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Luz vermelha no mundo

Posted by Cottidianos on 15:07

 Domingo, 28 de novembro



Final do ano de 2019.

Enquanto o mundo festejava as festas de Natal e se preparava para mais uma noite de Réveillon com toda a alegria e votos de Feliz Ano Novo que lhe é característica, na China, mais precisamente na cidade de Wuhan, localizada na província de Hubei, um vírus silencioso se espalhava sorrateiramente. Os médicos chineses pensaram se tratar de casos de pneumonia. Depois descobriram que estavam lidando com uma desconhecida variante do coronavírus. Até então haviam sido identificados seis tipos de coronavírus. Esses tipos de vírus causam no máximo um resfriado comum.

Porém, o novo vírus se manifestou de uma forma totalmente diferente dos seus pares anteriores. Ele provocou a doença terrível, denominada pelos cientistas de Covid-19... E mudou o curso da história do planeta. Em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde reconheceu que estávamos diante de uma pandemia. O restante da história vocês já sabem muito bem como se desenvolveu.

Desde então, nós, habitantes deste pequeno grande planeta — pequeno em relação a imensidade de astros, estrelas, galáxias, e planetas que o rodeiam, e grande em relação a si mesmo — temos vivido de sobressaltos em sobressaltos. Pensávamos que tudo estaria resolvido, pelo menos em parte, com as vacinas.

Mas, como temos visto mundo afora, as coisas parecem não ser tão simples assim. Primeiro há os amantes do coronavírus. Sim, pasmem, leitores e leitoras há, sim, os amantes do vírus. Seja eles governantes, como o do Brasil, por exemplo, que fez de tudo para o vírus demorasse mais tempo no país, e matasse o maior número de pessoas possível, como há também as pessoas do movimento anti-vacina, que veem as vacinas como causadoras de mortes, e não o vírus. Para elas, a ameaça esta não no coronavírus, mas nas vacinas aplicadas contra ele. É um modo tosco, e até ingênuo de pensar. Ignorância mesmo.

A questão é que essa ignorância não prejudica apenas a pessoa que é portadora dela, mas todo um coletivo. Tanto é que alguns países enfrentaram, outros ainda enfrentam a pandemia dos não vacinados. São eles os responsáveis, por exemplo, pelo aumento dos casos de Covid-19 na Europa. Os Estados Unidos também já enfrentaram problemas semelhantes. Então, por tudo isto, podemos concluir que o pessoal antivacina não são apenas ignorantes, mas também, irresponsáveis.

Semana passada o mundo entrou novamente em alerta. Mais um sobressalto. Na sexta-feira, 26, a OMS anunciou o registro de mais uma variante do coronavírus surgida na África do Sul. A nova variante recebeu dos cientistas o nome de Ômicrom, em referência a última letra do alfabeto grego. A OMS classificou essa variante como “variante preocupante”.

E o motivo da preocupação é que a nova variante. possui 50 mutações, algo ainda não registrado antes em variantes do coronavírus. Mais de 30 dessas mutações se concentram na chave que o coronavírus usa para entrar nas células, chamada de “spike”. A spike é para onde se concentram os esforços dos cientistas ao desenvolver as vacinas contra o coronavírus. A nova variante também apresenta maior risco de infecção pela Covid-19.

Apesar de os cientistas ainda não saberem exatamente quão transmissível ou perigosa é a nova variante, eles estão apavorados apenas em saber o número de mutações que ela carrega.

O fato é que, além da África do Sul, a variante já foi detectada também na Alemanha, Austrália, Bélgica, Botsuana, Dinamarca, Hong Kong, Israel, Itália, Reino Unido, República Tcheca. Vários países já começam a proibir voos com origem na África do Sul.

No Brasil, o governo federal publicou uma portaria em edição extra do Diário Oficial da União, na qual proíbe, temporariamente, voos originários de seis países, a saber; África do Sul, Botsuana, Eswatini (ex-Suazilândia), Lesoto, Namíbia e Zimbábue. A proibição começa a valer nesta segunda-feira, 29. A recomendação da proibição dos voos havia sido feita ao governo federal pela Anvisa, na sexta-feira, 26.

A portaria foi assinada neste sábado, 27, pelos ministros Ciro Nogueira (Casa Civil), Anderson Torres (Justiça e Segurança Pública), Marcelo Queiroga (Saúde), e Tarcísio Freitas (Infraestrutura).

Ainda na sexta-feira, apesar da nota técnica emitida pela Anvisa, a criança mimada, e quando digo “criança mimada” estou me referindo ao presidente Jair Bolsonaro, o menino birrento, e egocêntrico que mora dentro dele, passou o dia dizendo que não iria proibir voos.

Bolsonaro foi questionado por um apoiador sobre a questão e respondeu: “Tem que aprender a conviver com o vírus. Não vai vedar [a entrada de estrangeiros], rapaz. Que loucura é essa? Fechou o aeroporto o vírus não entra? Já está aqui dentro”. O homem ainda questionou o presidente sobre a nova onda de Covid-19 na Europa, e o presidente respondeu dizendo que o apoiador estava “vendo muita Globo”.

Enfim, Bolsonaro passou o dia repetindo que não iria proibir voos com origem na região onde surgiu a nova variante do coronavírus, mas, certamente, deve ter sido pressionado pelos seus ministros, pois, ainda no fim da tarde da sexta-feira, 26, o ministro chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, divulgou nota em que afirmava a proibição dos voos.

Ainda se comportando como criança birrenta, dessas que fazem beicinho, que esperneiam, e choram quando contrariadas, o presidente reclamou: “Não é Anvisa quem decide? Pergunta pra Anvisa. Ponto final. Eu não tenho opinião. Eu sou um presidente que não tenho como decidir as questões voltadas à pandemia. Quem decide é o Supremo.”

