, 08 de setembro

 


O 7 de setembro amanheceu frio e chuvoso aqui na cidade de Campinas, São Paulo. Acordei por volta das 7h e 30 minutos da manhã. Haveria um desfile cívico-militar para comemorar a data a ser realizado na Avenida Francisco Glicério, uma das mais movimentadas do Centro da cidade. O local fica na esquina do prédio onde moro.

Mesmo assim, estava indeciso entre ver o evento, ou ficar em casa. Porém, quando começou o desfile, vi que era quase impossível ficar em casa, com o som das bandas militares soando quase dentro de casa. Então resolvi prestigiar o evento. Peguei um guarda-chuva, e sai para a rua.  Não pretendia ficar muito tempo. Apenas uma passada rápida para ver o desfile. Era essa a minha intenção.

Quando cheguei ao local do evento observei que havia muitas pessoas com bandeiras do Brasil, camisas verde-amarelo, e outros adereços que lembram a pátria amada. Tudo aquilo me causou, de início, um estranhamento. Esse sentimento em mim me incomodou muito a mim mesmo.

Fiquei pensando no motivo de estar me sentindo desse jeito. Afinal de contas, são as cores do país onde nasci, e as quais eu muitas vezes também já usei. Era supernormal as pessoas estarem vestindo verde-amarelo. O problema é que, com a eleição de Jair Bolsonaro, houve um sequestro dos símbolos nacionais. Os símbolos nacionais passaram a expressar não ideais patrióticos, mas os ideais de uma extrema direita. Nem a ideologia de um partido político essa direita representa, pois o presidente é avesso à partidos. A relação de Bolsonaro com os partidos políticos é de conveniência, e só. Bolsonaro precisa de um partido pelo qual possa concorrer, então vai lá se filia a ele, mas não há uma relação de pertencimento a esse partido nem um compromisso de fidelidade.

Enfim, aos poucos fui me tranquilizando e aceitando que era normal as pessoas vestirem o verde-amarelo. Meu receio era que o desfile fosse usado politicamente, como aconteceu no Rio e em Brasília, mas aqui em Campinas foi supertranquilo nesse sentido. Não houve essa mistura.

Primeiro desfilaram os militares: Marinha, Exército e Aeronáutica. Depois passaram representantes de entidades educacionais e culturais, as escolas, e encerrando o evento, houve um desfile de carros antigos, e motos.

Minha intenção primeira era não me demorar muito no evento, porém, encontrei um ótimo lugar, encostado a grade de proteção, e por ali fiquei. Posso dizer que no desfile cívico militar realizado aqui na cidade, após dois anos suspenso por causa da pandemia, eu vi bravura.

Não bravura por parte dos militares, nem dos demais adultos, mas por parte de jovens e crianças. As crianças tão pequeninos, tão miudinhos, e estavam ali desfilando, firmes, debaixo de chuva, pois caia uma chuva fininha quando as escolas passaram na avenida. 

Eu ali, encostado na grade de proteção, debaixo de um guarda-chuva, e vestindo três agasalhos, ainda sentia frio, imaginem aquelas crianças com roupas para serem usadas em dias de sol esplendoroso. Mais um motivo para    que eu prestigiasse o evento.

Vi apenas uma criança chorar. Dois meninos seguravam as extremidades de uma faixa.  Um deles tremia de frio, e chorava um choro contido. A professora ali, caminhando ao lado do menino, com a mão apoiada no ombro dele. Por fim, alguém que estava assistindo ao desfile — provavelmente algum — familiar do garoto entregou um casaco que a professora vestiu no menino. Com certeza, diminuiu um pouco do sofrimento dele.

No encerramento do desfile, começaram então os atos políticos, tanto da direita, quanto da esquerda. Então fui para casa para ver pela TV o que acontecia em Brasília, e depois no Rio.

E as coisas que vi não me deixaram nem um pouco feliz e orgulhoso da festa dos 200 anos da independência do Brasil. 

Era para ser um momento de grande festividade para todos os brasileiros e brasileiras, mas o que vimos foi um sequestro. Jair Bolsonaro, assim como sequestrou os símbolos nacionais, também fez a mesma coisa com o 7 de setembro. Ele transformou a data cívica num grande comício eleitoral, numa peça de campanha. E teve sucesso nisso. Conseguiu reunir milhares de pessoas, tanto em Brasília, quanto no Rio de Janeiro.

