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As frituras de Bolsonaro
Posted by Cottidianos
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00:23
Ah,
frituras! Maravilhosa técnica milenar que consiste em mergulhar alimento em
óleo, ou outro tipo de gordura. Quanto mais tempo no óleo, melhor. Quem é que
resiste àquela batatinha frita, saborosa e quentinha!… Aquele salgadinho de
festa!… E aquele bife feito com carinho na frigideira?!
Comidas
fritas são deliciosas, porém, dizem os nutricionistas, não se deve abusar delas.
Pois ao longo do tempo, elas vão desgastando o organismo. E o preço cobrado
pelo corpo são as doenças vasculares, hipertensão, desenvolvimento de cancer,
má absorção de nutrientes, e várias outras.
Assutou-se
com o abuso decorrente do uso dos alimentos fritos? Calma. Não é necessário
cortar de vez os fritos, principalmente se eles lhe aprazem. Basta apenas
passar a adotar o uso moderado desses alimentos. Passar a degustar também os grelhados
e assados. Eles também são deliciosos!… E mais saudáveis.
O
presidente Jair Bolsonaro também gosta de fazer frituras. A especialidade dele?
Fritar ministros. Ah, como ele adora esse prato. Ele gosta de fritá-los em fogo
brando, para ir queimando aos poucos, e quando a fritura já está passando do
ponto, eis que é hora de tirá-la da panela. Essa é a receita. E não é invenção
desse blog. Ela veio da boca do próprio presidente, como outras palavras, é
claro.
Em
uma conversa, na sexta-feira, no último dia 14 de junho, durante o café da
manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente revelou seu método
sádico. Ele disse que antes de demitir um funcionário cujo desempenho não
esteja lhe agradando, é preciso deixar a pessoa se enrolar um pouco, no dito
popular isso se chama “dar linha na pipa”. Dar linha na pipa de alguém
significa dar liberdade a uma pessoa para ver até onde ela vai com suas
atitudes ou conversas.
Para
o leitor entender melhor o contexto, o presidente falava do filho, Carlos
Bolsonaro, que já causou algumas situações bastante constrangedoras para o
governo através de sua atuação nas redes sociais. O presidente dizia que o
filho é mais “imediatista” nos resultados pretendidos que ele, e que tem
capacidade de se antecipar aos problemas. “Ele (Carlos Bolsonaro) levantou
alguns problemas no passado e eu falo o seguinte: tem que dar um tempo para, ao
dar o cartão vermelho para essa pessoa, não ter dúvidas. E tem que deixar a
pessoa se enrolar um pouco mais, no linguajar popular. Ele é imediatista. Converso
com ele, mas não sigo 100% o que ele fala”, disse o presidente.
Para
o leitor se situar ainda mais no contexto da conversa, Jair Bolsonaro havia
acabado de demitir, no dia anterior, o ministro da Secretaria de Governo,
Carlos Alberto dos Santos Cruz.
A
vítima mais recente desse processo de fritura foi o presidente do Banco
Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES), Joaquim Levy. Levy é
um homem preparado em sua área, tanto é que, mesmo tendo feito parte do governo
de Dilma Rousseff, foi convocado por Paulo Guedes, ministro da Economia para
ocupar o importante cargo. Levy foi ministro da Fazenda, de janeiro a dezembro
de 2015, no primeiro ano do segundo governo da ex-presidente.
Pois
é, assim do nada, do nada mesmo, sem ser provocado por ninguém, Bolsonaro chamou
os jornalistas, no sábado (16) — apenas dois depois de revelar sua receita de
frituras — e disse a eles que a cabeça de Joaquim Levy estava a prêmio. E ameaçou
demiti-lo na segunda-feira, se ele não suspendesse a nomeação do advogado Marcos
Barbosa Pinto para ocupar o cargo de diretor de mercado de capitais do banco.