Ainda com relação ao coronavírus, os líderes mundiais parecem que ainda não compreenderam que o incomodo vírus veio para testar os limites da globalização, e para dizer que somos todos elos de uma mesma corrente. Não adianta as campanhas de vacinação avançarem apenas nos países mais desenvolvidos e deixar as regiões mais pobres do planeta sem cobertura vacinal. Pois, justamente, essas regiões, podem se tornar celeiros de novas e mais perigosas variantes, e então o belo trabalho de vacinação feita nos países ricos, pode ir embora com a mesma fragilidade dos castelos de areia na beira do mar, levados pelas suaves ondas.

 Saindo da área da saúde para o futebol, permeando, entretanto, o campo da política.

No sábado, 24 de novembro de 2019, os torcedores do Flamengo estavam em êxtase. O time havia ganhado o título da Taça Libertadores daquele ano. Os jogadores ainda estavam no gramado do estádio Monumental de Lima, no Peru. O ex-governador do Rio, afastado do cargo por corrupção, também estava presente no estádio.

O jogador do Flamengo Gabigol estava ainda no gramado, alegremente, conversando um integrante da comissão técnica. Ele havia sido o herói do jogo ao marcar dois gols contra o rival River Plate — o placar do jogo foi de 2 x 0 por Flamengo — e levar o time carioca à vitória. Witzel se aproxima do jogador, aperta a mão dele, cumprimenta-o, em seguida se ajoelha aos seus pés. O jogador que estava sorrindo, fecha a cara, se afasta do governador, e saí andando em outra direção. Wilson Witzel protagonizou uma cena patética. Ao ver aquela cena, não pude deixar de estranhá-la, e de ver que havia algo errado com aquele homem, e havia mesmo uma hipocrisia sem tamanho.

Neste sábado, novamente houve decisão da Libertadores da América. Dessa vez, a final foi entre dois grandes do futebol brasileiro: Palmeiras x Flamengo. Gabigol até chegou a marcar um gol na partida, mas o Palmeiras marcou dois e ficou com o título.

Pois bem, o presidente Jair Bolsonaro, que era palmeirense até poucos dias atrás, resolveu mudar de time nessa decisão da Libertadores e declarou seu apoio ao Flamengo. E por que Bolsonaro traiu o verdão? Por simples cálculo político.

O Flamengo possui uma das maiores torcidas do Brasil, e portanto, de acordo com raciocino baixo dele, renderia mais votos. Além disso, a diretoria do clube carioca é simpática a ele, suas ideias, e seu governo.

Portanto, caros leitores, não esperem fidelidade de Jair Bolsonaro, em lugar algum: nem no futebol, nem na política. Ele troca de clubes de futebol ou de partido como quem troca de roupa. E também não esperem que ele esteja interessado em coronavírus, em economia, em inflação, educação, ou outro assunto qualquer, pois o único objetivo dele parecer ser a reeleição, e tirando isso, nada mais importa.


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As marcas da discriminação

Posted by Cottidianos on 00:08

Domingo, 21 de novembro

Negro entoou

Um canto de revolta pelos ares

No Quilombo dos Palmares

Onde se refugiou

...

E de guerra em paz

De paz em guerra

Todo o povo dessa terra

Quando pode cantar

Canta de dor

(Canto das Três Raças – Mauro Duarte e Paulo César Pinheiro)

 

                                                Casarão Pq. Ecológico - Campinas, São Paulo

Sábado, 20, comemorou-se o Dia da Consciência Negra. E eu gostaria de começar falando de uma experiência pessoal.

O Parque Ecológico Monsenhor Emílio José Salim, é um dos lugares favoritos onde gosto de passear aqui, na cidade de Campinas, São Paulo. O lugar onde fica o parque era originalmente a Sesmaria e Engenho Fazenda do Mato Dentro. É uma grande área verde aberta ao público. Lá as pessoas vão para fazer piqueniques, caminhadas, andar de bicicleta, enfim, fugir um pouco da rotina. Segundo informações do Wikipedia, o local possui uma área de “2.850.000 m² (sendo 1.100.000 m² aberta ao público”.

A data de fundação da fazenda é de 1806. Ainda faltavam 133 anos para que a escravidão fosse abolida no Brasil. Portanto, os donos daquela enorme fazenda também tinham escravos. E julgar, pelo tamanho da casa em que moravam e o tamanho das terras que possuíam, também eram donos de muito capital.

O parque conserva alguns prédios remanescentes da construção original, entre elas a casa grande, onde moravam os senhores do engenho, a casa anexa, a capela, e a senzala. Antes, esses prédios também eram abertos à visitação pública. Hoje, o público só consegue ver o exterior das construções.

Porém, quando estavam ainda estavam abertos à visitação, tive a oportunidade de entrar neles. Fui junto com um amigo. Comecei visitando a pequena capela onde os donos daquelas terras e seus familiares faziam suas orações, depois entrei na casa-grande.

Passeamos tranquilamente pela parte de cima, onde viviam os senhores de engenho. Olhando o mobiliário, louças, e outras coisas que estavam expostas deu para ter uma visão dos costumes dos habitantes daquela época e, especialmente, daquela casa. Enquanto estávamos visitando essa parte da casa, tudo me pareceu muito tranquilo. Meus sentimentos estavam todos em harmonia.

No subsolo da casa grande, ficavam as instalações onde os escravos eram alojados. Desci até lá, junto com o meu amigo. Lá estavam expostos objetos referentes ao mundo dos escravos, objetos com os quais eles eram torturados, e tudo o mais. O contraste entre os dois ambientes era gritante. Lá em cima, o luxo. Embaixo, a mais pura simplicidade.

Imediatamente quando entrei naquele ambiente, fui acometido por uma outra sensação, bem diferente da que tinha experimentado quando visitei o espaço onde ficavam os donos do engenho. Comecei a sentir uma sensação de como quem está sufocando. Me faltava o ar. Não conseguia respirar. Não aguentei ficar muito tempo ali, e saí. Meu amigo, que também desceu até a senzala junto comigo, não sentiu as mesmas emoções.

Embora não percebamos, mas o bem, ou mal que praticamos, cria em torno de nós, e daqueles que nos rodeiam um campo de energia, igualmente boa ou má. Os escravos daquela fazenda viveram ainda nos anos 1800, muito tempo já se foi, mas a energia pesada na qual eles viviam ainda estava impregnada naquele ambiente.