Em Brasília, o presidente discursou logo após o desfile militar em comemoração ao Bicentenário da Independência do Brasil. Discursou em cima de um trio elétrico montado por seus apoiadores. Antes do pronunciamento do presidente, a primeira dama, Michelle Bolsonaro discursou, em seguida o empresário Luciano Hang. Hang é investigado no STF no inquérito das fake news.

Bolsonaro nem disfarçou. Foi explícito. Direto ao ponto. Pediu votos para si mesmo no dia 02 de outubro. “A vontade do povo se fará presente no próximo dia 2 de outubro. Vamos todos votar, vamos convencer aqueles que pensam diferente de nós, vamos convencê-los do que é melhor para o nosso Brasil”, disse ele em trecho do pronunciamento.

Repetindo-se como papagaio, o presidente disse travar uma “luta do bem contra o mal”. Ao usar esta expressão o presidente se refere ao ex-presidente Lula, e seu principal opositor nas eleições deste ano e que lidera as pesquisas de intenção de voto.

Numa democracia, os adversários não tratados como inimigos, mas sim, como adversários. Há uma grande diferença entre um termo e outro, principalmente quando se trata de política. Mas se há coisa que Bolsonaro não consegue é ser democrata, e não o é porque, para se afirmar como tal, é preciso respeitar as diferenças, coisa que ele também não consegue fazer.

Ainda em cima do trio elétrico em Brasília, Bolsonaro elogiou a primeira dama, dizendo que ela é “uma mulher ativa na minha vida, não é ao meu lado, não, muitas vezes ela está é na minha frente”. Bolsonaro beijou a mulher e, ao ouvir gritos de seus apoiadores puxou, ele mesmo, o coro de “Imbrochável, imbrochável, imbrochável”, ou seja, o tipo macho alfa que não falha na cama. Protagonizou assim o momento mais patético do discurso.

O jornalista William Waack fez um comentário jocoso, e muito inteligente na CNN Brasil: “O Brasil não precisa se preocupar com a irrigação sanguínea do pênis de Bolsonaro. Ela está plenamente normal e satisfatória, ele assegurou. O que permite esperar que a irrigação sanguínea esteja também plenamente normal e satisfatória em outros órgãos dos quais ele precisa para governar, como o cérebro, por exemplo”, disse o jornalista.

Em relação a expressão “imbrochável” usada por Bolsonaro também em outras ocasiões penso que se trata aí de sexualidade mal resolvida. Mas isso é coisa para a psicologia explicar.

No Rio de Janeiro, não foi diferente. O presidente também usou o aparato estatal e as comemorações do Bicentenário para se autopromover e fazer campanha eleitoral. O presidente partiu do Aterro do Flamengo em uma motociata e chegou à Copacabana por volta das 14h50min. De cima do palco acompanhou a apresentação da esquadrilha da fumaça e de paraquedistas do Exército e da Aeronáutica. No Rio, mais ataques ao ex-presidente Lula, mais pedidos de votos, e mais desrespeito à lei eleitoral ao usar o cargo para se autopromover. Luciano Hang também estava no palco, ao lado do presidente, no Rio, assim como esteve em Brasília.

Alguns veículos de comunicação disseram que Bolsonaro foi moderado. Não, ele não foi. O presidente pode até moderado as palavras. Mas há muitas formas de ser radical. Pode-se atacar outro indiretamente, com meias palavras, ou incitando a turba contra determinada pessoa ou instituição, ou mesmo afrontando decisões de outro Poder.

E Bolsonaro fez tudo isso. Ao colocar Luciano Hang ao seu lado no palanque, ele, mais uma vez, afronta o STF, pois o empresário é investigado naquele órgão. “É obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da Constituição. Com a minha reeleição, nós traremos para as quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora dela”, Bolsonaro disse essa frase no Rio, e o que é isso senão uma provocação ao Supremo Tribunal Federal?

Pela manhã, em Brasília, o presidente fez um café da manhã com empresário, parlamentares e ministros. Nesse evento, após citar vários momentos em que o país passou por tensão, o presidente disse: “A história pode se repetir. O bem sempre vence o mal”. Se isso não é uma velada ameaça de golpe, então o que é?

Na manhã de 7 de setembro, antes de ir para o vento na Praça dos Três Poderes, em Brasília, Bolsonaro deu uma entrevista à TV Brasil, canal estatal na qual também exaltou os feitos do seu governo, o que também é proibido pela lei eleitoral. Começava ali, o 7 de setembro de Bolsonaro e de seus apoiadores, e não o 7 de setembro do povo brasileiro.

Ainda antes de terminar este artigo, relato uma cena que vi no desfile cívico-militar aqui em Campinas.