“Levy
nomeou Marcos Pinto para a função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy. Falei
para ele: ‘Demite esse cara na segunda ou eu demito você sem passar pelo Paulo
Guedes’” disse Bolsonaro, e acrescentou: “Governo tem que ser assim: quando
coloca gente suspeita em cargos importantes e essa pessoa, como Levy já vem há
algum tempo não sendo leal àquilo que foi combinado e àquilo que ele conheceu a
meu respeito, ele está com a cabeça a prêmio há algum tempo”.
Levy,
nem esperou o suplício de ficar sendo fritado através da mídia, e, ele mesmo,
Levy, pediu demissão do cargo. Como diz o ditado: “Pra bom entendedor meia
palavra basta. Antes do pedido de demissão de Levy, e imediatamente após a fala
de Bolsonaro, Marcos Barbosa Pinto, pivô da ira de Bolsonaro, pediu demissão do
cargo.
Pinto
havia sido chefe de Gabinete de Demian Fioccca, na presidência do BNDES entre
2006 e 2007. Demian era homem muito
ligado a Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma. Tanto
Levy quanto Pinto eram homens preparados o primeiro para função que exercia
desde o governo de Bolsonaro, e o segundo para a cadeira que iria assumir.
Levy
vinha resistindo a alguns planos de Bolsonaro, por exemplo, abrir a “caixa
preta” do BNDES e investigar possíveis irregularidades em financiamentos
concedidos pelo Banco. Ele também resistiu a devolução de R$ 100 bilhões do
banco ao Tesouro Nacional. Segundo cronograma feito ainda no governo Temer, o
banco deveria devolver R$ 26,6 bilhões em 2019. De 2015 até agora foram
devolvidos aos cofres públicos pelo BNDES R$ 300 milhões.
A
medida se encaixa nos planos liberais de Guedes e agrada aos bolsonaristas,
pois o BNDES é para eles um símbolo da roubalheira da era petista. Na verdade, Bolsonaro
nunca engoliu Joaquim Levy. Aceitou ele na presidência do BNDES porque foi o
próprio Paulo Guedes que indicou ele para a função.
Tudo
bem que Bolsonaro queira demitir esse ou aquele ministro, afinal ele é
presidente, como ele próprio costuma dizer: “tem o poder da caneta”, o
esquisito em tudo isso, melhor seria dizer sádico, é a maneira como ele faz
isso. O presidente não é daqueles estadistas que sentam e conversa com o
interessado, ou com desafeto que, segundo ele, não está fazendo um bom
trabalho.
Por
exemplo, no caso de Levy ele o demitiu através da imprensa. Chamou os repórteres
e jogou a bomba. Tudo bem que foi Levy quem, na verdade, pediu demissão, mas
como foi dito acima: “Para um bom entendedor, meia palavra basta”. Não seria
melhor chamar Levy em seu gabinete e dizer com franqueza: “Olha Levy seu
trabalho não tem me agradado, em tais e tais pontos não concordamos. Você não
se encaixou no projeto de governo para o banco, então tudo certo, valeu, tchau”.
É uma atitude mais digna e que combina mais com um estadista.
Com
isso já são três os ministros e dois auxiliares em postos chaves que sofreram
processo de fritura em menos de seis meses de governo, e não importa se eles
são amigos, aliados, homens de confiança, ou não.
Um
a um foram sendo fritados, sofrendo um
enorme processo de desgaste, uns mais, outros menos; Gustavo Bebiano (Secretaria
Geral); Ricardo Vélez Rodriguez (Educação); Carlos Alberto Santos Cruz (chefe
da Secretária de Governo); ainda na sexta-feira, durante o café com os
jornalistas, Bolsonaro demitiu o presidente dos Correios, general Juarez Cunha;
e agora foi a vez de Joaquim Levy.
Foram
três os ministros demitidos no primeiro escalão do governo: Bebiano, Vélez
Rodrigues, e Santos Cruz, e segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, já
somam 19 as baixas no segundo escalão do governo.
Seria
interessante o presidente Jair Bolsonaro ouvir o que os nutricionistas tem a dizer
sobre o uso excessivo de frituras. Pois pode ser que não demore muito para que
o governo passe a sofrer de hipertensão e todos esses males causados pelo
excesso de fritura de ministros e auxiliares.
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