Nas senzalas do Brasil colônia e do Brasil Império, certamente, circulava uma energia de dor e sofrimento. Havia os clamores de corpos cansados implorando por descanso e paz, e consciências roubadas implorando por liberdade. Havia muito ódio contra senhores tiranos. Claro, havia também momentos de alegria e de festa, mas, creio, ser os primeiros dominantes. Finalmente, em 13 de maio de 1888, os escravos receberam suas cartas de alforria, e tudo mudou.

Será que mudou mesmo?

Para começar, os escravos saíram dos locais onde trabalhavam, como dizemos atualmente, apenas com a roupa do corpo. É como se os trabalhadores das indústrias do Brasil fossem mandados embora sem direito a coisa alguma. Sem serem remunerados pelo tempo em que trabalharam para suas empresas.

Como recomeçar a vida numa situação dessas? Foi mais ou menos isso o que aconteceu com o povo escravizado libertado pela Lei Áurea. E o pior, o estado brasileiro, não fez a menor ação no sentido de prover aquele povo de meio algum meio com os quais eles pudessem recomeçar suas vidas.

Vale destacar que o Brasil foi o último país do continente americano a abolir a escravidão, e Campinas, a última cidade brasileira a fazer o mesmo.

A “demissão” dos escravos naqueles fins de 1800, e a ida deles para a rua da amargura, deixou para o povo negro uma herança de pobreza, miséria, racismo e preconceito. Ainda hoje, os negros ainda são atingidos pelas balas do preconceito, e pelos tiros que saem das armas dos policiais.

Por que o Dia da Consciência Negra é comemorado no dia 20 de novembro, e não em 13 de maio?

Por que, como vimos, nas ações que resultaram nos eventos de 13 de maio, os negros foram coadjuvantes, e não protagonistas. Foram os brancos que lutaram pela causa abolicionista, foi uma princesa branca que assinou a Lei Áurea.

Dia 20 de novembro foi o dia da morte de Zumbi dos Palmares, o líder do maior quilombo brasileiro e que mais tempo resistiu ao poderio português. Apenas sob o comando de Zumbi foram quase 20 anos de luta. Ele assumiu a liderança do quilombo em 1678. Os primeiros registros da chegada dos negros ao Quilombo dos Palmares se dão por volta do ano de 1580. Sem dúvida, a história de Palmares explicita uma história de luta e resistência contra a opressão que reinava nas fazendas de açúcar e de café, e também contra os portugueses que temiam o poder de organização social e política que os quilombolas conseguiram desenvolver dentro dos quilombos.

A luta dos negros não terminou com a abolição da escravidão. Ao contrário, ela continua até hoje. Em parte, herança daquela “demissão” em massa, sem direito a nenhuma remuneração por tempo trabalhado, em parte porque tem gente cujo pensamento não evoluiu e  ainda pensam que ainda estão nos atrasados tempos, em que se achava que negro não merecia circular nos mesmos lugares que os brancos, e nem frequentar os mesmos espaços que eles. Diríamos que são pessoas mentalmente atrasadas em relação ao espaço e ao tempo.



Por exemplo, neste dia 20 de novembro, dia em que se comemorava o Dia da Consciência Negra, enquanto várias cidades brasileiras faziam suas comemorações e protestos, dois irmãos, em Belo Horizonte, sentavam-se na cadeira de uma delegacia para registrar um boletim denunciando uma injuria racial que sofreram.

Carlos Miguel de Almeida, anos, e Carlos Eduardo Almeida, 22 anos, saíram no sábado á noite para ver a partida do time do coração: O Atlético Mineiro. O Atlético jogou naquela noite com o Juventude.

Já dentro do estádio ocorreu uma discussão. Segundo os jovens, um homem que eles conheciam por terem amigos em comum com ele, dirigiu-se até os dois irmãos e falou para eles: “Estão olhando o quê, macaco? Bando de macacos”.

Ao Portal G1, Carlos disse “Senti uma angústia tão grande (...) Por ser uma pessoa que a gente conhece, sabe quem é, foi o que doeu mais. Não tem desculpa porque estava bêbado, ele sabia o que estava falando”.

A administração do estádio disse que repudia os casos de discriminação e injuria racial e que a atendimento, orientação e acolhimento foi prestado aos dois ofendidos. E que auxiliará as autoridades nas investigações. A administração também disse que tem trabalhado em campanhas educativas.

E ainda dizem que o Brasil não é um país racista. O próprio fato de serem elaboradas campanhas educativas contra o racismo é uma prova cabal de que ele existe em nossa sociedade. Basta olhar para as estatísticas de mortes pela polícia na qual os negros são a maior parte das vítimas em relação aos brancos, e a falta de negros em alguns ambientes e postos de trabalho para vermos outras provas evidentes que o racismo ainda é muito forte em nosso país.

Mesmo quando os negros chegam a postos de destaques, nem assim eles são poupados.



Na noite de segunda-feira, 08, deste mês, ocorria uma sessão na Câmara Municipal de Campinas. A vereadora do PT, Paolla Miguel, ocupava a tribuna fazendo um discurso no qual abordava o projeto que trata do Conselho de Desenvolvimento e Participação da Comunidade Negra e um Fundo Municipal de Valorização da Comunidade Negra, quando, da área destinada ao público ouve-se uma voz de mulher que dizia: “Preta lixo”.

Na hora, o vereador Zé Carlos (PSB), disse: “Alguém na plateia disse uma besteira. Nós estamos gravando a sessão. Nós vamos buscar as imagens, e quem falou vai pagar [...] Já vieram três vereadores falar aqui do racismo que aconteceu aqui dentro. A TV Câmara grava neste momento e já vai separando essas imagens. Quem fez isso vai pagar. A gente está pedindo com educação. As imagens falam por si, fiquem tranquilos. Eu vou expor aqui na Câmara quem falou essa bobagem”.