Já haviam passado todas as representações das Forças Armadas, entidades, escolas, e naquele momento passava na Avenida Francisco Glicério o povo do Grito dos Excluídos, promovido pelos partidos de esquerda. Ao meu lado, um apoiador e uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro começaram a gritar ofensas ao PT e ao ex-presidente Lula.

O pessoal do Grito dos Excluídos era ladeado por policiais que cuidavam da segurança desses manifestantes. Quando um destes policiais passou perto dos apoiadores que gritavam junto as grades de proteção, notei que os dois reduziram o volume em que gritavam.

Foi então que um dos policiais que estava acompanhando o Grito dos Excluídos, olhou para eles e, com o olhar, os incentivou a que gritassem ainda mais alto as ofensas contra o PT e contra o ex-presidente Lula. Ninguém mais notou essa cena. Apenas eu, pois essa cena se deu em  átimos de segundo.

Ao ver essa cena, minha visão foi mais à frente, nos pós eleição. Se o presidente Jair Bolsonaro perde a eleição, e se os apoiadores dele resolvem fazer aqui o que fizeram no Capitólio, os policiais cruzarão os braços, incentivarão com os olhos e com a passividade uma violência maior? Esse é um perigo que corremos e ao qual precisamos ficar atentos.


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7 de setembro

Posted by Cottidianos on 23:35

Terça-feira, 06 de setembro

Caros leitores e leitores, hoje apenas compartilho um texto curtinho, mas que diz muito, que publiquei na minha página no Facebook, e achei que caberia também aqui.

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Amanhã é 7 de setembro, e se eu pudesse pedir algo a São Pedro, eu pediria que fosse um dia frio e chuvoso em todo o país. Uma chuva fina, como lágrimas que escorrem discretas pelo canto do olho. Seria o céu chorando por uma pátria dominada pela corrupção, pelo ódio, pelo radicalismo. Não se fala de livros, fala-se de armas. Que futuro terá uma nação assim. O ódio brota até mesmo em ambientes que antes eram sagrados, como as igrejas evangélicas, e em certos setores radicais da igreja católica. O evangelho deu lugar à mentira, às fake news, à idolatria. E uma gente iludida que, feito marionetes de teatro mambembe, grita o nome de A e de B. Cegos guiando outros cegos. 200 anos de Independência, deveria ser motivo de orgulho e festa, mas será o 7 de setembro mais idiota que já vi na minha vida.  


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O renascer de Cristina Kirchner

Posted by Cottidianos on 22:41

Sexta-feira, 02 de setembro

Nesta sexta-feira, 02 de setembro, as coisas no Brasil estão relativamente tranquilas, mas na Argentina... O clima não é o mesmo. O presidente Alberto Fernandez decretou feriado, e milhares de pessoas foram às ruas, mas o clima não era de festa, mas, sim, de tensão e revolta.

O mundo ficou chocado no dia de hoje com a tentativa de assassinato da vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner.

Era para ser uma noite de quinta-feira normal para Cristina. Era por volta das 9 da noite. Ela estava no Senado. A sessão terminou e ela voltou para casa, no bairro da Recolta, área nobre de Buenos Aires.

Na frente da casa dela está um grupo de apoiadores. Não foi nenhuma surpresa encontra-los lá. Ela já esperava que eles estivessem ali. Afinal, estão montando guarda na frente da casa dela desde que o Ministério Público pediu a prisão dela. O órgão pede 12 anos de prisão para ela pelo crime de corrupção ligada à contratação de obras públicas. O promotor, Diego Luciani a acusa de desviar dos cofres do estado no período em que ela foi presidente do país no período entre 2007 e 2015.

Desde então os apoiadores montaram um espécie de acampamento em frente à casa onde ela reside. Ela chegou lá, e como faz desde o dia em que o grupo chegou, ela desceu do carro para cumprimenta-lo, tirar fotos, enfim, ser gentil com aqueles que a defendem.

Porém, aquela noite seria diferente. Poderia ter sido à noite em que a vice-presidente da Argentina perderia a vida. Dentre a multidão de apoiadores que a cercava, nem todos estava com boas intenções.

Um deles queria a morte de Cristina. Era Fernandes André Sabag Montiel, de naturalidade brasileira, 35 anos, motorista de aplicativo. Ele nasceu em São Paulo e é filho de mãe argentina e pai chileno. Ele saiu do Brasil para morar na Argentina por volta dos 10 a 15 anos de idade.