A vereadora registrou um boletim de ocorrência por injúria racial e uma investigação se seguiu. A mulher foi identificada e prestou depoimento. À polícia a mulher disse que foi mal interpretada. Que não tinha intenção de proferir a ofensa. Quem for bobo que acredite que ela não tinha intenção de ofender. Também o que esperar de uma pessoa que estava na Câmara Municipal de Campinas gritando que as vacinas contra a Covid-19, matam? A mulher fazia parte de um grupo que protestava contra o passaporte de vacina. Nas galerias da Câmara o grupo gritava: “Vacina mata”.

É lamentável que o tempo tenha passado, que a escravidão tenha ficado no passado. É louvável que avanços tenham chegado. Mas é triste ver que algumas mentes tenham ficado no passado, que ainda vivam no passado opressor dos tempos das senzalas. E, radicados nesse tempo, sem dele querer sair, ainda não compreenderam que racismo nos tempos atuais é crime, e que peito de negro não é alvo sobre o qual eles possam praticar tiro ao alvo. E racismo tem mesmo que ser considerado crime, porque racismo mata.


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Marília Mendonça: Uma estrela que volta para o infinito

Posted by Cottidianos on 02:53

Sábado, 06 de novembro


Marília Mendonça

 Era para ser mais uma sexta-feira como outra qualquer, mas não foi.

Cheguei do trabalho por volta das sete da noite. Passei na portaria do prédio, cumprimentei o porteiro. Fiz as brincadeiras de sempre quando passo por lá. Ele estava vendo alguma coisa no celular, na rede social e me chamou para ver.

— Olha o que aconteceu!

— O quê? Perguntei eu, curioso. E me aproximei, achando que ele iria me mostrar alguma coisa engraçada na Internet. Me aproximei, e ele me mostrou imagens de um acidente aéreo.

— Marília Mendonça morreu num acidente de avião, disse ele.

— Não acredito! Disse. E não acreditava mesmo. Achava que era alguma fake news. Enfim, são tantas as notícias falsas que circulam pelas redes sociais, que a gente tem que desconfiar dessas notícias de grande impacto. Me recusava a acreditar que uma cantora de voz tão potente, e uma mulher de uma personalidade tão forte, tinha sido vitimada por um acidente aéreo.

Cheguei em casa e a primeira coisa que fiz, aliás como quase sempre faço, foi sintonizar a rádio CBN. Quando sintonizei a rádio a sala de casa imediatamente foi invadida com a triste notícia da morte da cantora. E daí, não parou mais. Rádio, televisão, jornal impresso, Internet, conversas nos bares, nas ruas, todos falam do acidente fatal que vitimou a artista, que, em pouco anos, com voz poderosa e personalidade forte, se tornou um fenômeno da música sertaneja e das redes sociais. O sucesso de Marília Mendonça foi desses sucessos que a gente costumar chamar de meteórico.

No início da tarde desta sexta-feira, 05, foi uma Marília Mendonça alegre, e em paz consigo mesma que embarcou no aeroporto Santa Genova, em Goiânia. Fez postagens antes de embarcar, caminhando em direção a aeronave com a bagagem de rodinhas, e o violão pendurado no ombro. Dentro da aeronave, fez novas postagens fazendo uma refeição, e até fez brincadeiras com sua dieta.

A cantora ainda carregava as boas energias e vibrações adquiridas durante a quinta-feira, 04. A mãe dela. Ruth Moreira, havia feito aniversário naquele dia, e Marília se reuniu com ela para comemorar a data tão especial. Marília postou as comemorações em uma rede social.

Seu cuidado e carinho ultrapassam o limite do ser mãe. Você, com seu coração gigante, não se conforma em simplesmente ser mãe de Marília e João Gustavo, mas é mãe de todos que ama de verdade. Seu coração deveria ser estudado e reproduzido nas próximas gerações. O mundo seria mais bonito se existissem mais Ruths espalhadas por aí. Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida. Seremos sempre nós. Conectadas, entrelaçadas e fortes. Juntas! Te amo, mãe! PRA SEMPRE! Feliz aniversário @ruthmoreira67.”, escreveu ela no Instagram. Nem sabiam as duas que aquela era uma despedida. Que aquelas eram uma das últimas postagens de Marília Mendonça.

Quando Marília diz: “Obrigada por cuidar tão bem do amor da minha vida”, ela provavelmente estava se referindo ao filho, Léo, de quase dois anos de idade. O Léo foi mais sonho realizado pela cantora.

O avião em que a Marília Mendonça estava seguia em direção a Ubaporanga, cidade da região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais. De Ubaporanga ele seguiria, de carro, por estrada de terra, até a cidade vizinha de Caratinga, onde faria um show na noite desta sexta-feira, 05, no Parque de Exposições da Cidade.

Era por volta da 16h30min, quando a aeronave — um avião bimotor da King Air da Beech Aircraft, fabricado em 1984 — se aproximava da pista de pouso. Estava a apenas dois quilômetros de uma aterrisagem tranquila e de uma viagem sem maiores incidentes. Foi então que tudo aconteceu. Quando passavam pela localidade de Piedade da Caratinga, a aeronave que transportava a cantora atingiu os cabos de transmissão da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). O avião bimotor então perdeu sustentação.

Em uma região da mata, e em desespero, o piloto procurou, naqueles instantes fatais, um lugar onde pudesse fazer um pouso forçado. Tentou uma clareira, em uma cachoeira, mas era um lugar acidentado e cheio de pedras. O piloto bem que tentou, mas o pior aconteceu. O avião não explodiu, mas espatifou-se nas pedras, matando todos os ocupantes.

Além de Marília Mendonça, morreram no acidente; Geraldo Martins de Medeiros Junior, o piloto, Tarciso Pessoa Viana, o copiloto, o produtor-geral Henrique Ribeiro e o assessor Abicieli Silveira Dias Filho, que também era tio de Marilia Mendonça.

A mãe de Marília Mendonça, Ruth Moreira, logo cedo percebeu que a filha cantava bem, tinha uma boa voz. Então começou meio que a empurrá-la para esse caminho. Levava a filha para cantar em restaurantes, barzinhos, em troca de cachês baratos, e comida. Coração de mãe é como mente de Nostradamus. Ali onde ninguém enxerga talento, ela enxerga uma celebridade. E dona Ruth estava certa. A menina tinha mesmo dom para a música. Aos doze anos compôs seu primeiro sucesso, Minha Herança, gravado pela dupla sertaneja, João Neto e Frederico.

Apaixonada por redes sociais, Marília começou a postar nelas vídeos em que ela aparecia cantando. Não eram vídeos profissionais. Eram vídeos caseiros e de baixa qualidade. Mesmo assim, o número de visualizações não era pequeno. Quem assistia aqueles vídeos de baixa qualidade sabia que os vídeos podiam até não ser bem elaborados, mas a cantora era de primeira grandeza.

Marília foi seguindo sua carreira mais como compositora que como cantora. Em 2015 ela gravou um EP de estreia. Porém, o primeiro sucesso veio com o lançamento do primeiro DVD, Marília Mendonça. O DVD vendeu 240.000 mil cópias. Quase sempre uma canção se destaca no álbum do artista. E no primeiro DVD da cantora, a música, Infiel, caiu no gosto popular, e, logo levou o disco a receber o certificado de disco de diamante triplo, e também puxou a cantora sertaneja para os braços da fama.

Marília Mendonça seguiu sua carreira iluminada e vitoriosa, arrebanhando multidões por onde passava. Outros milhões de fãs a seguiam pelas redes sociais. Então veio a pandemia do coronavírus impedindo as pessoas de todo o planeta de se beijarem, se abraçarem, de se aglomerar. Os artistas foram uma das categorias que mais sofreram, e ainda sofrem com esse distanciamento.

Entretanto, mesmo em meio à pandemia a luz da cantora brilhou. Sem poder ter o contato físico com o público, os artistas recorreram às lives. Todo mundo queria fazê-las.

No dia 08 de abril de 2020 Marília Mendonça fez a live intitulada, Live Local de Marília Mendonça. O título engana bem, pois a live da cantora não teve nada de local, ao contrário, teve 3,31 milhões de visualizações, tornando-se a live mais assistida da história do Youtube, e a mais vista no mundo, ficando à frente de lives de artistas como Andrea Bocelli.

Sem dúvida, o Brasil perdeu nesta sexta-feira, uma de suas grandes cantoras. Você pode não gostar da música sertaneja, nem do estilo de música cantada por Marília Mendonça, mas não se pode negar a importância dela no meio musical brasileiro.

Em um meio sertanejo dominado pelos homens, em suas composições e nas canções que cantava, Marília Mendonça falou de amores sofridos, de traições, da valorização da mulher, do empoderamento feminino. Virou a “rainha da sofrência”. Enfim, nada melhor que uma mulher para falar com tanta verdade ao universo feminino.

Ela foi responsável pelo movimento musical chamado, feminejo, que significa a ascensão das mulheres na música sertaneja. Na esteira do sucesso de Marília Mendonça vieram, por exemplo, as duplas Simone e Silmara e Maiara e Maraisa.

A morte de Marília Mendonça choca o país por uma série de motivos. Porque nos mostra a brevidade da vida, porque é a mulher que acreditou no sucesso e por ele lutou, porque estava no auge da carreira, e que sempre se superava, e também porque, apesar de ter alcançado o estrelato, sempre soube conservar a humildade, o amor, e o respeito para com seus fãs.

Marília Mendonça nasceu em Cristianópolis, Goiás, em 2 de julho de 1995, e se despediu deste mundo nesta sexta-feira, 05 de novembro de 2021, aos 26 anos de idade. Deixa o Brasil mais triste e o céu mais alegre.

Não poderia deixar de falar neste texto também de outras duas grandes perdas que o Brasil teve recentemente: Uma no campo da música, e outra no campo da literatura.

                                                         Nelson Freire

Na segunda-feira, 01 de novembro, o Brasil se despediu de Nelson Freire, um dos maiores pianistas do mundo. Um verdadeiro gênio no piano. O artista morreu na casa dele, aos 77 anos, no Rio de Janeiro. Ele foi vítima de uma queda que sofreu em casa. Há dois anos ele também havia sofrido uma queda na rua que lhe trouxe uma série de complicações.

Nelson nasceu na cidade de Boa Esperança, Minas Gerais. Talento precoce, ele começou a tocar piano em casa, aos três anos de idade. Os pais resolveram colocar o menino numa aula de piano. Quando já havia feito doze aulas, o professor chegou para os pais do garoto e disse a eles que não tinha mais nada para ensinar, pois o menino já havia aprendido tudo. Aconselhou-os a mudar para o Rio de Janeiro, onde Nelson poderia dar vazão a sua genialidade.

Aos cinco anos, o garoto realizou o seu primeiro recitou em um teatro na cidade de Boa Esperança. Foi ainda quando ele tinha cinco anos que, ele os pais, e mais nove irmãos, mudaram-se para o Rio de Janeiro. O pequeno Nelson causou uma revolução na vida dos pais e dos irmãos. Os pais, que viviam numa cidade pequena e pacata do interior de Minas tiveram que se mudar para a grande e agitada cidade do Rio de Janeiro.

Já no Rio de Janeiro, aos doze anos, ele ficou em sétimo lugar em um concurso internacional de música. A partir daí, trilhou uma carreira brilhante, premiada internacionalmente.


                                                                 Gilberto Braga

Outra grande perda para os brasileiros foi o novelista Gilberto Braga. Gilberto morreu na terça-feira, 26 de outubro, aos 75 anos no Rio de Janeiro. Há algum tempo a saúde do autor vinha se deteriorando. Ele já havia passado por uma cirurgia na coluna, uma cirurgia no coração, e uma hidrocefalia. Uma semana antes Gilberto Braga foi levado para o hospital onde teve uma infecção generalizada. 