No momento em que Cristina estava cumprimentando apoiadores, surgiu ali no meio deles, uma mão segurando uma arma apontada para o rosto dela. Óbvio, a reação de Cristina foi de susto. Ela fechou os olhos e deve ter pensado “vou morrer”. Ela chega a se abaixar um pouco. O homem apertou o gatilho da pistola Bersa, calibre 32, de fabricação argentina, carregada com cinco balas uma, duas vezes, mas a arma falhou.

Os próprios apoiadores dominaram o homem... E Cristina segue cumprimentando os apoiadores. Talvez nem tenha se dado conta, naquele momento, do grande perigo que correu.

A polícia prendeu o homem que tentou matar Cristina e descobriu que ele já havia estado às voltas com a polícia. Foi em março de 2021 quando foi detido em Buenos Aires por porte ilegal de armas. Na ocasião, os policiais o abordaram por causa de estar estacionado com carro sem placa traseira. Os policiais pediram o documento do carro, e quando Fernandes abriu a porta do carro para pegá-los, por acaso, caiu de dentro do veículo, um facão com lamina de 25 centímetros.

Nas fotos que Fernandes André Sabag Montiel exibe nas redes sociais, uma tatuagem chama a atenção: um sol negro desenhado na altura do cotovelo. O símbolo remete à SS, polícia de Hittler, e a um ramo secreto do Partido Nacional Socialista liderado, por Adolf Hitler de 1933 a 1945.

O sol negro reúne em si três elementos principais da ideologia nazista; a roda solar, a suástica, e a runa da vitória, letra do alfabeto usado por antigas tribos germânicas.

Esse símbolo foi trazido para o nazismo por Heinrich Himmler, chefe da SS. É um símbolo do ocultismo nazista e que serve para justificar toda aquela barbárie que aconteceu na Alemanha de Hitler. Para os nazistas o símbolo representava a força e a sabedoria da raça ariana.

Segundo a polícia Fernandes segue, nas redes sociais, grupos ligados à disseminação de ódio e o radicalismo, como por exemplo, o “comunismo satânico”, “Coach Antipsicopata”. Grupos que pregam a ideologia nazista também estavam na lista de grupos seguidos por ele.

Nas redes sociais ele também se mostrava um ferrenho crítico do governo argentino, do qual Cristina faz parte.

A jornalista Márcia Soares, correspondente em Buenos Aires, em colaboração ao programa CBN Brasil, da rádio CBN, disse que há duas semanas ele apareceu em entrevista de uma TV muito popular na argentina, a TV Crônica. A TV fazia uma reportagem na rua, perguntando as pessoas o que elas achavam dos planos sociais do governo, se isso geraria preguiça nas pessoas.

E por coincidência, Fernandes foi um dos entrevistados. Na entrevista ele falou mal dos programas sociais do governo. Ele chegou a ser entrevistado por essa TV em duas ocasiões. Segundo a correspondente, ele postou nas redes sociais que havia sido acusado de xenofobia por que tinha falado dos bolivianos

Depois do ocorrido na noite de ontem, as redes sociais dele foram tiradas do ar.

O fato que ocorreu na Argentina nos mostra aonde pode nos levar a radicalização. Lembrando que o Brasil o caminha em direção a radicalização, e a intolerância. E tudo isso não nos leva a sermos um país melhor, nem a sermos pessoas melhores. Muito pelo contrário, isso nos torna pior em todos os sentidos.

E é bom pensar nisso, porque, exatamente, daqui a um mês teremos eleições. Há menos de um mês tivemos o caso de um guarda municipal que foi morto por um bolsonarista porque havia organizado uma festa de aniversário com tema do PT.

Na noite desta quinta-feira, 01, por pouco também não houve uma tragédia dentro de uma igreja evangélica, em Goiânia. O cabo da Polícia Militar, Vitor da Silva Lopes, 37, atirou na perna do irmão, Davi Augusto de Souza, 40. A vítima foi levada ao hospital, passou por cirurgia, e não corre risco de morte.

A briga se deu na Congregação Cristã do Brasil, Setor Finsocial, região noroeste de Goiânia. O homem baleado discordava da orientação dos pastores, que, seguindo a diretriz nacional da igreja, pregavam o discurso contra partidos e políticos de esquerda.

É preciso lutar contra essa onda de radicalização que atinge, não só Brasil, Argentina, mas que também já chegou aos Estados Unidos, e a diversos outros países. Não podemos retroceder. A Lei, mas também cada um de nós é um guardião da democracia, e não podemos prescindir desse alto valor. E democracia pressupõe liberdade de opinião e respeito pelo outro.


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