Quando era anunciada uma nova novela da Globo e ela tinha a assinatura de Gilberto Braga, o público já ficava na expectativa, pois sabia que novela dele era sinônimo de sucesso.

E de fato, inúmeras foram as novelas de sucessos e personagens marcantes que ele criou. Dentre elas estão, Corpo a Corpo (1984), Rainha da Sucata (1990), na qual atuou como colaborador, e O Dono do Mundo (1991). São também as minisséries Anos Dourados, (1986) e Anos Rebeldes (1992), Paraíso Tropical (2008). Sua última produção foi Babilônia (2015), foi a última produção do autor exibida pela TV Globo.

É também de Gilberto Braga a adaptação para a televisão de Escrava Isaura, romance escrito por Bernardo Guimarães, em 1875. Escrava Isaura se tornou uma das novelas de maior sucesso produzida no Brasil e exportada para vários países.

Á Marília Mendonça, Nelson Freire, e Gilberto Braga, os votos desse blog para que façam uma caminhada espiritual tão ou mais iluminada do que foram as suas caminhadas terrenas.


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Colcha de retalhos

Posted by Cottidianos on 12:47

Terça-Feira, 02 de novembro


Caros leitores e leitoras, que tal começar hoje falando de colcha de retalhos, e, por que não, trazendo um pouco da poesia de Cora Coralina para dentro desse texto no qual se pretende falar de política. Afinal, no meio da acidez em que se tornaram as discussões e as ações no campo político, um pouco de poesia é até um refresco para as nossas mentes e corações.

 Colcha de Retalhos

 

Sou feita de retalhos.

Pedacinhos coloridos de cada vida que passa pela minha e que vou costurando na alma.

Nem sempre bonitos, nem sempre felizes, mas me acrescentam e me fazem ser quem eu sou.

Em cada encontro, em cada contato, vou ficando maior…

Em cada retalho, uma vida, uma lição, um carinho, uma saudade…

Que me tornam mais pessoa, mais humana, mais completa.

E penso que é assim mesmo que a vida se faz: de pedaços de outras gentes que vão se tornando parte da gente também.

E a melhor parte é que nunca estaremos prontos, finalizados…

Haverá sempre um retalho novo para adicionar à alma.

Portanto, obrigada a cada um de vocês, que fazem parte da minha vida e que me permitem engrandecer minha história com os retalhos deixados em mim. Que eu também possa deixar pedacinhos de mim pelos caminhos e que eles possam ser parte das suas histórias.

E que assim, de retalho em retalho, possamos nos tornar, um dia, um imenso bordado de “nós”.

Cora Coralina

 

Sem dúvida, uma grande reflexão dessa maravilhosa poetisa brasileira, chamada Cora Coralina. Fica a dica para os caros leitores fazerem uma autorreflexão a partir dessa poesia. No momento em que o mundo atinge a triste marca dos 5 milhões de mortos pela Covid-19, dedico essa poesia também a todos os que sofrem a dor e saudade de ter perdido para essa doença um familiar, um amigo, um conhecido, ou alguém que admirava. Retalhos de nossas histórias que se foram juntos com eles. 

5 milhões são apenas os números oficiais. E as pessoas que não foram testadas? E as pessoas que morreram em casa, sem assistência médica? Ainda mais triste para nós, brasileiros, é saber que nessa estatística macabra de mortos pela Covid, ocupamos o segundo lugar da lista, ficando apenas atrás dos Estados Unidos. E mais triste ainda saber que milhares de mortes poderiam ter sido evitada em nosso país, se tivéssemos um presidente da República que realmente honrasse esse nome e o cargo que ocupa. Mas, infelizmente, não é essa a realidade.

Bem apropriada essa joia da poesia brasileira escrita por Cora Coralina num texto que vai falar de política, uma vez que as colchas de retalhos, como as conhecemos hoje, totalmente trabalhadas em blocos de tecidos costurados, surgiram dentro de um contexto político.

Durante a Guerra da Independência dos Estados Unidos, começaram a ser feitas muitas colchas com motivos patrióticos e símbolos relacionados à revolução. Em 1795 apareceram os trabalhos feitos em patchowrk e as “bordas despedaçadas”, mas que ainda giravam em torno de um medalhão central. As colchas totalmente costuradas em blocos de tecidos ganharam destaque apenas em 1806.

Enfim, voltemos ao nosso Brasil, com a nossa colcha de retalhos de raças, culturas e histórias. O texto de hoje pretende ser uma colcha de retalhos feitos de vários assuntos, que espero, fiquem bem costurados. Então, postos sobre a mesa, tecidos, agulhas e linhas, comecemos.

Depois de 5 meses e 29 dias de intenso trabalho, finalmente foi colocado um ponto final na CPI da Covid-19. No dia 26 de outubro, com todos os holofotes e atenções viradas para ela, a CPI chegou ao seu final com a leitura do relatório elaborado pelo relator da CPI, senador Renan Calheiros. O relatório foi aprovado pelo placar de 7 votos a favor e 4 votos contra.

O robusto relatório que tem 1.289 páginas todas elas baseadas, fundamentadas, e bem alicerçadas em  depoimentos das testemunhas e investigados convocados pelos membros da CPI, termina pedindo o indiciamento de 78 pessoas, dentre eles o presidente da República, Jair Bolsonaro, e seus três filhos, Flávio, Carlos e Eduardo, deputados federais, ministros, ex-ministro, empresários, médicos, funcionários, e ex-funcionários do governo. De última hora também foi incluído o nome do governador do Amazonas, Wilson Lima.

A Precisa Medicamentos e a VTCLog, empresas que firmaram contratos com o Ministério da Saúde para a compra de vacinas contra a Covid-19, também foram responsabilizadas.

O relatório já foi entregue ao procurador-Geral da República, Augusto Aras. Cópias do relatório também serão entregues ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, aos ministérios públicos do Rio e de São Paulo, e ao Tribunal Penal Internacional.

O nome do senador governista, Luis Carlos Heinz, (PP-RS), chegou a ter seu nome incluído no relatório do senador Renan Calheiros a pedido do senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE), mas, após protestos dos governistas integrantes da CPI, e depois de conversas com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco foi retirado na versão final.

Foram dias intensos de muito trabalho, discussões acaloradas, muitas mentira e silêncios por parte dos depoentes, revelações de fatos estarrecedores como os contratos superfaturados para a compra de vacinas, e o caso da Prevent Sênior, operadora de planos de saúde que escondeu mortes pela Covid, montou um experimento com remédios ineficazes contra a Covid, sem o conhecimento dos pacientes, e obrigou os médicos que trabalhavam para ela a receitar esses medicamentos.

Enfim, espera-se agora que este relatório não fique guardado nas gavetas da procuradoria-Geral da República, nem que o procurador Augusto Aras fique sentado em cima dele, sem tomar nenhuma atitude. O Brasil espera respostas e ações enérgicas para os crimes que foram cometidos pelo governo federal durante a pandemia. E que as Assembleias Legislativas dos estados, investiguem e punam os governadores que também cometeram crimes na pandemia.

Aliás, esse foi um pedido dos senadores governistas durante toda a CPI: o de que os governadores também fossem investigados pela CPI, porém a questão esbarrou em dois muros: a competência para investigar os governos é das Assembleias Legislativas estaduais. Além disso, os senadores teriam apenas um curto de espaço de tempo para analisar mais uma centena de documentos vindos dos estados brasileiros, aliados às centenas de documentos que tiveram que analisar.

Ainda tratando do Senado, continua a situação vexatória acerca da indicação do nome de André Mendonça para a vaga deixada pelo ministro Marco Aurélio de Melo no Supremo Tribunal Federal.

Ao presidente da República cabe indicar os membros do STF. Após a indicação, cabe ao Senado Federal fazer a sabatina do novo indicado para aprovar a ou reprovar a indicação. Geralmente, isso não é uma coisa demorada. Indicado o candidato pelo presidente, logo depois é marcada a sabatina.

No caso de André Mendonça, o caso virou uma novela. Mendonça foi indicado pelo presidente em 13 de julho. Já se passaram quase quatro meses de sua indicação e, até agora, não foi marcada sua sabatina.

Quem é responsável por marcar a sabatina de André Mendonça no Senado é Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça.  E ele não parece nenhum pouco animado para colocar o assunto em pauta. Muito pelo contrário. Em outubro ele disse a aliados que pretende segurar a indicação de Mendonça até 2023. Com essa manobra, a indicação de Mendonça perderia a validade e a indicação ao STF sairia apenas no próximo mandato presidencial.

Outra manobra de Alcolumbre é que o presidente mude a indicação. O nome preferido dele para a vaga no STF é o de Augusto Aras. Alcolumbre, inclusive, faz articulações para que isso aconteça.

O fato é que não sabe ao certo o motivo da resistência de Alcolumbre ao nome de André Mendonça para a vaga no STF. O fato é que, enquanto David Alcolumbre trava uma guerra fria com o Palácio do Planalto, ele vai prejudicando o funcionamento do STF que opera no momento com dez ministros.

Com certeza, causas importantes por lá estão paradas, à espera do ocupante da cadeira de Marco Aurélio. Além disso, julgamentos podem ficar prejudicados em caso de empate. Além disso, há os trabalhos da própria Constituição de Comissão e Justiça do Senado que estão à espera da resolução desse imbróglio para que voltem a sua normalidade.

                                                        Senador Davi Alcolumbre

Continuemos falando de Davi Alcolumbre. Marina, Lilian, Erica, Larissa, Jessyca e Adriana. O que essas mulheres têm a ver com ele? Ainda mais quando se trata de que todas elas são mulheres pobres, desempregadas, e moradoras da periferia do Distrito Federal. Aí, sim, é que não teriam nada a ver com o poderoso e rico Davi Alcolumbre.

Mas elas têm, sim. Em algum momento da vida dessas mulheres comuns cruzou o caminho de Davi Alcolumbre. Essas seis mulheres foram contratadas para trabalhar como assessoras no gabinete do senador. Elas recebiam salários que variavam entre 4 e 14 mil reais.

Na verdade, tudo era uma farsa. Mulheres contratadas. Salários pagos. Mas o fato é que elas nunca pisaram no gabinete do senador. Do salário que elas ganhavam apenas uma pequena parte ficava realmente com elas. O restante ficava com o senador. Isso tem nome e se chama a prática de rachadinha. Apropriação indébita do dinheiro público, desvio de verbas públicas. O caso foi revelado pela revista Veja, publicada em 29 de outubro. Nenhuma das mulheres tinha curso superior ou experiência em funções legislativas.

A reportagem de Veja diz que, ao ser admitidas, as mulheres tiveram que abrir uma conta no banco. Até aí, tudo bem. Essa é uma prática recorrente nas empresas públicas e privadas. O nó da questão era que as mulheres tiveram que entregar o cartão do banco e a senha a uma pessoa de confiança do senador.

Em troca, as mulheres ficavam apenas com uma pequena gratificação. Além do salário, também eram confiscados das mulheres todos os benefícios e as verbas rescisórias a que teriam direito quando fossem demitidas. Nessa farsa criminosa foram desviados dos cofres públicos cerca de R$ 2 milhões. 

A Veja revela que este esquema começou em 2016 e vigorou até março deste ano. Em 2019, Davi Alcolumbre foi eleito presidente do senado para o biênio 2019/2020. Portanto o esquema criminoso organizado por ele, vigorou mesmo durante o período em que ele atuou como presidente do senado.

Pressionadas pela necessidade financeira, e atraídas pela proposta de ganhar dinheiro sem trabalhar, as seis mulheres emprestavam a um esquema criminoso nome, CPF, e carteira do trabalho. Em troca era pedido a elas apenas sigilo total, e pago uma gratificação.

O desvio de dinheiro público praticado por Alcolumbre, sem dúvida, causa um imenso constrangimento no Senado Federal. Um constrangimento que causa silêncio. Principalmente porque nas sessões da CPI da Covid, se viu muito discurso inflamado contra o mecanismo corrupto que se instalou no Ministério da Saúde durante a pandemia.

Na sexta-feira, o senador do Cidadania-SE, apresentou ao STF uma notícia crime contra o presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado (CCJ), Davi Alcolumbre. Nele o senador pede que o STF investigue a prática de rachadinha praticada pelo ex-presidente do Senado. A atitude de Alessandro Vieira só fez aumentar ainda mais o ruidoso silêncio no qual está mergulhado o senado após a revelação do caso pela revista Veja.

Não dá para deixar de fora deste texto a reunião do G20, grupo formado pelas maiores economias do mundo. O encontro aconteceu na Itália. Começou no sábado 30, e terminou no domingo, 31.

Entre as pautas do encontro, estiveram temas como as questões climáticas, a recuperação econômica mundial, e a contenção da pandemia. Um dos fatores a se destacar na reunião dos líderes mundiais foi o isolamento de Bolsonaro entre eles.

Não era pra menos. Bolsonaro é conhecido pelas suas posições controversas em relação ao clima, indo na contramão do mundo. Além disso, ainda teve a CPI com trabalhos recém-concluídos e com relatório que acusa o presidente brasileiro de crime contra a humanidade por suas ações na pandemia, além de outros crimes.

No domingo, 31, também começou, em Glasgow, Escócia, a Cúpula do Clima das Nações Unidas.  Bolsonaro resolveu não participar do evento. É verdade que Bolsonaro e defesa do clima e meio ambiente são assuntos que não combinam. O presidente não é nem um pouco entusiasta da questão climática. O representante da delegação brasileira na COP 26 é o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite.        

O governador de São Paulo também está em Glasgow, participando do evento. Comentando a ausência do presidente brasileiro, ele disse “Seria uma presença inútil, essa é a realidade, uma presença absolutamente inútil. Não contribuiria para nada, exceto para convulsionar ainda mais o ambiente da cúpula do clima”.

Em vez de ir a Glasgow, Bolsonaro resolveu ficar na Itália. Ele foi a localidade do norte da Itália chamada Anguillara Veneta, norte da Itália, cidade onde nasceu o avô dele. Lá, recebeu o título de cidadão honorário. O título foi concedido pela prefeitura local que é administrada por políticos de extrema direita. 

                                                 Protestos contra Bolsonaro em Anguillara Veneta

A entrega de título de cidadão honorário a Jair Bolsonaro não foi um evento tranquilo. O presidente teve que enfrentar manifestações contrárias ao recebimento da homenagem por Jair Bolsonaro. Agentes de segurança tiveram que usar cassetetes e jatos de água para dispersar os manifestantes. 

Andando nas ruas de Roma, o presidente protagonizou novas cenas de agressões à imprensa. Bolsonaro, mais uma vez, destratou jornalistas. Um dos seguranças de Bolsonaro deu um soco na barriga de Leonardo Monteiro, jornalista da Globo. O jornalista do UOL, Jamil Chade, tentava gravar a cena para tentar identificar o agressor quando teve o celular arrancado de suas mãos e jogado ao chão por um dos seguranças.  

O que vimos durante esse encontro do G20 é lastimável e a prova de que o Brasil sob o governo Bolsonaro se tornou um pária perante a comunidade internacional. Vimos também o resultado de uma diplomacia que age como amadora.

O encontro do G20 é um encontro importante pois ele reúne as principais economias do mundo, as mais industrializadas e emergentes. É um ambiente perfeito para se discutir questões chaves para a economia global. Realizado em Roma este ano, o evento foi ainda mais importante, pois foi realizado em um contexto de mundo fragilizado pelos efeitos devastadores da pandemia de Covid-19 que afetou não apenas um país, uma região, uma província, mas o planeta inteiro. Obviamente não poderia faltar nesse encontro — além do carro chefe que é a economia — temas como saúde, clima, e desenvolvimento sustentável.

A COP 26, que começou dia 31 de outubro e vai até 12 de novembro é outro evento de grande importância para o planeta.

Uma matéria especial do portal UOL sobre o assunto nos apresenta o que é o evento: “COP significa Conferência das Partes. As "partes" são os 197 signatários (196 países e a União Europeia) da Convenção-Quadro da ONU sobre Mudança do Clima, um acordo internacional que começou a valer em 1994. A partir do ano seguinte, esses países passaram a se encontrar anualmente para avaliar como estão indo os esforços de combate ao aquecimento global causado pelas atividades humanas. O 26 se refere ao fato de que esta é a 26ª edição do encontro — em 2020, por conta da pandemia, ele não ocorreu”.

Na década de 80 quando começou a se falar em aquecimento global e efeito estufa, muitos deram de ombros. Depois disso o assunto foi ganhando cada vez mais importância. A cada dia os cientistas chamam a atenção da humanidade para as mudanças climáticas que podem, e já estão afetando, profundamente a vida do nosso planeta.

Todos nós, não importa em que parte do mundo estejamos habitando no momento, já percebemos eventos estranhos no clima. Frio intenso. Calor intenso. Aumento do nível das águas do oceano. Secas. Nuvem de poeira onde não costumava ocorrer esse tipo de fenômeno. Incêndios florestais. Todos esses a mais outros que podemos perceber.

Aos líderes mundiais é preciso discutir urgentemente esses assuntos, e mais que discutir, colocar em prática ações que nos permitam continuar vivendo nesse planeta. Pois, em alguma esquina do futuro a raça humana pode desaparecer. A Terra dará de um jeito de se refazer. Nós passaremos., se providências não forem tomadas agora, no momento presente.

Pois, bem, caros leitores e leitoras, diante de discussões tão importantes para o nosso país, e para o nosso planeta, a participação do governo brasileiro, e do presidente Jair Bolsonaro nos dois eventos foi patética. Superficial. Apenas mostrou o isolamento no qual se meteu o presidente brasileiro. Jair Bolsonaro devia olhar para as colchas de retalhos e ver que a beleza delas está justamente na união de pedacinhos de tecidos que se unem para formar uma bonita colcha de retalhos.


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